Preso diz que oferta de delação premiada buscava comprometer candidato do PT ao governo de Minas
publicado em 3 de fevereiro de 2014 às 12:33
Por trás da apreensão de computadores, documentos e agendas de telefones do
Novo Jornal e seu dono, Andrea e Aécio Neves?
Delação premiada: Em troca de acusações a Pimentel, Sávio e Protógenes, jornalista ficaria livre
por
Conceição Lemes
Os bastidores da política mineira estão em ebulição. Na Justiça, o
delator do mensalão mineiro, Nilton Monteiro, o jornalista Marco Aurélio
Carone e o advogado Dino Miraglia são acusados de formar quadrilha com o
objetivo de disseminar documentos falsos, inclusive por meio de um
endereço na internet, com o objetivo de extorquir acusados. Os dois
primeiros estão presos. Houve busca e apreensão na casa do advogado.
Esta é a versão oficial, que tem sido noticiada em Minas Gerais.
Mas há outra, que deriva de um fato político: Nilton, Carone e
Miraglia se tornaram uma pedra no sapato dos tucanos em geral e do
senador Aécio Neves em particular, agora que ele concorre ao Planalto.
Nilton é testemunha nos casos do mensalão mineiro e da Lista de
Furnas, esquemas de financiamento de campanha dos tucanos nos anos de
1998 e 2002. Carone mantinha um site em que fazia denúncias contra o
ex-governador mineiro. Dino representou a família de uma modelo que foi
morta em circunstâncias estranhas. O advogado sustenta que ela era a
intermediária que carregava dinheiro vivo no esquema do mensalão mineiro
e levou a denúncia ao STF.
Desde 20 janeiro, quando ocorreu a prisão de Marco Aurélio Carone, diretor-proprietário do site
Novo Jornal, o bloco parlamentar de oposição a Aécio Neves na Assembleia Legislativa
Minas Sem Censura (MSC) denuncia:
a prisão preventiva do jornalista é uma armação e tem a ver com o
chamado “mensalão tucano” e a Lista de Furnas no contexto das eleições
de 2014.
Na última sexta-feira, 31 de janeiro, um lance evidenciou o roteiro. Segundo o
Minas Sem Censura,
há indícios de um amplo complô de políticos do PSDB e governo mineiro
associados a setores do Judiciário e Ministério Público contra a
oposição.
O plano A, de acordo com a oposição mineira, era prender o jornalista
e pressioná-lo a assinar uma falsa acusação contra vários adversários.
A começar pelo ministro Fernando Pimentel, da Indústria e Comércio,
que sempre foi muito próximo dos tucanos, mas se tornou uma pedra no
caminho deles.
Na eleição de 2008 à prefeitura de Belo Horizonte, o senador Aécio
Neves (PSDB) e Pimentel apareceram juntos na propaganda eleitoral na TV,
apoiando Márcio Lacerda (PSB).
Porém, a relação começou a azedar, quando Aécio se colocou como
candidato à presidência da República contra a presidenta Dilma Rousseff.
E desandou de vez com disposição de Pimentel, nas eleições de 2014, ser
o candidato do PT ao Palácio da Liberdade, ocupado há 16 anos pelo
PSDB.
Na lista de “incriminados”, também estariam, entre outros:
* Rogério Correia, deputado estadual, líder do PT na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALEMG).
* Durval Ângelo (PT), deputado estadual e presidente da Comissão de Direitos Humanos da ALEMG.
* Sávio de Souza Cruz (PMDB), deputado estadual, líder da oposição na ALEMG.
* Protógenes Queiroz, deputado federal (PCdoB-SP) e delegado licenciado da Polícia Federal (PF).
* Luís Flávio Zampronha, delegado da PF, responsável pelo relatório do mensalão tucano.
* William Santos, advogado, integrante da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil– seção Minas (OAB-MG).
Em troca da delação premiada, o jornalista ganharia a liberdade. A
proposta teria sido lhe oferecida pelo promotor André Luiz Garcia de
Pinho.
O mesmo que pediu a sua prisão preventiva e já havia sido alvo de denúncia no site do próprio preso.
Marco Aurélio Carone fez essas e outras revelações na quarta-feira 29
a Rogério Correia e Durval Ângelo. Junto com eles, representando a
OAB-MG, estava o advogado Vinícius Marcus Nonato.
Os três ouviram-no no Hospital Biocor, onde ficou internado de 25 a 28 de janeiro, sob vigília policial.
A conversa durou 31min15s. Foi gravada e dividida em duas partes (na
íntegra, sem qualquer edição, ao final desta reportagem). É que aos
7min28s, a pedido da enfermagem, teve de ser interrompida, para o
jornalista receber medicação.
Carone recusou a delação premiada: “Sou filho de pai e mãe cassados,
vou morrer, não tem problema. Mas de mim eles não conseguem nada, em
hipótese alguma”.
Segundo a oposição mineira, fracassado o plano A, partiram para o plano B, devassar os documentos do jornalista e do
Novo Jornal, cujas matérias desagradam politicamente a cúpula do PSDB e do governo mineiro, para descobrir suas fontes de informação.
Por determinação da 2ª Vara Criminal de Belo Horizonte, agentes da
Polícia Civil (Depatri) realizaram busca e apreensão de agendas,
computadores e documentos na sede do
Novo Jornal.
Fizeram o mesmo na casa de Carone e na do jornalista Geraldo Elísio, Prêmio Esso Regional de Jornalismo e que trabalhou no
Novo Jornal até sete meses atrás.
“Uma equipe composta por um delegado e três outros investigadores do
Depatri visitou-me com ordem de busca e apreensão de meu netbook, minhas
cadernetas de telefone, CD’s e anotações, principalmente em um livro no
qual escrevo poesias”,
postou na sua página no Facebook .
“Fizeram uma relação de objetos levados perante testemunhas legais, mas nada me mostraram.”
“Esses atos são obra de Andréa [Andréa] e seu irmão [senador Aécio
Neves, PSDB-M], para tentar desqualificar a Lista de Furnas e o mensalão
tucano, para que não entrem em julgamento no STF”, afirma Geraldo
Elísio ao
Viomundo. “Para isso não estão titubeando em
lançar mão de tentativas loucas e desmesuradas, inclusive incriminar os
deputados Rogério Correia e Sávio Souza Cruz, que certamente o doutor
Tancredo Neves reprovaria. Eles não herdaram a inteligência nem o bom
senso do avô.”
LIBERDADE DE IMPRENSA VIOLADA COM A CUMPLICIDADE DA MÍDIA
Rogério Correia está perplexo: “É estranho uma ordem de busca e
apreensão na residência do jornalista Geraldo Elísio. Evidencia o
caráter de censura da operação em curso”.
O bloco
Minas Sem Censura, integrado por PT, PMDB e PRB, denuncia:
O bloco parlamentar Minas Sem Censura vem
a público mais uma vez registrar sua perplexidade e sua indignação com
mais essa atitude do Judiciário mineiro, no caso do Novo Jornal.
A ordem de busca e apreensão expedida contra o diretor proprietário do Novo Jornal e contra o repórter Geraldo Elísio configura mais um absurdo do caso.
Depois de vários dias da prisão de
Carone, sem fato concreto que pudesse incriminá-lo, vasculhar sua
residência e a de Elísio, só tem sentido como ato de intimidação.
Se a credibilidade dessa atípica atitude
de censura já era mínima, agora chega ao limite da desmoralização. Não
conseguindo forjar a delação premiada, só restou essa truculência: busca
e apreensão.
Qual será a próxima ousadia? Qual a credibilidade de supostas “provas” que eventualmente “apareçam”?
Invadir casas de jornalistas é um precedente perigoso. Em Minas não se respira liberdade.
Na verdade, nesse 31 de janeiro de 2014, Minas sofreu um atentado à
liberdade de imprensa digno dos tempos da ditadura civil-militar no
Brasil.
PRESO NO HOSPITAL
Marco Aurélio Carone tem 60 anos, sofre de diabetes e hipertensão
arterial há mais dez. Há cinco sofreu um acidente que lhe deixou uma
perna menor que a outra e o obrigou a recorrer à bengala.
Atualmente,
usa muletas, mesmo assim não consegue se locomover direito.
Hoje, faz 14 dias que está em prisão preventiva.
Primeiro, foi para o Ceresp (Centro de Remanejamento do Sistema Prisional) Gameleira.
No dia 21, ele passou mal no presídio e foi levado para a UPA mais
próxima, a UPA Oeste. Como tem plano de saúde, conseguiu ser transferido
para um hospital da rede.
No dia 23, teve alta e voltou para o presídio. Passou mal de novo. Foi levado mais uma vez para a UPA Oeste.
Nesse mesmo dia mais cedo, o doutor Edson Donato, médico do presídio,
fez um relatório, alertando a direção a gravidade do caso. Dois pontos
nos chamam particularmente a atenção:
Hipertensão arterial maligna + diabético
tipo II de difícil controle com medicamento, susp [abreviatura de
suspeita?] de angina pectoris e necessitando de uso rigoroso dos
medicamentos, em horários rigorosos.
Paciente com risco de vida neste presídio sem condições de permanecer devido às precárias condições de assistência médica.
O doutor Edson Donato foi preciso no seu diagnóstico.
No início da madrugada de sexta-passada, 24 de janeiro, o quadro de
saúde do jornalista se agravou. Ele teve infarto. Foi para o CTI do
Biocor.
Na tarde da última terça-feira 28, ele foi transferido para um dos quartos do hospital.
Um dia depois, os deputados estaduais Rogério Correia e Durval
Ângelo, acompanhados de um representantes da OAB-MG, o interrogaram.
Nota-se, pela gravação da conversa, que respira com certa dificuldade.
“A pressão arterial do Carone estava 24 por 10, ele havia passado a
noite no respirador artificial, devido à falta de ar”, atenta Durval
Ângelo. “A saúde dele está muito fragilizada. Devido a problema no
quadril, anda de muleta, precisa de ajuda para fazer as suas
necessidades.”
Nesse mesmo dia à tarde, os dois deputados estaduais tiveram
audiência com presidente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais,
desembargador Joaquim Herculano Rodrigues, solicitando a intervenção
dele para que o jornalista não voltasse ao presídio. Eles não veem
sentido na prisão preventiva. Mas se não for possível revogá-la, que a
cumprisse em prisão domiciliar.
Durval Ângelo e Rogério Correia no TJ-MG para audiência com o desembargador Herculano Rodrigues
“É claro que o Carone não oferece risco. E muito menos após o infarto
na prisão”, observa Rogério Correia. “Mesmo assim a Justiça não lhe deu
sequer a prisão domiciliar.”
Desde quinta-feira 30, o jornalista está na enfermaria da
Penitenciária Nelson Hungria, Contagem, região metropolitana de Belo
Horizonte, onde não recebe a visita da família. Segundo um dos seus
advogados, Hernandes de Alecrim, ele está com a medicação inadequada.
“Se o Carone morrer, a responsabilidade será do governo e do
Judiciário mineiros, que já foram suficientemente alertados por nós”,
avisa Correia.
A seguir, os principais pontos do depoimento do jornalista aos dois
parlamentares e ao representante da OAB-MG. As informações em
itálico, entre colchetes, são nossas. São esclarecimentos sobre o contexto e/ou a pessoa mencionada.
EM GRAVAÇÃO, JORNALISTA LIGA PRISÃO A MATÉRIA SOBRE O HELICÓPTERO DO PÓ
Carone diz que acredita que a sua prisão, ocorrida no dia 20 de
janeiro, tem ligação com matéria que estava fazendo na semana anterior.
No depoimento gravado, ele conta aos deputados e ao representante da
OAB-MG:
– Uma semana e meia antes da minha prisão, tinha um pessoal me
pressionando pra eu ir na delegacia depor num processo em que são partes
Dino Miraglia, eu e o Nilton Monteiro.
[Dino Miraglia é advogado. Em entrevista exclusiva ao Viomundo,
diz que morte de modelo em Belo Horizonte tem ligação com mensalão
tucano. Nílton Monteiro está preso no Presídio Nelson Hungria, em Belo
Horizonte. É o delator do mensalão tucano. Também em entrevista exclusiva ao Viomundo disse que é um homem com medo de morrer e é perseguido por Aécio Neves]
– Uma denúncia anônima foi feita, dizendo que existiria um conluio
entre eu, Dino Miraglia e Nílton Monteiro. O Dino criava o fato
político, o Nílton Monteiro arrumaria o documento e eu divulgaria.
– Eu fui a primeira vez e disse que eles estavam brincando. Isso não
existe não. Até hoje vocês não mostraram nenhum documento falso, que
história é essa de documento falso? Não tem isso, não.
– O meu único negócio com o Nílton Monteiro é que eu noticio ele. Eu
sou um dos que noticiam o Nílton Monteiro. Eu não tenho nada, nada, com o
Nilton Monteiro.
– E o Dino, vou mandar para os senhores… Eu mandei, através do dr.
Hernandes [Hernandes de Alecrim é um dos advogados de Carone], todos os
contratos [
Dino era advogado de Carone em várias causas, depois renunciou a todas].
Na sexta-feira, 17, o
Novo Jornal estava fechando
uma matéria sobre o possível envolvimento de parentes do Aécio com o
helicóptero do deputado estadual Gustavo Perrella, (SDD), flagrado com
445 kg de pasta base de cocaína, em novembro de 2013, no Espírito Santo.
Na segunda-feira, o jornalista foi preso às seis horas da manhã, na
porta do seu escritório. “Veja se um fato não tem ligação com o outro”,
diz na gravação.
“MARCO AURÉLIO? SOU, SIM, SENHOR. MUITO PRAZER, ANDRÉ LUIZ”
Diferentemente do que informamos inicialmente, a proposta de delação
premiada, segundo Carone, não aconteceu na UPA Oeste, em 23 de janeiro,
mas na delegacia, no mesmo dia em que o jornalista foi preso.
Na noite do dia 23, muito tenso, ele fez a denúncia na presença dos
profissionais de saúde que lhe prestavam assistência, de familiares,
advogados, guardas penitenciários e outros transeuntes que observavam o
local, já que sua permanência na UPA Oeste ganhara notoriedade e atraíra
a atenção de outras pessoas.
– Bom, me levaram preso… me levaram para a delegacia.
– Eles te prenderam onde? – indaga Rogério Correia.
– Na porta do escritório, às seis horas da manhã.
– Quem te prendeu? – prossegue Rogério.
– Um delegado, chama-se doutor Guilherme [
Guilherme Santos, delegado da Polícia Civil]. Eu cheguei na delegacia, ele saiu [
da sala], ficou um agente moreno de cabeça raspada, sentado na porta… Eu sabia que estava preso, pois ele me deu ordem de prisão.
– Assim que o delegado saiu, entrou um promotor, o doutor André Luiz, que eu não conhecia [pessoalmente].
Ele não gosta de mim, porque publiquei uma matéria a respeito do irmão dele que é advogado:
– Marco Aurélio?
– Sou sim, senhor.
– Muito prazer, André Luiz. Você mexeu onde não tinha de mexer… Sim, você mexeu onde não tinha de mexer.
– Como assim, doutor? — . Eu nem estava ligando uma coisa com a outra.
– Você mexeu com a delegacia de crime organizado, cara, e agora você vai ver o que tem para você. E, aí, citou aquela
matéria que eu coloquei do Aécio Neves, da overdose, e da morte da modelo.
– Aí, ele pegou e pôs um processo em cima da mesa. Bum! [
com gesto, Carone mostra que é volumoso]
– Você está querendo ficar livre disso?
– Lógico, doutor. O que está acontecendo, doutor?
– Assina isso aqui. Se você assinar esta declaração, você está livre.
– Declaração de quê, doutor?
– Lê.
– Eu não li totalmente, pois eram mais ou menos três páginas datilografadas frente e e no verso.
O jornalista diz que ficou na sala, sozinho, com o promotor André
Pinho, das 6 às 8 da manhã, quando a sua filha chegou. O delegado
Guilherme dos Santos levou-a até o pai.
– Na hora em que minha filha entrou, ele [
o promotor] desconversou e saiu. E o delegado, o doutor Guilherme, estava visivelmente constrangido com o que estava acontecendo ali.
– Eu estava com essa sacola. Ele [
o promotor] falou: apreende essa sacola! Dentro da sacola, tinha a minha marmita [
por causa dieta alimentar que faz], minha agenda e mais nada.
– O delegado disse: o senhor me desculpa, eu não tenho ordem
judicial. A ordem judicial não manda fazer isso. Aí, ele [o promotor
André Luiz] foi, datilografou uma ordem judicial para o delegado, disse
que estava pedindo
ad judicia, ad referendum, falando em nome da juíza, para que apreendesse aquilo ali.
– Ele bateu um parecer para apreender…? – inquere Rogério Correia.
– A agenda.
– Essa agenda que ele levou, eles lacraram? – acrescenta Rogério.
– Não, não lacraram, não.
AS ACUSAÇÕES QUE QUERIAM QUE O JORNALISTA “ASSINASSE” COMO SENDO O AUTOR
O
Minas Sem Censura denunciou: os termos da delação
premiada chegaram prontos ao jornalista. Só faltava assiná-la. Carone
registrou o que guardou na memória. As anotações serviram-lhe de guia na
conversa com os dois deputados e o representante da OAB-MG, na última
quarta-feira.
– Mais ou menos eu vou dizer a vocês o que eu lembrei…
– Em relação ao Rogério Correia, é como se fosse feita uma pergunta
assim. Indagado [eu, Carone], informou que o deputado Rogério Correia,
junto com Simeão [Simeão Celso de Oliveira, assessor do deputado] e o
Nilton Monteiro tentaram desviar o que era o foco da Lista de Furnas,
introduzindo novos elementos na mesma. E fazendo da mesma divulgação,
autorizando a mim que fosse isso publicado no site.
– Fiquei calado. Deixa eu ler o resto [
pensou]. Esse troço está ficando esquisito.
– Aí, colocou você [
Rogério Correia], o Simeão e o William, advogado [William Santos, da Comissão de Direitos Humanos da OABMG].
– Tem muita coisa, querendo incriminar você. Embaixo está lá assim:
que a sua fonte junto à Justiça Federal e à Polícia Federal é o Álvaro
Souza Cruz [
procurador da República em Minas Gerais], irmão do deputado Sávio Souza Cruz, o Protógenes Queiroz [
delegado licenciado da Polícia Federal e deputado federal (PCdoB-SP), e o
Zampronha [delegado
da Polícia Federal Luís Flávio Zampronha, que investigou o mensalão do
PT e o tucano; depois, como “prêmio” , foi rebaixado de função na PF] .
– Eu publico documentos da Polícia Federal e de processos, eu tenho
fontes lá dentro. Ele queria que eu assinasse que esses documentos me
eram passados pelo Álvaro de Souza Cruz, irmão do Sávio, Protógenes e
Zampronha.
– Agora, você, Durval. Todas as acusações contra o Danilo de Castro
são trazidas pelo Durval Ângelo e quem manda é o prefeito de Visconde do
Rio Branco. Que os documentos da Zona da Mata são enviados pelo PT de
Visconde de Rio Branco, via você.
[
Danilo de Castro,
que já foi deputado federal e presidente da Caixa Econômica Federal no
governo Fernando Henrique Cardoso, é o homem forte do Aécio. Foi
secretário de Governo na gestão Aécio e hoje é secretário de Governo do
Antonio Anastasia, governador de MG pelo PSDB].
[
O prefeito de Visconde do Rio Branco, município da Zona da Mata mineira, é Iran Silva Couri, do PT].
– Eu nem converso com o cara [prefeito Iran Couri]. É inimigo meu,
inimigo político.Eu falei: ‘doutor, isso é maluquice. Esse cara nem
conversa comigo, nós quase saímos no tapa em 2004’.
– Aí vem o pior, o financiamento do site é feito pelo Fernando Pimentel [
petista mineiro, ministro de Indústria e Comércio] através da empresa HAP.
– Consultado, diz que recebeu recursos da Assembleia Legislativa, via
deputado Diniz Pinheiro. O Diniz Pinheiro, que é do lado deles [dos
tucanos], eles estão envolvendo.
[
Diniz Pinheiro é deputado estadual (PP) e presidente da Assembleia Legislativa de Minas]
– Ele [
promotor André Pinho] falou de um rapaz que é da
Polícia Civil, que não guardo o nome. Esse cara da Polícia Civil é do
Sindicato até. Esse cara da Polícia Civil é quem me daria os documentos
da Polícia Civil, principalmente da Corregedoria. Eu nunca ouvi falar o
nome do rapaz…
O jornalista sustenta: tudo isso estava no “depoimento” pronto de
três páginas, datilografadas frente e verso, que o promotor entregou
para ele ler e assinar, como se tivesse feito tais declarações.
“DOUTOR, O SENHOR ME DESCULPA, MAS EU NÃO VOU ASSINAR ISSO AQUI, NÃO” .
Na conversa gravada com os deputados e o representante da OAB na
quarta-feira, o jornalista contou que, em vários momentos, tentou
mostrar ao promotor André Pinho que ele estava enganado.
– Doutor, nesse inquérito – é eu, Nílton Monteiro e o Dino Miraglia – eu já falei…
– Ele olhou pra mim e disse: Dino Miraglia não bancou o idiota, não,
já caiu fora. Falta você cair fora e deixar essa turma ir para o buraco.
Só tem filho da puta.
– Isso, o promotor?! – questiona Rogério Correia.
– O promotor falando comigo, o André Luiz. E se vocês pedirem a fita
do vídeo, vocês vão ver que ele esteve lá falando comigo…na delegacia…
na Nossa Senhora de Fátima.
[
É uma igreja bem perto da delegacia, por isso a população de BH a
chama de Nossa Senhora de Fátima. Foi nesta delegacia que o promotor
foi encontrá-lo. Depois, o jornalista foi transferido para o Ceresp
Gameleira, a penitenciária onde ficou preso inicialmente. Ceresp
significa Centro de Remanejamento do Sistema Prisional]
– Ele falou: ‘não adianta não, cara, você querer proteger, nem nada, vai todo mundo em cana’.
– Eu virei pra ele e disse: ‘o senhor está enganado. Primeiro, porque eu não conheço o Protógenes’.
– Eu sei que você não conhece o Protógenes. O Protógenes é através do Geraldo Elísio [
jornalista Geraldo Elísio, que trabalhou no Novo Jornal] – o promotor disse.
– Mas eu também não conheço o Zampronha…
– O Zampronha era através do Protógenes que veio para você…
– Eu não entendi o que ele falou do Zampronha e do Protógenes… – interrompe Rogério.
– A ligação é em função do mensalão mineiro. Porque eu publiquei a
cópia do inquérito inteiro do mensalão mineiro… O relatório do
Zampronha. E ninguém, segundo eles, tinha esse relatório.
– Aí, o promotor disse: ‘e não adianta você querer sair que nós não
vamos soltar você. Tá aqui a oportunidade de você assinar isso agora e
sair’.
– Eu virei pra ele e disse: ‘doutor, o senhor me desculpa, mas eu não
vou assinar isso aqui, não. Primeiro, porque isso não corresponde à
verdade. E, segundo, eu já sou uma pessoa que já tem 60 anos de idade,
sei o que estou fazendo e sei das minhas responsabilidades do que eu vou
fazer…
– Aí, ele veio com gritaria. Você é isso, aquilo, aquilo outro, tal, tal.
– Ele me esculhambou na frente da minha filha. Ela entrou e ele não percebeu que era ela. Ela inclusive reclamou com o delegado.
– Tinha alguém com você além dele? – pergunta Rogério.
– Não!
– O delegado não estava presente? – insiste Rogério.
– Não. Ele saiu. O delegado só estava presente na hora em que o promotor falou: ‘eu preciso dessa agenda’
Mas a filha, o genro e Hernandes de Alecrim, um dos advogados de
Carone, viram-no com o promotor André Pinho. Haveria também a fita de
vídeo da delegacia Nossa Senhora de Fátima, que poderia mostrar que
André Pinho esteve lá falando com Carone.
Com base no que ainda teria ouvido lá, o jornalista alerta os dois parlamentares e o representante da OAB-MG:
– ‘Eles [tucanos] estão querendo, eles vão por a mão’ no jornalista Leandro Fortes, de
CartaCapital.
– O esquema deles é tentar fazer uma conexão de que tudo nasceu em
Minas Gerais. Inclusive, vários documentos, através do Dino, teriam
chegado ao PT. O Dino seria o intermediário. Eu não sei até onde o Dino
está nisso, não está. Eu não vou fazer falsa acusação contra ninguém.
Mas me assustou esse fato de ele [o promotor] falar comigo que o Dino já
saiu fora. Juntando o fato de ele ter renunciado em todos os processos
meus…
– Eles vão prender o William, vão prender o Simeão. No pedido para o juiz, eu vi, está o nome dos dois.
– Agora, avisa todo mundo: eu sou filho de pai e mãe cassados, vou
morrer, não tem problema. Mas de mim eles não conseguem nada, em
hipótese alguma.
“É cada vez mais nítida a armação dos tucanos, que querem
desqualificar a Lista de Furnas e o mensalão tucano e incluir a
oposição numa fantasia desmoralizante”, conclui Rogério Correia. “Para
limpar a barra do Aécio, vale tudo, até encarcerar um jornalista com
risco de morrer.”
Em tempo.
Na gravação, como já mostramos um pouco atrás, o jornalista disse
aos deputados Rogério Correia e Durval Ângelo e ao representante da
OAB-MG, doutor Vinícius MarciusNonato, que o
promotor André Pinho, o mesmo que o denunciou, não gosta dele por causa de uma matéria que fez com o irmão.
Durval Ângelo: O “promotor André Pinho (foto acima) não tem isenção para atuar no caso, é suspeito”
O irmão chama-se Marco Antônio Garcia de Pinho, é ex-policial. Ele
procurou o deputado Durval Ângelo, presidente da Comissão de Direitos da
ALEMG, duas vezes.
“O irmão contou que o promotor estava passando outros irmãos para
trás numa questão herança, que havia sido vítima de prisão ilegal armada
pelo irmão, que estava usando o cargo de promotor para persegui-lo.
Disse inclusive que nem o pai queria vê-lo”, afirma o parlamentar. “Para
não prevaricar, sem entrar no mérito de quem tinha razão, mandei o caso
para a Corregedoria da Promotoria a fim de que o apurasse ”
“O Marco Antônio procurou também o Carone, que fez uma matéria a
respeito”, acrescenta Durval Ângelo. “O promotor André Pinho não tem
isenção para atuar no caso, é suspeito. Contra ele, aliás, correm três
denúncias no Conselho Nacional do Ministério Público.”
O
Viomundo contatou o Ministério Público de Minas
Gerais para ouvir o promotor sobre essas acusações e a proposta de
delação premiada que teria sido feita ao jornalista Marco Aurélio
Carone. André Pinho, via assessoria de imprensa do MPMG, disse “que não
vai manifestar sobre o caso, pois ele já está judicializado”.
Primeira parte
Identificando as vozes. Aos 40s, o jornalista diz: “Fez um cateter, um ecocardiograma…” No 1min20s, Rogério Correia fala: “O documento que você tem do médico do presídio…” No 1min49s, Durval Ângelo pergunta: “Como é o nome do médico?”
Segunda parte
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