terça-feira, 6 de setembro de 2011

A Decadência do Jornalismo. Ou do Jornalista? Ou dos dois?



Por Marco Aurélio






As relações arcaicas que ainda prevalecem nas redações brasileiras, sobretudo naquelas ancoradas nos oligopólios familiares de mídia, revelam um terrível processo de adaptação às novas tecnologias no qual, embora as empresas usufruam largamente de suas interfaces comerciais, estabeleceu-se um padrão de interdição ideológica dos jornalistas. Isso significa que a adequação de rotinas e produtos da mídia ao que há de mais moderno e inovador no mercado de informática tem, simplesmente, servido para coibir e neutralizar a natureza política da atividade jornalística no Brasil.
Baseados na falsa noção de que o jornalista deve ser isento, as grandes empresas de comunicação criaram normas internas cada vez mais rígidas para impedir a livre manifestação dos jornalistas nas redes sociais e, assim, evitar o vazamento do clima sufocante e autoritário que por muitas vezes permeia o universo trabalhista da mídia. Em suma, a opinião dos jornalistas e, por analogia, sua função crítica social, está sendo interditada.
Recentemente, a ombudsman da Folha de S.Paulo, Suzana Singer, opinou que jornalista não deveria ter Twitter pessoal. Usou como argumento o fato de que, ao tuitar algo “ofensivo”, o jornalista corre o risco de, mais para frente, ter que entrevistar o ofendido. A preocupação da ombudsman tem certa legitimidade funcional, mas é um desses absurdos sobre os quais me sinto obrigado a, de vez em quando, me debruçar, nem que seja para garantir o mínimo de dissociação entre a profissão, que tem caráter universal, e os guetos corporativos onde, desde os anos 1980, um sem número de manuais de redação passaram a ditar todo tipo de norma, inclusive comportamental, sobretudo para os repórteres.
Suzana Singer deu um exemplo prosaico, desses com enorme potencial para servir decase em cursinhos de formação de monstrinhos corporativos que pululam nas redações:


“Hoje o jornalista pode estar em um churrasco, com os amigos, e ser ofensivo com os palmeirenses porque eles ganharam o jogo de domingo. E na semana seguinte ele tem que ir entrevistar o presidente do Palmeiras. Ou seja, é uma situação muito desagradável, que poderia ter sido evitada se o repórter tivesse a postura adequada de não misturar as coisas. Não tem como ter dupla personalidade, separar a sua vida pessoal da profissional, assim como não dá para ter duas contas no twitter”.
Bom, primeiro é preciso esclarecer duas coisas, principalmente para os leitores desse blog que não são jornalistas: é possível, sim, separar a vida pessoal da profissional; e, claro, dá para ter duas contas no twitter. Essa história de que jornalista tem que ser jornalista 24 horas é a base do sistema de exploração trabalhista que obriga repórteres, em todo o Brasil, a trabalhar sem hora extra, ser incomodado nas férias e interrompido nos fins de semana, como se fossem cirurgiões de guerra. Também é responsável, na outra ponta, por estimular jornalistas que se tornam escravos de si mesmo, ao ponto de, mesmo em festas de crianças e batizados de bonecas, passarem todo tempo molestando alguma fonte infeliz que calhou de freqüentar o mesmo espaço.
A interdição imposta aos jornalistas pelas empresas de comunicação tem servido, entre outras coisas, para a despolitização das novas gerações de repórteres, instadas a acreditar que são meros repassadores de notícias e tarefeiros de redações. Desse triste amálgama é que surgem esses monstrinhos entusiasmados com teses fascistas, bajuladoras profissionais e bestas-feras arremessados sobre o cotidiano como cães raivosos, com carta branca para fazer, literalmente, qualquer coisa.
Não causa mais estranheza, mas é sempre bom expor o paradoxo dessa posição da ombudsman, que não é só dela, mas do sistema na qual ela está inevitavelmente inserida, desde que o pensamento reacionário e de direita passou a ser bússola fundamental da imprensa brasileira. Digo paradoxo porque o mesmo patronato que confunde, deliberadamente, liberdade de expressão com liberdade de imprensa, para evitar a regulação formal da atividade midiática, é esse que baixa norma sobre norma para impedir seus funcionários de se manifestarem no ambiente de total liberdade das redes sociais, notadamente o Twitter e o Facebook. Não o fazem, contudo, por zelo profissional.
Essa interdição visa, basicamente, evitar que os jornalistas opinem, publicamente, sobre a própria rotina e, assim, exponham as mazelas internas das corporações de mídia. Ou que expressem opiniões contrárias à de seus patrões. Foi assim, por exemplo, no caso da bolinha de papel na cabeça de José Serra, na campanha de 2010. Aquela farsa ridícula foi encampada, sem nenhum respeito ao cidadão consumidor de notícia, por quase toda a imprensa, por imposição editorial. Diversos colegas jornalistas, alguns que sequer conheço, me mandaram mensagens (um me abordou numa livraria de Brasília) implorando para que eu tratasse do assunto nas redes sociais. Todos me informaram que seriam demitidos sumariamente se contestassem, no Twitter e no Facebook, a tese patética do segundo ataque com um rolo de fita crepe. Todos, sem exceção.
A ética do jornalista é a ética do cidadão, dizia um grande jornalista brasileiro, Cláudio Abramo, aliás, responsável pela modernização de O Estado de S.Paulo e da Folha, nos anos 1960 e 1970. Portanto, nada mais natural que tenha o jornalista os mesmos direitos do cidadão, aí incluído o de se expressar. Impedi-lo, sob um argumento funcional, de exercer seu direito de opinião e crítica é, no fim das contas, mais um desses sinais de decadência moral da mídia brasileira. E, claro, retrato fiel do que ela se tornou nos últimos anos.

CNJ- um conselho que incomoda muita gente



Maria Tereza Sadek

Folha de S. Paulo
, 28.8.2011

O Conselho Nacional de Justiça

incomoda e precisa de nossa

proteção para que não seja

transformado em mais um órgão

burocrático e ineficiente

Após um longo debate e uma série de propostas, a reforma do Poder Judiciário

aprovada em 2004 foi uma resposta à crise da Justiça. O remédio encontrado

para afastar os tumores sem matar o corpo foi a criação de um sistema nacional

de controle, denominado Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Essa solução está hoje ameaçada por propostas que pretendem acabar com o

papel de fiscalização e investigação exercido pelo CNJ. Há quem pretenda

subverter, por meio de um exercício interpretativo no mínimo controverso,

uma das principais reformas aprovadas em nossa Constituição.

Órgão ainda jovem, a partir de 2008, por iniciativa do então ministro

corregedor-geral Gilson Dipp, o conselho começou a realizar inspeções e

audiências públicas em diversas unidades do Judiciário, tornando transparente

aos olhos da opinião pública o que gerava odor podre em um corpo que

necessita ser saudável tanto para a consolidação do regime democrático como

para o fortalecimento dos direitos individuais e coletivos.

Ao assumir a Corregedoria Nacional de Justiça em setembro de 2010, em

postura pouco comum aos nossos administradores, a ministra Eliana Calmon

não só manteve a política de transparência de seu antecessor como ainda

procurou aprimorá-la por meio de parcerias com Receita Federal,

Controladoria-Geral da União, Coaf (Conselho de Controle de Atividades

Financeiras), tribunais de contas e outros órgãos de controle.

A fiscalização, assim, foi se mostrando cada vez mais eficiente e, por isso

mesmo, mais incômoda.

Um conselho assim incomoda e muito, sobretudo os interesses corporativos,

que, relembremos, não convenceram o Supremo Tribunal Federal no

julgamento da ADI nº 3.367-1, que afirmou a constitucionalidade do CNJ,

registrando, inclusive, no voto condutor, a inoperância de muitas das

corregedorias locais, o que todos já sabíamos.

Perplexos com a faxina levada a efeito pela Corregedoria Nacional de Justiça,

os interesses contrariados reabrem a discussão do tema, tentando a todo custo

fazer prevalecer o entendimento de que o CNJ só pode punir juiz corrupto após

o julgamento do tribunal local.

Era assim no passado, e o Poder Judiciário foi exposto a uma investigação no

Parlamento exatamente porque não fez esse dever de casa, e nada nos garante

que o fará sem a atuação firme e autônoma do CNJ.

Nesse momento, a vigilância é mais do que sinal de prudência. É imperiosa e

sobressai como dever de todos os que aceitam o desafio de aprimorar a Justiça.

Políticas voltadas ao combate à impunidade se deparam com resistências.

Não por acaso são criados fatos e elaboradas teses capazes de ludibriar os

inocentes e provocar retrocessos que causarão prejuízos irreparáveis ao Brasil.

Um conselho criado justamente porque os meios de controle existentes até a

década passada eram ineficazes e parciais não pode ter a sua atuação

condicionada ao prévio esgotamento dos meios de que os tribunais há muito

tempo dispõem e que, na prática, pouco ou nunca utilizaram para corrigir os

desvios de seus integrantes.

A tese de que a competência do CNJ é subsidiária, e, assim, somente pode ser

exercida após a constatação de que os tribunais de origem foram inertes ou

parciais, interessa tão somente àqueles que depositam suas fichas no jogo do

tempo, da prescrição e do esquecimento.

O CNJ incomoda e precisa de nossa proteção para não ser transformado em

mais um órgão burocrático e ineficiente.

MARIA TEREZA SADEK
doutora em ciência política, é professora do Departamento de

Ciência Política da USP e diretora de pesquisa do Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas

Judiciais.

"Nunca soube de prostituição", diz diretor de "Pânico na TV"

ELISANGELA ROXO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA


"Eu lido com elas profissionalmente. A vida pessoal das meninas que trabalham lá, eu não acompanho", disse o diretor do "Pânico na TV" (Rede TV!), Alan Rapp, sobre as atividades das assistentes de palco, as panicats. "Eu não sei o que elas fazem fora do programa, mas nunca soube de prostituição", afirmou ele em entrevista por telefone à Folha.

O comentário sobre as assistentes surgiu por causa da ex-panicat Dani Bolina, que teria dito no quadro "Máquina da Verdade", do "Tudo É Possível" (Record), que algumas "panicats fazem programas". O programa deve ir ao ar no dia 18.

Nada disso afetou o cotidiano da produção, segundo Rapp, e não houve qualquer pedido de investigação por parte da direção da Rede TV!.

"Sobre as meninas como profissionais, podemos falar, mas o que elas fazem na vida pessoal, não. Eu não convivo com elas foras dali", afirmou o diretor .

"A gente sabe que elas têm uma agenda cheia, acompanha pelo Twitter, para não coincidir com a agenda de eventos", ele comenta.

Antonio Chahestian/Divulgação/Record
A ex-panicat Dani Bolina, que teria dito em quadro na televisão que ex-colegas "fazem programa"
A ex-panicat Dani Bolina, que teria dito em quadro na televisão que ex-colegas "fazem programa"

A ex-"BBB" e atual assistente de palco do "Pânico", Jacqueline Khury, diz que só responde por ela mesma sobre a questão da prostituição. "Não faço, falo por mim. Não quero falar da vida dos outros", afirmou, antes de desligar o telefone encerrando a entrevista.

Bolina, que foi selecionada para substituir a lutadora Duda Yankovich no elenco da quarta edição de "A Fazenda", teria se irritado com uma campanha feita pela produção do "Pânico" no Twitter para que ela fosse eliminada. Em sua conta pessoal no microblog, a ex-panicat ameaçou contar segredos sobre o "Pânico".

Segundo a coluna Outro Canal, da Folha, a afirmação de Bolina sobre a suposta prática de prostituição entre as assistentes de palco chamou a atenção de Ministério Público e Polícia Federal. As assessorias de imprensa dos órgãos, no entanto, negam que alguma investigação já tenha sido aberta.

IPI para carro que não se enquadre em regra pode subir

 

Montadoras se recusam a repassar uma eventual redução do imposto para o consumidor, como ocorreu na crise

AE

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O governo deve desistir de reduzir o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para os carros conforme previsto na nova política industrial, o Plano Brasil Maior. O problema é a resistência das montadoras a se comprometerem com contrapartidas efetivas de inovação, agregação de conteúdo local e eficiência energética. A proposta agora é elevar o IPI de carros que não se enquadrarem nas regras do novo regime automotivo, que está sendo desenhado pelo governo e pelo setor privado. A medida funcionaria como proteção e atingiria em cheio os modelos importados.
Em medida provisória publicada pela Receita Federal sobre o Brasil Maior, o governo previa reduzir o IPI para as montadoras até julho de 2016, desde que fossem obedecidas contrapartidas. O setor já havia sido beneficiado com redução de IPI para estimular a demanda na crise de 2008. A alíquota de IPI hoje varia conforme a potência dos carros: 7% para modelos populares, 13% a 15% para potência 1.0 a 2.0, e 25% para veículos acima de 2.0. Ainda não está definida de quanto seria a elevação do imposto.
Montadoras
Segundo uma alta fonte do governo federal, a administração Dilma está desistindo de reduzir o IPI porque as montadoras se recusam a assumir contrapartidas. Estão em discussão: estabelecer um porcentual do faturamento a ser investido em pesquisa e tecnologia; definir um índice de peças nacionais para os modelos de carros; e fixar uma meta de eficiência energética.
Há um racha dentro do setor automotivo. Fiat, General Motors, Volkswagen e Ford preferem um regime restritivo, porque estão há bastante tempo no País e já utilizam mais de 90% de peças locais nos modelos mais vendidos. Já montadoras como Toyota, Citroën, Renault ou Nissan importam mais peças e querem um regime mais brando.
Outro ponto que incomoda o governo é que as montadoras se recusam a repassar uma eventual redução de IPI para o consumidor, como ocorreu na crise. "Se não repassarem, servirá apenas para elevar a margem de lucro", diz a fonte. As montadoras argumentam que a desoneração visa a melhorar a competitividade, e não aumentar o consumo.
Segundo um executivo do setor automotivo, as montadoras ainda lutam para convencer o governo a reduzir o IPI, em vez de elevar o imposto para quem ficar de fora. As empresas argumentam que mais imposto eleva a proteção, mas não aumenta a competitividade para fabricar no Brasil. Procurada, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), que reúne as montadoras, não se manifestou.
China
Montadoras e governo só estão de acordo sobre o principal alvo da medida: os carros chineses. Mesmo que construam fábricas no País, como anunciaram, as marcas chinesas dificilmente vão agregar peças locais suficientes para se enquadrarem no novo regime automotivo.
Uma fonte do setor de autopeças diz que o governo precisa arbitrar as diferenças e estabelecer uma exigência alta de conteúdo local. O pior cenário para as autopeças é a instalação de fábricas chinesas que disputem o mercado local e reduzam a utilização de peças brasileiras na frota.

Procuradoria de SP se manifesta a favor da criação do PSD

                           

Procuradoria de SP se manifesta a favor da criação do PSD
 

Legenda de Kassab consegue apresentar todos os documentos necessários para obter registro, mas apuração da responsabilidade pela falsidade de assinaturas continuará


 

247 - A Procuradoria Regional Eleitoral em São Paulo (PRE-SP) manifestou-se favoravelmente, no dia 2 de setembro (sexta-feira), ao pedido de registro do Partido Social Democrático (PSD) no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-SP). Embora a Procuradoria tenha identificado irregularidades nas listas de 13 diretórios municipais do PSD, os idealizadores do partido obtiveram o número mínimo de assinaturas exigido para a formação do partido em outros 37 municípios.

No início de agosto, o Procurador Regional Eleitoral Substituto André de Carvalho Ramos identificou duplicidade de assinaturas para a criação do PSD em listas enviadas por alguns cartórios eleitorais e requereu que fosse feita a rechecagem dessas informações. Segundo a Corregedoria do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-SP), o trabalho de depuração das listas foi feito, resultando na comprovação de mais de 31 mil assinaturas de apoio apresentadas pelo PSD.

Agora, dos 50 registros apresentados, 37 diretórios municipais encontram-se com a documentação em ordem, sendo o suficiente para o registro da agremiação, pois são exigidos no mínimo 33 órgãos locais. A agremiação comprovou, ainda, que 31.091 eleitores do estado de São Paulo concordam com a criação do partido, ou seja, acima das 21.972 assinaturas exigidas pela Lei 9.096/95 para o registro.

Carvalho Ramos observou, no entanto, que as irregularidades identificadas nas listas de assinaturas dos eleitores devem continuar a ser apuradas, mas em sede autônoma. Segundo a legislação eleitoral vigente no Brasil, não é possível impedir o registro do partido político em virtude de falsidades das assinaturas que não afetem o número mínimo de assinaturas válidas (21.972 assinaturas no Estado de São Paulo). No caso do PSD, o partido obteve o número mínimo de apoiadores exigido, razão pela qual faz jus ao registro. As assinaturas em tese irregulares já foram descartadas, não afetando o registro. Porém, a investigação desses fatos graves prosseguirá com a apuração da responsabilidade penal dos envolvidos, o que não obsta o registro da agremiação perante o TRE-SP.

A conclusão da PRE-SP foi de que todos os documentos necessários à concessão do diretório regional do PSD estão presentes nos autos e, portanto, o pedido de registro do partido deve ser concedido no Estado de São Paulo. O procurador Carvalho Ramos, no entanto, foi contrário à criação dos diretórios municipais do partido nas cidades de Campinas, Campo Limpo Paulista, Catiguá, Itapevi, Itupeva, Jaborandi, Macaubal, Magda, Mogi das Cruzes, Nova Odessa, Tinburi, Uchôa e Urupês, uma vez que não foram apresentados todos os documentos necessários dessas localidades.

Líder quer revisão de regra aprovada no Congresso do PT

                           

Líder quer revisão de regra aprovada no Congresso do PT
 
Foto: Valter Campanato/ABr/Agência Brasil/EBC

 

Senadores petistas questionaram a eficácia da nova regra sobre limitação de mandatos parlamentares aprovada durante o 4º Congresso Nacional do PT

Por Agência Estado
   
Agência Estado
Senadores petistas questionaram a eficácia da nova regra sobre limitação de mandatos parlamentares, aprovada durante o 4º Congresso Nacional do PT e que passa a integrar o estatuto do partido. O líder do PT no Senado e membro da Executiva Nacional, Humberto Costa (PE), não descartou a revisão da regra nos próximos congressos da sigla, antes mesmo que ela seja colocada em prática, enquanto o senador Wellington Dias (PT-PI) vê a medida como uma "recomendação", e não uma norma impositiva.

A nova regra limita o número de mandatos de parlamentares petistas a três consecutivos, para vereadores, deputados estaduais e deputados federais, e dois seguidos, para senadores. A medida valerá somente a partir de 2014, quando todos os parlamentares terão sua contagem de tempo zerada.
Humberto Costa avalia que a medida seria interessante se o voto em lista partidária, defendido pelo PT na reforma política, estivesse em vigor. "Mas no sistema proporcional, corremos o risco de excluir o melhor candidato, que teria condições de puxar uma chapa de deputados", exemplificou. Costa lembrou que no sistema proporcional, prevalece o "voto nominal", no candidato, e não no partido. "Podemos mudar isso se a gente ver que traz mais problema que benefícios", afirmou.

O senador Wellington Dias (PT-PI) disse que "a ideia é correta porque abre espaço para os novos". Mas interpretou a medida como uma regra de orientação às futuras convenções, em que serão escolhidos os candidatos do partido, e não como uma norma de aplicação obrigatória. O ex-governador do Piauí lembrou que a proposta abrange a renovação nos cargos de direção. Dias, que já foi membro do Diretório Nacional, alegou que preferiu não continuar no órgão para dar oportunidade a novos nomes.

O presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), hesitou em comentar a regra aprovada pelo partido aliado, porque "é um assunto delicado". Mas Raupp acabou admitindo que, pessoalmente, é contrário à imposição de um rodízio aos parlamentares. "Se o parlamentar está fazendo um bom trabalho, por que tem de sair?", questionou, acrescentando que a prerrogativa de manter o político no Congresso ou retirá-lo de lá deve ser do eleitor

Justiça bloqueia pagamento de show de dupla em MT


Justiça bloqueia pagamento de show de dupla em MT


O bloqueio contas de organizadores da 5ª Expodiamantino pretende evitar o pagamento com dinheiro público do show da dupla Zezé di Camargo e Luciano realizado no último domingo

Por Agência Estado

   
Agência Estado

A Justiça de Mato Grosso determinou hoje o bloqueio de contas de organizadores de evento para evitar o pagamento com dinheiro público do show da dupla Zezé di Camargo e Luciano realizado no último domingo, 4, na 5ª Expodiamantino, no município de Diamantino.

A decisão atende ao pedido da promotora de Justiça Anne Karine Louzich Hugueney Wiegert, da 2ª Promotoria de Justiça Cível de Diamantino. O MPE argumentou que o evento é da iniciativa privada, mas o show da dupla sertaneja foi custeado com recursos públicos da Prefeitura de Diamantino. O show da dupla custa R$ 210 mil.

Wiegert disse que decidiu propor a ação cautelar depois de ter recebido denúncia anônima sobre "a irregularidade". Ela disse que requisitou informações ao prefeito Juviano Lincoln. O prefeito respondeu e encaminhou a nota de empenho, mas não esclareceu se o recurso já havia sido repassado integralmente à dupla. Diante disso, a promotora entrou com a ação cautelar para tentar "impedir eventual repasse e assegurar o bloqueio das contas" dos organizadores da feira e da empresa responsável pelos shows "Maciel & Santana Ltda ME" e da bilheteria do show da dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano.

Segundo Wiegert, os patrocinadores da Expodiamantino receberam patrocínios para divulgação e arrecadaram com o aluguel dos espaços cujos preços variaram entre R$ 500 e R$ 7 mil, sem contar a venda dos ingressos. A medida cautelar é preparatória para a ação principal que, segundo a promotora, "buscará responsabilização por atos de improbidade administrativa". Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa do prefeito não quis se pronunciar.

Agnelli pagou US$ 2,3 bi. Agora, Vale não quer mais

                           

Agnelli pagou US$ 2,3 bi. Agora, Vale não quer mais
 
Foto: Divulgação

 

Encomenda de 19 supercargueiros na China e Coreia do Sul foi o começo do fim de Roger Agnelli (à dir.) na companhia; hoje, sob o comando de Murilo Ferreira, empresa anuncia que não é “operadora e armadora”; por isso, barcos estão disponíveis para quem quiser comprar ou alugar


247 – O ex-presidente da Vale Roger Agnelli deve se lembrar muito bem – e se arrepender outro tanto – do dia em que decidiu levar a empresa a comprar 19 super navios cargueiros na China e na Coreia do Sul, em agosto de 2008. Numa atitude que se chocou com os interesses do governo federal, que àquela altura se dedicava a estimular a indústria naval nacional, Agnelli sofreu uma reprimenda pública do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva pouco mais um mês depois. “É impossível a Vale continuar comprando da China quando a gente está montando uma indústria naval aqui”, vociferou Lula. Agnelli não voltou atrás e confirmou a encomenda.

Hoje, a Vale emitiu nota oficial que mais parece uma confissão de arrependimento pela compra. Em resumo, os super cargueiros da discórdia estão sendo colocadas à venda. Ou para alugar.
“Como o objetivo da empresa não é ser operadora ou armadora, a Vale está aberta a avaliar a possibilidade de venda ou arrendamento dos VLOCs (iniciais em inglês de very large ore carriers)”, inicia a nota oficial, sublinhando, logo à primeira expressão, que a visão da empresa do atual presidente Murilo Ferreira é em tudo diversa da do ex Agnelli.

Para comprar os super cargueiros com capacidade para carregar até 400 mil toneladas de minério de ferro cada um, a Vale desencaixou US$ 2,34 bilhões. Na China, a mineradora encomendou 12 embarcações, por US$ 1,6 bilhão. Depois, determinou que outros sete fossem construídos, ao custo de US$ 748 milhões. O primeiro desses barcos, feito na Coreia do Sul, aportou no Brasil em maio deste ano. A embarcação foi apresentada como o maior navio de minério de ferro do mundo. A informação sobre a decisão da Vale de vender ou fretar os navios de minério foi dada ontem por um executivo da Vale à agência Reuters, em Cingapura. Hoje, por meio da nota, veio a confirmação. “'O que a Vale está disposta a discutir é a propriedade dos navios”, afirma o documento. Além de ter comprado 19 navios na Ásia, a Vale também fez contratos de longo prazo para utilizar 16 embarcações que estão sendo construídas por armadores fora do Brasil. Passa a não ser surpresa se também essas encomendas vierem a ter um destino diferente do imaginado por Agnelli. Desde que deixou a companhia, em abril deste ano, ele ainda não se recolou no mercado.

"A CIA se converteu em uma organização paramilitar", diz Moniz Bandeira!

 




"A CIA se converteu em uma organização paramilitar", diz Moniz Bandeira Em entrevista à Carta Maior, o historiador e cientista político Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira aponta a ação clandestina de forças especiais dos Estados Unidos, Inglaterra e França nos conflitos da Líbia e Síria e critica a política externa do governo Barack Obama que usa os direitos humanos para justificar intervenções em qualquer parte do mundo. "A CIA mais e mais se torna uma força paramilitar, deixando de ser uma agência de espionagem e coleta de inteligência. Os drones, aviões sem pilotos, teleguiados pela CIA, já mataram, desde 2001, mais de 2.000 supostos militantes e civis em vários países", afirma Moniz Bandeira.
Leia a seguir a entrevista concedida por email pelo professor Moniz Bandeira à Carta Maior, desde a Alemanha. Nela, entre outras coisas, ele defende que "a questão dos direitos humanos e defesa das populações civis virou uma panacéia que serve para que os Estados Unidos, França e Grã-Bretanha violarem os direitos humanos, com rigorosos embargos comerciais, e massacrar populações civis, como o fizeram na Líbia". Além disso, sustenta, o presidente Obama pretende continuar, por outros meios, a política do presidente George W. Bush, mudando o conceito da OTAN e contrariando o próprio tratado que a criou, ao dar-lhe capacidade de polícia global.

Carta Maior: Qual sua avaliação sobre a participação das grandes potências ocidentais, especialmente, Estados Unidos, Inglaterra e França nos conflitos da Líbia e da Síria. Há uma mesma lógica atuando nos dois casos?

Moniz BandeiraNão se trata de teoria conspiratória. Mas parece que uma há lógica na sucessão de levantes, que começaram na Tunísia, em dezembro de 2010, depois, simultaneamente, se estenderam ao Egito e à Síria, em 25/26 de janeiro de 20011, e à Líbia, em 17 de fevereiro. As condições econômicas, sociais e políticas estavam maduras. Em todos esses países, há enorme taxa de desemprego, afetando grande parte da juventude, extrema pobreza, inflação, alta dos preços dos alimentos e o ressentimento político provocado pela repressão das ditaduras.

Está provado, porém, que militares das forças especiais dos Estados Unidos, Inglaterra e França, vestidos como árabes, os false-flaggers, i. e., um “illegal team”, com identidade de outros países, de modo que não sejam identificados como ingleses, americanos ou franceses, estão abertamente na Líbia e não se pode descartar a possibilidade de que agentes da CIA e do M16 estejam também na Síria. É muito pouco provável que as manifestações de protestos, iniciadas em 26 de janeiro, ainda continuem e enfrentem, diariamente, dura repressão, oito meses depois, sem que recebem encorajamento e algum da Santa Aliança – Estados Unidos, Inglaterra e França.

O WikiLeak há poucos meses revelou um despacho secreto, da Embaixada dos Estados Unidos em Damasco, sobre “Next Steps For A Human Rights Strategy”, informando que, de 2005 até setembro de 2010, os Estados Unidos, com os recursos do Middle East Partnership Initiative (MEPI), tinham destinado secretamente aos grupos da oposição, na Síria, um montante de US$ 12 milhões, bem como financiado a instalação de um canal de TV via satélite, transmitindo para dentro do país programas contra o regime de Bashar al-Assad.

Carta Maior - Além desse encorajamento estrangeiro, que outros fatores estariam contribuindo para alimentar os protestos na Síria?

Moniz Bandeira - Há fortes fatores religiosos. A maioria da população, na Síria, é salafista, uma das correntes fundamentalistas do Islã, que pretende restabelecer os primitivos princípios religiosos do Corão. É similar ao wahhabismo, doutrina defendida por Muhammad ibn Abd-al-Wahhab e prevalecente, na Arábia Saudita. Bashar al-Assad, porém, é um alauita, outro segmento do Islã, que dissimula sua doutrina com a taqiyya, uma prática xiita, seita islâmica dominante no Irã e da qual mais se aproxima. Os alauitas constituem apenas 10% da população da Siria, mas dominam e controlam todo o aparelho do Estado há várias décadas, pelo menos desde os anos 1970, quando Hafez al-Assad, do Partido Ba’ath, assumiu a presidência da Síria.

O Partido Ba’ath, fundado em Damasco, em 1946, mesclava ideais igualitários, socializantes, interesses nacionalistas e objetivos pan-árabes, contrários à política imperialista das potências ocidentais. Alguns dos seus ramos surgiram em outros países do Oriente Médio, como o Iraque, onde deteve o poder até a queda de Sadam Hussein, em 2003.

Carta Maior - A Síria tem pouco petróleo. Qual ou quais os interesses dos Estados Unidos, França e Inglaterra na derrubada do regime de Bashar al-Assad?

Moniz Bandeira – Esses países têm interesses estratégicos, como, e.g., assumir o controle de todo o Mediterrâneo e isolar politicamente o Irã, que está aliado à Síria, bem como restringir a influência de Rússia e China no Oriente Médio. A Rússia, desde 1971, opera o porto de Tartus, na Síria, e projeta reformá-lo e ampliá-lo, como base naval, em 2012, de modo que possa receber grandes navios de guerra, garantindo assim sua presença no Mediterrâneo. Consta que a Rússia também planejava instalar bases navais na Líbia e no Yemen. E, conforme se pode deduzir do telegrama da Embaixada dos EUA em Damasco, publicado pelo WikiLeaks, tudo indica que o financiamento da oposição, na Síria, desde, pelo menos, 2005, visou à derrubada do regime de Bashar al-Assad, de modo a impedir o aprofundamento, no âmbito naval, de suas relações com a Rússia.

Daí que dificilmente os Estados Unidos conseguirão estender à Síria a mesma estratégia que desenvolveu na Líbia, juntamente com a Grã-Bretanha e a França. A Rússia, ainda percebida pelos Estados Unidos como seu grande rival, e a China opõem-se até mesmo às sanções contra o regime de Bashar al-Assad.

Carta Maior - Neste contexto, como pode ser entendida a doutrina do presidente Barack Obama no que se refere à política externa dos EUA?

Moniz Bandeira – Em discurso pronunciado na George Washington University, em 28 de março de 2011, o presidente Obama declarou que, mesmo não estando a segurança dos americanos diretamente ameaçada, a ação militar pode ser justificada – no caso de genocídio, por exemplo – os Estados Unidos podem intervir, mas não atuarão isoladamente. Sua doutrina ele ainda delineou, claramente, em discurso pronunciou, no Parlamento britânico, durante a visita de Estado que fez ao Reino Unido, entre 24 e 16 de maio de 2011. O presidente Obama disse que “we do these things because we believe not simply in the rights of nations; we believe in the rights of citizens”. E mais adiante declarou que carece de peso o argumento segundo o qual “a nation’s sovereignty is more important than the slaughter of civilians within its borders” e reafirmou que “nós” pensamos de modo diferente, aceitamos uma responsabilidade maior , i. e. que comunidade Internacional deve atuar quando um líder está ameaçando massacrar seu povo.

Tais palavras significam que os Estados Unidos, juntamente com a Grã-Bretanha e França, não mais respeitarão as normas do Direito Internacional, estabelecidas desde o Tratado de Westphalia, com base nos princípios de soberania do Estado nação, e poderão intervir em qualquer país, a pretexto de razões humanitárias ou de defesa da população civil, mas para defender seus interesses econômicos e estratégicos. Assim os chefes de governo dos Estados Unidos, Grã-Bretanha e França, se quiserem, podem alegar defesa da população indígenas ou do meio ambiente e invadir a Amazônia.

A questão dos direitos humanos e defesa das populações civis virou uma panacéia que serve para que os Estados Unidos, França e Grã-Bretanha violarem os direitos humanos, com rigorosos embargos comerciais, e massacrar populações civis, como o fizeram na Líbia. Também o que pretende o presidente Obama, a continuar, por outros meios, à política do presidente George W. Bush, é mudar o conceito da OTAN, contrariando o próprio tratado que a criou, e dar-lhe capacidade de polícia global (global cop) para enfrentar as “novas ameaças”, como "terrorism and piracy, cyber attacks and ballistic missiles”.

Isto significa que a OTAN deixará de ser uma organização de defesa da Europa Ocidental, objetivo de sua criação no tempo da Guerra Fria, e tornar-se-à um instrumento de agressão, pronta para intervir em todos os continentes, com ou sem autorização da ONU. As sanções contra a Síria são iguais às que foram aplicadas contra a Líbia, logo no início da rebelião. É a primeira forma de intervir num conflito interno em qualquer outro país, onde o governo, que não convém à Santa Aliança, reprima as manifestações para derrubá-lo. Mas evidentemente que as manifestações populares contra as ditaduras na Arábia Saudita, Bahrein e Jordânia, clientes dos Estados Unidos, não podem esperar qualquer ajuda.

Carta Maior - Qual seria mais especificamente essa estratégia dos Estados Unidos no Oriente Médio e norte da África e quais as forças especiais estariam atuando na Líbia e, provavelmente, na Síria?

Moniz Bandeira - A estratégia atual dos Estados Unidos, implementada pelo presidente Obama, que bem mereceu o Prêmio Nobel da Paz, é ampliar o uso de drones, aviões armados e manejados eletronicamente pela CIA, para matar supostos terroristas, militantes da al-Qa’ida e Talibans, bem como centenas de civis desarmados atingindo-os, como o faz, na Líbia, Afeganistão, Paquistão e Yemen. Essa é a nova tarefa da CIA, que mais e mais se torna uma força paramilitar, deixando de ser uma agência de espionagem e coleta de inteligência. Os drones (General Atomics MQ-1 Predator) esses aviões sem pilotos, teleguiados pela CIA, já mataram, desde 2001, mais de 2.000 supostos militantes e civis, e o Centro Contra-Terrorismo (CTC) dispõe atualmente de cerca de 2.000 empregados que trabalham na localização dos alvos e atacá-los.

O presidente Obama incrementou essas operações, sem arriscar a vida de soldados, bem como o emprego de uma outra organização militar, que matou e interrogou mais supostos terroristas e Talibans do que a CIA, desde 2001. Trata-se do Joint Special Operations Command (JSOC), à qual está subordinada a U.S. Navy SEAL’s (Sea, Air and Land Teams), integrante do Comando de Operações Especiais (USSOCOM), unidade encarregada de operações terrestres e marítimas, guerra não-convencional, resgate, terrorismo e contra-terrorismo etc.. Um comando do SEAL’s foi que recebeu a missão de assassinar Osama Bin Laden, no Paquistão, em 2 de maio de 2011. Essa é tarefa da qual o Joint Special Operations Command (JSOC) está incumbida, executando o programa desenvolvido pelo general David Petraeus, atual diretor da CIA, quando comandava as tropas americanas no Afeganistão .

O programa consiste em “kill/capture”, i. e. matar/capturar, em qualquer região do mundo, terroristas e Talibans, constantes de uma Joint Prioritized Effects List (JPEL), que inclui até americanos, com fundamento em premissa legal ou extra-legal, conforme diretriz classificada do presidente Obama. O tenente-coronel John Nagl, assessor de contra-insurgência do general David Patraeus no Afeganistão, considerou o JSOC uma maquina de matar contra o terrorismo em uma escala quase industrial ("an almost industrial-scale counterterrorism killing machine"). Trata-se, na realidade, de um comando de esquadrões da morte do Pentágono.

Comandos do SEAL’s atuaram na Líbia, assim como da Direction générale de la sécurité extérieure (DGSE), da Brigade des forces spéciales terre (BFST), subordinada ao Commandement des opérations spéciales (COS), M16 (Inteligence Service) e Special Air Service SAS (Special Air Service) como se fossem árabes, os chamados “rebeldes” não teriam avançado muito além de Benghazi. No dia 20 de agosto, dia em que acabou o jejum do Ramandan, um navio da OTAN desembarcou no litoral da Líbia com armamentos pesados, antigos jihadistas e tropas especiais do JSOC, dos Estados Unidos, BFST, da França, e SAS, do Reino Unido, sob o comando de oficiais da OTAN, que procederam à conquista de Trípoli.

O balanço da Operation Odyssey Dawn, após 100 de bombardeios da OTAN, é trágico: 6.121 civis mortos e feridos. De acordo com as estatísticas 3.093 homens foram mortos ou feridos; 260 mulheres mortas e 1.318 feridas; 141 crianças mortas e 641 feridas. A OTAN, por sua vez, informa que nos primeiros 90 dias executou um total de 13.184 saídas, entre as quais 4.963 ataques, danificando ou destruindo mais de 2.500 alvos militares, entre os 460 instalações militares, 300 sistemas de radar depósitos, além de aproximadamente 170 locais de controle e comando, e cerca de 450 tanques. O informe não se refere aos escombros que os bombardeios deixaram nem às milhares de vítimas civis, mortos, feridos, desabrigados e refugiados.

Esse foi o resultado da Resolução 1.973, do Conselho de Segurança Nacional, autorizando a Santa Aliança (Estados Unidos, Inglaterra e França) a proteger os civis na Líbia e que ela aproveitou para legitimar o direito de intervenção humanitária, para defender seus próprios interesses econômicos, geopolíticos e estratégicos no Mediterrâneo. Este é modo americano de fazer guerra (American Way of War), adotado pelo presidente Obama. Mas os objetivos são os mesmos do presidente George W. Bush, atendendo aos interesses do complexo industrial-militar. Sem agir unilateralmente, ele deseja realizá-los, transformando por meio da OTAN, de forma a repartir os custos com seus membros, principalmente Inglaterra, França e Alemanha, a fim de evitar que a guerra seja percebida como entre os Estados Unidos e a Líbia ou outro qualquer país.

Carta Maior - Qual deve ser o futuro da Líbia? O senhor acredita que Kadafi possa resistir e permanecer como um agente político influente no conflito?

Moniz Bandeira – É difícil predizer. A Líbia é um é um país ainda divido em tribos e a lealdade é essencial entre seus membros. De qualquer modo, vivo ou morto, o espectro de Kadafi, como comandante ou mito, estará por trás da resistência, que mais dias menos dias começará a ocorrer, porque as tribos não aceitarão a presença de tropas estrangeiras no seu território. Porém, uma das conseqüências da “intervenção humanitária” na Líbia será provavelmente a proliferação das armas nucleares. Como muito bem observou Leonam dos Santos Guimarães, especialista em energia nuclear e assistente da presidência da Eletrobrás – Eletronuclear, a queda do regime de Kadafi faz supor que a aquisição de armas nucleares se tornará atraente para países que se sentem ameaçados pelo Ocidente.
Kadafi, em dezembro de 2003, concordou em abandonar seu programa de armas nucleares, com base em importações clandestinas de urânio natural, centrífugas e equipamentos de conversão, bem como a construção de instalações em escala piloto. Se ele tivesse avançado no seu programa de armas nucleares, a campanha de bombardeios da OTAN teria ocorrido? – perguntou Leonam dos Santos Guimarães. A resposta seria certamente não. O direito internacional só é respeitado quando certo equilíbrio de poder e as nações ameaçadas têm possibilidade de retaliar. Daí que é quase impossível impedir que o Irã desenvolva suas armas nucleares, não para atacar Israel, mas para defender-se da Santa Aliança ocidental.

Carta Maior - No caso da Síria, qual sua avaliação sobre a posição de outras nações árabes e de Israel frente esse conflito?

Moniz Bandeira – Não há informações sobre o envolvimento de outras nações árabes nem de Israel na Síria, onde ainda não há propriamente uma guerra civil, mas uma onda de protestos. Todos estão a observar o desdobramento da crise. A Síria é também um país divido em muitas tribos e o governo conta com o respaldo do Irã, que provavelmente lhe fornece ou pode fornecer armamentos. São muito estreitas suas conexões com o Hizbollah, uma força política e paramilitar xiita, com sede no Líbano. Consta que o Hizbollah dispõe de 30.000 a 40.000 mísseis, apontadas para Israel e difícil de localizar, porque estão instalados em casas de família. Essa é uma das razões – e há outras – pelas quais nem os outros países árabes nem Israel querem envolvimento nos protestos que ocorrem na Síria.

Carta Maior - Os tambores da guerra estão soando em Israel, diante da perspectiva do reconhecimento do Estado palestino na ONU, em setembro. Há, na sua avaliação, possibilidade de uma generalização de conflitos no Oriente Médio?

Moniz Bandeira - Está previsto que Mahmoud Ridha Abbas (Abu Mazen), como presidente da Autoridade Palestina, pronunciará um discurso, na 66ª Assembléia Geral da ONU, a realizar-se entre 21 e 27 de setembro, no qual solicitará o reconhecimento do Estado palestino. A admissão de um novo membro requer o apoio de 2/3 dos Estados presentes na Assembléia Geral. Se obtiver esse quorum a Autoridade Palestina, como Estado, será admitida apenas como na condição de observador, pois o reconhecimento como membro pleno depende de aprovação do Conselho de Segurança da ONU e, por conseguinte, do voto dos Estados Unidos.

Há uma enorme expectativa em Israel, com respeito à posição que os Estados Unidos tomarão na Assembléia Geral, posto que, no dia 5 de setembro, vazou para a imprensa a informação de que o ex-secretário de Defesa do presidente Barack Obama, Robert Gates, antes de aposentar-se este ano, criticou duramente o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanjahu, em reunião do National Security Council Principals Committee dos Estados Unidos. Gates chamou Israel de “an ungrateful ally” (aliado ingrato) e disse que a política de Netanyahu põe seu país em perigo, recusando-se a negociar, em meio a um crescente isolamento e o desafio demográfico, se mantém o controle da Faixa de Gaza. Presume-se que a notícia vazou, com o beneplácito de Obama, como advertência a Netanyahu.

O que se teme, em Tel Aviv, é que milhões de palestinos, exilados nos demais países árabes, marchem para as fronteiras de Israel e avancem sobre seu território, se a Assembléia Geral da ONU reconhecer o Estado palestino, ainda que como observador. Os palestinos exilados não dispõem de outra nacionalidade porque, nos anos 1950, a Liga Árabe decidiu não concedê-la, a fim de manter na agenda a necessidade de criar o Estado palestino.
Link:
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=18413

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"A CIA se converteu em uma organização paramilitar", diz Moniz Bandeira!
 
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O governo dos EUA e o Golpe de 64 no Brasil

Entrevista exclusiva: Zé Dirceu diz que vai à OEA e SIP contra Veja

 



Renato Rovai entrevistou o ex-ministro José Dirceu por telefone. Ele disse que está aguardando a investigação policial para processar a Veja, mas que vai, inclusive, à OEA e à SIP contra a revista. Dirceu cogita várias hipóteses para a tentativa de invasão do seu apartamento no Hotel Naoum, até a de terem tentado colocar uma escuta no seu quarto.
 
Também afirma que não recebeu solidariedade de nenhum diretor de grande veículo da imprensa nacional no episódio: “Eles querem me ver morto ou preso.”
 
Ministro, o senhor acha que a revista Veja só soltou esta matéria de capa no último final de semana em decorrência de o hotel ter registrado o boletim de ocorrência pela tentativa de invasão do seu quarto, já que as fotos que eles utilizam são de junho?
 
Não. Acho que eles iriam soltar a matéria de qualquer jeito. O que estavam discutindo é se faziam capa ou não. Quando fizemos o Boletim de Ocorrência, resolveram fazer capa. A matéria eles iriam fazer. Na verdade, o que precisamos avaliar é por que eles fizeram essa matéria. Se foi por causa do julgamento no Supremo ou se é uma tentativa de criar algo novo contra o governo. Porque se você analisar eles fracassaram na questão da separação da Dilma, de dividir a base dela, entendeu? De tirar o PMDB e o PR da base. E para piorar, para eles, o PV acabou decidindo apoiar a Dilma. Além de o Fernando Henrique e o Aécio terem feito este gesto de estender a mão, sem entrar no mérito da divisão do PSDB, com o Álvaro Dias e o Serra se posicionando contra.

O resultado final disso tudo é que a estratégia de rachar a base do governo não deu certo. E eles voltam para a estratégia deles.
 
Não sei se você se recorda, mas em setembro, quando fui à Bahia, fizeram toda aquela campanha de que eu estaria em uma linha de confrontar a Dilma. Agora voltam para isso.
Na verdade essa é a segunda hipótese. A primeira é que eles produziram esta matéria para tentar influenciar o julgamento no Supremo Tribunal Federal. Mas a coisa vai se complicar, porque tudo indica que eles plantaram uma câmera lá no hotel. É quase certeza isso.
 
O senhor esta falando da câmera no corredor?
 
Exato, que não é a câmera do hotel. A situação vai começar a complicar, porque vai se descobrir quem plantou a câmera lá. Brasília é muito pequena e eu estou sentindo empenho por parte da policia.
 
O senhor vai processar a Veja?
 
Isso eu tenho que fazer na hora que tiver a informação de que a câmera foi plantada e souber quem fez isso. Muita gente considera isso gravíssimo. A Veja não está tendo defensores neste episódio. A mídia não critica, mas também não a defende. A Folha, o Globo, o Estadão, por exemplo, não deram matéria, mas também não defenderam a Veja. Se nós conseguirmos provar que foi uma câmera plantada e viermos a descobrir o nome da pessoa que fez isso, daí eu já tenho dois dos melhores criminalistas do Brasil que vão trabalhar numa ação contra eles. Mas, só posso fazer a coisa na hora certa, porque se não eles vão transformar em censura e essas coisas todas. Já começaram a desviar o foco com a história da discussão da regulação da mídia no Congresso do PT. Todo encontro do PT aprova isso. E eu nunca liguei o assunto da Veja a regulação, porque o assunto da Veja é caso de policia, de delegacia. Não é uma questão política, o que a Veja fez é crime. Eles têm que ser processados por crime, não é porque falaram isso ou aquilo de mim. Isso é outra discussão. Se eu estou tendo influência no governo, se eu estou fazendo advocacia administrativa, em relação a esses assuntos ela pode falar o que ela quiser. E eu respondo. Mas o caso é outro… caso de polícia.
 
Não consigo entender por que eles guardaram essas imagens desde junho, o senhor tem alguma hipótese em relação a isso?
 
É mais provável que eles só vieram a receber essa fita agora. Alguém pode ter vendido essa fita para eles, porque necessariamente eles não têm de estar na origem da fita. Mas isso é tudo hipótese. Outra hipótese é que eles estavam tentando me grampear, porque o jornalista pode ter tentando entrar no meu apartamento para várias coisas. Pode ter tentado entrar para colocar droga, dinheiro ou ainda para colocar uma escuta. Hoje existem escutas muito sofisticadas.
 
Ou seja, para mover uma ação o senhor vai esperar a investigação policial avançar?
 
Temos que fazer uma ação muito bem feita, porque em geral a justiça é sempre pró-mídia, né?
Mas digamos que o caso Murdoch cria um novo tipo de jurisprudência…
 
Claro, a situação hoje em dia é melhor. Por isso estou pensando em ir aos Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos) e fazer uma provocação a eles. E ao mesmo tempo fazer uma representação contra a Veja na SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa). Fazer o que eles fazem com a Venezuela e com Cuba. Aí é mais provocação, porque a gente conhece a SIP, né? (Se o leitor não conhece, vale a pena ler este texto do Altamiro Borges).
 
Ou seja, o senhor vai fazer uma ação política de cunho mais internacional?
 
Isso, pretendo fazer isso. Eu não vou deixar barato, não. Vou confrontar… vou enfrentar a Veja.
 
Por fim, o senhor teve alguma solidariedade de diretores de redação ou de proprietários de veículos comerciais tradicionais?
 
Não. Eles querem me ver morto ou preso.
 
PS: Na entrevista José Dirceu disse que apenas Reinaldo Azevedo, Lucia Hipólito e Augusto Nunes defenderam a revista Veja. E acrescentou: mas eles… Não sei porque cargas d´água eu saltei esse trecho na hora da transcrição. Publicado no Blog do Rovai
 

Soninha na SUTACO: “aparelhamento”?



Soninha faz pose para a revista "Mymag"; e a SUTACO?
por Rodrigo Vianna

Acho certa graça quando tucanos falam em “aparelhamento” do Estado.

Primeiro, porque o povão não entende direito. O eleitor tende a achar que aparelhamento é bom. O administrador está “aparelhando”, ou seja, colocando aparelho novo pra funcionar. Aparelho de música? Computador na escola? Ou, como diz um amigo jornalista, aparelho novo pro locutor da SUDERJ anunciar gol no Maracanã?

Segundo, porque o tal “aparelhamento” (uso da máquina para alojar aliados e companheiros de partido) é prática comum nos governos demotucanos. As estatais paulistas serviram de cabide pra gente que nem em São Paulo vivia. Leia mais aqui. Não houve escândalo por causa disso. Ninguém pediu “faxina” nas estatais paulistas.

Agora, leio matéria no site da “Folha”, por indicação do leitor Marcelo de Mattos. O assunto: Soninha (PPS) posou (de novo?) para uma revista, fazendo tipo de moça marota. E deixou no ar a história de que ela e Serra teriam tido um relacionamento íntimo. Isso pouco me interessa. O importante mesmo é a informação que vem no pé da matéria da ”Folha”:

“Atualmente, a ex-vereadora [Soninha] é superintendente da Sutaco (Superintendência do Trabalho Artesanal nas Comunidades), uma autarquia de artesanato no governo de São Paulo. Soninha, que foi coordenadora da campanha virtual do tucano José Serra nas eleições presidenciais, recebeu o convite de Davi Zaia (PPS), secretário do Emprego e Relações de Trabalho. Presente na cerimônia de posse, Zaia assumiu a secretaria para preencher a cota do PPS na gestão Geraldo Alckmin (PSDB).”
A Soninha é especialista em artesanato? Uma carreira brilhante no serrismo: da MTV para a SUTACO!

Se fosse num governo do PT, seria “aparelhamento” do Estado. Mas como é governo tucano, fica tudo por isso mesmo.

A SUTACO está aí pra isso mesmo!!!
Viva a SUTACO!!!

Pepe Escobar – “Líbia: A verdadeira guerra começa agora”



6/9/2011, Pepe Escobar, Asia Times Online
Traduzido pelo coletivo da Vila Vudu

Chega de falar da derrubada do Grande Gaddafi. Agora, chegamos aos finalmentes: será Afeganistão 2.0, Iraque 2.0, ou uma mistura dos dois.

Os “rebeldes da OTAN” sempre garantiram que não querem ocupação estrangeira. Mas a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) – sem a qual não haveria vitória dos “rebeldes” – não pode governar a Líbia sem coturnos em solo. Assim sendo, examinam-se hoje vários cenários virtuais no quartel-general da OTAN em Mons, Bélgica – a OTAN protegida sob o estofamento de veludo da ONU.

Segundo planos já vazados, mais cedo ou mais tarde podem aparecer por lá soldados das monarquias do Golfo Persa e aliados amigáveis, como a Jordânia e, especialmente, como a Turquia, que é membro da OTAN e interessada em embolsar vastos contratos comerciais. Dificilmente alguma nação africana fará parte do grupo – dado que a Líbia foi “relocalizada” e, agora, é parte das Arábias.

O Conselho Nacional de Transição aceitará – ou será forçado a aceitar – se, ou quando, a Líbia entrar em espiral de total caos. Mesmo assim não será produto fácil de vender internamente – com as furiosamente disparatadas facções dos ‘rebeldes da OTAN’ já empenhados freneticamente em consolidar seus respectivos feudos e prontas para saltarem, umas nos pescoços das outras.

Não se vê nem sinal, até aqui, de que o Conselho Nacional de Transição tenha qualquer ideia sobre o que fazer para administrar a complexa paisagem política dentro da Líbia, além das repetidas genuflexões ante o altar das nações membros da OTAN.

Guns e nada de roses

Na Líbia, praticamente toda a população está hoje armada até os dentes. A economia está paralisada. E já está em campo a mais feroz briga de gatos-do-mato pelo controle dos bilhões de dólares congelados dos líbios.

A tribo Obeidi está furiosa com o Conselho Nacional de Transição, porque não há nem sinal de investigação para saber quem matou o comandante militar do exército “rebelde” Abdul Fattah Younis dia 29 de julho. Já ameaçaram fazer justiça pelas próprias mãos.

Os principais suspeitos do assassinato são os homens da Brigada Abu Ubaidah bin Jarrah – uma milícia islâmica fundamentalista linha duríssima que rejeitou a intervenção da OTAN, recusou-se a combater sob comando do Conselho Nacional de Transição e declarou “infiéis” o Conselho e a OTAN.

Há também a pergunta que tantos tentam afogar em petróleo: quando o ramo da al-Qaeda na Líbia, a nuvem de guerrilha islâmica conhecida como Grupo Islâmico de Combate na Líbia [ing. Lybia Islamic Fighting Group (LIFG)], organizará seu próprio golpe para derrubar o Conselho Nacional de Transição?

Por toda Trípoli veem-se os ecos gráficos do inferno das milícias armadas que se viu no Iraque. O general Abdelhakim Belhaj - que trabalhou para a CIA-EUA e foi prisioneiro da “guerra ao terror” – original do círculo de Derna, o marco zero do fundamentalismo islâmico na Líbia – é o líder do novíssimo Conselho Militar de Trípoli.

Já houve acusações, feitas por outras milícias, de que Belhaj não combateu na “libertação” de Trípoli e, portanto, tem de deixar o posto – verdade ou mentira, é o que o Conselho anda dizendo. Isso significa que, mais dia menos dia, a nuvem indefinida conhecida como LIFG-al-Qaeda estará empenhada num dos lados da guerra de guerrilhas que virá – contra o Conselho Nacional de Transição, contra outras milícias ou contra todos.

Em Trípoli, rebeldes de Zintan, nas montanhas do oeste do país, controlam o aeroporto. O banco central, o porto de Trípoli e o gabinete do primeiro-ministro são controlados por rebeldes de Misrata. Berberes da cidade de montanha de Yafran controlam a praça central de Trípoli, coberta com dísticos de “Revolucionários de Yafran”, escritos com spray. Todos demarcam claramente os respectivos territórios, como aviso.

Como o Conselho Nacional de Transição, como unidade política, já está se comportando como pato manco; como as milícias não sumirão no ar – não é preciso muita imaginação pra prever que a Líbia será um novo Líbano. No Líbano, a guerra começou quando toda a cidade dividiu-se, cada subúrbio de um grupo: ou sunitas, ou xiitas, ou cristãos maronitas, ou nasseristas ou druzos.

Além do mais, a libanização da Líbia também inclui a mortal tentação muçulmana – que se espalha como vírus por toda a Primavera Árabe.

Pelo menos 600 salafistas que combateram na resistência sunita iraquiana contra os EUA foram libertados pelos “rebeldes” e deixaram a prisão de Abu Salim. É fácil prever que tirarão o máximo proveito possível das muitas Kalashnikovs e dos lança-granadas Sam-7, soviéticos, de ombro, para combate antiaéreo, aproveitando-os para reequipar sua milícia islâmica ultra linha-dura – sem se afastar de sua própria agenda e de sua própria guerra de guerrilhas.

Bem-vindos à nossa “democracia” racista

A União Africana (US) não reconhecerá o Conselho Nacional de Transição. Está acusando os “rebeldes” da OTAN de matar indiscriminadamente negros africanos, metidos todos num mesmo saco, identificados como “mercenários”.

Segundo Jean Ping, da União Africana, “o Conselho Nacional de Transição parece confundir pessoas de pele negra e mercenários (...) [Dão a impressão de que, para eles] todos os negros são mercenários. Um 1/3 da população líbia é negra. Para o Conselho Nacional de Transição, são todos mercenários”.

O pequeno porto de Sayad, 25 km a oeste de Trípoli, foi convertido em campo de refugiados para africanos negros apavorados com a nova “Líbia livre”. A organização Médicos sem Fronteira descobriu o campo dia 27 de agosto. Os refugiados dizem que, desde fevereiro, começaram a ser expulsos pelos donos das empresas e lojas onde trabalhavam, sempre acusados de serem mercenários – e, desde então, têm sido sistematicamente perseguidos.

Segundo a mitologia “rebelde”, o regime de Muammar Gaddafi seria protegido essencialmente por murtazaka (“mercenários”). A verdade é que Gaddafi empregou apenas um contingente de combatentes africanos negros – do Chad e do Sudão e tuaregues do Niger e do Mali. A maioria dos africanos negros subsaharianos que vivem na Líbia são trabalhadores migrantes, com empregos legais.

Para ver em que direção está andando essa coisa toda, é preciso olhar para o deserto. O imenso deserto líbio não foi conquistado pela OTAN. O Conselho Nacional de Transição praticamente não tem acesso a nenhuma gota d’água líbia e não chega a parte considerável do petróleo.

Gaddafi tem a chance de “trabalhar o deserto”, de negociar com várias tribos, de comprar e firmar a solidariedades delas e de organizar uma guerra de guerrilha de longo prazo.

A Argélia está envolvida em luta terrível contra a Al-Qaeda-no-Maghreb. Os 1.000 km da longa, porosa fronteira entre Argélia e Líbia continua aberta. Gaddafi pode facilmente plantar seus guerrilheiros no deserto do sul, com paraíso seguro na Argélia – ou até no Niger. Essa possibilidade já pôs o Conselho Nacional de Transição em estado de terror e pânico.

A operação “humanitária” da OTAN já despejou no mínimo 30 mil bombas sobre a Líbia, nos últimos poucos meses. Pode-se dizer com segurança que muitos milhares de líbios foram mortos nos bombardeios. O bombardeio não pára nunca: mais um pouco, os únicos alvos da OTAN serão os mesmos – civis e não civis – que, em teoria, há alguns dias, a OTAN estaria “protegendo”.

Um Grande Gaddafi derrotado pode vir a revelar-se muito mais perigoso que um Grande Gaddafi no poder. A verdadeira guerra está começando agora. Será infinitamente mais dramática – e será trágica. Porque agora será uma guerra norte-africana darwiniana, guerra de todos contra todos, na qual só o mais forte sobreviverá. 

Robert Fisk: 11/9 - Mentimos a nós mesmos há dez anos - Fugindo da principal pergunta



3/9/2011, Robert FiskThe Independent, UK
Traduzido e comentado pelo pessoal da Vila Vudu

Pelos livros deles, se pode conhecê-los.




Falo dos volumes, das bibliotecas – não, dos hectares e hectares de páginas impressas – que os crimes internacionais contra a humanidade cometidos dia 11/9/2001 geraram. Muitos não passam de pseudo patriotismo e autocomiseração; outros repetem incansavelmente a mitologia sem esperança das culpas de CIA/Mossad; uns poucos (infelizmente brotados no mundo muçulmano) referem-se aos assassinos como “os rapazes”; praticamente todos fugindo da pergunta que qualquer investigador policial sabe que é a primeira e a principal, para desvendar qualquer crime de rua: o motivo.

Por que, eu me pergunto, depois de 10 anos de guerra, centenas de milhares de inocentes mortos, tanta mentira e hipocrisia e traição e tortura sádica em prisões controladas pelos EUA – e os britânicos do MI5 ouvidos, bem entendido, e sem conversa fiada e patriotadas – e pelos Talibã? Teremos conseguido silenciar nós mesmos, assim como silenciamos o mundo, com nossos medos? Será que ainda não somos capazes de pronunciar três frases curtas: “Os 19 assassinos do 11/9 declararam-se muçulmanos. Vieram de uma parte do mundo chamada Oriente Médio. Logo, é aí que está o problema”?

Os editores norte-americanos foram à guerra, antes de todos, em 2001, com massivos volumes de foto-lembranças. Os títulos falam por eles mesmos: Above Hallowed Ground[Acima da terra santificada], So Others Might Live [Para que outros possam viver], Strong of Heart [Fortes de coração], What We Saw [O que vimos], The Final Frontier [A última fronteira], A Fury for God [Fúria de Deus], The Shadow of Swords [A sombra das espadas]... Ao ver pilhas disso em todas as prateleiras dos EUA, quem duvidaria que os EUA iriam à guerra? E muito antes da invasão do Iraque em 2003, outra pilha de tomos apareceu para justificar a guerra, procurando guerra. No mais importante deles de autoria de um ex-espião da CIA, Kenneth Pollack, The Threatening Storm [Tempestade ameaçadora] – e não é que todos nos lembramos de The Gathering Storm [Arma-se a tempestade], de Churchill [1]? – Pollack comparava a próxima batalha contra Saddam com a crise que Grã-Bretanha e França enfrentaram em 1938, claro.

Nesse livro de Pollack, há dois temas – “um dos principais especialistas mundiais em Iraque” como muitos informavam aos leitores (Fareed Zakaria garantia que o livro de Pollack seria “um dos mais importantes livros sobre política exterior dos EUA, em anos”) – o primeiro dos quais inventário detalhado das armas de destruição em massa que Saddam guardava em seus arsenais; não existiam, como se sabe. O segundo tema era a importância de conseguir romper de vez “a ligação” entre “a questão iraquiana e o conflito entre árabes e israelenses”.

Os palestinos, privados do apoio do poderoso Iraque, prosseguia a narrativa, estariam ainda mais enfraquecidos na luta contra a ocupação israelense. Pollack falava da “viciosa campanha terrorista” movida pelos palestinos – mas nem uma linha de crítica a Israel. Falou de “atentados terroristas semanais, seguidos por reação de Israel” (sic), a versão israelense padrão de todos os eventos. O viés dos EUA favorável a Israel nunca foi mais que “fantasia” dos árabes. Bem, pelo menos o ilustríssimo Pollack disse, embora de modo distorcido, que o conflito Israel-Palestina teve algo a ver com o 11/9, embora também culpasse Saddam que, esse, nada jamais teve a ver com a explosão das torres gêmeas.

Depois, claro, vivemos sob um dilúvio da rica literatura do trauma pós 11/9, do eloquente O Vulto das Torres (2007, São Paulo: Companhia das Letras) de Lawrence Wright, a Scholars for 9/11 Truth [Intelectuais pela verdade do 11/9], cujos apoiadores disseram que o avião que todos viram espatifado à frente do Pentágono foi jogado ali por um C-130; que os jatos que atingiram o World Trade Center eram teleguiados; que o voo United 93 foi abatido por um míssil dos EUA, etc.. Dado o relato cheio de segredos não revelados, obtuso e às vezes desonesto que a Casa Branca apresentou – para nem falar da fraude inicial que foi a investigação pela equipe oficial – não me surpreende que milhões de norte-americanos acreditem em muitas dessas ideias. E também nem se fala da maior das mentiras oficiais: que Saddam estaria por trás do 11/9. Leon Panetta, recentemente nomeado autocrata-em-chefe da CIA, repetiu a mesma mentira, ainda este ano, em Bagdá.

E também houve os filmes. Voo 93 reimaginou o que pode ter acontecido (e pode não ter acontecido) a bordo do avião que caiu num bosque da Pennsylvania. Outro contou história altamente romantizada, na qual as autoridades de New York agiram, estranhamente, para impedir que se filmassem nas ruas reais da cidade.

E, agora, é o dilúvio de especiais de televisão [2], todos os quais dão como verdadeira a mentira de que o 11/9 realmente mudou o mundo. – A repetição, por Bush/Blair, dessa ideia perigosa, permitiu que seus meganhas cometessem crimes de invasão e tortura – sem jamais, nem uma vez, perguntarem por que a imprensa e a televisão aceitaram e repetem até hoje a mesma ideia.

Até hoje, nenhum desses “especiais” pronunciou, uma única vez, a palavra “Israel”; na 5ª-feira à noite, Brian Lapping, na edição noturna de ITV, mencionou uma vez a palavra “Iraque”, sem explicar que o 11/9/2001 serviu de pretexto para o crime de guerra que foi aquela invasão do Iraque, em 2003. Quantos morreram dia 11/9? Quase 3.000. Quantos morreram na guerra do Iraque? Quem se importa? [3]

A publicação do relatório oficial sobre o 11/9 – em 2004, mas leia a edição de 2011 – é estudo valioso, se por mais não for, pelas realidades que apresenta, embora as frases de abertura mais pareçam início de romance, que de relatório de inquérito oficial: “Terça-feira... temperatura amena e céu praticamente sem nuvens no leste dos EUA... Para os que iam para o aeroporto, as condições do tempo não poderiam ser melhores para uma viagem segura e agradável. Entre os que embarcavam estava Mohamed Atta...” Será que esses sujeitos foram estagiários da revista Time?

Mas Anthony Summers e Robbyn Swan, em seu The Eleventh Day [O décimo-primeiro dia] enfrentam o que o ocidente recusou-se a encarar nos anos posteriores ao 11/9. “Todas as provas indicam que a Palestina foi o fator que uniu os conspiradores – em todos os níveis”, escreveram. Um dos organizadores do ataque acreditava que obrigaria os EUA a concentrarem-se sobre “as atrocidades que os EUA cometem, por apoiarem Israel”. A Palestina, dizem os autores, “sem dúvida foi a principal questão política a mover os jovens árabes (que viveram) em Hamburgo”.

A motivação para os ataques foi “escamoteada” até no relatório oficial sobre o 11/9, dizem os autores. Os investigadores discordaram quanto a essa “questão” – palavra-clichê código para não dizer “problema” – e os dois principais funcionários encarregados, Thomas Kean e Lee Hamilton, explicariam mais tarde que: “Esse era terreno sensível (...) Investigadores que argumentaram que a al-Qaeda teria tido, como motivação, uma ideologia religiosa – e não a oposição a políticas norte-americanas – opuseram-se a qualquer referência ao conflito Israel-palestinos. (...) Na opinião deles, falar do apoio dos EUA a Israel como causa profunda da oposição da al-Qaeda aos EUA indicaria que os EUA devessem reavaliar aquela política”. Aí está. Mais claro, impossível.

E então, o que aconteceu? Os investigadores, dizem Summers e Swan, “optaram por uma linguagem vaga, que contornou a questão do motivo”. Há uma pista, no relatório oficial – mas nada além de rápida referência numa nota de rodapé que, é claro, poucos leram. Em outras palavras, ainda não dissemos a verdade sobre o crime que – como nos querem fazer crer – “mudou o mundo para sempre”. Depois de ter visto Obama ajoelhar-se à frente de Netanyahu, em maio passado, nada disso me surpreende.

Enquanto o primeiro-ministro de Israel consegue que até o Congresso dos EUA curve-se a ele, ninguém, dos cidadãos americanos, ouve sequer uma palavra de resposta para a questão mais importante e mais “sensível” do 11/9: o porquê. [4]



Notas dos tradutores

[1] CHURCHILL, Winston. Memórias da Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1995 (primeiro volume).

[2] No Brasil, em notícia redistribuída pela TV Brasil (mas... diabos, por que a TV Brasil divulga isso?!): “Globo News Especial lembra os atentados de 11 de setembro que aconteceram fora de Nova York” e, em ”Os atentados em 11 de setembro nos EUA gera Teorias da Conspiração”, onde assiste-se a um inacreditável besteirol, em diálogo entre jornalistas da rede Globo, sobre o “evento”. No dia 3/9, em: “Programação Especial da GloboNews, sempre pela Rede Globo: “Estreia hoje na Globo News o especial “Dossiê Segredos de Estado”, que trará, diariamente às 20h05, oito grandes entrevistas exclusivas e reveladoras feitas pelo jornalista Geneton Moraes Neto. E há muito mais...

[3] Osama Bin Laden fez exatamente essa conta e usou exatamente esse argumento na “Carta à América”, de 2004. Ver nota 4, adiante, item f.

[4] Esse artigo de Robert Fisk exige um comentário. Fisk elabora sobre os motivos do 11/9, como se jamais tivessem sido claramente expostos à opinião pública planetária. Isso é falso.
Todos os motivos que levaram aos ataques do 11/9 estão claramente, longamente e exaustivamente expostos na “Carta a América”, de Osama Bin Laden, publicada na íntegra pelo Guardian, no domingo, 24/11/2002 (em inglês).
Naquele documento, bin Laden discorre demoradamente sobre os motivos dos ataques do 11/9 (aqui alguns excertos traduzidos):

“Pedindo que Alá nos ajude, respondemos aqui às perguntas que nos fazem os norte-americanos: (Pergunta 1) Por que lutamos contra vocês e lhes fazemos oposição? (...)

A resposta à pergunta 1 é muito simples: porque vocês nos atacaram e continuam a nos atacar.

(a) Vocês nos atacaram na Palestina (...)

(b) Vocês nos atacaram na Somália. Vocês apoiaram as atrocidades dos russos contra nós na Chechenia, a opressão contra nós na Caxemira e a agressão dos judeus contra nós no Líbano. (...)

[Vocês apóiam governos] que se renderam aos judeus e lhes entregaram quase toda a Palestina, reconhecendo a existência daqueles estados sobre os pedaços desmembrados do próprio povo. (...)

(e) Seus exércitos ocupam nossos países; vocês espalharam suas bases militares em todos aqueles estados; vocês corrompem nossas terras e degradam nossas crenças e nossos locais sagrados, para proteger os judeus e, assim, garantir que possam continuar a pilhar nossas riquezas. (...)

(f) Vocês mataram de fome os muçulmanos do Iraque, onde morrem crianças todos os dias. É terrível que mais de 1,5 milhão de crianças iraquianas tenham morrido, por efeito das suas sanções, e a América jamais deu sinal de preocupar-se com isso. Mas, quando morrem 3.000 do povo de vocês, o mundo se ergue, indignado e ainda não se recompôs. (...)

Se Sharon é homem de paz aos olhos de Bush... então todos nós somos, também, homens de paz!!! Os EUA não entendem a linguagem da honra e dos princípios, então tivemos de falar a única língua que os EUA entendem. (...)

O artigo de Fisk, portanto, deve ser lido como, no máximo, um levantamento dos muitos artifícios usados para enganar a opinião pública mundial, para ocultar os motivos do 11/9, que, sim, foram publicados em “jornal de grande circulação” e devem ser pressupostos sabidos, muito explicitadamente expostos por bin Laden, em 2002.

O fato de Fisk não se referir a essa clara exposição pública dos motivos do 11/9 e àquela carta de bin Laden não dignifica sua persona pública, política nem jornalística.

Que sentido faz tanto se empenhar em denunciar que tantos tão ativamente não expuseram os motivos do 11/9... se Fisk tampouco os expõem, embora sejam de conhecimento públicos e expostos com absoluta clareza? Censurar a “Carta à América”, de bin Laden, além de não ser boa prática jornalística também não é boa prática historiográfica.

Além do mais, como se lê na “Carta à América”, mais importante, como motivo do violento ataque contra os EUA, são, além de qualquer vaga “questão palestina”, “a agressão norte-americana contra a Umma” e a favor dos judeus, e a implantação dos exércitos e bases norte-americanos no mundo árabe – operações que, como se sabe, prosseguem, dez anos depois do 11/9/2001.