sexta-feira, 9 de março de 2012

'Foi cachorrada', diz idosa retida em aeroporto de Madri


RICARDO GALLO
DE SÃO PAULO

"Fiquei sem comer, sem me alimentar, quase morri", disse Dionísia Rosa da Silva, 77, ao desembarcar no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (Grande SP), ontem à tarde, após ficar retida por três dias no aeroporto de Madri, na Espanha.

Dona Rosinha, como é conhecida, chegou ao país europeu com uma neta, na segunda-feira (5), após embarcar em um voo da Air China que partiu do aeroporto de Cumbica.

Ao desembarcarem no aeroporto de Barajas, foram chamadas para uma entrevista com um oficial da imigração. A polícia espanhola afirmou que a filha e o genro de Dionísia vivem em situação irregular na Espanha, e que isso foi determinante para não deixá-la entrar.

Fabio Braga - 8.mar.12/Folhapress
Idosa deportada pelo governo espanhol se emociona ao desembarcar no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos
Idosa deportada pelo governo espanhol se emociona ao desembarcar no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos
A dona de casa andava com dificuldade ao desembarcar no Brasil. Apenas a irmã do genro a esperava; ela a abraçou e chorou. A seguir, ela fala dos dias com banho "sem sabonete" e da "comida sem sal" da primeira ("e última", diz) viagem ao exterior na vida.
*
Folha - Como foi a detenção?
Dionísia Rosa da Silva - Eu cheguei com a minha neta e três malas. Tinha 70 euros e a passagem de volta. O policial me pediu para sair da fila. Falei: "Justo eu, com essa idade?".
E o que aconteceu?
Ele me disse: "Fica ali". Comecei a reclamar para minha neta, o policial viu eu falando e disse que ia me algemar. Falei pra ele: "Não vai fazer isso".
Os policiais a maltrataram?
Não. Mas fiquei presa na cadeia, naquela casa, com mais gente, sem ninguém... Uma cama ruim. A comida era meio em mutirão, sem sal... Eu emagreci.
Tomou banho?
Eles ficaram com a minha mala, fiquei só com a roupa do corpo até hoje. Banho, só sem sabonete.
O que a sra. acha do que lhe fizeram?
Uma cachorrada. Isso não é tratamento que se faça com a gente. Eu tinha ido ver meus netos, estava com a passagem de ida e volta [R$ 2.900 foi o preço da passagem dela e da filha, pago à vista, disse].
A sra. passou mal lá?
Meu nariz sangrou e tive dor nas costas. Me levaram para o médico, mediram minha pressão.
A sra fala espanhol?
Não.
Como conseguiu conversar com os policiais?
A gente entende, né... Dá uma de "joão sem braço".
E como dormia lá?
Tinha uns dormitórios, cada um com quatro beliches. Fiquei em um desses. Mas o colchão era velho, afundava.
Pretende voltar à Espanha?
Nunca mais. Vou ficar aqui até morrer.

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