sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Preso suspeito do assassinato da juíza Patrícia Acioli

                           

Preso suspeito do assassinato da juíza Patrícia AcioliFoto: Divulgação

 

Sete dias depois do crime, Polícia Militar confirma ter suspeito sob custódia. Na Igreja do Carmo, missa reúne cerca de cem pessoas


Por Agência Estado

19 de Agosto de 2011 às 16:12

Agência Estado
247 com Agência Estado - Uma missa em homenagem à juíza Patrícia Acioli, assassinada com 21 tiros na madrugada do último dia 12 em Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro, foi celebrada na Igreja do Carmo, nexta sexta-feira. A cerimônia religiosa, organizada a pedido de colegas de faculdade de Patrícia, reuniu pelo menos cem pessoas no centro do Rio, uma semana depois do crime. Patrícia foi morta na porta de sua casa.

Também nesta sexta, a Polícia Militar do Rio de Jsneiro confirmou que o chefe do tráfico no morro Menino de Deus, em São Gonçalo, está sob custódia como suspeito do crime. Alex Sandro da Costa Silva, conhecido como Alex Orelhinha, foi preso no bairro de Trindade na madrugada do próprio crime por policiais do serviço reservado do 7º Batalhão da Polícia Militar, mas só agora sua condição de suspeito foi confirmada. O traficante era foragido e fora visto perto do condomínio onde a juíza morava dias antes do assassinato. Havia um mandado de prisão contra ele por homicídio.
Encarregada das investigações, que estão sob segredo de justiça, a Divisão de Homicídios da Polícia Civil não comentou a prisão de Alex Orelhinha.

Depois da morte de Patrícia, vários juízes questionam os critérios da Diretoria-geral de Segurança Institucional (DGSEI) do Tribunal de Justiça do Rio para conceder escolta policial. A juíza titular da 40ª Vara Criminal da Capital do Tribunal de Justiça do Rio e integrante da Comissão de Direitos Humanos da Associação dos Magistrados Brasileiros, Renata Gil de Alcântara Videira, apontou que falta transparência nos critérios para conceder proteção aos magistrados.

Circo Brasil: Tiririca assina a CPI da Corrupção

                       
Circo Brasil: Tiririca assina a CPI da Corrupção

Foto: DIDA SAMPAIO/Agência Estado

Na semana em que o PR deixou a base de sustentação do governo Dilma, o deputado mais votado do Brasil colocou sua assinatura no requerimento para investigar desmandos em Brasília; será que ele quer ver o circo pegar fogo?


19 de Agosto de 2011 às 18:07

247 – Nesta semana, o PR debochou do governo Dilma Rousseff. Na manhã de hoje, a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti foi pedir a volta do partido – alvo da “faxina” no ministério dos Transportes – à base de sustentação do governo. O líder da bancada, Lincoln Portela, fez troça. Saiu dizendo que precisaria consultar a militância do partido. Ideli só procurou o parlamentar porque ameaças veladas chegaram ao Planalto. Por intermédio do publicitário Marcos Valério de Souza, réu de primeira grandeza do Mensalão, soube-se que o parlamentar Valdemar Costa Neto, homem forte do PR, estava insatisfeito. “Cuidem bem do Valdemar”, disse Valério a vários interlocutores.

Aparentemente, não cuidaram tão bem assim. E o PR acaba de escalar seu deputado mais votado – que, por sinal, é também o mais votado do Brasil – para assinar o requerimento da CPI da Corrupção. Sim, ele mesmo, o ex-palhaço Tiririca.

Deputado federal mais votado do Brasil, o parlamentar vinha até agora acompanhando o governo na maioria das votações. Nesta semana, fez parte de uma comitiva de parlamentares ligados à cultura e visitou a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, no Palácio do Planalto. A assessoria do parlamentar não conseguiu localizá-lo hoje para falar sobre o tema. A informação de que o deputado assinou o requerimento está no site lançado pela oposição para divulgar informações sobre a CPI: http://cpidacorrupcao.blogspot.com/.

O deputado não foi o único de seu partido a apoiar a investigação após o afastamento da base. Além dele, outros treze deputados do PR assinaram o requerimento. No Senado, nenhum dos seis senadores apoiou a iniciativa, que teria como um dos focos justamente investigar a gestão do PR na pasta dos Transportes.

Cabral contrata amigo em caráter de emergência

Cabral contrata amigo em caráter de emergência

Cabral contrata amigo em caráter de emergênciaFoto: WILTON JUNIOR/AGÊNCIA ESTADO

GOVERNADOR DO RIO FECHA CONTRATOS DE R$ 37,6 MILHÕES COM A DELTA ENGENHARIA, DE FERNANDO CAVENDISH, DOIS MESES APÓS A REVELAÇÃO DE QUE ELE VOAVA NO JATO DO EMPRESÁRIO

19 de Agosto de 2011 às 14:27
247 – O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, voltou a contratar a Delta Engenharia, do seu amigo e empresário Fernando Cavendish. Dois meses atrás, soube-se que Cabral voava com frequência no jatinho particular de Cavendish. Leia, abaixo, reportagem publicada pelo jornal Estado de S. Paulo:
Exatamente dois meses após o acidente de helicóptero no litoral da Bahia que tornou pública a proximidade entre o governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB), e o empresário Fernando Cavendish, dono da Delta Construções, a administração estadual fluminense voltou a firmar com a empreiteira contratos emergenciais, com dispensa de licitação.
A edição de anteontem do Diário Oficial fluminense publicou a formalização de oito acordos que totalizam R$ 37,6 milhões. Os valores devem ser usados em obras consideradas emergenciais em cinco municípios da região metropolitana e do interior do Estado: Cachoeira de Macacu, Itaboraí, Rio Bonito, São Gonçalo e Seropédica.
Os contratos foram assinados pela Secretaria de Estado de Obras, cujo responsável é Luiz Fernando Pezão, que acumula as funções de titular de pasta e vice-governador. Homem de confiança de Cabral, Pezão é apontado como o candidato oficial do PMDB para a sucessão estadual.
Até o acidente de helicóptero, que matou uma nora de Cabral e parentes de Cavendish, no dia 17 de julho, as dispensas de licitação em favor da Delta somavam R$ 58,7 milhões somente este ano. Os R$ 37,6 milhões contratados sem concorrência anteontem representam um incremento de 64% nesta modalidade.
Nos quatro anos e sete meses da gestão do peemedebista, a construtora faturou mais de R$ 1,3 bilhão em contratos com o governo do Estado - sendo R$ 214 milhões em contratos emergenciais. Os dados foram levantados pelo deputado estadual Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB) no Sistema de Administração Financeira para Estados e Municípios (Siafem).
As oito obras da Delta integram um pacote de 18 contratos emergenciais publicados anteontem do Diário Oficial. Outras cinco empresas dividiram os demais contratos.
O objetivo, segundo a Secretaria de Obras, é a conclusão de trabalhos reparação de danos provocados pelas chuvas que afetaram o Estado em janeiro de 2010. Os contratos emergenciais para resolver problemas ocorridos há 17 meses totalizam R$ 96,3 milhões. A Delta vai receberá 39% desse valor.
Entre os oito novos contratos assinados com a empresa de Cavendish, o nº 064/2011 é o de valor mais alto: R$ 12,2 milhões. Os valores serão destinado a São Gonçalo e servirão para a conclusão de “obras emergenciais de serviços de desobstrução e recuperação de corpos hídricos, rede de drenagem, contenção e recuperação de vias urbanas.

Marcos Valério alerta: "Cuidem do Valdemar"


 

Marcos Valério alerta: Foto: DIVULGAÇÃO

RÉU DO MENSALÃO, ELE VEM ALERTANDO GOVERNISTAS SOBRE A NECESSIDADE DE CORTEJAR O SECRETÁRIO-GERAL DO PR, QUE MANDAVA NO MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES; COINCIDÊNCIA OU NÃO, IDELI SALVATTI SE REUNIU COM O LÍDER DO PARTIDO NESTA SEXTA-FEIRA

19 de Agosto de 2011 às 14:35
247 - “Cuidem do Valdemar”. A frase está na ponta da língua do publicitário Marcos Valério e vem sendo dita a vários interlocutores governistas nos últimos dias. Valério, réu do Mensalão, refere-se ao deputado federal e secretário-geral do Partido da República (PR), Valdemar Costa Neto, outro réu pelo esquema e o grande líder oculto do partido, que deixou a base do governo recentemente. Coincidência ou não, a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, esteve nesta sexta-feira com o deputado Lincoln Portela, líder do PR na Câmara e braço-direito de Valdemar (saiba mais sobre ele aqui), para tentar convencer a bancada a retornar à base aliada. E o tom de desdém com que Portela deixou a reunião com uma ministra de Estado, dizendo que precisaria consultar as bases, dá uma amostra da força política do secretário-geral do PR. Ah, a base que Portela precisa consultar se chama Valdemar.
O líder do PR na Câmara tenta minimizar publicamente a força do secretário-geral no partido, mas admitiu recentemente que “é notório que Valdemar tem influência”. O governo apostou que o processo de “limpeza” conduzido no Ministério dos Transportes – onde Valdemar operava enquanto o senador Alfredo Nascimento foi ministro – mudaria o eixo de poder dentro do PR, passando-o das mãos de Valdemar para as de outras lideranças.
O fato de o secretário-geral permanecer no comando é uma indicação de que o homem que precisa ser agradado no partido ainda é Valdemar. A pergunta é: por que Valdemar precisa ser agradado? Ressentido pela queda de Nascimento, o deputado é o líder da rebelião e articulador da posição de “independência” assumida pelo partido na última semana.
É no mínimo contraditório, contudo, que um governo que acabou de demitir mais de 20 funcionários envolvidos em suspeitas de corrupção corteje o partido mais prejudicado pela “faxina” no Ministério dos Transportes. Partido esse que, ao deixar a base, pôs à disposição seus cargos. Se a presença na base tem como grande moeda de troca a concessão de cargos, como o PR voltaria a apoiar o governo sem receber novos postos? A questão também é válida do outro ponto de vista: como o governo poderia entregar novos cargos ao PR depois da faxina?
O recado de Marcos Valério é claro. Valdemar precisa ser cortejado, e não apenas para garantir a maioria do governo no Congresso Nacional – afinal, o PSD de Gilberto Kassab já está chegando para ocupar esse espaço com seus mais de 40 deputados. A nota ruim para a presidente Dilma Rousseff é que, agora, ela deve perder tanto se tentar agradar Valdemar -- e botar em cheque a “faxina” -- quanto se não tentar -- e negar tudo que foi feito até agora.
RICARDO FELTRIN
EDITOR E COLUNISTA DO F5
Em conversas reservadas esta semana, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, se disse perplexo e "revoltado" com o que considerou "cacetada da Globo". Para o dirigente, a reportagem do "JN" exibida no último sábado foi "uma porrada" e "pesada demais", nas palavras de Teixeira. O F5 teve acesso ao desabafo do dirigente por meio de pessoa próxima, que fez o relato sob a condição de anonimato.

No último dia 13, o "JN" utilizou três minutos para falar das investigações sobre supostas irregularidades em contrato da seleção brasileira para a realização de um amistoso ( Brasil 6 x 2 Portugal, em 2008). Foi a primeira vez que o telejornal da Globo entrou nas denúncias contra o comandante da CBF e até então um aliado histórico da emissora.
Aos amigos, Teixeira se disse traído por Marcelo Campos Pinto, diretor da Globo Esportes. Segundo informação exclusiva publicada ontem no F5 , aliados de Teixeira ameaçam retaliar divulgando gravações de diálogos supostamente comprometedores de Campos Pinto, durante negociações feitas quando a Globo ainda tinha portas abertas na CBF.
"Eles soltam esse tal princípio editorial para me dar a cacetada?", desabafou Teixeira, vinculando o "ataque" sofrido à carta de princípios divulgada por todos os veículos das Organizações Globo, no último dia 6. O documento reafirma posições da Globo a respeito de isenção, correção jornalística etc. Sete dias depois do manifesto, veio a reportagem do "JN". Nesse mesmo dia também houve protesto na av. Paulista pedindo investigações sobre as denúncias e a saída de Teixeira da CBF.
Procurada, a Confederação não se manifestou. A emissora não quis manifestar por considerar que "só há suposição" (das gravações)
Eduardo Knapp/Folhapress
Para Teixeira, a "traição" é maior porque Campos Pinto lhe pediu pessoalmente ajuda para a Globo solapar as pretensões da Record, que tentava lhe tirar a exclusividade de transmissão do Campeonato Brasileir. A Globo derrotou a Record, mas graças ao apoio da CBF.
Bola da Fortuna
Só em publicidade e outros contratos relacionados ao futebol, na Globo movimenta cerca de R$ 1 bilhão por ano. Como manobrou para implodir o Clube dos 13, a emissora teve de negociar individualmente com os times a realização dos próximos campeonatos. Estima-se que, só para cobrir o que gastou nessa guerra, a Globo Esportes terá de faturar cerca de R$ 840 milhões em 2012. O contrato dá direito à Globo de explorar o futebol também em outras mídias, como internet, tablets e celulares.
No ano passado, a Globo faturou com o futebol, tirando jogos da seleção, R$ 616 milhões em cotas de patrocínio, segundo informação da coluna Radar On-line, de Lauro Jardim.
Apesar do grande faturamento, o futebol não é mais lucrativo como no passado para a Globo.
Histórico de guerras
Além da briga com a Globo, Teixeira vem sendo alvo da TV Record, empresa que o detesta e lhe declarou guerra por causa do "imbróglio" do Clube dos 13. C13 e a Record estavam associados e a emissora já dava como certa a vitória na licitação pelo Brasileiro. Só que a Globo conspirou nos bastidores com auxílio da CBF e acabou com as pretensões da TV de Edir Macedo.
Quando o processo licitatório foi finalmente aberto pelo C13, Corinthians e Flamengo já estavam fechados com Globo, a Record teve de desistir sem apresentar proposta. Aproveitando uma brecha, a RedeTV! então surgiu (do nada) e ofereceu R$ 1,5 bilhão pelos direitos. Só que a proposta da RedeTV! estava vinculada a uma série de outras "condições", de forma que, dinheiro propriamente dito, concreto, quase não havia nessa proposta. Acabou descartada por todos os clubes.
O fato é que Ricardo Terra Teixeira, 64, aparentemente não contava com a reação da Globo, após sua entrevista à revista "Piauí" --entrevista que agora ele considera "um erro".
Na entrevista, o dirigente humilhou emissora, portais e jornalistas, e chegou a dizer "Caguei um montão", a respeito das denúncias que vinha sendo alvo, uma vez que era poupado de ataques na Globo e, em especial, no "Jornal Nacional". Dias depois, a Globo divulgou a lista de "princípios editoriais".
O F5 procurou a assessoria da CBF e da Globo. Ninguém quis se manifestar.
Ricardo Feltrin, 48, é jornalista desde 1991, ano em que cursou a 9ª turma de Trainees da Folha. Em passagens pela Folha de S.Paulo, Folha da Tarde, Agora, Folha Online e Folha.com, foi, respectivamente, repórter, redator, colunista, editorialista, editor, editor-chefe e secretário de redação
É editor do projeto F5, novo site de entretenimento da Folha.

Foco de Dilma passa a ser a política

Do Valor


Raymundo Costa e Rosângela Bittar | De Brasília
19/08/2011

Em mais um fim de tarde quente e seco em Brasília, anoitecia quando Wagner Rossi entrou no gabinete do vice-presidente Michel Temer e saiu pouco mais de uma hora depois, na companhia do vice, para entregar a carta de demissão do Ministério da Agricultura. O ambiente era tenso no prédio anexo, mas no Palácio do Planalto nem os assessores mais próximos da presidente Dilma Rousseff sabiam que Rossi estava demissionário. Ainda trabalhavam com a informação de que o ministro permaneceria no cargo e já cuidavam do que chamam de "outra fase" do governo, com "o foco" mais centrado na política.

Sem descuidar da questão econômica, o que, no primeiro semestre, impediu que Dilma desse maior atenção à política. Organizada e disciplinada, a presidente decidiu dedicar-se, de saída, integralmente, a combater a ameaça de retomada da inflação. Esse foi o "foco", para usar a expressão empregada à exaustão entre os assessores mais próximos de Dilma.

"A presidenta e o governo tiveram um foco muito grande, nesses primeiros meses, para a questão econômica, que era o que estava incomodado", contou ao Valor um integrante do grupo de coordenação do governo. "Como é que você vai deixar o país perder uma conquista? Não dava, né?", concluiu o raciocínio, referindo-se ao fim da superinflação, em 1994, e a consequente estabilidade econômica que se seguiu nos últimos 17 anos, oito dos quais sob a gerência do PT, sem contar os sete meses e meio de Dilma.

Nos corredores do terceiro e quarto andares do Palácio do Planalto, onde se situam os gabinetes de Dilma e dos "ministros da casa", há uma convicção: isso teve um preço: a insatisfação da chamada base parlamentar do governo no Congresso, faminta por cargos e pela liberação de emendas ao Orçamento da União. Uma boa notícia aos congressistas: nesta "outra fase" o volume de liberação da verba destinada às emendas vai no mínimo dobrar do que está prometido: R$ 1 bilhão. Mas certamente não alcançará a média histórica de R$ 5 bilhões a R$ 6 bilhões.

A avaliação do núcleo de poder palaciano é que a "presidenta" e o governo fizeram a aposta certa. Os cortes orçamentário de mais de R$ 50 bilhões alimentaram e podem mesmo ser considerados origem da insatisfação da base de sustentação do governo no Congresso. Mas o superávit primário que o governo conseguiu fazer "é que segurou a peteca", segundo um auxiliar que despacha diariamente com Dilma, num dos primeiros compromissos matinais da presidente da República.

Foram medidas muito duras tomadas na economia. A política fiscal como instrumento de combate à inflação teve consequência na vida de todos. "Na vida do governo e nas nossas políticas, e teve consequência também no Congresso, que tem emendas e pleitos interferindo nas questões orçamentárias e de recursos", avalia-se entre ministros de Dilma. Prefeitos também ficaram com menos recursos.

Interlocutor diário da presidente faz o balanço: "Nós ficamos, nos primeiros seis meses, numa dificuldade muito grande de fazer pagamentos (muitos já compromissados, como os chamados restos a pagar do Orçamento), justos e legítimos, como as emendas parlamentares, as liberações para os municípios. Mas não havia outro jeito".

Na ótica palaciana foram os cortes no Orçamento que geraram o descontentamento no Congresso, que passou o semestre em clima de crise mas aprovou o que realmente interessava ao governo. O risco inflacionário está sob controle, no entendimento do governo, mas a presidente continua atenta à crise nos EUA e Europa. Lê tudo o que lhe cai nas mãos e acompanha com atenção jornais especializados como o "Financial Times". "Mas de maneira mais tranquila porque a gente passou o período mais difícil - claro que tem a crise internacional, portanto o governo também não relaxa, mas agora é uma outra fase", testemunha um assessor da presidente.

A interlocução política, em consequência, foi menor porque a energia da presidente e do governo estava "focada" na economia. Mas no governo não se admite que Dilma está inaugurando "uma nova fase", de maneira alguma se trata de "uma nova Dilma" como afirmam políticos e jornalistas. Trata-se apenas de "um novo foco do governo".

Nos gabinetes dilmistas, argumenta-se que as pessoas "fazem conceitos e querem que o conceituado se molde ao conceito feito" e isso não é possível. Dilma foi candidata a presidente da República, quando se dizia que ela era um poste e não tinha cintura política, e se elegeu. "Tem muita disciplina, tem muita responsabilidade", avalia uma amiga da presidente.

Agora, portanto, tem apenas uma "outra fase". Algo que deve ser encarado naturalmente vindo de uma pessoa "extremamente organizada e de uma clareza muito grande na análise das coisas, o que precisa ser conduzido", como disse um ministro em conversa com o Valor. "Uma fase que é de aproximação, da discussão, da interlocução com a política, sem descuidar da questão econômica".

Na verdade, Dilma entrou nessa "outra fase" unindo as duas pontas: nas conversas que teve com os partidos e sindicalistas, nos últimos dias, a presidente fez advertências recorrentes à crise mundial e exigiu de todos responsabilidade nos gastos.

A presidente está particularmente agastada com a nova reivindicação de aumento salarial do Judiciário. É consenso no governo que esse é o tipo de aumento que leva a reajustes em cascata em todas as esferas de poder. É pouco provável que a presidente faça uma reunião com os chefes do Judiciário, como fez com os partidos e está fazendo com as centrais sindicais. Mas deve conversar com os juízes. Resumo da ópera feito por uma voz autorizada: a presidente quer fazer um "pacto republicano em favor do país".

É assim que ela deve também conduzir a interlocução com o Congresso. No Palácio do Planalto se considera uma avaliação pragmática que não há crise com a base aliada e que o PMDB é governo, tem o vice-presidente da República. E que nem o Partido da República (PR) quer sair do governo, como anunciam alguns de seus líderes. O ex-ministro Alfredo Nascimento saiu do Ministério dos Transportes, mas as bancadas mantêm indicações na maquina governamental. O movimento para o desembarque do PR estaria assim reduzido a duas ou três pessoas, se tanto.

As crises que levaram a presidente a perder quatro ministros em menos de oito meses de governo seriam outra demonstração do modo Dilma de ser presidente. Todos tiveram o mesmo tratamento, inclusive o ex-ministro Antonio Palocci, que tentava reconstruir sua carreira política na Casa Civil quando foi abatido pela revelação de que fizera consultorias milionárias quando era deputado federal e integrante da cúpula do comitê de campanha eleitoral da presidente.

Primeiro, a presidente encarrega o ministro enredado numa denúncia a tomar as atitudes necessárias. Isso foi feito com Palocci quando a presidente pediu que ele explicasse publicamente como ganhou tanto dinheiro fazendo consultoria. Quando a revista "Veja" publicou que os contratos do Ministério dos Transportes estavam sendo usados para engordar o caixa do PR, a primeira declaração da presidente foi de apoio ao ministro. Mas no palácio recém reformado ninguém duvida do que houve: Alfredo Nascimento não aguentou o tranco.

O ministro ainda permaneceu uma semana no governo, não fez nada para sanear a Pasta e mandou uma carta de demissão, após esse período. O fato, segundo apurou oValor no PR, é que o partido loteara o ministério por alas que já não se comunicavam. Nascimento, por exemplo, não tinha como demitir o chefe do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) sem brigar com o senador Blairo Maggi (MT), outro expoente da sigla.

O caso de Wagner Rossi talvez tenha sido diferente porque o PMDB fechou e deu sustentação ao ministro da Agricultura. Do ponto de vista do Palácio do Planalto, ele também estava tomando providências com as quais Dilma estava se declarando satisfeita. Tanto que lamentou o pedido de demissão do auxiliar, carta recebida no anoitecer da quarta-feira já referida, logo depois que ela voltou da Marcha das Margaridas, manifestação contra a violência a trabalhadoras rurais. É possível que a presidente não esperasse pela demissão do ministro, naquele entardecer, quase noite. Mas sem dúvida estava com a cabeça na crise do ministério: ao falar às "Margaridas", Dilma referiu-se ao governador de Brasília, Agnelo Queiróz (PT), como "Agnelo Rossi".

O procedimento é o mesmo em relação ao ministro Pedro Novais (Turismo), também do PMDB e sob o fogo cruzado de denúncias de corrupção em seu ministério. Além disso, no Palácio do Planalto costuma-se atenuar o que é dito sobre Novais com o argumento de que ele é "cristão novo", chegou agora e, a bem da verdade, nada tem a ver com as acusações feitas, até agora. Se pode ser acusado de alguma coisa é de "omissão", pois, de fato, teve conhecimento das denúncias. Coisa de um mês antes. Mas por outro lado estava tomando providências junto com a ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil). Vários convênios foram cancelados e portarias editadas para melhorar a gestão.

Curioso: além de comentários e informações recebidas (mas não investigadas e comprovadas), o governo não tem um sistema de informação que o leve a se antecipar às denúncias como aquelas feitas aos ministros dos Transportes, da Agricultura e, agora, do Turismo. Mas no núcleo do governo acompanha-se muito de perto os trabalhos da Controladoria Geral da União. A Polícia Federal não antecipa suas operações. Dilma e seus auxiliares dizem que é melhor que seja assim, "porque nós passamos muito tempo nesse país com o poder de polícia acoplado à política. E nós sabemos o que aconteceu", explicou um auxiliar.

O que a presidente condena são os "excessos" da PF, como exibir presos algemados para as câmaras de TV. E há quem ache que, em situações politicamente sensíveis como a "Operação Voucher", que prendeu o secretário-executivo de um ministério, talvez o ministro da Justiça deva ser avisado 24 horas antes. O ministro José Eduardo Cardozo (Justiça), a qual a PF está subordinada, só ficou sabendo da "Voucher" no momento em que ela estava sendo realizada e nada soube informar à presidente, àquela altura às voltas com a ira dos partidos e sem maiores informações. Essa é a verdade dos fatos, de acordo com a versão palaciana que os partidos têm dificuldade para engolir.

Após sete meses e meio, o governo Dilma tenta lidar com naturalidade com a palavra reeleição. Ninguém comenta uma declaração do ministro Paulo Bernardo, segundo a qual o ex-presidente Lula e Dilma, em algum momento, discutirão quem será o candidato. O comentário retirou o caráter automático do pleito à reeleição para quem está no cargo. "A reeleição é absolutamente natural para nós, ponto", é o mantra já entoado, com outras palavras, pela própria Dilma Rousseff.