sexta-feira, 4 de março de 2016

JN: mesmo que seja mentira, vai virar verdade

247 – Numa reportagem de 26 minutos e 31 segundos, apresentada na noite de ontem, o Jornal Nacional, da Rede Globo, construiu uma obra-prima na arte de manipulação de massas.

Maior monopólio de comunicação do mundo, a Globo se dedicou a transformar em verdade uma "delação" negada pelo "delator" e por seus advogados.

A reportagem apresentada por William Bonner e Renata Vasconcelos foi dividida em cinco bloco (confira aqui). Nos primeiros 19 minutos e meio, a "delação" foi tratada como verdade absoluta. Apenas aos 5 minutos e 33 segundos do terceiro do bloco, a nota do senador Delcídio foi comentada por Renata Vasconcelos, que relativizou seu conteúdo. Delcídio contestou a autenticidade da "delação", mas isso, para a Globo, não impediu que um documento inautêntico fosse tratado como verdadeiro.

Em seguida, William Bonner afirmou que a procuradoria-geral da República não divulgou nota desmentindo a delação. De fato, não houve nota. No entanto, o procurador-geral, Rodrigo Janot, negou a existência dessa delação e afirmou não haver nenhum fato jurídico, mas apenas uma reportagem jornalística (confira aqui). 

No fim, o repórter Roberto Kovalick passou a tratar a "delação" no condicional. E afirmou que, sendo concretizada ou não, "agora não tem mais volta". Ou seja: a Globo quer transformar em verdade aquilo que atende aos seus interesses políticos e econômicos.

http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/219594/JN-mesmo-que-seja-mentira-vai-virar-verdade.htm

Delação inexistente vira fato consumado na mídia

247 – Os jornais brasileiros, que em 1964 se uniram para apoiar uma ditadura militar no País e hoje estão engajados na derrubada do governo da presidente Dilma Rousseff, abriram suas cartas nesta sexta-feira. O jogo – ou melhor, o golpe – consiste em transformar em fato consumado uma delação inexistente.

Na noite de ontem, as manchetes do Uol, portal do grupo Folha, assim como do Estadão online, destacavam que o suposto "delator", o senador Delcídio Amaral (PT-MS) não reconhecia a autenticidade da "delação" que lhe era atribuída. Assim como seus advogados. Portanto, não existe delação.

No entanto, a ordem unida dos três principais jornais do País, Globo, Folha e Estado (repita-se, três apoiadores do regime militar de 1964) é tratar como verdadeira a delação que não houve.

Eis as manchetes:

Globo – Delação de Delcídio põe Dilma no centro da Lava-Jato.

Folha – Ex-líder do governo liga Dilma e Lula à Lava Jato, e oposição pede renúncia.
Estado – Delcídio acusa Dilma e Lula na Lava Jato e agrava crise política.

Uma delação premiada é um documento jurídico claro. Trata-se de um acordo, assinado pelo delator, por seus advogados e pelo Ministério Público na presença de um juiz.

Sem isso, trata-se apenas de um pedaço de papel apócrifo, como foi definido pela presidente Dilma Rousseff (leia aqui).

A suposta delação de Delcídio, como demonstrou o colunista Paulo Moreira Leite (leia aqui), pode ser um documento forjado ou até uma eventual proposta de colaboração que não foi concretizada. É possível que, quando esteve preso, e sob intensa coerção psicológica, Delcídio tenha cogitado delatar. No entanto, ele não o fez, porque foi solto pelo ministro Teori Zavascki, que avaliou que sua prisão preventiva, após a apresentação da denúncia, havia se tornado desnecessária. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, também tratou a "delação" de Delcídio como um fato jornalístico – e não jurídico.

Torturando a realidade

O jogo dos meios de comunicação, que representam poderosos interesses econômicos, será agora forçar de qualquer maneira o senador Delcídio a transformar um pedaço de papel apócrifo numa delação real.

Essa estratégia, no entanto, encontra dificuldades. Na defesa verdadeira apresentada por Delcídio, ele próprio se assumiu como um bravateiro. Disse que no famoso diálogo que o levou à prisão, gravado por Bernardo Cerveró, filho de Nestor Cerveró, ele dizia bravatas em relação ao banqueiro André Esteves, que foi preso, e também em relação aos ministros do Supremo Tribunal Federal, sobre os quais dizia ter grande influência.

Ora, se Delcídio admitia dizer bravatas em relação a um banqueiro e a todos os ministros do STF, porque não faria o mesmo em relação à presidente Dilma Rousseff e ao ex-presidente Lula, numa eventual situação de desespero?

O fato concreto é um só: não existe delação premiada alguma. Mas o jogo bruto da mídia, engajada em mais um golpe contra a democracia brasileira, é transformar uma ficção, que até pode ter algum lastro na realidade, em verdade absoluta e incontestável.

http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/219592/Dela%C3%A7%C3%A3o-inexistente-vira-fato-consumado-na-m%C3%ADdia.htm

guerra total da Globo pra exterminar a esquerda

A Globo, nesta quinta-feira, dobrou a aposta. O alvo é Lula, depois Dilma. E por fim o PT. Cercados, a esquerda e os movimentos sociais começam a travar uma espécie de batalha de Leningrado no Brasil. 
por Rodrigo Vianna

aliancadopoder

Foi um massacre com mais de quarenta minutos. Estou numa pequena cidade no interior do Ceará. Na pracinha central, numa pequena lanchonete, vi (mais do que ouvi) as TVs ligadas na Globo, no horário do Jornal Nacional.

Duas matérias (cada uma com cerca de 4 minutos, uma eternidade em TV) promoveram a “leitura” da revista Istoé. Sim, numa estratégia antitelevisiva, que só se justifica nos momentos de intervenção política total dentro do noticiário, a revista foi exposta na tela, enquanto os repórteres escalados por Ali Kamel liam cada trecho da suposta delação de Delcídio Amaral.

Lembro que em 2006, ao lado de outros colegas jornalistas, entrei na sala do diretor da Globo em São Paulo (onde eu trabalhava), e cobrei: por que não repercutimos o que a Istoé falou sobre Serra e a máfia das ambulâncias? Por que, eu insisti, só atacamos um lado (que naquela época, claro, já era o PT com seus “aloprados”)? A resposta do diretor da Globo: “não repercutimos a Istoé, porque é uma revista suspeita de vender espaço jornalístico a quem pagar mais.”

Em 2016, Ali Kamel usou a Istoé contra Lula nesta quinta-feira. E depois veio muito mais no massacre do JN: “juristas” a favor do impeachment, especulando em cima de uma suposta delação. Ministros defendendo o governo, mas cuidadosamente colocados (pela edição da Globo) numa defensiva sem saída. A narrativa era a de um governo que cai.

Mas a cereja do bolo era outra: o ataque a Lula. Primeiro, na boca de Delcídio e da revista Istoé (de novo!). Depois, numa “reportagem” que significou o retorno da Globo ao triplex do Guarujá, incluindo fotos de Marisa e de um dos filhos de Lula com os rostos levemente deformados.

João Roberto Marinho está possesso porque a filha dele foi exposta na internet: blogueiros descobriram as peripécias do ex-marido de Paula Marinho e divulgaram até endereços da família bilionária. O capataz dos Marinho, Ali Kamel, deu então o troco no JN: expôs a família Lula, de novo. Com as expressões deformadas…

Mas não interessa tanto contar em detalhes o que foi o JN. A ideia desse texto é outra: alertar que a edição do Jornal Nacional cumpre uma dupla tarefa. Primeiro, preparar o terreno para nova operação da PF (agora centrada em Lula) que deve acontecer nos próximos dias.

Um observador experimentado da política carioca me disse: os Marinho não promoveriam esse massacre, se não soubessem que o ataque é apenas parte de uma escalada maior. Portanto, estamos já numa escalada sem volta.

Em segundo lugar, o JN cumpre a tarefa de reunir a oposição e dar o grito de guerra: “avancem! e sejam rápidos”.

Na pracinha do Ceará, onde eu estava, reparei que só havia gente com 40 anos ou mais olhando para a TV. Os jovens namoravam, tomavam sorvete, olhavam o celular.

A Globo não tem o poder de outras épocas, é verdade. Mas segue a cumprir o papel de organizar a tropa conservadora. O sinal está dado: se forem para o ataque, bravos líderes da oposição, vocês terão o apoio da máquina midiática da Globo. Mas não titubeiem. Avancem!

A guerra contra Lula foi declarada há vários meses. Nas últimas semanas, Lula topou a briga (até porque não tinha saída), e também declarou guerra: “nesse país, não há partido de oposição,  partido é a Globo”, disse ele.

A Globo, nesta quinta-feira, dobrou a aposta. O alvo é Lula, depois Dilma. E por fim o PT.
Essa guerra, se tiver o desfecho que a família Marinho pretende, pode transformar o Brasil numa Colômbia.

A esquerda seria proscrita. Lula seria preso. Os movimentos sociais voltariam a ser o que sempre foram: forças marginais, excluídas do jogo político. Os sindicatos seriam massacrados (já há CPI a caminho).

Por enquanto, é a direita apenas que exibe seu poder – com a violência simbólica de um JN tomado pelo ódio, como vimos hoje. Mas se a esquerda for jogada mesmo pra fora do jogo institucional, a escalada de violência política pode ganhar outros contornos, atingindo também aqueles que – do Jardim Botânico, ou de seus gabinetes acarpetados em Curitiba e Brasília – lançaram o país nessa espiral.

Lula não escolheu a hora de combater. A guerra chegou até ele. Os que se reúnem em torno do petista devem ter a certeza de que estamos diante de um momento decisivo. Agora, só um dos lados vai sobreviver.

O lado de lá é mais forte (até pela tibieza de um partido e de um governo que apostaram em Cardosos e Delcídios para dar “governabilidade”).

O que pode acontecer?

“A sensação de cerco às vezes faz milagre na política”, disse um amigo que também gosta de metáforas bélicas. O cerco ao lulismo ficou mais forte hoje: há uma espécie de batalha de Leningrado em curso.

Os que se defendem parecem fracos e sem munição, como se sentiam os soviéticos diante do avanço nazista. Mas, a favor da turma que defendia Leningrado, havia um fator imponderável: sabiam que deviam resistir até o último homem, casa a casa.

A esquerda no Brasil (com todos seus defeitos, com todas as limitações do que foi o PT nos últimos anos) trava, a partir de agora, sua batalha de Leningrado.

Lula também está cercado. E decidiu lutar. Não é pouco.

http://www.revistaforum.com.br/rodrigovianna/geral/jn-promove-massacre-contra-lula-a-guerra-total-da-globo-pra-exterminar-o-pt/