segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Lula deu o trôco.

Nos últimos oito anos da gestão do presidente Lula não houve um dia sequer sem que as ações de seu governo não fosse alvo de algum tipo de matéria jornalística distorcida, de comentários eivados de ódio e preconceito no jornal matinal impresso ou televisado dos canais da Família Marinho, retransmitidos em cadeia pelo sistema globo de comunicação através de suas ondas eletromagnéticas que fizeram ecoar a opinião de indivíduos que bem se podem indentificar: Merval Pereira, Míriam Leitão, Alberto Sardenbergue, Mônica Valdvolguel, Lúcia Hipólito, Arnaldo Jabor, apenas para ficarmos nos mais estéricos e virulentos.



A lista é grande se adicionarmos os colunistas, reportéres e jornalistas de outros veículos como a Folha de São Paulo, o Estado de São Paulo, o Estado de Minas, Correio Braziliense, Zero Hora e inúmeras outras mídias engajadas, blogs, sites, revistas e grandes portais que juntos passaram a ser indentificados pelo jocoso apelido de PIG ( Partido da Imprensa Golpista ) sigla popularizada na blogosfera pelo combativo jornalista Paulo Henrique Amorim.



Quem antes de ir trabalhar fosse beber numa dessas fontes de informação não chegaria inteiro com tanta negatividade inculcada na mente. Era uma guerra de contra-informação sem fim na qual propositadamente ignoravam a objetividade dos fatos para apresentarem uma realidade paralela inexistente.



Na campanha persecutória que empreenderam contra o governo do presidente Lula ficou um enorme rastro de hipocrisia espalhado que vai ser dificil de apagar. Nem por um momento imaginaram que Lula fosse capaz de costurar uma aliança partidária complexa que viabilizasse seu governo ao utilizar dos mesmos métodos do governo que o antecedeu para formação de uma base aliada consistente que lhe desse a tranquilidade necessária a fim de tocar seu projeto político majoritariamente escolhido pelo povo, sem sobressaltos.



É sabido que no atual sistema não se governa sem uma ampla maioria parlamentar. Ou se fazem concessões, ou se compromete a governabilidade. Concessões no caso específico significa cargos e liberações de verbas.



À primeira vista este tipo de aliança parece objetável, mas dadas as nuances do sistema que de direito é presidencialista e na prática parlamentarista, não há outro modo de se levar adiante um projeto de poder a não ser que o partido do presidente eleito ou a aliança político-ideológica que venceu as eleições consiga também nas urnas obter o número de deputados e senadores que garanta uma folgada maioria. Ainda assim nada impedirá de haver o loteamento da máquina pública.



Não se governa com adversários senão com aliados. Se entre os aliados não se obtêm maioria busca-se os adversários para compor um governo de coalizão. Isto não se dá por osmose se dá por compartilhamento de poder. É assim que funciona.



A grande mídia porém não tinha esta expectativa do governo Lula. A expectativa que tinha baseava-se na suposição de que o presidente faria um governo de esquerda em que prevaleceriam as teses radicais de seu partido com invasões indescriminadas de propriedades por parte dos movimentos sociais ligados à questão agrária, reivindicações salariais impossíveis de serem atendidas originadas do movimento sindical, enfim, o caos estabelecido no país e o povo pedindo a deposição do presidente.



Quando se deram conta de que o presidente perseguia o pragmatismo político que garantiria a sustentação de seu governo no congresso partiram para o ataque com as únicas armas de que dispunham, quais sejam, clarificar às contradições ideológicas que permeavam as alianças montadas por Lula com o fito de explorar aquilo que o partido do presidente e o próprio sempre combateram e agora abraçavam, a saber, o compartilhamento de cargos e espaços de poder.



Práticas que para alguns não passavam de cooptação fisiológica, para outros mal necessário que garantiriu a governabilidade. Se o partido que lidera os demais tem a hegemonia moral da aliança nada há de errado. É a real politik por designação.



O fato é que a grande mídia que ignorava essas ações do novo Lula não viu nenhuma aberração quando também foram usadas por FHC. Foi apartir desse evento extemporâneo que começou a propagação do falso discurso do Aparelhamento do Estado, da República Sindical, do Inchaço da Máquina Pública, dos Ataques Sistemáticos às Políticas Sociais, à Política Exterior de não Alinhamento Automático com os EUA, ao Fortalecimento Comercial entre os Parceiros do Mercosul até que finalmente encontraram um desvio ético-moral de um funcionário de terceiro escalão, lotado nos correios, indicado por um dirigente de partido aliado, para detonarem a campanha insidiosa que resultou na CPMI dos correios mais conhecida como a CPMI do fim do mundo, nos casos mensalão e aloprados que quase levaram de roldão Lula e seu governo no processo de impeachment que chegou a ser cogitado, mas foi obstado por falta de apôio popular.



Com seu carisma e ações de governos que já eram sentidas pela população embora insistentemente negadas, Lula atravessou aquele período de turbulência intacto e conseguiu reeleger-se ao impor uma enorme derrota à oposição e ao conjunto da mídia que trabalhou incansavelmente para que o presidente saisse das eleições derrotado, humilhado e com sua carreira política encerrada.



O processo de reeleição de Lula deixou sequelas permanentes em sua relação com a imprensa ao tempo que expôs o estratagema nada sutil da mídia para apeá-lo do poder, objetivo não concretizado graças à percepção do povo que não embarcou na campanha sistemática da escandalização do nada que continuaria com força redobrada no segundo mandatado do presidente, como subproduto da perda de influência da mídia na formação da opinião pública. Restou ali demonstrado que o eleitor não mais aceitava ser tutelado pelo noticiário faccioso e partidarizado que lhe era diariamente apresentado.



Nascia uma nova oposição. Não uma oposição propriamente dita, eleita democraticamente e legitimada pelo voto popular, mas uma oposição midiática travestida de partido político sem nenhuma legitimidade que se utiliza de um bem público, o espectro radioelétrico, para erguer barricadas contra administração do presidente Lula inaugurando uma fase sombria baseada no jornalismo de negação, na ética udenista, sutilmente seletiva que diariamente suprime o diálogo franco e aberto com o destinatário da informação o leitor-ouvinte-telespectador, ao passo que impõem apenas um lado da verdade, o melhor que se harmoniza com as teses dogmáticas que defendem sem que os direitos fundamentais do indivíduo relativos à liberdade de expressão sejam minimamente respeitados.



Até nas mentiras que publicam, quando e, se permitem o direito de resposta, no mesmo espaço que é dado a quem se sentiu atingido, replicam a versão do ofendido, reforçando inescuprulosamente o teor do material publicado. Assim tem sido nos últimos anos. Esta sensação de poder desmensurado deriva da presunção de que ainda detem o monopólio da opinião pública e podem a seu bel-prazer inteferir na vontade do eleitor. Foi o que aconteceu na era Lula e também durante a eleição pra presidente quando quiseram empurrar goela abaixo do eleitor o candidato Serra que sem discurso capaz de mobilizar a opinião pública em prol de sua campanha fabricaram as mais vís denuncias sem ter sequer sombra de aparência de verdade.



Nem mesmo os debates arranjados; as entrevistas nas bancadas dos telejornais com perguntas previamente selecionadas que levantavam a bola para o candidato que preferíam cortar e colocava a adversária numa saia ajusta; nem mesmo as matérias escandalosas com chamadas estampadas nas capas de suas principais revistas; nem mesmo os milhares de textos escritos nos jornalões que publicaram para atingir a honra da candidata adversária, com intuito de levar a eleição para o segundo turno se mostraram suficientes.



Foi-se o tempo em que a velha mídia tinha o poder de determinar quem seria ou não eleito. Vivemos uma nova era da informação. Vários atores fazem parte desse processo. Por isso, tão-somente por isso, sofreram novamente uma humilhação ainda mais desvastadora. Muito maior do que as anteriores.



Assistiram impassíveis Lula eleger a candidata que bem entendeu e da maneira que quiz, impondo a candidatura de uma mulher, não só para quebrar preconceitos, mas para mostrar também que apesar do fogo cruzado midiático que enfrentou, daria o trôco a impáfia, a mentira e a descontrução que tentaram fazer de seu governo.



Agora Lula sai vindicado do governo com o maior índice de popularidade jamais alcançado por outro presidente. Mostrou ao mundo político sua resiliniência, mostrou ao próprio partido ao qual pertence que não se pode acovardar-se nos momentos de dificuldades como fez o PT durante todo o processo de articulação que visava arrancar-lhe do poder.



Recebe de seus iguais o reconhecimento, o carinho e afeição, como quando foi abordado por um "peão", na cidade de Salgueiro, Pernambuco, que candidamente lhe confidenciou: "presidente, o senhor prometeu quando assumiu o governo que o pobre iria ter o direito de fazer, pelo menos, três refeições ao dia. Eu presidente, estou igual a pinto de granja, comendo toda hora".



Este dia verdadeiramente ainda não chegou para uma significativa parcela do povo brasileiro. Não obstante, realmente deve ser muito gratificante para o presidente saber que para outra parcela igualmente significativa que antes sequer sonhava em dispor do básico para sua sobrevivência, o hoje não é mais um dia sombrio, é um dia de esperança!