Joaquim Barbosa – e isso já está ficando repetitivo – não tem o menor respeito por quem quer que seja. Ele não aceita as opiniões contrárias, não aceita a divergência. Ele ofende, acusa, distorce todo e qualquer posicionamento diferente ao dele. É esse sujeito que quer ser – e algumas pessoas querem também – presidente do país?
Mesmo sendo repetitivo escrever sobre o comportamento deplorável do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), não dá para deixar de comentar seus chiliques e rompantes. É um desvairado com os holofotes que o destino lhe reservou. Porém por querer brilhar mais do que a luz, corre o sério risco de ficar nas sombras, esquecido pela maioria. Ou se tem alguma dúvida de que a imprensa grande logo vai jogá-lo ao limbo assim que o supremo presidente do Supremo não mais servir?
É difícil manter a imagem de Joaquim Barbosa como alguém realmente preocupado em salvar o país do "mar de lama". Como justificar a compra que ele fez do apartamento em Miami através de uma empresa offshore com endereço em seu apartamento funcional?
Como justificar suas acusações ao comportamento dos advogados? Para quem não se lembra, ele afirmou que eles, os advogados, são preguiçosos, que acordam tarde.
Como justificar o total desrespeito aos seus pares de STF? Uma coisa é defender seus pontos de vista e sua interpretação das relações entre as leis e as acusações do Ministério Público, e das partes interessadas nos processos judiciais. Outra é cassar a palavra, desqualificar os argumentos que lhe incomodam aos berros ou insinuações.
Como justificar sua viagem para passear na Europa paga com recursos públicos?
Como justificar pagar jornalistas da imprensa grande em viagens oficiais para fazerem serviço de assessoria de imprensa?
Como justificar que a pessoa indicada por ele para secretariar o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) more nos Estados Unidos?
Como justificar mandar prender réus com o processo criminal ainda em andamento e lhe imputar regimes de cumprimento de pena diferentes da decisão do STF, de acordo com o que já foi julgado?
Como justificar a divisão do processo penal (ou aqui) apenas para fabricar um reality show na tevê?
Como justificar a não divulgação do inquérito 2474, pelo menos a seus pares do STF, que mostra bem que não houve recursos públicos na Ação Penal 470 e muito menos que esses foram desviados?
Como justificar Joaquim Barbosa? Com todo o esforço midiático, com todo o poder de criar posicionamentos que tem a mídia grande, isso tem um limite. E esse limite está cada vez menor à medida que o acesso à internet avança.
A data limite para a justificação a Barbosa é o da proclamação do resultado eleitoral presidencial. Sendo candidato ou não. Se não for, sua imagem de "guerreiro da moralidade" será usada contra a candidatura de Dilma por outros candidatos, direta ou indiretamente, seja pela mídia ou pelos próprios materiais de campanha das outras candidaturas.
Se for, será usada por ele mesmo. Além da mídia grande, obviamente. Tudo para forçar um segundo turno e quiçá, a derrota eleitora da presidenta, do PT e aliados. Não há a menor preocupação com os ritos democráticos do país, apenas em derrotar Dilma e Lula.
Sim Lula, por que a direita ainda tenta derrubá-lo, mesmo ele sendo ex-presidente. Incrível, não? Somos o único país em todo o planeta mundo onde isso acontece.
Após a proclamação do resultado, Barbosa será jogado às traças. Não mais haverão justificativas a serem construídas sobre seu comportamento. E se ele for candidato e for eleito? Resposta: não vai.
Mesmo todo inflamado e com falas até de Fernando Henrique Cardoso que "pode ser qualquer um", esse "qualquer um" não se aplica a Joaquim Barbosa. Nada que possua com Carbono em sua composição química confia nele.
Porém o mais difícil, mesmo de forma bastante capenga, a mídia grande está fazendo: justificando Joaquim Barbosa.
É mais do que óbvio que o ministro Joaquim Barbosa e o juiz Bruno Ribeiro estão fazendo uma dobradinha para dar punições adicionais a José Dirceu e Delúbio Soares. Ambos parecem ter caído nas redes da politicagem. Bruno, aliás, é filho de um ex-secretário de José Roberto Arruda (e dos mais íntimos) e é candidato a deputado pelo PSDB.
José Dirceu não pôde começar a trabalhar até hoje porque houve uma denúncia de que teria falado ao celular. Não há nenhuma prova disso, mas é o pretexto para os magistrados irem protelando indefinidamente uma decisão que permita o trabalho do ex-ministro. Barbosa revogou uma decisão do vice-presidente Ricardo Lewandowsky a favor de Dirceu e Ribeiro chegou a adiar audiências a seu bel-prazer, para prolongar o período do preso em regime fechado.
Delúbio Soares foi mandado de volta à Papuda, perdendo o direito de trabalhar e passar o carnaval em casa, porque há uma suspeita de que tenha comido uma feijoada na cadeia e resistido a tirar a barba. Em vez de esperar a comprovação das denúncias para punir Delúbio, Ribeiro resolveu que, ao contrário do que se diz no Direito, para ele em dúvida, contra o réu. Contra alguns réus, claro.
Barbosa e Ribeiro lembram aqueles carcereiros para quem não basta que a pessoa esteja presa e confinada, é preciso castigá-la ao máximo. E ganhar páginas na mídia graças a essa dureza contra os "privilégios".
Duas figuras que, com seu espírito autoritário e intolerante, estariam bem em uma ditadura.
Um dos advogados mais notórios do País, Luiz Eduardo Greenhalgh afirma em entrevista ao 247 que decisão de mandar Delúbio Soares para o regime fechado na Papuda, tomada pelo juiz Bruno Ribeiro, da Vara de Execuções Penais do DF, foi uma "retaliação" ao resultado dos embargos infringentes; "Inconformado com o resultado, com sua derrota, Joaquim Barbosa se vingou", disse; "A VEP fez um inquérito sigiloso sobre Delúbio e não deu a ele o direito de ser ouvido, o que é uma flagrante ilegalidade. Nesse sentido, ele não é mais um preso, é refém de uma situação criada por juízes que agem à margem da lei", acrescentou, sobre denúncias de que presos teriam regalias; segundo ele, o que os dois juízes fizeram "deveria ser alvo de investigação das corregedorias dos tribunais e do Conselho Nacional de Justiça"
28 DE FEVEREIRO DE 2014 ÀS 16:20
247 – A decisão de mandar o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares para o regime fechado, tomada pelo juiz Bruno Ribeiro, da Vara de Execuções Penais do Distrito Federal, foi uma "retaliação" à decisão tomada pelo Supremo Tribunal Federal em favor dos embargos infringentes, "tanto que só saiu após o julgamento e o despacho foi enviado em primeira mão para a revista Veja". A afirmação foi feita pelo advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, em entrevista exclusiva ao 247. Na sessão desta quinta-feira 27, a maioria do colegiado absolveu oito réus condenados pelo crime de formação de quadrilha na Ação Penal 470, permitindo-os cumprir pena em regime semiaberto.
O motivo para a decisão de Bruno foi a denúncia – não comprovada, nem detalhada – de que Delúbio teria direito a feijoada aos finais de semana e visitas fora de horário na Penitenciária da Papuda, em Brasília, segundo o Ministério Público. "A Vara de Execuções Penais fez um inquérito sigiloso sobre o Delúbio e não deu a ele o direito de ser ouvido, o que é uma flagrante ilegalidade. Delúbio, que teve assegurado o direito ao regime semiaberto, foi enviado ilegalmente ao regime fechado sem direito ao contraditório", avaliou Greenhalgh.
Nesse sentido, segundo o advogado, o condenado "não é mais um preso", mas sim "refém de uma situação criada por juízes que agem à margem da lei". Deacordo com Luiz Eduardo Greenhalgh, "Bruno Ribeiro é longa manus do presidente do STF, Joaquim Barbosa. Tanto que ele foi escolhido a dedo para conduzir as execuções penais da Ação Penal 470, substituindo um titular que já estava no cargo. Inconformado com o resultado, com sua derrota [sobre os infringentes], Barbosa se vingou". O caso, observa ele, "virou uma situação atípica, onde se tem presos que viraram reféns em uma democracia".
Greenhalgh, que é um dos mais notórios advogados brasileiros, e conhecido como um dos mais combativos em defesa de perseguidos da ditadura militar, defende uma investigação do episódio: "O que esses dois juízes fizeram deveria ser objetivo de investigação das corregedorias dos tribunais e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O que está acontecendo no Brasil é inaceitável. É hora de a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) se levantar. Hoje, os reféns são Delúbio e Dirceu, amanhã poderão ser quaisquer brasileiros atingidos por essa tirania".
Supostas regalias
Segundo reportagem da revista Veja, o Ministério Público pede ao governo do Distrito Federal o fim do que chama de "tratamento diferenciado" aos condenados na Ação Penal 470, e ameaça transferir Delúbio Soares e José Dirceu para presídios federais caso isso não aconteça. A revista cita visitas fora de horário e uma feijoada a que Delúbio teria direito aos finais de semana. Ao comentar as acusações, Greenhalgh questiona: "que privilégio poderia ter acontecido?"
E pontua a falta de explicações em cada caso, levando em consideração que os detentos da ala onde Delúbio estava preso até hoje têm direito a cantina e uso de eletrodomésticos, como relatou a OAB. "Suponhamos que os presos fizeram feijoada, se fizeram, qual é o problema? Pediram para cortar a barba, ele [Delúbio] cortou. Ele pediu para que o carro da CUT (Central Única dos Trabalhadores, onde Delúbio trabalha) entrasse no pátio, mas não podia, então não entrou".
O advogado garante que "nos últimos dez anos, nunca houve uma decisão desse tipo na Vara de Execuções do Distrito Federal". Quando decidiu suspender os benefícios de José Dirceu, com base no episódio de que o ex-ministro teria usado um telefone celular de dentro da cela, Joaquim Barbosa alegou que seria necessário ouvir o réu. Por fim, Greenhalgh conclui que o argumento usado supostamente com o objetivo de beneficiar José Dirceu acabou prejudicando o próprio condenado. "É uma ilegalidade que está acontecendo no governo brasileiro", afirma.
No passado fim de semana as agências de notícias
informaram sobre o atentado sofrido no domingo 23 de fevereiro por Aída
Avella, a candidata presidencial da União Patriótica para as próximas
eleições que terão lugar na Colômbia em 25 de maio.
Avella ia acompanhada por Carlos Lozano, candidato a senador por essa
força política, quando transitavam numa caravana pelo Departamento de
Arauca, fronteiriço com a Venezuela. Subitamente, seu veículo foi
atacado por dois pistoleiros desde uma motocicleta de alta cilindrada,
os quais dispararam com armas de grosso calibre tanto ao automóvel blindado em que se encontrava Avella e Lozano como aos de sua escolta.
Felizmente, não houve vítimas fatais a lamentar. Se os matadores
tivessem atingido seu objetivo, Avella teria sido a terceira candidata
presidencial da União Patriótica a ser liquidada e uma mais,
provavelmente com Lozano, a engrossar a lista de uns 5.000 militantes da
UP assassinados pela direita colombiana, no governo e fora dele.
A UP surgiu como resultado de uma negociação entre as FARC e o
governo do presidente Belisario Betancur em princípios da década dos
oitenta, fruto da qual foi feito um acordo, em 1984, para admitir a
incorporação ao jogo institucional de uma força política partidária que
possibilitasse a progressiva incorporação da guerrilha à legalidade
política do país.
Assim se conformou a UP, que apresentou candidatos a todos os cargos em disputa.
Porém, esta iniciativa abriu as portas do inferno e tanto os paramilitares como os narcos e as próprias forças de segurança
do Estado colombiano aproveitaram a vinda à superfície dos quadros e
militância da esquerda – fossem eles guerrilheiros ou não – para
perpetrar um genocídio político sem precedentes, exterminando aqueles
que haviam confiado no que fora pactuado com Betancur e acreditaram que o
estado de direito e a vontade de pôr fim ao conflito armado tinham
finalmente sido implantados na Colômbia.
Como consequência deste banho de sangue foram assassinados os dois
candidatos presidenciais apresentados sucessivamente pela UP em 1985 –
Jaime Pardo Leal e Bernardo Jaramillo Ossa – aos quais se somaram 8
parlamentares, 13 deputados, 70 vereadores, 11 prefeitos, além de
milhares de militantes de base desaparecidos ou mortos por esta
sangrenta operação.
Esta história trágica não é suficientemente conhecida, mas constitui o
pano de fundo das difíceis negociações travadas em Havana entre o
governo colombiano e as FARC, cujos integrantes e simpatizantes se
perguntam, à luz dos crueis ensinamentos da verdade histórica, se a
coisa agora poderá ser diferente.
No entanto, o objetivo destas linhas não é resenhar este deplorável
capítulo da história colombiana e sim ressaltar a infame manipulação da
imprensa de direita – na Argentina como no resto do mundo – que
silenciou o atentado sofrido por Avella, ao passo que difundia manchetes
em oito colunas com suas mentiras e suas fotos forjadas sobre os
incidentes e as mortes desencadeadas pela tentativa golpista na
Venezuela.
Conclamo aos leitores tão somente a pensar como teria reagido a
imprensa autoproclamada “livre e independente”, que nos manipula e
desinforma, se um atentado similar tivesse ocorrido na Venezuela contra
Henrique Capriles. A gritaria da SIP, da CNN, da NTN24 e de todas as
cadeias de rádio e televisão, além da imprensa escrita, teria sido
ensurdecedora.
E os Vargas Llosa, Montaner, Krauze e companhia nos teriam sufocado
com suas filípicas condenações à “tirania chavista” e seu fustigamento
criminoso praticado contra seus opositores.
Mas, nada disto aconteceu porque a Colômbia está midiática e
politicamente blindada pelo império e seus comparsas regionais. A
notícia, nos escassos casos em que foi exposta, foi relegada a uma breve
nota nas páginas interiores de alguns jornais, ou a um fugaz flash no
rádio ou na televisão.
Claro que a Colômbia é uma peça vital no xadrez do império na região:
não à toa seu Ministro de Defesa, Juan Carlos Pinzón, elaborou um
minucioso documento de 55 páginas dirigido a seus parceiros do Pentágono
e da Casa Branca, incluindo o diretor da CIA, John Brennan, com os
quais se reunirá nesta sexta-feira.
Escrito em inglês perfeito, para facilitar o trabalho de seus
anfitriões, foi dado a conhecer à imprensa por algum funcionário do
ministério.
Seu conhecimento permitiu comprovar, entre outras coisas, que Bogotá
ratifica sua total submissão aos imperativos estratégicos dos Estados
Unidos e a necessidade de reforçar a cooperação entre ambos países,
tendo em conta os graves “desafios potenciais” que representam para a
região governos como os da Nicarágua, Venezuela, Rússia e Irã.
Por isso um atentado como o sofrido por Avella não é notícia,
enquanto que as tropelias dos opositores venezuelanos aparecem como a
nobre cruzada de uns patriotas desejosos de pôr fim a uma tirania
abjeta.
Com tal de atingir este objetivo supremo, deixa-se de lado qualquer limite ou escrúpulo moral.
Por isso o inverossímil Prêmio Nobel da Paz que ocupa a Casa Branca
se permite exigir do presidente Maduro que ponha em liberdade aos
sediciosos: quer dizer, não os manifestantes que protestam
pacificamente, senão que aqueles que por meio da violência conspiram
para derrubar um governo legítimo surgido das urnas (e que se cometessem
o mesmo nos Estados Unidos passariam o resto de suas vidas numa prisão
de segurança máxima), ao passo que mantém injustamente na prisão aos
lutadores antiterroristas cubanos e aos presos de Guantánamo, enjaulados
como se fossem animais ferozes e privados do mais elementar direito à
defesa e a um juízo justo.
Disto tudo esta imprensa “livre e independente” não disse, e nem dirá, uma só palavra.
PS do Viomundo: A CNN en español é máquina do golpe 24 horas por dia, 7 dias por semana.
Jornalista Felipe Recondo, a quem o presidente do
Supremo, Joaquim Barbosa, mandou "chafurdar no lixo", afirma que o
ministro calculou as penas dos condenados na Ação Penal 470 para que,
uma vez, confirmado o crime de formação de quadrilha, todos fossem
colocados no regime fechado; por isso, reação tão desmedida na sessão da
quinta
28 de Fevereiro de 2014 às 19:33
247 - O jornalista Felipe Recondo, a quem o
presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, mandou "chafurdar no lixo",
afirma, em artigo publicado no site do Estadão, que o ministro calculou
as penas dos condenados na Ação Penal 470 para que, uma vez, confirmado o
crime de formação de quadrilha, todos fossem colocados no regime
fechado. Por isso, o presidente do STF teria ficado tão revoltado com o
voto do ministro Luís Roberto Barroso.
"Barroso não sabia dessa conversa ao atribuir ao tribunal uma manobra
para punir José Dirceu e companhia e manter vivo um dos símbolos do
escândalo: a quadrilha montada no centro do governo Lula para a compra
de apoio político no Congresso Nacional. Barbosa, por sua vez, nunca
admitira o que falava em reserva. Na quarta-feira, para a crítica de
muitos, falou com a sinceridade que lhe é peculiar. Sim, ele calculara
as penas para evitar a prescrição", afirma o jornalista.
Abaixo o texto na íntegra:
Análise: As operações aritméticas do ministro Joaquim Barbosa
Felipe Recondo - O Estado de S. Paulo
Barbosa acabava de admitir abertamente o que o ministro Luís Roberto
Barroso dizia com certos pudores. A pena para os condenados pelo crime
de formação de quadrilha no julgamento do mensalão foi calculada, por
ele, Barbosa, para evitar a prescrição. Por tabela, disse Barroso, o
artifício matemático fez com que réus que cumpririam pena em regime
semiaberto passassem para o regime fechado.
A assertiva de Barroso não era uma abstração ou um discurso meramente
político. A mesma convicção teve, para citar apenas um, o ministro
Marco Aurélio Mello. Em seu voto, ele reconheceu a existência de uma
quadrilha, mas considerou que as penas eram desproporcionais. E votou
para reduzi-las a patamares que levariam, ao fim e ao cabo, à
prescrição. Algo que Barbosa há muito temia, como se verá a seguir.
Foi essa suposição de Barroso que principiou a saraivada de acusações
e insinuações do presidente do STF contra os demais ministros. Eram
17h33, quando Barroso apenas repetiu o que os advogados falavam desde
2012 e que outros ministros falavam em caráter reservado.
Joaquim Barbosa acompanhava a sessão de pé, reticente ao voto de
Barroso, mas ainda calmo. Ao ouvir a ilação, sentou-se de forma
apressada e puxou para si os microfones que ficam à sua frente. Parecia
que dali viria um desmentido categórico, afinal a acusação que lhe era
feita foi grave. Elevar a pena de prisão imposta apenas com o fim de
evitar a prescrição, dissimulando com isso a demora do tribunal para
julgar o caso, é um ato arbitrário que se afasta do princípio de uma
justiça imparcial e impessoal.
Mas Joaquim Barbosa não repeliu a acusação. Se o fizesse, de fato,
estaria faltando com a sua verdade, não estaria de acordo com a sua
consciência. Três anos antes, em março de 2011, Joaquim Barbosa estava
de pé em seu gabinete. Não se sentava por conta do problema que ainda
supunha atacar suas costas. Foi saber depois, que suas dores tinham
origem no quadril.
A porta mal abrira e ele iniciava um desabafo. Dizia estar muito
preocupado com o julgamento do mensalão. A instrução criminal, com
depoimentos e coleta de provas e perícias, tinha acabado. E, disse o
ministro, não havia provas contra o principal dos envolvidos, o ministro
José Dirceu. O então procurador-geral da República, Roberto Gurgel,
fizera um trabalho deficiente, nas palavras do ministro.
Piorava a situação a passagem do tempo. Disse então o ministro: em
setembro daquele ano, o crime de formação de quadrilha estaria
prescrito. Afinal, transcorreram quatro anos desde o recebimento da
denúncia contra o mensalão, em 2007. Barbosa levava em conta, ao dizer
isso, que a pena de quadrilha não passaria de dois anos. Com a pena
nesse patamar, a prescrição estaria dada. Traçou, naquele dia em seu
gabinete, um cenário catastrófico.
O jornal O Estado de S. Paulo publicou, no dia 26 de março de 2011,
uma matéria que expunha as preocupações que vinham de dentro do Supremo.
O título era: "Prescrição do crime de formação de quadrilha esvazia
processo do mensalão".
Dias depois, o assunto provocava debates na televisão. Novamente,
Joaquim Barbosa, de pé em seu gabinete, pergunta de onde saiu aquela
informação. A pergunta era surpreendente. Afinal, a informação tinha
saído de sua boca. Ele então questiona com certa ironia: "E se eu der
(como pena) 2 anos e 1 semana?".
Barroso não sabia dessa conversa ao atribuir ao tribunal uma manobra
para punir José Dirceu e companhia e manter vivo um dos símbolos do
escândalo: a quadrilha montada no centro do governo Lula para a compra
de apoio político no Congresso Nacional. Barbosa, por sua vez, nunca
admitira o que falava em reserva. Na quarta-feira, para a crítica de
muitos, falou com a sinceridade que lhe é peculiar. Sim, ele calculara
as penas para evitar a prescrição. "Ora!"
Felipe Recondo é repórter do jornal O Estado de S. Paulo em Brasília
Diálogo entre dois amigos do personagem principal de Recordações do Escrivão Isaías Caminha, de Lima Barreto, sobre a imprensa do começo do século 20.
A imprensa! Que quadrilha! Fiquem vocês sabendo que, se o Barba Roxa ressuscitasse, agora com os nossos velozes cruzadores e formidáveis couraçados, só poderia dar plena expansão a sua atividade, se se fizesse jornalista. Nada há tão parecido como o pirata antigo e o jornalista moderno: a mesma fraqueza de meios, servida por uma coragem de salteador; conhecimentos elementares do instrumento de que lançam mão e um olhar seguro, uma adivinhação, um faro para achar a presa e uma insensibilidade, uma ausência de senso moral a toda prova... E assim dominam tudo, aterram, fazem que todas as manifestações de nossa vida coletiva dependam do assentimento e da sua aprovação. Todos nós temos que nos submeter a eles, adulá-los, chamá-los gênios, embora intimamente os sintamos ignorantes, parvos, imorais e bestas... Só se é geômetra com seu placet, só se é calista com a sua confirmação, e se o sol nasce é porque eles afirmam tal coisa... E como eles aproveitam esse poder que lhes dá a fatal estupidez das multidões! Fazem de imbecis, gênios; de gênios, imbecis; trabalham para a seleção das mediocridades, de modo que...
– Você exagera, objetou Leiva, o jornal já prestou serviços.
– Decerto... Não nego... mas quando era manifestação individual, quando não era coisa que desse lucro; hoje, é a mais tirânica manifestação do capitalismo e a mais terrível também... É um poder vago, sutil, impessoal, que só poucas inteligências podem colher-lhe a força e a essencial ausência da mais elementar moralidade, dos mais rudimentares sentimentos de justiça e honestidade! São grandes empresas, propriedade de venturosos donos, destinadas a lhes dar o domínio sobre as massas, em cuja linguagem falam e a cuja inferioridade mental vão de encontro, conduzindo os governos, os caracteres para os seus desejos inferiores, para os seus atrozes lucros burgueses... Não é fácil a um indivíduo qualquer, pobre, cheio de grandes ideias, fundar um que os combata... Há necessidade de dinheiro; são precisos portanto capitalistas que determinem e imponham o que se deve fazer num jornal...
Vocês vejam: antigamente, entre nós, jornal era de Ferreira de Araújo, de José do Patrocinio, de Fulano, de Beltrano. Hoje, de quem são? A Gazeta é do Gaffré, O País é do Visconde de Morais, ou do Sampaio, e assim por diante. E por detrás dela estão os estrangeiros, se não inimigos nossos, mas quase sempre indiferentes às nossas aspirações.
Bom, parece que arrancaram a máscara do nosso heroi. E assim, de cara limpa, nenhum black bloc enfrenta ninguém
Desde que o julgamento da ação penal 470 se converteu em um
reality show, alguns eminentes ministros, encantados com os holofotes,
passaram a jogar para a plateia.
Barbosa, grande ator, roubou a cena desde então.
Ofendeu colegas, abusou de expressões de efeito midiático, fez caras e
bocas, bateu boca e bateu, com muita força, o seu martelo.
O nosso Thor negro, poderoso, andava por aí, no farfalhoso frufru da
toga, martelo em punho, cravando sentenças: chamou advogados de
dormiocos preguiçosos; jornalista, de porco chafurdento; colega, de
chicaneiro; e a revistaveja, por tudo isso, pelo conjunto da obra, o
chamou de heroi.
Heroificado, Barbosa comprou um apê nos Esteites, terra de super
herois, como se sabe. E como um super heroi moderno saiu a dar
entrevistas, celebritante. Distribuiu autógrafos, marcou presença em
eventos sociais, fez selfies, tirou fotos com fãs, desavisados e até com
um bandido foragido, sempre risonho; foi a sambas, bares e até a um jogo de futebol, ao lado de Luciano Huck.
Lavou a égua.
Midiatificado, viciado no espetáculo e na bajulação, bateu o martelo com muita força e mostrou ter-se deixado trair pela emoção.
Fez de réus, inimigos; de colegas, adversários; da mídia, uma aliada.
Ordenou prisões no feriado e montou em excelente cenário: avião,
veículos da Polícia Federal e todo mundo junto indo para a mesma
penitenciária. Semiabertos foram trancafiados, tripudiou da enfermidade
de um dos réus e foi condescendente com outro já convalescido.
Depois foi às compras na Europa, mas antes deu uma palestra em uma
universidade nas estranjas, convidado para ninar um reitor com a sua
conversa pra boi dormir. Os caras não lhe pagaram cachê e nem o café da
manhã do hotel, tudo veio da viúva.
Assim, ele passou de um mero ator - sempre de pé e nunca de costas
para a plateia - para um hábil roteirista e promissor autodiretor.
Aí vieram os Embargos Infringentes. Barbosa, o altivo, sofreu uma
fragorosa goleada de 4x1. Ao sentir que perderia o jogo, foi pro ataque
qual um legítimo black bloc.
Como se gritasse a plenos pulmões Não Vai Ter Copa, a barra passou a
pesar para Barbosa, e o nosso heroi começou a desferir socos, cabeçadas e
rabos-de-arraia, quebrar vidraças e tocar fogo no prédio público
símbolo da burguesia, o STF.
Chamou Toffoli de hipócrita e acusou o fleumático Barroso de fazer política, veja você.
Mongicamente, Barroso, olhando para o bípede implume e togado -
sempre de pé, por conta das hemorroidas (por que não se trata?) -
afirmou: "Considero, com todas as vênias de quem pense diferentemente,
que houve uma exacerbação nas penas aplicadas de quadrilha ou bando".
"Como é isso?", perguntou o surpreendido Barbosa. "É fácil fazer
discurso político", afirmou o nosso candidato Joaquim, vendo que o outro
tentava lhe roubar a cena.
Com mil diabos, parece que surgiu um deus ex machina por trás da cortina.
A certa altura, Barroso disse: "O discurso jurídico não se confunde
com o discurso político. O STF é o espaço das razões públicas e não das
paixões inflamadas".
Joaquim Barbosa inflamou-se e, como se tivesse em um campo de várzea,
tratou o colega simplesmente de "Barroso", como se tivesse em uma
discussão no quintal de casa com um compadre, quiçá se soubesse o
apelido de Barroso o teria usado.
Ainda com toda a sua fleuma, Barroso disse que Joaquim sofria de déficit civilizatório.
Bom, parece que arrancaram a máscara do nosso heroi. E assim, de cara limpa, nenhum black bloc enfrenta ninguém.
Como um quixote às avessas, Barbosa achou que lutava contra moinhos
de vento, deparou-se com gente de carne e osso, e sangue frio.
Talvez esse tenha sido o último ato de Barbosa nessa ópera bufa
escrita por ele mesmo, só lhe resta ser o candidato da revistaveja e,
depois, o ostracismo.
Como se vê, vai ter copa!
Não houve quadrilha no mentirão diz maioria de ministros do STF
Temos aqui apenas o primeiro passo de muitos outros que serão dados para se buscar a revisão desse julgamento que culminou na mais monumental farsa produzida por uma Suprema Corte de Justiça que abdicou de suas funções para julgar de acordo com os interesses espúrios e escusos da grande velha mídia nacional que hoje é quem determina o resultado de um julgamento no STF com base naquilo que publica seja falso ou verdadeiro para o histerismo de um público amoral, vil e corrupto que absorve acriticamente ipsis literris tudo que é escrito, sem o cuidado de buscar o contraditório, de fazer o contraponto, obrigação de qualquer um que se aventurar a dá opinião e a fazer juízo de valor sobre a conduta alheia sem saber do que fala apenas pelo prazer de acompanhar a manada. O mais deprimente é que são pessoas que têm formação superior, provando que grau de escolaridade não significa necessariamente ser bem informado. Esse estamento é o mais susceptível de manipulação tanto é que está a repetir sofisma, frases feitas, em pleno e total desconhecimento do processo histórico que não fosse pela sabedoria popular demonstrada em intenções de pesquisa estaria a produzir mais um Salvador da pátria depois de Jânio e Collor num espaço de tempo inferior a 50 anos ao querer eleger esse Torquemada falso moralista à presidência sem sequer preocupar-se com o retrovisor da história que não é tomada como balisa de aprendizado e sabedoria para não se repetir velhos erros.
Na sessão de ontem, mais uma vez, Joaquim Barbosa ultrapassou todos os limites da civilidade; com convites para entrar na carreira política e pronto para deixar a corte, ele interrompeu duas vezes o voto do ministro Luís Roberto Barroso; "Fazer discurso político é muito fácil", acusou; no entanto, quem está a um passo de virar político é Barbosa; necessidade de brilhar a qualquer custo, mesmo baixando o nível do debate e vilipendiando a instituição, é dele; para o STF saída corresponderá a ganho de qualidade; se é por falta de até logo, adeus
27 DE FEVEREIRO DE 2014 ÀS 05:59
Marco Damiani, 247 – O presidente do STF, Joaquim Barbosa, chegou na sessão desta quarta-feira 26 ao limite da falta de compostura com a Corte. Ele interrompeu por duas vezes o voto que transcorria calmo do ministro Luís Barroso, distribuiu acusações sobre a lisura das ponderações dele, retirou-lhe, a certa altura, o tratamento protocolar de V. Excelência e, não satisfeito, encerrou abruptamente a sessão, apesar da contrariedade de diversos ministros.
Barbosa teve seu chilique de nervosismo e intolerância a partir da simples manifestação de divergência inaugurada por Barroso, que apontou para a extinção das penas por formação de quadrilha na Ação Penal 470.
"A sua posição não é técnica, é política", atacou Barbosa na direção de Barroso. "É muito fácil vir aqui e fazer um discurso político. O sr. veio com uma fórmula prontinha, já até adiantou o placar desta votação", continuou o presidente do STF, visivelmente tentando constranger o colega de toga. "Não sejamos hipócritas. O sr. fez um rebate da sentença desse plenário", desferiu Barbosa, aos gritos, apoiado na cadeira mais alta do tribunal.
Sem se alterar, o ministro Barroso continuou a ler seu voto nas duas vezes em que foi interrompido. Ele não havia falado nem vinte minutos quando foi atalhado pela primeira vez por Barbosa. No voto anterior, porém, pela manutenção das condenações por formação de quadrilha, dado pelo ministro Luiz Fux, Barbosa acompanhou a tudo placidamente. E o voto de Fux durou quase três horas.
"O que o sr. faz é a inaceitação do outro e da divergência", reagiu Barroso, com frieza. "Uma Corte constitucional tem de deixar as paixões de lado para votar com a razão", emendou ele, referindo-se à exaltação de Barbosa.
CENAS CORTADAS - Não satisfeito apenas com a tentativa de desqualificar o voto de Barroso, Barbosa alegou a ausência do ministro Gilmar Mendes, que o acompanha nas votações da AP 470, para encerrar a sessão. Mesmo contestado pelo relator Ricardo Lewandowski, ele suspendeu os trabalhos mas, antes, teve de aceitar as declarações de voto com a divergência inaugurada por Barroso da ministra Carmen Lúcia e de Dias Toffoli e Lewandowski. O placar do dia terminou 4 a 1 pela extinção das penas por corrupção de quadrilha o que fará, se confirmada, as penas já dadas serem revistas para menos.
As cenas de alteração de Barbosa foram cortadas da edição do principal da jornal da TV Justiça, que foi ao ar a partir das 20h00, após o encerramento da etapa do julgamento. Sem dúvida, a repetição daquela situação deprimente para o Poder Judiciário, em razão do autoritarismo latente na postura do presidente do STF, apenas sublinharia a descompostura de Barbosa que jamais, diante do voto do ministro Barroso, se mostrou sequer perto do equilíbrio que um homem público na sua posição deveria exibir sempre.
Com Barbosa, ao contrário, o Supremo vive uma fase de crises e sobressaltos, na qual a necessária tranquilidade para votar temas polêmicos – e, ali, todos são – simplesmente não existe. Barbosa estressa as relações pessoais e funcionais ao máximo. Ele sabe que é na crise, diante das transmissões ao vivo pela tevê, que brilha para uma parcela do eleitorado.
Para atender sua vontade já manifestada de deixar a corte e assumir uma carreira política, é o melhor que ele tem a fazer, uma vez que, tecnicamente, tem muito a dever a nomes como o decano Celso de Mello, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski ou o ministro Teori Zavaski, além do próprio Barroso. Deles, mesmo com seu destempero ameaçador, Joaquim tem perdido todos os embates jurídicos que procurou criar.
Na tarde desta quarta 26, Barbosa procurou chamar para si, pelo caminho da baixaria, o foco das atenções. E chegou às fronteiras dessa estratégia ao dizer que Barroso fazia um voto político – e não técnico.
BARBOSA É O ÚNICO POLÍTICO DA CORTE - Na verdade, o único político ali é Joaquim Barbosa. Foi ele quem anunciou, em declaração não desmentida, que já considera ter feito tudo o que tinha a fazer no Supremo, e por isso estaria afivelando suas malas para sair. O mesmo Barbosa que assanha diferentes partidos políticos com suas insinuações de que quer concorrer a um cargo eletivo nas próximas eleições. Ele nega que queira ser, desde logo, presidente da República (para praticar no Poder Executivo sabe-se lá que tipo de democracia), mas gosta de ouvir seu nome ser lembrado como candidato a senador ou governador do Rio de Janeiro. No momento, é o PV que o corteja
Também é Barbosa – e não Barroso ou qualquer um dos outros ministros – que aprecia ver seu nome inserido entre os presidenciáveis nas pesquisas de opinião. Quem gosta de dar autógrafos, posar com eleitores e curtir ser objeto de máscara no carnaval é Barbosa e mais ninguém, que se saiba tão claramente, na corte constitucional.
A saída de Barbosa do STF será sem dúvida um ganho para o mesmo Supremo. O problema é que, em sua gestão, Barbosa introduziu cacoetes de autoritarismo e perseguição aos contrários que macularam a história da corte, e não podem mais ser apagados. O movimento de judicialização da atividade política, por exemplo. Contribuindo para distorcer o histórico caráter garantista do Supremo, Barbosa o introduziu. Quando ele deixar a toga – e aguarda-se isso para o quanto antes –, muitos dos desserviços que ele prestou terão de ser corrigidos.
Barroso deixou que Barbosa morresse como um peixe, pela boca. Foi a vitória da serenidade sobre o destempero, da delicadeza sobre chauvinismo, do respeito à divergência sobre a intolerância
O escritor argentino Ricardo Piglia, num de seus ensaios, propõe uma tese segundo a qual um conto oferece sempre duas histórias. Uma delas acontece num descampado aberto, à vista do leitor, e o talento do artista consiste em esconder a segunda história nos interstícios da primeira.
Agora sabemos que não são apenas escritores que sabem ocultar uma história secreta nas entrelinhas de uma narrativa clássica. O ministro Luís Roberto Barroso nos mostrou que um jurista astuto (no bom sentido) também possui esse dom.
Esta é a razão do ridículo destempero de Joaquim Barbosa. Esta é a razão pela qual Barbosa interrompeu o voto do colega várias vezes e fez questão de, ao final deste, vociferar um discurso raivoso e mal educado.
Barbosa sentiu o golpe.
Houve um momento em que Barbosa praticamente se auto-acusou: “o que fizemos não é arbitrariedade”. Ora, o termo não fora usado por Barroso. Barbosa, portanto, não berrava apenas contra seu colega. Havia um oponente imaginário assombrando Barbosa, que não se encontrava em plenário, mas ele sentiu sua presença enquanto ouvia Barroso ler, tranquilamente, seu voto.
O oponente imaginário são os milhares de brasileiros que vem se aprofundando cada vez mais nos autos da Ação Penal 470, acompanhando os debates do Supremo Tribunal Federal, ajudando alguns réus a pagar suas multas, dando entrevistas bem duras em que denunciam os erros do julgamento, e constatando, perplexos, que houve, sim, uma série de erros processuais e arbitrariedades.
Barroso contou duas histórias. Uma delas, no primeiro plano, era seu voto. Um voto tranquilo e técnico. Só que nada na Ação Penal 470 foi tranquilo e técnico, e aí entra a história subterrânea, por trás do cavalheirismo modesto de Barroso.
E aí se explica a fúria de Barbosa.
A história secreta contada por Barroso, com uma sutileza digna de um escritor de suspense, de um Edgar Allan Poe, com uma ironia só encontrada nos romances de Faulkner ou Guimarães Rosa, é a denúncia da farsa.
Aos poucos, essa história subterrânea virá à tôna. Alguns observadores mais atentos já a pressentiram há tempos.
O novo ministro, antes mesmo de ingressar no STF, entendeu que há um muro de ódio e violência à sua frente, construído ao longo de oito anos, cujos tijolos foram cimentados com preconceito político, chantagens, vaidade e uma truculência midiática que só encontra paralelo nas grandes crises dos anos 50 e 60, que culminaram com o golpe de Estado.
Sabe o ministro que não é ele, sozinho, que poderá desconstruir esse muro. Em entrevista a um jornal, o próprio admitiu que estava assustado com a violência da qual já estava sendo vítima: o médico de sua mulher, sem ser perguntado, disse a ela que não tinha gostado do voto de seu marido, e suas filhas vinham sendo questionadas na escola por colegas e professores.
O Brasil vive um tipo de fascismo midiático cuja maior vítima (e algoz) é a classe média e os estamentos profissionais que ela ocupa.
É a ditadura dos saguões dos aeroportos, das salas de espera em consultórios médicos, dos shows da Marisa Monte.
Nos últimos meses, eu tenho feito alguns novos amigos, que tem me dado um testemunho parecido. Todos reclamam da solidão. A mãe rodeada de filhos “coxinhas”. O pai que é assediado, às vezes quase agredido, pelas filhas reacionárias. A executiva na empresa pública isolada entre tucanos raivosos. Alguns, mais velhos, encaram a situação com bom humor. Outros, mais jovens, vivem atordoados com as pancadas diárias que levam de seus próximos.
No entanto, o PT é o partido preferido dos brasileiros, ganha eleições presidenciais, aumenta presença no congresso e pode ganhar novamente a presidência este ano, até mesmo no primeiro turno.
Por que esta solidão se tanta gente vota no partido?
Claro que voltamos à questão da mídia, que influencia particularmente as camadas médias da sociedade, à esquerda e à direita. A maioria da classe média tradicional, hoje, independente da ideologia que professa, odeia o PT, idolatra Joaquim Barbosa, e lê os livros sugeridos nos cadernos de cultura tradicionais.
Eu conheço um bocado de artistas. Hoje são quase todos de direita, embora a maior parte se considere de esquerda. Todos odeiam Dirceu, sem nem saber porque. E me olham com profunda perplexidade quando eu tento argumentar. Como assim, parecem me perguntar, com olhos onde vemos rapidamente nascer um ódio atávico, irracional, como assim você não odeia Dirceu?
Eu tento conversar, com a mesma calma de Barroso, mas não adianta muito. Eles reagem com agressividade e intolerância.
Pessoas em geral pacatas se transformam em figuras raivosas e vingativas. O humanismo, que tanto fingem apreciar nos europeus, mandam às favas ao desejar que os réus petistas apodreçam no pior presídio do Brasil.
Eu mesmo costumo usar os mesmos termos de Barroso. “Respeito sua opinião”, eu digo. Às vezes até procuro elogiar o interlocutor, numa tentativa ingênua e canhestra de quebrar a casca de ódio que impede qualquer diálogo. Não adianta. Qual um bando de Barbosas, eles respondem, quase sempre, com grosserias e sarcasmos.
Quantas vezes não vivi a mesma situação de Barroso? Às vezes, inclusive, aceitei teses que não acreditava, violentei-me, num esforço desesperado para transmitir uma pequena divergência, uma singela ideia que foge ao script da mentalidade de um interlocutor cheio de certezas.
Entretanto, a serenidade estóica e elegante de Barroso significou uma grande vitória para nós, os solitários, os que arrostamos as truculências diárias da mídia e de seu imenso, quase infinito, exército de zumbis.
Porque encontramos um igual.
Encontramos alguém que sofre, que tenta expor uma ideia diferente, e recebe de volta uma saraivada de golpes de quem não aceita ser contestado.
Não confundamos, contudo, elegância com covardia. Não se pode exigir a um homem que derrube sozinho uma muralha desse calibre. Esse trabalho não é de Barroso. Será um esforço coletivo, que já estamos empreendedo. Barroso encontrará forças em nossas ideias.
Mesmo que ele tenha de fazer algum recuo estratégico, como aliás já fez, ao condenar Genoíno, será para avançar em seguida.
Mas a função de um juiz do STF não é defender uma classe. Não é defender a rapaziada que frequenta o show da Marisa Monte e lê os editoriais de Merval Pereira. Não é se tornar celebridade ou “justiceiro”. A função de um juiz é ser justo e defender tanto as razões do Estado acusador quanto os direitos dos réus.
Quando Getúlio deu um tiro em si mesmo, ele deixou um recado, no qual há referências algo misteriosas a “forças” que se desencadearam sobre ele.
Como que antevendo o que continuaríamos a enfrentar, durante muito tempo, o velhinho ainda tentou, em sua dolorosa despedida, nos consolar:
“Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado.”
E cá estamos, Getúlio, diante das mesmas forças obscuras. Diante da mesma truculência, das mesmas arbitrariedades, que dessa vez encontraram voz na figura, trágica ironia, de um negro. Do primeiro negro que nós, o povo, nomeamos para o STF, mas que preferiu se unir aos poderosos de sempre, aos donos do dinheiro, aos barões da mídia, à turma do saguão do aeroporto…
É positivamente curioso como os ministros da mídia demonstram auto-confiança, arrogância, desenvoltura. Gilmar Mendes, Barbosa, Marco Aurélio Mello, dão entrevistas como se fizessem parte de uma raça superior. São campeões de um STF triunfante, que prendeu os “mensaleiros”.
Enquanto isso, os outros ministros agem com humildade, discrição, prudência. Barroso lê seu voto com voz quase trêmula, e pede reiteradas desculpas por cada mínima divergência. Nunca se ouviu um ministro pedir tantas vênias como Barroso. Nunca se viu um juiz fazer tantos elogios àquele mesmo que o destrata sem nenhuma preocupação quanto à etiqueta de um tribunal.
Mas o que Barroso pode fazer? Não faríamos o mesmo? A situação de Barroso é quase a de um sertanejo humilde, argumentando em voz baixa diante de seu patrão.
Sintomático que Luiz Fux, que aderiu também à Casa Grande, tenha citado Lampião para designar a “quadrilha dos mensaleiros”. O mundo dá tantas voltas, e retorna ao mesmo lugar. Virgulino Ferreira da Silva, o terror do Nordeste, o maior dos facínoras, quem diria, seria comparado a José Dirceu! É o tipo de comparação que não dá para ouvir sem darmos um sorriso triste e malicioso.
Não foi Virgulino igualmente o maior herói do sertão? Não foi ele o maior símbolo das injustiças e arbitrariedades que se abatiam, dia e noite, sobre um povo sofrido e miserável?
Evidentemente, não existe comparação mais idiota. Dirceu é um homem de paz, que acreditou na democracia e na política. Lampião foi um bandido que desistiu de qualquer solução política ou pacífica para seus problemas.
Mas também Fux, sem disso ter consciência, trouxe à baila uma história subterrânea, soterrada sob sua postura covarde de um juiz submetido aos barões de sempre: Lampião provou ao Brasil que não existe opressão sem resistência, mesmo que na forma de banditismo. Esta é a lei mais antiga da humanidade. A resistência e o heroísmo nascem da opressão e da arbitrariedade, como um filho nasce da mãe e do pai.
A campanha de solidariedade aos réus petistas foi a prova disso. Mas não vai parar aí. Ao chancelar uma farsa odiosa, arbitrária, truculenta e, sobretudo, mentirosa, o STF produziu milhares de Virgulinos. Só que não são Virgulinos por serem bandidos ou violentos. São Virgulinos exatamente pela razão oposta: a coragem de lutar de maneira pacífica e democrática.
É a coragem, sempre, a grande lição que o mais humilde dos cidadãos dá aos poderosos. É a coragem que faz alguém se insurgir contra a opinião do ambiente de trabalho, da família, do condomínio, dos saguões dos aeroportos, e assumir uma posição política independente, inspirada unicamente em sua consciência.
É a coragem, enfim, que faz os olhos de Barroso irradiarem um brilho de confiante serenidade. Sua voz pode tremer, mas não por medo. Treme antes pelo receio de escorregar um milímetro no fio da navalha por onde caminha, entre o desejo de falar duras verdades a um tratante e a determinação de manter uma elegância absoluta.
Barroso sequer consegue usar o pronome “seu” ao se referir a Barbosa, com medo de cometer um deslize verbal. Se Barbosa fosse uma figura serena, amiga, Barroso não teria esse escrúpulo. Tratando-se de um oponente sem caráter, sem moderação, e ao mesmo tempo tão incensado e blindado pela mídia, Barroso tem de tomar um cuidado máximo. Tem de tratá-lo com respeito até mesmo exagerado. Barroso sabe que Barbosa é vítima de megalomania e arrogância messiânica, que sofre de uma espécie de loucura, uma loucura perigosíssima, porque protegida pelos canhões da imprensa corporativa.
Ao contestar tão ofensivamente o teor do voto de Barroso, ao acusá-lo, de maneira tão vil, Barbosa disparou um tiro no próprio pé. Ganhará, ainda, um bocado de palmas dos saguões aeroportuários, mas haverá mais gente erguendo a sombrancelha, desconfiada de tanta fanfarronice e falta de modos.
Barroso deixou que Barbosa morresse como um peixe, pela boca.
Foi a vitória da serenidade sobre o destempero, da delicadeza sobre chauvinismo, do respeito à divergência sobre a intolerância.
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Apesar de ter ganhado notoriedade com o caso do mensalão, Roberto Jefferson é uma figurinha carimbada da política brasileira há anos
Roberto Jefferson ficou popularmente conhecido ao ser interrogado
pela CPMI dos Correios, em 2005. Naquela comissão, instaurada para
investigar irregularidades e fraudes na estatal, o então deputado
federal (PTB-RJ) denunciou outro esquema, muito mais impactante, o
Mensalão.
Jefferson foi interrogado pela CPMI, presidida pelo senador petista
Delcídio Amaral. Seu nome aparecia em um vídeo em que Maurício Marinho,
funcionário dos Correios, aparecia negociando propina com um suposto
empresário interessado em participar de uma licitação. Na ocasião,
Maurício mencionou ter o respaldo do chefe, o deputado Roberto
Jefferson.
A CPMI, no entanto, teve seu desfecho, mas perdeu importância depois
da denúncia feita pelo deputado. Roberto Jefferson passou de chefe das
negociações de propina nos Correios para herói da República ao denunciar
que o PT, chefiado por José Dirceu, pagava para que deputados dos
partidos aliados: PTB, PP e PMDB aprovassem os projetos sociais do
Governo Lula. O nome de 'mensalão' teria surgido em uma conversa de Jefferson com
o deputado do PDT, Miro Teixeira. O pagamento de parlamentares para
aprovar projetos não foi comprovado pelo STF, apenas os crimes de caixa 2
(que é crime sim, parafraseando a ministra Carmen Lúcia, do STF).
O PTB, do qual Roberto Jefferson era presidente, andava em crise em
meados de 2004. Para entrar na coligação do então candidato Lula, o
partido pediu ajuda financeira ao PT. R$ 4 milhões não declarados à
Justiça Eleitoral foram pagos ao partido, fato admitido pelo
ex-deputado.
Vida Política
Apesar de ter ganhado notoriedade com o caso do mensalão, Roberto
Jefferson é uma figurinha carimbada da política brasileira há anos. O
pai e o avô eram políticos do PTB. A filha, Cristiane Brasil, é
vereadora no Rio. Formado em Direito em 1979, Jefferson foi deputado de
1983 a 2005 (quando teve o mandato cassado).
Collor
Uma característica do ex-deputado foi estar sempre na base aliada do
Governo Federal. Esteve com Sarney e principalmente ao lado de Collor.
Em 1992 foi o principal defensor de Fernando Collor, tanto no plenário,
quanto nos meios de comunicação.
Famoso por seu estilo agressivo, convidou o então deputado da oposição,
José Dirceu (PT-SP), para a briga. Ali começava o relacionamento
conturbado entre os dois, que culminou nas acusações de 2005.
CPI do Orçamento
Em 1993, na base aliada de Itamar Franco, teve seu nome citado na CPI
do Orçamento. Ele foi incluído numa lista de 37 deputados que cometiam
fraudes no orçamento da União junto a prefeitos e empreiteiras
responsáveis por obras em todo o país. Jefferson foi absolvido no início
do processo, que terminou com 18 deputados cassados. Denúncias afirmam
que ele supostamente teria embolsado sozinho R$ 470 mil.
Reeleição e declaração de bens
Como de praxe, Roberto Jefferson se manteve aliado do Governo com a
posse de Fernando Henrique Cardoso em 1995. Em 1997 votou a favor do
projeto que permitiria a reeleição de cargos executivos no País. Muitos
deputados da base aliada chegaram a afirmar que houve compra de votos
para a aprovação. O caso não foi comprovado, mas também sequer foi
investigado. A reeleição foi aprovada e o então presidente, FHC, foi
reeleito.
Ainda em 1997, Jefferson, buscando mais um mandato de deputado,
omitiu na declaração de bens ao Tribunal Regional Eleitoral a posse de
dois apartamentos em Cabo Frio. Cerca de R$ 90 mil cada um.
Em 1990, Roberto Jefferson não declarou ao TER uma casa que possui
até hoje em Petrópolis. Eleito mais uma vez em 1994, continuou sem
declarar o imóvel, que só foi comunicado na eleição de 1998, no valor de
R$ 82.276,73.
Deputado aposentado e herói dos tolos
O depoimento de Roberto Jefferson na CPI dos Correios foi a base
argumentativa da acusação na Ação Penal 470, o chamado Mensalão. Com
isso, Jefferson ganhou o status de herói para a oposição e críticos do
Governo Lula. Deu entrevistas, contou piadas e cantou nos programas do
Jô e Superpop. Lançou um livro e recentemente gravou um disco: "On the
Road".
Em 2005, mesmo ano de sua cassação, Jefferson teve sua aposentadoria
publicada no Diário Oficial. O ex-deputado recebe R$ 18.477 dos cofres
públicos.
Roberto Jefferson foi condenado a 10 anos de reclusão, mas teve pena
reduzida a 7 anos por ter sido o delator do caso. No dia de sua prisão, a
apresentadora do SBT Brasil, Raquel Sheherazade, pediu medalha de Honra
ao Mérito ao ex-deputado pelos "bons serviços prestados ao Brasil".
O que é o STF atual? Um esgoto a céu aberto, um lixo. Ali não tem nada
de corte Suprema de justiça. Estamos diante de um tribunal cuja maioria
de sua composição age como instrumento de um partido político de
oposição que diferentemente do que se possa pensar, não são os partidos
de oposição colocados em tal situação pelo voto do eleitor nas últimas
três eleições, mas aquele formado no vácuo de uma oposição que não tem
projeto, rumo e nem votos, o PIG ( Partido da Imprensa Golpista)
capitaneado pela Rede Globo de Sonegação Fiscal que cresceu e
transformou-se no maior império de comunicação da América latina graças
ao seu apoio descarado a ditadura militar e seus satélites, Veja, Folha,
Estadão, grupo RBS, Zero Hora et caterva.
Ministros de uma corte de
justiça e magistrados que têm poderes de determinar se um indivíduo deve
ou não perder o bem mais supremo que acompanha sua existência, a
liberdade, não têm que desenvolver estratégia para condenar alguém.
O
animus de condenar não deve está presente na consciência de um
magistrado é tão somente consequência resultante das provas dos autos
que falarão se o réu deve ou não receber uma sentença condenatória com
privação de liberdade. Quando se divulga que dois ministros se reúnem
para manobrar a favor da condenação dos réus da AP 470 com o fito de
pressionarem os demais ministros da corte colegiada da qual são membros
integrantes, fica abertamente escancarado que as provas são fracas,
sequer existem.
Porque se houvessem não se precisaria armar um
expediente tão medieval, tão mesquinho, tão baixo, próprio do caráter
pequeno desse Torquemada chamado Joaquim e desse falso moralista Gilmar,
nacionalmente conhecido pela sua participação deplorável nos fatídicos
dias que culminaram com a prisão do banqueiro Daniel Dantas, durante a
operação Satiagraha objeto do livro Operação Banqueiro que expôs os
métodos nada ortodoxo para livrar da cadeia um banqueiro envolto num
imenso mar de suspeitas criminosas.
Ainda mais quando se utilizam de um
cargo que existe única exclusivamente para aplicar o direito. A justiça
desse país hoje é aquilo que se escreve em páginas de jornais, seja
verdadeiro ou falso. Isso é uma infâmia, um escárnio que enxovalha o
STF.