quinta-feira, 31 de maio de 2012

Gilmar Mendes compra briga com a blogosfera



Gilmar Mendes compra briga com a blogosferaFoto: Edição/247

DEPOIS DA RUSGA COM O EX-PRESIDENTE LULA, GILMAR MENDES ANUNCIA AÇÃO JUDICIAL PARA CONTESTAR PATROCÍNIOS CONCEDIDOS POR EMPRESAS ESTATAIS AOS CHAMADOS "BLOGS SUJOS"; UM DE SEUS ALVOS É O JORNALISTA PAULO HENRIQUE AMORIM, CRÍTICO CONTUMAZ DA CONDUTA DO MINISTRO DO STF

31 de Maio de 2012 às 21:13
247 - Pivô da grande polêmica da semana, junto com o ex-presidente Lula, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, quer calar seus críticos na blogosfera e já anunciou que vai entrar com uma ação na Justiça para solicitar que empresas estatais deixem de "patrocinar ataques às instituições". Gilmar Mendes revelou a intenção ao jornalista Jorge Bastos Moreno, do blog Rádio do Moreno.
Leia reportagem do blog Rádio do Moreno:
O ministro Gilmar Mendes acaba de informar à Rádio do Moreno que vai entrar com uma ação na Procuradoria Geral da República, solicitando o substrato das empresas estatais que usam o dinheiro público para o financiar blogs que atacam as instituições.
--- É inadmissível que esses blogueiros sujos recebam dinheiro público para atacar as instituições e seus representantes. Num caso específico de um desses, eu já ponderei ao ministro da Fazenda que a Caixa Econômica Federal, que subsidia o blog, não pode patrocinar ataques às instituições.
( Eu sei bem de quem o ministro está falando, mas, como me disse Jobim sobre essa confusão toda, "eles que são branco é que se entendam" . Jobim, Heraldo, FH e eu vamos ficar na nossa. No caso, Heraldo, não é pra menos, quer distância desse blogueiro. Eu só não sabia que a Caixa Econômica patrocinava esse tipo de blog )
O ministro explicou que, nem de longe, sua decisão visa atingir a liberdade de expressão. Pelo contrário, é em defesa que se luta contra as pessoas que não se acostumaram a viver dentro de um regime democrático.
--- O direito de crítica, de opinião, deve ser respeitado. Mas o ataque às instituições é intolerável --- acrescentou o ministro Gilmar Mendes.

"Supremo não pode parar para julgar mensalão"




Do Conjur
FACA NO PESCOÇO

Por Rodrigo Haidar
O Supremo Tribunal Federal precisa desmitificar o julgamento do processo do mensalão. O tribunal tem de achar um procedimento que permita o julgamento desse processo sem deixar de lado as outras milhares de ações que aguardam a definição dos ministros. A opinião é do ministro Marco Aurélio: "Até parece que não temos mais nada importante na Corte para julgar, que essa é a primeira ação relevante submetida ao crivo do Supremo".
Em entrevista concedida à revista Consultor Jurídico nesta quinta-feira (31/5), o ministro afirmou que não vê motivos para a pressa que se percebe em julgar o mensalão e que sequer seria conveniente analisar o caso durante o período eleitoral. Para Marco Aurélio, é evidente que a decisão do STF pode influenciar o processo eleitoral. "Acabará o pronunciamento do Supremo interferindo no processo eleitoral, no certame eleitoral, com desequilíbrio para a disputa", afirmou. De acordo com ele, contudo, o período eleitoral também não é um obstáculo intransponível para que o caso seja julgado.
O ministro não admite a possibilidade de suspensão do recesso de julho por conta de um processo que considera tão importante quanto qualquer outro que tramita no Supremo e diz que não compareceria às sessões. "Eu próprio não comparecerei a qualquer sessão convocada para o mês de julho para julgar especificamente um processo. Afinal de contas, ninguém está no corredor da morte", disse.
Na entrevista, o ministro ainda criticou o atraso nas sessões do Supremo, as longas discussões sobre o mesmo fato que acabam por impedir o julgamento de outros processos e a pressão sobre o revisor da ação do mensalão, ministro Ricardo Lewandowski, para que ele libere logo o processo para a pauta. "O que se quer? Um exame aligeirado pela rama? Não. Se quer um exame cuidadoso, porque nós estaremos lidando com a liberdade de cidadãos". De acordo com Marco Aurélio, o tribunal não pode deixar de lado, neste caso, a equidistância que deve ter em relação a qualquer processo que tramita no STF.
Leia a entrevista:
ConJur — Há justificativa para a pressa no julgamento do processo do mensalão?
Marco Aurélio — Temos de desmitificar esse processo. Até parece que não temos mais nada importante na Corte para julgar, que essa é a primeira ação relevante submetida ao crivo do Supremo. O processo, para mim, é um processo igual a tantos outros que nós apreciamos. Há uma excitação muito grande, considerado até o rótulo do processo: mensalão. Há a cobrança da sociedade, dos veículos de comunicação que informam e ressaltam o julgamento. Mas é uma Ação Penal. Uma Ação Penal que se mostrou grandiosa quanto à quantidade de envolvidos, no que se manteve aqui, a meu ver com maltrato ao princípio do juiz natural, acusados que não detêm prerrogativa de foro. Mas nós devemos proceder com naturalidade. Precisamos pensar em uma fórmula que não suspenda, ante o tempo necessário para julgamento desse processo, a jurisdição. Que não menospreze a situação de inúmeros jurisdicionados que estão na fila aguardando para ver seu processo julgado. Nós temos, no Pleno, cerca de 700 processos para serem apreciados. Recursos Extraordinários, com repercussão geral admitida, são 253. E estamos julgando muito pouco.
ConJur — Por que julgando pouco?
Marco Aurélio — Porque continuamos com uma relapsia no tocante a tempo, ao horário. Ontem iniciamos a sessão com 50 minutos de atraso. Eu fico até com pena daquele casalzinho que apresenta a sessão plenária na TV Justiça porque eles precisam encher lingüiça. Aí, o que ocorre? O presidente compensa no final da sessão. Eu tinha ontem audiências com advogados de fora de Brasília, com uma subprocuradora do município do Rio de Janeiro, com um advogado de São Paulo. E aí nós passamos por relapsos. Sou favorável a se cumprir horário, a se otimizar o tempo. Cada qual se policiar, que aquilo ali não é uma academia. Para acompanhar o relator você não precisa fundamentar o voto. Mas para divergir, sim. E o que está acontecendo? Quando chega a minha vez de votar e eu divirjo. Aí eles começam a rediscutir a matéria, como se houvesse divergência entre eles. E não há. Para quê? Para mostrar ao grande público que eles não estão errados? Já votaram, já fundamentaram os votos. E a desconfiança pesa sobre mim, porque toda vez que você fica isolado em um colegiado, tem que desconfiar do que veiculou. E com isso se gasta muito, mas muito tempo. E ao invés de se julgar dez ou 15 processos por sessão, julgamos só um. Às vezes, nem um processo.
ConJur — O senhor admite a possibilidade de suspensão do recesso de julho para julgar esse processo?
Marco Aurélio — De forma alguma. Aí é que seria colar a esse processo a excepcionalidade, discrepando do que se imagina em termos de Estado Democrático de Direito. Eu próprio não comparecerei a qualquer sessão convocada para o mês de julho para julgar especificamente um processo. Afinal de contas, ninguém está no corredor da morte.
ConJur — Há a necessidade de julgar o processo esse ano?
Marco Aurélio — Necessidade não há. E procede a preocupação do ex-presidente Lula. Eu admito como legítima a preocupação do ex-presidente quanto à simultaneidade de termos o julgamento no semestre das eleições.
ConJur — Por quê?
Marco Aurélio — Primeiro, porque ele é leigo no campo do direito. Segundo, ele confunde-se com o partido. Ele é o integrante maior do PT. E há acusados do PT no processo. Qual será a repercussão junto aos eleitores da condenação de um desses acusados? Acabará o pronunciamento do Supremo interferindo no processo eleitoral, no certame eleitoral, com desequilíbrio para a disputa.
ConJur — Ou seja, não seria conveniente julgar esse processo no período eleitoral?
Marco Aurélio — Não. De início eu mesmo, como cidadão e como alguém com uma experiência relativa da vida pública, da vida gregária, da vida em sociedade, creio que não seria conveniente esse julgamento no segundo semestre. O ideal teria sido o julgamento ainda em 2011 ou no primeiro semestre de 2012. Agora, evidentemente, se o revisor liberar o processo, ele estiver aparelhado e o presidente o incluir em pauta — quem inclui em pauta é o presidente, ele é quem define, pela liturgia da Corte, os processos que serão julgados — eu estarei pronto para me pronunciar. Também não é obstáculo intransponível a realização das eleições para o julgamento.
ConJur — O mensalão não é um processo especial?
Marco Aurélio — Não. É um processo trabalhoso, porque tem vários acusados. E o relator já nos assustou dizendo que o voto dele tem mais de mil folhas, mas nós temos de estar prontos para julgar. E julgar quando aparelhado o processo. Essa é outra coisa que eu nunca vi no Supremo, uma pressão explícita ou implícita para um integrante do Supremo liberar o processo. Nós sempre guardamos um respeito mútuo muito grande. Cada qual é responsável pelos seus atos. O ministro revisor liberará o processo quando tiver o domínio do processo porque a atuação dele não é meramente formal, de lançar o visto como revisor. Ele precisa realmente ter o domínio.
ConJur — Ele tem de ter pleno conhecimento do caso, tanto quanto o relator, certo?
Marco Aurélio — Claro. Imagine, julgando o processo, um advogado vai à tribuna e coloca uma questão qualquer. O relator, por isso ou por aquilo, presta um esclarecimento, mas não convence. Aí o revisor, que poderá suplementar o que veiculado pelo relator, não terá condições? Por isso é que ele é o revisor. Implica a revisão, realmente. O exame do conteúdo.
ConJur — O revisor, ministro Ricardo Lewandowski, promete liberar a ação até o fim de junho. Será a revisão mais rápida da história do Supremo...
Marco Aurélio — Pelo tamanho, talvez. É um processo com muitos volumes, parece-me que com 80 mil folhas. O que se quer? Um exame aligeirado pela rama? Não. Se quer um exame cuidadoso, porque nós estaremos lidando com a liberdade de cidadãos.
ConJur — Dez advogados de acusados apresentaram uma petição pedindo, por exemplo, para que não sejam feitas sessões todos os dias da semana...
Marco Aurélio — E não haverá, porque nós não podemos parar a jurisdição. Nós atuamos muito no campo individual. Temos as turmas com Habeas Corpus com réus presos. Temos o Pleno. A minha ideia seria iniciar o julgamento, se dar sequência na quarta e quinta, no horário normal, cumprindo o horário e com a observância, não só das condições físicas do relator, que são precárias, mas também do compromisso de três ministros com o TSE, e deixarmos a manhã de quarta-feira para julgarmos os demais processos. Não vamos poder suspender os trabalhos para analisar uma só ação. Nós temos de dar satisfação aos contribuintes e aos jurisdicionados que estão aguardando há tempos o julgamento de suas causas.
ConJur — Os advogados pedem que o Supremo não julgue com a "faca no pescoço". O senhor sente uma faca no pescoço?
Marco Aurélio — Não. Isso foi uma expressão retórica que um colega disse, que o tribunal teria recebido a denúncia com a faca no pescoço. Ao que eu disse: "Bendita faca". E não julgamos... Depois de milhares de processos apreciados, nós temos uma leveza maior para atuar segundo o que pensamos, segundo convencimento formado, ciência e consciência possuídas, e decidir. Não podemos bater carimbo, colocar na vala comum, mas também não podemos conferir um procedimento especial a esse processo. Porque, se conferirmos, nós estaremos deixando no ar, principalmente ao leigo, certa suspeição da equidistância. Ou seja, uma impressão de que não estamos atuando como devemos atuar, como Estado juiz. De forma eqüidistante. E julgando segundo os elementos do processo. E nada mais.
ConJur — O senhor disse em sessão que achava estranho o STF discutir os procedimentos do processo sem a participação dos advogados...
Marco Aurélio — Exato. A mola mestra do devido processo legal é o contraditório. Ou seja, o cidadão saber o seu dia em juízo em que algo que diga respeito aos interesses dele estará sendo tratado. E aí nós temos o acompanhamento pela defesa técnica, pelo profissional da advocacia. Como vemos que se está potencializando a repercussão desse processo junto à sociedade, junto à mídia? Nós tivemos uma proposta em questão de ordem, para saber, por exemplo, se poderia o relator resumir o relatório. O que eu fiz na ação que discutiu a anencefalia? Eu li o relatório de 30 folhas? Não. Eu li quatro folhas. E eu mesmo decidi resumir, distribui aos colegas e entreguei ao advogado da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Saúde, que foi a autora da ação. Isso é ato do relator, é quem conduz o processo.
ConJur — Mas não é necessário definir alguns parâmetros, como o tempo da acusação?
Marco Aurélio — O Ministério Público, na história do Tribunal Superior Eleitoral, na história do Supremo, nunca teve marcação de tempo para falar. O Ministério Público é o fiscal da lei. Nessa terceira ida ao TSE, eu vi que isso mudou. Porque, quando se dá a palavra ao procurador-geral eleitoral, se diz que terá 10 minutos para sustentação. Eu, se fosse do Ministério Público, já teria esperneado. Teria me insurgido contra isso. No caso do processo do chamado mensalão, se fixou cinco horas para a acusação. Cada defensor terá uma hora para defender o cliente. É claro que talvez não use esse tempo todo. Mas cinco horas para o procurador, delimitando-se? Cinco horas para o procurador, dividindo pelo número de acusados, representa oito minutos para ele falar sobre cada acusação. E parece que há imputações cumulativas. Ou seja, não se atribui apenas um crime, mas, no caso de alguns acusados, dois ou três crimes.
ConJur — Os advogados também citam o receio de que se crie um agravante do risco de prescrição...
Marco Aurélio — Não pode haver isso. A missão de julgar é uma missão sublime. E não cabe, nesse campo, para fugir da incidência da prescrição, se fazer conta de chegada. Majorar a pena visando afastar a prescrição. Isso aí é injustiça manifesta e é traição ao dever de fidelidade ao caso concreto, segundo a regência. Não passa pela minha cabeça que um integrante do Supremo imagine majorar a pena, não presentes as circunstâncias judiciais do artigo 59 do Código Penal, mas exacerbando essas circunstâncias judiciais para simplesmente não incidir a prescrição. Ou seja, nós não podemos cogitar de uma pena hipotética e depois ajustar essa pena hipotética a um quantitativo que afaste a prescrição.
ConJur — Como fazer esse julgamento sem transformar o Supremo em um tribunal de exceção?
Marco Aurélio — Com eqüidistância, que é garantia maior de todos, não apenas desses acusados. Eu não sei como vai ser, por exemplo, se houver condenação, a fixação da pena. Talvez tenhamos aí uma feira livre, cada qual levantando o dedo pra sugerir uma pena. E nós devemos ter uma visão do conjunto e, de forma razoável e proporcional, fixar, se for o caso de condenação, a pena para cada qual dos acusados. Outra coisa que não cabe é o seguinte: Há um princípio básico em direito penal, de que a culpa é individual. Não cabe julgamento em bloco. Ou seja, se imagina que, em relação a cada qual, haja elementos a revelar a culpa ou a inocência.
ConJur — O julgamento tem de ser individualizado...
Marco Aurélio — Sim. Claro que talvez se possa cogitar de quadrilha. Aí se pega cada qual e examina, no tocando a cada um dos acusados, os elementos que foram coligidos ao processo.
ConJur — Recentemente, a OAB entrou no Supremo com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade questionando o financiamento privado de campanhas políticas por empresas. Considerando que todos os escândalos políticos têm origem em financiamento de campanhas, essa ação não seria mais importante...
Marco Aurélio — Muito mais importante. E eu já disse que eu sou a favor do voto facultativo, não obrigatório. O exercício da cidadania é um direito. O cidadão não pode ser compelido a exercer a cidadania. É escolha dele. E, em segundo lugar, defendo o financiamento estritamente público. Hoje ele é misto, já que se tem o fundo partidário, e o horário de televisão com desconto, pela empresa que transmite a propaganda, de imposto por conta do tempo consumido. Eu não consigo conceber o financiamento por parte de pessoa jurídica. Pessoa natural, ainda podemos imaginar que haja idealismo, adesão ao partido. Mas o financiamento privado acaba saindo muito caro para a sociedade. Não acredito em altruísmo. E se busca, posteriormente, quanto ao eleito, o troco.
Rodrigo Haidar é editor da revista Consultor Jurídico em Brasília.
Revista Consultor Jurídico, 31 de maio de 2012

Procuradores defendem investigação de Thomaz Bastos



Procuradores defendem investigação de Thomaz BastosFoto: Sérgio Lima/Folhapress

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROCURADORES DA REPÚBLICA SAI EM DEFESA DO PROCURADOR MANOEL PASTANA, QUE INGRESSOU NA ÚLTIMA SEGUNDA-FEIRA COM  REPRESENTAÇÃO PEDINDO AO MINISTÉRIO PÚBLICO QUE INVESTIGUE A ORIGEM DOS PAGAMENTOS FEITOS PELO BICHEIRO CARLINHOS CACHOEIRA A SEU ADVOGADO, O EX-MINISTRO MÁRCIO THOMAZ BASTOS, ESTIMADOS EM R$ 15 MILHÕES

Por Jornal Sul 21
31 de Maio de 2012 às 19:51Jornal Sul 21
Sul 21 - A Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) saiu em defesa do procurador Manoel Pastana, que ingressou na última segunda-feira (28) com uma representação contra o advogado de Carlinhos Cachoeira, o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos. A entidade entra na disputa política de diversas instituições ligadas ao direito, que há dias se debatem entre o apoio ao procurador ou ao advogado.
Manoel Pastana quer que o Ministério Público Federal investigue a origem dos pagamentos feitos pelo bicheiro ao advogado, estimados na ordem de R$ 15 milhões. O procurador questiona a legalidade do dinheiro, já que Cachoeira faz fortuna a custa da exploração de jogos de azar.
O Instituto dos Advogados de São Paulo emitiu nota nesta quarta-feira (30) repudiando a atitude de Pastana. A entidade afirma que "descabe a alegação de que deveria ser fornecida obrigatoriamente ao acusado a defesa por parte do Estado, pois a relação é de escolha livre e de confiança".
A Ordem dos Advogados do Brasil já havia se posicionado ao lado de Thomaz Bastos. Na última terça-feira (29), o presidente da OAB nacional, Ophir Cavalcante, afirmou que "a partir do momento em que se imputa ao advogado a prática de crime por ele estar exercendo, dentro dos limites da lei, o direito de defesa, por óbvio se está a atentar contra as liberdades e contra o legal exercício de uma profissão, constitucionalmente protegida".
A Associação dos Advogados de São Paulo (Aasp) também se posicionou sobre o caso. "Tal intento viola não apenas prerrogativa profissional do advogado, como os mais comezinhos princípios constitucionais que alicerçam o Estado Democrático de Direito, os quais garantem a todo e qualquer cidadão a presunção de inocência e o pleno exercício da ampla defesa e do contraditório", diz a nota da entidade.
Em defesa do procurador, a ANPR diz que a petição de Pastana "louva-se na aplicação da Lei de Lavagem de Dinheiro (Lei 9.613/98), segundo a qual o recebimento de vultosa quantia de quem não tem renda lícita constitui crime de receptação culposa".
Contrária aos argumentos de que a investigação dos recursos estimados em R$ 15 milhões representaria um cerceamento do direito a defesa, a associação encerra a nota explicando que sua postura "não representa, contudo, menosprezo à advocacia e ao exercício regular da ampla defesa e do contraditório, que os membros do Ministério Público Federal fazem questão de reverenciar como fundamental em um Estado de Direito".
A assessoria de imprensa do próprio Pastana enviou uma nota à imprensa rebatendo as afirmações de que ele esteja tentando intimidar Thomaz Bastos ou cercear a defesa de Cachoeira. Pastana, diz a nota, quer apenas cumprir a Lei de Lavagem de Dinheiro, uma vez que "há indícios de crime de lavagem de dinheiro ou de receptação".
Confira a nota da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR)
A ANPR vem a público manifestar apoio a seu associado, o procurador regional da República Manoel Pastana, que, ao vislumbrar verossimilhança nas informações de que o advogado Márcio Thomaz Bastos teria cobrado R$ 15 milhões do acusado Carlinhos Cachoeira, para defendê-lo em ação penal que lhe imputa vários delitos – entre eles lavagem de dinheiro -, apresentou petição ao MPF de Goiás para que seja apurada a origem dos recursos pagos a título de honorários.
A petição louva-se na aplicação da Lei de Lavagem de Dinheiro (Lei 9.613/98), segundo a qual o recebimento de vultosa quantia de quem não tem renda lícita constitui crime de receptação culposa. É intuitivo que o advogado, assim como qualquer profissional, não está isento de justificar que a renda recebida de seu trabalho provém de origem lícita. Cuida-se de fazer com que a lei seja cumprida.
Vale lembrar que a análise da petição – de resto exercitável, também, como atributo da cidadania -, do ponto de vista de efetiva ação do Ministério Público Federal, caberá, a princípio, aos procuradores da República destinatários daquela, que detêm a inteira atribuição para agir como lhes parecer adequado sob o ditame da lei. Isto não representa, contudo, menosprezo à Advocacia e ao exercício regular da ampla defesa e do contraditório, que os membros do Ministério Público Federal fazem questão de reverenciar como fundamental em um Estado de Direito – tanto quanto o integral cumprimento da ordem jurídica.
Alexandre Camanho de Assis
Procurador Regional da República
Presidente da ANPR
Com informações do site do Conjur

Gilmar contra Lula: de acusador a acusado



Gilmar contra Lula: de acusador a acusadoFoto: Edição/247

COLEGAS DO SUPREMO, JURISTAS E MESMO EDITORIAIS DE JORNAIS CRÍTICOS AO PETISMO AGORA CONDENAM A ATITUDE DO MINISTRO DO SUPREMO, GILMAR MENDES. ANTES VÍTIMA DE CHANTAGEM, O MAGISTRADO PASSA A RECEBER CRÍTICAS DE TODOS OS LADOS, ATÉ DA EMBAIXADA DA VENEZUELA...

31 de Maio de 2012 às 19:47
Minas 247 - Logo depois que a edição da revista Veja foi divulgada, as primeiras manifestações vistas, ouvidas e lidas na mídia foram de condenação ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Como se sabe, ele foi acusado por Veja de ter chantageado o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes. No domingo e na segunda-feira, logo depois de inaugurada a polêmica, a opinião corrente era que Lula teria cometido falha gravíssima que poderia ter gerado uma crise institucional. A oposição passou a pedir seu depoimento na CPI do Cachoeira.
Aos poucos, porém, a gangorra da opinião pública - ou da mídia, como se queira - começou a mudar. Jornalistas influentes e gente ligada ao mundo das leis passaram a questionar o ministro do Supremo. O portal Uol chegou a pôr em dúvidas as declarações de Gilmar em entrevista à TV Globo. Divulgou um laudo de perícia feito em cima da frequência de voz do ministro, apontando trechos “fraudulentos e suspeitos”.
Nesta quinta-feira, por exemplo, o experiente jornalista Jânio de Freitas tocou num assunto delicado mesmo para quem defende Gilmar Mendes no caso: “O encontro, no escritório de Nelson Jobim, foi em 26 de abril. Por que só passado um mês Gilmar Mendes quis dar à "Veja" sua versão do que Lula lhe teria dito?”, questiona o jornalista em sua coluna na Folha de S. Paulo.
A pergunta procede. Se Lula não cometeu chantagem, não há denúncia, apenas a manifestação pessoal de um cidadão em conversa privada. Se há chantagem, e se isso é grave, por que Gilmar Mendes demorou um mês para percebê-la? O PSOL, que antes havia se unido ao PSDB, DEM e PPS pedindo investigação da conduta de Lula, protocolou representação que questiona a conduta de Mendes. O servidor público Cícero Batista Araújo Rôla, que é filiado ao PT e secretário-geral da CUT no Distrito Federal, registrou pedido de impeachment do ministro na presidência do Senado.
Os aliados de Lula, no início da semana ainda paralisados com a notícia - muitos criticaram, à boca pequena, o fato de o ex-presidente encontrar-se com um desafeto do PT, e no escritório de outro desafeto, o ex-ministro Nelson Jobim -, aos poucos partiram para o ataque. A presidenta Dilma Rousseff, durante entrega do Prêmio Objetivos do Milênio Brasil, fez uma homenagem ao seu antecessor: “As pessoas nos lugares certos e na hora certa mudam processos e transformam a realidade”, afirmou a presidenta, propondo a homenagem. A plateia aplaudiu de pé e cantou, em coro, “Olé, olá… Lula, Lula”.
Até um ministro do Supremo entrou na polêmica. Mais do que isso: defendeu Lula e criticou o colega de STF. Marco Aurélio Mello, o segundo mais antigo dos 11 ministros, considerou “legítimo” e “normal” que Lula manifetasse sua opinião sobre a data mais conveniente para o julgamento do mensalão. "Primeiro, porque é um leigo na área do direito. Segundo, porque integra o PT. Portanto, se o processo envolve pessoas ligadas ao PT, obviamente, se ocorrer uma condenação, repercutirá nas eleições municipais".
Opinião parecida com a manifestada dias antes pelo jurista e professor da USP Dalmo Dallari. Em entrevista ao 247, Dallari, antigo desafeto de Gilmar Mendes, afirmou: “Ainda que Lula tenha feito referências ao mensalão, é duvidoso se isso teria tanta implicação jurídica, pois parece ter sido numa conversa informal, feita na casa de um amigo comum dos dois”.
A Embaixada da Venezuela no Brasil entrou em campo condenando Gilmar Mendes. Ela respondia à manchete do jornal O Globo, com fala do ministro do Supremo, segundo a qual o “Brasil não é a Venezuela de Chávez, onde o mandatário, quando contrariado, manda até prender juiz”.
Na boca de um político ou jornalista, a frase não teria nada demais. Mas saída de um membro da mais alta corte do Judiciário do Brasil, que mantém relações diplomáticas com o país citado? A embaixada venezuelana divulgou nota: “Recorrer à desinformação para envolver a Venezuela em debates que dizem respeito apenas aos brasileiros é uma atitude indecorosa – ainda mais partindo de um ministro da mais alta corte da nação irmã – e não reflete a parceria histórica entre Brasil e Venezuela”, disse o embaixador no Brasil, Maximilien Arveláiz.
Até o assumidamente conservador jornal O Estado de S. Paulo, geralmente hostil a Lula, passou a condenar a atitude de Gilmar. Em editorial, também classificou como “tardia” a denúncia do ministro, e ainda faz uma crítica indireta ao suposto uso, por parte de Gilmar Mendes, de avião particular cedido pelo senador Demóstenes Torres (DEM): “Certa vez, ao apoiar a divulgação individualizada dos salários do funcionalismo, o atual titular do STF, Carlos Ayres Britto, observou: ‘É o preço que se paga pela opção por uma carreira pública no seio de um Estado republicano’. No caso da magistratura, a conta inclui a recusa a convites que outros cidadãos podem aceitar com naturalidade.”
Para quem ainda duvida da mudança em curso na opinião pública basta ler os novos “gritos” do blogueiro da revista Veja, Reinaldo Azevedo. Defensor maior das teses da oposição ao governo petista - mais até do que os próprios membros do PSDB e do DEM -, ele agora afirma: “Está em curso uma operação para tentar desestabilizar Mendes e forçá-lo a se declarar impedido de julgar o mensalão”. Reinaldo vai além: “Trata-se de uma ação ampla, que encontra eco até mesmo dentro do tribunal”.

Santayana : Gilmar não é o Supremo


Gilmar não é o Supremo

Mauro Santayana


Engana-se o Sr. Gilmar Mendes, quando denuncia uma articulação conspiratória contra o Supremo Tribunal Federal, nas suspeitas correntes de que ele, Gilmar,  se encontra envolvido nas penumbrosas relações do Senador Demóstenes Torres com o crime organizado em Goiás.

A articulação conspiratória contra o Supremo partiu de Fernando Henrique Cardoso, quando indicou o seu nome para o mais alto tribunal da República ao Senado Federal, e usou de todo o rolo compressor do Poder Executivo, a fim de obter a aprovação. Registre-se que houve 15 manifestações contrárias, a mais elevada rejeição em votações para o STF nos anais do Senado.

Com todo o respeito pelos títulos acadêmicos que o candidato ostentava – e não eram tão numerosos, nem tão importantes assim – o Sr. Gilmar Mendes não trazia, de sua experiência de vida, recomendações maiores. Servira ao Sr. Fernando Collor, na Secretaria da Presidência, e talvez não tenha tido tempo, ou interesse, de advertir o Presidente das previsíveis dificuldades que viriam do comportamento de auxiliares como P.C. Farias. Afastado do Planalto durante o mandato de Itamar, o Sr. Gilmar Mendes a ele retornou, como Advogado Geral da União de Fernando Henrique Cardoso. Com a aposentadoria do ministro Néri da Silveira, Fernando Henrique o levou ao Supremo. No mesmo dia em que foi sabatinado, o jurista Dalmo Dallari advertiu que, se Gilmar chegasse ao Supremo, estariam “correndo sério risco a proteção dos direitos no Brasil, o combate à corrupção e a própria normalidade constitucional”. Pelo que estamos vendo, Dallari tinha toda a razão.

Gilmar, como advogado geral da União – e o fato é conhecido –, recomendara aos agentes do Poder Executivo não cumprirem determinadas ordens judiciais. Como alguém que não respeita as decisões da justiça pode integrar o mais alto tribunal do país?  Basta isso para concluir que Fernando Henrique, ao nomear o Sr. Gilmar Mendes, demonstrou o seu desprezo pelo STF. O Supremo, pela maioria de seus membros, deveria ter o poder de veto em casos semelhantes.

Esse comportamento de desrespeito – vale lembrar – ocorreu também quando o Sr. Francisco Rezek renunciou ao cargo de Ministro do Supremo, a fim de se tornar Ministro de Relações Exteriores, e voltou ao alto tribunal, re-indicado pelo próprio Collor. O episódio, tal como a posterior indicação de Gilmar, trouxe constrangimento à República. Ressalve-se que os conhecimentos jurídicos de Rezek, na opinião dos especialistas, são muito maiores do que os de Gilmar. Mas se Rezek não servia como chanceler, por que deveria voltar ao cargo de juiz a que renunciara?  São atos como esses, praticados pelo Poder Executivo, que atentam contra a soberania da Justiça, encarnada pelo alto tribunal.

A nação deve ignorar o esperneio do Sr. Gilmar Mendes. Ele busca a confusão, talvez com o propósito de desviar a atenção do país das revelações da CPI. O Congresso não se deve intimidar pela arrogância do Ministro, e levar a CPMI às últimas conseqüências; o STF deve julgar, como se espera, o processo conhecido como mensalão, como está previsto. Acima dos três personagens envolvidos na conversa estranha que só o Sr. Mendes confirma, lembremos o aviso latino, de que testis unus, testis nullus, está a Nação, em sua perenidade. Está o povo, em seus direitos. Está a República, em suas instituições.

O Sr. Gilmar Mendes não é o Supremo, ainda que dele faça parte. E se sua presença naquele tribunal for danosa à estabilidade republicana – sempre lembrando a forte advertência de Dallari – cabe ao Tribunal, em sua soberania,  agir na defesa clara da Constituição, tomando todas as medidas exigidas. Para lembrar um autor alemão, Carl Schmitt, que Gilmar deve conhecer bem, soberano é aquele que pratica o ato necessário.

Veja como vivem os "astros" que exploram a fé alheia usando o nome de Jesus


A rotina dos popstars da fé


Divididos entre religião e carreira, família e viagens, missas e 

shows, esses campeões de vendas se desdobram para equilibrar o 

divino e o mundano no dia a dia

João Loes e Rodrigo Cardoso
Assista ao vídeo e conheça as músicas dos astros da fé:
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Eles detestam ser chamados de estrelas. Repetem, insistentemente, que são, na melhor das hipóteses, um mero canal para a graça de Deus. A humildade do discurso, porém, contrasta com a postura de celebridade desses ídolos cristãos e com os números que compõem este que já é o mais expressivo segmento do mercado fonográfico do País. Estima-se que, só em 2011, a produção de discos e DVDs religiosos no Brasil rendeu R$ 1,5 bilhão. Como não poderia deixar de ser, no mesmo ano, os discos e os DVDs mais vendidos, segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Discos (Abpd), foram dos astros da fé padre Marcelo Rossi e padre Fábio de Melo, respectivamente.
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AMIGOS
Padre Marcelo e padre Fábio na gravação do
DVD “Ágape”, em São Paulo, no domingo 20
O domínio não é só católico. Estrelas do mundo gospel têm tido cada vez mais espaço para brilhar. Pudera, hoje o Brasil tem pelo menos 38 milhões de evangélicos, segundo dados do Centro de Pesquisas Sociais da Fundação Getulio Vargas (CPS/FGV). Nomes como Aline Barros, Ana Paula Valadão e Regis Danese são verdadeiras potências capazes de arrastar centenas de milhares de pessoas a shows, cruzar barreiras religiosas e vender milhões de discos e DVDs. “E tem uma outra coisa – para os evangélicos, pirataria é roubo e roubo é pecado”, afirma o evangélico Danese. Como consequência, as perdas para a pirataria de gravadoras especializadas nesse mercado não passam de 15% do faturamento, enquanto para as outras o percentual pode chegar a até 60%.

Mas como vivem essas pessoas, divididas entre a pureza da mensagem divina e a lógica violenta do mercado? Como administram fé, carreira artística, vida religiosa, família, viagens, fãs, sucesso e dinheiro? ISTOÉ ouviu cinco dos mais importantes representantes do gênero na atualidade, além de gente do seu círculo social, para a seguir mostrar as alegrias, tristezas, paixões e dúvidas dos astros da fé.
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"Gosto de roça, de bicho. Em casa tenho pouquíssimos ruídos"
Padre Fábio de Melo

Um mês atrás, padre Fábio de Melo desabafou em seu Twitter que, cansado da cidade grande, qualquer dia venderia seu iPhone e compraria um casal de gansos. Aos 42 anos, o sacerdote que nasceu em Formiga, interior de Minas Gerais, e atravessou fronteiras graças aos cerca de 30 produtos que lançou no mercado – entre CDs, DVDs e livros –, mora sozinho em um sítio numa região rural de Taubaté, interior de São Paulo. É lá, ao lado dos dois cachorros, o mastiff inglês Nathan e o bulldog francês Lucca, que ele relaxa. “Gosto de roça, de bicho. Em casa tenho pouquíssimos ruídos urbanos por perto”, afirma o sexto maior vendedor de CDs do Brasil no ano passado. No momento, o sacerdote cantor que já vendeu dois milhões de CDs e 700 mil DVDs afirma: “Estou cada vez menos urbano.”

Apesar do discurso desapegado, padre Fábio ainda não se livrou de seu smartphone. Também não abre mão de dirigir o próprio carro na ida ao supermercado. Até já arriscou uma volta em um modelo stock car, como mostra a foto acima, em 2010, um desejo antigo. Mas cavalgar, cuidar pessoalmente dos cachorros e ajudar na limpeza da casa e do jardim são seus principais passatempos quando encontra uma folga na agenda tomada – entre celebrações e um programa de rádio – por 100 shows anuais e pelo menos um lançamento de CD ou DVD por ano. “Com essa rotina, ficar em casa é sempre um luxo”, diz o sacerdote. Vestindo batina, o caçula de oito filhos explodiu como um fenômeno da música gospel no início dos anos 2000. “A vocação espiritual do Fábio era a de um padre, mas a vocação natural era a de um artista. Sendo assim, que se tornasse um padre artista”, afirma o padre João Carlos Almeida, diretor da Faculdade Dehoniana e formador espiritual, musical e universitário do sacerdote mineiro.

Padre Fábio aprendeu direitinho com seu mentor. A timidez e a melancolia do início da carreira saíram de cena e o mineiro boa-pinta de olhar triste conquistou o público se valendo de uma linguagem comum ao ambiente acadêmico – própria de quem se formou em teologia e filosofia, fez pós-graduação e lecionou em faculdades. “Fábio não é padre que faz sermão em igreja. Em qualquer lugar que ele vá seu discurso é estudado”, afirma padre Almeida. “Ele é um poeta do evangelho”, diz o pré-candidato a prefeito de São Paulo Gabriel Chalita, que publicou dois livros em parceria com o amigo religioso. Um poeta que, além da articulação das palavras, zela pela aparência. Ela, afinal, também tem o dom de cativar fãs fiéis. “Vou regularmente ao dermatologista. Já tive câncer de pele e uma paralisia facial na juventude. E procuro controlar o peso”, afirma ele. “Eu me cuido, sim. Estar bem-vestido faz parte do meu trabalho. É uma hipocrisia achar que o padre precisa andar mal-arrumado e desleixado.”
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"Trocaria meu corpo por três de 18 anos"
Padre Marcelo Rossi

Padre Marcelo Rossi, 45 anos, estava pronto. Na tarde do domingo 20, de batina branca, ele rumou para a cripta que fica embaixo do enorme palco do Santuário Theotókos Mãe de Deus, em construção há oito anos. Ali, seu corpo repousará em sono eterno quando sua missão na terra acabar. O momento era de oração. Todos estavam em corrente vibrando para que a gravação do DVD “Ágape”, que começaria alguns lances de escada acima e dali a pouco mais de uma hora, corresse bem. “Dava pra sentir a energia no ar”, diz um membro da equipe musical. E que energia! Uma multidão de 45 mil fiéis já se aglomerava diante do palco do santuário para acompanhar a gravação e se fazia ouvir, através do concreto da cripta, com poderosos gritos de Jesus.

Seria ingênuo pensar que padre Marcelo já se acostumou com eventos como esse. E, mesmo que tivesse se acostumado, este certamente teria sabor diferente. O DVD “Ágape” é um desdobramento do sucesso inédito e retumbante do religioso no mercado editorial com o livro de mesmo nome lançado em 2010, que já vendeu oito milhões de cópias. “Minha vida está uma loucura, uma correria, mas uma bênção”, diz ele. Até agosto, de segunda a quarta, sua agenda está tomada por sessões de autógrafo em 12 cidades brasileiras. Em meio a esse stresse, ele faz o que pode para manter a rotina. Acorda sempre entre as três e quatro da manhã, faz uma breve oração, não toma café e mergulha nos afazeres diários, que incluem uma entrada ao vivo em rádio, obrigações com a obra no santuário e cuidados com a saúde. “Procuro fazer esteira e fisioterapia quatro vezes por semana”, diz.

Em 2010, depois que sofreu um grave acidente na mesma esteira que usa hoje, padre Marcelo chegou a celebrar missas em cadeira de rodas. A queda lhe rendeu um pé quebrado, tendões rompidos e um insistente problema no joelho que ainda teimam em incomodá-lo. Para amenizar as dores, o religioso tem alternado quatro pares de tênis do tipo esportivo, desenhado para amortecer impactos. Membros da equipe de filmagem da Rede Vida, que transmite suas missas há anos, e voluntários mais antigos que trabalham organizando a multidão nas celebrações em São Paulo dão como certa a ingestão de remédios pelo padre, tanto para dor quanto para inflamação. Isso poderia explicar, em parte, a dificuldade que ele tem tido em se mexer com agilidade e o visível inchaço de seu rosto. “Só com muita fé para fazer o que ele faz com as dores que deve sentir”, disse uma pessoa próxima, que revelou ainda que o popstar católico não pisa num supermercado, restaurante ou cinema há anos. “Não tem jeito, junta uma multidão pra ver, tocar, tirar foto e pedir bênção.”

Sobre o fervor dos fiéis, Marcelo lembra de uma história divertida. “Uma vez, uma senhora me viu dirigindo e começou a me fechar até que eu tive que subir, literalmente, na calçada e parar o carro”, diz ele. “Ela desceu, se ajoelhou e pediu uma bênção”, conta. Desde então ele não dirige mais e conta com o fiel Chicão, motorista e faz-tudo, para ajudá-lo a se deslocar. Quando questionado sobre o que espera do futuro, dá sinais de que o cansaço físico já começou a pesar. “Nos próximos cinco anos me vejo com mais experiência”, diz. “Mas trocaria meu corpo por três de 18 anos.”
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"Acompanho o dever de casa do Nicolas, o levo para a
escola, alimento e dou banho na Maria Catherine"

Pastora Aline Brarros
Nicolas sobe as escadas de casa chorando. No andar de cima, sua mãe, a pastora, cantora e escritora Aline Barros, interrompe a conversa telefônica para acalmar o primogênito de 8 anos, que está usando aparelho nos dentes. “Deixa a mamãe ver. Onde está doendo?”, diz. Aos 35 anos, a maior expoente feminina da música gospel brasileira tem hoje os filhos mais perto de si do que os microfones com os quais se tornou fenômeno da indústria fonográfica. Sete meses atrás, Aline deu à luz Maria Catherine e, desde então, a maternidade sobrepujou a sua rotina artística. Foi só em março, após seis meses dedicados exclusivamente à filha, que a cantora retomou os compromissos no show biz. “Minhas manhãs ainda são para os meus filhos. Acompanho o dever de casa do Nicolas, o levo para a escola, alimento e dou banho na Maria Catherine”, diz a pastora da Igreja Comunidade Evangélica Internacional da Zona Sul, no Rio de Janeiro, frequentada por ela toda quarta e domingo.

Desde 1995, quando lançou o primeiro de 27 álbuns, a evangélica já vendeu cerca de seis milhões de cópias e ganhou quatro Grammys latinos (o último no ano passado). Aline foi a primeira cantora gospel do País a conquistar um Grammy, em 2004. A gravação do álbum premiado, “Fruto de Amor”, foi cercada de muita tensão. Na época, um problema nas cordas vocais provocava rouquidão na pastora e só lhe permitia gravar depois de uma longa pausa de recuperação. “Procurei uma fonoaudióloga, que me disse que eu estava com apenas 5% da voz em perfeitas condições”, lembra.

Com a voz recuperada, a pastora iria cantar para cerca de dez mil pessoas no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, no sábado 26. Onipresente em programas de tevê fora do segmento cristão e amparada por números de uma estrela, com músicas gravadas em espanhol, a carioca que cresceu no subúrbio da Vila da Penha e hoje vive no confortável bairro da Barra da Tijuca não se veste com o manto comum às celebridades. “Se deixar, a Aline passa o dia de jeans e tênis”, revela a sua mãe, Sandra Barros. “Ela é despojadona.” De fato, a pastora cantora já esteve em três programas de tevê diferentes, em uma mesma semana, calçando o mesmo sapato.

A evangélica se policia para não fazer a vida girar em torno da carreira. Seu marido, o ex-jogador de futebol Gilmar dos Santos, com quem está há 12 anos, revela um pacto feito pelo casal. “Desde que nos casamos, acertamos que não permitiríamos que a nossa vida ficasse refém de uma agenda.” Hoje, quando tem de viajar de avião para alguns dos 110 shows que faz por ano, ela carrega a filha no colo e procura embarcar em voos próximos ao horário dos shows. Inspirada pela fase materna, Aline planeja montar uma loja de roupas infantis. “Eu visto a Maria Catherine três vezes por dia, só para ficar namorando suas roupinhas”, diz.
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"Hoje, meu foco é minha filha"
Regis Danese
A rotina de shows já foi mais puxada para Regis Danese, nascido João Geraldo Danese Silveira em 2 de abril de 1972, na cidade de Passos, interior de Minas Gerais. Até 2010, quando vivia o auge do sucesso da música “Faz um Milagre em Mim”, que o consagrou no mercado gospel, o pacato mineiro se desdobrava para cumprir uma agenda de shows que chegava a ter 40 apresentações em um mês. A música, de 2008, é tida pela indústria fonográfica evangélica como a responsável por romper importantes barreiras. Foi das primeiras a ser tocada livremente em rádios FM laicas, a ser gravada por padres católicos e a ganhar dezenas de versões. Foram 50 mil discos vendidos no primeiro mês de lançamento e um milhão em menos de um ano. “Graças a ela, fazíamos três shows em uma noite só”, diz Danese, que vive em Belo Horizonte.

Hoje, o ritmo de shows diminuiu, mas ainda está longe de ser tranquilo. São cerca de oito apresentações por mês. E, onde quer que esteja, Danese, como bom evangélico, está sempre com sua “Bíblia” – a mesma, aliás, desde sua conversão, em 2000. Durante os voos para os locais de show, muitas vezes em pequenos aviões particulares, ela é lida com mais fervor. O artista admite que tem um medo saudável do aparelho. “Uma vez pegamos uma tempestade em um aviãozinho de duas hélices que chacoalhava tanto que nem a Bíblia eu consegui ler, então comecei a cantar”, lembra ele.

A voz, instrumento de trabalho e de fé, é cuidada com esmero. Só não recebe mais atenção que o cabelo, sempre espetado. São pelo menos 30 minutos de preparo, com sprays e produtos para garantir o efeito conhecido pelos fãs. “Às vezes, quando não tem cabeleireiro, eu ajudo, mas não fica lá essas coisas”, brinca Evander Domingues, o Vandinho, violonista da banda de Danese e amigo dos tempos em que ambos ainda eram membros do grupo de pagode Só Pra Contrariar.

É de Vandinho, da fé inabalável e da família que Regis tem tirado forças para encarar o mais recente desafio que a vida lhe jogou: a leucemia da filha mais nova, Brenda, 3 anos. Em viagem para a Disney, nos Estados Unidos, no mês de janeiro, a menina começou a passar mal, estava anêmica, muito branca e cheia de manchas roxas pelo corpo. Em visita a um hospital de Orlando, foi internada imediatamente e teve de receber uma transfusão de emergência. “Ela estava praticamente sem sangue”, diz Kelly Danese, mulher de Regis. Hoje, o tratamento quimioterápico pelo qual a menina passa em Belo Horizonte mudou a rotina da família.

O astro gospel já não joga mais seu futebolzinho semanal e pouco se diverte. “Todo o tempo livre que ele tem passa em casa olhando para a Brenda e orando”, diz Kelly. Um DVD, que seria gravado no mês que vem pelo astro, foi cancelado. Os shows, porém, continuam. Quando está fora, ele liga mais de cinco vezes por dia para saber notícias. “Hoje, meu foco é minha filha”, diz Danese.
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"Nem o sucesso da missão justifica o fracasso da família"
Ana Paula Valadão

“Vai com Deus, porque quando você cantar o ladrão não vai mais ser ladrão.” A frase dita pelo precoce Isaque Valadão, 6 anos, é o que move Ana Paula Valadão, mãe do garoto e vocalista da banda Diante do Trono, um fenômeno da música gospel que existe há 15 anos e já vendeu mais de dez milhões de discos. Quando as obrigações da carreira musical atropelam a rotina dessa mineira de Belo Horizonte, é na frase de Isaque que ela pensa. “É a garantia que tenho de que estou no caminho que Deus quer pra mim”, diz Ana, 36 anos, integrante, ao lado da família, da Igreja Batista da Lagoinha. “Ela encara a carreira e os sacrifícios exigidos como missão divina”, diz a irmã, Mariana Valadão. E espera seriedade, compromisso e abdicação semelhantes de todos de sua equipe. Atualmente, por exemplo, os 16 membros do Diante do Trono estão no que ela chama de “jejum de delícias” em preparo para a gravação do 15o disco da banda, marcada para acontecer no dia 9 de junho. Durante os 40 dias que antecedem a apresentação, cada um deve cortar do cardápio três ou quatro alimentos que come por puro prazer. “O rigor é tanto que ela chega a proibir, nos hotéis, que a equipe assista à televisão ou use a piscina antes de fazer uma apresentação”, diz o irmão, André Valadão, outra estrela do mundo gospel.
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FERVOR
Dezenas de milhares de pessoas acompanham as celebrações de padre Marcelo
Comunicar-se com familiares, porém, está liberado. Ela está sempre em contato com os dois filhos e o marido pelo iPhone. Usando um aplicativo que permite a troca gratuita de mensagens de texto e imagens, manda e recebe notícias constantes. Na última viagem, por exemplo, o companheiro mandou fotos de Isaque e do irmão, Benjamin, 3 anos, depois do banho, vestidos com o uniforme da escola e na hora de dormir, aconchegados no canto dela da cama de casal. Já ela fotografou o quarto do hotel e a roupa que escolheu para se apresentar. “Para eles verem como a mamãe está”, diz ela. Quando volta, ela lê e assina todos os recados mandados pelas professoras sobre seus meninos e faz questão de levá-los ao colégio sempre que está em Belo Horizonte. “Nem o sucesso da missão justifica o fracasso da família”, afirma.

Paciente com os fãs, Ana Paula encara a rotina de autógrafos, fotos e conversas como parte de sua missão. “Gosto da troca com eles”, afirma. A coisa só complica quando invadem seu espaço. Certa vez, enquanto estava hospedada em um hotel-fazenda de férias, um dos camareiros a acordou de um preguiçoso sono da tarde em seu quarto, enquanto os filhos e o marido estavam na piscina. Ele queria tirar uma foto. “Achei um pouco demais”, diz ela, rindo. No fim a foto foi tirada e o rapaz ainda reclamou da imagem. Faz parte.
Íntegra da entrevista com o Padre Fábio de Melo‏
ISTOÉ – Como a música passou a fazer parte da vida do senhor? Em quais ocasiões, seja na infância, adolescência, ou mesmo agora, surpreende-se cantarolando?
Padre Fábio de Melo – Já nasci com trilha sonora. Enquanto eu vinha ao mundo, o médico cantava “Jesus Cristo”, canção de Roberto e Erasmo. Minha mãe conta essa história para justificar o meu gosto pela música, mas também para ressaltar a minha opção pelas questões religiosas. Eu sempre tenho uma música na cabeça, ainda que não a cante. É um movimento natural que me leva ao centro da vida. A música é o meio de transporte por onde eu chego aos sentimentos do mundo.
ISTOÉ – Qual é o ritual do senhor antes de alguma apresentação?
Fábio de Melo – Não considero um ritual. Apenas gosto de ficar um tempo, ainda que breve, em silêncio antes de começar. Geralmente faço um aquecimento vocal antes do show, abençoo o palco e só.
ISTOÉ – A equipe de músicos viaja com o senhor no mesmo ônibus ou avião, para apresentações que necessitam de viagens?
Fábio de Melo – A equipe é grande. Saímos de diversos lugares do Brasil. Nem sempre vamos nos mesmos vôos, mas vez em quando a gente embarca no mesmo ônibus. São as melhores viagens. É o momento da convivência.
ISTOÉ – Aos músicos é indicado algum tipo de conduta, durante as viagens, ou nos dias que antecedem uma apresentação? Quantas pessoas fazem parte do staff musical do senhor?
Fábio de Melo – Uma conduta? Que sejam bons pais, bons maridos, bons amigos. A retidão de caráter é o resultado mais aprimorado que podemos esperar da religião. Eu tenho a graça de estar rodeado de gente assim. A unidade que experimentamos no palco é um desdobramento natural da vida que vivemos fora dele. Viajamos em 16 pessoas.
ISTOÉ – Como o senhor compõe? Com violão, sentado em um sofá de casa, na sala...? Há uma frequência?
Fábio de Melo – Eu componho toda vez que a criatividade se hospeda em mim. Nem sempre ela vem. Mas também não corro atrás. Aprendi que inspiração é bicho sem doma, não se deixa aprisionar. Mas quando ela me visita, não me faço de rogado. Paro de fazer o que estou fazendo e cuido do que ela me trouxe. Os lugares são inusitados. Ela não tem lugar para acontecer. Componho e escrevo muito durante os deslocamentos.
ISTOÉ – O sr. ensaia com a banda com que freqüência? Faz exercício para as pregas vocais?
Fábio de Melo – Só ensaio quando temos um projeto novo, como quando fizemos o show com o Milton Nascimento, ou quando temos uma música nova no repertório. O dia a dia da estrada nós já conhecemos bem. Eu não faço exercício para a voz. Só procuro usá-la corretamente.
ISTOÉ – O senhor e/ou a gravadora possuem metas, como lançar um CD por ano ou DVD por ano?
Fábio de Melo – Geralmente é um produto por ano.
ISTOÉ – Quantas missas o senhor celebra por semana e, geralmente, onde elas ocorrem?
Fábio de Melo – Procuro celebrar todo dia, mas nem sempre consigo. Como tenho muitas viagens, celebro sempre onde estou. Tenho uma capela na minha casa. Isso facilita muito.
ISTOÉ – O dia do senhor começa e termina que horas? O senhor tem sono tranquilo?
Fábio de Melo – Acordo cedo, mesmo que tenha ido dormir muito tarde. Meu sono é tranquilo. Se posso, durmo por volta de 23hs. Sonho mais acordado que dormindo.
ISTOÉ – Detalhe, por favor, o dia a dia do senhor em uma semana.
Fábio de Melo – Por conta das muitas viagens, quase não tenho rotina, mas gosto de levar minha rotina para onde estou. Quando estou em casa, acordo por volta de 7hs, faço minha oração e vou ver as notícias. Depois tomo café, respondo emails e vou trabalhar. Na parte da manhã eu me dedico aos estudos. Fiz faculdades de Filosofia e Teologia. Gosto me atualizar. Alterno os temas. Almoço por volta de 13hs e depois vou fazer o que faz todo cidadão. Pagar contas, mercado, médico, dentista, cuidar dos cachorros, tudo depende da necessidade do dia. À tarde faço alguma atividade física (aeróbico ou musculação). Tomo banho e volto a estudar. Depois janto, celebro missa, vejo mais notícias, leio e vou dormir. A leitura é a última coisa que sempre faço.
ISTOÉ – O senhor segue alguma dieta? Como são balanceadas as refeições do senhor? Faz exercícios com que frequência?
Fábio de Melo – Sou bastante disciplinado com a alimentação e a atividade física. Tenho consciência de que o cuidado com o corpo é também regra religiosa, pois através dele eu me disciplino para a conquista de virtudes espirituais. Cuidar da saúde é uma responsabilidade que não negligencio. Sempre arrumo um jeito de fazer uma atividade física, ainda que seja só uma caminhada.
ISTOÉ – Quando começa o processo para escrever um livro, o que muda em sua rotina? Em quais momentos o senhor rende mais para escrever? Escreve todos os dias? Por quantas horas? O senhor conta com o auxílio de alguém para a confecção de seus livros, alguém com quem troque idéias?
Fábio de Melo – Quando estou escrevendo fico bastante absorvido pelo texto. Escrevo e reescrevo inúmeras vezes. Não gosto de produzir com prazo estabelecido. A literatura tem ritmo próprio. Obedece ao movimento das palavras. Meu fazer literário é muito solitário, mas sempre nasce da vida que vivi ou que vi ser vivida ao meu lado. Minhas melhores ideias nascem da observação que faço do mundo. Só partilho o que realmente estou seguro de que vale a pena ser levado adiante. É aí que procuro os amigos para mostrar, trocar ideias.
ISTOÉ – Em quais momentos o senhor costuma ler a Bíblia? O senhor a lê todos os dias, impreterivelmente?
Fábio de Melo – Há duas formas de ler a Bíblia. Como estudo, respeitando métodos hermenêuticos, e como fonte de espiritualidade. A leitura estudiosa eu não faço todo dia. Já a leitura espiritual, esta faço diariamente. A vida oracional de um padre é toda ela baseada em textos bíblicos. A vida litúrgica nos favorece este contato com a Sagrada Escritura. É a oportunidade que tenho de estar em comunhão com toda a Igreja presente no mundo inteiro. O evangelho que proclamo, na missa que celebro em minha casa, é o mesmo que está sendo proclamado no Japão.
ISTOÉ – Lê a Bíblia pelo celular? O que pensa desse recurso?
Fábio de Melo – Já me utilizei para localizar uma passagem. É muito eficaz. Mas no dia a dia eu prefiro o livro mesmo.
ISTOÉ – Qual o ritual que o faz relaxar quando chega em casa depois de um dia de compromissos?
Fábio de Melo – Eu não bebo. Gosto de roça, bichos. É o que encontro quando chego em casa. Tenho pouquíssimos ruídos urbanos por perto. É assim que descanso. Cuidando e sendo cuidado a partir de uma simplicidade que me reporta aos tempos da minha infância. Estou cada vez menos urbano.
ISTOÉ – O senhor dirige, costuma ir ao banco, padaria, pegar fila em supermercado para pagar compras?
Fábio de Melo – Dirijo, vou ao mercado fazer compras. Gosto desta rotina. O que acontece sempre é que entre um afazer e outro sou abordado por alguém que se identifica com o trabalho que realizo. É o carinho das pessoas. Faço questão de cuidar bem de cada um que se aproxima.
ISTOÉ – Costuma visitar seus parentes ou reuni-los em sua casa?
Fábio de Melo – Minha família está esparramada pelo Brasil. Somos muitos. Eu os encontro mais durante os eventos. Meu contato maior é com minha mãe. Vez em quando ela passa um tempo na minha casa.
ISTOÉ – O senhor gosta de sair para jantar? Costuma fazer programas com amigos e amigas, como sair para ver filmes, exposições, correr em parques?
Fábio de Melo – Quase não saio. Sou caseiro por natureza. Gosto muito de teatro e música. Quando posso, vou ver alguma coisa. Nos meus dias de folga, gosto de andar a cavalo, cuidar pessoalmente dos meus cachorros, ajudar na limpeza da casa, do jardim. Para quem viaja muito, ficar em casa é sempre um luxo.
ISTOÉ – Até onde o senhor enxerga que vai a sua vaidade? Como o senhor procura cuidar da sua aparência? Usa cremes, protetor solar, tem predileção por um figurino ou sapato específico?
Fábio de Melo – Minha mãe fala que desde pequeno eu já escolhia o que iria vestir. Eu me cuido, sim. Vou regularmente ao dermatologista, pois já tive uma paralisia facial e câncer de pele, uso protetor solar e procuro controlar o peso. Meu figurino é sempre o mesmo. Estar bem vestido faz parte de meu trabalho. Sou um comunicador. Acho uma hipocrisia achar que o padre precisa andar mal arrumado, desleixado. Só que isso não é tudo. O que verdadeiramente conta é a elegância com que devo tratar as pessoas. Zelo muito para que todos, independente da vida que levam, se sintam respeitados por mim. Eu não sou melhor que ninguém. Apenas tenho uma missão que me diferencia.
ISTOÉ – Padre, poderia relatar um episódio que viveu recentemente ao lado de um fiel que o emocionou?
Fábio de Melo – Certa vez, esperando as malas na esteira do aeroporto de Guarulhos, encontrei uma senhora. Ela se aproximou e me disse, mais ou menos assim: “Padre Fábio, há dois anos atrás, eu havia programado o meu suicídio. Estava tudo pronto. Programei os mínimos detalhes. Na manhã escolhida, peguei o meu carro e me dirigia ao sítio onde eu daria fim à minha vida. Durante o trajeto, liguei o rádio e comecei a procurar alguma coisa pra ouvir. De repente, caiu numa estação onde alguém falava sobre a urgência que todo mundo tem de livrar-se dos fardos do passado. Era o senhor falando. Comecei a ouvir aquela pregação e senti que Deus falava comigo. Fui sendo envolvida a ponto de precisar parar o carro. Chorei muito. Senti que aquelas lágrimas me purificaram de tudo o que me oprimia. Decidi jogar fora os pesos do passado e resolvi me dar uma chance. Deu certo. Obrigado por ter me devolvido a vida.”
ISTOÉ – O senhor é uma pessoa que chora com frequência? O que o faz chorar? Lembra-se da última vez que chorou?
Fábio de Melo – Eu choro sempre. Não consigo me distinguir das dores do mundo. Minha alma não tem cercas.
ISTOÉ – O senhor possui alguma mania ou coleciona algum objeto?
Fábio de Melo – Manias? Acho que não tenho. Coleciono camisas de futebol, tenho cerca de trinta. Torço para o Cruzeiro.
ISTOÉ – Como o senhor se vê daqui a 5 anos?
Fábio de Melo – Feliz. Por estar mais próximo da aposentadoria. Eu não vejo a hora de adquirir os direitos dos idosos (risos).
Íntegra da entrevista com o Padre Marcelo‏ Rossi
ISTOÉ - Com gravação de DVD, sessões de autógrafo e viagens, como está a sua vida?
Padre Marcelo Rossi - Uma loucura, uma correria, mas uma benção.
ISTOÉ - O senhor tem hábito que repete todos os dias?
Padre Marcelo - Orar, todos os dias.

ISTOÉ - Que horas o senhor acorda?
Padre Marcelo - É relativo, porque estou viajando toda semana por conta dos autógrafos. Tem sido complicada a rotina. Tenho viajado toda segunda e voltado na quarta. Mas normalmente acordo 3h ou 4h da manhã.
ISTOÉ - A primeira oração ainda é na cama?Padre Marcelo - Não, a oração é na capela. Na cama eu acordo e agradeço a Deus.
ISTOÉ - O que come de café da manhã?Padre Marcelo - Não gosto de tomar nada de café da manha, apesar de saber que e errado. Geralmente almoço mais cedo, antes do meio dia.

ISTOÉ - Qual é a primeira atividade do dia?Padre Marcelo - Oração.
ISTOÉ - O senhor ainda tem os cachorros?Padre Marcelo - Sim, ainda tenho. Cuido todos os dias. Quando não posso, tem uma pessoa que cuida quando estou viajando. Na Cúria são dois cachorros. Um fila gigante e um dog alemão.
ISTOÉ - Que horas costuma almoçar?Padre Marcelo - Antes do meio dia.
ISTOÉ - O que gosta de comer?
Padre Marcelo - Descobri que tenho intolerância a glúten, me faz mal. Gosto de variar os pratos, não tem um em especial.
ISTOÉ - Como gosta de passar o tempo livre?
Padre Marcelo - Descansando.
ISTOÉ - Ainda tem uma hora para se exercitar?Padre Marcelo - Agora com essa correria tem sido mais complicado, mas procuro quatro vezes por semana fazer esteira e fisioterapia. Estou ainda com a perna em recuperação.
ISTOÉ - O senhor ensaia todos os dias?Padre Marcelo - Não, nunca ensaio nem faço exercícios, não dá tempo. Gostaria de fazer um curso de inglês mas não tenho tempo.
ISTOÉ - Quando precisa se deslocar, o senhor ainda dirige?Padre Marcelo - Tenho um Fiat Doblô. Parei de dirigir aos 40 anos. Prefiro não dirigir, apesar de adorar. É mais pratico, tenho um motorista, não preciso estacionar o carro.
ISTOÉ - O que te dá mais prazer atualmente? Cantar? Escrever?Padre Marcelo - O que me da mais prazer e evangelizar, seja qual for o meio: internet, celebrando a Santa Missa.
ISTOÉ - O senhor ainda administra o sacramento da confissão? Dá tempo?Padre Marcelo - Para a minha equipe sim. Lembrando que quando falo de minha equipe são mil pessoas.
ISTOÉ - Quando o senhor vai fazer um show, costuma se reunir com a banda antesPadre Marcelo - Não faço shows, eu classifico como eventos e dentro do Santuário, são missas celebradas, são missas com participação do povo. Sou reitor do Santuário. Não faço shows. Tenho uma base, que é o Santuário. Sempre reúno e rezo com eles. O restante vai fluindo. Cada missa é uma missa. Nada é muito combinado. A banda já me conhece pelo olhar. Dou o tom e eles vão junto.
ISTOÉ - O senhor está sempre de tênis. Por que?Padre Marcelo - Estou usando tênis por conta do impacto, ordens médicas por conta do joelho. E não sapato, que não é apropriado agora. Não escolho, tenho três ou quatro e vamos fazendo revezamento.
ISTOÉ - Além de Deus e Jesus, tem alguém que está sempre com o senhor?Padre Marcelo - Tenho, o Chicão, meu motorista que sempre está comigo. Me ajuda a conectar o programa da Rádio Globo quando estou fora de casa, com o aparelho matrix. E em tudo mais que for necessário.
ISTOÉ - O senhor usa celular? Usa o computador?Padre Marcelo - Tenho celular, Nextel e um iPhone, que não uso tanto. Mas tenho um iPad e um notebook, sou conectado na medida que dá tempo. Hoje a internet é um meio muito importante para a evangelização.
ISTOÉ - Como a música passou a fazer parte da sua vida?Padre Marcelo - Desde criança. Eu me pego cantarolando desde o Seminario, onde formei uma banda e era vocalista.
ISTOÉ - Qual é o seu ritual antes das apresentações?Padre Marcelo - Apresentação não, missa. Tomo cuidado com a roupa litúrgica que vou colocar, que esteja de acordo com o momento.
ISTOÉ - Aos músicos é indicado algum tipo de conduta durante as viagens ou nos dias de apresentação?Padre Marcelo - Eles raramente, muito raramente viajam. Nas tardes de autógrafo sou só eu e uma equipe pequena do Santuário que ajuda na organização.
ISTOÉ - O senhor tem sono tranquilo, sonha bastante?Padre Marcelo - Tenho sono tranquilo. Só tenho pesadelo quando como pizza de noite.
ISTOÉ - Quando começa a escrever um livro, como muda sua rotina?Padre Marcelo - Na verdade só consigo escrever parando tudo. Agapinho fiz nas minhas férias e o Ágape foi quando quebrei o pé. Desconecto de tudo, menos do programa da Rádio Globo. Tenho que estar focado para escrever.
ISTOÉ - Qual o ritual que o faz relaxar quando chega em casa depois de um dia de compromissos?Padre Marcelo - Assitir um filme. Já assisti todos da locadora ao lado.
ISTOÉ - Poderia citar um episódio marcante de um encontro inesperado com um fiel?Padre Marcelo - Uma vez marcante foi uma senhora que me viu quando eu ainda dirigia. Estava na rua e ela começou a me fechar e eu subi literalmente em cima da calçada. Ela parou, se ajoelhou e pediu uma benção, foi aí que comecei a me preocupar e achei que era melhor parar de dirigir.
ISTOÉ - Com que frequência visita seus pais e vê suas irmãs?Padre Marcelo - No mínimo três vezes por semana, eles vem até mim no Santuário.
ISTOÉ - O senhor gosta de sair para jantar? Costuma fazer programas com amigos e amigas, como sair para ver filmes, exposições, correr em parques?
Padre Marcelo - Não da para sair, ir em supermercado, restaurante.
ISTOÉ - O senhor chora com frequência?
Padre Marcelo - Eu sou muito emotivo. Qualquer coisa eu me emociono. Muitas vezes no programa da rádio ouvindo um testemunho. Não chorar, mas emoção, das lágrimas escorrerem dos olhos.
ISTOÉ - Como é que o senhor se enxerga daqui a alguns anos?
Padre Marcelo - Com mais experiência. Mas trocaria por 3 corpos de 18 anos