terça-feira, 23 de agosto de 2011

Reinaldo Azevedo, o mais novo seguidor de Lula, o Nosso Guia


 

 


Foi o que eu entendi. O Reinaldo Azevedo quer jogar o ex-presidente Lula em prisão domiciliar. Ou mandá-lo para o exílio. Ou para uma cadeia mesmo, cela de dois por dois, latrina, aquelas coisas. Matar, ele disse hoje que não quer. Na melhor das hipóteses, pelo que eu entendi, o Reinaldo Azevedo quer mudar a Constituição da República Federativa do Brasil. Para incluir um artigo, unzinho apenas. Algo assim: à exceção do sr. Luiz Inácio Lula da Silva (seguindo-se, para não errar, dos qualificativos R.G., CPF, endereço, todas aquelas certidões para provar que se está falando mesmo de Lula, este que os brasileiros fizeram presidente da República duas vezes), os demais brasileiros podem falar, escrever, ir, vir, estacionar, assistir a uma sessão de cinema, comer pipoca, expressar com palavras, gestos e atos o que pensam. E já que, na melhor das hipóteses, Reinaldo Azevedo pleiteia uma mudança na Constituição, no momento da redação certamente virá aquela coceirinha autoritária e, então, a alteração ficaria completa: outros brasileiros que falarem o que o sr. Reinaldo Azevedo não gostar de ouvir, e também os brasileiros que se movimentarem de forma “saliente” no tabuleiro da política, não mais poderão falar ou se movimentar.

Fica bom assim, Reinaldo? Pode ser melhor? Ok, então vá ao seu dicionário de sinônimos, rapaz, pesque lá umas palavras inusuais, dessas que impressionam, e experimente uma redação melhorada para os novos artigos constitucionais. Vai dar no mesmo, o importante será manter o espírito da nova lei: quem falar, escrever, expressar, divulgar etc o que o sr. Reinaldo Azevedo não gostar de ler, ouvir ou saber por terceiros ou quaisquer outras fontes, tem de ficar quieto no seu canto. Se insistir – e já temos aqui mais um artigo --, prisão no atrevido “saliente”. Domiciliar, em xilindró, por tempo indeterminado – ou, apenas, perseguição pela internet, com direito a comentários humilhantes, toda a sorte de enxovalhamentos.

Chega a ser engraçado. Lula perdeu três no voto, ganhou duas, levou sua candidata aos palanques, desceu a rampa e agora anda pelo País. Por que ele não pode fazer isso, xará? Ao contrário do FHC, que arrancou para si, no cargo, a reeleição, Lula jamais tentou mudar a regra do jogo com o jogo em andamento. Ele sempre foi pela democracia. Se na outra ponta do seu artigo de hoje você diz que o remédio para ele é mais democracia, o melhor é passar a outro tema, porque essa lição o Lula não precisa ouvir. Ele é o cara das assembléias de 100 mil trabalhadores diante dele, você não se lembra? Eu estava lá, reportando, para a Voz da Unidade (o jornal dos "comunas", como você diz, nós que recebíamos cartas que podiam explodir). Ele é o cara que foi preso por falar o que pensava e, isso mesmo, guiar a massa para o avanço. Ele é o cara que sempre foi do voto, da disputa leal, dentro das regras estabelecidas. Cite um, unzinho gesto autoritário do Lula, de suprimir regras, inverter ordens, suplantar códigos. Qual foi o dia que ele teve medo de voto? Onde é que esse cara solapou a democracia? Na boa, ensinar democracia para o Lula ou sobre o Lula é absolutamente desnecessário, vai por mim.

E lá está Getúlio Vargas. Sai prá lá não só ele, é o que você diz, como a CLT, os sindicatos (quase 400 categorias profissionais obtiveram reajustes salariais acima da inflação no primeiro semestre), as associações de moradores, de cidadãos, o MST. Saiam para lá todos, porque não é assim que o sr. Reinaldo Azevedo quer. Aqui, de resto, temos mais elementos para mais um capítulo da nova Constituição: o povo está terminantemente proibido de se organizar. Nessa frase eu não mexeria, Reinaldo, está claríssima na defesa do seu interesse.

E que tal, para comemorar a reforma constitucional, uma fogueira com carteiras de trabalho, no melhor estilo dos nazis? Não seria legal coroar a desorganização completa do povo – assim P-O-V-O – com a queima do pouquinho que temos de garantias trabalhistas, aquelas que se não fosse Getúlio Vargas, de muitos erros, contradições e também monstruosidades, mas de impressionantes benfeitorias ao Brasil, talvez não existissem até hoje? Pensa só no tamanho da fogueira, tantos foram os empregos criados nos últimos tempos...

Caro, na boa, passe lá na Saraiva e procure na obra de Voltaire, o iluminista, a frase famosa. Aquela que diz: “Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las”. Mas vê se não esquece: Voltaire, aquele a que somos apresentados no segundo ano do colégio. Porque, em matéria de democracia, eu tô achando que você precisa começar do começo.

Entenda: o Lula pode falar sobre o que quiser, em qualquer lugar, a qualquer hora. É um direito (D-I-R-E-I-T-O) dele. Não dá para caçar assim, como se fazia antes.

Eu nunca usei meu tempo lendo o que o Reinaldo Azevedo escreve. Fui até sua página uma vez só, lá atrás, e deu para perceber que é um autoritário. Estou enganado? Pode ser, mas tenho mais o que fazer para tirar a dúvida. Não vi motivo para ler mais. Não tem informação, não tem entrevista, não tem fato. É opinião. Beleza! Entre aqueles textos longos e a recém publicada autobiografia do patriota comunista Gregório Bezerra (Memórias, Boitempo Editorial), você acha que eu prefiro qual? Ontem, porém, mandei para o Reinaldo Azevedo um e-mail buscando uma entrevista com ele para o 247. Ele não respondeu. Direito dele, normal. Ele não merece um plantão, não vou insistir. Hoje, recebi por e-mail a coluna dele. Com a tal campanha #desencarnalula, o que ele vai conseguir é mobilizar o outro lado, o do Lula, e perder por maioria (sendo que esta maioria em seguida será desqualificada pelo próprio Reinaldo Azevedo). O colunista diz que Lula barra o assunto 2014 exatamente para levantar 2014. E se for isso? Qual é o problema? E se o Lula quer mesmo ser candidato outra vez? É isso que vai desestabilizar o governo (bem que você gostaria, será que não?)? Isso é uma "doença"? Ele é uma "doença"? Quanta grosseria, Reinaldo!

O certo é que o próprio Reinaldo Azevedo, pela antítese, embarcou na do Lula, e também passou a falar de 2014 agora. Tornou-se um seguidor do, como diz o Elio, Nosso Guia. Por essa eu não esperava.

Tiroteio progressista


Tiroteio progressista
 
Foto: DIDA SAMPAIO/Agência Estado


Ministro Negromonte enfrenta bombardeio dentro do PP; os ataques partem de aliados do ex-titular do Ministério das Cidades Márcio Fortes


Levi Vasconcelos_Bahia247 - Dias atrás, logo após a demissão do ministro Nelson Jobim (Defesa), recebemos um e-mail, repassado, atribuído ao ex-ministro José Dirceu, dizendo que o ministro Mário Negromonte (Cidades) seria o próximo a ser 'defenestrado'. Os motivos, segundo o texto: "(...) a Dilma não o suporta e nem o recebe em audiência, além de ter umas denúncias cabeludas que podem chegar às páginas dos jornais, empurrando o moço morro abaixo (...)".

Pode ser que José Dirceu tenha informações privilegiadas, mas as evidências mostram que também ele, de alguma forma, ouviu os estampidos do fogo cruzado em que Negromonte está envolvido. O que ele diz apenas faz parte do tiroteio em que se transformou a disputa interna pelo controle do PP, um partido com 41 deputados federais e cinco senadores, lugar comum nos corredores de Brasília.

A briga interna, marcada por muitos tititis e estica e agarra, vem desde que Negromonte assumiu o ministério. O primeiro tiro saiu quando a revista IstoÉ publicou que no Ministério das Cidades tinha um esquema para ajudar doadores de campanha. As denúncias eram inconsistentes, mas com força suficiente para adubar a fofocaria que viceja num ambiente político como o nosso, em que a picaretagem, na grande maioria das vezes, prevalece sobre a essência mais sublime do que deveria ser a razão da política de estado, o interesse público.

DENÚNCIAS FROUXAS

Como ministro, na Bahia, Negromonte sempre esteve bem. Festejado aonde vai, ganhou novos aliados, como o prefeito João Henrique, e boa fatia daqueles que estavam com o carlismo, depois mudaram para Geddel e tiveram que buscar novos ninhos para não ficar longe do poder (não conseguem). Mas, em Brasília, sempre teve uma trajetória tumultuada.

No primeiro tiro que ecoou forte (no fim do primeiro semestre) divulgou-se que o Ministério das Cidades favorecia empresas doadoras de campanha através do secretário nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades, eventualmente tesoureiro do PP, Leodegar Tiscoski.

Negromonte se disse "enojado" e "indignado", foi à Câmara, se explicou, afirmou que se houve tais erros, não eram do tempo dele, que tornou-se ministro de janeiro para cá. Aparentemente se saiu bem, assunto esquecido.

Nem bem se refez, a Veja (desta semana) tornou-se base para novo disparo. Com a reportagem intitulada Mesada de 30.000, acusa Negromonte de estar cooptando aliados, dentro do PP, oferecendo um mensalão de R$ 30 mil para deputados do partido que passem a defendê-lo na briga com a ala do antecessor, Márcio Fortes.

Diz o texto que parlamentares do PP procuraram a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) para relatar "uma sucessão de eventos estranhos" que estariam se passando no interior do Ministério. E aponta o suposto caso do mensalão, ao preço de R$ 30 mil mensais, além dos favores habituais no governo.

Denúncia frouxa, sem denunciante, sem cara, na base do 'ouvi dizer', muito diferente do mensalão original, o que derrubou José Dirceu da Casa Civil, que tinha cara, a de Roberto Jefferson, com carteira de identidade e endereço conhecido. Também, mais uma vez, Negromonte negou categoricamente e a coisa morreu aí.

A GÊNESE DA BRIGA

A gênese dos infortúnios do ministro está na campanha eleitoral. O PP, embora controlasse o Ministério das Cidades na era Lula, se dividiu na hora da campanha de Dilma. O presidente, senador Francisco Dornelles, muito próximo de Aécio Neves, de quem é parente, queria Serra. Os gaúchos, puxados pelo deputado José Otávio Germano, também. Negromonte liderou a ala pró-Dilma. E, a partir daí, julgou-se credenciado a ser ministro. Chegou ao Ministério não como consequência natural. Dilma queria manter Márcio Fortes, com quem trabalhou, quando era ministra, na elaboração do Programa Minha Casa Minha Vida. Mas Negromonte, ancorado nos que apoiaram a agora presidenta, deletou Fortes e se impôs (daí a versão de que Dilma não o suporta).

Márcio Fortes nunca aceitou. Saiu do Ministério resmungando. E o PP se dividiu. Num primeiro momento, o grupo dele se articulou internamente e o pernambucano Dudu da Fonte, o principal líder "fortista" emplacou a 2ª vice-presidência da mesa. Na sequência, derrubou Nelson Meurer (PR), aliado do ministro, da liderança da bancada. Agora quer o Ministério.

Fortes se diz equidistante. Fala que desde a saída do Ministério mantém-se longe também da vida partidária. Ninguém acredita.

E, no Planalto, o convencimento geral é de que tudo é guerra interna. A própria Dilma já disse estar informada do caso.

E os inimigos de Negromonte, com o primarismo das denúncias, acabam ajudando-o. Se ele pensasse em cometer deslizes éticos, agora mesmo é que não os cometerá. Por isso ele não cai.

Eis a justiça que temos: deputado foragido é diplomado por procuração


Deputado foragido é diplomado por procuraçãoFoto: Divulgação



O deputado foragido João Beltrão foi diplomado por procuração para não ser preso em Alagoas; ele é acusado de homicídio


O deputado estadual João Beltrão (PRTB), que encontra-se foragido da Justiça, acusado de envolvimento em um crime de homicídio, foi diplomado hoje por procuração, pelo Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas (TRE-AL). O diploma dele foi entregue ao advogado Luiz Guilherme Melo Lopes pelo presidente do TRE-AL, desembargador Orlando Manso. "Se o deputado eleito tivesse vindo pegar o diploma pessoalmente seria preso, pois há um mandado de prisão preventiva expedido por um juiz de primeira instância contra ele", afirmou Manso.

O desembargador presidente disse ainda que o procurador regional eleitoral Rodrigo Tenório pediu uma cópia do diploma de Beltrão, "possivelmente para recorrer contra a diplomação do deputado". "Eu entreguei uma cópia do diploma ao procurador eleitoral, que pode entrar com recurso contra a diplomação, mas não sei se essa será a decisão dele", comentou Manso.

Para o presidente do TRE-AL, a diplomação por procuração é uma prerrogativa que qualquer parlamentar eleito tem em casos extremos. "Além disso, a diplomação só ocorreu dessa maneira porque o pleno de Tribunal se pronunciou favorável à entrega do diploma do deputado eleito João Beltrão a seu representante legal", explicou o presidente.

Kassab poderá ter salário reduzido


Kassab poderá ter salário reduzido
Foto: ALE VIANNA/Agência Estado

 

Promotor pede suspensão de subsídios que foram elevados de R$ 13,2 mil para R$ 20 mil



Fernando Porfírio_ 247 - O prefeito Gilberto Kassab pode ter que devolver parte do salário que recebeu a mais este ano. O Ministério Público entrou na justiça com ação civil pública para anular o ato que determinou o aumento dos salários do prefeito e da vice-prefeita Alda Marco Antônio. Com o aumento, o subsídio do prefeito aumentou de R$ 13,2 mil para R$ 20 mil, e o da vice-prefeita, de R$ 10 para R$ 21,7 mil.

A ação foi proposta pelo promotor de Justiça do Patrimônio Público e Social Marcelo Duarte Daneluzzi contra o prefeito, a vice-prefeita e o Município de São Paulo e tramita na 4ª Vara da Fazenda Pública da Capital.

Na ação, o promotor pede a antecipação da tutela para que se sejam suspensos os pagamentos dos subsídios nos valores atuais. Pede ainda que, ao final da ação, o prefeito e a vice sejam condenados à devolução da diferença entre o valor que vinha sendo pago antes do aumento e o que foi recebido após a majoração, incidente a partir de fevereiro. Pede, também, que seja declarada a invalidade do ato que elevou os subsídios.

O promotor de Justiça sustenta que a alteração dos subsídios foi feita por decreto legislativo, o que contraria a Constituição e a Legislação. Segundo a ação, somente lei de iniciativa da Câmara pode fixar subsídios dos agentes públicos do Poder Executivo, e não outra espécie legislativa, como decreto legislativo da Câmara.

Para a Promotoria, o aumento não poderia se basear no decreto legislativo nº 29, de 1992, que fixa o valor da remuneração mensal do prefeito da capital em 75% da remuneração dos deputados estaduais de São Paulo, uma vez que “a vinculação dos subsídios atenta contra o princípio constitucional da autonomia e da competência municipal”.

Líder do PR agora quer CPI da corrupção


Líder do PR agora quer CPI da corrupção
Foto: DIVULGAÇÃO

 

 

O deputado Lincoln Portela, braço direito de Valdemar Costa Neto, assinou o requerimento; é um alerta importante para a presidente Dilma



Agência Estado
Quatro dias depois de o PR ser convidado para voltar à base de sustentação da presidente Dilma Rousseff, o líder do partido na Câmara, Lincoln Portela (MG), assinou o pedido de criação da CPI mista da Corrupção apresentado pela oposição. Com o apoio, o requerimento atingiu 120 assinaturas de deputados e 20 senadores. Para ser criada, são necessários os apoios de 171 deputados e de 27 senadores.

O PR anunciou a saída da base em discurso na semana passada do presidente da legenda, senador Alfredo Nascimento (AM), e declarou "independência" na relação com o governo. Logo depois, em nome da presidente Dilma, a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, convidou a partido a voltar para a base. Ao assinar o requerimento da oposição, hoje, Portela afirmou que o ato não significa oposição à presidente.

"Acredito no governo de Dilma Rousseff, acredito na seriedade e na competência da presidente e apoio o governo", afirmou Portela. "Eu tenho defendido uma investigação a fundo no Ministério dos Transportes e não poderia deixar de assinar a CPMI. Seria incoerente da minha parte", argumentou o líder.

Leia, abaixo, perfil do 247 sobre o deputado:

247 – A “faxina” promovida pelo governo Dilma contra determinadas alas da base aliada continua provocando sequelas. Nos últimos dias, o foco das atenções esteve concentrado no PMDB em função de dois escândalos paralelos: o de Wagner Rossi, apadrinhado de Michel Temer na Agricultura, e o de Pedro Novais, afilhado político de José Sarney no Turismo. Mas as feridas mais expostas são as do PR, que perdeu o comando do Ministério dos Transportes. Porta-voz da insatisfação, o deputado mineiro Lincoln Portela mandou avisar que não aceitará mais convites do Palácio do Planalto nem para almoços. Um sinal de que a relação do governo com o partido tende a se deteriorar nas próximas semanas.

A força de Portela, que é braço direito do deputado Valdemar Costa Neto, um dos protagonistas do Mensalão, reside nos 40 deputados do PR, a quem ele imagina controlar. Mas o fato é que a presidente Dilma Rousseff só teria a ganhar com esse rompimento, dada a ficha do parlamentar, que circula apenas no baixo clero do Congresso Nacional.

Radialista e apresentador de TV, Portela apenas era conhecido por dois projetos de lei que marcaram época no Congresso Nacional e entraram para o folclore político: um criava o “Dia do Sono” e o outro proibia que se empinassem pipas em todo o território nacional. O primeiro não despertou nem o sono e nem o apoio dos dorminhocos, mas o segundo o transformaria no maior algoz da infância brasileira desde a “Cuca” e o “bicho-papão”. Ambos, é claro, foram rejeitados ainda no nascedouro.

Depois de um longo tempo recolhido ao baixo clero da casa, onde sua figura discreta e desconfiada não gozava de qualquer prestígio entre os colegas, Portela tirou a sorte grande: tornou-se homem de confiança de Valdemar da Costa Neto, o “Boy”, deputado federal paulista e “dono” do PR. Passou a ser seu braço-direito e fiel escudeiro, levando recados e angariando votos, assumindo compromissos em nome do chefe e farejando boas oportunidades. Mais que isso: “Boy” não faz nada sem ouvir Lincoln Portela, cuja influência também se estende sobre o ex-ministro e senador Alfredo Nascimento (AM). Em verdade, a bordo de um ar soturno e dos óculos cujo gosto muitíssimo duvidoso salta à primeira vista, ele se tornou uma espécie de “rei do baixo clero”, segundo confidenciou um petista mineiro à reportagem do Brasil247.

Inquérito da Procuradoria-Geral da República

Vários parlamentares, não só do PR como de toda a base aliada, são unânimes em garantir que Portela se tornou um afortunado “operador” nos escaninhos da administração pública. Não por acaso o Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, pediu ao Supremo Tribunal Federal licença para proceder à instauração de inquérito visando à apuração da prática de uma série de crimes atribuídos ao parlamentar. O STF acolheu o pedido e o relator, ministro Joaquim Barbosa, o enviou à Polícia Federal para as devidas diligências.

A PGR o acusa de violar a Lei de Licitações, de apropriação ou desvio de bens públicos e de lavagem de dinheiro (art. 89 da Lei 8.666/1993, art. 312 do Código Penal e Lei 9.613/1998). Lincoln Portela, como membro da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara dos deputados, em março de 2009, foi o solitário voto contra a aprovação de um substitutivo do jurista e deputado Antônio Carlos Biscaia (PT/RJ) à Lei 9.613/98 endurecendo drasticamente as punições à lavagem de dinheiro, com as penalidades passando de três para até 18 anos de reclusão. Portela apresentou um parecer paralelo, mas ficou falando sozinho.

O líder do PR na Câmara dos Deputados também é réu por improbidade administrativa em ação que tramita no Tribunal Regional Federal da 1ª Região. A denúncia foi recebida em março de 2010 e gerou o processo nº 25527-20.2009.4.01.3800. Apesar de tudo isso, Portela tem pretensões de disputar a prefeitura de Belo Horizonte no próximo ano ou ser candidato a vice-governador de Minas Gerais em 2014.

Portela também foi um dos deputados federais mineiros que mais sacou a verba indenizatória de despesas externas (viagens, combustíveis, etc...) que a Câmara Federal paga: em 2005, por exemplo, chegou a estourá-la, recebendo a bagatela de R$ 179.748,92; seu nome apareceu no chamado “escândalo das passagens aéreas”, denunciado pelo Congresso em Foco, de Brasília, com oito bilhetes emitidos em nomes de terceiros; foi citado como sendo um dos beneficiados no escândalo das sanguessugas e, em reportagem recente da revista Época, também foi elencado como um dos novos nomes que teriam recebido o “mensalão” do publicitário mineiro Marcos Valério.

Lincoln Portela, o homem que atua nos bastidores para que seu Partido da República rompa com Dilma Rousseff se não voltar a ter uma fatia suculenta do poder como nos bons tempos do DNIT, demonstra apetite semelhante ao de outra personagem que emergiu, como ele, do baixo clero para a ribalta, Severino Cavalcanti, aquele que queria uma diretoria da Petrobrás (“mas daquelas que fura poço!”).

Um almoço com ele pode sair caro.

Os bastidores da queda no comando do Santander


Os bastidores da queda no comando do Santander
 
Foto: MARCIO FERNANDES/Agência Estado

 

 

A saída de Fabio Barbosa coroa os erros em série do banco espanhol no Brasil, que trocou a “sustentabilidade” pelo lucro a qualquer preço. Novo presidente, Marcial Portela, já chegou a sugerir que investidores insatisfeitos comprassem outras ações. Detalhe: a queda do Santander no ano soma quase 50%



23 de Agosto de 2011 às 19:02
247 – Dias atrás, o executivo Fabio Barbosa, até então presidente do Conselho de Administração do Santander, comentou com um amigo – a quem ajuda a traçar um plano de governo para a cidade de São Paulo – como estava o clima interno no banco Santander.

- Não adianta encaminhar nada lá dentro, o ambiente está muito ruim.

Na condição de presidente do Conselho, Barbosa vinha tendo seu espaço minado pelo novo presidente, o espanhol Marcial Portela – e por isso começava a se dedicar a outras atividades, como a elaboração de um projeto político para São Paulo. Insatisfeito com a gestão de Portela, Fabio Barbosa buscou alternativas no mercado e está se recolocando como presidente-executivo do grupo Abril, que edita algumas das maiores revistas do Brasil, como Veja e Exame.

Com sua saída do Santander, o clima no banco é o pior possível. Desconhecido no Brasil e com pouca habilidade política, Portela desembarcou com uma missão: aumentar os resultados e ampliar a transferência de lucros para a Espanha, que vive uma das maiores crises econômicas de sua história. Lá, por sinal, existe a ameaça de que o banco seja rebaixado pelas agências de classificação de risco – o que pode ocorrer também como o país ibérico. Para piorar, o controlador do banco, Emilio Botín, vem sendo investigado por fraudes fiscais e tributárias.

Marcial Portela, o presidente que substituiu Fábio Barbosa, é cria de Botín. E, curiosamente, chegou ao comando, no momento em que se discute uma multa de R$ 4 bilhões imposta pela Receita Federal ao banco espanhol, em função da contabilização do ágio na compra do Banespa – o Santander chegou a contratar os serviços da consultoria do ex-ministro Antonio Palocci, mas o problema não foi resolvido.

De certa maneira, a estratégia de gerar resultados a qualquer preço, implantada por Portela, rendeu frutos – ainda que de curto prazo. Os resultados gerados no Brasil já representam mais de 25% do ganho global do Santander no mundo. Mas a imagem do banco, sob a sua gestão, piorou muito. No dia 27 de julho deste ano, quando divulgou seu balanço semestral, o espanhol afirmou que os investidores teriam que ter paciência – e que, para quem não tivesse, o melhor seria investir em outra instituição. Só naquele dia, as ações do banco caíram 6%.

Desde que Portela assumiu o comando do banco, o desempenho das ações tem sido medíocre. No início do ano, as ações eram negociadas a quase R$ 22,00. No pregão desta terça-feira, fecharam a R$ 13,91. A queda em 12 meses é de 35,49% - duas vezes maior do que a do Ibovespa.

Erros em série

Esse estilo de gestão coroa uma série de erros do Santander no Brasil, que é o banco com o maior índice de reclamações de consumidores no Procon.

Fruto da aquisição de uma série de bancos, como o Noroeste, o Banespa e o Real, o Santander teve a chance de mudar sua imagem com Fábio Barbosa no comando.

Egresso do Real, Barbosa desenvolveu um discurso de responsabilidade social e sustentabilidade. Criou também uma campanha publicitária, com o mote “Vamos fazer juntos?”, e patrocinou iniciativas importantes, como as ações do Afroreggae, uma ONG que previne a violência, no Rio de Janeiro.

O primeiro grande erro do banco espanhol no Brasil foi abandonar a marca “Real”, que era apreciada pelos brasileiros, e substituí-la pela do Santander, que carrega os atributos negativos ligados à herança colonial ibérica.

Depois disso, o processo de integração tecnológica entre as agências do Real e do Santander foi um fiasco, tendo gerado inúmeras críticas de clientes.

Há dois anos, o banco também iludiu investidores no Brasil, ao fazer um IPO – um lançamento de ações – prometendo alocar os recursos no crescimento da operação no Brasil.

Hoje, sabe-se que o IPO foi feito no Brasil para aproveitar uma janela de oportunidade. Como havia muita liquidez financeira no Brasil, ao contrário do que ocorria na Europa, o IPO serviu apenas para captar recursos aqui e transferi-los à Espanha.

Fabio Barbosa estava descontente com a condução do banco. E, ao contrário do que dizem os comunicados formais do banco e da Abril, sua saída não foi fruto de uma escolha pessoal, mas dos erros em série cometidos pelo Santander no Brasil.

O estupro que Amorim herdou de Jobim

 


por Luiz Cláudio Cunha


Publicado no Observatório da Imprensa


Na noite de 19 de maio passado, um soldado de 19 anos fazia a faxina no banheiro do alojamento de um quartel do Exército na cidade gaúcha de Santa Maria, terra natal do então ministro da Defesa, Nelson Jobim. De repente, sem nenhuma razão, foi atacado por outros quatro soldados, que o jogaram na cama e o violentaram várias vezes, em rodízio. Machucado, o jovem foi transferido em sigilo para um hospital militar, onde ficou internado durante oito dias. Só no quinto dia é que a família foi informada da internação, assim mesmo com uma falsa explicação: “Ele sofreu um mal súbito numa atividade interna do quartel”, fantasiou um militar aos pais do recruta.


A investigação interna do Exército corre sob sigilo militar, após a denúncia de um sargento sobre a violência sexual. Ninguém foi preso, já que não houve flagrante, e o inquérito já foi prorrogado, ampliando para três meses o mistério sobre o caso. O general Sérgio Westphalen Etchegoyen, responsável pela investigação, diz que a vítima foi isolada e mantida sob guarda pelo temor de que tentasse o suicídio. A mãe do jovem foi ameaçada de prisão, dentro do hospital, sob suposta “insubordinação contra autoridade militares”. Ainda na cama do hospital, o violentado ouviu o aviso de um soldado que fazia a guarda no seu quarto: “Tu vai se ferrar”.


O inquérito militar, segundo a família, deve concluir que tudo não passou de uma “luta corporal de brincadeira entre os rapazes”, complementando a divertida versão preliminar do Exército de “sexo consensual” do jovem, embora manietado por outros quatro soldados.


“Novas diligências”


Esta história escabrosa foi revelada com exclusividade, no final de maio, pelo Sul21, um site de Porto Alegre que escalou um repórter persistente, Igor Natusch, para acompanhar com destemor o caso. Estranhamente, ninguém mais da imprensa se interessou por este fato de inusitada violência cometida dentro de um quartel do Exército, em pleno regime democrático. O então ministro Nelson Jobim, procurado com insistência, não deu um pio, reforçando sua confissão de que vê os jornalistas como “idiotas sem modéstia”.


A ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, ficou chocada ao ser informada pelo repórter, no final de maio: “Isso é um crime comum, que deve ser tratado pela Justiça comum. O Código Penal Brasileiro já não concebe mais a ideia de ‘atentado violento ao pudor’. Todo crime sexual é conformado como estupro. A existência da figura do ‘atentado violento ao pudor’ no Código Militar demonstra um imenso equívoco no ordenamento jurídico brasileiro. Vou conversar com o Comando do Exército”.


Se Maria do Rosário conversou, ninguém sabe, ninguém viu.


Em Brasília, o crime foi empurrado para debaixo do edredom.


Em Porto Alegre, a Assembléia Legislativa gaúcha foi mais corajosa. “O Exército precisa responder à sociedade sobre o que aconteceu”, disse o deputado estadual Miki Breier (PSB), presidente da Comissão de Direitos Humanos. “Não é um caso de mau comportamento. É um fato gravíssimo, que pode manchar a imagem de uma instituição muito importante. Não pode ficar restrito ao foro interno do Exército”. O deputado Jeferson Fernandes (PT), enviado a Santa Maria pela comissão, conseguiu vencer o bloqueio em torno do jovem e conversar com ele. Voltou de lá ainda mais preocupado, ao ouvir sua resposta para a alegada tentação ao suicídio: “É o que eu mais penso, todos os dias”, confessou o recruta ao parlamentar, segundo relato do Sul21.


Apesar da solitária insistência do repórter Igor Natusch, a investigação militar patina, apostando na falta de reação popular e na indulgente memória coletiva. No final de julho, o Ministério Público Militar devolveu o inquérito sobre o estupro de Santa Maria à Justiça Militar, a pretexto de novas diligências, desta vez num celular apreendido que traria cenas de vídeo da violação. Não se sabe, até agora, quais os novos prazos para apresentar a conclusão das investigações.


Crime covarde


A baixa repercussão e a restrição de informações sobre o crime praticado no sul, dentro de um quartel, é um grave sintoma deste Brasil covarde: um país que não tem coragem de confrontar os crimes militares do presente não terá, jamais, força moral para resgatar os crimes militares do passado, como as torturas e violências (muitas sexuais) praticadas na longa ditadura de 21 anos instalada em 1964. O caso sigiloso, inconcluso e vergonhoso de Santa Maria é uma herança maldita que Nelson Jobim legou, sem dó nem consciência, ao seu sucessor Celso Amorim.


É um constrangimento – mais um – para a presidente Dilma Rousseff justamente quando o Ministério da Justiça abre em Brasília, a partir desta segunda-feira (22), a ‘Semana da Anistia’, embalada por um lema inspirador: “Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça”.


O bravo site do sul e seu corajoso repórter estão fazendo a sua parte para que não se esqueça o covarde crime do quartel de Santa Maria.


Já os governantes civis e os comandantes militares não mostraram, até agora, o que fazem para que ele nunca mais aconteça.


***[Luiz Cláudio Cunha é jornalista]

Pepe Escobar: Bem-vindos à “democracia” líbia

Pepe Escobar


23/8/2011, Pepe Escobar, Asia Times Online
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu



O Grande Gaddafi nem bem deixou o complexo de Bab-al-Aziziyah, e os abutres ocidentais já sobrevoam o local, disputando o “grande butim” – o petróleo e o gás da Líbia [1]. 

A Líbia é peão muito mais crucialmente importante num tabuleiro ideológico, geopolítico, geoeconômico e geoestratégico mais sério, do que deixa ver o reality show moralista vendido como noticiário pelas redes de televisão: “rebeldes” idealistas vencem o Inimigo Público n.1. Tempo houve em que o inimigo público n.1 foi Saddam Hussein; depois, Osama bin Laden; hoje é Muammar Gaddafi; amanhã será o presidente Bashar al-Assad da Síria; um dia será o presidente do Irã Mahmud Ahmadinejad. Só uma coisa é certa: a ultra reacionária Casa de Saud nunca é o inimigo público n. 1. 

Como a OTAN venceu a guerra 

Apesar do reaparecimento espetacular do filho de Gaddafi, Saif al-Gaddafi, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) virtualmente já venceu a guerra civil líbia (“atividade militar cinética”, como insiste a Casa Branca). As massas do “povo líbio” foram, no máximo, espectadoras, ou atores com papel pequeno, mostrados sob a forma de poucos milhares de “rebeldes” armados com Kalashnikovs. 

Inicialmente, apostaram em “R2P” (“responsabilidade de proteger”). Mas, logo no início, essa “R2P”, manobrada por França e Grã-Bretanha e apoiada pelos EUA, já apareceu convertida, por passe de mágica, em “mudança de regime”. Daí em diante, as estrelas do show nessa produção foram “conselheiros”, “empresas contratadas” ou “mercenários” ocidentais e monárquicos. 

A OTAN começou a ganhar a guerra, ao iniciar a Operação Sirene no Iftar – sirenes que soaram interrompendo o jejum do Ramadan – no sábado à noite. “Sirene” foi o nome código para invadir Trípoli. Foi o gesto final – e desesperado! – da OTAN, para mostrar força, quando ficou claro que os “rebeldes” caóticos nada haviam conseguido, nem depois de cinco meses de luta contra as forças de Gaddafi. 

Até aquele momento, o “Plano A” da OTAN era assassinar Gaddafi. O que os garotos-propaganda da R2P – de direita e de esquerda – chamavam de “pressão continuada pela OTAN” acabou com a OTAN pedindo a Deus que acontecesse um de três milagres: que conseguissem assassinar Gaddafi; que Gaddafi se rendesse; ou que sumisse. 

Não que qualquer desses resultados tivesse impedido a OTAN de bombardear residências, universidades, hospitais e até áreas bem próximas do Ministério do Exterior. Tudo – e todos – virou alvo da OTAN. 

A “Operação Sirene” mostrou elenco colorido de “rebeldes da OTAN”, fanáticos islâmicos, jornalistas alugados “incorporados”, grupos sempre voltados para as câmeras de televisão e jovens da Cyrenaica manipulados por desertores oportunistas do governo Gaddafi, de olho nos gordos cheques das gigantes Total e BP, do petróleo. 

Para a operação “Sirene”, a OTAN trouxe armamento (literalmente) novinho em folha: helicópteros Apache atirando sem parar e jatos bombardeando furiosamente tudo que havia à vista. A OTAN supervisionou o desembarque de centenas de soldados de Misrata na costa leste de Trípoli, enquanto um navio de guerra da OTAN distribuía armamento pesado para os “rebeldes”.

Só no domingo, o número de civis mortos pode ter chegado a 1.300 em Trípoli, com pelo menos 5.000 feridos. O Ministério da Saúde anunciou que os hospitais estão superlotados. Quem, àquela altura, ainda acreditasse que o furioso bombardeio pela OTAN tivesse algo a ver com “responsabilidade de proteger” e Resolução n. 1.973 da ONU merecia internamento em hospício. 

Antes de iniciar a “Sirene”, a OTAN bombardeou furiosamente Zawiya – cidade chave, de grande refinaria de petróleo, 50km a oeste de Trípoli. Com isso, a população de Trípoli ficou sem combustível para os carros. Segundo a própria OTAN, pelo menos metade das forças armadas líbias foram “degradadas” – em língua do Pentágono, significa que a OTAN destruiu metade do exército líbio, entre soldados mortos ou muito gravemente feridos. Foram dezenas de milhares de mortos. Esse massacre explica também o misterioso desaparecimento dos 63 mil soldados encarregados de defender Trípoli. E também explica que o regime de Gaddafi, que se manteve no poder durante 42 anos, parece ter caído em menos de 24 horas. 

O toque da “Sirene” macabra da OTAN – depois de 20 mil missões e mais de 7.500 ataques contra alvos no solo – só foi possível por causa de uma decisão crucial do governo Barack Obama no início de julho, como se lê hoje noWashington Post: os EUA passaram [em julho] a “partilhar material mais sensível com a OTAN, inclusive imagens e sinais interceptados, que passaram a ser fornecidos, além de aos pilotos no ar, também a soldados de equipes britânicas e francesas de operações especiais no solo” [2].

Quer dizer: sem a contribuição do descomunal poder de fogo dos EUA e correspondentes agentes, satélites e aviões-robôs (drones) tripulados à distância, a OTAN ainda estaria atolada na Operação Pântano Eterno Sem Saída na Líbia – e o governo Obama jamais conseguiria extrair desse drama “militar cinético” nem, que fosse, algum simulacro de grande vitória. 

Quem são essas pessoas?

Quem são essas pessoas que, de repente, irromperam em festas nas telas de televisão dos EUA e Europa? Depois de sorrir para as câmeras e disparar tiros de Kalashnikovs para o alto... preparem-se para, em breve, outros fogos explodindo na noite: fogos fratricidas. 

Conflitos étnicos e tribais estão a ponto de explodir. Muitos dos berberes das montanhas do oeste, que entraram em Trípoli vindos do sul no fim de semana, são salafitas linha (muito) dura. O mesmo se deve dizer da “nuvem” salafitas/Fraternidade Muçulmana da Cyrenaica – que recebeu instrução diretamente de agentes da CIA-EUA que estão na região. Dado que esses fundamentalistas "usaram" os europeus e norte-americanos para aproximar-se do poder, ninguém duvide que se organizarão rapidamente como furioso grupo guerrilheiro, caso sintam-se marginalizados pelos chefões da OTAN. 

A tal grande “revolução” com base em Benghazi, que foi vendida ao ocidente como movimento popular, sempre foi mito. Há apenas dois meses, os “revolucionários” armados mal chegavam a 1.000. A OTAN então decidiu construir ela mesma um exército mercenário – que reuniu os tipos mais assustadores, de ex-membros de um esquadrão da morte colombiano a pessoal recrutado no Qatar e nos Emirados Árabes Unidos, associados a tunisianos desempregados e membros das tribos inimigas da tribo de Gaddafi. O pessoal é esse, acrescido de esquadrões de mercenários alugados pela CIA – salafitas em Benghazi e Derna – e a gangue da Fraternidade Muçulmana, gente da equipe da Casa de Saud. 

É difícil não lembrar da gangue da droga do UCK (Ushtria Çlirimtare e Kosovës, Exército da Libertação do Kosovo) – na guerra que a OTAN “venceu” nos Bálcãs. Ou dos paquistaneses e sauditas, com apoio dos EUA, que armaram “combatentes da liberdade” no Afeganistão nos anos 1980s. 

E há também o muito suspeito grupo de personagens que compõem o Conselho Nacional de Transição [ing. Transitional National Council (TNC)], de Benghazi. 

O chefe, Mustafa Abdel-Jalil, foi ministro da Justiça de Gaddafi de 2007 até desertar, dia 26/2/2011, estudou direito civil e sharia na Universidade da Líbia. Talvez esteja habilitado a cruzar lanças retóricas com os fundamentalistas islâmicos em Benghazi, al-Baida e Delna, mas pode usar seus conhecimentos para fazer avançar seus interesses em algum novo arranjo do poder. 

Mahmoud Jibril, presidente do conselho executivo do TNC, estudou na Universidade do Cairo e, depois, na University of Pittsburgh. É a principal conexão com o Qatar: trabalhou na gestão do patrimônio de Sheikha Mozah, esposa super poderosa do emir do Qatar. 

Há também o filho do último rei da Líbia, rei Idris, que Gaddafi derrubou há 42 anos (em golpe sem derramamento de sangue). A Casa de Saud adoraria ver nascer uma nova monarquia no norte da África. E o filho de Omar Mukhtar, herói da resistência contra o colonialismo italiano – figura mais secular. 

O novo Iraque? 

Esperar que a OTAN vença a guerra e entregue o poder aos “rebeldes” é piada. A Agência Reuters já noticiou que uma “força-ponte” de cerca de 1.000 soldados do Qatar, Emirados e Jordânia chegará a Trípoli para atuar como polícia. E o Pentágono já começou a “vazar” que militares norte-americanos atuarão “em terra” para “auxiliar na segurança dos equipamentos”. Toque sutil, que diz bem claramente quem realmente estará no comando: os neocolonialistas “humanitários” e seus asseclas árabes. 

Abdel Fatah Younis, o comandante “rebelde” assassinado pelos próprios “rebeldes” era homem do serviço secreto francês. Foi morto por uma facção da Fraternidade Muçulmana – exatamente quando Sarkozy, o Grande Libertador de Árabes, tentava negociar algum acordo com Saif al-Islam, filho de Gaddafi formado pela London School of Economics e, ontem, renascido dos mortos. 

Tudo isso para dizer que os grandes vencedores são Londres, Washington, a Casa de Saud e o Qatar (que mandou jatos e “conselheiros” e já estão administrando as vendas de petróleo). Com especial menção para o conjunto Pentágono/OTAN – posto que o Comando dos EUA na África (Africom) conseguirá afinal sua primeira base africana no Mediterrâneo; e a OTAN, que está um passo mais próxima de declarar o Mediterrâneo “um lago da OTAN”. 

Islamismo? Tribalismo? Esses são pequenos problemas, ante a nova terra da fantasia que se escancara para o neoliberalismo. Já praticamente ninguém duvida que os novos mestres do ocidente tentarão reviver versão amigável da nefasta, rapace, nefanda Autoridade Provisória da Coalizão [ing. Coalition Provisional Authority (CPA)], convertendo a Líbia em delírio neoliberalhardcoreà custa de 100% das propriedades líbias, com repatriação de lucros, corporações ocidentais com os mesmos direitos que as empresas locais, bancos estrangeiros comprando os bancos locais, renda baixa para os pobres e impostos idem para as empresas. 

Simultaneamente, a fissura profunda que separa o centro (Trípoli) e a periferia, pelo controle dos recursos de energia, se aprofundará. BP, Total, Exxon, todas as gigantes ocidentais do petróleo serão fartamente recompensadas pelo Conselho de Transição – em detrimento de empresas chinesas, russas e indianas. E soldados da OTAN “em terra” certamente ajudarão a impedir que o Conselho saia da linha. 

Executivos da indústria do petróleo estimam que demorará no mínimo um ano para que a produção de petróleo volte ao nível de antes da guerra civil, de 1,6 milhões de barris/dia, mas dizem que os ganhos anuais do petróleo renderão aos novos governantes cerca de US$50 bilhões de dólares/ano. Muitos estimam que as reservas líbias alcancem 46,4 bilhões de barris de petróleo, 3% do petróleo do mundo, equivalendo a cerca de $3,9 trilhões aos preços de hoje. As reservas conhecidas de gás líbio chegam a 5 trilhões de pés cúbicos. 

No frigir dos ovos, “R2P” vence. O imperialismo humanitário vence. As monarquias árabes vencem. A OTAN como Robocop global vence. O Pentágono vence. Mas nem tudo isso satisfaz os suspeitos de sempre – que já pedem o envio de uma “força de estabilização”. E tudo isso enquanto os progressistas categoria “perderam-o-rumo-e-o-prumo” em várias latitudes, continuam a louvar a Sacra Aliança entre neocolonialismo ocidental, monarquias árabes ultra reacionárias e salafitas hardcore. 

Ainda não terminou. Só terminará quando a onça árabe aparecer p’rá beber água[3]. Seja como for, próxima parada: Damasco. 

The Greatest Love Of All




The Greatest Love Of All

I believe that children are our future,
Teach them well and let them lead the way.

Show them all the beauty they possess inside,
Give them a sense of pride... to make it easier,
Let the children's laughter,
Remind us how we used to be .

Everybody's searching for a hero,
People need someone to look up to.
I never found anyone who fulfilled my needs...
Lonely place to be and so i learned to depend on me.

I decided long ago, never to walk in anyone's shadow,
If i fail if i succeed at least
I'll live as i believe
No matter what they take from me.
They can't take away my dignity...
Because the greatest, love of all, is happening to me.

I've found the greatest love of all inside of me
The greatest love of all, is easy to achieve
Learning to love yourself, it is the greatest love of all

And if by chance that special place that ...
You've been dreaminf of
Leads you to a lonely place
Find your strength in love.

Maior Amor De Todos

Acredito que as crianças sejam nosso futuro.
Ensine-as e deixe-as seguirem seus caminhos.

Mostre-lhes a beleza interior que possuem.
Dê-lhes o sentimento de orgulho...facilitar é fácil.
Deixe que o sorriso das crianças
nos lembre de como éramos.

Todos procuram por um herói.
As pessoas precisam espelhar-se em alguém
Não tive quem preenchesse minhas necessidades...
E aprendi a ser independente

Decidi há muito tempo, não caminhar à sombra de alguém.
Se eu fracassar ou obtiver sucesso
Terei vivido acreditando em mim
Não importa o que abstraiam de mim
A minha dignidade não conseguirão...
Pois o maior amor de todos me aconteceu

E o encontrei dentro de mim mesmo
O maior amor é fácil alcançar:
Aprenda amar a si mesmo, este é o maior amor

E se por acaso aquele lugar especial...
que você sonhou
te levar à solidão...
Encontre a sua força no amor

Pra descontrair


Have You Ever Really Loved A Woman?

To really love a woman, to understand her
You've got to know her deep inside
Hear every thought, see every dream
And give her wings when she wants to fly
Then when you find yourself lying
Helpless in her arms
You know you really love a woman

CHORUS:
When you love a woman
You tell her that she's really wanted
When you love a woman
You tell her that she's the one
'Cause she needs somebody to tell her
That it's gonna last forever
So tell me, have you ever really
Really, really ever loved a woman?.

To really love a woman, let her hold you
'Til you know how she needs to be touched
You've got to breathe her, really taste her
'Til you can feel her in your blood
And when you can see your unborn children in her eyes
You know you really love a woman.

CHORUS:
When you love a woman
You tell her that she's really wanted
When you love a woman
You tell her that she's the one
'Cause she needs somebody
To tell her that you'll always be together
So tell me have you ever really
Really, really ever loved a woman?

You've got to give her some faith
Hold her tight, a little tenderness
You've got to treat her right
She will be there for you, taking good, care of you
You really gotta love your woman, yeah.

And when you find yourself lying helpless in her arms
You know you really love a woman.

CHORUS:
When you love a woman,
You tell her that she's really wanted.
When you love a woman,
You tell her that she's the one.
She needs somebody
To tell her that it's gonna last forever.
So tell me, have you ever really
Really, really ever loved a woman? yeah
Just tell me, have you ever really
Really, really ever loved a woman?
Oh! Just tell me, have you ever really
Really, really ever loved a woman?

Você Realmente Já Amou Uma Mulher?

Para realmente amar uma mulher, para compreendê-la
Você precisa conhecê-la profundamente por dentro
Ouvir cada pensamento, ver cada sonho
E dar-lhe asas quando ela quiser voar
Então, quando você se achar repousando
Desamparado nos braços dela
Você saberá que realmente ama uma mulher...

Refrão:
Quando você ama uma mulher
Você lhe diz que ela, realmente, é desejada
Quando você ama uma mulher
Você lhe diz que ela é a única
Pois ela precisa de alguém
Para dizer-lhe que vai durar para sempre.
Então diga-me: você realmente, realmente
Realmente já amou uma mulher?

Para realmente amar uma mulher, deixe-a segurar você
Até que você saiba como ela precisa ser tocada
Você precisa respirá-la, realmente saboreá-la
Até que você possa senti-la em seu sangue
E quando você puder ver, seus filhos que ainda não nasceram dentro dos olhos dela
Você saberá que realmente ama uma mulher

Refrão:
Quando você ama uma mulher
Você diz a ela o quanto ela é desejada
Quando você ama uma mulher
Você diz a ela, que ela é a única
Porque ela precisa de alguém
Para dizer a ela, que você irá estar sempre junto
Então me diga, você realmente
Realmente, realmente já amou uma mulher?

Você precisa dar-lhe um pouco de confiança
Segurá-la bem apertado, um pouco de ternura
Precisa tratá-la bem
Ela estará perto de você, cuidando bem de você
Você realmente precisa amar uma mulher. Yeah.

E quando você se achar repousando, desamparado nos braços dela
Você saberá que realmente ama uma mulher.

Refrão:
Quando você ama uma mulher,
Você diz a ela, o que ela realmente queria.
Quando você ama uma mulher,
Você diz a ela, que ela é a única.
Porque ela precisa de alguém
Para dizer a ela, que você irá estar sempre junto.
Então me diga, você realmente
Realmente, realmente já amou uma mulher? Yeah
Somente me diga, você realmente
Realmente, realmente já amou uma mulher?
Oh! Somente me diga, você realmente
Realmente, realmente, já amou uma mulher?

José Reinaldo: Miriam Leitão faz tremer a ossada do Barão




A mídia brasileira vendida aos monopólios e em absoluto conluio com os agressores imperialistas dos Estados Unidos e União Europeia, que através da Otan estão massacrando o povo líbio, está em ruidosa campanha para “provar” que o Brasil tomou uma posição “decepcionante” ao não reconhecer o Conselho Nacional de Transição da Líbia, acompanhando a posição tomada em maio pelos Estados Unidos e a União Europeia.
Com a evolução dos acontecimentos dos últimos dias, a campanha passou a ser para que o Brasil reconheça logo o “novo governo” ao país.
Para isso, mobilizou todo o seu arsenal propagandístico, entrevistou professores de relações internacionais, alguns dos quais, para sua decepção concordaram com a prudência do governo brasileiro. A CBN redistribuiu tarefas e por dois dias livrou o distinto público das diatribes deMiriam Leitão, “analista” sobre política macro-econômica. O que resultou num desastre, pois ao promover a jornalista a comentarista de política externa, fez remexer a ossada do Barão.
Para repetir o mantra de que o Brasil já devia ter reconhecido o “novo” governo da Líbia, porque os Estados Unidos e a União Europeia já o fizeram antes, a moça desancou a instituição fundada pelo velho Rio Branco. “O Brasil tem uma posição completamente equivocada quanto à Líbia e a Síria. Errou cem por cento do tempo”, sentenciou, confundindo o distinto público, que por um átimo foi levado a pensar que escutava uma catedrática do Department of State ou do Foreign Office. Pois com tanta sapiência, não creio que a moça quisesse passar por uma professora do Instituto Rio Branco ou da Fundação Alexandre de Gusmão.
A jornalista do sistema Globo falou barbaridades do Lula, cuja visita como chefe de Estado à Líbia, ela estigmatizou como “horrorosa”. E numa demonstração de que os “princípios editoriais” recentemente anunciados pelos herdeiros do Dr. Marinho não passam de uma farsa, mentiu desabridamente ao dizer que à época Kadafi “já era um pária internacional” . Não era, senhora jornalista. Na verdade tinha deixado de ser, pois então o dirigente líbio privava de amizade com líderes ocidentais como Berlusconi e Sarkozy, este último inclusive um mal-agradecido pois o “ditador” líbio financiou sua campanha eleitoral, como é notório, e o italiano fez com o país norte-africano bilionários negócios.
Durante os pouco mais de cinco minutos que durou a entrevista na CBN, a nova comentarista de política externa das organizações Globo bateu na tecla de que “a cúpula do Itamaraty” foi incapaz de interpretar os fatos e de entender “para onde os ventos sopram”.
E para evidenciar o contraste da orientação da Casa de Rio Branco com a que já adotou em outras épocas, a jornalista recorreu em apoio ao seu argumento à muleta de uma citação de fato histórico. Ela contou aos atentos ouvintes da emissora que na independência de Angola, “em 1974”, o governo militar brasileiro foi o primeiro a reconhecer o “governo comunista” do MPLA. Fosse afirmação feita numa prova de admissão do concurso de formação de diplomatas do Instituto Rio Branco, ela teria sido reprovada. A independência de Angola se deu em novembro de 1975. E o governo do MPLA, embora alinhado com a União Soviética e com muitos comunistas desempenhando nele papel de destaque, não era propriamente um “governo comunista”, mas patriótico, de libertação nacional.
José Reinaldo é editor do Vermelho

O relatório de Brizola Neto sobre viagem oficial à Líbia


Cheguei ao Rio sem condições de relatar,com o devido detalhamento, a viagem que se destinava à Líbia mas que foi, pelas razões que são de conhecimento geral, interrompida na Tunísia, por falta de condições de segurança. Farei isso agora, com a minuta do relatório que apresentarei, com o deputado Protógenes Queiroz, sobre tudo aquilo que fizemos, vimos e ouvimos.
Quero, também, esclarecer às pessoas que indagaram – e também às que criticaram sem saber o que diziam – que a viagem não foi custeada com um centavo de  dinheiro público. Apenas as passagens foram adquiridas pelo Movimento Democracia Direta e  nossas estadias e demais despesas foram custeadas pessoalmente.
Quem acha que viajar para a Líbia, em plena guerra, é fazer turismo, deveria pensar um pouquinho e refletir que nem todo mundo tem este tipo de relação com a política.
Feito este esclarecimento, e pedindo desculpas por termos parado o blog enquanto eu fazia o relatório – não dava para falar de outras coisas antes de prestar contas da viagem – publico a minuta do relato, que pode sofrer ainda algum ajuste, para incluir algum detalhe que tenha ficado esquecido.
Esta é a minuta do relatório:
“Excelentíssimo Sr. Presidente da Câmara dos Deputados, Deputado Marco Maia
Nos termos do ofício nº 2492/11/GP, pelo o qual esta Casa conferiu caráter oficial à viagem que realizamos com destino a República  Árabe Líbia, vimos apresentar o relatório para informação e apreciação da Comissão de Relações Exteriores e dos demais integrantes da Câmara dos Deputados.
Em primeiro lugar, como é de conhecimento público, os acontecimentos frustraram nosso propósito de observar in loco a situação de conflito que se desenvolve naquele país desde que, em março do corrente ano surgiram os primeiros movimentos rebeldes, notadamente na cidade de Benghazi, localizada na costa oriental líbia.
De igual forma, é sabido que, a partir daí a Organização das Nações Unidas (ONU), através das Resoluções 1970  ratificada pelo governo brasileiro e na 1973, autorizou, apenas, ações – militares, inclusive – que visassem a proteger os direitos das populações civis e impedir o uso desproporcional de força, sobretudo a aérea, contra protestos desarmados.
Frise-se que este posicionamento foi absolutamente consentâneo com a tradição diplomática de nosso país, que se funda no respeito do auto determinação dos povos, a não-violência, e o respeito a disputa democrática do poder nacional. Houve, durante esses meses, inúmeras manifestações internacionais, sobretudo por parte da República Russa e da União Africana, de que tal mandato, ao ser extrapolado com ações bélicas que visavam enfraquecer e vulnerar o governo da Republica Líbia, estaria se configurando um ato de abuso de força e, na prática, de intervenção militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) naquele país.
Foi para constatar se era, de fato, isso que ocorria, significando uma violação do mandato internacional o qual nosso país subscreveu, que se destinou nossa missão.
Fixados os objetivos da viagem, passamos a narrar os fatos que nela sucederam.
Chegamos à Tunis, capital da Tunísia, no final da noite do dia 15 do corrente mês. No dia seguinte, nossa primeira providência foi buscar contato com a representação diplomática brasileira na capital tunisina, o que, infelizmente foi impossível e só veio ocorrer na quarta-feira quando nos reunimos com os senhores Márcio Augusto dos Anjos, primeiro secretário da embaixada brasileira na Líbia e pelo senhor, André Rosa Bueno, que nos informaram da dificuldade de obter garantias de segurança para o procedimento da viagem (documento anexo), o que já nos havia sido dito na véspera pelo Dr. Wael Al Faresi, professor universitário e membro do Comitê Olímpico, e naquele momento membro do “Comitê Voluntário de Apoio” ao governo líbio.
Note-se que, pela precariedade do trânsito entre a Tunísia e a fronteira oeste líbia – até então livre de conflitos militares, a comunicação do Dr. Al Faresi com nossa delegação foi feita por intermédio de videoconferência.
Expressando-se em português, o Dr. Al Faresi disse nos que o exército líbio havia recuado de suas posições naquela região após fortes bombardeios realizados pela aviação da Otan. Segundo ele, as ações militares visavam não apenas desalojar as tropas leais do governo como, sobretudo, interromper o funcionamento da infraestrutura e dos canais de abastecimento daquele país.
Disse-nos, inclusive, que teria sido bombardeada uma usina de geração termoelétrica que abastecia de energia a cidade. No diálogo com os representantes diplomáticos brasileiros o Senhor Márcio dos Anjos, além de confirmar a instabilidade da situação militar nas vias de acesso à Trípoli, confirmou que até a data que deixou a capital líbia, 15 dias antes do nosso encontro que os bombardeios danificavam progressivamente os serviços de infraestrutura da cidade, levando a interrupções no fornecimento de energia e telecomunicações, provocando elevação nos preços dos alimentos e mercadorias em geral, pela escassez de suprimentos.
Numa explanação mais ampla,  o secretário Márcio dos Anjos descreveu-nos a Líbia como uma sociedade onde a maioria da população gozava de bons níveis de bem-estar, inclusive com políticas públicas de educação, saúde, habitação gratuitas e como a maior renda per capita do continente Africano. Disse-nos, ainda, que o país estimulava o intercâmbio de estudantes e profissionais com outras nações, à custa do governo. Ressaltou que o governo possuía recursos derivados do fato de ter a exploração de petróleo regulada por contratos  que garantiam que cerca de 90% do lucro obtido pelas petroleiras fosse recolhido aos cofres públicos.
Com isso, informou, o Estado Líbio desenvolvia um grande programa de habitação, levando 80% da população a possuir moradia própria e projetando a construção de mais 500 mil casas e apartamentos, um número que se torna impressionante quando se considera que a população daquele país é composta por pouco mais de seis milhões de habitantes.
No aspecto político, o secretário Márcio dos Anjos disse não ter observado, em Trípoli, manifestações de adesão ao movimento rebelde e muito menos a presença de qualquer grupo insurreto.  Havia, ao contrário, segundo seu relato, restrições ao chamado movimento rebelde mesmo entre aquelas pessoas que não apoiavam o comportamento de Muammar Gaddafi.
O relato do secretário, Márcio dos Anjos, foi corroborado pelo Ministro conselheiro Luis Eduardo Maya Ferreira, que chefia interinamente a embaixada brasileira em Tunis, ao definir o Sr. Márcio como um dos diplomatas de nosso país mais habilitado a descrever a situação líbia.
Impedidos, portanto, de seguir em nossa missão, aguardamos três dias por uma eventual melhoria nas condições de segurança, o que não ocorreu. Nestes dias, com ajuda de interpretes, pudemos observar nos meios de comunicação locais e regionais um amplo noticiário sobre o conflito, dividido, basicamente, em duas linhas de abordagem. Uma, da emissora Al Jazeera, sediada no Qatar, bastante semelhante ao noticiário que temos recebido, aqui no Brasil, pelas agências internacionais. Outra, com tom diferente, nas emissoras tunisinas e de outros países da região, onde, ao lado das imagens dos movimentos insurrecionais se exibiam também imagens das manifestações pró-Muammar Gaddafi. Pudemos, também, assistir às transmissões da TV estatal líbia, na qual se veiculavam inúmeras convocações à população para defesa da capital e de seu entorno, chamando à população civil, inclusive a feminina,  para participar da resistência.
No esforço para tentar obter informações, deslocamos-nos até  Bem Gardan, a última cidade tunisina antes da fronteira líbia, a cerca de 50 km dela, e, mesmo tentando ir adiante, isso foi recusado pelo motorista do veículo que locamos em Tunis para este deslocamento, alegando falta de segurança. Naquela localidade, pudemos observar duas situações dignas de nota. A primeira, o forte movimento de tropas e veículos blindados da Tunísia, para prevenir violações de seu território. A segunda, um grande acúmulo de alimentos e outros itens de primeira necessidade, inclusive combustível, que já não podiam ser levados à população líbia pelo acirramento do conflito.
Em resumo, a limitação de nossos movimentos, malgrado todos os esforços que fizemos para o pleno cumprimento de nossa missão, não nos permite expressar, com a força do testemunho pessoal, a situação interna da Líbia. Pudemos observar, entretanto, nos diálogos que realizamos, que é praticamente unânime a percepção na região de que o desfecho desses acontecimentos reflete muito mais os efeitos da intervenção militar ocidental do que propriamente o enfrentamento dos grupos pró e antigoverno daquele país.  Mesmo com a impossibilidade de penetrarmos no território da Líbia, fizemos contatos com vários cidadãos daquele país, apoiadores ou opositores do regime e todos destacavam, não apenas o poder dos ataques da Otan como, até mesmo, o fato de muitas das operações de bombardeio atingirem alvos civis, a  infraestrutura, e, ironicamente, até mesmo as tropas insurretas que visavam apoiar. Pelo que foi possível recolher de testemunhas não foi uma ação bélica condizente com a delegação internacional que a Otan recebeu da Onu.
Por fim, cabe assinalar que em todos os momentos nossa delegação insistiu numa posição de apoio ao fim, por ambas as partes, dos conflitos armados. E pela convocação do povo líbio a uma ampla e democrática consulta sobre os rumos da nação. Cumprimos, no limite de nossas possibilidades, a missão que nos foi delegada oficialmente por esta Casa, sem ônus para os cofres públicos, e colocamo-nos à inteira disposição dos senhores Deputados para qualquer esclarecimento adicional.
É o que temos a relatar.
Brasília, 22 de agosto de 2011
PS. O ex-prefeito Cesar Maia, esquecido pela mídia, posta em seu twitter que eu fui “confraternizar” com Gaddafi. O ex-prefeito está mesmo mal, querendo criar factóides comigo, logo ele, que já andou nas manchetes nacionais. Cesar, por favor, se quiser criar factóides, repita aquela de ir comprar sorvete no açougue. É mais criativo, pelo menos.
Movimento Democracia Direta

New York Times: A “mão livre” das companhias de petróleo na Líbia

23 de agosto de 2011 às 3:09

 

The Scramble for Access to Libya’s Oil Wealth Begins
By CLIFFORD KRAUSS, em 22.08.2011, no New York Times

Houston — A luta ainda não acabou em Trípoli, mas a disputa para assegurar acesso à riqueza do petróleo da Líbia já começou.

Antes da rebelião começar, em fevereiro, a Líbia exportava 1,3 milhão de barris de petróleo por dia. Embora isso represente menos de 2% das necessidades globais, apenas um pequeno número de países pode fornecer o equivalente do mesmo tipo de petróleo do qual muitas refinarias do mundo dependem. O retorno da produção líbia ajudaria a derrubar os preços de petróleo na Europa e, indiretamente, os preços da gasolina na costa Leste dos Estados Unidos.

Nações ocidentais — especialmente os países da OTAN, que deram apoio aéreo crucial aos rebeldes — querem ter certeza de que suas companhias ficarão em posição destacada para bombear o petróleo líbio.

O ministro das Relações Exteriores da Itália, Franco Frattini, disse na TV estatal segunda-feira que a companhia petrolífera italiana Eni “terá o papel número um no futuro” no país norte-africano. O sr. Frattini chegou a afirmar que técnicos da Eni já estavam a caminho do leste da Líbia para reiniciar a produção. (A Eni rapidamente desmentiu que tinha mandado pessoal para a região ainda em disputa, que é a maior fonte do petróleo importado pela Itália).

A produção líbia foi praticamente suspensa durante o longo conflito entre as forças rebeldes e as tropas leais ao líder da Líbia, coronel Muammar el-Qaddafi.

A Eni, com a britânica BP, a Total da França, a Repsol YPF da Espanha e a OMV da Áustria, foram todas grandes produtoras na Líbia antes da guerra civil, e estão em posição para ganhar mais assim que o conflito terminar. As companhias americanas Hess, ConocoPhillips e Marathon também fizeram acordos com o regime de Qaddafi, embora os Estados Unidos dependam em menos de 1% das importações da Líbia para seu consumo.

Mas permanece incerto se um governo rebelde honraria os contratos fechados pelo regime de Qaddafi ou que tipo de postura assumiria nas negociações para acordos de produção com as companhias dispostas a investir nos poços existentes ou na exploração de novos.
Mesmo antes de assumir, os rebeldes sugeriram que relembrarão seus amigos e inimigos e negociarão levando isso em conta.

“Não temos problemas com países ocidentais como os italianos, franceses e companhias britânicas”, disse o porta-voz da companhia de petróleo dos rebeldes, Agoco, Abdeljalil Mayouf, segundo a Reuters. “Mas teremos algumas questões políticas com a Rússia, China e Brasil”.
A Rússia, a China e o Brasil não deram apoio a fortes sanções contra o regime de Qaddafi, e em geral apoiaram uma solução negociada para por fim ao conflito. Todos os três países têm grandes companhias de petróleo que tentam negócios na África.

O preço básico do petróleo na Europa caiu moderadamente na segunda-feira, com a especulação de que a produção líbia de petróleo seria rapidamente retomada. Os preços do petróleo Brent inicialmente cairam mais de 3%, mas terminaram o dia basicamente com o mesmo valor em Nova York, U$ 108,42 o barril. O preço básico dos Estados Unidos, que é menos sensível a eventos no Oriente Médio, subiu U$ 2,01, para U$ 84,42.

O coronel Qaddafi provou ser um parceiro problemático para as companhias de petróleo internacionais, frequentemente aumentando impostos e taxas e fazendo outras exigências. Um novo governo com relações próximas com a OTAN poderia ser um parceiro mais fácil para as nações ocidentais. Alguns especialistas dizem que, com a mão mais livre, as companhias de petróleo poderiam encontrar consideravelmente mais petróleo na Líbia do que foram capazes sob as restrições impostas pelo governo Qaddafi.

Analistas de petróleo dizem que é provável que as companhias de petróleo, particularmente a Total e a Eni, compitam ferozmente por contratos para explorar as melhores propriedades, com os respectivos governos fazendo lobby em nome delas. Mas primeiro os rebeldes deverão consolidar seu controle sobre o país.

“Se você não tem um ambiente de segurança estável, quem vai colocar os trabalhadores de volta no país?”, disse Helima Croft, estrategista geopolítica da Barclays Capital.

A guerra civil forçou grandes companhias de petróleo a retirar seu pessoal da Líbia e a produção despencou nos últimos meses para minúsculos 60 mil barris por dia, de acordo com a Agência Internacional de Energia. Isso seria suficiente para atender 20% das necessidades domésticas de petróleo da Líbia. Os rebeldes foram capazes de exportar pequenas quantidades de petróleo que estavam estocadas em portos e venderam o produto a dinheiro nos mercados internacionais através do [emirado do] Qatar.

Especialistas em petróleo alertam que a Líbia poderia levar mais de um ano para fazer os reparos e colocar seus poços em produção total, embora as exportações possam ser retomadas em alguns meses.
Como o petróleo é o recurso econômico mais importante da Líbia, qualquer novo governo seria obrigado a fazer da produção sua mais alta prioridade. Isso significa ter segurança nos maiores campos de petróleo, nos oleodutos, refinarias e portos.

O governo também precisaria rapidamente estabelecer relações com as companhias de petróleo estrangeiras, algumas das quais consultaram tanto os rebeldes quanto o coronel Qaddafi durante o conflito, visando garantir suas apostas.

As companhias de petróleo envolvidas na Líbia evitaram comentários a respeito da situação no país ou disseram que pretendem avaliar a evolução da segurança antes de mandar seu pessoal de volta ao país.

“Claramente, estamos monitorando a situação como todos”, disse Jon Pepper, um vice-presidente da Hess. “Obviamente a situação precisa estabilizar antes que as pessoas comecem a pensar em retomar a produção”.

Em anos recentes, a Itália depende da Líbia para mais de 20% de suas importações de petróleo. A França, a Suiça, a Irlanda e a Áustria todas dependiam da Líbia para mais de 15% de suas importações antes do início da guerra civil.

A importância da Líbia para a França foi sublinhada na segunda-feira, quando o presidente Nicolas Sarkozy convidou o chefe do conselho de transição nacional, Mustafa Abdel-Jalil, para consultas em Paris.

Apesar de os Estados Unidos dependerem muito pouco da Líbia, a redução da quantidade de petróleo de alta qualidade nos mercados mundiais empurrou para cima os preços do petróleo e da gasolina também para os norte-americanos.

Analistas da indústria dizem que a maior parte das empresas de serviço do setor continou a pagar salários a suas equipes líbias durante a guerra, indicando que houve danos relativamente pequenos à maioria das instalações. Isso sugere que a produção poderia ser retomada em questão de semanas.

Mas as exportações dependem em grande escala da rapidez dos reparos a serem feitos nos terminas de exportação de Ras Lanuf, Melitah e Es Sider e do quanto o novo governo será capaz de dar segurança aos campos e oleodutos que ficam em áreas que tradicionalmente apoiavam o antigo regime.

O fechamento às pressas de poços quando a guerra se espraiou, em fevereiro, além da falta de manutenção nos últimos meses, podem significar que os consertos necessários vão levar meses, particularmente nos campos mais antigos.

As experiências de outros países da região oferecem razões para cautela. Analistas dizem que disputas políticas no Irã reduziram a produção do país por décadas e foram necessários oito anos para a produção do Iraque se recuperar depois da invasão liderada pelos Estados Unidos para derrubar Saddam Hussein.

O presidente da Eni, Giuseppe Recchi, disse recentemente a analistas que provavelmente levaria um ano para a Líbia voltar aos níveis normais de exportação. Na segunda-feira, ele negou que sua companhia fosse enviar imediatamente pessoal para a Líbia, mas disse a repórteres que espera que o novo governo líbio respeite os contratos fechados previamente pela companhia.

Elisabetta Povoledo contributed reporting from Rome.

http://www.nytimes.com/2011/08/23/business/global/the-scramble-for-access-to-libyas-oil-wealth-begins.html?pagewanted=all