quarta-feira, 3 de setembro de 2014

EM BUSCA DA RAZÃO NO DEBATE POLÍTICO


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Faltam 32 dias para o primeiro turno. Até lá, estão marcados mais dois debates. Na Record, 28 de setembro. Na Globo, 3 de outubro.
A movimentação de uma parte de aliados de Aécio Neves a favor da desistência da candidatura própria e do voto útil em Marina Silva apenas confirma aquilo que os leitores deste espaço sempre souberam.
As candidaturas do PSDB e do PSB jamais possuíram diferenças fundamentais de programa nem de visão de mundo.

A ideia, através do sacrifício de Aécio, é garantir a derrota de Dilma Rousseff de qualquer maneira, impedir que o eleitor tenha condições de realizar uma reflexão madura sobre as propostas da campanha e realizar uma escolha a partir de informações consistentes e análises racionais.
Do ponto de vista de Aécio e do PSDB, a dúvida é o preço a pagar. Ao curvar-se para a caravana de Marina passar, o PSDB estará fazendo um movimento de autodestruição de sua representação polítíca, processo que, pela dimensão do partido, irá comprometer o futuro de uma bancada com 12 senadores e 53 deputados federais, 8 governadores e 700 prefeitos, além de contaminar os fundamentos do regime democrático.
Em 1960, uma atitude semelhante por parte da UDN levou à adesão a Jânio Quadros e preparou o terreno para o golpe de 1964. Em 1989, a mesma atitude levou a posse de Fernando Collor, ao impeachment e a uma crise política que atravessou uma decada. Nos dois casos, o debate envolvia uma escolha principal, um debate periódico entre as elites brasileiras, o mesma que se coloca agora.

A pergunta era e é: para derrotar um adversário que não se consegue vencer nas urnas — os herdeiros de JK-Jango, em 1960, Lula-Brizola, em 1989 — é razoável optar pela aventura de alto risco, pelo caminho irresponsável?
Vamos combinar que a eleição de 2014 apresenta uma peculiaridade. No início de agosto, quando a campanha se desenvolvia sob condições que se poderia chamar de normais, a candidatura de Aécio encontrava-se em 20%. Eduardo Campos não subia além de 10%. Os números apontavam para uma provável vitória de Dilma, autorizando especulações em torno de uma eventual vitória em 1o turno. A oposição estava desenganada. Salvou-se por um triz, num acidente, extrapolítico e extraeleitoral: a queda do Cessna.
A entrada de Marina Silva mudou a eleição, sabemos todos. Criou um ambiente de avessos ideológicos semelhantes àqueles que permitiram, em 1989, na vitória de Collor, a “falsificação da ira,” como definiu na época o professor Francisco de Oliveira. O mesmo ocorreu em 1960, quando até uma fatia do PCB rompeu com as candidaturas progressistas para aderir a Jânio, o candidato que comia sanduiche de mortadela em comícios para fingir que era pobre. Em 1985, na primeira eleição direta para prefeitos de capital, fez-se uma aposta semelhante. A avenida Paulista, Higienópolis e os Jardins se uniram contra Fernando Henrique e contra Eduardo Suplicy — não havia eleição em dois turnos na época — para ressuscitar Jânio. Após desinfetar a cadeira no dia da vitória, tomou posse usando barba de Abraham Lincoln — era a farsa da farsa, agora como comédia.
Se a democracia se exerce através de partidos, e não a partir de indivíduos providenciais, não custa lembrar o retrospecto preocupante de Marina Silva. Entre 2008 e 2014 ela esteve filiada a quatro partidos, incluindo a Rede, que não conseguiu legalizar. Um recorde de instabilidade. Sobreviveu recebendo o equivalente a R$ 50 000 por palestras para clientes cujo nome não revela por exigência de seus clientes – numa subordinação estranha para quem frequenta círculos tão apegados à cultura anglo-saxã, na qual um comportamento desse tipo pode impedir a nomeação até de uma secretaria de Estado, quanto mais comprometer uma candidatura presidencial. 

Personalidades que nunca foram testadas nas urnas pontificam sobre economia, sobre os rumos do país, sobre a ideologia de Luiz Inácio Lula da Sivla — e, claro, sobre a autonomia do Banco Central. 

O alvo do esfacelamento democrático, da representação organizada de interesses, é questionar a soberania do país e é por isso que ela ataca a Petrobrás, o Pré-Sal e todo esforço para proteger o potencial energia do Brasil. Também questiona o programa de usinas nucleares, presente no cotidiano de todo país que não quer perder contato com seu futuro. O argumento ecológico tem um horizonte que vai muito além de questões relativas ao meio ambiente. É a porta aberta para uma política de subordinação externa, como se vê neste estranho mundo do século XXI, com países em ruína, estados em destruição. “A questão do Estado-Nação ficou ultrapassada,” argumenta André Lara Rezende, um dos gurus de Marina. 

Dá para entender por que se deve discutir o que move a campanha de Marina Silva, certo?
http://paulomoreiraleite.com/2014/09/03/em-busca-da-razao-debate-politico/

LÍDER DA REDE NO PARÁ DEIXA DE APOIAR MARINA


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Charles Alcântara, que seria candidato da Rede Sustentabilidade ao governo do Pará caso o partido tivesse sido registrado no TSE, afirma ter sido levado pelo "sopro inspirador" de Marina Silva a apoiar a candidatura do PSB, mas que desde que se tornou candidata, suas declarações "foram em direção aos mercados"; ele diz considerar uma "fraude a pregação de que todos os interesses e todas as forças políticas podem ser conciliados sem conflitos" e constata: "Não, Marina, não posso acompanhá-la nessa jornada"
247 - Líder da Rede Sustentabilidade no Pará e candidato natural do partido caso ele tivesse sido registrado no TSE, Charles Alcântara declara que não votará mais em Marina Silva, com quem disse já ter tido "boas conversas" e de quem escutou "muita generosidade e sabedoria". Alcântara conta ter sido levado pelo "sopro inspirador" da ex-senadora a apoiar a candidatura de Eduardo Campos, do PSB, mas que "até o presente momento, desde que se tornou candidata presidencial, as declarações mais explícitas e compreensíveis de Marina Silva foram em direção aos mercados, em especial o financeiro".
Ele ressalta os "custos sociais" do "tal tripé macroeconômico" que prega a candidata: "menos recursos públicos para as áreas sociais; arrocho salarial e ameaça de mais desemprego". E afirma considerar "uma fraude a pregação de que todos os interesses e todas as forças políticas podem ser conciliados sem conflitos e sem escolhas que desatendam e contrariem os que sempre se beneficiaram da desigualdade em favor dos que sempre foram as vítimas dessa mesma desigualdade". O líder da Rede constata, em texto publicado no Facebook: "Não, Marina, não posso acompanhá-la nessa jornada, apesar que querê-la bem".
Leia a íntegra:
Há virtudes no velho, como há vícios no novo.
Imerso em minhas reflexões sobre a conjuntura político-eleitoral, decidi agora abandonar o recesso que me impus desde o meu afastamento da coordenação nacional da Rede, que se deu quando esta embarcou provisoriamente no PSB.
Também fui - e ainda estou - tocado pela ideia de que o exercício da política precisa ser radicalmente mais democrático e de que os partidos políticos, tal como funcionam, tomam suas decisões e disputam o poder, precisam reinventar-se porque se tornaram instituições anacrônicas e voltadas para si mesmas.
Somado a isso, fui atraído pelo magnetismo de um novo (chamemos assim) campo político sob a liderança de Marina Silva, a quem admiro e respeito por sua história e trajetória e também por atributos que andam em falta na seara política.
Levado pelo sopro inspirador de Marina e pela concordância quanto à saturação e inutilidade para o Brasil da polarização entre PT e PSDB, inclinei-me a apoiar Eduardo Campos - malgrado minhas críticas em relação à aliança PSB/Rede - quando veio o fatídico acontecimento que lhe ceifou a vida.
Até o presente momento, desde que se tornou candidata presidencial, as declarações mais explícitas e compreensíveis de Marina Silva foram em direção aos mercados, em especial o financeiro. Os que vivem da especulação financeira e que faturam bilhões com a dívida pública brasileira estão eufóricos com as declarações de Marina, reveladoras de uma crença quase religiosa nos fundamentos mais caros ao velho receituário neoliberal, fundamentos estes que colocam no centro das preocupações e da ação estatal os interesses do mercado e na periferia os interesses da sociedade brasileira, com o cínico argumento de que esses interesses são convergentes - e, mais ainda - que os interesses da sociedade tendem a ser satisfeitos se o mercado estiver satisfeito.
Institucionalização da autonomia do banco central e obediência incondicional ao tripé macroeconômico neoliberal são os compromissos mais enfáticos que Marina oferece aos brasileiros para acabar com a velha política e para mudar o Brasil.
Se não em nome de uma nova política (até porque se trata da velha solução neoliberal), mas ao menos em razão das virtudes próprias de sua formação religiosa, Marina tinha e tem o dever de dizer ao povo brasileiro as prováveis consequências de seu programa econômico.
Marina dá sinais de conversão ao fundamentalismo neoliberal como sinônimo de desenvolvimento, estabilidade econômica e inflação baixa, como se os índices inflacionários pudessem ser combatidos com a mera alta dos juros; como se a inflação no último período do governo de FHC - de fidelidade canina à sacrossanta fórmula neoliberal - não tenha sido ainda maior que a verificada nos dias atuais; como se o maior e mais indecente gasto público não fosse exatamente o pagamento de juros da dívida pública.
Pouco importa para os agentes de mercado os custos sociais do tal tripé macroeconômico: menos recursos públicos para as áreas sociais; arrocho salarial e ameaça de mais desemprego.
O tal tripé macroeconômico é uma boa maneira de manter os lucros do mercado financeiro de pé e o Brasil socialmente manco.
Não, Marina, não posso acompanhá-la nessa jornada, apesar que querê-la bem; apesar de admirá-la; apesar de considerá-la uma pessoa de bem e de bons propósitos.
Não posso acompanhá-la, porque o faria por mera crença nos seus bons propósitos e no seu carisma pessoal e porque isto é absolutamente insuficiente para considerá-la a melhor alternativa para o Brasil, principalmente depois do caminho que escolheste trilhar.
Não vou acompanhá-la porque considero uma fraude a pregação de que todos os interesses e todas as forças políticas podem ser conciliados sem conflitos e sem escolhas que desatendam e contrariem os que sempre se beneficiaram da desigualdade em favor dos que sempre foram as vítimas dessa mesma desigualdade.
Conheço pessoalmente Marina, com ela tive boas conversas e dela escutei muita generosidade e sabedoria.
Marina está crescendo nas pesquisas eleitorais e pode vir a comandar a República Federativa do Brasil; momento propício, portanto, para eu declarar a minha posição, que o faço baseado num conselho que escutei da própria Marina de que a boa (nova) política não se deve alicerçar no carisma pessoal.
Outra lição que aprendi com Marina é que muitas vezes é preferível perder ganhando a ganhar perdendo.
Resolvi, então, seguir os conselhos de Marina, não a apoiando nestas eleições, por convicção de que a sua candidatura não está oferecendo ao Brasil um caminho alternativo.
Votar por convicção, penso, é uma das coisas tradicionais da velha e boa política (sim, porque também há virtudes no velho e há vícios no novo) que eu não me disponho a abrir mão.
http://www.brasil247.com/pt/247/brasil/152284/L%C3%ADder-da-Rede-no-Par%C3%A1-deixa-de-apoiar-Marina.htm

O verdadeiro sentido do Banco Central independente de Marina


Por Renato Santos de Souza
A “nova política” da Marina Silva é, na verdade, tão velha quanto Adam Smith.
Está lá, no seu Programa de Governo!
Nem eu acreditava nisto, pensei que seria mais um destes programas cheios de boas intenções e de valores nobres, mas vazio de opções e de propostas, ou então cheio de propostas feitas para um outro mundo que não o nosso, como sugere a ideologia da Rede.
Mas não, o Programa da candidata deixou claro que ela é a mais nova versão do neoliberalismo monetarista: submissão dos governos aos interesses do mercado financeiro, associado à "metáfora" da sustentabilidade para travar investimentos produtivos brasileiros, favorecendo os interesses estrangeiros de quem quer ocupar o nosso mercado e ocupar mercados sobre os quais o Brasil tem avançado.
Melhor para os bancos e para os interesses estrangeiros.
O exemplo mais simbólico desta ideologia conservadora é a tal "independência do Banco Central", a mais nova pregação da presidenciável.
"Entendemos que era preciso dar um sinal forte, dizendo que a autonomia de fato, que agora estava sendo desacreditada, precisava agora ser institucionalizada" disse ela recentemente, sobre a proposta que consta no seu Plano de Governo.
Mas o que é isto, que no discurso fica tão bonito e dá até uma certa autoridade técnica para a candidata: independência do Banco Central? E o que ela realmente representa?
Bem, vai aqui uma rápida explicação, rememorando os meus tempos de professor de economia, para aqueles que ainda flutuam sobre o tema sem conhecê-lo por dentro.
A política econômica, da qual dependem os níveis de produção, de crescimento econômico e de emprego de um país, e também os investimentos públicos, tem três grandes componentes:
- Política Fiscal, que trata das receitas e gastos do Governo, e afeta o nível dos impostos e os investimentos governamentais;
- Política Cambial, que trata da taxa de câmbio e afeta as importações, exportações, as despesas no exterior e as de estrangeiros no Brasil;
- E a Política Monetária, que regula a taxa de juros e a quantidade de moeda na economia.
Pois bem, o Banco Central opera sobretudo a Política Monetária e, no regime de câmbio flutuante, também a Cambial, mas com reflexo forte sobre a Política Fiscal. Quando o Banco Central é totalmente independente, o Governo praticamente só tem a Política Fiscal para operar a política econômica. Isto representa, para o candidato que defende esta posição, quase como abrir mão de governar, ou reduzir o governante a um alocador dos recursos escassos dos impostos.
A independência do Banco Central sempre foi um libelo dos economistas mais liberais, chamados formalmente nas escolas de economia de Monetaristas. E por que Monetaristas? Por que eles acreditam que o principal dever da política econômica é controlar a inflação, e inflação é um fenômeno monetário e não produtivo (daí o nome Monetarista); então, para eles, inflação se controla com aumento na taxa de juros e redução da quantidade de moeda na economia.
Na prática, para os Monetaristas, inflação se combate com recessão.
E ponto final! A isto se reduziria a política econômica, pois os liberais defendem a não intervenção do governo na economia. O resto seria apenas o controle dos gastos públicos, para que o déficit público e seus mecanismos de financiamento não pressionem a inflação.
Então, a política econômica dos monetaristas implica nos governos não fazerem política econômica, ou não usarem a política econômica para administrar a economia. É para isto que o Banco Central precisa ser independente na ideologia Monetarista, porque para que este possa ficar cuidando apenas da “saúde da moeda”, precisa retirar dos governos a capacidade de fazer política econômica, que segundo eles, poderia causar inflação.
Mas de fato, Marina tem razão, o Banco Central nunca foi completamente independente dos governos, afinal, o seu presidente é cargo de confiança da Presidência da República. Enquanto isto acontecer, toda a independência será apenas retórica. Porém, ela diz que esta independência, agora, “precisa ser institucionalizada”, e isto pode significar tirá-lo da alçada da Presidência.
Que risco!
Vejam bem, independência do Banco Central, assim, não significa apenas que ele seja independente do Governo, mas que o Governo será dependente dele, o Banco Central, e de quem o controlar (provavelmente os bancos privados e os grandes investidores financeiros).
E porquê? Porque as três políticas descritas acima são interdependentes, mas um Banco Central independente terá protagonismo sobre duas delas, Monetária e Cambial, que afetam diretamente a Política Fiscal. O Governo e sua Política Fiscal é que serão dependentes do Banco Central, invertendo os princípios democráticos e atentando contra a soberania do voto. No limite, vai ser mais relevante eleger o Presidente do Banco Central que o da República.
Por exemplo, se o Banco Central decide aumentar em 1% a taxa de juros, isto significa, atualmente, um aumento de cerca de R$ 20 bilhões anuais de gasto para rolar a dívida pública; 10% de aumento, R$ 200 bilhões a mais de gasto. Quem paga é o Tesouro; e onde vai parar o dinheiro? No bolso dos banqueiros e dos especuladores financeiros, que detém os títulos da dívida pública brasileira.
O aumento da taxa de juros significa, também, menos investimentos, menos consumo e, consequentemente, menos arrecadação. Então as decisões do Banco Central afetam as duas pontas da Política Fiscal, a receita e os gastos.
Como no caso da independência completa do Banco Central só resta ao Governo administrar a Política Fiscal, e como um aumento da taxa de juros levaria à redução da arrecadação e aumento de gastos com a dívida pública, a única ação governamental possível é o corte profundo de despesas e investimentos, com reflexos inexoráveis sobre os serviços públicos e sobre os investimentos na infraestrutura que o país tanto precisa.
Para quem acha esta política improvável, lembrem dos Monetaristas: para eles, esta é uma política muito razoável. Na era FHC, em que a política econômica era dominada por este mesmo perfil de economistas (alguns dos quais estão agora na equipe da Marina), a taxa de juros Selic chegou a 45% em 1997, e na maior parte do tempo dos seus dois mandatos flutuou acima de 20% ao ano.
As consequências naquela época nós conhecemos bem, arrocho salarial, contingenciamento permanente de recursos, represamento de vagas no serviço público, investimento zero, e tudo mais que fosse necessário cortar para sobrar dinheiro para pagar elevados juros aos bancos. Eu trago lembranças vivas e amargas deste período. Na Universidade federal onde trabalho não havia dinheiro nem para comprar giz, e vagas ficavam por anos contingenciadas, criando um déficit quase insuportável de pessoal; na estrada em que eu viajava todo o mês entre Santa Maria e Pelotas, no RS (uma das mais importantes do estado, pois escoa boa parte da safra gaúcha para o Porto de Rio Grande), o problema não eram os buracos, pois havia grandes trechos, entre 20 e 30 km, em que simplesmente já não havia mais a camada asfáltica. Buracos no asfalto até seriam um privilégio!
Este era o cenário na época, e quem viveu aquele período certamente lembra disto.
Este quadro mudou a olhos nus quando o Governo já do Presidente Lula passou a reduzir fortemente os juros, que chegaram a 8,65% ao ano ainda no seu período, e a 7,12% no Governo Dilma (hoje está em torno de 10% ao ano, taxa ainda alta para os padrões internacionais).
Desta redução da taxa de juros é que saíram boa parte dos recursos para os investimentos que, também a olhos nus, nós vemos hoje no Brasil. Esta redução também permitiu-nos enfrentar as crises financeiras internacionais desde 2008, com estímulos à produção e ao consumo como forma de evitar a retração da economia. Na era dos Monetaristas do FHC, ao contrário, as crises internacionais eram enfrentadas com elevações vertiginosas na taxa de juros, para evitar a “fuga de capitais” e a deterioração do câmbio. O pico de 45% em 1997 foi numa destas crises.
Mas estas são decisões de Governo, não podem ser decisões de um Banco Central Independente, que sequer nós elegeremos. Banco Central independente é uma proposta de governo que serve para a “não política” econômica, típica dos Monetaristas, para quem os governos devem apenas administrar os gastos públicos mantendo o equilíbrio fiscal, e o Banco Central deve cuidar da inflação e do câmbio. E a isto se resumiria a política econômica.
Ou seja, a independência do Banco Central significa o Governo abrir mão de fazer a política econômica, e se tornar, de vez, refém do Banco Central e do mercado financeiro.
E eu não tenho dúvidas, nós pagaremos esta opção política com juros altos e recessão, redução dos investimentos públicos e privados e precarização dos serviços públicos.
Então, sobretudo aqueles que se iludem com a aparente novidade e pureza de valores da Marina, esqueçam as tais escolas e hospitais padrão FIFA, esqueçam os investimentos em estradas, aeroportos, portos, mobilidade urbana e energia que tanto precisamos, esqueçam as bolsas para intercâmbio no exterior, esqueçam o crédito fácil e barato para a casa própria e para a compra do carro. Esqueçam... A receita Monetarista que Marina propõe adotar é amarga e seletiva, e não prevê este tipo de Estado presente na vida do cidadão.
Mas isto não é tudo, o principal exemplo de Banco Central independente, para os Monetaristas, é o Federal Reserve Bank, dos EUA, onde o economista Alan Greenspan permaneceu como Presidente por quase 20 anos, passando por governos de republicanos e democratas. Porém, o suposto Banco Central independente dos EUA não foi capaz de prevenir nem de mitigar a monumental crise financeira porque passaram (e ainda passam) os americanos a partir de 2008, que começou no sistema financeiro americano, se espalhou para o resto da economia e depois para a Europa e resto do mundo. Quem pagou a conta foram os cidadãos e o Governo, lembram! Na verdade, ainda estão pagando.
Os germes da crise foram exatamente os controles frágeis do Banco Central americano sobre o mercado financeiro decorrentes do privilégio à especulação financeira (com a exacerbação dos famigerados “derivativos”) como mecanismo fundamental do mercado de capitais, atendendo aos interesses dos bancos e dos grandes rentistas.
Isto que os EUA são os “donos” da moeda das transações e das reservas internacionais da maioria dos países, o dólar. Ou seja, a sua política monetária tem um poder mundo afora que a nossa jamais sonharia, e mesmo assim o seu Banco Central apresentou esta incapacidade de prevenir e controlar a crise de 2008.
Quem tem um pouco de memória lembra-se, também, que na opinião da maioria dos analistas, o Brasil passou quase incólume por aquela crise, dentre outras coisas, porque o nosso Banco Central tinha bons mecanismos de controle e o sistema financeiro brasileiro era relativamente robusto.
Pontos para o nosso Banco Central, que por ser mais independente que o de lá do mercado financeiro, dos bancos e dos grandes especuladores, pode atender aos interesses dos governos, de suas políticas e do seu povo.
Então, nós temos que nos perguntar: com este histórico de resiliência em relação às crises econômicas recentes, e de controle relativamente eficaz da inflação, quem precisa de um Banco Central independente no Brasil atualmente? A quem interessa esta proposta? Bem, se ele puder ficar livre do Governo e dos controles democráticos para aplicar a receita Monetarista, eu acho que sei quem precisa: os rentistas do mercado financeiro, que serão os únicos beneficiados por uma política de juros altos.
Então, não se iluda, o Banco Central independente da Marina só será independente do Governo, mas não do mercado financeiro. Portanto, ele não é garantia de segurança econômica alguma. Ao contrário, a “nova política” da Marina é promessa de retorno da “velha política econômica” do Governo FHC, que na esteira da montanha russa financeira provocada pelas políticas monetaristas da época, sucateou os serviços públicos e estagnou o Brasil por oito anos, sob o pretexto de controlar a inflação.
Renato Santos de Souza - UFSM/RS
http://jornalggn.com.br/fora-pauta/o-verdadeiro-sentido-do-banco-central-independente-de-marina

Aécio Neves e os neoluddistas, por Fábio de Oliveira Ribeiro


Ontem durante o debate Aécio Neves atacou Dilma Rousseff, poupando Marina Silva de qualquer incomodo.  A conduta do tucano despertou minha atenção por dois motivos. Primeiro porque ele supostamente representa uma facção política que se pretende laica e, portanto, deveria ter mais afinidades com uma candidata petista do que com uma adversária evangélica. Segundo porque, mesmo se ignorarmos a questão religiosa, quem ameaça a ida do tucano para o segundo turno é Marina Silva e não Dilma Rousseff. A disputa eleitoral foi embolada pela morte de Eduardo Campos, mas a verdade é que desde sempre as pesquisas mostram a candidata do PT num eventual segundo turno.
Aécio Neves acredita mesmo que pode ir ao segundo turno com Marina Silva ou sua conduta expressa apenas um desejo mórbido dos tucanos e de seus aliados de destruir a máquina petista? Usei a expressão “máquina petista” de propósito porque ela aparece no discurso dos principais adversários do PT no Congresso Nacional e na imprensa:
A expressão remonta a forma depreciativa como a imprensa tratou o preenchimento de cargos durante o primeiro governo Lula.
Impossível rastrear até a origem para saber quem foi que criou a expressão “maquina petista”. Há dezenas de milhares de referências à mesma na internet. Centenas de milhares de linkes existem quando buscamos a expressão “máquina do PT”. Quem quer que tenha criado a expressão, porém, não percebeu a ironia que ela representa.
O movimento dos destruidores de máquinas ocorreu na Inglaterra do século XVIII. Ned Ludd (operário semi-idiota do Leicestershire que deu nome ao movimento luddista),  foi o primeiro trabalhador a quebrar máquinas que economizavam mão de obra. Segundo Eric Hobsbawm “O valor desta técnica era evidente, tanto como meio de fazer pressão nos empregados, como de garantir a solidariedade essencial dos trabalhadores” (Pessoas Extraordinárias, Paz e Terra,1998, p. 19) .
Ao final do texto citado, o historiador inglês se pergunta se “Podem o tumulto e a quebra de máquinas, contudo, deter o avanço do progresso técnico?” Sua resposta é exemplar “É patente que não se pode deter o triunfo do capitalismo industrial como um todo. Numa escala menor, no entanto, eles não são de maneira alguma a arma desesperadamente ineficiente que se tem feito parecer.” (Pessoas Extraordinárias, Paz e Terra, 1998, p. 28).
Por mais críticas que se possam fazer ao PT, as estatísticas estão aí para provar o sucesso das administrações petistas. O PIB brasileiro em 2003 foi 1,5 trilhão de reaishttp://saladeimprensa.ibge.gov.br/noticias?view=noticia&id=1&busca=1&idnoticia=265 . Em 2013 nosso PIB foi 4,84 trilhões de reais http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,pib-cresce-2-3-em-2013-puxado-por-agropecuaria-e-investimentos,178695e . O PIB do país quase triplicou sob as administrações petistas. Lula e Dilma Rousseff conseguiram aumentar a renda dos trabalhadores brasileiros e retirar da miséria dezenas de milhões de pessoas. A fome deixou de ser um fenômeno social importante no Brasil nos últimos anos. Esta é a “máquina petista” que Aécio Neves e seus neoluddistas querem destruir? Não me parece que sua destruição vá prejudicar apenas os petistas.
O crescimento colossal do PIB brasileiro na última década e meia beneficiou os trabalhadores. Mas a verdade é que quem mais se beneficiou do bom desempenho da economia brasileira foram os empresários. E não estou aqui falando apenas daqueles que celebraram contratos para tocar obras públicas federais. Os bancos brasileiros lucraram horrores nos últimos anos. Em nosso país nem um único banco precisou de socorro emergencial do governo. As empresas de comunicação também aumentaram seu faturamento em razão dos lucros reais ou imaginados por seus anunciantes. O setor hoteleiro ganhou um bom dinheiro graças a Copa do Mundo e certamente continuará a ter lucro em razão das boas perspectivas do turismo. Um ou outro setor industrial sofreu em razão da concorrência externa, mas isto não pode ser creditado a “maquina petista”. A concorrência faz parte do jogo e o protecionismo exacerbado apenas prejudicaria a economia como um todo.
Na festa de 2 anos do filho de um amigo há duas semanas fui abordado por um eleitor de Marina Silva. Ele me repetiu a mesma lenga-lenga dos tucanos. Disse-me ele que era preciso derrotar a “máquina petista”. Ele certamente está entre aqueles que se beneficiaram em razão do bom momento da economia em razão das virtudes do governo que pretende destruir. A irracionalidade dele me deixou irritado e na oportunidade não consegui entender a natureza luddista de seu comportamento.
O luddismo político do PSDB, de Aécio Neves e seus aliados e até mesmo de alguns eleitores de Marina Silva (senão dela própria) é evidente. Quem nada tem a oferecer ao Brasil e aos brasileiros, exceto recessão, desemprego e redução do salário mínimo querem apenas destruir a “máquina petista” como se ela fosse a fonte de todo mal. Mesmo que não consigam realizar seu intento (para o bem do país e dos brasileiros que precisam de trabalho e renda), eles certamente estão em condição de produzir estragos. Afinal, como disse  Eric Hobsbawm numa escala menor os destruidores de máquinas “não são de maneira alguma a arma desesperadamente ineficiente que se tem feito parecer.” A parcial deterioração dos indicativos econômicos brasileiros durante o período eleitoral são a prova disto.
Aécio Neves e Marina Silva continuam adoçando a boca dos especuladores internacionais com o retorno do neoliberalismo. Em razão disto, fazem o país sangrar. E os tubarões europeus e norte-americanos, sentindo o cheiro de sangue na água, tentam paralisar o país para poder devorá-lo mais facilmente caso Dilma Rousseff seja realmente derrotada. Mesmo que Dilma Rousseff saia vitoriosa nesta disputa a economia do país terá sido prejudicada sensivelmente por Aécio Neves e seus neoluddistas. 
http://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/aecio-neves-e-os-neoluddistas-por-fabio-de-oliveira-ribeiro