segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Marcos Coimbra: a oposição é a mídia. Isso é democracia?


18 de agosto de 2014 | 15:02 Autor: Fernando Brito
midia
Não é preciso acrescentar nada ao que diz Marcos Coimbra em seu artigo na CartaCapital.
Presidente do Vox Populi, entende mais dos processos de formação de opinião pública – e e de sua expressão nas pesquisas – do que qualquer um de nós.
É, apenas, um diagnóstico completo do que vem se passando não agora, mas durante quase todo um governo que foi tratado como “campanha eleitoral” pela imprensa brasileira.
E, também, um retrato de quanto nos custa o fato de que o PT continue achando que o tigre midiático não morderá se receber afagos e boa ração publicitária.
Isso não seria um problema se o castigado fosse apenas um partido que se desmilinguiu e perdeu sua combatividade, se não pusesse, com isso, em perigo de ser levado de cambulhada um processo de transformação que, mesmo tímida, este país precisa se quiser ter um destino próprio e algo próximo de justiça para seus filhos.
Não há problema algum em termos uma mídia onde haja oposição, é da democracia.
O que não é da democracia é ter a mídia como oposição, o partido único da oposição, dono exclusivo da “verdade” incontestável.
Mais, dono da vontade nacional, a tal ponto que governantes eleitos baixem-lhe eternamente a cabeça.

As eleições e a mídia

Marcos Coimbra
Na próxima terça 19, com o início da propaganda eleitoral na televisão e no rádio, entraremos na etapa final da mais longa eleição de nossa história. Começou em 2011 e nossa vida política gira em torno dela desde então.
A batalha da sucessão de Dilma Rousseff foi iniciada quando cessou o curto período de lua de mel com as oposições, no primeiro ano de governo. Talvez em razão do vexame protagonizado por José Serra na campanha, o antipetismo andava em baixa.
Durou pouco. Na entrada de 2012, o clima político deteriorou-se. As oposições perceberam que, se não fizessem nada, marchariam para nova derrota na eleição deste ano. Ao analisar as pesquisas de avaliação do governo e notar que Dilma batia recordes de popularidade a cada mês, notaram ser elevadas as possibilidades de o PT chegar aos 16 anos no poder. E particularmente odiosa. Serem derrotadas outra vez por Dilma doía mais do que perder para Lula.
Ela era “apenas” uma gestora petista, sem a aura mitológica do ex-presidente. Sua primeira eleição podia ser creditada, quase integralmente, à força do mito. Mas a segunda, se viesse, seria a vitória de uma candidatura “normal”. Quantas outras poderiam se seguir?
A perspectiva era inaceitável para os adversários do PT. Na sociedade, no sistema político e no empresariado, seus expoentes arregaçaram as mangas para evitá-la. A ponta de lança da reação foi a mídia hegemônica, em especial a Rede Globo.
Recordar é viver. Muitos se esqueceram, outros nem souberam, mas a realidade é que a “grande imprensa” formulou com clareza um projeto de intervenção na vida política nacional.
Não é teoria conspiratória. Quem disse que os “meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste País, já que a oposição está profundamente fragilizada”, foi a Associação Nacional de Jornais, por meio de sua presidenta, uma das principais executivas do Grupo Folha. Enunciada em 2010, a frase nunca foi tão verdadeira quanto de 2012 para cá.
Como resultado da atuação da vanguarda midiática oposicionista, estamos há três anos imersos na eleição de 2014. A derrota de Dilma é buscada de todas as formas. O “mensalão”? Joaquim Barbosa? A “festa cívica” do “povo nas ruas”? O “vexame” da Copa do Mundo? A “compra da refinaria”? O “fim do Plano Real”? A “volta da inflação”? O “apagão” na energia? A “crise na economia”? A “desindustrialização”? O “desemprego”?
Nada disso nunca teve verdadeira importância. Tudo foi e continua a ser parte do esforço para diminuir a chance de reeleição da presidenta.
Ou alguém acha que os analistas e comentaristas dessa mídia acreditam, de fato, na cantilena que apregoam quando se vestem de verde-amarelo e se dizem preocupados com a moral pública, os empregos dos trabalhadores ou a renda dos pobres? Ou que queiram fazer “bom jornalismo”?
Temos agora uma ferramenta para elucidar o papel da mídia na eleição. Por iniciativa do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, está no ar o manchetômetro (http://www.manchetometro.com.br), um site que acompanha a cobertura diária da eleição na “grande imprensa”: os jornais Folha de S.Paulo, O Globo e O Estado de S. Paulo, além do Jornal Nacional da Globo (como se percebe, os organizadores do projeto julgaram desnecessário analisar o “jornalismo” do Grupo Abril).
Lá, vê-se que os três principais candidatos a presidente foram objeto, nesses veículos, de 275 reportagens de capa desde o início de 2014. Aécio Neves, de 38, com 19 favoráveis e 19 desfavoráveis. Tamanha neutralidade equidistante cessa com Dilma: ela foi tratada em 210 textos de capa. Do total, 15 são favoráveis e 195 desfavoráveis. Em outras palavras: 93% de abordagens negativas.
É assim que a população brasileira tem sido servida de informações desde quando começou o ano eleitoral. É isso que faz a mídia para exercer o papel autoassumido de ser a “oposição de fato”.
O pior é que a influência dessas empresas ultrapassa o noticiário. Elas contratam as pesquisas eleitorais que desejam e as divulgam quando e como querem. E organizam os debates entre candidatos.
Está mais que na hora de discutir a interferência dessa mídia no processo eleitoral e, por extensão, na democracia brasileira.
http://tijolaco.com.br/blog/?p=20150

BLÁBLÁRINA VAI FAZER UM ESTRAGO. NA DIREITA !

Sem Eduardo, Bláblá, Cerra, Aecioporto e FHC – quem sobra do lado de lá ?

O ansioso blogueiro localizou o Profeta Tirésias numa de suas perambulações na região da Papuda.

- E aí, Profeta, e a sórdida pesquisa da Fel-lha (*) ?

- Cara, esse Bessinha vai matar o Otavinho … pesquisa de boca de túmulo …

- É verdade. Já, já vão dizer que a Bláblá é a quarta menina do Milagre de Fátima…

- Calma, você consegue ser impiedoso.

- Impiedoso é o Otavinho, Profeta. Mas, e daí ? O Otavinho diz que ela ganha no segundo turno …

- Fogo de palha.

- Não dura ?

- Não dura.

- Por que ?

- Porque ela e o Eduardo não tinham consistência.

- Era um casamento de conveniência, de fachada.

- Mais do que isso: não tinha e não tem base social, não se sustenta em nada. Tanto que ela não fundou a Rede e ele não conseguiu mais de um minuto no horário eleitoral.

- Quem perde com ela ?

- O Aécio.

- Quem mais ?

- O Serra.

- Quem mais ?

- O PSB.

- Mas, o PSB tanto faz como tanto fez …

- Não, não, caro, os candidatos majoritários do PSB estão fritos com a Marina…

- Bláblárina, por favor, ou se preferir, Antonia Conselheira.

– Prefiro Fadinha da Floresta.

- Também serve.

- Pois é: a Fadinha da Floresta ferra todos os candidatos do PSB a cargos majoritários, a governador e ao Senado, escolhidos pelo Eduardo.

- O que são “todos” ?.

- Todos.

- O de Pernambuco também ?

- Esse está mal, com ou sem Eduardo.

- Então, o PSB vai morrer.

- Morreu no Guarujá.

- E a carta compromisso do Roberto Amaral ?

- Ela vai devolver sem abrir.

- Não sobra ninguém, então.

- Quem ia sobrar percebeu a fria e foi embora a tempo: os irmãos Gomes do Ceará.

- Que clarividência !

- Eles viram que Eduardo ia para a Direita.

- E eles sumiriam junto, afogados na Direita.

- Quem vai perder é a Direita.

- Por que essa certeza, Profeta ?

- Eduardo morreu. A Fadinha vai perder. Aecioporto submergiu no aeroporto do Titio. Serra talvez não se eleja senador. O FHC, como diz você, é um espécime de zoologia fantástica e só existe no PiG (**). Se perder em Minas e ou em São Paulo, o PSDB vira um PFL… 

- E daí, Tirésias ?

- Quem sobra do lado de lá ?

O Profeta desliga abruptamente, porque a Fel-lha (*) pode identificar o celular …

Pano rápido.


Paulo Henrique Amorim


(*) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é,  porque o dono é o que é; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.

(**) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.
http://www.cartamaior.com.br/?/Editorial/Deus-e-o-diabo-na-terra-da-Globo/31627

XÔ, BLÁBLÁ ! EDUARDO NÃO FOI VARGAS

É preciso evocar a “providência divina” para justificar esse frankenstein histórico

Mal comparando ...

Saul Leblon na Carta Maior escreveu outro imperdivel artigo:

DEUS E O DIABO NA TERRA DA GLOBO




Há 60 anos do suicídio de Vargas, o conservadorismo reedita em farsa a tragédia. Ensaia um simulacro de catarse nacional varguista em torno da morte de Campos.


O conservadorismo brasileiro já viu o poder escorrer pelos dedos algumas vezes. Mas nunca de forma tão abrupta como há 60 anos, quando Getúlio Vargas cometeu o suicídio político mais demolidor da história em 24 de agosto de 1954.

Chocada com a morte de um governante que preferiu renunciar à vida a abdicar do mandato como exigia o cerco virulento das elites, a população foi às ruas em um misto de consternação e fúria para perseguir e escorraçar porta-vozes do golpismo contra o Presidente.

A experiência da tragédia abalou o cimento da resignação cotidiana. No Rio de Janeiro, a multidão elegeu a dedo o seu alvo simbólico: cercou e depredou a sede da rádio Globo que saiu do ar.

Carros de entrega do diário da família Marinho foram caçados, tombados, queimados nas vias públicas. Prédios de outros jornais perfilados no ultimato pela renúncia conheceram a força da ira popular.

Com a mesma manchete do dia anterior, atualizada pela fatalidade, os exemplares do único jornal favorável ao governo, o Última Hora, eram disputados nas esquinas por uma população desesperada, perplexa, em luto.

A tiragem extra de 850 mil exemplares, providenciada a toque de caixa pelo editor Samuel Wainer, sustentou a declaração premonitória de Getúlio 24 horas antes. Agora, porém, revigorada pela mão do editor: “O presidente cumpriu a palavra: ”Só morto sairei do Catete!”.

O resto é sabido.

O sacrifício impôs duro recuo ao golpismo que só executaria seu plano original de tomar o poder dez anos depois, em 1964.

Passados exatos 60 anos da morte de Vargas, o conservadorismo brasileiro reedita agora uma trama ainda mais ousada.

Construir um simulacro de catarse nacional varguista a seu favor, emprestando à justa consternação pela morte de Eduardo Campos uma dimensão histórica que ela não tem.

Assim como a de Tancredo Neves também não teve.

Ambas por uma razão difícil de abstrair: nem um, nem outro personificaram, de fato –e assumidamente– um polo da correlação de forças em disputa pelo comando da sociedade e do desenvolvimento brasileiro.

Vargas, ao contrário, encarnara um divisor real, consagrado nas urnas de outubro de 1950, de forma esmagadora, apesar do asfixiante boicote que lhe foi imposto pela mídia.

Na resposta ao cerco, a campanha de Vargas levaria uma frota de caminhões a cruzar o país munida de caixas de som e filipetas.

Em cada morada do voto fazia-se a ampla distribuição de panfletos. Neles, a promessa revolucionária –para a época– de um Brasil nacionalista e de feição popular.

Quatro milhões de eleitores deram seu voto a esse desassombro; o dobro dos obtidos pelo ‘brigadeiro das elites’, Eduardo Gomes.

Iniciou-se, então, aquilo que passou à historia como o ‘segundo Vargas’, para se diferenciar de seu primeiro ciclo no poder, iniciado com a revolução de 1930, que se estendeu pela ditadura de 37.

O ‘segundo Vargas’ criou o BNDE (sem o ’s’ ainda) em 1952; a Petrobrás em 1953, no auge da campanha ‘o petróleo é nosso’ ,e decretou um aumento de 100% do salário mínimo no 1º de Maio de 1954.

Era uma rota de colisão incontornável.

Ao mesmo tempo em que espetara as estacas necessárias à dimensão industrializante da soberania nacional, com infraestrutura, restrições à mobilidade do capital estrangeiro e expansão do mercado interno, Vargas atraía as espirais de um cerco de interesses que hoje, como ontem e sempre sonegaram legitimidade a um dinâmica de desenvolvimento inclusiva.

Só uma grosseira remodelagem da história poderá atribuir a Eduardo Campo ou a seu avatar feminino idêntica importância histórica.

Nem mesmo com sinal trocado.

Campos, antes e, ao que tudo indica, Marina de agora em diante, transitam num espaço de ambiguidade resultante do fracasso conservador em tornar palatável a restauração neoliberal no país, após 12 anos de governo do PT.

Seu candidato do peito, José Serra, mostrou-se indigesto ao eleitor por duas vezes e, por fim, ao próprio partido. O digerível Aécio Neves antes mesmo do embicar no aeroporto da fazenda do tio Múcio, bateu num teto baixo em torno de 20% dos votos, insuficiente para arrastar Dilma ao 2º turno.

A delicada operação em curso consiste em dar abrangência nacional-varguista à comoção do povo pernambucano pela perda do líder que governou o estado por duas vezes; e de transferir esse sentimento para uma terceira persona, Marina Silva, de modo a injetar competitividade eleitoral em uma quarta, Aécio Neves, e assim provocar uma segunda volta às urnas na base do ‘todos contra Dilma’.

Não surpreende que a ‘providência divina’ seja evocada para costurar esse frankenstein histórico.

Nessa alquimia destinada a produzir um adversário sobre-humano, uma junção de vivos e mortos para derrotar Dilma, caminhamos perigosamente do êxtase para o delírio conservador.

Não é preciso esfalfar neurônios para imaginar quem será o núcleo diretor dessa superprodução destinada a reeditar em farsa a tragédia de 54.

A persistir a ladainha das últimas horas, ingressaremos num degrau grotesco de manipulação da opinião pública para sustentar o que se pretende a partir de um fato gerador que não o comporta.

Glauber Rocha que entendia a força do misticismo na sociedade brasileira sem dúvida trabalhou esses elementos de forma mais complexa do que a encenação grotesca que se anuncia como realidade.

Glauber morreu há 33 anos, em 22 de agosto de 1981. Tinha apenas 42 anos de idade, mas aos 25 já havia realizado Deus e o Diabo na Terra do Sol.

O filme estrearia no Rio de Janeiro três dias depois do lendário comício da Central do Brasil e duas semanas antes do golpe de 64.

‘Deus e o Diabo’ guarda a atualidade de uma metáfora da encruzilhada brasileira, uma sociedade mergulhada em contradições estruturais dilacerantes mas sem força transformadora para efetivar as famosas ‘reformas de base’.

No filme, o vaqueiro Manoel encarna o povo brasileiro, a ‘massa pobre’, diria Glauber. Injustiçado pelo coronel para quem trabalhava,  Manoel depois de mata-lo e ser perseguido engaja-se sucessivamente na procissão desesperada do beato Santo Sebastião e no bando de Lampião.

Mas não encontrará  redenção nessas manifestações primitivas de rebelião, que Glauber valorizava como uma ruptura com o racionalismo bem comportado e inócuo diante da opressiva ordem dominante.

O cinema do premiado diretor de ‘Terra em Transe’, porém, não hesitava também em denunciar os limites dessa chave alternativa,  expondo-a no paradoxo de uma estética aflitiva na qual os personagens parecem presos ao chão enquanto a câmera se move vertiginosamente ao seu redor.

Deus e o diabo se confundem na terra  do sol, parece nos dizer Glauber. A figura dilacerada do jagunço Antônio das Mortes, talvez o personagem matricial da sua saga, dividido entre a consciência social e a obrigação pistoleira, é a síntese dessa tragédia.

Mas nem tudo é ambiguidade. Pelo menos isso o cinema de Glauber, deixou claro em relação ao país: ‘Deus nos deu  a vida;  o Diabo inventou o arame farpado’, dizia .

A farsa em curso nos dias que correm visa justamente embaralhar esse divisor.

Quer  vender  arame farpado como sinônimo de redenção da vida brasileira.

A ver.
http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2014/08/18/xo-blabla-eduardo-nao-foi-vargas/

MARINA E O MITO DA TERCEIRA VIA


Enquanto Marina Silva caminha para sua segunda candidatura presidencial, a ser oficializada pelo PSB nos próximos dias, seus aliados fazem o possível para apresentá-la como concorrente da chamada terceira via.

Imaginar que Marina Silva pode ser enfeitada com características que envolvem uma concepção peculiar de luta política, um método de alcançar seus objetivos — e não apenas traços de personalidade — pode até ajudar o esforço de quem procura transformar a ex-ministra do Meio Ambiente em herdeira natural de Eduardo Campos, político conhecido pela capacidade de agregar e somar.

Mas também ajuda a alimentar uma ilusão, apoiada mais em aparência do que em consistência. Para ser uma verdadeira “terceira” opção entre dois pólos, seria preciso imaginar Marina numa posição equidistante entre PT e PSDB. É claro que isso está longe de acontecer. Com ela, o PSB pode até pegar o lugar de Aécio Neves num eventual segundo turno mas estará cada vez mais perto do PSDB. Não temos três vias. Mas 2 vias contra 1.

Falar em terceira via é uma forma de encobrir a política com a qual Marina se identifica. Seu lançamento, como candidata que se encontra no PSB por razões circunstanciais, não pode encobrir uma situação de linha auxiliar tucana — mesmo admitindo que, como mostra pesquisa do DataFolha divulgada hoje, ela possa se transformar em principal.

Marina deixou o governo Luiz Inácio Lula da Silva em maio de 2008. Sua saída foi apresentada na época por Paulo Adário, diretor de Campanhas do Greenpeace, como uma prova do “descaso do governo Lula com a causa ambiental e também com a proteção da Amazonia.” Na realidade, Lula abriu a porta de saída para Marina quando se convenceu que ela passara a utilizar o ministério para pavimentar sua própria candidatura presidencial em vôo individual, à margem de suas articulações, que conduziram ao lançamento da candidatura Dilma Rousseff.

O lance final que levou Marina a deixar o governo foi um ato de desprestígio – Lula entregou para Roberto Mangabeira Unger, ministro sem nenhuma base política maior, a coordenação do Plano Amazonia Sustentável, no qual Marina estivera envolvida profundamente por um longo período. Essa decisão foi o lance final de uma sucessão conflitos marcados por uma postura que pode ser definida com várias palavras – mas nunca pelos termos empregados para falar do estilo Eduardo Campos ou mesmo de Luiz Inácio Lula da Silva.

Dias antes, os aliados de Marina haviam transformado uma Conferência do Meio Ambiente, em Brasília, num ato de lançamento informal de sua candidatura, improvisando um coro “Marina Presidente” que causou surpresa em muitos dos presentes – e ajudou a entender porque na última hora o próprio Lula cancelou sua aparição no evento.

A primeira grande concessão de Lula a Marina terminou em decepção, na verdade. Envolvia o poder de deliberação no Comissão Nacional Técnico de Biossegurança, criada em 2005, com função de dar a palavra final sobre tudo o que envolve saúde humana, organismos vivos e meio ambiente. Atendendo a um pleito da então ministra do Meio Ambiente, Lula assegurou que seus dois representantes naquele órgão teriam o poder de voto sobre decisões, mesmo que tomadas por maioria. A ideia era criar um clima para forçar a negociação e o acordo. Não funcionou. Os representes do Meio Ambiente preferiam vetar a negociar, provocando uma revisão no estatuto do CNTBio que diminuiu o poder de barganha dos ambientalistas.

Quando o governo foi discutir a construção da usina de Santo Antonio, no Rio Madeira, apareceram dois debates relevantes, embora de natureza diferente. Um deles, envolvia o nível de retenção da represa, que poderia comprometer os reservatórios planejados. O outro, envolvia a sobrevivencia de um tipo de bagre, característico do Madeira. Estudos técnicos mostraram que era possível encontrar soluções aceitáveis para os dois problemas – mas Marina atuou no sentido de criar impasses duradouros em vez de abrir o caminho para soluções, postura que lembrava o que ocorria no governo Fernando Henrique, quando causas ambientalistas eram usadas para esvaziar investimentos públicos capazes de comprometer a política de austeridade do ministro da Fazenda Pedro Malan.

Essa postura se radicalizou após a saída de Marina do governo. Ela se distanciou do pensamento economico desenvolvimentista, que está na origem dos esforço para elevar o progresso humano e distribuir renda, para aproximar-se de economistas que priorizam o mercado, para quem a preservação da natureza serve de argumento para paralisar o crescimento e diminuir o consumo, postura que num país como o Brasil, gera as consequencias ruinosas que todos conhecemos.
Num país marcado pela nefasta tradição do pensamento único, a campanha de 2014 apresenta uma situação incomum de polarização política, marcada por candidaturas que, bem ou mal, com nitidez maior ou menor, expressam o conflito de grandes interesses presentes na sociedade – pobres contra ricos, 99% contra 1%, e assim por diante.

Você não precisa achar que um dos lados só faz o que é certo. Não. Muitas vezes erra, por incompetência, por falta de visão, pelas duas coisas, também. Mas é preciso compreender que, conforme o seu ponto de vista, uma vitória do outro lado trará, necessariamente, resultados ainda piores para os interesses que você julga mais importantes.

Diversos comentaristas costumam deplorar essa divisão do eleitorado com frases sentimentais, cultivando a mitologia do “governo para todos”, acima dos grandes conflitos — como se isso fosse possível na vida real e não somente no palanque. Mas eu não acho que a polarização seja um processo necessariamente ruim, pois lembra que nosso sistema político não pode ser concebido como uma geléia.

Ajuda o eleitor a participar de uma eleição que não é um concurso de personalidades nem torneio de retóricas belas e vazias — mas uma disputa em torno de prioridades e interesses profundos. A questão é saber quais interesses podem falar pelo conjunto da sociedade e trazer benefícios para a maioria. Este é o ponto.
http://paulomoreiraleite.com/2014/08/18/marina-silva-e-o-mito-da-terceira-via/