quarta-feira, 22 de maio de 2013

Você sabia que Monteiro Lobado era um racista empedernido?

Ziraldo
Diversão... mas como a cor não pega...
A revista dados, publicação acadêmica editada pelo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipesp-Uerj), resgata na edição 56, a polêmica de 2010, em torno das obras infantis do escritor Monteiro Lobato. Artigo assinado pelos professores João Feres Júnior, Leonardo Fernandes Nascimento e Zena Winona Eisenberg não deixa dúvidas: os contos escritos por ele disseminam preconceito.

Lobato, um influente autor brasileiro do século XX, era racista de perigosa influência nos bancos escolares, consumido com avidez pelas crianças. Porém... “Há evidências suficientes para afirmar que (...) Monteiro Lobato era de fato racista (...) foi membro da Sociedade Eugênica de São Paulo e amigo pessoal de expoentes da eugenia no Brasil, como os médicos Renato Kehl (1889-1974) e Arthur Neiva (1880-1943). Uma carta escrita por Lobato a Neiva, em 1928, desmancha dúvidas dos mais intransigentes. Eis um trecho dela, conforme o original: “Paiz de mestiços onde o branco não tem força para organizar uma Kux-Klan, é paiz perdido para altos destinos. André Siegfried resume numa phrase as duas attitudes. ‘Nós defendemos o front da raça branca – diz o Sul – e é graças a nós que os Estados Unidos não se tornaram um segundo Brazil’. Um dia se fará justiça ao Klux Klan (...) que mantem o negro no seu lugar”.

O estudo não foi provocado pela passagem do 125º aniversário do 13 de maio e, sim, pela controvérsia de 2010, que envolveu diretamente o Ministério da Educação a partir, especificamente, do livro Caçadas de Pedrinho, que contém trechos como este: “Tia Nastácia, esquecida dos seus numerosos reumatismos, trepou que nem uma macaca de carvão pelo mastro de São Pedro acima, com tal agilidade que parecia nunca ter feito outra coisa na vida...”; ou este outro: “Não vai escapar ninguém, nem tia Nastácia, que tem carne preta”. 

O MEC tem o livro no catálogo do Programa Nacional Biblioteca na Escola. Anotam os autores que, no livro Reinações de Narizinho, Nastácia é chamada “negra de estimação” e Lobato se refere a ela “56 vezes usando o termo a negra”. No confronto, a imprensa, segundo os autores, “assumiu uma postura normativa e militante” com uma forte tendência a “atribuir a responsabilidade” diretamente à “linha ideológica do PT”.
O tema, como é comum no Brasil, acabou carnavalizado. Um tradicional bloco de foliões da zona sul carioca desfilou, inclusive, de camiseta ilustrada com desenho conciliador do cartunista mineiro Ziraldo. Reações inúteis. Lobato não poderia escrever sem o peso da crença no aprimoramento genético por meio de cruzamentos seletivos em que acreditava.

Vetar a publicação? Nunca. Os pais têm o direito de comprar as obras do autor e, com elas, presentear os filhos. Pelo aniversário ou por qualquer outra razão.

Mas o poder público não pode propagar a visão racista de Monteiro Lobato.

http://www.cartacapital.com.br/revista/749/monteiro-lobato-racista-empedernido

Minaçu, a cidade que respira o amianto



Uma das últimas minas do material cancerígeno do mundo está prestes a fechar caso a Justiça proíba a exploração do mineral no País

Albertino de Oliveira é um homem acabado. Ele viu morreu sete familiares ao longo dos dez últimos anos. "(Morreram) Minha mulher, meu pai, um irmão, três tios, um primo", conta o senhor de cabelo branco de 54 anos. Os parentes tinham algo em comum: todos eram funcionários da mina de amianto de Minaçu, no interior de Goiás.

Na sua mão, Oliveira segura a lista de cerca de 30 pessoas que sofrem de mesotelioma ou que tenham manchas na pleura. Doenças típicas dos trabalhadores do amianto. Ao lado de alguns nomes, Oliveira escreve a letra "F", por falecido. De 1973 a 1988, ele mesmo trabalhou na mina, no ensacamento da fibra.
"Quinze anos trabalhando numa nuvem de poeira com pedaços de algodão no nariz como única proteção", diz. Ele ainda não está doente, mas pede indenização. “Para aqueles que comeram fibra durante anos e que estão morrendo sem um olhar".

Albertino já calculou: nos próximos anos, cerca de  500 pessoas desenvolverão alguma doença diretamente ligada ao amianto, entre eles ex-funcionários da mina e moradores da cidade que até 1987 viviam cercados pela poeira. "Você passava o dedo em qualquer carro na rua, ele ficava inteiramente branco de tanta poeira que tinha".



Na cidade do estado de Goiás, a 400 km ao norte de Brasília, os ex funcionários não têm voz. Alguns receberam uma indenização, outros estão tentando anos depois de terem deixado a empresa sem serem reconhecidos como doentes ocupacionais. Dono da mina, a Sama, propriedade da Eternit, consegue, quase sempre, acordos extrajudiciais com as vítimas para não ser citada em eventuais ações penais.

A Sama afirma que desde 1980, nenhum funcionário contraiu qualquer doença. Para aqueles que entraram na empresa antes de 1980, a Sama joga a responsabilidade sobre a Saint Gobain, principal acionista da Sama até os anos 70. Durante quatro décadas, o grupo francês explorou no estado vizinho da Bahia a mina de São Felix, em Poções. Em 1967, a descoberta de uma gigantesca fonte de amianto em Minaçu levou ao fechamento da mina baiana. A empresa foi deslocada e a maioria dos mineiros seguiu para Minaçu, distante de 1.200 quilômetros da área. De acordo com a Sama, a maior parte das vitimas foi contaminada na antiga mina.



Em Minaçu, criticar o amianto é colocar em perigo o único empregador da cidade. A cidade é o lar de 30 mil moradores. Nasceu com o amianto e sumirá junto com ele. Cerca de 70% dos impostos arrecadados pelo município vinham da atividade mineira. Com um total de 300 mil toneladas extraídas todo ano, é a terceira maior mina de amianto crisotila do planeta depois da Rússia (a maior do mundo) e do Canadá. E a única ainda em atividade no continente latino americano. Nada menos do que 13 % de todo o amianto vendido no mundo sai de Minaçu.

Para a Sama, o amianto não é perigoso. Não quando manipulado com precaução, diz. No inicio dos anos 80, a empresa começou a limitar o contato dos trabalhadores com a poeira do amianto. Enormes filtros de ar foram instalados. Os funcionários foram obrigados a trabalhar com máscaras e as roupas de trabalho, lavadas internamente apos o término de cada turno. Enquanto isso, os poços de extração do mineral começaram a receber grandes volumes de água jogados por caminhões para evitar poeira.

Para Fernanda Giannasi, presidente da Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (Abrea), o futuro de Minaçu é emblemático. "A Sama fala de "fibras inaláveis de crisotila" enquanto o nível de fibras no ar atinge 0,1 fibra/cm3. Porem, não existe um nível seguro a partir do qual a amianto deixa de ser mortal. Este argumento enganoso é a ultima bala no fuzil daqueles que sabem que os belos dias do amianto estão contados".



Adelman Araujo, presidente do sindicato dos trabalhadores do amianto de Minaçu, reconhece que a amianto causa câncer, mas ele nega qualquer caso de contaminação na cidade. "Sobre as 16 mil pessoas que já trabalharam na mina desde a abertura, em 1967, apenas 2% têm doenças ligadas ao manejo do amianto. Minaçu não é uma cidade cancerígena".

No número 396 da rua 13, porém, o câncer já fez a sua vítima em uma pequena humilde casa queimada pelo sol forte da tarde. Maria de Lourdes abre o portão, se refugia na sombra e limpa o suor que cobre o seu rosto cansado. Numa das paredes, a fotografia do marido, Claudivino, que faleceu em 2002 aos 56 anos. Um mesotelioma o levou depois de sofrer com dores insuportáveis. De 1977 a 1990, ele trabalhou na mina. Um dia uma tosse forte o atacou. “À noite, quando ele voltava do serviço, cuspia sangue sem parar”, conta Maria de Lourdes.

Ele tinha tanta dor nos pulmões que até beber água era um suplicio. “Eu sabia que esta pedra tinha algo de errado. Eles esconderam da gente que o amianto matava”.
A Sama nunca reconheceu a sua responsabilidade na morte do ex-funcionário. A viúva nunca recebeu indenização. Nem teve acesso à necropsia do marido. No atestado de óbito, os médicos da Sama descreveram uma saúde frágil por causa do uso excessivo do álcool. “Claudivino nunca bebeu uma gota de álcool”, diz Maria de Lourdes.

Casos iguais a este são contados às dezenas em Minaçu. Alguns ingressaram na mina antes de 1980; outros, depois da data.

A posição oficial da mina e dos defensores do amianto está baseada num estudo epidemiológico conduzido por duas das universidades mais reputadas do país, a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade de Campinas (Unicamp). Em um documento intitulado “Exposição ambiental ao Abesto: avaliação do risco e efeitos na saúde”, os pesquisadores concluíram a ausência de qualquer risco para a saúde enquanto os níveis de contato com o amianto seguem controlados. Problema: este estudo foi financiado pelo Instituto Brasileiro da crisotila, que defende o uso do amianto no Brasil. Segundo um documento lançado em agosto de 2012 pelo Ministério da Saúde, 2400 pessoas já morreram devido a doenças ligadas ao amianto entre 2000 e 2010. “A tendência é a elevação rápida do numero de casos nos próximos anos”, concluía o estudo.
Minaçu, “a grande mina” em língua tupi guarani, pode, no entanto, estar com os dias contados. Já interditado em 5 estados do País, a amianto pode ser banido do território nacional. Há alguns meses, o Tribunal Superior Federal examina a proibição total de um mineral hoje presente em nada menos que 3000 produtos industriais.

Seria uma catástrofe para Minaçu.

A mina possui hoje 800 funcionários e 400 prestadores de serviços. Segundo Adelman Araujo, “isso representa 5500 empregos induzidos que são a sobrevivência de 20 000 pessoas. Se a mina fechar, 70 % dos moradores fugirão da cidade”.

Em frente à sua casa, Albertino abaixa-se para pegar um pedaço de asfalto amolecido pelo calor. “Aqui, a gente pisa no amianto”, brinca ela ao mostrar a fibra branca misturada ao piche. A rua que fui recentemente reformada pela prefeitura é formada por rochas derivadas da mina.

Em Minaçu, o caminho para o inferno está pavimentado de boas intenções.

http://www.cartacapital.com.br/sustentabilidade/minacu-a-cidade-que-respira-o-amianto-8717.html/view

Deputado Garotinho desafia globo e seus diretores de não terem moral de falar mal de ninguém


Elite sonegadora reclama, mas paga menos impostos do que cidadão dos E.U.A


Os assaltantes

 

Os queixosos contribuintes brasileiros, apoiados pela "grande" imprensa, deveriam mirar-se no exemplo da França, da Alemanha, da Suécia... Até dos EUA

Alguns ingratos brasileiros consideram impiedosamente que a chamada “grande” imprensa e a tevê nacional são afetadas pela ausência de pluralismo e por atitudes de descriminação racial. Em particular, os três principais jornais do País expressariam exclusivamente “um pensamento de direita”, ou seja, conservador ou reacionário.

Este colunista não pode deixar de compartilhar as perplexidades de tais minorias inquietas. De fato, encontro dificuldade em adquirir informação imparcial sobre a realidade nacional através das principais mídias, as quais tendem à exaltação de notícias que interessam aos próprios donos e chegam ao obscurantismo de censurar as que são incômodas à categoria. Mas, ao contrário dos detratores indômitos, devo confessar sincero reconhecimento ao maior jornal do Rio de Janeiro, por ser fonte inesgotável de inspiração para as minhas colunas quinzenais.

Em temporada de declaração de renda, por exemplo, ouvir em bares e botequins conversas estapafúrdias sobre a insuportável carga do Fisco, é quase normal no mundo inteiro. Em geral, para os alterados fregueses, sejam alemães ou argentinos, o Fisco pior é sempre o próprio. Mas no Brasil constatamos maior originalidade: é possível ler comentários similares na “grande” imprensa. É o que me aconteceu dias atrás ao folhear O Globo: uma ampla crônica escrita por badalada comentarista foi dedicada a descrever o “desgosto” por ter de declarar o Imposto de Renda, descrito, com riqueza de detalhes, como “pior que um assalto”. Depois de minuciosos paralelos com bandidagem comum e agudas descrições psicossomáticas da “violência que praticamos contra nós mesmos” ao preencher o IR, chega-se às inevitáveis queixas sobre os péssimos serviços e as roubalheiras públicas (neste aspeto, concordamos, é óbvio). As conclusões da crônica, não particularmente originais, são que no Brasil se pagam “impostos suecos por serviços dignos do Afeganistão”. Com toda franqueza, fosse eu afegão, ficaria ofendido, mas, como observador internacional, limito-me a algumas observações críticas sobre o que li.

Difundir na opinião pública ideias e sentimentos tão radicalmente hostis ao difícil dever cívico de pagar impostos é fato muito grave em si, em qualquer parte do mundo, e prescinde de qualquer atenuante: estimula egoísmo e incivilidade. Tal atitude é, sobretudo, lastimável da parte de quem pertence à classe privilegiada brasileira, ou seja, aquela que paga menos impostos do que os outros.

A carga tributária, ou seja, a relação porcentual entre o somatório de todos os impostos e a riqueza produzida por um país, é no Brasil muito menor que em outras economias de destaque. Em 2012, foi de 36%, mas na Europa tal relação transita hoje tranquilamente acima de 40%, tocando 45% na França e 46% na Alemanha, até chegar a 55% no caso da Suécia, citada pelo O Globo na ridícula comparação com o Brasil. Na potência econômica onde aparentemente se pagam menos impostos, os EUA, com  carga tributária de 28%, é preciso aperfeiçoar a análise para evidenciar outro dado importante: a contribuição fiscal per capita. Assim, se constatará que cada cidadão americano paga, em média, 13.550 dólares de impostos ao ano,  quando o brasileiro se limita a 4.000.

É notório, enfim, que a taxação progressiva e direta constitui elemento de equidade democrática e redistribuição de renda. O Brasil, ao contrário, é um dos países com os impostos mais regressivos do mundo, ou seja, onde os pobres, através dos prevalentes impostos indiretos (no consumo e produção), pagam muito mais do que os ricos. Qualquer jornalista de média cultura deveria conhecer essa realidade e o fato de ignorá-la explica-se só com grande ignorância ou profundo preconceito. No caso dos donos do poder, não: trata-se de pura má-fé.

O Estado brasileiro é patentemente refém desses patrões, que, controlando o  Parlamento, impedem qualquer reforma fiscal mais equilibrada e democratizante. Como se sabe, o destinatário dos impostos é o Estado e não o governo vigente, como a comentarista carioca afirma levianamente. Parafraseando-a, vem espontâneo o comentário de que certos brasileiros pretenderiam serviços públicos franceses pagando impostos de república bananeira.

Então, fique claro: os verdadeiros assaltantes do bem-estar social são os ricos, em prejuízo dos pobres. 

http://www.cartacapital.com.br/revista/749/os-assaltantes

O Estadão, a democracia e a ditadura midiática

 


A mesma mídia que hoje critica anseios democratizantes das comunicações no Brasil um dia defendeu a importância de “uma política de concessões infensa a coronelismos, complementada por eficaz legislação antitruste” e de “fortalecimento da mídia eletrônica pública”. Esses trechos de editorial do ‘Estadão’, é claro, não foram escritos sob o atual governo petista, mas em 2001, quando FHC estava no comando do país. Por Maria Inês Nassif (que, com este artigo, marca seu retorno à Carta Maior)


Eis o receituário contra “os ‘Big Brothers’ de todas as latitudes”, e para evitar o perigo à democracia que a “TV lixo”, aquela que é “um brevê contra a inteligência e o senso crítico dos espectadores”, pode representar em qualquer parte do país: “De um lado, uma política de concessões infensa a coronelismos, complementada por eficaz legislação antitruste, de defesa do consumidor e da concorrência, contra a exacerbação predatória da lei do mais forte no mercado da indústria de informação”; “de outro, o fortalecimento da mídia eletrônica pública, independente tanto do Estado quanto da área privada e, mais ainda, protegida do espúrio contubérnio entre ambos, que gera a ‘ditadura midiática’, na Itália, na Bahia – e em qualquer lugar do planeta.”

Não se trata, leitor, de nenhum texto inspirado na 1ª Conferência Nacional de Comunicação, ocorrida em dezembro de 2009, em Brasília, que discutiu diretrizes, no âmbito da sociedade civil, para a regularização da mídia – aquela conferência que a direita tratou como uma tentativa tomada de poder do governo petista de Luiz Inácio Lula da Silva, via organizações populares. Não, não é nenhuma peça subversiva e nenhuma ofensiva ao status quo da mídia brasileira. É a conclusão de um editorial do conservador jornal “O Estado de S. Paulo”, intitulado “Democracia e ‘ditadura midiática’” e publicado numa nobre edição do domingo, dia 10 de junho de 2001.

Naquela época, todavia, o presidente do Brasil era Fernando Henrique Cardoso; o presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães, havia renunciado ao mandato de senador, depois de ter fraudado uma votação em plenário, e estava então em rota de colisão com FHC, a quem servira desde o início do mandato; e o poder econômico da mídia ainda não havia feito um pacto de não agressão contra um inimigo maior, um governo de esquerda que enterrou duas gestões tucanas que consolidaram no país o receituário conservador, político e econômico, que grassava no mundo, sob o disfarce de modernidade.

ACM, segundo o editorial, era o espécime mais bem acabado do “coronelismo eletrônico que grassava pelo país, em particular nos Estados do Nordeste: o produto político da associação com “o principal conglomerado de emissoras de TV” com os interesses de grupos políticos. Usando da associação com esse conglomerado e da “fidelidade irrestrita à ordem ditatorial”, o senador baiano construiu um “virtual monopólio de mídia e de acesso a verbas publicitárias particulares e públicas [na Bahia], a começar do próprio governo estadual e da prefeitura de Salvador, sob suas asas”.

No momento em que ACM caía no Brasil, na Itália ascendia novamente ao poder Silvio Berlusconi – que chegara a premiê em março de 1994 usando o poder econômico e um império de mídia eletrônica, renunciou em 1994 e chegava novamente ao cargo pelos mesmos recursos, exercitando o que o presidente da segunda emissora de TV italiana, Carlo Freccero, seu colaborador por mais de 20 anos, designava como “ditadura midiática” em um entrevista concedida na semana anterior ao editorial ao semanário francês “L’Express”.

O ex-colaborador do premiê italiano, diz o editorial do Estadão, “sabe perfeitamente como a hegemonia inconstrastável de um grupo de mídia sobre o conjunto do setor [grifo nosso] pode ´lobotomizar´ toda uma Nação, em proveito dos amigos políticos de seus colaboradores”.

“Se um país civilizado como a Itália pode tornar-se refém de um dublê de um czar da mídia e de autoridade governamental, não são necessários grandes voos de imaginação para prever o perigo que a “TV lixo”, como diz Frecero (...) pode representar em outras paragens”.

A associação do “principal conglomerado nacional” – assim o editorial se refere à Rede Globo – a interesses políticos variados apenas pode resultar em grande poder político e econômico, concluiu o Estadão, ao analisar o caso ACM no Brasil e antes de lembrar o caminho trilhado por Berlusconi para chegar ao poder na Itália.

O editorial lembra a resposta dada pelo senador baiano ao repórter, sobre o que faria depois de sua renúncia. ‘“Gostaria de dirigir a Globo”, respondeu, risonho’, relata o texto do jornal. “Pode-se julgar como se queira a sua longa trajetória na vida pública nacional e no seu estilo de atuação. Mas nunca, em sã consciência, alguém lhe fará a injustiça de desconsiderar o seu faro extremamente privilegiado para as fontes e os mecanismos de exercício do poder”, conclui.

“Graças a esse dom, ele foi um dos primeiros políticos brasileiros, na passagem dos anos 60 e 70, a perceber a importância decisiva que teria o controle da mídia eletrônica para a conquista de apoio popular, a consolidação das posições de mando alcançadas e o uso da influência pessoal, assim amplificada, para o comércio de favores – o que, por sua vez, asseguraria a reprodução do cacife político já amealhado”, analisa o editorial, à luz da trajetória política e da sua construção como empresário da mídia baiana, sob o abrigo e em associação com a maior rede nacional de televisão.

Ele e Sarney entenderam isso, ele na Bahia e Sarney no Maranhão. Juntos, Sarney como presidente, ACM como seu ministro das Comunicações e, ambos, associados à “maior rede nacional”, mantiveram-se, daí como mandatários, o “coronelismo eletrônico”, mesmo depois da redemocratização do país. “Ministro das Comunicações do presidente José Sarney e tão ligado como ele à maior rede nacional, ACM fez da outorga de concessões de emissoras de rádio e TV o instrumento por excelência de seu ‘coronelismo eletrônico’, na apropriada expressão do editorial de domingo passado do Jornal da Tarde”, continua o jornal, em sua sessão de Opinião. É ele quem diz.

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* Colaboraram os estagiários Caio Luiz Junqueira Hornstein, Roberto Campos Brilhante e Rodrigo Giordano Stella