Suponha que você se chama Antonio Palocci. Nasceu no Brasil, em Ribeirão Preto. Cresceu numa família de classe média. Foi aluno regular. Formou-se médico.
Suponha que você preferiu trocar o trabalho como sanitarista pela política. Filiou-se ao PT. Venceu a invisibilidade. Tornou-se prefeito de sua cidade.
Suponha que, em 2002, caminhando por uma rua de Ribeirão, você tropeçou numa lâmpada mágica. Dela saltou um gênio. Disse-lhe que poderia pedir qualquer coisa.
Suponha que você pediu para ser ministro. Queria ajudar a transformar o país. O gênio ajeitou as coisas. Deu-lhe a coordenação da campanha de Lula.
Suponha que Lula virou presidente. Nomeou-o para a pasta da Fazenda. Mais do que você podeira sonhar.
Suponha que você estragou tudo. Levou a Brasília os amigo$ de Ribeirão. Frequentou a mansão brasiliense onde trançanvam-se pernas e negócios.
Suponha que, por um desses azares do destino, um caseiro pilhou-o na mansão. Contou a uma CPI o que viu.
Suponha que você, alvejado por denúncias que misturavam propinas e lixo, quebrou o sigilo bancário da conta que o caseiro mantinha em casa bancária oficial.
Suponha que, no instante em que o mundo caía-lhe sobre a cabeça, o gênio ressurgiu na sua frente. Prontificou-se a atender um segundo desejo. Você pediu a ressurreição.
Suponha que o gênio ajeitou as coisas. Deu-lhe bons advogados. Tirou-lhe os processos do caminho. Fez a cabeça dos ministros do Supremo.
Suponha que você renasceu. Retornou à Câmara. Deputado, relatou os projetos mais importantes. Voltou a frequentar o Alvorada.
Suponha que, numa noite fria e seca de Brasília, o gênio reapareceu em seu gabinete. Ofereceu-lhe um terceiro e último pedido.
E você: “Dinheiro, quero ser rico, desejo comprar um apartamento de milionário no bairro mais chique da capital paulista”.
Suponha que o gênio abespinhou-se: “Quer ser rico?!?!” Você tentou acalmá-lo: “Sim, mas não penso em virar um Eike Batista”.
Suponha que o gênio impacientou-se. “Quer dizer que eu te devolvi uma biografia para isso? Você não precisa de gênios...”
“...Abra uma consultoria, trafique influência, agarre-se a um novo ministério”. Enfiando-se de volta na lâmpada, o gênio balbuciou: “Ora, francamente!”
Suponha que você sabe que o gênio não volta mais. O que fazer? Rezar? Pedir socorro ao Lula? Ou arrepender-se de não ter sido um invisível sanitarista?
Suponha que você se dá conta de que nasceu no Brasil. Um país em que, acima de certo nível de renda, ninguém paga por suas culpas. Você relaxa. E ri da ingenuidade do gênio.