sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

JOAQUIM BARBOSA TEM JUSTIFICATIVA?

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GREENHALGH AO 247: “DIRCEU E DELÚBIO VIRARAM REFÉNS"

E se isto tivesse ocorrido na Venezuela?




Por: Atilio Boron

Na Aporrea, traduzido por Jair de Souza

No passado fim de semana as agências de notícias informaram sobre o atentado sofrido no domingo 23 de fevereiro por Aída Avella, a candidata presidencial da União Patriótica para as próximas eleições que terão lugar na Colômbia em 25 de maio.

Avella ia acompanhada por Carlos Lozano, candidato a senador por essa força política, quando transitavam numa caravana pelo Departamento de Arauca, fronteiriço com a Venezuela. Subitamente, seu veículo foi atacado por dois pistoleiros desde uma motocicleta de alta cilindrada, os quais dispararam com armas de grosso calibre tanto ao automóvel blindado em que se encontrava Avella e Lozano como aos de sua escolta.

Felizmente, não houve vítimas fatais a lamentar. Se os matadores tivessem atingido seu objetivo, Avella teria sido a terceira candidata presidencial da União Patriótica a ser liquidada e uma mais, provavelmente com Lozano, a engrossar a lista de uns 5.000 militantes da UP assassinados pela direita colombiana, no governo e fora dele.

A UP surgiu como resultado de uma negociação entre as FARC e o governo do presidente Belisario Betancur em princípios da década dos oitenta, fruto da qual foi feito um acordo, em 1984, para admitir a incorporação ao jogo institucional de uma força política partidária que possibilitasse a progressiva incorporação da guerrilha à legalidade política do país.

Assim se conformou a UP, que apresentou candidatos a todos os cargos em disputa.

Porém, esta iniciativa abriu as portas do inferno e tanto os paramilitares como os narcos e as próprias forças de segurança do Estado colombiano aproveitaram a vinda à superfície dos quadros e militância da esquerda – fossem eles guerrilheiros ou não – para perpetrar um genocídio político sem precedentes, exterminando aqueles que haviam confiado no que fora pactuado com Betancur e acreditaram que o estado de direito e a vontade de pôr fim ao conflito armado tinham finalmente sido implantados na Colômbia.

Como consequência deste banho de sangue foram assassinados os dois candidatos presidenciais apresentados sucessivamente pela UP em 1985 – Jaime Pardo Leal e Bernardo Jaramillo Ossa – aos quais se somaram 8 parlamentares, 13 deputados, 70 vereadores, 11 prefeitos, além de milhares de militantes de base desaparecidos ou mortos por esta sangrenta operação.

Esta história trágica não é suficientemente conhecida, mas constitui o pano de fundo das difíceis negociações travadas em Havana entre o governo colombiano e as FARC, cujos integrantes e simpatizantes se perguntam, à luz dos crueis ensinamentos da verdade histórica, se a coisa agora poderá ser diferente.

No entanto, o objetivo destas linhas não é resenhar este deplorável capítulo da história colombiana e sim ressaltar a infame manipulação da imprensa de direita – na Argentina como no resto do mundo – que silenciou o atentado sofrido por Avella, ao passo que difundia manchetes em oito colunas com suas mentiras e suas fotos forjadas sobre os incidentes e as mortes desencadeadas pela tentativa golpista na Venezuela.

Conclamo aos leitores tão somente a pensar como teria reagido a imprensa autoproclamada “livre e independente”, que nos manipula e desinforma, se um atentado similar tivesse ocorrido na Venezuela contra Henrique Capriles. A gritaria da SIP, da CNN, da NTN24 e de todas as cadeias de rádio e televisão, além da imprensa escrita, teria sido ensurdecedora.

E os Vargas Llosa, Montaner, Krauze e companhia nos teriam sufocado com suas filípicas condenações à “tirania chavista” e seu fustigamento criminoso praticado contra seus opositores.

Mas, nada disto aconteceu porque a Colômbia está midiática e politicamente blindada pelo império e seus comparsas regionais. A notícia, nos escassos casos em que foi exposta, foi relegada a uma breve nota nas páginas interiores de alguns jornais, ou a um fugaz flash no rádio ou na televisão.

Claro que a Colômbia é uma peça vital no xadrez do império na região: não à toa seu Ministro de Defesa, Juan Carlos Pinzón, elaborou um minucioso documento de 55 páginas dirigido a seus parceiros do Pentágono e da Casa Branca, incluindo o diretor da CIA, John Brennan, com os quais se reunirá nesta sexta-feira.

Escrito em inglês perfeito, para facilitar o trabalho de seus anfitriões, foi dado a conhecer à imprensa por algum funcionário do ministério.

Seu conhecimento permitiu comprovar, entre outras coisas, que Bogotá ratifica sua total submissão aos imperativos estratégicos dos Estados Unidos e a necessidade de reforçar a cooperação entre ambos países, tendo em conta os graves “desafios potenciais” que representam para a região governos como os da Nicarágua, Venezuela, Rússia e Irã.

Por isso um atentado como o sofrido por Avella não é notícia, enquanto que as tropelias dos opositores venezuelanos aparecem como a nobre cruzada de uns patriotas desejosos de pôr fim a uma tirania abjeta.

Com tal de atingir este objetivo supremo, deixa-se de lado qualquer limite ou escrúpulo moral.
Por isso o inverossímil Prêmio Nobel da Paz que ocupa a Casa Branca se permite exigir do presidente Maduro que ponha em liberdade aos sediciosos: quer dizer, não os manifestantes que protestam pacificamente, senão que aqueles que por meio da violência conspiram para derrubar um governo legítimo surgido das urnas (e que se cometessem o mesmo nos Estados Unidos passariam o resto de suas vidas numa prisão de segurança máxima), ao passo que mantém injustamente na prisão aos lutadores antiterroristas cubanos e aos presos de Guantánamo, enjaulados como se fossem animais ferozes e privados do mais elementar direito à defesa e a um juízo justo.

Disto tudo esta imprensa “livre e independente” não disse, e nem dirá, uma só palavra.

PS do Viomundo: A CNN en español é máquina do golpe 24 horas por dia, 7 dias por semana.

http://www.viomundo.com.br/denuncias/atilio-boron-e-se-tivesse-acontecido-na-venezuela.html

Recondo: Barbosa fez conta de chegada

247 - O jornalista Felipe Recondo, a quem o presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, mandou "chafurdar no lixo", afirma, em artigo publicado no site do Estadão, que o ministro calculou as penas dos condenados na Ação Penal 470 para que, uma vez, confirmado o crime de formação de quadrilha, todos fossem colocados no regime fechado. Por isso, o presidente do STF teria ficado tão revoltado com o voto do ministro Luís Roberto Barroso.

"Barroso não sabia dessa conversa ao atribuir ao tribunal uma manobra para punir José Dirceu e companhia e manter vivo um dos símbolos do escândalo: a quadrilha montada no centro do governo Lula para a compra de apoio político no Congresso Nacional. Barbosa, por sua vez, nunca admitira o que falava em reserva. Na quarta-feira, para a crítica de muitos, falou com a sinceridade que lhe é peculiar. Sim, ele calculara as penas para evitar a prescrição", afirma o jornalista.

Abaixo o texto na íntegra:

Análise: As operações aritméticas do ministro Joaquim Barbosa
Felipe Recondo - O Estado de S. Paulo

Barbosa acabava de admitir abertamente o que o ministro Luís Roberto Barroso dizia com certos pudores. A pena para os condenados pelo crime de formação de quadrilha no julgamento do mensalão foi calculada, por ele, Barbosa, para evitar a prescrição. Por tabela, disse Barroso, o artifício matemático fez com que réus que cumpririam pena em regime semiaberto passassem para o regime fechado.

A assertiva de Barroso não era uma abstração ou um discurso meramente político. A mesma convicção teve, para citar apenas um, o ministro Marco Aurélio Mello. Em seu voto, ele reconheceu a existência de uma quadrilha, mas considerou que as penas eram desproporcionais. E votou para reduzi-las a patamares que levariam, ao fim e ao cabo, à prescrição. Algo que Barbosa há muito temia, como se verá a seguir.

Foi essa suposição de Barroso que principiou a saraivada de acusações e insinuações do presidente do STF contra os demais ministros. Eram 17h33, quando Barroso apenas repetiu o que os advogados falavam desde 2012 e que outros ministros falavam em caráter reservado.

Joaquim Barbosa acompanhava a sessão de pé, reticente ao voto de Barroso, mas ainda calmo. Ao ouvir a ilação, sentou-se de forma apressada e puxou para si os microfones que ficam à sua frente. Parecia que dali viria um desmentido categórico, afinal a acusação que lhe era feita foi grave. Elevar a pena de prisão imposta apenas com o fim de evitar a prescrição, dissimulando com isso a demora do tribunal para julgar o caso, é um ato arbitrário que se afasta do princípio de uma justiça imparcial e impessoal.

Mas Joaquim Barbosa não repeliu a acusação. Se o fizesse, de fato, estaria faltando com a sua verdade, não estaria de acordo com a sua consciência. Três anos antes, em março de 2011, Joaquim Barbosa estava de pé em seu gabinete. Não se sentava por conta do problema que ainda supunha atacar suas costas. Foi saber depois, que suas dores tinham origem no quadril.

A porta mal abrira e ele iniciava um desabafo. Dizia estar muito preocupado com o julgamento do mensalão. A instrução criminal, com depoimentos e coleta de provas e perícias, tinha acabado. E, disse o ministro, não havia provas contra o principal dos envolvidos, o ministro José Dirceu. O então procurador-geral da República, Roberto Gurgel, fizera um trabalho deficiente, nas palavras do ministro.

Piorava a situação a passagem do tempo. Disse então o ministro: em setembro daquele ano, o crime de formação de quadrilha estaria prescrito. Afinal, transcorreram quatro anos desde o recebimento da denúncia contra o mensalão, em 2007. Barbosa levava em conta, ao dizer isso, que a pena de quadrilha não passaria de dois anos. Com a pena nesse patamar, a prescrição estaria dada. Traçou, naquele dia em seu gabinete, um cenário catastrófico.

O jornal O Estado de S. Paulo publicou, no dia 26 de março de 2011, uma matéria que expunha as preocupações que vinham de dentro do Supremo. O título era: "Prescrição do crime de formação de quadrilha esvazia processo do mensalão".

Dias depois, o assunto provocava debates na televisão. Novamente, Joaquim Barbosa, de pé em seu gabinete, pergunta de onde saiu aquela informação. A pergunta era surpreendente. Afinal, a informação tinha saído de sua boca. Ele então questiona com certa ironia: "E se eu der (como pena) 2 anos e 1 semana?".

Barroso não sabia dessa conversa ao atribuir ao tribunal uma manobra para punir José Dirceu e companhia e manter vivo um dos símbolos do escândalo: a quadrilha montada no centro do governo Lula para a compra de apoio político no Congresso Nacional. Barbosa, por sua vez, nunca admitira o que falava em reserva. Na quarta-feira, para a crítica de muitos, falou com a sinceridade que lhe é peculiar. Sim, ele calculara as penas para evitar a prescrição. "Ora!"

Felipe Recondo é repórter do jornal O Estado de S. Paulo em Brasília

http://www.brasil247.com/pt/247/brasil/131872/Recondo-Barbosa-fez-conta-de-chegada.htm