segunda-feira, 28 de julho de 2014

Rogério Correia: Disputa entre tio-avô e Aécio em Cláudio é “jogo de cena”; R$ 3,4 milhões e uso privado de pista por 31 anos

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Rogério Correia: “Precisou de uma campanha nacional e dos olhos nacionais para que o mineiro passasse a conhecer quem é o senador Aécio Neves”

por Conceição Lemes

Quanto mais se investiga o aeroporto de Cláudio (MG), mais detritos aparecem.

Em 2008, Aécio Neves, na época governador (PSDB), decidiu asfaltar a pista de pouso de avião da fazenda do seu tio Múcio Tolentino naquele município. Com aval da Justiça, desapropriou a área e estipulou em R$ 1 milhão a indenização a ser paga ao proprietário.

O tio de Aécio não aceitou o montante oferecido pelo Estado e entrou na Justiça. Contratou um perito que calculou a indenização pela área em R$ 20.587.174, 50, valor acatado pela Justiça em primeira instância.

A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2015 prevê para o próximo ano exatamente o pagamento de R$ 20.587.174, 50 em indenização para Tolentino. Essa LDO foi enviada em maio à Assembleia Legislativa pelo governador Alberto Pinto Coelho (PP) e aprovada. O valor consta do anexo que trata dos riscos ficais do Estado; são ações na Justiça que o governo pode perder.

Porém, a advocacia do Estado entrou na Justiça e conseguiu anular a perícia feita pelo tio de Aécio e estabeleceu provisoriamente a indenização em R$ 3,4 milhões. Um perito judicial deve determinar o novo valor.

Nas LDO de 2013 e 2014, de autoria do ex-governador e atual candidato ao senado Antonio Anastasia (PSDB), a previsão era possivelmente pagar R$ 3,4 milhões. Na semana passada, Aécio admitiu por meio de nota que o tio pleiteava receber R$ 9 milhões pela área.

O governo de Minas apresenta os R$ 3,4 milhões como “vitória” do Estado.

O Minas Sem Censura, bloco parlamentar de oposição ao governo tucano, discorda.

Em sua página no Facebook, num post cujo título é Querela judicial no caso do aecioporto de Cláudio era jogo combinado?, o bloco observa:

Nunca se ouviu falar da insatisfação sincera do tio Múcio com o sobrinho. Nem uma crítica, nem uma reclamação, nem uma briga familiar. A querela judicial era mero jogo de cena.
Ao final, tio Múcio vai ganhar “apenas” 3,4 milhões de Reais, pela área do Aecioporto.
E o uso privado, que já completou 31 anos, dessa obra pública vai continuar. Pois, não há demanda na cidade por um aeroporto. Seu uso será somente pelos Neves da Cunha.
É por isso que o senador Aécio Neves, autoritariamente, já encerrou o caso.

Nós conversamos um pouco mais sobre o assunto com o deputado estadual Rogério Correia (PT), vice-líder do bloco Minas Sem Censura.


Rogério Correia — A LDO é a previsão para a lei orçamentária do Estado. No caso do “aecioporto”, não existe nem decisão final da Justiça e o governo de Minas já está prevendo pagar o tio do Aécio.

De cara, isso já demonstra muito boa vontade com o tio do Aécio. E mais. Má fé do governo. Pode ser até um caso de superfaturamento indenizatório, além do já obvio superfaturamento da obra. Afinal, R$ 14 milhões para asfaltamento de uma pista é inexplicável.

Quem fez o cálculo de R$ 20 milhões para um pedaço da fazenda? E o cálculo de R$ 3,4 milhões? O governo de Minas tem de explicar tudo isso.

É um escândalo, um assalto aos cofres públicos. Nem a fazenda inteira do Tolentino custa isso! Eu diria que o provisionamento antes de uma decisão final coloca o governo de Minas no epicentro do escândalo do “aecioporto”. Eu diria que o governo de Minas e o senador Aécio foram pegos com batom na cueca.

Viomundo – Até agora só foi depositado R$ 1 milhão na conta do tio do Aécio, que, por sinal, está bloqueado por conta de uma ação do Ministério Público.

Rogério Correia –O fato não foi consumado ainda, porque está na Justiça. Mas a presteza do governo em tentar resolver logo a situação mostra a sua má intenção em efetivar a indenização com valores exorbitantes. Acho que nós conseguimos frear um calote nos cofres públicos.

O aeroporto de Cláudio foi feito com dinheiro público. Há 31 anos essa pista de pouso pública está tendo uso privado pelos Neves, o que mostra o espírito coronelista deles.

São muito fortes as evidências de que o senador quando governador utilizou do cargo para proveito da sua família e dele próprio. Ele, a família e os políticos ligados a ele utilizam o aeroporto.

Então, Aécio faz daquilo um aeroporto pessoal de descanso e de atividade política. Um aeroporto que foi construído com recursos públicos e que prevê, num ano de eleição, um desembolso de R$ 20 milhões. O que reforça a necessidade de se investigar o caso.

Viomundo — Tem ainda o aeroporto de Montezuma, feito na região onde fica a fazenda do pai de Aécio.

Rogério Correia – O que mostra que o senador é justo, zeloso, quando se trata de sua família. Construiu o aeroporto de Cláudio para a família da mãe e o de Montezuma, para a família do pai. Duas áreas em que os aeroportos eram totalmente desnecessários.

Montezuma é uma cidade de 8 mil habitantes. Lá tem um balneário de águas quentes para recreação. Mas o aeroporto só pode ser usado pela família de Aécio. A fazenda de Montezuma está em nome da irmã, Andréa Neves.

Com esses casos, Aécio repete a locupletação de recursos públicos, como fez na sua rádio pessoal, a Arco-íris, quando ele foi pego no teste do bafômetro no Rio de Janeiro.

Recursos públicos foram colocados lá pela própria irmã, quando Aécio era governador.

Então, essa utilização de recursos públicos em benefício próprio é a forma de Aécio fazer política, o que reforça o apelido de Aecinho Malvadeza, que o Minas Sem Censura colocou nele há algum tempo. Infelizmente, os ares menos aprazíveis da Bahia continuam soprando em Minas Gerais.

Viomundo – O que o Minas Sem Censura pretende fazer agora? 

Rogério Correia – O senador censura a imprensa, domina o Ministério Público… Mas agora isso não pode ficar assim. Investigar é uma necessidade.

Eu sei que a palavra do senador vale pouco, aliás nunca valeu muito, mas recentemente ele andou querendo a CPI da Petrobras no Congresso Nacional. Ele disse que quem não quer CPI, quem não quer investigar, é porque tem culpa no cartório, está de rabo preso…

Vamos ver agora se os deputados da base dele vão assinar a CPI para investigar os aeroportos de Cláudio e Montezuma, inclusive o valor da indenização para o tio.

No dia 1º, nós vamos iniciar a coleta de assinaturas. Vamos pedir aos deputados da base dele que assinem. Sozinhos, nós não conseguimos aprovar uma CPI. O bloco tem 21.

Viomundo – Quantas assinaturas são necessárias?

Rogério Correia – Vinte e seis. A CPI do Mineirão, que é outro problema de corrupção no governo de Aécio, falta apenas uma assinatura. Tivemos agora uma vitória no Tribunal de Justiça que manteve a ação contra ele pelo desvio de recursos da saúde.

O Ministério Público de Minas já abriu um inquérito para apurar o caso. E nesta semana vamos levar ao conhecimento do promotor encarregado essa questão das LDO. Vou enviar esses documentos para o PT nacional, para que encaminhe ao procurador-geral da República.

Enfim, o senador Aécio neves começou a ser conhecido em Minas Gerais agora. Precisou de uma campanha nacional e dos olhos nacionais para que o mineiro passasse a conhecer quem ele é.

Espero que o Brasil rejeite esse tipo de política onde impera a visão de tratar o Estado como capitania hereditária. E prevaleça o espírito democrático e de isenção dos governantes da separação entre o público e o privado.

http://www.viomundo.com.br/denuncias/rogerio-correia-4.html

RBS entra na campanha eleitoral. Panfleto de Paulo Santana dá o tom


O que já era esperado está se confirmando. Com dois de seus principais formadores de opinião concorrendo ao governo do Estado e ao Senado, o grupo midiático direciona suas baterias contra os adversários de seus colunistas candidatos. A tática usada para intervir na campanha também é conhecida. Aparenta uma suposta isenção nos espaços de reportagem e afunda o pé nos seus inúmeros espaços de opinião em jornais, rádios, televisões, sites e redes sociais. Na edição deste domingo do jornal Zero Hora, o colunista Paulo Santana mostra que o nível dessa intervenção será baixíssimo, ofensivo e irresponsável. Irresponsável no sentido literal da palavra, pois faz graves acusações sem apresentar uma única prova e sem dar o direito de voz e de resposta a quem está sendo acusada.

Não se trata de uma coluna propriamente, mas sim de um panfleto que acusa o governo do Estado de “mentir, iludir e falsificar dados para ludibriar a opinião pública”. Além disso, levanta a suspeita de que um “dinheiro bilionário” teria sido “desviado para a construção de estádios para a realização da Copa do Mundo. Acusações gravíssimas, certamente, para as quais o funcionário da RBS que conta com vários canhões midiáticos para divulgar suas posições não apresenta uma prova sequer. Paulo Santana acusa o governo do Estado de “mentir, iludir e falsificar dados” com base apenas em dois comunicados divulgados “numa emissora de rádio” e “na imprensa” por duas entidades: o Simers e o Cremers, cujas posições e intervenções políticas são bem conhecidas e muito questionadas por outras entidades e entes governamentais que trabalham com saúde pública.

Essas entidades e o colunista em questão, obviamente, tem todo o direito de ter e emitir suas opiniões políticas, mas, cabe a elas e a ele, apresentar provas quando acusam alguém de mentir, iludir, falsificar dados e desviar quantias bilionárias de dinheiro. No caso em questão, não são as entidades que fazem essas acusações, mas sim o colunista que usa sua visibilidade e exposição midiática como um escudo protetor de impunidade. E, ao final de seu panfleto, com a sutiliza de um hipopótamo ingressando num batizado, ele dispara: “os eleitores precisam ver quem os está enganando. E votar contra os que os enganam”. Poderia ter dado seguimento à sua total ausência de sutileza e apontado os nomes dos candidatos apoiados pela empresa em que trabalha.

O estilo panfletário de Santana e da RBS vale-se de algumas verdades e de muitas omissões para, usando as palavras do colunista, “ludibriar a opinião pública”. É verdade que há problemas na saúde pública em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul e no Brasil. Problemas históricos que tem a ver com o desmantelamento do Estado brasileiro operado durante décadas pela ideologia fundamentalista do Estado Mínimo que a RBS sempre defendeu e segue defendendo. A empresa e seus funcionários escalados para dar opiniões não assumem a responsabilidade pelas posições políticas que defendem. A empresa e os seus candidatos para o governo do Estado e o Senado apoiaram editorialmente, por exemplo, o fim da CPMF (que tirou cerca de R$ 40 bilhões da Saúde), a posição contra o desarmamento no plebiscito nacional, a posição contra o programa Mais Médicos (aliando-se ao corporativismo de algumas entidades médicas), contra a mudança do modelo de pedágios, apenas para citar alguns exemplos.

Se é verdade que seguem existindo problemas na Saúde, também é verdade (e isso é completamente omitido no panfleto em questão) que, pela primeira vez, o Estado do Rio Grande do Sul está cumprindo o que determina a Constituição e investindo 12% da receita na Saúde. Ao todo, entre 2011 e 2014, serão R$ 9,53 bilhões investidos na construção e ampliação de casas de saúde, na atenção básica e em equipamentos. Os avanços na área da saúde pública no Estado foram reconhecidas pela própria candidata Ana Amélia Lemos em um debate de rádio realizado esta semana. É certo que ainda existem muitos problemas e o setor precisa de pesados investimentos. Mas esses pesados investimentos não virão das mãos dos defensores do Estado mínimo, das demissões e arrocho salarial de servidores, da criminalização da política e de tudo que venha do setor público. O panfleto de Paulo Santana é um capítulo emblemático do engajamento ideológico e da irresponsabilidade política desse grupo midiático que se autodesignou porta-voz dos interesses da população do Rio Grande do Sul e omite sistematicamente os reais interesses econômicos com os quais opera. Isso sim é ludibriar a opinião pública.

Marco Weissheimer, jornalista.

http://www.contextolivre.com.br/2014/07/rbs-entra-na-campanha-eleitoral.html

DILMA EM SUA VERSÃO 4.0 VEM AÍ

Consultoria ataca Dilma com versão brasileira de End of America

http://jornalggn.com.br/noticia/consultoria-ataca-dilma-com-versao-brasileira-de-end-of-america

Inspirado numa afronta ao governo Barack Obama, relatório da Empiricus excede análise econômica e discute atitudes do PT
Jornal GGN - A Empiricus, empresa que se define como uma “casa independente de análises financeiras”, publicou este mês o trabalho de meses de um de seus sócio-fundadores, Felipe Miranda: um relatório intitulado O Fim do Brasil. A peça, uma versão tupiniquim do End of America, da Stansberry & Associates Investment Research (S&A), consiste numa afronta à política econômica encampada pela presidente Dilma Rousseff (PT) nos últimos anos.
Usando o discurso do medo (exatamente como nos relatórios do tipo “Saiba como se proteger da Dilma”), a Empiricus, agora, prevê uma crise sem precedentes para o Brasil, e se dispõe a dizer ao investidor o que ele deve fazer com o patrimônio da família.
O relatório inspirado no End of America nasce com o mesmo propósito: criticar as diretrizes econômicas vigentes e interferir nos rumos da eleição. No caso da S&A, quem assina a peça é Porter Stansberry. Como o GGN mostrou em matéria de maio deste ano, a companhia americana, além de inspirar os passos da Empiricus no Brasil, é subsidiária da Agora Inc., a mais nova parceira da consultoria brasileira.
No End of America, Porter se apresenta como um profissional renomado no mercado financeiro em função de publicações cujo conteúdo é frequentemente associado “aos interesses dos conservadores dos EUA e da ala direitista da política”.
No vídeo publicado em dezembro de 2010, o empresário afirma ter previsto a crise internacional de 2008 e aponta para uma situação ainda relacionada àquele fenômeno, mas“infinitamente ainda mais perigosa", porque vai afetar diretamente a “conta-corrente, a poupança, a aposentadoria, o modo de trabalho e o estilo de vida de cada cidadão americano.”
O novo problema estaria para atingir o “tesouro americano” e, diante da situação, Stansberry se propõe a ensinar onde os americanos podem aplicar seu dinheiro sem sofrer represálias do poder público. O empresário promete enviar um relatório gratuito explicando passo a passo.
Felipe Mirada, pela Empiricus, reproduz a fórmula estadunidense sem pudor. Em O Fim do Brasil, o empresário comemora a cartela de 200 mil leitores diários, e o fato de tê-los orientado quanto a investimentos financeiros. “Faço referência à capacidade de fazer nossos assinantes ganharem dinheiro num ambiente difícil tão somente por uma questão: há tempos muito mais difíceis por vir. Projetamos a mais importante crise para o Brasil desde 1994. Ela está aí, batendo à nossa porta”, afirma.
“Esta esperada crise encontra suas raízes no colapso do sistema financeiro de 2008, cujo ápice é marcado pela quebra do centenário banco norte-americano Lehman Brothers e pelo consequente caos em Wall Street”, continua. “A poupança de milhões de pessoas será dizimada. A mudança vai afetar seus negócios e seu emprego. Veremos impactos dramáticos sobre as poupanças, os investimentos e as aposentadorias.”
O discurso do terror
Segundo Felipe Miranda, “basicamente, há cerca de cinco anos, o governo brasileiro mudou dramaticamente sua política econômica. Passamos a desafiar décadas de um conhecimento acumulado e consolidado em macroeconomia. Abandonamos o pilar ortodoxo para nos render à maior intervenção do Estado na economia, a uma economia pautada no assistencialismo e ao estímulo excessivo ao consumo. Qual o resultado? Falência das contas públicas e impossibilidade das famílias continuarem aumentando o consumo nesta velocidade.”
Para endossar a tese de que os cofres federais entrarão em colapso em breve, Miranda faz uma análise, em nove tópicos, do que tem sido a política econômica nacional enquanto Dilma Rousseff segue no posto de presidente. Na lista do empresário, os seguintes itens:
1 - Crescimento médio do PIB, segundo projeções, de 1,8% ao ano. “O pior desde o governo Collor”;
2 - Inflação para 2015 estimada no teto da meta, de 6,5%;
3 - Contas públicas “desajustadas”, com forte indício de que, no futuro, será difícil do governo se financiado - o que levaria à alta dos juros, mais taxação à população, no mínimo;
4 - O chamado déficit em transações correntes, medida do saldo de nossas contas com o exterior sem considerar as movimentações de capital, que cresce "sistematicamente e atinge níveis preocupantes";
5 - Enfraquecimento do mercado de trabalho;
6 - Risco de apagão, em função da política energética adotada por Dilma;
7 - A destruição da Petrobras, com queda no valor das ações da estatal nos últimos cinco anos, queima de caixa e aumento da dívida líquida;
8 - Destruição da Eletrobras, mais uma vez, em função da política energética federal;
9 - Baixas na produtividade industrial, já que o governo não conseguiu cumprir as metas estabelecidas no Plano Brasil Maior, de 2011.
“O medo é político também”
Mas o que chama atenção na versão brasileira de End of America é o mergulho numa análise política por um empresa do ramo financeira. Em pleno ano eleitoral. Para entrar na questão, Felipe Miranda introduz um trecho de uma entrevista de Armínio Fraga (homem escalado por Aécio Neves para atuar na campanha presidencial do PSDB), na qual o economista diz que a sociedade brasileira não tem coragem de manifestar o temor de ordem política e econômica que sente em relação ao futuro.
Arminio Fraga e Aécio Neves com João Doria Jr. Créditos: Paulo Freitas
“Há razão de ser nesse medo”, diz Felipe Miranda, especificamente no que tange a um possível ataque à democracia e liberdade de imprensa, citada por Armínio. “Não há nada mais antidemocrático e desrespeitoso à democracia quanto uma lista negra de jornalistas, a serem perseguidos pelo Estado e seus defensores”, acrescenta, e cita em seguida o artigo de Alberto Cantalice (PT) sobre os “pitbulls da mídia”. Eis aqui uma lembrança da polêmica gerada a partir das críticas do petista a jornalistas e comediantes declaradamente anti-PT.
Para encerrar essa parte do assunto, Miranda ainda compara o governo brasileiro, sob gestão do PT, a Joseph Goebbels. “Além de ferir o preceito da liberdade, qualquer recrudescimento dessa condição teria um resultado rápido e com consequências desastrosas: fuga de capitais, tanto de brasileiros remetendo seu dinheiro ao exterior quanto de estrangeiros preferindo outros mercados ao nosso”, endossa.
A partir daí, Miranda volta a lembrar que além de implicações menores, caso o Brasil não mude de rumo, “os destinos de viagem serão alterados, a escola dos filhos pode ser revista, local e forma sua família faz compras talvez mude." O país voltará, segundo ele, às condições anteriores ao Plano Real. “Falo de inflação alta, perda da metade do poder de compra do salário ao longo do mês, congelamento de preços, problemas de desabastecimento, falta de produtos nas prateleiras, impossibilidade de planejamento por consumidores e empresários.”
O que vende a consultoria, afinal?
Felipe Miranda segue a cartilha de Porter Stansford até o final, quando, a exemplo do autor de End of America, se coloca à disposição para ajudar o investidor a aplicar seu dinheiro em negócios confiáveis.
“O que proponho neste material é mostrar a você exatamente aquilo que eu mesmo estou fazendo, para proteger e até mesmo aumentar meu próprio patrimônio, da mesma maneira que você poderá fazer”, avisa.
Na lista de dicas, Miranda destaca que o investidor, para se assegurar, precisa, cada vez mais, mirar o mercado externo, aplicando parte do dinheiro “além do alcance do governo brasileiro”, sem colocar todos os ovos na mesma cesta. “É fundamental diversificar entre algumas moedas”.
Isso, segundo ele, vai evitar perda total quando a União, desesperada diante da crise prevista pela Empiricus, passar a confiscar a poupança da população. Para ajudar o leitor, ele deixa o link para um segundo texto, no qual ele detalha os passos para se fazer investimentos no exterior.
Em todas as sugestões, aliás, Miranda deixa a recomendação de leitura prévia. Sempre um texto de sua autoria, sobre todos os assuntos: como se proteger da inflação, que “cresce como uma gravidez”, de maneira inevitável; como se cuidar para não investir em estatais que vão quebrar, principalmente quando as ações comprometem o FGTS, entre outros.
Tudo isso, claro, para culminar no pedido de que o leitor dê uma oportunidade a Empiricus de virar sua consultora. “Pois bem…a assinatura de um ano da série custa apenas R$ 238,80, podendo ser dividida em 12 parcelas mensais de R$ 19,90. Pagando à vista, sai por R$ 191,04”, adianta.
TSE manda tirar conteúdo do ar
No site Muda Mais, da campanha oficial de Dilma, o PT informa que no domingo (27) o Tribunal Superior Eleitoral deu provimento à uma ação movida pela legenda e solicitou ao Google que retire do ar os relatórios que configuram propagandas eleitorais irregulares da Empiricus a favor do candidato a presidente Aécio Neves (PSDB).
“Acontece que o conteúdo divulgado pela Empiricus em sites de grande circulação ultrapassa os limites da liberdade de informação e fere o que está previsto na legislação eleitoral. Ao anunciar formas de ‘proteger o seu patrimônio da Dilma’, a empresa cria um cenário de terror creditando à reeleição da presidenta uma possível oscilação (normal, diga-se de passagem) do mercado financeiro. Além da propaganda contrária à Dilma, a empresa ainda criou chamadas favoráveis ao candidato da oposição”, afirma nota veiculada no portal petista.

A imprensa a serviço da espionagem privada, por J. Carlos de Assis

http://jornalggn.com.br/noticia/a-imprensa-a-servico-da-espionagem-privada-por-j-carlos-de-assis

Uma das consequências do fim da União Soviética foi o espalhamento pelo mundo de milhares de antigos espiões da extinta KGB ou a serviço dela, todos agora em busca de emprego alternativo para sobrevivência. Estima-se que muitos foram prestar serviço no sistema financeiro, tendo em vista sua habilidade em línguas e transações internacionais. Já uma parte importante foi, por vários indícios, recrutada pela imprensa mundial de direita.
A maior evidência da articulação pós-guerra fria entre mídia e espionagem aconteceu na Inglaterra em 2011. Espiões travestidos de jornalistas grampearam milhares de personalidades para alimentar reportagens do “The News of World”, um dos braços britânicos do multibilionário truste jornalístico comandado pelo senhor da mídia mundial de extrema direita, Rupert Murdoch. Ele se viu forçado, em face da investigação do escândalo pelo Parlamento, a fechar o tabloide.
A imprensa concorrente de Murdoch não fez muito barulho com essa violação repugnante de privacidade que, contraditoriamente, feriu na alma um dos princípios basilares do liberalismo de direita. Se isso tivesse acontecido com um jornal progressista seria caso de uma mobilização moral e política universal contra os responsáveis. Mais do que isso, o caso foi tomado como excesso de alguns jornalistas, e não como prática de espionagem que extrapolou do maior complexo de mídia contemporâneo.
É fato que nem sempre é fácil distinguir jornalismo de espionagem. A espionagem usa frequentemente jornalistas, em geral no interesse de governos, e jornalistas usam fontes espiãs, em geral no interesse da informação. O que é novo é a compra por jornais de certas informações que só podem ser efetivamente colhidas por espiões profissionais, e não por jornalistas. Em outras palavras, o que é novo é um “mercado” de notícias ou intrigas por interesse ideológico da mídia e por interesse financeiro do espião.
Entretanto, há uma maneira sutil de diferenciar jornalismo de espionagem. É o nível do detalhe da suposta informação. Dou um exemplo: numa eleição de Kirchner surgiu a informação de que Chavez havia mandado creio que 700 mil dólares para a campanha. É muito provável que tenha sido verdade. Contudo, como essa informação chegou ao conhecimento da imprensa? O jornal que a deu afirmou que o portador saiu de Caracas num horário preciso, pousou para escala em Brasília em horário determinado, foi para um apartamento com endereço identificado, saiu de volta ao aeroporto numa hora determinada e dali seguiu para Buenos Aires, onde foi recebido por gente de Kirchner em horário certo.
Pergunto: como um jornalista na sua rotina regular pode ter sabido de tudo isso com precisão de minutos? No mínimo, teria que acompanhar o voo do portador, anotando todos os detalhes. Como um jornalista poderia anotar todos os detalhes antes de ter conhecimento do fim da missão? Um espião poderia fazer isso pois acionaria parceiros disponíveis em Brasília e em Buenos Aires, todos trabalhando regularmente para jornais e ... para clientes privados. Essa pista para distinguir jornalismo de espionagem acontece porque os jornais usam detalhes como hora e lugar precisos para aumentar a credibilidade da “informação”. Isso é o rabo que revela o cachorro.
No Brasil, onde se usa regularmente a liberdade de imprensa para violar direito de privacidade e intimidade, a relação entre polícia e mídia se estabeleceu recentemente mediante uma vinculação de caráter quase institucional. O procedimento padrão é o seguinte: a Polícia Federal recebe uma denúncia e inicia uma investigação; havendo indício de irregularidades, pede ao Judiciário autorização para grampear os envolvidos; o juiz costuma dar com facilidade porque tem medo de ser, ele próprio, objeto de investigação da Polícia; tendo-se confirmado os indícios, e antes da entrega à Promotoria para instrução do processo, a Polícia escolhe um jornal ou televisão e “vaza” o momento espetacular da prisão provisória, cedendo as gravações. A mídia, “protegida” pela liberdade de imprensa, se encarrega da divulgação escandalosa dos fatos antes da denúncia e do julgamento, mandando às favas o princípio jurídico da presunção de inocência.
A opinião pública não se escandaliza com isso por duas razões. Primeiro, porque acha que se a Polícia Federal disse e a mídia noticiou o sujeito deve ser criminoso mesmo; portanto, às favas com sua privacidade. Segundo, porque acha que nunca vai acontecer com ela mesma.
Entretanto, há uma imensa gama de probabilidades pela qual milhares de nós podem ser expostos a chantagem tendo em vista as ramificações desse procedimento padrão. A primeira delas é que não existe um telefone grampeado; são muitos, ou seja, são todos para os quais o dono liga ou dos quais recebe ligação. Todos são gravados, inocentes e culpados. E todos ficam de posse do grampeador que pode simplesmente vender seu conteúdo para jornais ou para particulares no mercado das chantagens pessoais.
É claro que a Polícia Federal tem encontrado no grampeamento de telefones um meio extremamente eficaz de investigação. Isso deve ser preservado em nome do combate à corrupção em setores antes inatingidos. Mas deve haver regras claras para os juízes autorizarem os grampos. E o tempo do grampeamento não pode ser infinito. No Supremo Tribunal Federal alguns ministros se levantaram contra as práticas de alguns juízes de autorizarem o prolongamento do prazo do grampo sem justificativa, e por simples pedido da Polícia. Até agora, porém, nada foi regulado nessa matéria.
É necessário também proibir a divulgação de gravações na fase de inquérito. Isso deve ser feito na fase seguinte, quando a Promotoria faz a denúncia. E é inaceitável que peças do inquérito, inclusive gravações, sejam dadas em exclusividade, antes da denúncia, a alguns jornais, revistas e tevês selecionados, para serem apresentados por esses meios como furos. Não pode haver interesses privados por trás desses “furos”?
A liberdade de imprensa é um instrumento fundamental da democracia, mas não a liberdade de espionar a vida íntima dos cidadãos honestos. A tolerância com isso vem do medo de ser confundido com corruptos, ou de ser acusado de protegê-los.  Uma maneira de distinguir uma da outra é examinar o nível de detalhamento da notícia: quando está cronometrada ao nível de minutos, cuidado. Há um espião profissional por trás contaminando a notícia com interesses privados. Em outras palavras, estaremos diante de uma situação em que em lugar de a imprensa usar a espionagem privada, a espionagem privada usa a imprensa!
 J. Carlos de Assis - Economista, doutor em Engenharia da Produção pela Coppe/UFRJ, professor de Economia Internacional da UEPB, autor de mais de 20 livros sobre Economia Política brasileira.

'O eleitor está revoltado e crítico', diz o diretor-geral do Datafolha


O sociólogo Mauro Paulino afirma que hoje existe uma rejeição recorde aos políticos e aos partidos em geral que talvez só se compare à época do impeachment do Collor

São Paulo - À frente do Datafolha Instituto de Pesquisas há 16 anos, o sociólogo Mauro Paulino afirma que esta eleição será imprevisível, e com características únicas, por ser a primeira após as manifestações de junho do ano passado, que geraram enorme má vontade do eleitor com a política. “Hoje há uma rejeição aos políticos e aos partidos que talvez só se compare à época do impeachment do Collor. O Datafolha aponta que 67% dos eleitores não têm preferência por nenhum partido, é um recorde histórico”, conta. Este ano, acredita Paulino, a eleição não será tão dominada por temas econômicos quanto em 2010. “A economia é importante, mas divide a atenção com a exigência por melhores serviços públicos”. Paulino avalia que a presidenta Dilma Rousseff deveria investir numa vitória em primeiro turno. “Se for para o segundo turno, a possibilidade de ser uma campanha muito acirrada é maior”, alerta o sociólogo, que se incomoda com a especulação na bolsa de valores sobre as pesquisas eleitorais: “É pura jogatina”.
"O eleitor hoje é pragmático e quer melhoria na sua vida", diz o diretor-geral do Datafolha Instituto de Pesquisas, Mauro Paulino
Foto:  Murillo Constantino
Quem vence a eleição presidencial deste ano?
É uma eleição bastante imprevisível, com características diferentes. Em dezembro de 2009, a então candidata Dilma Rousseff estava bem atrás de seu adversário tucano, José Serra. Mas fizemos um exercício com o poder de transferência de votos do Lula e chegamos à conclusão de que, no mínimo, ela iria empatar com o Serra. Mas nessa eleição não dá para fazer um exercício como antes. Em 2010, havia um desejo de continuidade da população, com um candidato de oposição conhecido, o Serra, e uma candidata da situação desconhecida, Dilma. Hoje, a situação é inversa. Há um desejo amplo, de 74% do eleitor, por mudanças; uma candidata do governo conhecida; e dois candidatos da oposição desconhecidos. A taxa dos que conhecem muito bem Dilma é de 53%. No caso do Aécio, 17%. Tem uma avenida a ser percorrida pelos candidatos de oposição para serem conhecidos e passar suas mensagens.
O que esse desejo de mudanças significa?
Os três candidatos colocaram a palavra mudança no slogan. Esse desejo não é só em relação ao governo, e sim uma vontade do eleitor de os políticos agirem de outra forma. Hoje há uma rejeição aos políticos e aos partidos em geral que talvez só se compare à época do impeachment do Collor. O Datafolha aponta que 67% dos eleitores não têm preferência por nenhum partido, é um recorde histórico.
Isso seria um resquício das manifestações de junho de 2013?
Certamente. Junho de 2013 foi um momento muito rico e de importância fundamental no desenvolvimento da cultura política do brasileiro. O cidadão vem exercitando o voto a cada dois anos e se conscientiza gradativamente sobre o significado de votar. Isso é o desenvolvimento da democracia, que ainda é muito jovem. A conscientização do eleitor cresce em uma velocidade muito mais rápida que a dos políticos em geral. Isso acaba acarretando essa rejeição aos partidos. Até mais importante do que a quantidade de pessoas que foram às ruas, foi o número das pesquisas, que apontaram que mais de 80% da população apoiavam as manifestações.
Não é um contrassenso as pessoas continuarem votando nos mesmos políticos, uma vez que não acreditam mais neles? 

A oferta de políticos não deixa muita escolha, as pessoas acabam votando por exclusão. Os anseios que se manifestaram em junho não são contemplados. Desde 2008, o principal problema apontado no país, com respostas espontâneas, é a saúde pública. Mesmo em meio à polêmica, o Programa Mais Médicos tinha o apoio de 51% da população no seu lançamento. O que havia de indignação antes das manifestações, caminhou para algo que podemos chamar de revolta. Teve um episódio naquela época muito significativo: no segundo dia de manifestações, a imprensa transmitia ao vivo a pancadaria da polícia em jovens de classe média. No programa “Brasil Urgente”, da TV Bandeirantes, o José Luiz Datena apresentou uma enquete para saber se a população era a favor do movimento, mesmo com a violência, e 60% disseram que sim. Então ele repetiu a pergunta, fez um discurso para tentar induzir a resposta, mas aumentou ainda mais o número de favoráveis. Essas enquetes não têm valor científico, mas foi significativo o fato de o público do Datena responder dessa forma. Por conta disso, ele mudou o discurso.
Essa indignação se reflete no número de 13% de votos brancos e nulos, e 14% de indecisos? Essa é uma taxa considerada alta?
A taxa de 27% de eleitores sem candidatos é inédita neste período da eleição. Quando comparamos com eleições anteriores, ficava em torno de 12%. Esse é um dos indícios de que o eleitor está revoltado e crítico.
Que outros indícios são importantes?
Hoje temos a maior taxa de eleitores que não têm um partido de preferência, 67%. Pela primeira vez, a maioria dos eleitores se mostra contra o voto obrigatório. E a maioria não votaria se não fosse obrigatório. Quando observamos esses números em cidades com mais de 200 mil habitantes, eles aumentam muito. O eleitor está mais desconfiado da política, principalmente nas capitais e centros urbanos.
Essa desconfiança tende a crescer?
Há uma grande parcela do eleitorado buscando mudanças, que ainda não enxerga na oposição a concretização disso e nem vê claramente no governo um vetor de mudança. Desde a semana passada, começou a exposição maior das campanhas.
Como os candidatos se comportarão em relação a essa demanda?
Esta é uma eleição na qual o marketing político terá um papel fundamental. Cada um dos três principais candidatos tem uma mensagem a passar muito específica. A de Dilma é mudar sem perder o que já foi conquistado. A de Aécio, de que ele faz a oposição mais explícita ao governo, mas tem que se defender da imagem negativa do segundo mandato do Fernando Henrique Cardoso — que é um cabo eleitoral negativo, mais tira votos do que agrega. Eduardo Campos tem a missão mais difícil, que é fazer oposição a Dilma sem criticar Lula, e ao mesmo tempo convencer o eleitor da Marina Silva que está em sintonia com suas ideias. E a oposição ainda tem que se tornar conhecida.
Na eleição passada, Serra abandonou Fernando Henrique. Mas parece que Aécio não pretende fazer o mesmo. Como é possível trabalhar a imagem dessa parceria?
Isso é um risco para a campanha de Aécio. Mostrar a imagem de Fernando Henrique e se remeter aos governos dele pode ser negativo. Tanto que, na primeira inserção, a campanha deu sinais de que não irá usar tanto isso.
Eduardo Campos tenta colar na imagem do Lula e se afastar de Dilma, o que até parece uma questão simples, só que Lula e Dilma estão juntos... 

O Lula está explicitamente mostrando que Dilma é a candidata dele. Ele não tem a mesma força de transferência de votos que esbanjava em 2010, mas ainda é o maior cabo eleitoral do país. E Dilma tem um tempo de televisão farto. Embora isso não garanta a vitória. Ulysses Guimarães, que tinha 20 minutos em 1989, ainda assim não conseguiu passar sua mensagem. Às vezes, muito tempo de televisão pode se voltar contra o candidato.
Mas hoje não existe uma diferença por conta das inserções? 

Sim, a inserção é mais importante que o horário político. Até porque, mais do que nunca, os políticos não são bem-vindos às casas hoje. O horário político fixo deve perder muita audiência depois da primeira e da segunda semana. Já era assim, mas será intensificado nesta eleição, pois ninguém está com vontade de receber os políticos em casa.
Dilma e Aécio já sinalizaram que travarão uma batalha de números na televisão. A petista deve comparar as taxas de juros e a inflação com o último governo de Fernando Henrique, enquanto Aécio deve utilizar os últimos números fracos da economia. Como isso será visto pela população?
Esse é o grande embate: a forma como cada um vai comunicar os vetores que vão definir a eleição. Vai levar vantagem aquele que souber conversar com o eleitor de uma forma mais natural e factível.
Lula vai participar da campanha de Dilma e deve esbanjar carisma na televisão. Isso se refletirá em vantagem para a petista?
O maior trunfo da campanha da Dilma será o Lula. Normalmente, a propaganda na televisão melhora a avaliação do governo. Dilma vai passar a mostrar seus feitos de forma atraente e é fundamental que ela melhore a taxa de aprovação, hoje em 32%, para vencer no primeiro turno. Há um estudo que mostra que, quando o candidato tem uma taxa de aprovação de até 34%, não vence eleição.
A campanha dela prioriza a vitória no primeiro turno?
Essa é a maior chance de vitória da Dilma. Se for para o segundo turno, a possibilidade de ser uma campanha muito acirrada é maior. A reeleição é um plebiscito — ou a população aprova, ou não aprova. As principais simulações de segundo turno mostram que o aperto é cada vez maior.
Dilma vem se mantendo com cerca de 35% da preferência do eleitor, enquanto Aécio não ultrapassa os 23%. É uma situação confortável para o PT, ou já pode ser considerada 
um sinal de alerta? 

A Dilma permanece como favorita para ganhar no primeiro turno, mesmo com a queda de popularidade. Por outro lado, quando observamos a evolução da avaliação do governo Dilma, ela voltou para o patamar mais baixo, verificado durante o período das manifestações do ano passado (32%). A probabilidade de ter segundo turno é de 50%.
As pesquisas tendem a mudar com o horário eleitoral?
Isso varia. Em 2002, era uma disputa entre Serra, Ciro Gomes (então no PPS), Lula e Anthony Garotinho (na época no PSB). A partir do horário eleitoral, Ciro Gomes passou a crescer muito e encostou no Lula, mas deu uma declaração ruim em relação à atriz global Patricia Pillar (sua mulher naquele período) e despencou. Em 2010, Dilma era desconhecida e, na medida em que teve o nome vinculado a Lula na televisão, conseguiu ultrapassar Serra. É possível que, neste ano, o horário eleitoral também funcione dessa forma.
O Datafolha aponta que 45% dos eleitores acreditam que a Copa foi favorável a Dilma. O que o sr. acha?
A Copa não vai pesar nada. A expectativa de caos nos aeroportos e de uma organização ruim acabou se revertendo. Fizemos pesquisas antes da Copa, durante, e depois que terminou. Notamos que, durante o evento, os brasileiros se mostraram com mais orgulho do Brasil em meio ao sucesso da organização. A taxa de vergonha de ser brasileiro, que havia chegado a 27% antes da Copa, se reverteu. Com a derrota da seleção, esse e outros indicadores sobre o evento voltaram ao patamar do começo.
Então o sucesso da organização acabou anulando a derrota histórica da seleção?
Sim, acabou sendo um zero a zero. Houve uma movimentação durante o evento. O ânimo do brasileiro melhorou, uma vez que a perspectiva de caos se tornou festa.
O que sai como plataforma possível das manifestações de rua para os candidatos?
Nas eleições anteriores, o comportamento da economia ditava a conduta do eleitor. Isso continua importante, mas divide a atenção do eleitor e a formulação do voto com a exigência por um melhor padrão de serviços públicos, especialmente na área de saúde. O eleitor hoje é pragmático, quer melhoria na vida.
É por isso que vimos tantas voltas na discussão sobre o Mais Médicos?
O programa foi criado para dar resposta a essa demanda pela melhora no setor de saúde. A partir do seu lançamento, a taxa de eleitores que citam a saúde como principal problema vem caindo. Ela saiu de um patamar de 50% e hoje está em 38%. Isso é um reflexo da boa avaliação do Mais Médicos.
Eduardo Campos colocou entre suas prioridades de campanha a bandeira para que 10% do Produto Interno Bruto sejam investidos em saúde. Isso pode ajudar a angariar votos?
As propostas têm de ser factíveis. O eleitor vai observar isso também. Ele precisa demonstrar de onde vai tirar recursos para chegar a esses 10%. Em um primeiro momento, ele pode estampar essa proposta no horário eleitoral gratuito e agradar, mas, se no debate ele for questionado sobre o assunto e titubear, pode perder o que ganhou.
O sr. falou dos impactos dessa rejeição aos políticos no plano nacional. Essas questões aparecem também nos estados?
Sim. Mas em São Paulo é um pouco diferente, pois existe uma relação muito próxima do eleitorado com os governos do PSDB, principalmente no Interior. E, também, os candidatos de oposição ainda não são conhecidos. O eleitor acorda para a eleição estadual mais tarde, a partir do horário eleitoral, quando percebe a necessidade de escolher governador, deputados e senadores. Grande parte dos eleitores não acordou ainda para a eleição. Em São Paulo, o governador Geraldo Alckmin sai com favoritismo grande, de 56% das intenções de voto, para ganhar no primeiro turno. No entanto, existe a preocupação com a falta de água e a violência urbana. Temos ainda um terço dos eleitores que não escolheu candidatos em São Paulo, é uma taxa recorde. No Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (ex-governador) foi tirado da disputa política deste ano como reflexo das manifestações. O Rio é uma cidade mais crítica e politizada, busca mais mudanças. Foi onde a ex-ministra Marina Silva, então candidata à Presidência pelo PV, teve mais votos em 2010. São Paulo é mais conservador.
Essa relação do eleitor de São Paulo com o PSDB mexe com a decisão do Paulo Skaf (candidato a governador pelo PMDB) de não querer fazer campanha para a presidenta Dilma Rousseff?
Sim, pois São Paulo é um dos estados onde se tem a maior rejeição aos governos do PT.
Isso explicaria o fraco desempenho do ex-ministro Alexandre Padilha, que tem 4% das intenções de voto, para o governo paulista?
Não, é mais pelo desconhecimento da população. Ele vai se apresentar no horário eleitoral. O prefeito Fernando Haddad, neste mesmo momento da eleição, tinha 3% das intenções de votos. Durante a campanha, ele foi lentamente sendo conhecido e, quando foi relacionado ao Lula, acabou ganhando a eleição. O Padilha pode se transformar em uma candidatura forte.
E o Skaf?
Ele já aproveitou muito tempo de televisão com as propagandas da Fiesp (entidade da qual é presidente licenciado) e chegou a esse patamar (16% de intenção de voto) graças a essa exposição. Conseguiu ainda um tempo de televisão considerável e tem um marqueteiro de primeira linha, o Duda Mendonça. Pode se consolidar, nas primeiras três semanas de horário eleitoral, como uma alternativa viável para derrotar Alckmin. Pode ser que o eleitor do Padilha pratique o voto útil, uma vez que Skaf pode se tornar o candidato mais viável para vencer Alckmin.
Enquanto em São Paulo Alckmin é o favorito, no Rio a disputa está bem acirrada, com Garotinho e Crivella empatados. Mas Garotinho tem uma taxa de rejeição de 39%. Isso pode se traduzir em vantagem para o Crivella?
Sim. E também o Rio tem um percentual de evangélicos acima da média nacional. Então, o Crivella teria duas vantagens, embora os evangélicos estejam divididos entre os dois candidatos. O Rio é um estado que guarda surpresas.
A questão da queda da popularidade de Haddad vai pesar para o PT em São Paulo?
Não diria isso. A avaliação do Haddad é reflexo em boa parte dessa resistência do paulistano ao PT. Desse sentimento de revolta e contestação aos políticos, que é maior em grandes cidades, especialmente São Paulo.
Dilma perdeu seis pontos percentuais de popularidade no Nordeste, que é a região onde tem a maior parte do eleitor, de 49%. Isso é preocupante?
Não. Temos que relativizar as variações por região, porque a margem de erro é maior. A grande questão em relação ao Nordeste é como o Eduardo Campos vai se comportar, se vai conseguir extrapolar as fronteiras de Pernambuco, superar um certo preconceito que outros estados têm com Pernambuco e tirar votos da Dilma.
Eduardo Campos se instalou em São Paulo, Aécio tem visitado o estado. Qual será o peso do maior colégio eleitoral do país?
Neste momento, todos os candidatos vão tentar marcar território em São Paulo. É uma parte do país que está um pouco descoberta, o que cria a necessidade nas campanhas de conquistar a empatia dos paulistas.
Como as eleições nacional e estadual se conversam em cada estado?
Tradicionalmente, o eleitor acaba não fazendo ligação, tanto que muitos votam no Alckmin e na Dilma. Historicamente, os eleitores votam mais no nome do que no partido. A empatia com o candidato, com a figura que é criada pelos marqueteiros, acaba decidindo a eleição.
Isso tem alguma relação com a impressão de que a Dilma fica com quase toda a rejeição do Lula, mas não consegue ficar com parte expressiva da aprovação dele?
Quando a gente lembra de Dilma entregando a taça da Copa do Mundo para o jogador da Alemanha, já dá uma ideia de como é difícil para os marqueteiros superarem a imagem que a personalidade da presidenta acaba passando para o eleitorado. É diferente da empatia que Lula cria espontaneamente. Essa é uma dificuldade, fazer com que o candidato se torne simpático, mesmo que ele não seja no dia a dia. Dilma não tem, nem de perto, o carisma do seu padrinho.
Em relação às pesquisas. Enquanto Datafolha e Sensus apontaram que haveria empate técnico no segundo turno, para o Ibope, Dilma ganharia. Como explicar essa diferença de cenário, se os levantamentos foram feitos na mesma época? 
Ainda bem que os institutos permanecem com as suas convicções, cada um utilizando um método próprio, apesar de a lei eleitoral tentar cada vez mais igualar os métodos. Sutilezas metodológicas explicam essa diferença. Por exemplo, todo questionário do Datafolha é voltado para trazer o entrevistado para uma situação presente, com questões como “Se o segundo turno fosse hoje, em quem você votaria?”. O Ibope não traz o eleitor para pensar se o segundo turno fosse hoje. Não digo que um esteja certo e o outro errado, são apenas diferentes.
O reflexo dessa diferença foi sentido principalmente na bolsa de valores, que vem oscilando de maneira contundente a cada divulgação de pesquisa eleitoral. Já aconteceu em outras eleições?
Isso é esdrúxulo. A especulação na bolsa é algo que está me incomodando muito. As pesquisas eleitorais estão supervalorizadas. A pesquisa não pode ser vista como um prognóstico, ela é um diagnóstico do que já aconteceu, pois quando é divulgada, já está velha. Tem muito a se percorrer na cultura de leitura de pesquisa no Brasil. Aconteceu algo parecido em 2002, quando o Lula era considerado uma ameaça e, a cada ponto que subia, o dólar subia junto. Esse movimento da bolsa, peculiar desta eleição, é pura especulação, não vejo lógica e nem justificativa para que resultados de pesquisas que mostram estabilidade e variações dentro da margem de erro possam influenciar as ações desse jeito. Isso é pura jogatina, cassino. E essa especulação é estimulada pela lei eleitoral.
De que maneira?
Todo instituto que divulga a pesquisa tem que registrar a realização do levantamento cinco dias antes da divulgação. Isso é anacrônico, não tem utilidade nenhuma. Em tese, seria para os partidos poderem fiscalizar as pesquisas, mas a fiscalização na maioria das vezes se dá após a divulgação. Esse intervalo de cinco dias proporciona a possibilidade de outro instituto, contratado por financeiras, fazer uma pesquisa tentando copiar exatamente o questionário que já foi registrado e repete a mesma amostra. Isso é uma pesquisa clone , confeccionada para ser entregue um dia antes da divulgação oficial. Não com o objetivo de informar, e sim de tentar antecipar o número que Datafolha e Ibope entregarão no dia seguinte, o que dá mais margem para especulações.
Em 2010, as campanhas tentaram abordar temas morais. Qual a possibilidade de esses temas voltarem agora?
Devem voltar. As questões do aborto e da legalização da maconha devem ser levantadas, principalmente após a atitude do Uruguai. E como é um tema no qual Fernando Henrique se envolveu diretamente, e como há acusações na internet em relação ao Aécio, a questão das drogas pode voltar sim.
Aécio pode ser prejudicado?
Se a eleição ficar muito acirrada, principalmente na reta final, pode ser decisivo. Mudanças de pequenas parcelas do eleitorado podem levar a eleição a um segundo turno.
E a questão do aeroporto de Claudio (MG), construído em terras desapropriadas de parentes de Aécio Neves?
Algum impacto tem, não saberia dizer em que grau. Não creio que seja decisivo, pois são muitas denúncias envolvendo diversos partidos e correntes. Isso chega ao eleitor mais como um exemplo de “olha aí como os políticos são”. Tem mais o efeito de aumentar a rejeição à prática política do que um impacto pontual em um candidato.
Os marqueteiros já aprenderam a lidar com as redes sociais?
Os partidos conseguiram desenvolver uma forma de utilizar a internet para fazer o trabalho sujo. Jogam na rede tudo aquilo que não pode ir ao ar na televisão, como boatos, associação de determinados candidatos a uso de drogas, acusações levianas. Mas como as coisas se equilibram, as redes têm status de neutralidade na eleição.
http://brasileconomico.ig.com.br/brasil/2014-07-28/o-eleitor-esta-revoltado-e-critico-diz-o-diretor-geral-do-datafolha.html