terça-feira, 14 de maio de 2013

Acusado de estupro, pastor já foi herói na TV Globo: “ele é muito respeitado”



por Rodrigo Vianna

O Pastor Marcos Pereira, da Assembléia de Deus dos Últimos Dias, está sendo acusado de estupros em série. Teria atacado mulheres que viviam em alojamentos mantidos pela Igreja dele, no Rio de Janeiro. Os indícios são graves. A mídia, em especial o jornal conservador “O Globo”, partiu pra cima do pastor. E não apenas por conta do estupro: investiga-se a vida de Pereira, o patrimônio, tudo.

O curioso é que, há cinco ou seis anos, o mesmo pastor era tratado como herói pelas Organizações Globo. A dica veio de um colega jornalista. Acompanhem: em 2008, “O Globo” denunciou um “Tribunal do Tráfico” em favelas do Rio. Jovens infratores eram julgados, condenados e executados pelos traficantes. O repórter acompanhou de perto um desses “julgamentos”. Quem abriu as portas pro jornalista subir o morro? O pastor Marcos Pereira. Mais que isso: o líder evangélico era apresentado como o homem que – na última hora – impedia a ação cruel dos traficantes. Vejam esse trecho da reportagem:

“Capturado de madrugada, o menor foi algemado e barbaramente torturado: tomou choque elétrico, teve garrafas quebradas em seu corpo, foi espancado com pedaços de madeira, sufocado com fita crepe e recebeu uma facada nas costas. Os traficantes estavam decididos a matá-lo, quando o pastor Marcos Pereira intercedeu e começou a sua defesa.”

O repórter Mauro Ventura ganhou o “Prêmio Esso” de jornalismo com essa matéria. E foi até entrevistado no Programa  do Jô. Os dois – apresentador e jornalista de “O Globo” – exaltaram o trabalho de Marcos Pereira: “impressionante a coragem desse pastor”; “ele é muito respeitado”; “trabalho fantástico”.  

Não passou pela cabeça de ninguém que o pastor tinha feito um tabalho de RP (Relações Públicas) usando a audiência da Globo? Ou passou pela cabeça, sim, mas a Globo estava na fase de “aproximação” com os evangélicos e aí não era o momento de questionar aliados? Há ainda uma terceira hipótese (foi Ali Kamel, da Globo, quem nos ensinou a importância de “testar hipóteses” no jornalismo): Marcos Pereira é um homem de bem, foi acusado de forma vil e injusta, estaríamos diante de um novo caso “Escola Base”… Será?

Seja como for, não acho que devemos condenar – de forma hipócrita e isolada – o repórter Mauro Ventura. Quantos não agiriam da mesma forma que ele? O caso serve pra mostrar como funciona o moderno jornalismo: essa mania de glorificar o repórter que passa por cima de qualquer risco, e se alia a qualquer um, para conseguir a informação. Vale tudo mesmo?

É bom fazer a ressalva: uma coisa é ter um bicheiro ou pastor de conduta duvidosa como fonte (isso eu não considero absurdo, já que muitas vezes é a única forma de acessar um ambiente ou um esquema criminoso); outra coisa é transformar sua fonte em “herói” para assim manter a “parceria”.

Cinco anos depois, assistir a entrevista do repórter ao Jô é mais do que constrangedor. É revelador. O jornalismo dos novos tempos está nu, e o que vemos não é bonito.

‘Não é disputa pelo poder’, diz Adonis, sobre vazamento de vídeos com operações



Do helicóptero, policiais atiram em traficantes armados na Favela do Rola, em Santa Cruz
 
Do helicóptero, policiais atiram em traficantes armados na Favela do Rola, em Santa Cruz Foto: Extra
 




Herculano Barreto Filho
 
O piloto policial Adonis Lopes de Oliveira, que participou das operações nas favelas do Rola, em Santa Cruz, e Coreia, em Senador Camará, discordou da versão oficial dada sobre o vazamento dos vídeos. O governo estadual atribuiu a divulgação das imagens a uma disputa de poder com o piloto Ronaldo Ney Barboza Mendes, que foi afastado do Serviço Aeropolicial (Saer) da Polícia Civil pelo próprio Adonis, em julho do ano passado, por ter procedido de forma inadequada.



— Não é disputa de poder. Ele (Ney) queria que eu saísse, porque excluí ele do serviço. Ele tinha comportamento inadequado. Brincava e criava um clima de intranquilidade no serviço, colocando as operações em risco. Ele queria me derrubar. Se tivesse apegado ao cargo, não teria saído (Adonis pediu afastamento dois dias antes do vazamento da operação na Coreia).
Segundo policiais civis, o problema começou em junho do ano passado. Na época, Adonis queria demitir Ney por abandono de serviço, já que o piloto não tinha ido ao trabalho. Mas o pedido não foi acatado pela instituição, que deu férias a Ney.


Policiais encontram corpos no bar, para onde também seria levada a outra vítima
 
Policiais encontram corpos no bar, para onde também seria levada a outra vítima Foto: Reprodução

Quando voltou ao serviço, no mês seguinte, outro desentendimento selou a saída do piloto do Saer. Numa operação na Vila Vintém, em Padre Miguel, Adonis teria advertido o piloto, pedindo mais movimentação ao helicóptero, para não virar alvo.

Após a advertência, Ney começou a cantar e brincar com a tripulação. Como a ação foi filmada, ele foi desligado do Saer e passou a responder a sindicância na Corregedoria por ter procedido de forma inadequada. Ney também é investigado pela 32ª DP (Taquara) por vendas de aulas de voo.


Os policiais trocam o corpo de lugar
 
Os policiais trocam o corpo de lugar Foto: Reprodução

Após sua saída, o piloto disse a colegas que iria enviar à Corregedoria e à Assembleia Legislativa vídeos na favela do Rola, quando um morto teve o corpo carregado por policiais da Core para dentro de um bar, e da ação que resultou na morte do traficante Márcio José Sabino Pereira, o Matemático, baleado em maio de 2012, na Coreia.

— Ele falava isso para todo mundo no meio policial. Mas as pessoas achavam que era um blefe — disse um policial, que não se identificou.

Procurado, o piloto Ney não foi localizado pelo EXTRA para falar do assunto.

Leia mais: http://extra.globo.com/casos-de-policia/nao-disputa-pelo-poder-diz-adonis-sobre-vazamento-de-videos-com-operacoes-8366060.html#ixzz2TEXx3eWq