domingo, 28 de agosto de 2011

Valeu, Steve

 

Ao se afastar da Apple, o maior visionário do século XXI deixa para trás um legado incomensurável. A humanidade agradece

Hélio Gomes

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“Sempre disse que, se um dia eu deixasse de corresponder às expectativas
como CEO, seria o primeiro a informá-los. Infelizmente, esse dia chegou”

Steve Jobs, em carta à equipe da Apple
Não dá para dizer que a notícia pegou o mundo de surpresa, mas a dureza dos fatos teve força semelhante à de um chute direto de Anderson Silva ao pé do ouvido. Na quarta-feira 24, Steven P. Jobs, 56 anos, renunciou ao cargo de diretor executivo da empresa que fundou na garagem de seus pais adotivos em 1976. A partir de agora, ele será presidente e membro do conselho, afastando-se do dia a dia da firma. Chega ao epílogo, portanto, o ciclo produtivo de um dos empreendedores mais odiados, copiados e endeusados da história.

Em seu comunicado de despedida, Jobs não citou seus já conhecidos problemas de saúde, mas é bem provável que aquilo que sua frágil aparência demonstra seja, infelizmente, verdade. Depois de enfrentar um câncer no pâncreas em 2003, o empresário fez um transplante de fígado em 2009. Desde então, encara curtos períodos de trabalho e licenças médicas cada vez mais longas. Sua última aparição pública – em junho, na apresentação do serviço iCloud – causou consternação.

Digerido o susto, tanto o mercado quanto os especialistas em tecnologia alternam momentos de especulação e reflexão. No dia seguinte ao anúncio da saída de Jobs, as ações da Apple – que há poucas semanas chegaram a ser as mais valiosas do mundo, superando as da petrolífera Exxon – caíram 5%. Pouca coisa quando se pensa que, há dez anos, cada papel que hoje vale US$ 376 era comprado por U$ 9.

Por sua vez, o mundo tech tenta prever como será a rotina da Apple na era pós-Jobs. A aposta que parece ser mais certeira é aquela que transforma o maior arquiteto digital do século XXI em uma espécie de guru ou mestre Jedi. Se não tem mais condições físicas de passar horas discutindo o desenho de um simples botão do próximo iPhone em uma reunião, ele pode empenhar seus preciosos minutos em debates filosóficos com seu chefe de design, por exemplo. Jobs montou um time que, assim como ele, aprende por osmose. Há quem diga que o staff atual da Apple é um dos maiores êxitos da carreira do empresário. E o sucesso do novo CEO Tim Cook, à frente do negócio nas últimas licenças médicas do chefe, é a prova irrefutável disso. Mais: sabe-se que muitos produtos e serviços desenvolvidos nos últimos tempos estão na fila para chegar ao mercado. É bem provável que o caminho para os próximos cinco anos já esteja cuidadosamente pavimentado.

Basta olhar para trás para saber que a promessa feita por Jobs em sua carta de despedida – “Os melhores e mais inovadores dias da Apple estão por vir” – não é balela. Como o quadro abaixo demonstra, os produtos lançados pela empresa, sobretudo na última década, redefiniram a comunicação, o entretenimento e a forma como a humanidade lida com o conhecimento. Um exemplo: o iPhone literalmente mudou o mundo ao fazer com que o telefone deixasse de ser um mero comunicador vocal para se transmutar em uma máquina praticamente sem limites.

Em um dos momentos mais marcantes de sua trajetória, o clássico discurso proferido aos formandos da Universidade de Stanford (EUA) em 2005, Steve Jobs resumiu os principais eventos de sua vida em 15 minutos. Sem receio, com a voz e o espírito firmes, falou sobre o momento em que decidiu largar a faculdade (Jobs nunca se formou), sobre a demissão da empresa que fundou e seu posterior retorno e, por fim, sobre sua primeira vitória na luta contra o câncer. “A única forma de realizar um grande trabalho é amar o que se faz. Como todos os assuntos do coração, você saberá quando encontrar esse amor. Continue procurando até achar”, disse o empresário, que acabara de completar 50 anos.

Lições como essa devem fazer parte da primeira biografia autorizada de Steve Jobs, que chega às lojas americanas em novembro. Escrita por Walter Isaacson – ex-editor da revista “Time”, ex-diretor executivo da rede CNN e biógrafo de gigantes como Albert Einstein e Benjamin Franklin –, a obra foi antecipada em alguns meses. A urgência tem suas razões.
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Colaborou André Julião
Assista ao vídeo com trechos do discurso de Steve Jobs na Universidade de Stanford, em 2005 :
Parte 01
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Parte 02
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