terça-feira, 21 de outubro de 2014

Jornal afasta colunista que sugeriu "trancar as domésticas no dia da eleição"

Colunista que ataca pobres e nordestinos é afastado de jornal. Ao defender voto contra Dilma no próximo domingo, Anderson Magalhães sugeriu que "tranquemos em casa nossas empregadas" e não deixemos que os porteiros saiam dos prédios

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Anderson Magalhães, colunista ‘anti-pobre e anti-nordestino’, é afastado de jornal (divulgação)
O colunista social Anderson Magalhães foi afastado do jornal O Diário de Mogi, do município de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, depois de ter publicado uma coluna defendendo voto contra o PT e ofendendo nordestinos, pobres e empregadas domésticas na edição nº 15 da revista Actual Magazine, que circula na região.
Em seu texto, intitulado “Desespero”, ele prega voto contra o PT no próximo domingo 26, sugere “trancar nossas ‘secretárias do lar’ em casa, interditar as casas de forró e proibir os porteiros de saírem dos prédios”. Defende que Salvador viva apenas do que produz: dendê, cocada e Luiz Caldas. E que os pernambucanos sejam sustentados apenas de R$ 97 do Bolsa Família e dos direitos autorais de “Morena Tropicana”, música de Alceu Valença.
O colunista idealiza ainda que os estados nordestinos de Alagoas, Piauí e Maranhão fiquem de fora do cenário eleitoral “por falta de fórum privilegiado” e que o voto desses estados só seja validado caso a população formule “uma frase inteira sem erros de concordância e com todos os plurais”. Esquece, porém, de colocar plural em uma frase da própria coluna, quando pede que “Dilma e sua corja perca seus votos” – quando o correto seria “percam”.
Depois da publicação da coluna, Magalhães publicou em suas redes sociais que havia sido “mal interpretado” e que sua intenção era apenas a de ser “irônico”. Em nota, o jornal afirma que “discorda totalmente das opiniões emitidas pelo colunista”, informa não ter responsabilidade pelo conteúdo veiculado na revista e diz que Anderson Magalhães “não é mais colunista deste jornal”, onde assinava a coluna “Beatz”.
Em artigo anterior, também na Actual Magazine, o colunista já havia manifestado seu mal estar com os brasileiros que passaram a andar de avião. “E tudo isso começou quando Lula e sua equipe — todos muito acostumados a andar de ônibus desde os tempos de calango — chegaram ao poder”, escreve, saudosista: “Foi-se o tempo que bastava apenas chegar ao guichê, comprar a passagem e embarcar…”. O cenário atual, para ele, é um terror: “Hoje é gente brotando dos ralos e carregando aquelas sacolas plásticas lotadas de cacarecos comprados em camelô e nos mercados de genéricos. O Brasil virou uma grande loja de R$ 1,99. Pelo menos é o que eu vejo nos aeroportos”
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http://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/10/jornal-afasta-colunista-que-sugeriu-trancar-domesticas-dia-da-eleicao.html

Eleições, tio Arthur e a geladeira

Um texto na grande imprensa que corrobora com meu pensamento sobre o falso moralismo do brasileiro. Um primor em desmascarar a hipocrisia de quem exterioriza a corrupção alheia esquecendo a sua, cometida no dia a dia. Leia, excelente. Clique no link abaixo.



ARMÍNIO SERÁ PARA AÉCIO O QUE NECA FOI PARA MARINA?



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Âncora econômica do PSDB amarrou imagem de Aécio Neves ao mercado financeiro e  carimbou nele, via propaganda do PT, juros de 45% ao ano e duas idas ao FMI; no primeiro turno, ligações de amizade e financiamento entre Marina Silva e herdeira do banco Itaú Neca Setubal foram centrais para afundar PSB do favoritismo a um inútil terceiro lugar; baterias do PT centram fogo, já há dez dias, no paredão Aécio-Fraga; associação direta se mostra mau negócio
247 – Em sua última intervenção no debate entre presidenciáveis no primeiro turno, na rede Bandeirantes, em setembro, Aécio Neves anunciou a nomeação antecipada do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga para ministro da Fazenda de seu eventual governo. Mais tarde, o próprio Aécio reclamou que nenhum jornalista presente fora procurá-lo quando a transmissão foi encerrada, tal o desinteresse, àquela altura, que o 'fato novo' provocara. Com o passar da campanha, porém, a figura de Armínio cresceu em importância na estratégia de Aécio. Ao que parece, isso não está sendo nada bom para o candidato tucano.
Da mesma maneira como o PT bombardeou, no primeiro turno, a  relação de amizade e  financiamento entre Neca Setubal, herdeira do banco Itaú, e a ex-senadora Marina Silva, candidata do PSB, o mesmo PT viu no compromisso central de Aécio com Armínio uma chance para repetir a estratégia de desconstrução. Agora com ganas de ganhar ou perder tudo.
Nos diversos ataques que foram desfechados contra as tibiezas e contradições da candidatura Marina, a relação de juras de amizade entre a ex-seringueira e a irmã do banqueiro Roberto Setubal foi um dos aspectos usados pelo PT. Serviu para tisnar de elitismo a candidata que buscava o apoio popular e evoluiu para a descoberta de Neca como principal financiadora do Instituto Marina Silva. Uma ONG que, na prática, banca muitas das despesas da própria Marina.
Na ligação anunciada por Aécio com Armínio, o comando da campanha da presidente Dilma Rousseff enxergou a oportunidade de tatuar o senador tucano com marcas que, na verdade, fazem parte apenas da história de Fraga. Chamado por Fernando Henrique Cardoso para assumir o Banco Central, em 1999, ele assumiu com carta branca para debelar a inflação. Subiu a taxa de juros para 45%, numa situação considerada excepcional, mas foi esse o aspecto ressaltado nesta campanha pelo PT. Como nem Fraga nem Aécio encontraram, até agora, o antídoto para essa veiculação, o que se sabe, de acordo com as pesquisas Datafolha e Vox Populi, é que o sucesso da desconstrução petista de Aécio passa, e muito, por Fraga. Numa dose ainda maior do que ocorrera com Marina e Neca.
Fraga, ao aceitar o cargo antecipado de ministro da Fazenda, passou a ocupar a mídia, com entrevistas, todos os dias. Logo na virada do primeiro para o segundo turno, o movimento foi visto como bastante adequado. Os tucanos e seus próximos troçavam do fato de Dilma ter adiantado que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, não continuará no cargo no caso de um segundo mandato. Aécio estaria, assim, em vantagem, por já ter um ministro indicado.
Nunguém contava que, numa recuperação inesperada, Mantega não se deixou abater pela situação de futuro sem Pasta. Num debate frente a frente com Fraga, a convite da jornalista Miriam Leitão, da Globo News, ele saiu-se bem o suficiente para despertar elogios até mesmo na imprensa internacional. Ao mesmo tempo, passou a saborear dados econômicos como uma leve recuperação na produção industrial e nas vendas de varejo, além da confirmação de mais de 900 mil vagas formais de trabalho abertas até o mês de setembro.
Enquanto isso, praticamente todos os dias, desde o início do segundo turno, manchetes econômicas do passado são mostradas pelo PT em seus comerciais de televisão. Associando lembranças como o segundo maior desemprego do mundo ao Brasil, os comerciais apontaram para Fraga, exclusivamente, como responsável por aquelas situações.
Nessa gangorra de personagens, Armínio foi escalado pelo PT como alvo preferencial. Os tiros disparados levantaram a presidente Dilma Rousseff na faixa de renda de até dois salários mínimos e melhoraram seu desempenho, em relação a Aécio, no segmento de dois a dez salários mínimos. Se a intenção era assustar os assalariados com a volta de Fraga, e desta vez com superpoderes na Fazenda, a impressão do momento é que deu certo.
Até aqui, os tucanos não encontraram uma defesa sólida para os flancos explorados pelo marqueteiro petista João Santana. Num dos disparos mais certeiros, logo após a divulgação do áudio da delação premiada do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, o PT colocou no ar uma grava de Fraga dizendo não saber se iria "sobrar muito" dos bancos públicos após eles terem suas prioridades redefinidas. Bem, não pegou, tanto que Aécio passou a se preocupar em mandar uma série de mensagens tranquilizadoras aos funcionários do Banco do Brasil, Caixa e BNDES. Igualmente, o tucano procurou transmitir ao grande público a palavra de que não mudará as funções dessas instituições. Da ofensiva, ele teve de perder tempo se explicando – numa reta final, esse movimento não costuma ser positivo.
http://www.brasil247.com/pt/247/economia/157773/Arm%C3%ADnio-ser%C3%A1-para-A%C3%A9cio-o-que-Neca-foi-para-Marina.htm

Lula: "Neste país, há sempre uma tentativa de golpe contra a democracia"


Jornal GGN - Em entrevista exclusiva à Revista do Brasil (RBA), o ex-presidente Lula disse que está "preocupado" com a divulgação dos depoimentos do doleiro Alberto Yousseff e do ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, na ação que investiga desvios na estatal. Segundo Lula, é muito suspeito que em pleno segundo turno da campanha presidencial, um processo que está fundamentado em uma delação premiada passe a ser divulgado na imprensa sem que haja provas contra o PT.
"Se daqui a quatro meses for provado que não é verdade, o prejuízo está feito", disse, ao analisar que o caso pode dificultar a reeleição da presidente Dilma Rousseff. Segundo Lula, a grande mídia tradicional se comporta há 12 anos como um verdadeiro partido de oposição, muito mais eficiente do que o PSDB. O GGN reproduz a entrevista abaixo.
Da Revista do Brasil
Parece que foi ontem, mas aconteceu em 2002. O metalúrgico, sindicalista e fundador do PT Luiz Inácio Lula da Silva tornava-se presidente da República, em sua quarta tentativa. Derrotou o partido que, hoje, 12 anos depois, diz ser o da "mudança."
O PSDB de Aécio Neves já tem até ministro anunciado, o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, que insiste: é preciso “arrumar a casa”, a economia está uma bagunça. Como assim?, pergunta Lula. "Ele, na verdade, é um desarrumador de casa. Quem arrumou a casa fomos nós."
Para o ex-presidente brasileiro, a expressão do economista é um eufemismo para aumentar o desemprego e reduzir ganhos salariais em nome da eficiência das contas públicas. Ou em sua definição: “Arrumar a casa é tirar aquilo que o povo conquistou neste período de 12 anos”.
Em meio ao vale-tudo desenfreado na reta final da eleição, Lula recebeu a Revista do Brasil para uma reflexão sobre a necessidade de aumentar a consciência política das pessoas. “Se ficar só na agressão pessoal ou partidária, eu acho que a gente não politiza a sociedade.”
Lula pede ao povo para ficar alerta em relação às propostas em jogo: manter uma política que busque reduzir as históricas desigualdades do país, projeto personificado por Dilma; ou devolver o poder a um grupo que governa para apenas uma parcela da população.
Segundo ele, a mídia tradicional trabalha diuturnamente contra o PT, esconde a comparação de projetos e despolitiza os debates. “Gostaria que a campanha, ao terminar, além do somatório de votos, tivesse um crescimento da consciência política da sociedade”, diz.
Pouco mais de um ano atrás, o senhor deu uma entrevista falando que “estava no jogo”. Agora, próximo do segundo turno, não acha que o jogo ficou mais bruto?
Os adversários, embora sejam os mesmos das outras disputas, estão mais raivosos. O que é uma contradição com todo o discurso que eles fazem ou faziam, que o PT era agressivo... Agora, é o PT que está muito tranquilo e eles que estão muito agressivos. Em alguns casos, com campanha de denúncias e difamações que somente a extrema-direita tinha competência de fazer em alguns momentos históricos do Brasil. Agora, de qualquer forma, o jogo sempre vai ser duro quando o PT está numa disputa de uma prefeitura, de um estado ou do Brasil. Porque o PT conseguiu mudar o jeito de governar o Brasil, conseguiu estabelecer uma nova relação entre o Estado e a sociedade, entre o governo e os setores organizados da sociedade. Isso incomoda essas pessoas, porque eles não querem que as pessoas participem. Chegamos ao cúmulo de estarem raivosos porque as pessoas que votaram na Dilma são “desinformadas”, “informados” são só os que votaram neles. Acho que esse ódio que está sendo divulgado, essa campanha feita diuturnamente contra o PT, que não é de hoje – isso é desde que nós nascemos, mas mais marcadamente depois que chegamos ao governo – fez com que a campanha fosse mais radicalizada. Nós temos uma estratégia de campanha, temos uma candidata competente, que tem experiência de vida, e estamos preparados para qualquer embate. Gostaria que a campanha, ao terminar, além do somatório de votos, tivesse um crescimento da consciência política da sociedade. Que as pessoas saiam do processo eleitoral gostando mais de política, se sentindo participativas, dispostas a exigir e a cobrar mais dos eleitos. Eu espero isso. Se ficar só na agressão pessoal ou partidária, a gente não politiza a sociedade.
Essa queda de qualidade na oposição, que não privilegia o debate de projetos, tem a ver com o perfil do Fernando Henrique, do estilo dele de ser oposição?
Neste momento, há um esforço muito grande, enorme, de uma parte da imprensa brasileira de tentar ressuscitar o Fernando Henrique Cardoso. Tem muita gente que tem 30 anos hoje e nem lembra que o Fernando Henrique Cardoso foi presidente da República. Há uma tentativa de ressuscitá-lo como porta-voz de um partido que não se comporta como partido de oposição, porque não tem um programa alternativo para a sociedade. O que tem, na verdade, é uma imprensa partidarizada. A grande oposição no Brasil hoje não é o PSDB, é a imprensa. Enquanto o candidato espera o ano inteiro para ter 45 dias, para ter o horário na televisão, eles fazem campanha 24 horas por dia durante o ano inteiro, não tem limite. O Fernando Henrique tem hoje pouca ascendência sobre a campanha eleitoral, tem pouco voto. E acho que é por isso que o PSDB, desde que ele deixou a Presidência, não utiliza ele em debate. O Aécio utilizou mais porque para ganhar dentro do PSDB, precisou do apoio do Fernando Henrique, que, como todo mundo sabe, historicamente não é muito simpático ao Serra. A qualidade da oposição caiu. Aliás, a qualidade do debate político caiu muito. E Fernando Henrique tem responsabilidade nisso, porque puxa para baixo o debate, quando poderia elevar. Essa que ele disse agora, que quem votou na Dilma é a parte mais desinformada da sociedade, do Nordeste, é de uma grosseria elitista que jamais poderia sair da boca de um sociólogo. O cara estuda, mas a massa encefálica tá pronta na cabeça dele. Ele não pode mudar. Ele pensa exatamente assim, que o Brasil tem de ter uma camada pobre que não tem direito a nada. Hoje, o cidadão tem mais cidadania, mais salário, política de transferência de renda, crédito consignado, crédito rural, tudo melhorou. Então, o mundo que ele vê é do tempo que ele governava. Por isso, rebaixa tanto o debate político e econômico.
Assim como em 2010, logo depois do primeiro turno houve manifestações nas redes sociais contra os nordestinos. A conscientização não avançou, vivemos uma certa separação, principalmente, entre Sudeste e Nordeste?
Acho que o nível de consciência política às vezes acirra esse debate. Mas se você olhar historicamente, grande parte dos políticos nordestinos sempre achou que São Paulo age com eles como os Estados Unidos age com outros países. Que São Paulo é uma espécie de Estado imperialista. E, ao mesmo tempo, São Paulo leva sempre vantagem, porque é o mais rico. O que nós começamos a fazer? Começamos a estabelecer uma política de desenvolvimento que levasse em conta a diminuição das desigualdades regionais. Permitir que o país fosse mais igual, tivesse mais escolas, diminuísse a mortalidade infantil, o analfabetismo, que tivesse mais empresas e mais emprego no Nordeste. E esse foi o grande mote que fez com que o Nordeste crescesse mais do que São Paulo. E você percebe que a importância da economia paulista em relação ao PIB tem diminuído. Não é só porque tem perdido empresa, é porque o Nordeste tem ganhado empresa e gerado desenvolvimento mais rápido. O que é normal. E as pessoas começam a ter direitos, a exigir mais, e aí fomenta essa divergência que eu acho absurda. Não é só no Brasil. No mundo inteiro, sempre foi assim. Quando a camada mais pobre ou uma região começa a ascender socialmente, aqueles que já ascenderam começam a ficar com raiva. É mais gente no restaurante, no avião, no aeroporto, viajando de trem, no shopping. E gente que eles não conheciam, que antigamente não conseguia entrar no shopping. Isso vai criando um certo rancor… Esse pensamento, graças a Deus, está na cabeça de uma minoria. E não tem preconceito com nordestino rico, contra o negro rico. O preconceito está ligado à possibilidade econômica das pessoas. Eu fico triste quando um homem como Fernando Henrique Cardoso abre a boca para falar uma bobagem dessa.
Como o debate de projetos escondido no noticiário, o destaque de todos os jornais são as “denúncias” do diretor da Petrobras investigado, do doleiro. De que forma esse clima afeta a campanha da presidenta Dilma?
Estou muito preocupado. Eu tenho a impressão de que neste país tem sempre uma tentativa de golpe. Tem sempre um Carlos Lacerda querendo derrubar alguém. Você tem um processo em que as pessoas estão fazendo delação premiada, esse processo está nas mãos de um ministro da Suprema Corte, porque não pode vazar, porque depois da delação é possível investigar se é verdade. Estranhamente, como a Suprema Corte reivindicou o processo para lá, o juiz convoca as pessoas para depor e colocar na internet o depoimento, quase como se fosse uma ação política, quase como se fosse "vamos fazer um depoimento agora para dar material de campanha para os adversários do PT". Se daqui a três ou quatro meses for provado que não é verdade aquilo que ele falou, o prejuízo está feito. É gravíssimo o que está acontecendo, às vezes me cheira a tentativa de golpe mesmo, de colocar em risco o processo democrático. O que foi prometido para esses senhores na delação premiada? Será que foi só diminuir a pena ou será que foi prometido “se o PT for derrotado, poderá ter mais coisas?” A gente não sabe. É um processo insidioso, porque não tem nenhum momento na história do Brasil em que o governo investigou mais qualquer denúncia contra qualquer pessoa como neste governo, que tenha a quantidade de instrumentos, desde a transparência das coisas que o governo faz, até a fiscalização do Ministério Público, do Tribunal de Contas, da Controladoria Geral da República. Ou seja, é o governo que criou a Lei de Acesso à Informação. Eu me preocupo, porque acho que isso é uma tentativa de fazer interferência no processo eleitoral a 15 dias das eleições.
Ontem (quinta, 9 de outubro) houve um debate na GloboNews entre o ministro Guido Mantega e o Armínio Fraga (ex-presidente do Banco Central no governo FHC). Enquanto o ministro Mantega enfatizava os ganhos sociais decorrentes das escolhas econômicas que o governo fez, o Armínio insistia na necessidade de arrumar a casa. Como essas diferenças de pensamento podem ser traduzidas?
Quando o Armínio Fraga fala em arrumar a casa, é porque ele não tem coragem de dizer que é preciso ter um pouco de desemprego, na lógica dele, é preciso diminuir os ganhos salariais e o salário mínimo, acabar com essa política de transferência de renda, e é preciso dificultar o crédito. Se ele pudesse falar fora do processo eleitoral o que ele ia fazer, era exatamente isso. Por isso que ele fala “arrumar a casa”. Ele não é nenhuma arrumadeira, porque quando estava no Banco Central ajudou a desarrumar a economia deste país. A inflação estava 12,5% quando eu cheguei na Presidência da República, o Brasil devia US$ 30 bilhões para o FMI. Viviam, ele e o Malan (o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan), nos Estados Unidos buscando dinheiro para fechar a conta no final do mês, nós tínhamos um desemprego de quase 13%, o salário dos trabalhadores não aumentava, o salário mínimo não aumentava... Então, ele, na verdade, é um desarrumador de casa. Quem arrumou a casa fomos nós, que provamos que é possível aumentar o salário mínimo, o salário das categorias organizadas, que é possível fazer política de transferência de renda e, ao mesmo tempo, é possível controlar a inflação. É importante que o povo saiba claramente que o que está em jogo é um projeto de volta ao que nós já conhecemos há muito tempo neste país, a um passado em que os trabalhadores faziam greve e não ganhavam nada.
Eu cansei de fazer greve, às vezes nem inflação a gente recebia. Então, eu acho que o Guido e a presidenta Dilma têm dito, em todas as oportunidades que eu vejo eles falarem, que esta é uma crise do capitalismo, feita pelo sistema financeiro, no coração do sistema financeiro e que os trabalhadores não têm de pagar. Logo que saiu a crise, em 2008, o Gordon Brown (ex-primeiro-ministro do Reino Unido) fez uma visita ao Brasil e foi uma coisa que a imprensa deu muito destaque quando eu disse: olha, é importante que vocês saibam que não são os negros da África, os índios da América Latina os responsáveis por essa crise. Os responsáveis são os loiros de olhos azuis. E a Dilma tem dito categoricamente: não haverá prejuízo para o trabalhador brasileiro com essa crise. Apesar do negativismo da imprensa brasileira, há um reconhecimento no mundo inteiro do milagre que o Brasil fez. Embora o PIB não esteja crescendo tal como todos nós gostaríamos, a verdade é nós estamos com desemprego menor do que muitos países que conhecemos e são desenvolvidos. E esse é um valor extraordinário, emprego; e as pessoas ainda tendo aumento real de salário. Isso é muito importante. Todo mundo vê o Armínio falar de vez em quando “o salário mínimo está muito alto, cresceu em demasia”. O que ele quer? Não pode aumentar o salário mínimo? Fazer ajuste fiscal e fazer o trabalhador pagar o preço? No nosso governo não vai acontecer isso.
Ele também fala sobre diminuir os bancos públicos...
Mas é importante a gente lembrar que eles queriam privatizar todos os bancos públicos. O que incomoda para eles os bancos públicos? Quando estourou a crise em 2008, numa conversa que tive por telefone com o presidente Obama, comecei a mostrar que seria importante que os Estados Unidos tivessem um sistema financeiro mais ou menos igual ao nosso, que temos três bancos públicos fortes, e temos bancos privados fortes. Eu citava o Banco do Brasil, a Caixa, o BNDES como os três instrumentos que me permitiram acionar para tirar o Brasil da crise.
Logo que veio a crise, nós liberamos R$ 100 milhões do compulsório na expectativa de que o sistema financeiro utilizasse o dinheiro para financiar o mercado. O que aconteceu? Pegaram e compraram títulos do governo. Ou seja, fomos obrigados a fortalecer os bancos públicos. Foram o Banco do Brasil, a Caixa e o BNDES que não deixaram este país entrar na bancarrota. São esses bancos que fazem o crédito para a agricultura, que financiam Minha Casa, Minha Vida, a agricultura familiar. Esses bancos têm uma importância extraordinária para este país. E eles querem acabar.
Na nossa visão de Estado, os bancos públicos têm um papel extraordinário de equilíbrio no mercado financeiro. Eles se incomodam porque o BNDES está emprestando muito dinheiro que eles gostariam de emprestar. Emprestem! Agora, se tiver gente precisando de dinheiro e os bancos não querem emprestar, o governo vai ajudar, porque queremos que se empreste para o desenvolvimento do país.
Então, eu acho que o povo tem de ficar alerta. O “arrumar a casa” deles é tirar aquilo que o povo conquistou neste período de 12 anos. É diminuir o papel dos bancos públicos, ou vender. Eles já queriam fazer isso 12 anos atrás. Eles querem vender o patrimônio do país e, por isso, eu acho que eles não vão ganhar as eleições, porque o Brasil aprendeu que os bancos públicos têm um papel extraordinário no desenvolvimento da nossa economia.
Esse debate muito concentrado em inflação, superávit, PIB não acaba marginalizando a discussão sobre a política industrial?
Na verdade, se discute política industrial, o governo tem propostas de inovação. Nós demos um salto de qualidade na indústria automobilística. De vez em quando, vejo as pessoas dizerem que não tem investimento. Faz quatro anos consecutivos que o Brasil é o terceiro ou quatro país a receber investimento direto. Este ano, vamos chegar a US$ 67 bilhões. No tempo deles, acho que o máximo que conseguiram foi US$ 19 bilhões, e eles faziam festa.
Quando eu estava na Presidência, muitas vezes eu discutia com o Palocci (Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda), com o Meirelles (Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central), com o Guido (Mantega, então do Planejamento, hoje Fazenda), uma coisa que não é muito aceita pelos economistas. Você tem de discutir superávit e meta de inflação, sim, mas vamos discutir meta de inflação, e vamos discutir meta de crescimento. Tentar estabelecer compromisso de controlar a inflação e de fazer a economia crescer.
Não é uma discussão fácil, porque eles (economistas) acham que não combinam as duas discussões. É um debate que nós precisamos fazer. Se eu não tiver uma meta, eu não vou atrás. Quando eu estava na Villares (metalúrgica em que Lula trabalhou no ABC Paulista) a gente recebia um lote de peças e uma cartela que dizia em quantos minutos era pra fazer cada peça. Então, eu acho que, na economia, nós também precisamos inovar. Vamos estabelecer meta de crescimento, de investimento, ciência e tecnologia, dar desafios para a gente mesmo cumprir.
Entraria emprego na meta do Copom, que considera basicamente a situação inflacionária?
Veja, o governo estabelece meta. O Banco Central só tem como instrumento os juros. Ou seja, o governo tem outro instrumento, que é cortar ou estimular o crédito. Quando chegamos na Presidência da República, no Brasil inteiro tinha apenas R$ 380 bilhões em oferta de crédito. Hoje, só o Banco do Brasil deve ter R$ 675 bilhões ou mais. Então, você tinha uma opção. Reduzir a taxa Selic e cortar o crédito. Eu dizia: cortar o crédito é cortar na veia. A taxa Selic pode demorar seis meses para surtir efeito. Agora, quando você corta o crédito é no dia seguinte. O cara não vai na loja comprar.
Então, eu era favorável... Aumentava a taxa Selic e diminuía a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo). A gente foi manuseando isso. E deu certo. A TJLP é bem menor que a taxa Selic. A gente não pode usar a palavra “subsidiado” porque a Organização Mundial do Comércio vai encher o saco, mas você pega a Caixa Econômica, o Minha Casa, Minha Vida, se a pessoa tivesse de comprar uma casa de R$ 60 mil pelo sistema financeiro normal ela pagaria R$ 900 por mês. Ela paga R$ 50 porque é subsidiado. E se não for subsidiado, como o pobre vai ter casa? O Estado tem de assumir.
É como o programa Luz para Todos. No tempo do Fernando Henrique Cardoso, tinha o Luz no Campo, em que o cara tinha de pagar tudo. Ora, mas o cara que está no meio do mato não pode pagar nada. Vamos levar pra ele. Isso custou quase R$ 20 bilhões aos cofres públicos, mas esses cidadãos têm o direito de serem tratados como o cara que mora na avenida Paulista, em Copacabana, ou na Marechal Deodoro... E nenhuma empresa privada vai levar energia se não tiver retorno. Então, o Estado tem de levar.
O debate econômico é estreito?
Acho que o debate econômico tem de ser mais plural. Hoje, nós não temos mais debate econômico porque você não tem economista, é só analista de mercado, analista de mercado, analista de mercado. O debate passa por isso. Tentamos fazer isso, e a Dilma tenta fazer, mapear quais os setores em que o Brasil é competitivo. Sabe o que acontece?
Vou te dar um exemplo. Na agricultura, o Brasil é altamente competitivo. Nós temos tecnologia, terra, água, sol. Esse é um setor em que o Brasil pode avançar. O setor de papel e celulose, podemos ter uma indústria extraordinária neste país. Na indústria química, o Brasil pode se tornar competitivo. Precisamos abrir novos mercados para que a gente possa competir com os chineses, os americanos, os alemães, naquilo que a gente pode competir.
E essa discussão de desenvolvimento tem de estar ligada ao debate econômico. Debate econômico não é só inflação, dívida pública... É discutir geração de emprego, poder do salário, ganhos sociais do povo brasileiro, industrialização, investimento em infraestrutura. A gente não pode deixar de lembrar que nós, em 12 anos, recuperamos a indústria naval brasileira. Em 1970, nós eramos a segunda indústria naval do mundo. Em 2000, a gente tinha acabado. E nós recuperamos, já está com 86 mil trabalhadores e vai continuar crescendo. Quando o Brasil tenta fazer, teima, consegue.
http://jornalggn.com.br/noticia/lula-neste-pais-ha-sempre-uma-tentativa-de-golpe-contra-a-democracia

Noblat baixa o nível ao criticar o nível de Lula


Jornal GGN - O jornalista Ricardo Noblat, em seu blog n'O Globo, insinuou, nas entrelinhas, que Lula não estaria sóbrio quando atacou a imprensa em um comício em favor da reeleição de Dilma Rousseff (PT).
Na visão de Noblat, não há nenhuma novidade em Lula criticar a grande mídia em seus discursos. Mas, segundo ele, Lula passou da conta ao citar nominalmente os globais William Bonner e Miriam Leitão. "Não dá para afirmar que ele tenha bebido antes de discursar. Aparentava estar sóbrio. (...) Quer tenha sido essa sua intenção ou não, legitima a eventual ação de um desequilibrado que pode atentar contra a integridade dos jornalistas alvos da insanidade dele", disparou.
A inusitada aula de boas maneiras de Noblat seguiu o padrão  adotado por blogs militantes de todas as tendências, muito presentes em redes sociais.
Em O Globo
Lula foi além, ontem à noite, do limite da irresponsabilidade.
Em comício ao lado de Dilma em Itaquera, distrito da Zona Leste da capital paulista, ele falou mal da imprensa – até aí nada demais. É direito dele. E nada tem de original.
Mas a certa altura do seu discurso, ele citou os nomes dos jornalistas Miriam Leitão, do jornal O Globo, e de William Bonner, apresentador do Jornal Nacional da Rede Globo de Televisão.
- Daqui para frente é a Miriam Leitão falando mal da Dilma na televisão, e a gente falando bem dela (Dilma) na periferia. É o (William) Bonner falando mal dela no “Jornal Nacional”, e a gente falando bem dela em casa. Agora somos nós contra eles - ameaçou Lula.
As cerca de cinco mil pessoas reunidas para escutá-lo foram ao delírio. Mais tarde, no teatro da Universidade Pontifícia de São Paulo, no bairro de Perdizes, Lula voltou a criticar a imprensa. E a citar Míriam Leitão e a Rede Globo.
Não dá para afirmar que ele tenha bebido antes de discursar. Aparentava estar sóbrio. Dilma e líderes do PT que testemunharam os discursos de Lula sorriram com o que ele disse. Certamente não pensaram numa coisa – e se pensaram não deram importância.
A saber: Lula expôs dois jornalistas à ira dos seus seguidores fanáticos.
Nesta reta final de campanha, os ânimos estão cada vez mais exaltados de um lado e do outro. Se um ex-presidente da República, popular como Lula, menciona nomes de pessoas e completa dizendo que “agora somos nós contra eles”...
Quer tenha sido essa sua intenção ou não, legitima a eventual ação de um desequilibrado que pode atentar contra a integridade dos jornalistas alvos da insanidade dele.
Por orientação do marketing da campanha de Dilma, ela e Lula combinaram como deveriam se comportar a poucos dias do dia da eleição em segundo turno.
Coube a Lula o papel de bater forte nos adversários – e em quem mais ele quisesse. A Dilma, bancar a vítima dos ataques do PSDB.
Dilma bate como um estivador. Quer apanhar como uma criança indefesa.
Lula está à vontade. Desaforo é com ele. Desacato é com ele. Partir para cima é com ele. Usar palavrões é com ele. Quanto a Dilma... No papel de coitadinha não convence. Longe disso.
O PT se vale de todas as armas, as legítimas e as vetadas pelo senso comum, para não perder o poder que conquistou há 12 anos. Vale, vale tudo. Vale a manipulação de informações, vale a mentira deslavada, vale a pressão sobre os mais vulneráveis.
O desejo do PT de se eternizar no poder começou com o mensalão 1, esquema que pagava propina a deputados federais. E se afirmou com o mensalão 2 – o esquema de desvio de recursos da Petrobras para enriquecer políticos e financiar campanhas.
O mensalão 1 garantiu a reeleição de Lula. O mensalão 2 parece capaz de garantir a reeleição de Dilma.
Até hoje, o PT, Lula e Dilma não admitem que corromperam a política mais do que ela já fora corrompida. Isso significa que se ganharem a eleição do próximo domingo continuarão agindo como de hábito.
Afinal, se os eleitores não mudam com eles por que eles devem mudar? 
http://jornalggn.com.br/noticia/noblat-baixa-o-nivel-ao-criticar-o-nivel-de-lula

Uma vaquinha para tirar Val Marchiori da miséria

por : 
Simplesmente um luxo
Simplesmente um luxo

Aos amigos tudo, aos inimigos a lei. Esse provérbio pode ser dispensado a toda raça humana, mas é fielmente seguido pelas castas economicamente privilegiadas. Daí a fama “dazelite”, que elas obviamente negarão de pés juntos.
Segundo a Folha, Valdirene Aparecida Marchiori, mais popularmente conhecida como Val Marchiori e sobretudo como integrante do seleto, exclusivo, maquiado e perfumado grupo das Mulheres Ricas, obteve empréstimo de R$ 2,7 milhões junto ao Banco do Brasil. Isso mesmo, quase 3 milhões de reais.
Com a ficha suja, a celebridade tinha restrição de crédito por não ter pago empréstimo que tomou anteriormente também no Banco do Brasil. Análise de seu perfil igualmente não a credenciava a um novo pedido devido sua incapacidade financeira para obter o financiamento (a comprovação de renda apresentada foi a pensão alimentícia de seus dois filhos menores de idade).
Foi preciso uma “operação customizada” para o dinheiro sair. Marchiori seria amiga do presidente do BB, Aldemir Bendine. Tomado em nome de uma empresa (a Torke Empreendimentos), o financiamento saiu com juros de 4% ao ano, abaixo da inflação.
O montante foi usado na compra de caminhões que foram imediatamente sublocados para a Veloz Empreendimentos, que é do irmão da apresentadora, Adelino Marchiori. Uma cláusula do financiamento do BNDES, de onde saíram os recursos, impede cessão ou transferência dos direitos e obrigações do crédito. Aos amigos (e irmãos de amigos), tudo.
Tema abordado nos debates entre os candidatos a presidente, os bancos públicos foram citados por Aécio Neves como mais um caso de má conduta endêmica do PT. O tucano vem acusando o governo de Dilma de financiar empresas aliadas através do BNDES.
Então, vamos lá. Em 16 de outubro último, Val Marchiori escreveu em seu blog:
“Quem prestou atenção no debate percebeu como o Aécio Neves é mais preparado: o jeito que ele fala, como ele se porta, com firmeza, clareza e com a certeza de que fará um governo muito melhor do que o da presidente Dilma Rousseff. Hello! Aécio é o nosso presidente, o homem que vai fazer o Brasil crescer, que vai tirar o país da recessão e combater a corrupção. Não adianta falar que vai acabar com a roubalheira, que os culpados serão punidos, somente quando o escândalo já estourou. É preciso impedir a corrupção  antes que ela aconteça.”
Que tal começar dando o exemplo, dona socialite? Posando de paladina da elite virtuosa, limpa, justa, honesta, chique e bem vestida, ela prossegue no mesmo post:
“Falando em política: fiquei triste ao saber que pessoas como o José Dirceu foram soltos. Vocês viram? Só no Brasil mesmo. Como uma pessoa que comandou um esquema milionário de desvio de dinheiro pode sair da prisão em tão pouco tempo? A matéria dizia que foram alguns fatores: bom comportamento, trabalho e leitura na prisão. Em virtude desses fatores, diversos dias foram descontados de sua condenação. Hello! Como é possível? Posso falar? Enquanto esse tipo de coisa acontecer no nosso país, nada irá para frente. Sempre será corrupto. Chega de impunidade!”
A celebridade Val Marchiori faz parte daquele estrato da sociedade que se acredita acima do bem e do mal, que acha um luxo só gastar 7 mil reais em uma bolsa, que discorre sobre moralidade como alguém exemplarmente inquestionável, cujo discurso político embarca os termos roubalheira e corrupção e nada mais. Isso na frente das câmeras, bem entendido. Nos bastidores a prática é outra.
Vá você, pobre mortal, pedir um empréstimo no banco com o botton do PT no peito para ver se a teoria de Aécio está correta. Melhor posar de grã-fino empresário/apresentador/celebridade de caráter ilibado, eleitor da direita, mas pedir nos canais certos. É batata.
E Aécio? Aceitará de bom grado o apoio declarado de empresas ou empresários que mamam no BNDES?
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Sobre o Autor
Jornalista, escritor e fotógrafo nascido em São Paulo.

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/uma-vaquinha-para-tirar-val-marchiori-da-miseria/

A força simbólica no ato com Dilma e Lula na PUC de São Paulo

por Rodrigo Vianna
Desde a campanha de 89 que não se via um ato político com tamanha carga de emoção em São Paulo. Os paulistas que votam no PT (e também aqueles que, apesar de não gostarem tanto do PT, resolveram reagir à onda de ódio e conservadorismo que tomou conta das ruas) foram nesta segunda-feira/20 de outubro para o TUCA – histórico teatro da PUC-SP, no bairro de Perdizes.
O TUCA tem um caráter simbólico. E o PT, há tempos, se descuidara das batalhas simbólicas. O TUCA foi palco de manifestações contra a ditadura, foi palco de atos em defesa dos Direitos Humanos. Portanto, se há um lugar onde os paulistas podem se reunir pra dizer “Basta” à onda conservadora, este lugar é o teatro da PUC.
O PT previa um ato pra 500 ou 800 pessoas, em que Dilma receberia apoio de intelectuais e artistas. Aconteceu algo incrível: apareceu tanta gente, que o auditório ficou lotado e se improvisou um comício do lado de fora – que fechou a rua Monte Alegre.
Em frente ao belo prédio, com suas arcadas históricas, misturavam-se duas ou três gerações: antigos militantes com bandeiras vermelhas,  jovens indignados com o tom autoritário e cheio de ódio da campanha tucana, e também o pessoal de 40 ou 50 anos – que lembra bem o que foi a campanha de 89.
No telão, a turma que estava do lado de fora conseguiu acompanhar o ato que rolava lá dentro. Um ato amplo, com gente do PT, do PSOL, PCdoB, PSB, além de intelectuais e artistas que estão acima de filiações partidárias (como o escritor Raduan Nassar), e até ex-tucanos (Bresser Pereira).
Bresser, aliás, fez um discurso firme, deixando claro que o centro da disputa não é (nunca foi!) corrupção, mas o embate entre ricos e pobres. “Precisou do Bresser, um ex-tucano, pra trazer a luta de classes de volta à campanha petista” – brincou um amigo jornalista.
Gilberto Maringoni, que foi candidato a governador pelo PSOL em São Paulo, mostrou que o partido amadurece e tende a ganhar cada vez mais espaço com uma postura crítica – mas não suicida. Maringoni ironizou o discurso da “alternância de poder” feito pelo PSDB e pela elite conservadora: “Somos favoráveis à alternância de poder. Eles governaram quinhentos anos. Nos próximos quinhentos, portanto, governaremos nós”.
O “nós” a que se refere Maringoni não é o PSOL, nem o PT. Mas o povo – organizado em partidos de esquerda, em sindicatos, e também em novos coletivos que trazem a juventude da periferia para a disputa.
Logo, chegaram Dilma e Lula (que vinham de outro ato emocionante e carregado de apelo simbólico – na periferia da zona leste paulistana). Brinquei com um amigo: “bem que a Dilma agora podia aparecer nesse balcão do TUCA, virado pro lado de fora onde está o povo…”. O amigo respondeu: “seria bonito, ia parecer  Dom Pedro no dia do Fico”. Muita gente pensou a mesma coisa, e começaram os gritos: “Dilma na janela!”
Mas a essa altura, 10 horas da noite, só havia o telão. As falas lá dentro, no palco do Teatro, foram incendiando a militância que seguia firme do lado de fora – apesar da chuva fina que (finalmente!) caía sobre São Paulo. Vieram os discursos do prefeito Fernando Haddad, de Roberto Amaral (o presidente do PSB que foi alijado da direção partidária porque se negou a alugar, para o tucanato, a histórica legenda socialista), e Marta Suplicy…
Vieram os manifestos de artistas e professores – lidos por Sergio Mamberti. E surgiram também depoimentos gravados em vídeo: Dalmo Dallari (o antigo jurista que defende os Direitos Humanos) e Chico Buarque.
Quando este último falou, a multidão veio abaixo. A entrada de Chico na campanha teve um papel que talvez nem ele compreenda. Uma sensação de que – apesar dos erros e concessões em 12 anos de poder – algo se mantem vivo no fio da história que liga esse PT da Dilma às velhas lutas em defesa da Democracia nos anos 60 e 70.
Nesse sentido, Chico Buarque é um símbolo só comparável a Lula na esquerda brasileira.
Aí chegou a hora das últimas falas. Lula pediu que se enfrente o preconceito. Incendiou a militância. E Dilma fez um de seus melhores discursos nessa campanha. Firme, feliz.
O interessante é que os dois parecem se completar. Se Lula simboliza que os pobres e deserdados podem governar (e que o Estado brasileiro não deve ser um clube de defesa dos interesses da velha elite), Dilma coloca em pauta um tema que o PT jamais tratou com a devida importância: a defesa do interesse nacional.
Dilma mostrou – de forma tranquila, sem ódio – que o PSDB tem um projeto de apequenar o Brasil. Lembrou os ataques ao Brasil nas manifestações contra a Copa (sim, ali o que se pretendia era rebaixar a auto-estima do povo brasileiro, procurando convencê-lo de que seríamos um povo incapaz de receber evento tão grandioso), lembrou a incapacidade dos adversários de pensarem no Brasil como uma potência autônoma.
Dilma mostrou clareza, grandeza e calma. Muita calma.
Quando o ato terminou, já passava de 11 da noite. E aí veio a surpresa: Dilma foi – sim – pra janela, para o balcão do Teatro voltado pra rua.
dilma-no-tucaNo improviso, sem microfone, travou um diálogo com a multidão, usando gestos e sorrisos. Parecia sentir a energia que vinha da rua. Dilma, uma senhora já perto dos 70 anos (xingada na abertura da Copa, atacada de forma arrogante nos debates e na imprensa), exibiu alegria e altivez.
Foram dez minutos, sem microfone, sem marqueteiro. O povo cantava, e Dilma respondia – sem palavras. Agarrada às grades do pequeno balcão, pulava e erguia o punho cerrado para o alto. Não era o punho do ódio. Mas o punho de quem sabe bem o lado que representa.
Dilma não é uma oradora nata, não tem o apelo popular de um Lula. Mas nessa campanha ela virou líder. O ato no TUCA pode ter sido o momento a marcar essa passagem. Dilma passa a ser menos a “gerente” e muito mais a “liderança política” que comanda um projeto de mudança iniciado há 12 anos.
Dilma traz ao PT uma pitada de Vargas e Brizola, de trabalhismo e de defesa do interesse nacional. E o PT (com apoio da  militância popular, não necessariamente petista) finalmente parece ter incorporado Dilma não como a “continuadora da obra de Lula”, mas como uma liderança que se afirma por si. Na luta concreta.
Uma liderança que – na reta final, nessa segunda-feira de garoa fina em São Paulo – pulava feito menina no ritmo da rua, pendurada no histórico balcão da PUC de São Paulo. Dilma ficou maior.
http://www.revistaforum.com.br/rodrigovianna/palavra-minha/forca-simbolica-ato-com-dilma-e-lula-na-puc-de-sao-paulo/