segunda-feira, 28 de março de 2011

28/3/2011, Land and People


The plot sickens
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Ontem, Ali Abunima (avinunu) twitou o seguinte:



“As revoluções árabes queriam ser meios para *diminuir* não para *aumentar* a intervenção, a penetração imperial na região”.



Hoje, Angry Arab escreveu o seguinte sobre a onda de contrarrevolução que cresce em todo o mundo árabe:



“Vou escrever sobre como começou essa imunda contrarrevolução.



Acho que a Arábia Saudita (com apoio de Israel) decidiu fazer abortar, ou capturar, os levantes árabes. Começou logo depois da queda de Mubarak, quando as relações entre a Arábia Saudita e os EUA complicaram-se, porque a Arábia Saudita protestou contra o ‘apoio’ dos EUA à ‘democracia no Egito’ (como se os EUA já não estivessem fazendo de tudo para salvar Mubarak). Mas os EUA logo baixaram a crista e agora EUA e Arábia Saudita voltaram a entender-se e são 100% parceiros, como sempre.



Ontem, ouvi, na Al Jazeera, uma “notícia” muito esquisita: diziam que uma delegação de EUA e da União Europeia está no Iêmen, trabalhando para construir a “transição pacífica” no Iêmen. Ora! No Iêmen, os EUA já construíram ou serviram de instrumento para construir todo o regime e todo o aparato militar-inteligência! Os EUA farão, no Iêmen o que bem entenderem. A relação íntima que há entre o príncipe Saud Faysal e Tantawi do Egito é mais um ingrediente desse complô sinistro.



Os EUA e a Arábia Saudita (com Israel ali, junto) tentarão garantir a qualquer custo que os novos governos sejam tão ruins quanto, ou se possível piores, que os antigos.



Logo estaremos assistindo os movimentos deles para por Rif no lugar de Al-Asad e Abdul-Halim Khaddam com os elementos mais reacionários da Fraternidade Muçulmana da Síria, no poder.



Trata-se agora de lutar contra todas as ditaduras que há e contra, também, os “regimes democráticos” que sejam postos no lugar das ditaduras e que serão, sempre, fantoches de EUA-Arábia Saudita.



A boa notícia é a seguinte: façam os EUA o que quiserem, vencemos o medo e ninguém, nunca mais, conseguirá encabrestar a rua árabe.”



Agora, então, o Império passou para o Plano Z e está usando diferentes meios:



-- intervenção militar da Arábia Saudita no Bahrain (que é praticamente intervenção dos EUA, delegada formalmente a um fantoche-aliado, para proteger as bases navais dos EUA no Bahrain);



-- intervenção imperial direta na Líbia (delegada formalmente à OTAN), para garantir que o próximo governo seja “aliado” (leia-se “subserviente”);



-- manipulação política na Tunísia e no Egito;



-- corrupção do levante no Iêmen, com a entrada forçada de Ali Muhsin no cenário – aparece e, repentinamente, já é líder do levante, pronto para “tomar o poder” de Ali Abdallah Saleh, com as bênçãos dos EUA (já escrevi sobre Ali Muhsin, sem gosto, sem cara, ambicioso e ligado aos sauditas);



-- e em seguida metem-se na Síria, onde, por todos os lados, opera a mão dos EUA-Sauditas.



Os companheiros e camaradas revolucionários na Síria enfrentarão um difícil dilema político.



Pessoalmente, apoio a posição do Angry Arab: derrubar as ditaduras que havia e também os governos ditos “democráticos” que os EUA imponham, e que sejam governos-fantoches dos norte-americanos.

Libia: A guerra inconstitucional de Obama.

Bruce Ackerman,
Foreign PolicyObama’s Unconstitutional


Traduzido pelo pessoal da vila vudu

Ao decidir por guerra contra a Líbia, Obama arrasta os EUA para presidência mais imperial do que Bush jamais tentou.



Ao arrastar os EUA à guerra contra a Líbia, o governo de Barack Obama inaugura nova frente na construção de governo imperial –, dessa vez governo de presidente executivo que cada vez dá menos importância a representação dos cidadãos, no Congresso, nos EUA e em todo o mundo. A Resolução do Conselho de Segurança da ONU legitimou uma decisão de bombardear país soberano e membro da ONU, nos termos da lei internacional. Mas nenhuma decisão da ONU sobrepõe-se à Constituição dos EUA, que dá ao Congresso, não ao presidente, o poder de “declarar guerra”.



Barack Obama



Depois da Guerra do Vietnã, o Congresso dos EUA aprovou a Resolução sobre Poderes de Guerra, que dá ao presidente o poder, por 60 dias, para agir unilateralmente e declarar guerra, “no caso de emergência nacional criada por ataque contra os EUA, territórios e propriedades, ou contra suas Forças Armadas.” A lei garante ao chefe do Executivo mais 30 dias para promover o desengajamento, no caso de, no período legal, não obter a aprovação do Congresso.



Evidentemente, essas provisões legais não se aplicam na discussão sobre a constitucionalidade da intervenção dos EUA na Líbia, dado que a Líbia não atacou “nossas Forças Armadas”. O presidente esqueceu-se de anotar esse ponto essencial, no documento pelo qual levou ao conhecimento do Congresso a decisão unilateral que tomara sobre a Líbia, obedecendo outra determinação legal. Não tendo havido “ataque” armado contra os EUA, nada autoriza o presidente a desconsiderar a opinião do Congresso em questão crucial de guerra e paz. O paradoxo é claro: se não houve ataque armado aos EUA, nada há a comunicar ao Congresso. Se o presidente tomou decisão unilateral de ir à guerra e entende que haja o que comunicar ao Congresso... Falta o ataque armado contra os EUA.



Todo esse caso parece muito gravemente anômalo, uma vez que, no caso da Líbia, o presidente teve tempo de sobra para encaminhar consulta e pedir o apoio do Congresso. Uma ampla coalizão – do senador John McCain ao senador John Kerry — ter-se-ia mobilizado a favor de uma resolução conjunta dos dois partidos, enquanto o governo cuidaria da diplomacia internacional. Aparentemente, Obama considerou muito mais importante mobilizar seu lobby para convencer a Liga Árabe, do que para convencer o Congresso dos EUA.



Ao excluir o Congresso, Obama supera até o dúbio precedente criado pelo presidente Bill Clinton quando bombardeou o Kosovo em 1999. Daquela vez, o Gabinete do Assessor Constitucional do Departamento de Justiça concluiu que o Congresso manifestara, sim, sua aprovação, ao definir fundos para a campanha do Kosovo. Foi interpretação muito elástica da lei, se se consideram os fatos. Mas Obama não conseguirá beneficiar-se nem dessa interpretação desesperada: o Congresso não aprovou nem definiu quaisquer fundos para a guerra da Líbia.



O presidente Obama, simplesmente, usou dinheiro que o Pentágono destina a outras finalidades previstas em lei, e desviou-o para pagar a atual guerra aérea contra a Líbia.



A Resolução sobre Poderes de Guerra não autoriza nem admite nem um único dia de bombardeio contra a Líbia. No máximo, oferece uma linha de fuga, ao declarar que a resolução “não visa a modificar os poderes constitucionais garantidos ao Congresso ou ao Presidente”. Assim sendo, Obama alegará que o poder constitucional que tem, como comandante-em-chefe, basta-lhe para declarar guerra sem o Congresso... Apesar de a Constituição declarar insistentemente que esse poder não basta ao presidente, para declarar guerras.



Muitos presidentes modernos usaram esse argumento, e Harry Truman baseou-se nele, na Coreia. O que surpreende é ver Obama às vésperas de ratificar esses tristes precedentes. Obama foi eleito como reação nacional aos argumentos unilateralistas de John Yoo e outros, empregados para defender e “legalizar” as ilegalidades da era George W. Bush. Agora, Obama já avança para ilegalidades em campos aos quais nem Bush jamais chegou.



Depois de muito argumentar em defesa de seus poderes inerentes, Bush conseguiu, finalmente, que o Congresso autorizasse suas guerras no Afeganistão e no Iraque. Agora, Obama já aciona a mesma conversa infindável dos tempos de Bush, para justificar o que os EUA estão fazendo na Líbia... mas sem qualquer autorização do Congresso!



A insistência com que o presidente Obama repete que a campanha tem escopo e duração limitados não lhe serve de desculpa. São essas, precisamente, as questões a serem definidas em colaboração com o Congresso. E, agora, Obama fala de seus poderes inerentes. Terá poderes inerentes também para redefinir, unilateralmente, o que interessa aos EUA e seus interesses? Sem ouvir o Congresso? Hoje, de fato, o mais importante é conseguir impedir que outros presidentes, a partir do precedente que Obama tenta criar, encontrem vias para justificar decisões ainda mais unilateralmente agressivas.



O Capitólio enfrenta dilema grave. Como sempre, o unilateralismo presidencial põe o Congresso em posição difícil. O Congresso não pode suspender imediatamente o uso de fundos, suspensão que poria em risco vidas de norte-americanos e de aliados dos EUA. Mas pode, sim, aprovar leis que cortem, decorridos três meses, todos os posteriores desembolsos de dinheiro para financiar guerras que o Congresso não aprove. Essa medida conseguiria evitar, pelo menos, que presidentes belicistas se pusessem a expandir missões militares dos EUA pelo mundo, sem a expressa autorização do Congresso.



O congresso dos EUA deve tomar também outras medidas mais fundamentais para pôr sob controle a presidência imperial de Obama.



Depois do escândalo de Watergate, o Congresso avançou ainda além da Resolução sobre Poderes de Guerra, e aprovou vários estatutos tentando obrigar a presidência a reger-se pela Constituição. Vários daqueles estatutos jamais funcionaram como se esperava que funcionassem, mas mesmo assim são produto de séria investigação conduzida pelo senador Frank Church e pelo deputado Otis Pike nos anos 1970s.



Hoje, é urgentemente necessário que se empreenda trabalho semelhante. Em vários aspectos, a guerra de Bush contra o terrorismo implicou agressões mais graves à lei constitucional dos EUA, que tudo que Richard Nixon tentou fazer em Watergate. Mas o Congresso manteve-se calado, confiando que Obama providenciaria, ele mesmo, a necessária limpeza.



Agora, com declarar guerra à Líbia, o presidente Obama mostra que não merecia a confiança dos que o elegeram. Se o Congresso não reagir e responder vigorosamente contra essa declaração de guerra presidencial à Líbia, os EUA terão dado passo muito grave, na direção de presidente e presidencialismo cada vez menos democráticos e mais imperiais.

Jornalista pede demissão de jornal depois de ter parte de entrevista com Ivete Sangalo censurada










"Comunico que hoje, 28 de março, pedi demissão de A Tarde, jornal onde trabalhei nos últimos quatro anos como estagiária do Alô Redação, repórter de Local e, nos últimos 12 meses, repórter da Muito. Faço isso após o editor-chefe, Ricardo Mendes, determinar a supressão de trecho de entrevista que fiz com a cantora Ivete Sangalo, a ser publicada no próximo domingo, 3 de abril, na edição 157 da Muito.

O referido trecho diz respeito a duas perguntas referentes, respectivamente, à crise na sua empresa, a Caco de Telha, e ao processo envolvendo seu ex-baterista, Tonho Batera. As duas perguntas foram pronta e educadamente respondidas pela cantora, sem qualquer indicação de que eu não pudesse publicá-las. Foram feitas após sua assessoria explicar que Ivete só não falaria: 1 - sobre sua vida pessoal e 2- sobre polêmicas envolvendo outros cantores. Portanto, sem que nem mesmo a assessoria da cantora me censurasse antecipadamente.

Quando saí da redação para fazer a entrevista na última sexta-feira, 25 de março, estava ciente de que o foco principal era o Troféu Dodô & Osmar, promovido e realizado pelo Grupo A Tarde, no qual Ivete Sangalo será mestre de cerimônias, e que se tratava de uma edição especial em homenagem ao prêmio. Sei que todas as empresas de jornalismo desse país possuem interesses econômicos. Não estou saindo da empresa com uma ideia romântica do que é a minha profissão ou do que não vá enfrentar novamente. Mas para mim, neste momento, publicar uma entrevista de capa, com oito páginas internas de perguntas e respostas, em que, aos olhos do leitor, não se toca em dois dos assuntos mais relevantes envolvendo a cantora (isso pelo menos nos últimos três meses) é praticar um anti-jornalismo ao qual, em quatro anos de profissão, não estou acostumada.

Mais ainda quando se trata da primeira oportunidade em que Ivete falou sobre o caso em uma entrevista, de forma paciente e educada, longe dos bastidores do show business, sem nenhum tipo de pressão, e explicou qual sua versão dos fatos, afirmando que o irmão continua à frente dos negócios mesmo à distância – uma informação nova, de extrema relevância para o caso, ainda mais se dita por ela. Deixo claro que tomo esta decisão após solicitar ao mesmo editor-chefe que eu não assinasse a matéria por respeito à minha consciência e ao leitor, que certamente achará estranho uma entrevista tão longa ignorar o caso Caco de Telha. O pedido foi prontamente negado por ele.

Quero agradecer a todos os colegas com quem trabalhei, em especial Marlene Lopes, quem primeiro me incentivou a fazer um bom trabalho nesta empresa, Kátia Borges, editora das mais competentes e sábias que conheci, e Nadja Vladi, que vem fazendo, semana a semana, um ótimo trabalho na Muito. Se um jornal tem em mãos um material de relevância jornalística e decide não publicá-lo para não correr o risco de ferir suscetibilidades ou atender a qualquer outro interesse que não o de informar, nada mais faz do que pôr em risco a própria credibilidade. Da minha, eu não abro mão".

Emanuella Sombra
 
http://maureliomello.blogspot.com/2011/03/sai-maior-quem-nao-tem-medo-de-censura.html

Declaração da UNIÃO AFRICANA sobre a Líbia









Segunda reunião em Addis Ababa, 25/3/2011



A comissão ouviu uma delegação do governo da Jamayhri árabe líbia



Para distribuição à imprensa (em inglês)



(Tradução de trabalho, não oficial, realizada pelo pessoal da Vila Vudu)



Addis Ababa, 25/3/2011: Como parte dos procedimentos previstos no communiqué correspondente à reunião dessa Comissão ad hoc de Alto Nível da União Africana sobre a Líbia realizada dia 19/3/2011 em Nouakchott, Mauritânia, essa Comissão ad hoc realizou sua segunda reunião em Addis Ababa, dia 25/3/2011, de ministros de Relações Exteriores, como ficou decidido pelo Conselho de Segurança e Paz dessa União Africana do dia 10/3/2011.



Deve-se lembrar que, durante sua reunião em Nouakchott, essa Comissão ad hoc convidou autoridades do governo líbio e do Conselho Nacional de Transição da Líbia para que participassem das consultas que agora se realizaram em Addis Ababa.



O governo líbio fez-se representar na reunião de Addis Ababa, mas nenhum membro do Conselho de Transição da Líbia compareceu.



Essa Comissão ad hoc reuniu-se com aqueles representantes do governo da Jamahiriya árabe, aos quais apresentou o Mapa do Caminho proposto pela União Africana, para solução pacífica da crise na Líbia, nos termos articulados no parágrafo 5 do communiqué de Nouakchott datado de 19/3/2011 [1].



Essa Comissão formalmente reitera a aceitação incondicional do Mapa do Caminho da União Africana pelo representante do governo líbio.



Destaca também o comprometimento das autoridades líbias com um cessar-fogo efetivo e confiável.



Destaca ainda, para essa finalidade, a disposição do governo líbio para facilitar o estabelecimento e os deslocamentos de uma comissão para monitorar e verificar o imediato cessar-fogo.



A delegação líbia também manifestou a disposição e a prontidão do governo líbio para implementar os outros aspectos do Mapa do Caminho da União Africana, inclusive a adoção e a implementação, por vias pacíficas e democráticas, de reformas políticas que satisfaçam as aspirações do povo líbio.



Essa Comissão ad hoc registra a posição manifesta pela delegação do governo da Líbia e seu continuado engajamento com o que aqui ficou acordado.



Essa Comissão ad hoc reitera sua disposição para prosseguir nos passos para engajar o Conselho Nacional de Transição, nos termos do Mapa do Caminho da União Africana, com foco urgente e específico na cessação de hostilidades.



Em conclusão, os ministros presentes trocaram ideias sobre os próximos passos a serem dados para implementar o mandato dessa Comissão ad hoc. Quando a isso, concordaram em viajar o mais rapidamente possível à Líbia, no nível de comitiva de Chefes de Estado, com mandato dessa Comissão ad hoc de Alto Nível da União Africana sobre a Líbia.



Uma solución africana para a Libia.

25/3/2011, Página 12, Buenos Aires. Ar.


Traduzido pelo pessoal do vila vudu

Enquanto o francês Nicolás Sarkozy anunciava que França e Reino Unido preparavam uma "iniciativa" para resolver pela via “política e diplomática” a situação na Líbia, com autorização da ONU, o regime líbio anunciou sua disposição para “aplicar o mapa do caminho” [orig. Road Map] o plano apresentado pela União Africana (UA), que propõe imediata cessação das hostilidades e abertura de diálogo entre os líbios, como primeiro passo para uma “transição democrática”. Segundo autoridades líbias, morreram pelo menos 114 pessoas, com 445 feridos, desde o início dos bombardeios pela coalizão internacional.



“Estamos dispostos a aplicar o plano” proposto pela União Africana, inclusive “uma política que responda às aspirações do povo líbio de forma pacífica e democrática”, disseram os representantes do regime de Gadafi em reunão da UA em Adís Abeba, à qual não compareceu nenhum delegado dos “rebeldes”. Mas o que hoje se passa na Líbia é problema estritamente dos africanos e só pode ser resolvido pela União Africana” (24/3/2010, em: The African Union ad hoc High-Level Committee on Libya convenes its second meeting in Addis Abab).



Antes, o presidente francês havia garantido que a coalizão manterá o controle político de todas as operações, apesar de a coordenação das ações militares passar para a OTAN, como já anunciado há dois dias. O primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, afirmou que seu país aceitará que a OTAN dirija as operações contra a Líbia, em associação com a Liga Árabe e a União Africana, “para evitar que se cometam os mesmos erros já cometidos no Iraque e no Afeganistão”.



Sarkozy, quem mais fortemente insistiu em que o CSONU aprovasse a intervenção militar no norte da África, anunciou que está prevista, para a reunião dos membros da coalizão que opera na Líbia marcada para 2ª-feira em Londres, a proposição de uma “via comum”.



“Haverá uma iniciativa franco-britânica para mostrar que a solução não é só militar, mas também política e diplomática” – disse o presidente francês em entrevista coletiva depois da reunião de chefes de estado e de governo da União Europeia, segundo informou a Agência EFE.



Na mesma coletiva, Sarkozy lembrou que a OTAN “não pode absorver” países não membros, como o Qatar e os Emiratos Árabes Unidos que participam do esforço internacional. “Não é possível. Faríamos um favor a Muammar Khadafi se disséssemos que é operação só da OTAN, que não há coalizão”, disse o presidente francês aos jornalistas. (...) Mas a França não convidou a Turquia para a reunião em Paris, que decidirá sobre os ataques à Líbia.



Cercar a Rússia, visar a China: “O verdadeiro papel da OTAN na grande estratégia dos EUA”

2/12/2010, Diana Johnstone, Counterpunch


NATO’S True Role in US Grand StrategyTraduzido por Margarida Ferreira, para ODiario.info



IntroduçãoEmbora escrito antes da Cimeira da OTAN em Lisboa, este texto de Diana Johnstone mantém toda a atualidade. Depois de desmascarar os objetivos da OTAN, a autora conclui: “Os governos euro-atlânticos proclamam a sua «democracia» como prova do seu direito absoluto de intervir nos assuntos do resto do mundo. Com base na falácia de que os «direitos humanos são necessários para a paz», proclamam o seu direito a fazer a guerra. Uma questão crucial é se a «democracia ocidental» ainda tem força para desmantelar esta máquina de guerra antes que seja tarde demais” (ODiario.info)



Nos dias 19 e 20 de Novembro, reúnem-se em Lisboa dirigentes da OTAN numa cimeira designada por “Conceito Estratégico da OTAN”. Entre os tópicos para discussão encontra-se uma série de “ameaças” assustadoras, desde a guerra cibernética até à alteração climática, assim como belas coisas protectoras como armas nucleares e uma inútil Linha Maginot de alta tecnologia destinada a fazer parar os mísseis inimigos em pleno voo. Os dirigentes da OTAN não conseguirão evitar falar da guerra no Afeganistão, essa cruzada interminável que une o mundo civilizado contra o esquivo Velho da Montanha, Hassan i Sabah, chefe dos Assassinos do século onze na sua mais recente encarnação como Osama bin Laden. Sem dúvida vai haver muita conversa sobre os “nossos valores comuns”.



A maior parte do que vai ser discutido é ficção com uma etiqueta de preço.



A única coisa que falta na agenda da cimeira Conceito Estratégico é uma discussão a sério sobre estratégia.



Isto, em parte, resulta de a OTAN, enquanto tal, não ter qualquer estratégia, e não poder ter a sua própria estratégia. A OTAN é na verdade um instrumento da estratégia dos Estados Unidos. O seu único Conceito Estratégico operacional é o que é posto em prática pelos Estados Unidos. Mas até esse é um fantasma esquivo. Segundo parece, os dirigentes americanos preferem posições impressionantes, “soluções espetaculares”, em vez de definirem estratégias.



Um dos que pretende definir uma estratégia é Zbigniew Brzezinski, padrinho dos mujahidin afegãos quando estes podiam ser utilizados para destruir a União Soviética. Brzezinski não se coibiu de declarar abertamente o objetivo estratégico da política dos EUA no seu livro de 1993, O Grande Tabuleiro de Xadrez: “A supremacia americana”. Quanto há OTAN, descreveu-a como uma das instituições que servem para perpetuar a hegemonia americana, “fazendo dos Estados Unidos um participante chave até nos assuntos intra europeus”. Na sua “rede global de instituições especializadas”, que obviamente incluem a OTAN, os Estados Unidos exercem o seu poder através de uma “permanente negociação, diálogo, difusão e procura de um consenso formal, apesar de o poder ser sempre proveniente duma única fonte, nomeadamente, Washington, D.C.”



Esta descrição assenta como uma luva na conferência “Conceito Estratégico” de Lisboa. Na semana passada, o secretário-geral dinamarquês da OTAN, Anders Fogh Rasmussen, anunciou que “estamos muito perto de um consenso”. E este consenso, de acordo com o New York Times, “seguirá provavelmente a formulação do Presidente Barack Obama: trabalhar para um mundo não nuclear mantendo embora um dissuasor nuclear”.



Esperem aí, será que isto faz sentido? Não, mas é o tipo de consenso da OTAN. A paz através da guerra, o desarmamento nuclear através do armamento nuclear, e acima de tudo, a defesa dos estados membros enviando forças expedicionárias para enfurecer os nativos de países distantes.



Uma estratégia não é um consenso escrito por comissões.



O método americano de “permanente negociação, diálogo, difusão e procura de um consenso formal” neutraliza qualquer resistência que possa aparecer ocasionalmente. Assim, a Alemanha e a França resistiram inicialmente à entrada da Geórgia para a OTAN, assim como ao célebre “escudo anti-míssil”, considerados ambos como provocações abertas capazes de provocar uma nova corrida às armas com a Rússia e de prejudicar as frutuosas relações da Alemanha e da França com Moscovo, sem qualquer resultado útil. Mas os Estados Unidos não aceitam um não como resposta, e continuam a repetir os seus imperativos até esmorecer a resistência. A única exceção recente foi a recusa da França em aderir à invasão do Iraque, mas a reação irritada dos EUA assustou a classe política conservadora francesa o que levou ao apoio de Nicolas Sarkozy, pró-americano.



À procura de “ameaças” e “desafios”



O verdadeiro sumo do que passa por um “conceito estratégico” foi declarado pela primeira vez e posto em ação na primavera de 1999, quando a OTAN desafiou a lei internacional, as Nações Unidas e a sua própria carta inicial entrando numa guerra agressiva, fora do seu perímetro de defesa, contra a Iugoslávia. Esse passo transformou a OTAN de uma aliança defensiva para uma aliança ofensiva. Dez anos depois, a madrinha dessa guerra, Madeleine Albright, foi escolhida para presidir ao “grupo de especialistas” que passaram vários meses a realizar seminários, consultas e reuniões para preparação da agenda de Lisboa. Entre os mais importantes nesses encontros, estavam Lord Peter Levene, presidente do Lloyd’s de Londres, a gigantesca seguradora, e o antigo diretor executivo da Royal Dutch Shell, Jeroen van der Veer. Estas figuras da classe dirigente não são propriamente estrategistas militares, mas a sua participação serve para garantir à comunidade internacional de negócios que vão ser tidos em consideração os seus interesses em nível mundial.



É bem verdade que o rol de ameaças enumeradas por Rasmussen num discurso do ano passado dava a entender que a OTAN estava trabalhando para a indústria dos seguros. Disse ser necessário que a OTAN tratasse do combate à pirataria, da segurança cibernética, da alteração climática, de incidentes radicais do clima tais como tempestades e inundações catastróficas, da subida dos níveis do mar, da movimentação em grande escala de populações para áreas desabitadas, por vezes atravessando fronteiras, da escassez de água, secas, da diminuição da produção de alimentos, do aquecimento global, das emissões de CO2, do recuo dos gelos do Ártico, que revelam recursos até agora inacessíveis, da eficiência de combustíveis, da dependência de recursos externos, etc.



A maior parte das ameaças apresentadas nem mesmo de longe podem ser interpretadas como exigindo soluções militares. Obviamente, não são os “estados vilões” nem os “bastiões de tirania” nem os “terroristas internacionais” que são responsáveis pela alteração climática, no entanto Rasmussen apresenta-os como desafios para a OTAN.



Por outro lado, alguns dos resultados destes cenários, como os movimentos de populações provocados pela subida dos níveis do mar ou pela seca, podem, de fato, ser considerados como potenciais causas de crises. O aspecto sinistro desta enumeração é precisamente que esses problemas são avidamente agarrados pela OTAN como exigindo soluções militares.



A maior ameaça para a OTAN é estar obsoleta. E a procura de um “conceito estratégico” é a procura de pretextos para se manter em ação.



A Ameaça da OTAN para o Mundo



Embora ande à procura de ameaças, é a própria OTAN que constitui uma ameaça crescente para o mundo. A ameaça básica é a sua contribuição para o reforço da tendência liderada pelos EUA para abandonar a diplomacia e as negociações a favor da força militar. Isto percebe-se claramente quando Rasmussen inclui os fenômenos climáticos na sua lista de ameaças para a OTAN, quando eles deviam ser, pelo contrário, problemas para a diplomacia e negociações internacionais. O perigo crescente é que a diplomacia ocidental está moribunda. Os Estados Unidos deram o tom: nós somos virtuosos, nós temos o poder, o resto do mundo tem que obedecer, senão…



A diplomacia é desprezada como sendo uma fraqueza. O Departamento de Estado há muito que deixou de estar no centro da política externa dos EUA. Com a sua ampla rede de bases militares em todo o mundo, assim como adidos militares em embaixadas e inúmeras missões em países clientes, o Pentágono é incomparavelmente mais poderoso e influente no mundo do que o Departamento de Estado.



Os últimos Secretários de Estado, longe de procurarem alternativas diplomáticas à guerra, desempenharam, de fato, um papel preponderante na defesa da guerra em vez da diplomacia, desde Madeleine Albright nos Balcãs ou Colin Powell acenando com falsos tubos de ensaio no Conselho de Segurança das Nações Unidas. A política é definida pelo Conselheiro de Segurança Nacional, por diversos grupos de opinião financiados por privados e pelo Pentágono, com a intervenção de um Congresso que, por sua vez, é formado por políticos ansiosos em obter contratos militares para as suas clientelas.



A OTAN está arrastando os aliados europeus de Washington pelo mesmo caminho. Tal como o Pentágono substituiu o Departamento de Estado, a OTAN está sendo utilizada pelos Estados Unidos como um potencial substituto para as Nações Unidas. A “guerra do Kosovo” de 1999 foi um primeiro passo importante nessa direção. A França de Sarkozy, depois de ter entrado no comando conjunto da OTAN, está destruindo os serviços de estrangeiros franceses, tradicionalmente competentes, reduzindo a sua representação civil em todo o mundo. Os serviços de estrangeiros da União Europeia que estão sendo criados por Lady Ashton não vão ter nem política nem autoridade próprias.



Inércia burocrática



Por detrás dos seus apelos aos “valores comuns”, a OTAN é impulsionada, sobretudo, pela sua inércia burocrática. A própria aliança é uma excrescência do complexo militar-industrial dos EUA. Há sessenta anos que as aquisições militares e os contratos do Pentágono têm sido uma fonte essencial da investigação industrial, dos seus lucros, de empregos, de carreiras no Congresso e até mesmo de financiamentos universitários. A interação destes diversos interesses converge para determinar uma estratégia implícita dos EUA de conquista do mundo.



Uma rede global sempre em expansão de umas 800 a mil bases militares em solo estrangeiro.



Acordos militares bilaterais com estados clientes que oferecem formação em troca da compra obrigatória de armas feitas nos EUA e da reestruturação das suas forças armadas, trocando a defesa nacional pela segurança interna (ou seja, repressão) e a possível integração nas guerras de agressão lideradas pelos EUA.



Utilização dessas relações estreitas com as forças armadas locais para influenciar a política interna de estados mais fracos.



Exercícios militares permanentes com estados clientes, que fornecem ao Pentágono um conhecimento perfeito sobre o potencial militar dos estados clientes, os integram na máquina militar dos EUA e alimentam uma mentalidade de “prontos para a guerra”.



Posicionamento estratégico da sua rede de bases, exercícios com “aliados” e militares de forma a cercar, isolar, intimidar e acabar por provocar importantes nações consideradas potenciais rivais, nomeadamente a Rússia e a China.



A estratégia implícita dos Estados Unidos, tal como as suas ações dão a entender, é uma conquista militar gradual para garantir o domínio do mundo. Uma característica original deste projeto de conquista do mundo é que, embora extremamente ativo, dia após dia, é praticamente ignorado pela grande maioria da população da nação conquistadora, assim como pelos seus aliados mais estreitamente dominados, ou seja, pelos estados da OTAN.



A propaganda infindável acerca das “ameaças terroristas” (as pulgas do elefante) e outras diversões mantêm a maioria dos americanos totalmente inconscientes quanto ao que se está passando, tanto mais facilmente quanto os americanos praticamente desconhecem o resto do mundo e portanto não se interessam minimamente. Os EUA podem varrer do mapa um país antes que a grande maioria dos americanos saiba onde é que ele se encontra.



A tarefa principal dos estrategistas dos EUA, cujas carreiras passam pelos grupos de opinião, conselhos de diretores, firmas de consultoria e governo, é muito mais justificar este gigantesco mecanismo do que tentar dirigi-lo. Em grande medida, ele dirige-se a si mesmo.



Desde o colapso da “ameaça soviética”, que os políticos andam à procura de ameaças invisíveis ou potenciais. A doutrina militar dos EUA tem como objetivo atuar preventivamente contra qualquer rival potencial para a hegemonia mundial dos EUA. Desde o colapso da União Soviética, é a Rússia que mantém o maior arsenal bélico para além dos Estados Unidos e a China está crescendo rapidamente em poder econômico. Nenhum deles ameaça os Estados Unidos ou a Europa ocidental. Pelo contrário, ambos estão dispostos e desejosos de se concentrarem em negócios pacíficos.



Mas encontram-se cada vez mais alarmados com o cerco militar e com os exercícios militares provocatórios realizados pelos Estados Unidos mesmo à sua porta. A implícita estratégia agressiva pode ser obscura para a maioria dos americanos, mas de certeza absoluta que os dirigentes dos países visados percebem o que se está a passar.



O Triângulo Rússia-Irã-Israel



Atualmente, o principal “inimigo” explícito é o Irã.



Washington afirma que o “escudo antimíssil”, que está tentando impor aos seus aliados europeus, se destina a defender o ocidente do Irã. Mas os russos vêem muito claramente que o escudo antimíssil está virado contra eles. Primeiro de tudo, sabem perfeitamente bem que o Irã não tem mísseis desses nem nenhum motivo para os usar contra o ocidente. É perfeitamente óbvio para todos os analistas bem informados que, mesmo que o Irã desenvolvesse armas nucleares e mísseis, seriam destinados a funcionar como dissuasor contra Israel, a superpotência nuclear regional que tem mãos livres para atacar os países vizinhos. Israel não quer perder essa liberdade de atacar, e naturalmente opõe-se ao dissuasor iraniano.



Os propagandistas israelenses clamam em voz alta contra a ameaça do Irã, e têm trabalhado incansavelmente para infectar a OTAN com a sua paranóia.



Israel até já foi descrita como o “29º membro da OTAN global”. Os funcionários israelenses têm trabalhado assiduamente junto de uma Madeleine Albright receptiva para se assegurarem de que os interesses israelenses são incluídos no “Conceito Estratégico”. Nos últimos cinco anos, Israel e a OTAN tomaram parte em exercícios navais conjuntos no Mar Vermelho e no Mediterrâneo, assim como em exercícios terrestres conjuntos desde Bruxelas até à Ucrânia. Em 16 de Outubro de 2006, Israel tornou-se no primeiro país não europeu a fazer um acordo chamado “Programa de Cooperação Individual” com a OTAN para cooperação em 27 áreas diferentes.



Vale a pena notar que Israel é o único país fora da Europa que os EUA incluem na área da responsabilidade do seu Comando Europeu (em vez do Comando Central que cobre o resto do Oriente Médio).



Num seminário de Relações OTAN-Israel em Herzliya em 24 de Outubro de 2006, o ministro dos estrangeiros israelense na altura, Tzipi Livni, declarou que “A aliança entre a OTAN e Israel é uma coisa natural… Israel e a OTAN partilham uma visão estratégica comum. Sob muitos aspectos, Israel é a linha da frente que defende o nosso estilo de vida comum”.



Nem todos nos países europeus consideram que as colôniass israelenses na Palestina ocupada refletem “o nosso estilo de vida comum”.



Esta é sem dúvida uma das razões por que o aprofundamento da união entre a OTAN e Israel não assumiu a forma aberta de membro da OTAN. Principalmente depois do selvagem ataque a Gaza, uma decisão dessas iria levantar objeções nos países europeus. No entanto, Israel continua a fazer-se convidado para a OTAN, apoiado ardentemente, claro, pelos seus fieis seguidores no Congresso dos EUA.



A causa principal desta crescente simbiose Israel-OTAN foi identificada por Mearsheimer e Walt: é o vigoroso e poderoso lobby pró-Israel nos Estados Unidos. [1]



Os lobbies israelenses também são fortes em França, na Grã-Bretanha e no Reino Unido. Têm desenvolvido com entusiasmo o tema de Israel como a “linha da frente” na defesa dos “valores ocidentais” contra o Islã militante. O fato de o Islã militante ser principalmente um produto dessa “linha da frente” cria um círculo vicioso perfeito.



A atitude agressiva de Israel para com os seus vizinhos regionais seria uma responsabilidade grave para a OTAN, capaz de ser arrastada para guerras do interesse de Israel que não interessam mesmo nada à Europa.



Mas há uma sutil vantagem estratégica na conexão israelense que, segundo parece, está sendo usada pelos Estados Unidos… contra a Rússia.



Subscrevendo a histérica teoria da “ameaça iraniana”, os Estados Unidos podem continuar a afirmar, sem corar, que o planejado escudo antimíssil é dirigido contra o Irã, e não contra a Rússia. Não é que esperem convencer os russos. Mas pode ser utilizado para fazer com que os protestos deles pareçam “paranóicos” – pelo menos aos ouvidos dos ingênuos ocidentais. Meu caro, de que é que eles se queixam, se nós “restabelecemos” as nossas relações com Moscou e convidamos o presidente russo para a nossa alegre assembleia de “Conceito Estratégico?



No entanto, os russos sabem muito bem que:



O escudo antimíssil vai ser construído em volta da Rússia, que tem mísseis, que mantêm como dissuasores.



Neutralizando os mísseis russos, os Estados Unidos ficam de mãos livres para atacar a Rússia, sabendo que a Rússia não pode retaliar.



Portanto, digam o que disserem, o escudo antimíssil, se funcionar, servirá para facilitar uma eventual agressão contra a Rússia.



O cerco em volta da Rússia



O cerco em volta da Rússia continua no Mar Vermelho, no Báltico e no círculo Ártico.



Funcionários dos Estados Unidos continuam a afirmar que a Ucrânia deve integrar a OTAN.



Ainda esta semana, numa coluna do New York Times, Ian J. Brzezinski, filho de Zbigniew, avisou Obama quanto ao perigo do abandono da “visão” de uma Europa “unida, livre e segura” incluindo “a inclusão da Geórgia e da Ucrânia na OTAN e na União Europeia”. O fato de a grande maioria da população da Ucrânia ser contra a entrada na OTAN não foi tida em consideração.



Para o atual rebento da nobre dinastia Brzezinski é a minoria que conta. Abandonar a visão “isola os que, na Geórgia e na Ucrânia, vêem o seu futuro na Europa. Reforça as aspirações do Kremlin a uma esfera de influência…”



A noção de que “o Kremlin” aspira a uma “esfera de influência” na Ucrânia é absurda, considerando os laços históricos extremamente fortes entre a Rússia e a Ucrânia, cuja capital Kiev foi o berço do estado russo. Mas a família Brzezinski é proveniente da Galícia, a parte da Ucrânia ocidental que pertenceu outrora à Polônia, e que é o centro da minoria antirrussa. A política externa dos EUA é demasiado frequentemente influenciada por essas rivalidades estrangeiras que a grande maioria dos americanos ignora completamente.



Os EUA continuam com a sua insistência incansável em absorver a Ucrânia apesar de isso implicar a expulsão da frota russa do Mar Negro da sua base na península da Crimeia, onde a população local é esmagadoramente de língua russa e pró-russa. Isto é a receita para uma guerra com a Rússia, se alguma vez ocorrer.



E, entretanto, os funcionários americanos continuam a declarar o seu apoio à Geórgia, cujo presidente, treinado pelos americanos, espera abertamente levar a OTAN a apoiar a sua próxima guerra contra a Rússia.



Para além das manobras navais provocatórias no Mar Negro, os Estados Unidos, a OTAN e a Suécia e a Finlândia que não são (ainda) membros da OTAN, realizam regularmente importantes exercícios militares no Mar Báltico, praticamente à vista das cidades russas de São Petersburgo e Kaliningrad. Estes exercícios envolvem milhares de efetivos terrestres, centenas de aeronaves, incluindo os caças a jato F-15, aviões AWACS, assim como forças navais que incluem o U.S. Carrier Strike Group 12, barcos de desembarque e navios de guerra de uma dúzia de países.



Talvez o mais sinistro disto tudo, os Estados Unidos têm envolvido persistentemente, na região do Ártico, o Canadá e os estados escandinavos (incluindo a Dinamarca através da Groenlândia) num posicionamento estratégico militar abertamente dirigido contra a Rússia. O objetivo deste posicionamento no Ártico foi afirmado por Fogh Rasmussen quando referiu, entre as “ameaças” que a OTAN tem que enfrentar, o fato de que o “gelo do Ártico está recuando, libertando recursos que até agora têm estado cobertos pelos gelos”.



Ora bem, podíamos pensar que esta descoberta de recursos seria uma oportunidade para a cooperação na sua exploração. Mas não é essa a disposição oficial dos EUA.



Em Outubro passado, o almirante americano James G. Stavridis, comandante supremo da OTAN na Europa, disse que o aquecimento global e a corrida aos recursos podia levar a um conflito no Ártico. O almirante Christopher C. Colvin, da Guarda Costeira, responsável pela linha costeira do Alasca, disse que a atividade mercante marítima russa no Oceano Ártico constituía uma “preocupação especial” para os EU e pediu mais recursos militares na região.



O Serviço Geológico dos EUA crê que o Ártico contém um quarto dos depósitos mundiais inexplorados de petróleo e de gás. Sob a Convenção da Lei dos Mares das Nações Unidas, de 1982, um estado costeiro tem direito a uma EEZ [Zona Econômica Exclusiva] de 200 milhas náuticas e pode reclamar mais 150 milhas se provar que o fundo do mar é a continuação da sua plataforma continental.



A Rússia está requerendo esta pretensão.



Depois de pressionar o resto do mundo a adotar a Convenção, o Senado dos Estados Unidos ainda não ratificou o Tratado.



Em Janeiro de 2009, a OTAN declarou que o “Alto Norte” era de “interesse estratégico para a Aliança” e, desde então, a OTAN tem realizado vários importantes jogos de guerra nitidamente em preparação de um eventual conflito com a Rússia sobre os recursos do Ártico.



A Rússia desmantelou fortemente as suas defesas no Ártico depois do colapso da União Soviética e tem apelado para a negociação de compromissos quanto ao controle de recursos.



Em setembro passado, o primeiro-ministro Vladimir Putin apelou esforços conjuntos para proteger o frágil ecossistema, atrair o investimento estrangeiro, promover tecnologias amigas do ambiente e tentar solucionar as disputas através da lei internacional.



Mas os Estados Unidos, como de costume, preferem resolver as questões pela força. Isso pode levar a uma nova corrida ao armamento no Ártico e até mesmo a confrontos armados.



Apesar de todas estas movimentações provocativas, é muito pouco provável que os Estados Unidos procurem uma guerra com a Rússia, embora não se possa excluir confrontos e incidentes aqui e ali. Segundo parece, a política dos EUA é cercar e intimidar a Rússia de tal modo que ela aceite um estatuto de semi-satélite que a neutralize no futuro conflito previsível com a China.



O alvo China



A única razão para ter a China no ponto da mira é o mesmo da razão proverbial para subir a uma montanha: está ali. É grande. E os EUA têm que estar no topo de tudo.



A estratégia para dominar a China é a mesma seguida para com a Rússia. É a guerra clássica: cerco, assédio, apoio mais ou menos clandestino a problemas internos. Como exemplos desta estratégia:



Os Estados Unidos estão aumentando provocativamente a sua presença militar ao longo das costas chinesas do Pacífico, oferecendo “proteção contra a China” a países asiáticos do leste.



Durante a guerra-fria, quando a Índia recebia o seu armamento da União Soviética e assumia uma postura não alinhada, os Estados Unidos armaram o Paquistão enquanto seu principal aliado regional. Agora os EUA estão desviando os seus favores para a Índia, a fim de manter a Índia fora da órbita da Organização de Cooperação Xangai e de a utilizar como um contrapeso para a China.



Os Estados Unidos e seus aliados apoiam qualquer dissidência interna que possa enfraquecer a China, seja o Dalai Lama, os Uighurs, ou Liu Xiaobo, o dissidente na prisão.



O Prêmio Nobel da Paz foi atribuído a Liu Xiaobo por uma comissão de legisladores noruegueses chefiados por Thorbjorn Jagland, o eco de Tony Blair na Noruega, que foi primeiro-ministro e ministro dos estrangeiros da Noruega, e tem sido um dos principais defensores da OTAN do seu país.



Numa conferência patrocinada pela OTAN de parlamentares europeus no ano passado, Jagland declarou: “Quando somos incapazes de impedir a tirania, começa a guerra. É por isso que a OTAN é indispensável. A OTAN é a única organização militar multilateral com raízes na lei internacional. É uma organização que a ONU. pode usar quando necessário – para impedir a tirania, tal como fizemos nos Balcãs”. Isto é uma espantosa adulteração dos fatos, considerando que a OTAN desafiou abertamente a lei internacional e as Nações Unidas quando declarou guerra nos Balcãs – onde na realidade havia conflitos étnicos, mas não havia “tirania” nenhuma.



Ao anunciar a escolha de Liu, a comissão norueguesa do Nobel, chefiada por Jagland, declarou que “há muito que considerava que há uma estreita ligação entre os direitos humanos e a paz”. A “estreita ligação”, para seguir a lógica das próprias afirmações de Jagland, é que, se um estado estrangeiro não respeita os direitos humanos segundo as interpretações ocidentais, pode ser bombardeado, tal como a OTAN bombardeou a Iugoslávia. De fato, os mesmos poderes que mais barulho fizeram sobre os “direitos humanos”, nomeadamente os Estados Unidos e a Grã-Bretanha, são os que mais guerras fazem em todo o mundo. As afirmações do norueguês tornam claro que a atribuição do Prêmio Nobel da Paz a Liu (que passou algum tempo na Noruega quando jovem) correspondia, na realidade, a uma confirmação da OTAN.



“Democracias” para substituir as Nações Unidas



Os membros europeus da OTAN pouco acrescentam ao poder militar dos Estados Unidos. A sua contribuição é acima de tudo política. A sua presença mantém a ilusão duma “Comunidade Internacional”. A conquista do mundo que está sendo tentada pela inércia burocrática do Pentágono pode ser apresentada como a cruzada das “democracias” do mundo para espalhar a sua ordem política esclarecida pelo resto de um mundo recalcitrante.



Os governos euro atlânticos proclamam a sua “democracia” como prova do seu direito absoluto de intervir nos assuntos do resto do mundo. Com base na falácia de que os “direitos humanos são necessários para a paz”, proclamam o seu direito a fazer a guerra.



Uma questão crucial é se a “democracia ocidental” ainda tem força para desmantelar esta máquina de guerra antes que seja tarde demais.



Nota: Agradecimentos a Rick Rozoff pelo seu permanente fluxo de importantes informações.



* Diana Johnstone é analista de política internacional escpecializada em assuntos militares



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Nota de tradução[1] No seu livro “The Israel Lobby and U.S. Foreign Policy” (2007), descreve este lobby como uma “coligação informal de indivíduos e organizações que trabalham ativamente para guiar a política externa dos EUA numa direção pró-Israel”. O livro “concentra-se principalmente na influência do lobby sobre a política externa dos EUA e nos seus efeitos negativos para os interesses americanos”.



Guerra da OTAN na Líbia?





28/3/2011, *MK Bhadrakumar, Indian PunchlineNATO to lead Libyan warTraduzido pelo pessoal da Vila Vudu



72 horas depois de a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) ter sido incumbida pelas potências ocidentais da tarefa de fazer valer uma zona aérea de exclusão e um embargo de armas na Líbia, a aliança deu grande salto adiante. O próprio corpo que toma decisões da própria OTAN decidiu que a própria OTAN ficará encarregada de implantar também todas as demais decisões da Resolução n. 1.973 do Conselho de Segurança da ONU sobre a Líbia [R-1973].



Declaração da OTAN, feita em Bruxelas no final desse domingo, mal disfarçava o tom triunfalista: “É passo muito significativo, que prova a capacidade da OTAN para empreender ação decisiva” em: Statement by NATO Secretary General Anders Fogh Rasmussen on Libya Mas tem gato na tuba.



A declaração da OTAN nada diz sobre quem estaria esperando que a OTAN “provasse” alguma coisa, ou que “ação decisiva” a OTAN agora por-se-á a “empreender”. A questão, de fato, é que a OTAN afinal recebeu a chance de provar-se ela mesma – de provar que é a única organização militar em escala global que pode intervir militarmente e “empreender ação decisiva” contra qualquer país (fora do mundo ocidental, sempre, é claro).



Não há dúvida que se trata de “passo muito significativo” no que tenha a ver com a segurança internacional. O Conceito Estratégico adotado na cúpula da OTAN em Lisboa[1], novembro passado, definiu que o objetivo da aliança seria constituir-se como organização de segurança global. Mas ninguém do mundo externo, naquele momento, jamais supôs que o objetivo seria alcançado nesse prazo recorde.



A realidade política é que a R-1.073 não atribuiu nenhum papel específico à OTAN. A própria OTAN se autoatribuiu um papel e esse específico papel.



As potências ocidentais interpretaram unilateralmente a R-1.973 e incluíram nela os raids aéreos contra forças do governo líbio para, militarmente, alterar o equilíbrio militar na Líbia a favor dos “rebeldes”. Agora, também a OTAN por-se-á a atacar militarmente a Líbia.



Em termos mais simples, a OTAN acaba de entrar no sangrento negócio de derrubar governos, “mudança de regimes”, em países fora da Europa nos quais interesses ocidentais sejam ameaçados.



A declaração da OTAN dizia que a aliança está preparada para “iniciar imediatamente a operação efetiva”. Significa que a OTAN já sabia que seria encarregada dessa ação e manteve-se em estado de prontidão, enquanto todos os analistas ocidentais, pela imprensa, sugeriam que a aliança estaria sendo empurrada para um dilema. Muito evidentemente tudo acontece segundo plano bem preparado – armar os ‘rebeldes’ líbios; instigar o conflito até situação extrema; e, então, interferir diretamente, com poder bélico gigantesco, para derrubar um governo, digo, para “mudar um regime”.



É a primeira vez que a OTAN inicia operação militar na África/Oriente Médio. As operações “fora de área”, da OTAN começaram, no mundo, nos Bálcãs, quando se tratou de dividir a antiga Iugoslávia; e a guerra do Afeganistão forneceu o cenário para que a OTAN chegasse à Ásia sul e central.



Ninguém precisa esperar o resultado da conferência das potências ocidentais que acontecerá em Londres na 3ª-feira, para entender as dimensões políticas da missão da OTAN na Líbia.



As potências ocidentais estão passando a perna na ONU, depois de obter uma “legitimidade”, de fato, uma folha de parreira, mediante a R-1.073. Os dois membros que têm poder de veto no Conselho de Segurança – Rússia e China – já acionaram as respectivas máquinas de propaganda, mas é altamente improvável que algum dos dois considere, mesmo que remotamente, a possibilidade de convocar sessão do Conselho de Segurança para enfrentar, de fato as novas dimensões do problema da Líbia. Assim sendo, EUA, França e Inglaterra estão totalmente livres para desenhar como bem entendam a missão da OTAN. Se os ataques aéreos não conseguirem arrancar de lá o governo Gaddafi, a OTAN será convocada para mandar suas tropas de ocupação por terra.



É possível até que Rússia e China estejam estimando que não será de todo mau para seus interesses, se o ocidente envolver-se em guerra na Líbia. Ocupados na Líbia, diminuem os riscos de que a OTAN e o ocidente se metam pelos quintais russos ou chineses, pelo menos por algum tempo.



Assim sendo, só resta a União Africana para protestar contra operações militares decididas unilateralmente contra o governo líbio. O problema é que, como dizem que Stalin teria perguntado sobre o papa: “Quantas divisões tem a União Africana?”. A resposta é óbvia: “Zilch”, necas.



Feliz, só o presidente Barack Obama, dos EUA. Afinal, é a OTAN, não os EUA, que inauguram um novo, grande espaço, para longas guerras.



Embaixador*M K Bhadrakumar foi diplomata de carreira; serviu no Ministério de Relações Exteriores da Índia. Ocupou postos diplomáticos em vários países, incluindo União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão, Kuwait e Turquia.