domingo, 4 de setembro de 2011

"Dilma é suja". Quem diz? O "limpo" Sérgio Guerra

                           

Foto: AGÊNCIA ESTADO

 

 

Presidente do PSDB, Sérgio Guerra, rebaixa o debate político e parte para a agressão direta contra Dilma Rousseff. Mas eis o currículo de Guerra: ex-diretor de banco liquidado, “anão” do orçamento e hoje criador de cavalos árabes



04 de Setembro de 2011 às 17:11
247 – Com a “faxina” colocada em banho-maria pelo Palácio do Planalto e diagnosticada pelo PT em seu último Congresso como uma conspiração midiática para dissolver a base de sustentação do governo, o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, decidiu trazer o tema de volta à baila. E, como a faxina não prossegue, agora seria a própria presidente Dilma Rousseff quem estaria “suja”, de acordo com o líder tucano.

Foi isso o que Guerra disse em entrevista ao jornalista Fabio Campana, um dos blogueiros políticos mais influentes do Paraná – e também do País. Leia trechos abaixo:

- Falta rumo à oposição?

Guerra – Não. A oposição define seus rumos. Falta rumo ao governo. Pode faltar à oposição, numa ou noutra circunstância, senso de oportunidade. O PSDB é recorrente nisso.

- Como assim?

Guerra – Às vezes o partido tem dificuldade de se apropriar das oportunidades.
- Isso ocorre em relação a Dilma?

Guerra – Num primeiro momento, a presidente fez uma intervenção no Ministério dos Transportes. Reagiu à imprensa. Vacilou, mas interveio para melhorar a pasta. Temos tranqulidade para elogiar. Mas o gesto não foi desenvolvido. Não chegou aos outros ministérios. O do Planejamento, por exemplo, tem participação na desordem dos Transportes.
- Refere-se a Paulo Bernardo?

Guerra – O Planejamento, na época em que era gerido por ele, autorizou recursos para aditivos contratuais inexplicáveis ou viciados. Dilma silenciou, protegeu. Ficou claro que não agiria contra o PT.

Qual a diferença entre o modelo que vigorou na Era FHC e o atual?

Guerra – O nosso governo era muito mais saudável. O PSDB tinha saúde. O DEM trabalhava de forma adequada. E havia muita gente que contribuía com o governo movido pelo interesse público. De lá pra cá, a política só piorou, graças sobretudo ao Lula, que passou por cima de instituições e confraternizou com malfeitores. Distribuem dinheiro na véspera, para ganhar a votação do dia seguinte. A corrupção explode e dizem que agora tem mais investigação. Balela.

- É mais difícil fazer oposição a Dilma do que a Lula? Guerra – Não. A Dilma não vai terminar bem o governo dela. Centraliza tudo e decide pouco. Quando decide, age emocionalmente e erra. Não tem liderança. A ideia de que é boa gerente é falsa. Vai naufragar do ponto de vista administrativo e político.

- Acha, então, que Dilma não se reelege?

Guerra – Minha impressão é de que o Lula vai se candidatar. É a principal hipótese. E o Lula terá de explicar o fracasso dela, que tem origem nele. A Dilma está suja, mas quem sujou ela? Não fomos nós.
- Em que se baseia para dizer que a Dilma está suja? Guerra – Os desmandos que estão aí vem da gestão anterior. Ela era gerente e não gerenciou.

Em tempo: o “limpo” Sergio Guerra foi diretor de um banco liquidado pelo BC (o Novo Rio) e personagem proeminente do escândalo dos “anões do orçamento”. Terminou inocentado e não foi cassado porque, entre outras coisas, é amigo do senador petista Aloizio Mercadante – os dois, por sinal, são amigos do empresário Benjamin Steinbruch. Além de presidente do PSDB, Guerra é hoje um próspero criador de cavalos árabes. Antes de ser tucano, foi secretário de Miguel Arraes, com quem rompeu. Arraes dizia: “É uma das pessoas mais inteligentes que conheci, mas, se caráter pagasse imposto, ele teria direito a restituição”.

A fórmula dos vencedores



Como a ciência, a psicologia, o coaching e relatos de quem chegou lá explicam o que faz uma pessoa subir ao topo

Débora Rubin
img.jpg
img-g.jpg 

Aos 16 anos, ele já sabia o que queria fazer da vida. A decisão veio logo após vencer 411 oponentes de 72 países e ganhar a Olimpíada Internacional de Matemática, competição mais importante da disciplina no mundo. Não fez faculdade, pois concluiu o mestrado ao mesmo tempo em que terminou o ensino médio, numa das instituições de pesquisa mais reverenciadas do País, o Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), no Rio de Janeiro. Aos 18 anos, começou o doutorado. Já publicou mais de 40 artigos em revistas internacionais, sendo que vários deles nas três mais importantes publicações do mundo – “Annals of Mathematics”, “Acta Mathematica” e “Inventiones Mathematicae”. Antes dos 30 anos, já era considerado um dos mais brilhantes matemáticos de sua geração. Desde então, seu passe é disputado pelas melhores universidades do planeta. Atualmente, aos 31 anos, é diretor de pesquisa do Centre National de la Recherche Scientifique, o CNRS, na França, pesquisador do Impa e um dos favoritos a conquistar a Medalha Fields, equivalente ao Nobel da matemática, prêmio concedido de quatro em quatro anos para o principal nome do setor no mundo.

Analisada sob os mais diversos ângulos, a trajetória do matemático carioca Artur Ávila é a de um vencedor nato. Ele subiu vertiginosamente ao topo. E, mais importante, manteve se lá. Transformou talento em sucesso, vontade em planejamento, insegurança em determinação. Componentes da personalidade de pessoas que, nas suas áreas de atuação, brilham mais do que as outras. Ao longo desta reportagem, ISTOÉ irá contar a história de oito pessoas que, assim como Ávila, são muito bem-sucedidas em suas áreas de atuação. Relatos inspiradores de personagens à primeira vista bastante distintos, mas que têm muito em comum. Psicólogos, neurocientistas e outros pesquisadores têm se debruçado nos últimos tempos a estudar a personalidade de vitoriosos como esses brasileiros. Não param de sair trabalhos acadêmicos sobre o tema, a fim de dissecar em que eles são diferentes dos outros.
img1.jpg 
img1-g.jpg
A primeira imagem que vem à cabeça quando pensamos em vencedores, geralmente, está relacionada ao esporte. Nesse universo, não pairam dúvidas sobre quem é o melhor. Ele está sempre em destaque, no mais alto do pódio, com a medalha dourada exibida no peito. “Mas há mais jogadores com talento para ser o melhor do mundo do que há vencedores”, diz o americano Timothy Gallwey, 73 anos, pioneiro na técnica do coaching, consultor de empresas como Apple e Coca-Cola e autor de vários best-sellers que relacionam o triunfo no esporte ao mundo profissional. Segundo o conceito do coaching, criado nos anos 70, todos podem ser bem-sucedidos se quiserem. “Somos nós quem criamos boa parte dos nossos problemas”, lembra Gallwey (leia entrevista completa no site da ISTOÉ). Para ele, a diferença entre os vencedores e os outros é que os primeiros se atrapalham menos e deixam seus talentos fluirem com mais naturalidade. “Para fazer isso, no entanto, eles precisam vencer a batalha contra o medo, a dúvida e a insegurança, que não são guerras menores”, atesta o americano, que desenvolveu sua prática a partir de uma experiência pessoal. Quando era professor, ele tirou um ano sabático no qual se dedicou a ensinar tênis. Após um tempo como instrutor, percebeu que estava ensinando do jeito errado. “Eu focava na técnica e percebi que isso não dava resultado. Os grandes atletas não pensam que vão acertar a bola, eles simplesmente acertam”, conta. A partir daí, o consultor americano passou a dar diretrizes, não mais instruções, e os alunos começaram a aprender. Mais do que isso, adaptou seu método, que ele chama de jogo interno – em que o medo de perder, a dúvida, a falta de concentração e o estresse são os maiores oponentes – para outras situações do cotidiano. “São princípios básicos e adaptáveis.” Mas o grande segredo, segundo o próprio Gallwey, é prestar atenção a si mesmo. “Meu método se baseia na ideia de que é a partir do aumento da percepção que temos de nós mesmos que conseguimos melhorar.”
img2.jpg 
img2-g.jpg
A jogadora de futebol Marta venceu uma dúzia de batalhas antes de se tornar cinco vezes a melhor do mundo. Venceu a pobreza extrema, o abandono do pai, a distância dos grandes centros urbanos e o preconceito de ser uma mulher num esporte masculino – inclusive entre a própria família. Se tivesse deixado se convencer de que não tinha condição de ir atrás do grande sonho, talvez ainda estivesse em Dois Riachos (AL), onde nasceu, trabalhando em alguma atividade que lhe desse o sustento. “Sempre tive em mente que seria jogadora profissional, não me via fazendo outra coisa”, diz. 

Diante da improvável história de sucesso de Marta, que triunfou na aridez, fica a pergunta: o que separa os vencedores dos perdedores? Os cientistas afirmam que vencer é um conceito interdisciplinar, que envolve teorias sociológicas e psicológicas, questões econômicas e químicas cerebrais. Os hormônios, por exemplo, são um componente decisivo para a formação de um perfil bem-sucedido. Uma das linhas de pesquisa do americano Pranjal Mehta, da Universidade de Oregon, é desvendar a testosterona, também conhecido como hormônio da competição. Em um estudo recente realizado na Universidade de Colúmbia, Mehta descobriu que quem tem altos níveis desse hormônio briga melhor nas disputas individuais. Já as pessoas com índices mais baixos tendem a vencer nas disputas em grupo. “Muito provavelmente porque, em conjunto, é preciso ser cooperativo, coisa que quem tem muito testosterona não é”, acredita o pesquisador. O cientista da Universidade de Oregon também se debruçou sobre a questão da liderança, uma característica presente no perfil de um vencedor. Após realizar testes com dezenas de alunos do curso de administração, Mehta descobriu que não basta ter apenas altas doses de testosterona para ser uma pessoa dominante. É preciso também que haja uma combinação equilibrada com o cortisol, o hormônio do estresse. Quanto mais alta a quantidade desse último, mais ele inibe os efeitos positivos do primeiro. “Os alunos com muita testosterona e pouco cortisol eram os mais confiantes, calmos e, ao mesmo tempo, dominantes.”
img3.jpg 
img3-g.jpg
Se os hormônios têm uma participação relevante nas vitórias particulares, seria possível alterá-los na busca de melhores resultados? “Cerca de 50% da variação hormonal pode ser explicada pelos genes, mas os outros 50% têm relação com fatores externos”, explica o pesquisador americano. Por fatores externos, entenda-se fazer atividades físicas ou dietas e até coisas um tanto insólitas, como assistir a cenas de sexo. Os genes também têm seu papel nessa história. Num outro estudo, conduzido pelo departamento de zoologia de Cambridge, os cientistas constataram que a liderança tinha mais relação com o temperamento do indivíduo do que com seus anos de estudo. Os líderes surgiam naturalmente conforme as situações em que eles eram colocados nos testes se apresentavam. A partir da pesquisa, os estudiosos definiram como seria um líder: audacioso, questionador e extrovertido. Perfil de quem gosta de correr riscos, muito comum entre empreendedores. É o caso do gaúcho Arri Coser, que tornou sua churrascaria, a Fogo de Chão, um negócio internacional (leia abaixo) ao emplacá-la no mercado americano. E de Clóvis Souza, que nos anos 2000, mesmo sem entender nada de internet, criou um dos maiores negócios online do País.

Ter uma motivação, externa ou interna, é outra característica em comum entre pessoas vitoriosas. Um estudo conduzido por psicólogos da Universidade Washington de St. Louis (EUA) mostra que, quando uma pessoa sabe que existe uma compensação, ela fica muito mais concentrada. Durante testes feitos com jogadores que apostavam dinheiro, toda vez que uma nota de um dólar era mostrada, o córtex pré-frontal dorsolateral dos participantes – que coordena a interação entre o controle cognitivo e as redes neurais ligadas à motivação – entrava em ação. Nesse momento, a concentração era total. Mas a recompensa pode ser traduzida em diversas formas – medalhas, contratos, metas superadas. Para André Akkari, o maior jogador de pôquer do Brasil, ela veio em montantes de dinheiro que ele nunca tinha sequer sonhado durante sua infância pobre. Akkari tinha 30 anos, muitas dívidas e uma vida feita de negócios informais e malsucedidos quando percebeu sua aptidão para o jogo. Hoje, é milionário e uma referência no carteado. Para exercitar sua mente, ele participa de pelo menos 30 torneios por dia ao mesmo tempo pela internet.
img4.jpg 
img4-g.jpg
Para os especialistas em coaching, Akkari é um ótimo exemplo de que as vitórias têm mais a ver com o cérebro do que com acaso e habilidades físicas. “Vencer na vida é pura estratégia mental”, afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Coaching, Villela da Matta. O que fez o jogador de pôquer programar sua mente para o sucesso, sem nunca ter conhecido o coaching nem outra técnica similar? Ele é, segundo os psicólogos, uma pessoa resiliente – alguém que consegue atravessar as adversidades e construir um bem-estar em cima disso. Esse é um perfil comum entre os vencedores. O vendedor de carros Michel Árabe, o maior do Brasil, também redefiniu seu destino ao se ver desafiado pela necessidade. Curiosamente, o vendedor Árabe, o jogador de pôquer Akkari, a jogadora Marta e o empresário de internet Souza foram abandonados pelo pai ainda crianças. “Como diria (Friedrich) Nietzsche, o que não mata fortalece”, lembra o psicólogo clínico e neurocientista Julio Perez. O que afeta negativamente a vida da maior parte das pessoas, tornou os quatro mais perseverantes em suas metas. “Superação de adversidades se relaciona diretamente com fortalecimento de caráter e desenvolvimento de virtudes como a coragem, a justiça e a paciência.”

Carregadas com tintas épicas ou não, a trajetória dos vencedores costuma fascinar os reles mortais, que mantêm os olhos pregados aos seus movimentos. Como se colocássemos nossa própria felicidade em jogo quando os vemos competir. Os cientistas dizem que admiramos tanto as pessoas bem-sucedidas (e isso fica muito claro no mundo esportivo) porque, em algum nível da estrutura cerebral, nos colocamos no lugar deles. Em 4 de novembro de 2008, na noite da eleição presidencial americana, os neurocientistas das universidades de Duke e Michigan ficaram colados a um grupo de eleitores. Eles coletaram amostras de hormônio no momento do fechamento das urnas e quando Barack Obama foi declarado vencedor. E concluíram que os níveis de testosterona, o hormônio da competição, que normalmente caem durante a noite, mantiveram-se altos entre os eleitores de Obama. Já entre os que votaram em John McCain, houve uma queda. Os pesquisadores aplicaram os mesmos testes em homens que assistiram a partidas de futebol e basquete e o resultado foi o mesmo – altos níveis de testosterona entre os torcedores dos times vencedores. Está comprovado, então, que nos projetamos nas pessoas vitoriosas. Resta aprender com elas a conhecermos nossos potenciais, não duvidar de nós mesmos, e seguir adiante.
img5.jpg
img5-g.jpg
img6.jpg
img6-g.jpg
img7.jpg
img7-g.jpg
grafico1.jpg
grafico2.jpg
Colaboraram: João Loes e Rodrigo Cardoso 

A crise do budismo no Brasil



Falta de renovação dos sacerdotes, templos onde só se fala japonês e descendentes distantes da religião dos ancestrais são algumas das razões que explicam a queda do número de adeptos de Buda no País

Rodrigo Cardoso
chamada.jpg
DISSIDENTE
Muniz passou por uma dezena de correntes budistas até fundar
seu próprio templo: histórias de subserviência e preconceito
Foi de forma clandestina que o budismo desembarcou no Brasil, há 103 anos. Chegou com os primeiros imigrantes japoneses, no Porto de Santos, em São Paulo. Naquela época havia aqui um movimento contrário à vinda de religiosos não cristãos. Muitos monges entraram no País travestidos de agricultores. Praticado de maneira improvisada até a Segunda Guerra, o budismo passou a se institucionalizar a partir dos anos 50. Com a invasão de templos de tradição tibetana e a propagação da corrente zen, foi a vez de artistas e intelectuais, nos anos 70 e 80 principalmente, abraçarem a religião. Adorar Sidarta Gautama – peregrino que ficou conhecido como Buda e andou pelo norte da Índia por quase meio século ensinando que meditação, sabedoria, compaixão e moralidade podiam combater o sofrimento – virou moda entre milhares de brasileiros. Mas, o que se apresentava como uma onda de orientalização na religiosidade nacional, não passou de uma marola (leia quadro). Ínfimo 0,14% da população se diz budista. O que tem despertado mais a atenção de estudiosos é o fato de o budismo, que chegou ao País como forma de preservação do capital cultural japonês, estar minguando justamente entre eles. “A religião está enfraquecendo dentro da comunidade por causa da morte dos adeptos mais idosos”, afirma Frank Usarski, da pós-graduação em ciências da religião da Pontifícia Universidade Católica (PUC), de São Paulo. 

A falta de renovação dos membros é evidente. E há vários motivos que contornam o declínio da adesão ao budismo. Primeiramente, as poucas lideranças religiosas orientais ainda vivas não demonstram querer se adaptar ao Brasil. “Os sacerdotes vêm do Japão e só falam japonês nos templos. Mas os jovens descendentes não dominam o idioma e se afastam”, diz a monja Coen, 64 anos, uma das principais representantes do zen-budismo no Brasil. “O budismo chegou aqui como uma tradição para imigrantes e ainda continua assim. Não temos um budismo brasileiro. Se não houver uma aculturação, os templos vão se transformar em belíssimos museus.”

A barreira do idioma transformou muitos templos em focos de manutenção de cultura e etnia apenas. É o que afirma André Muniz, 31 anos, arcebispo da Organização Religiosa Budista Tendai Hokke Ichijo Ryu do Brasil. “Não são mais centros de expansão da doutrina. Muitos dos que os frequentam o fazem para cultuar os ancestrais e aprender ikebana. Estão interessados nos cantos e na caligrafia japonesa”, diz ele, que foi discípulo em uma dezena de correntes budistas, entre japonesas e tibetanas. Em todas elas, conta, o quadro era o mesmo: a formação dos monges não era feita no Brasil, as línguas orientais predominavam e a convivência era de subserviência e preconceito. “Ouvi muito que a mente ocidental não está preparada para receber os ensinamento de Buda e a língua oriental é inacessível para nós”, diz. Há quatro anos, ele fundou a primeira instituição budista brasileira sem nenhum vínculo com denominações orientais. “Sempre fui tratado como um estranho, mesmo falando a língua deles.” A monja Coen confirma a diferença de tratamento. O famoso templo Busshinji, na Liberdade, em São Paulo, possui, segundo ela, um porteiro que verifica as intenções do visitante. “Se é japonês e fala a língua de lá, entra. Brasileiro só pode na hora da meditação para brasileiros.”
img.jpg
CRISTÃ
Filha de budistas coreanos, Suzana foi educada em
colégios católicos e nunca seguiu os ensinamentos de Buda
É verdade que templos continuam sendo levantados no País. Alguns, como o Zu Lai, em Cotia, na Grande São Paulo, recebem visitantes fascinados pela suntuosidade do local – são 10 mil m2 de área construída e 150 mil m2 de área verde. Muitos, porém, não passam da condição de turista. “Ser budista é se comprometer com a comunidade”, diz Usarski, autor de “O Budismo e as outras – Encontros e Desencontros entre as Grandes Religiões Mundiais”, da Editora Ideias & Letras. A fidelização daqueles que batem à porta do budismo também é prejudicada pela falta de lideranças para responder aos questionamentos do aspirante à religião. “Vinte comunidades no interior de São Paulo e três no Paraná da filial da Honpa Hongwanji não possuem um reverendo permanentemente no local”, escreve o professor Usarski, em um de seus artigos. Outro empecilho para novas conversões é a ideia equivocada que se tem sobre a doutrina oriental. “Quando o brasileiro procura um templo, está atrás de uma transposição religiosa e não uma conversão”, diz o sacerdote Muniz. “Ele acha que o budismo é uma religião liberal, que poderá fazer, com uma vestimenta budista, tudo o que não pode no cristianismo.” Dogmas do budismo, porém, exigem mudanças de hábitos, tais como abstenção de bebida alcoólica. Mais: sexo fora de uma relação de comprometimento sentimental é tido como ilícito. “Muitos, em dois meses, tomam um choque e abandonam.” 

Uma vez que o budismo não é propagado pelas próprias lideranças, outras denominações religiosas, cristãs principalmente, tratam de cooptar adeptos. É o caso da analista em logística Suzana Yoo, 39 anos. Seus pais fizeram parte do primeiro grupo de sul-coreanos que desembarcou no Brasil, no início dos anos 70. Em casa, sua mãe acendia incenso para Buda, rezava e cantava. Mas a filha jamais foi budista. O budismo, nesse caso, foi vítima de uma prática comum dos imigrantes orientais, que tratavam de promover a inserção dos filhos à realidade do país acolhedor. Suzana estudou em colégios católicos até a adolescência para se adaptar à cultura local. “Foi a escolha de meus pais por ser a religião predominante no Brasil.” Hoje se assume uma católica não praticante. “Do budismo, o único ritual que lembro é o de quando alguém morre”, diz.

Adeptos dos ensinamentos de Buda defendem que catequizar não é uma meta. Nem a conquista de adeptos. Ainda que os seguidores do zen-budismo e da tradição tibetana – que têm o Dalai Lama como o grande garoto-propaganda – mantenham acesa a aura pop dessa religião oriental, a ponto de causar a falsa impressão de que ela tem mais adeptos do que realmente tem, o professor Usarski, da PUC, é pessimista em relação ao seu futuro. “Acredito que o potencial de crescimento do budismo no Brasil já esgotou.”  
img1.jpg
img2.jpg
 


A moda dos romanos



Pesquisas indicam que a indústria têxtil do Império Romano era mais sofisticada do que se imaginava

Paula Rocha
img.jpg
Fábrica
A confecção de vestimentas era profissional: tecidos macios e flexíveis
Berço de grifes renomadas como Armani, Versace e Prada, a Itália é um dos países que mais exportam moda para o resto do mundo. O que não se sabia até agora é que essa vocação fashion acompanha os romanos há pelo menos dois mil anos. Estudos realizados por arqueólogos alemães indicam que a indústria têxtil no Império Romano era mais complexa e sofisticada do que pensávamos. Resquícios de tecidos confeccionados em lã e algodão, encontrados em diversos sítios arqueológicos do antigo império, estão sendo analisados pela primeira vez com um scanner microscópico, que permite observar as peças com precisão jamais vista. “Descobrimos que a fabricação de vestimentas no Império Romano era extremamente profissional, o que permitia a produção de tecidos muito macios e confortáveis”, diz Annette Schieck, arqueóloga que participa da pesquisa. Algumas peças encontradas nos desertos da Síria e do Egito, região dominada pelos romanos no século I a.C. estavam tão intactas e flexíveis que poderiam ser usadas até hoje.

Os achados mais relevantes que reforçam essa nova teoria, porém, surgiram do sítio arqueológico de Vindolanda, um forte construído pelos romanos no norte da Inglaterra no final do século I d.C. “Nessa região, o clima úmido preservou tabletas de madeira que continham informações sobre a forma de se vestir dos romanos, além de amostras de tecido e até sapatos”, conta o historiador Pedro Paulo Funari, especialista em arqueologia romana pela Universidade de São Paulo (USP). “Ao contrário do que vemos em livros de história, nos quais os romanos sempre aparecem de sandálias, em Vindolanda foram encontrados sapatos fechados, que mais parecem botas, e registros de meias de lã.” 

Segundo o historiador, a ideia errônea de que os homens romanos estavam constantemente vestidos com togas também deve ser revista. “Elas eram um símbolo de status usado pelos cidadãos romanos apenas quando necessário, pois não eram nada práticas”, afirma. Esse traje, feito com um corte de tecido que podia chegar até seis metros de comprimento, tornou-se símbolo da vestimenta romana através de pinturas e estátuas que representavam chefes de Estado. “Era como o terno de hoje. Na foto oficial de um presidente, ele está usando terno, mas isso não significa que se vista assim o tempo todo”, diz Funari. Os novos estudos mostram que a variedade de vestimentas do Império Romano era muito maior do que poderíamos imaginar.
img1.jpg


A Diva na folhinha



Aos 37 anos, a recém-casada Kate Moss é a estrela do "Calendário Pirelli 2012" ao lado de beldades como Isabeli Fontana

Débora Rubin
img4.jpg
MUSA 
Dessa vez, Kate posou para o fotógrafo italiano Mario Sorrenti, de quem já foi namorada
Nada de temas exóticos como deuses gregos, praias tropicais ou savanas africanas. O calendário mais famoso do mundo, o da Pirelli, decidiu apostar na simplicidade em sua 47ª edição: a beleza natural da mulher. A ideia é voltar às origens da velha e boa folhinha de borracharia – ainda que de luxo – e dar mais destaque a belos corpos nus do que a fotos conceituais como as feitas na edição passada por Karl Lagerfeld. A estrela da edição 2012 é a modelo inglesa Kate Moss. Aos 37 anos, ela aparece mais sexy do que nunca clicada pelo fotógrafo italiano Mario Sorrenti, de quem, aliás, já foi namorada. Ao lado dela estarão também a modelo brasileira Isabeli Fontana, presença constante no calendário, a holandesa Lara Stone e a atriz ucraniana Milla Jovovich. As fotos foram feitas em praias e fazendas abandonadas da Córsega, na França.
chamada.jpg
ESTREIA
A modelo inglesa com ares de Brigitte Bardot
na primeira vez  em que posou para o calendário
É a segunda vez que Kate Moss aparece no “Calendário Pirelli” (leia ao lado). E, como na primeira vez, a modelo mais longeva do universo fashion mostra que não cansa de se reinventar. Recém-casada com o roqueiro James Hince, baterista da banda The Kills, com quem ela namora desde 2007, mãe da pequena Lila Grace, 8 anos, sua filha com o jornalista Jefferson Hack, Kate é daqueles ícones que estão sempre na mira dos fotógrafos sem precisar dizer um “a”. A modelo, aliás, pouco fala. Apesar de estar sempre nos jornais e revistas, não gosta de dar entrevistas e pouco se sabe sobre o que ela pensa. E, quando o faz, causa estragos, como quando disse que “nunca se é magro demais”. Acusaram-na de fazer apologia à anorexia.
img1.jpg
ESTRELA
A atriz Milla Jovovich, contemporânea de Kate,
também estampa o calendário mais famoso do mundo
Uma das modelos mais bem pagas do mundo, há duas décadas ela estampa capas de revistas. Kate começou na profissão nos anos 90, tempo em que suas colegas eram curvilíneas e musculosas. Seu corpo magro, entretanto, se destacou entre as demais e antecipou a moda que viria na década seguinte, a das modelos quase esquálidas. Mesmo com todas as polêmicas nas quais já se envolveu – é flagrada saindo bêbada de boates, usa casacos de pele, namorou o roqueiro-problema Pete Doherty e foi fotografada cheirando cocaína –, Kate Moss nunca perdeu seu posto de diva da moda. Tudo o que ela faz chama a atenção. Não seria diferente ao participar do calendário, no qual se destaca entre as demais na foto acima, só de calcinha, e em outra, boiando no mar azul da Córsega completamente nua. Seus admiradores agradecem. 
img2.jpg
NACIONAL
É a quarta vez que a modelo brasileira Isabeli Fontana, 30 anos, é clicada para a folhinha
img3.jpg
SEXY
A holandesa Lara Stone, uma das dez modelos mais bem
pagas do mundo, é outro nome de peso da edição
img.jpg