sexta-feira, 9 de março de 2012

Sem diálogo, governo será ‘derrotado’ na votação do Código Florestal


Dilma Rousseff teve uma longa conversa com seu vice, Michel Temer, nesta quinta-feira (8). Reuniram-se sob os efeitos do curto-circuito que ameaça eletrocutar as relações do governo com os partidos que integram seu condomínio.
A certa altura, falaram sobre o Código Florestal, uma nova encrenca esperando para acontecer na Câmara. Temer avisou a Dilma que o governo sofrerá nova derrota legislativa caso não aceite negociar.
Na véspera, Temer recebera no gabinete da vice-presidência deputados do seu PMDB e de outros partidos. Entre eles PP, PR, PDT, PCdoB e PSB. Recolhera da conversa impressões que compõem um cenário de borrasca.
oOo
Os deputados querem alterar trechos do Código Florestal aprovado no Senado. Desejam restituir parte do texto que a Câmara aprovara numa primeira votação, realizada no ano passado.
O problema é que a ministra Ideli Salvatti, coordenadora política de Dilma, diz aos aliados que o governo não aceita modificar o projeto. Considera que a versão saída do Senado corrigiu equívocos que os deputados haviam injetado no código.
Em privado, Ideli chegou a declarar que o Planalto prefere não votar a proposta a vê-la modificada. Que ouve a ministra entende que ela apenas ecoa ordens da presidente. Determinações que a maioria dos deputados não se dispõe a acatar.
oOo
Chegou-se à seguinte situação: se insistir na ideia de manter intacto o texto do Senado, o governo será derrotado na Câmara. Se tentar impedir a votação, os partidos promoverão uma obstrução coletiva que pode paralisar o plenário.
Nessa hipótese, subiria no telhado, junto com o Código Florestal, a Lei Geral da Copa, outra matéria que Dilma considera prioritária. Para evitar o desastre, não restaria ao governo senão sentar-se à mesa de negociação.
Embora não pareça convencida, Dilma ficou de conversar com o ministro Mendes Ribeiro (Agricultura). Deputado licenciado do PMDB gaúcho, Mendes encontrava-se na Câmara quando foi votado o Código Florestal.
oOo
O agora ministro votou a favor da versão que deixou Dilma tão irritada a ponto de ameaçar de demissão Wagner Rossi, o apadrinhado de Temer que antecedeu Mendes Ribeiro na pasta da Agricultura.
Nessa época, a aversão de Dilma foi potencializada por novidades introduzidas no texto por meio de emenda patrocinada pelo PMDB –a emenda 164. Entre outras coisas, previa a anistia às multas impostas pelo Ibama a desmatadores.
Adensado por essa emenda tida por Dilma como tóxica, o projeto da Câmara foi aprovado por uma sonora maioria: 410 a 63. Agora, essa mesma tropa se reaglutina para restituir parte da proposta original, derrubando artigos introduzidos no Senado.
oOo
O receio de Dilma é o de que os deputados produzam um Código Florestal que, rendido aos interesses ruralistas, leve o Brasil a passar um vexame planetário na conferência ambiental Rio+20, que ocorrerá daqui a três meses.
Endossados por Temer, os deputados sustentam que vergonha maior será a incapacidade de negociar um meio-termo que combine os valores ambientais aos negócios do campo, que vêm segurando o PIB brasileiro.
O Código Florestal deveria ter sido votado nesta semana. O dissenso levou o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), a protelar a deliberação sobre o projeto para a próxima terça-feira (13).
Até lá, espera-se que Dilma se mostre maleável ao entendimento. Deseja-se que a presidente evolua para uma posição que possa converter o governo de derrotado em coautor de uma fórmula negociada.

Nenhum comentário: