sexta-feira, 16 de maio de 2014

Programa do PT: Podemos pensar no futuro

Por que se fala tanto da “TV Revolta”, fenômeno da pregação de ódio seletivo na internet

João Vitor Almeida, o "João Revolta"
João Vitor Almeida Lima, o “João Revolta”

“Ponha um cretino fundamental em cima da mesa e você manda ele falar, ele dá um berro e, imediatamente, milhares de outros cretinos se organizam, se arregimentam e se aglutinam”, disse Nelson Rodrigues. “O cretino fundamental raspava a parede da sua humildade e na consciência da sua inépcia. Mas, agora, conseguiram finalmente pela superioridade numérica. Porque para um gênio, você tem um milhão de imbecis.”
João Vitor Almeida Lima, sonoplasta barbudo da rede Bandeirantes, é o criador da chamada TV Revolta, que virou notícia pela quantidade de seguidores. Ele tem um canal no YouTube e uma página no Facebook com quase 3 milhões de curtidas em que o que faz é reverberar ódio patológico.
É um fenômeno de audiência. De cima de seu banquinho, Lima conseguiu reunir uma multidão de gente como ele, supostamente indignada com “tudo isso que está aí”. Aparece em vídeos babando na gravata, falando palavrões, batendo na mesa, despejando sua intolerância mortal — seletiva, claro. Há memes, ilustrações, frases, o que for, contra cotas raciais, o funk, o Bolsa Família, a saúde, a Copa.
Deságua nos Grandes Satãs: o PT, Lula e Dilma. Não entra nada sobre nenhum outro partido.
No meio da ignorância, das ofensas e das simplificações, aparecem posts sobre cães abandonados, com ameaças aos donos que cometem essa crueldade, e frases de auto-ajuda. Lima usa um alter ego, “João Revolta”, para gravar seus depoimentos. João é, em sua descrição, um “rapaz de 30 e poucos anos indignado com o sistema global”.
Detona os direitos humanos, os pobres, os preguiçosos e vagabundos que dependem de programas sociais, enquanto defende Rachel Sheherazade, idolatra Joaquim Barbosa, afaga a polícia. Recentemente, ele afirmou que foi denunciado no YouTube e sua conta suspensa por alguns dias. Voltou mais animado ainda, desta vez alegando que foi censurado pelo governo. Governo comunista, claro.
A raiva online polui o ambiente da internet e se espalha de maneira viral. A página do Guarujá Alerta é um exemplo das consequências desse tipo de mentalidade num ambiente já envenenado. Qual o limite? O Facebook, sempre pronto a retirar do ar fotos de Scarlett Johansson, permite que abjeções como a TV Revolta continuem a mil.
Essa violência virtual é compartilhada por 3 milhões de cidadãos. Christopher Wolf, diretor de uma entidade internacional especializada em combater discursos de ódio na net, disse uma vez que o “Holocausto não começou com câmaras de gás. Tudo se inicia com palavras e estereótipos”.
Sob esse ponto de vista, a TV Revolta está no caminho certo.
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/por-que-se-fala-tanto-da-tv-revolta-fenomeno-da-pregacao-de-odio-seletivo-na-internet/

Após declarações de Wagner Moura, Jorge Furtado rebate críticas de artistas ao país



Diretor publicou em seu blog texto lamentando quem só vê "as coisas piorando" no Brasil

"Fico triste ao ver artistas brasileiros, meus colegas, tão mal informados.

Imagino que, com suas agendas cheias, não tenham muito tempo para procurar diferentes fontes para a mesma informação, tempo para ouvir e ler outras versões dos acontecimentos, isso antes de falar sobre eles em entrevistas, amplificando equívocos com leituras rasas e impressionistas das manchetes de telejornais e revistas ou, pior, reproduzindo comentários de colunistas que escrevem suas manchetes em caixa alta, seguidas de ponto de exclamação.

Fico triste ao ler artistas dizendo que não dá mais para viver no Brasil, como se as coisas estivessem piorando, e muito, para a maioria. Dizer que não dá mais para viver no Brasil logo agora, agora que milhões de pessoas conquistaram alguns direitos mínimos, emprego, casa própria, luz elétrica, acesso às universidades e até, muitas vezes, a um prato de comida, não fica bem na boca de um artista, menos ainda de um artista popular, artista que este mesmo povo ama e admira. Em que as coisas estão piorando? E piorando para quem? Quem disse? Qual a fonte da sua informação?

Fico triste ao ouvir artistas que parecem sentir orgulho em dizer que odeiam política, que julgam as mudanças que aconteceram no Brasil nos últimos 12 anos insignificantes, ou ainda, ruins, acham que o país mudou sim, mas foi para pior. Artistas dizendo que pioramos tanto que não há mais jeito da coisa "voltar ao ‘normal ‘", como se normal talvez fosse ter os pobres desempregados ou abrindo portas pelo salário mínimo de 60 dólares, pobres longe dos aeroportos, das lojas de automóvel e das universidades, se "normal" fosse a casa grande e a senzala, ou a ditadura militar. Quando o Brasil foi normal? Quando o Brasil foi melhor? E melhor para quem?

A mim, não enrolam. Desde que eu nasci (1959) o Brasil não foi melhor do que é que hoje. Há quem fale muito bem dos anos 50, antes da inflação explodir com a construção de Brasília, antes que o golpe civil-militar, adiado em 1954 pelo revólver de Getúlio, se desse em 1964 e nos mergulhasse na mais longa ditadura militar das américas. Pode ser, mas nos anos 50 a população era muito menor, muito mais rural e a pobreza era extrema em muitos lugares. Vivia-se bem na zona sul carioca e nos jardins paulistas, gaúchos e mineiros. No sertão, nas favelas, nos cortiços, vivia-se muito mal.

A desigualdade social brasileira continua um escândalo, a violência é um terror diário, 50 mil mortos a tiros por ano, somos campeões mundiais de assassinatos, sendo a maioria de meninos negros das periferias, nossos hospitais e escolas públicos são para lá de carentes, o Brasil nos dá motivos diários de vergonha e tristeza, quem não sabe? Mas, estamos piorando? Tem certeza? Quem lhe disse? Qual sua fonte? E piorando para quem?"

http://zh.clicrbs.com.br/rs/entretenimento/noticia/2014/05/apos-declaracoes-de-wagner-moura-jorge-furtado-rebate-criticas-de-artistas-ao-pais-4502072.html

E Alckmin inaugurou o volume morto da Cantareira

Há um vício atávico no jogo político brasileiro: a falta de hábito de trabalhar com indicadores consolidados de análise de desempenho de governantes. Existem muitos indicadores, mas há um uso torto da oposição - em nível federal ou nos estados - estimulado por um padrão de crítica midiática.
Hoje em dia, há  indicadores confiáveis de saneamento, educação, saúde, mortalidade infantil, de renda, de segurança, indicador para cada gosto.
No entanto, para quem quiser criticar, o padrão de acompanhamento de indicadores é o seguinte:
  1. Indicadores de obras: se 80% das obras estiverem prontas, dê destaque para os 20% incompletos.
  2. Quando se contrata uma obra, o pagamento é feito após a entrega de cada trecho contratado. Em vez de acompanhar o desempenho físico da obra, acompanhe a liberação orçamentária. Ela sempre estará mais atrasada que o ritmo de construção.
  3. Apresente as estatísticas quantitativas das obras. Uma grande obra completa vale o mesmo que a pequena obra que não saiu do lugar.
  4. Se um estádio estiver com as obras estruturais prontas, com o acabamento completo, com as arquibancadas entregues, com a área social reluzindo, mas ainda não retirou os tapumes, considere como obra incompleta e não entregue.
Na outra ponta, se quiser turbinar as obras, o roteiro é o seguinte:
  1. Mostre o volume total de recursos liberados. Uma obra gigantesca - como a de Belo Monte - compensará centenas de obras que não saíram do papel.
  2. Inclua nas estatísticas gerais de obras programas que nada tenham a ver com investimentos públicos, como financiamentos habitacionais.
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Na falta de uma crítica técnica e de um acompanhamento sistemático da gestão pública, o que vem ocorrendo é o reforço de um jogo político antigo, o das inaugurações. É o momento palpável, em que o governante tem a mostrar algo concreto e a mídia cobre.
Nesse universo de inaugurações vazias, no entanto, o campeonato do ridículo foi batido, ontem, pelo governador paulista Geraldo Alckmin.
Seca recorde e falta de planejamento obrigaram a Sabesp (a companhia de saneamento do estado) a recorrer ao volume morto de água do sistema Cantareira. Recorre-se a ele apenas em situação de emergência.
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Em vez de tratar a questão com a gravidade que o assunto exigia, inclusive com manifestações de autocrítica e pedidos de desculpa à população, Alckmin programou uma grande festa comemorativa do primeiro jorro do volume morto nos encanamentos da Sabesp..
Foram distribuídos convites para convidados VIP, convidando "para o início do bombeamento da reserva estratégica de água para o sistema Cantareira".
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Os telejornais deram espaço nobre às palavras de Alckmin, à sua postura grave, mostrando como, graças à eficiência do governo do estado, o paulistano terá mais 6 meses rezando para as chuvas venham. Se não vierem, nem todos os caminhões pipa do país darão conta da tragédia.
Melhor do que esse episódio foi apenas José Serra, na campanha de 2010, inaugurando uma maquete que ligaria Santos a Guarujá. A obra jamais saiu do papel. Mas a maquete está impávida nos arquivos dos telejornais, para quem duvidar.
http://jornalggn.com.br/noticia/e-alckmin-inaugurou-o-volume-morto-da-cantareira

Até Ana Maria Braga sai em socorro de Alckmin na falta d'água


É curioso o tratamento diferenciado dado pela TV Globo para a crise de abastamento de água na grande São Paulo
por Helena Sthephanovitz publicado 16/05/2014 12:11, última modificação 16/05/2014 13:02


É curioso o tratamento diferenciado dado pela TV Globo para a crise de abastamento de água na grande São Paulo, sob a esfera de competência de um estadual governo tucano, de Geraldo Alckmin. Totalmente diferente do alarmismo e da politização que faz em torno do sistema elétrico, sob competência do governo federal petista.
A falta d'água em São Paulo é crítica, sentida pela população e empresas. Já há até multa – sob contestação na justiça – para quem não racionar de fato. E é tratada pela TV Globo como se a culpa fosse de São Pedro e do cidadão por supostamente desperdiçar água. Na linha editorial da emissora, nada se fala sobre a falta de investimentos e de planejamento da empresa estadual de águas, a Sabesp.
Na terça-feira (13), até o programa de variedades de Ana Maria Braga saiu em socorro do desgaste do governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) abrindo com uma reportagem de dez minutos, fazendo campanha sóbria pelo racionamento "voluntário" de água, sem usar nenhum colar de tomates secos, como ela usou quando o preço do legume estava alto para criticar a inflação.
"Você já se antenou para a necessidade de não desperdiçar água? Parece uma conversa de tia chata... Ai, não gasta água! Mas a situação está calamitosa em São Paulo, em muitas cidades do interior e no Brasil (sic). A falta de chuva deixou os níveis dos reservatórios baixíssimos. A gente está vendo aí recordes históricos, mas recordes negativos", disse a apresentadora.
Depois, veio uma reportagem feita de helicóptero sobre o sistema de represas da Cantareira e descrevendo a "gambiarra" de bombear a água do chamado volume morto, que garante o abastecimento por um tempo limitado. O repórter encerra a participação dizendo que assim, segundo o governo paulista, "não haverá racionamento".
A apresentadora prosseguiu: "O governador Geraldo Alckmin tomou uma medida para evitar o desperdício. Você será multada... Para controlar este gasto da água... A multa foi criada para o morador que gastar mais do que a média atual da casa. Então, quem gastar acima da média, paga a conta 30% mais cara. Já os consumidores que conseguirem economizar 20% da conta receberão um desconto de 30% (...) Então, eu acho que é uma boa informação para os moradores de São Paulo. (...) Nessa hora, a gente tem que parar e pensar o que fazer para ajudar. Essa situação aflige agora... para ajudar o Estado de São Paulo, o pessoal de lá... Mas que você tem que entender que água é uma das coisas mais preciosas para a vida humana, né?"
E continua: "Para a vida no planeta como um todo. Então, se você não conscientizar que isso pode se estender para outras regiões do país... Que se fala que a água pode faltar neste planeta há muitos e muitos anos, mas a gente parece que não presta atenção. Fechando a torneira e o chuveiro durante algumas atividades diárias, a gente pode evitar o desperdício. (...) Apesar desta situação, o ministro das Minas e Energia, Édson Lobão, afirmou ontem, durante uma entrevista, que não há risco de falta de energia no país. Energia! E ainda descartou a necessidade de racionamento do consumo de energia em decorrência da estiagem do Sudeste. Segundo Lobão, desde 2003, a capacidade instalada de energia no país aumentou 73%, ao passo que o consumo cresce 51%. Nós vamos entender que energia é diferente de consumo de água, né? (...) Eu sugiro que nós, cidadãos, pensemos no futuro dos nossos filhos e dos nossos netos porque o planeta não é só para hoje, né?"
Uma ginástica e tanto misturar um problema localizado com o planeta e ainda incluir energia elétrica, onde não há medidas extraordinárias em curso, tais como multas extras.
Se o padrão da emissora fosse o de fazer sempre um jornalismo de serviços em momentos de anormalidade, seria mais compreensível, mas não é isso que vemos. O que se observa é que quando o governo é tucano há condescendência, poupando-o de cobranças de responsabilidades que possam levar a desgastes políticos. Quando o governo é petista, há a clara intenção de politizar, impor desgastes e apostar no quanto pior, melhor. Foi o caso do tomate, foi o caso do chamado "caos aéreo", em que havia plantão de repórteres nos aeroportos e a toda hora entravam no ar. Para fazer um jornalismo que não tivesse dois pesos e duas medidas, teria que tratar todos os casos da mesma forma
http://www.redebrasilatual.com.br/blogs/helena/2014/05/ate-ana-maria-braga-sai-em-socorro-de-alckmin-na-falta-dagua-3173.html
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ANTI-COPA, ANTI-ELEIÇÀO & ANTI-JORNALISMO



Havia mais gente num ato do Planalto para anunciar condições de trabalho na Copa do que na maioria dos protestos anti-Copa

Só é possível entender a importância atribuída pelos meios de comunicação aos protestos anti-Copa, ontem, como parte do esforço para colocar o governo Dilma na defensiva quando faltam cinco meses para a eleição presidencial. É isso e só isso.
Na maioria dos protestos realizados do país, havia menos gente do que no Palácio do Planalto, às 15 horas da tarde de ontem, quando o governo, entidades patronais e as centrais sindicais – inclusive a Força Sindical – assinaram um acordo pelo trabalho decente durante da Copa do Mundo.
Você pode achar burocrático. Mas veja as consequências práticas.
No final do dia, em Brasília, grandes redes de alimentação e hoteis – estamos falando de Mac Donalds e Habibs, Accor, por exemplo – haviam firmado um acordo que, soube depois, era inédito no mundo.
Um total de 1600 empresas (o plano é chegar a 6000 nas próximas semanas), que empregam alguns dezenas de milhares de trabalhadores, firmou um compromisso para a Copa. Reforçar direitos trabalhistas, criar formas legais de evitar que trabalho temporário seja sinônimo de trabalho precário e impedir o avanço da exploração sexual de crianças e adolescentes, tão comum em situação desse tipo.
Sabe a preocupação social? Sabe aquele esforço para impedir que a Copa transforme o país num grande bordel? Pois é.
Você pode até achar que tudo isso é café pequeno diante das imensas causas e carências do país. É mesmo. Também pode se perguntar para que falar de iniciativas modestas, limitadas, quando a rua arde em chamas de pneus revolucionários.
São, definitivamente, iniciativas menos que reformistas, para falar em linguagem conhecida. Populistas, para usar um termo típico de quem não tem voto nem consegue comunicar-se com o povo. Eleitoreiras, é claro. Mas eu acho que os fatos de ontem ensinam muita coisa sobre o Brasil de hoje.
A menos que se acredite que em 2014 o Brasil se encontra às portas de uma revolução, numa situação que coloca questões econômicas como a expropriação dos meios privados de produção e criação de uma república de conselhos operários e populares, convém admitir que nossos meios de comunicação resolveram construir um embuste político em torno dos protestos e apresentar manifestações de rua fracassadas como se fosse um elemento da realidade.
Não seja Ney Matogrosso: leia os orçamentos, compare os gastos, veja as prioridades. Entre no debate real.
Veja quem defende, a portas fechadas, as “medidas impopulares”. Quem já se rendeu ao capital financeiro e quer entregar o Banco Central – istoé, a moeda dos brasileiros – aos mercados, para que possam jogar com ela, especular, comprar e vender. Não acredite na lorota de austeridade, de defesa da moeda acima da política e dos interesses sociais em eterno conflito. O que se quer é mais cassino em vez de mais salário mínimo. (Quase rimou...)
No cassino está o filé – que é sempre para poucos. E quando alguém falar no exemplo dos países desenvolvidos, recorde: no marmore da entrada do FED, o BC americano, está escrito que a instituição tem dois compromissos – defender a moeda do país e o emprego dos cidadãos. Lá, no coração do capitalismo, o BC tem essa função – ou missão, como dizem os RHs de hoje em dia. Toda luta pela independência do Fed consiste em lutar para revogar o compromisso com a defesa do emprego.
Numa conjuntura pré-eleitoral onde cada rua interrompida, cada pedrada, cada confronto desnecessário com a polícia e cada pequena labareda representa um desgaste das instituições políticas construídas democraticamente no fim da ditadura militar, o que se pretende é atingir um governo que toma medidas parciais mas concretas em defesa da maioria e favorecer uma restauração conservadora. O capítulo final do embuste -- por isso é embuste -- é este. Criar uma imagem, um borrão, um ruído, que embaralhe o debate da eleição.
No país real de 2014, as alternativas são duas. E todos sabem quais são. E é por causa delas que a revolta polilcial do Recife, ontem, recebeu o tratamento de um episódio menor e passageiros, não é mesmo?
Na região Sudoeste de São Paulo, ontem, os trabalhadores cruzaram os braços em seis empresas. Mais tarde, avançaram por uma das pistas da Via Anchieta e fizeram o protesto por meia hora. Olha a falta de charme radical-televisivo dessa turma. Olha o tédio concreto de suas reinvindicações. A monotonia. Certíssimo.
Ligados a industria de auto-peças, querem a manutenção do IPI que ajuda a vender automóveis, até hoje o setor da industria que possui a cauda mais longa na produção de empregos diretos e indiretos. No país real, onde vive a maioria dos brasileiros, uma das prioridades é e sempre foi esta: emprego, que permite pagar a conta do fim do mes.
A reivindicação dos metalúrgicos não era improvisada. E nada tem a ver com anti-Copa, movimento que ignoram porque gostam de futebol, não querem perder a oportunidade de torcer pela seleção brasileira em seu próprio país e até admitem que os empregos que a Copa criou ajudaram no orçamento de amigos, parentes e vizinhos.
Os sindicatos querem sentar com os empresários e o governo para discutir medidas que a CUT e a Força Sindical trouxeram da Alemanha, onde trabalhadores, empresas e governo repartem custos que ajudam a manter o emprego mesmo nas situações que a economia esfria – esse tipo de pacto é um dos motivos que explica a vitória eleitoral de Angela Merkel, que não aplica contra seu povo a política de austeridade que exige dos países mais fracos da União Européia.
No mundo real, vivemos a época do capitalismo rastejante, como definiu um dos dirigentes políticos de minha juventude. Cada emprego é uma epopéia, todo benefício social é um suadouro, garantir um horizonte de segurança para a família é uma utopia.
O que nossos conversadores mais reacionários pretendem é um confronto com todas as armas – inclusive o embuste -- com um governo que, com todos os limites, falhas e erros clamorosos, tem conseguido aliviar o sofrimento dos mais pobres.
Numa fase da história em que a renda se concentra nos principais países do planeta, gerando uma desigualdade que bons estudiosos indicam como caminho seguro para novas catástrofes, até mais frequenets, o Brasil conseguiu avançar na direção contrária. O plano era fazer virar uma Grécia. Virou... o Brasil.
Vamos lembrar de 1964. Num país polarizado, com um governo que havia chegado no limite possíve, a revolta dos sargentos, e dos cabos, a radicalização dos camponeses, a campanha sistemática de denuncia dos políticos e do Congresso envolvia causas justas e corretas – mas seu efeito real foi abrir caminho para o golpe de Estado e uma derrota de 20 anos.
Lembrem de 1933, na Alemanha. Convencido de que havia chegado a hora do assalto ao poder, o Partido Comunista Alemão, orientado por Josef Stalin, estimulou uma política sectária de denúncia da social-democracia. Rompeu a unidade dos trabalhadores e passou a acusar os social-democratas de social-fascistas. O saldo foi Hitler – uma derrota que só seria revertida pela II Guerra Mundial.
A historia mudou bastante, de lá para cá. Mas convém entender que algumas lições permanecem.
http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/140007/PML-ironiza-destaque-da-m%C3%ADdia-aos-protestos.htm

Manifestantes hostilizam jornalistas da Rede Globo nas demonstrações de ...

Protestos contra o Mundial têm adesão menor do que os de categorias profissionais

Após um ano, número de manifestantes registrou queda

Tiago Dantas, Tatiana Farah, Sérgio Roxo, Demétrio Weber, André de Souza, Vinicius Sassine e Caio Barretto Briso


Manifestação “Não vai ter Copa” no Rio
Foto: Domingos Peixoto / O Globo
Manifestação “Não vai ter Copa” no RioDOMINGOS PEIXOTO / O GLOBO


SÃO PAULO, BRASÍLIA E RIO - As manifestações convocadas nos últimos dias para mostrar insatisfação com os gastos da Copa do Mundo tiveram hoje menos adesão do que os protestos promovidos país afora por sindicatos grevistas e associações de classe. Em São Paulo, por exemplo, cerca de 1.200 pessoas se reuniram na Avenida Paulista, no fim da tarde, para protestar contra o Mundial. Mais cedo, o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) juntou 6 mil manifestantes e bloqueou cinco vias de grande fluxo. No Rio, os protestos feitos por professores, em greve, e rodoviários foram mais populares do que o feito contra a Copa do Mundo, na Central do Brasil. O ato realizado no início da noite ganhou força após a adesão de parte dos outros movimentos. Em Brasília, não mais de 300 pessoas participaram dos atos realizados tanto pela manhã quanto pela tarde contra o Mundial. Apesar disso, houve momentos de tensão nos protestos contra a Copa tanto em São Paulo quanto no Distrito Federal.

O governo avaliou que os protestos que aconteceram nesta quinta-feira em diversas capitais do país não surtiram o efeito esperado pela oposição, que esperava ver muitos manifestantes na rua. No entendimento do governo, "faltou gente". Internamente, a presidente Dilma Rousseff e seus principais assessores comemoraram o fato de que poucas pessoas protestaram. Mesmo assim, o governo continua cauteloso quanto à Copa, pois acredita que as manifestações podem ganhar mais adesões.

Na capital paulista, o protesto contra o Mundial começou às 17h, na Avenida Paulista, e tinha como destino o estádio do Pacaembu. Por volta das 19h30, um pequeno grupo de mascarados furou o cordão de isolamento da Polícia Militar e ateou fogo em latas de lixo. Depois quebrou os vidros e invadiu pelo menos uma concessionária de veículos. Por volta das 21h, quando a manifestação chegou ao fim, a polícia contabilizava 27 pessoas detidos - 20 deles com martelos e coquetéis molotov - e quatro feridos.

O ato havia sido convocado pela internet pelo Comitê Popular da Copa em São Paulo, organização formada por vários movimentos sociais, mas muitas pessoas com rosto coberto e roupas pretas se juntaram ao evento. Com o início do tumulto, no entanto, o protesto se dividiu em dois. Uma parte dos manifestantes continuou a passeata, de forma pacífica, até o Pacaembu, e outros abandonaram o ato por causa do vandalismo. A estação de metrô Paulista ficou fechada por 20 minutos.

Até as 21h, haviam sido registrados dois focos de confusão. O primeiro foi na Rua da Consolação, onde um grupo destruiu os vidros de uma concessionária, em frente ao Cemitério da Consolação, e depredou alguns veículos. Duas agências bancárias também foram atacadas. Alguns manifestantes ainda obrigaram passageiros a descer de um ônibus que passava pela via, e outros colocaram fogo em sacos de lixo. A PM reagiu disparando balas de borracha e bombas de efeito moral.

- Eles chegaram chutando a porta, gritando e quebrando tudo. Fui lá para dentro, então eles não me viram. Se não, podiam ter me agredido - disse o porteiro da concessionária, Diogo Silva.

O segundo foco de tumulto aconteceu na Avenida Paulista, onde uma guarita da PM foi destruída por vândalos.

Manhã caótica

O dia em São Paulo começou com trânsito complicado por causa da adesão às outras manifestações. Todas, entretanto, aconteceram sem tumulto. A maior foi organizada por cerca de 5 mil professores da rede municipal de ensino, em greve desde o último dia 23, que fizeram uma passeata que interditou vias importantes da cidade, como a Avenida 23 de Maio, no fim da tarde. A multidão saiu da porta da Secretaria Municipal de Educação e seguiu até a Prefeitura de São Paulo. Eles reivindicam reajuste salarial.

Pela manhã, cerca de 6 mil integrantes do MTST se dividiram por cinco pontos da capital paulista, incluindo os arredores da Arena Corinthians, o Itaquerão, palco do jogo de abertura da Copa do Mundo, no dia 12 de junho. Eles atearam fogo a pneus e reivindicaram tanto moradias do Minha Casa Minha Vida quanto a desapropriação do terreno do acampamento "Copa do Povo", que fica perto do estádio. O movimento prometeu realizar outro grande protesto, desta vez unificado, na próxima quinta-feira. Outra entidade de sem-teto fechou por uma hora e meia a rodovia Anhanguera, uma das mais importantes da cidade.

Também em campanha por reajuste salarial, os metroviários de São Paulo fizeram uma passeata pela manhã na região central da capital. O destino foi a Secretaria de Transportes Metropolitanos do governo estadual. Na madrugada, o grupo caminhou com tochas pela região. No bairro da Mooca, na Zona Leste, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi da Cruzes levou às ruas cerca de 100 trabalhadores. Eles cobravam melhorias de salário e de condições de trabalho.

Em Brasília, militantes do MTST ocuparam pela manhã a sede da Terracap, companhia imobiliária do governo do Distrito Federal e proprietária do Estádio Nacional Mané Garrincha, sede de jogos da Copa. O prédio fica próximo ao Palácio do Buriti, sede do governo do Distrito Federal. Segundo a PM, cerca de 200 pessoas participaram do ato em frente ao prédio, mas a ocupação do hall de entrada do edifício durou apenas 20 minutos.

A Polícia Militar chegou a entrar em confronto com os manifestantes com o uso de spray de pimenta e cassetetes, para que a entrada do prédio fosse liberada. Segundo o comandante do 3º batalhão da PM, coronel Marcus Koboldt, não mais de 30 manifestantes invadiram a Terracap. A PM pediu que eles saíssem do local e, após uma negativa do grupo, os PMs usaram sprays de pimenta e cassetetes. 

Segundo o comando da PM, às 9h40, o grupo já estava fora do prédio. Três manifestantes teriam agredido policiais, segundo o comandante da operação. Um dos manifestantes mostrou marcas de cassetete.

O protesto em frente ao edifício continuou, vetando a entrada dos funcionários da Terracap no prédio. Dos participantes da manifestação, a PM calcula que algo próximo a 80% eram mulheres e crianças.

- Uma total irresponsabilidade por parte das mães ao colocarem essas crianças em risco - criticou o coronel Koboldt.

O grupo reivindicava terrenos para a moradia de 1.600 famílias e protestava também contra a Copa do Mundo.

- O governo gasta bilhões de reais com estádios: cadê a moradia, cadê a saúde, cadê a educação? - questionava o vigilante Elienildo Araújo, de 36 anos, integrante do movimento.

No começo da noite, um grupo de 100 manifestantes partiu da rodoviária do Plano Piloto em direção ao estádio Mané Garrincha. Ao chegarem ao local, fixaram 12 cruzes com os nomes dos operários mortos na construção dos estádios da Copa. O protesto foi pacífico.

Diferentemente do ano passado, quando as manifestações foram marcadas pela rejeição aos partidos políticos, a maioria dos participantes do protesto realizado ontem em Brasília era ligada ao PSTU e ao PSOL. Havia também integrantes do MTST e do Comitê Popular da Copa.

'Educação padrão Fifa'

A manifestação contra a Copa do Mundo realizada hoje no Rio teve cerca de 1.300 participantes, segundo a Polícia Militar. Eles caminharam da Central do Brasil até a porta da prefeitura, na Cidade Nova, fechando a Avenida Presidente Vargas durante quatro horas. Apesar da presença de um grupo de 50 mascarados, muitos deles com pedras portuguesas nas mãos, apenas um pequeno tumulto aconteceu nas proximidades da prefeitura.

Policiais do Batalhão de Choque chegaram a atirar bombas de gás lacrimogênio, e os protestantes se dispersaram. Mais tarde, eles voltaram à Central do Brasil. O grupo empunhava faixas e bandeiras contra os gastos com a Copa, pedia educação e saúde pública "padrão Fifa". Gritava palavras de ordem exigindo o fim da Polícia Militar.

Quem sofreu foram as pessoas que tentavam voltar para casa. Além da marcha contra a Copa, outras duas manifestações realizadas no Centro - de rodoviários e professores da rede pública em greve - interditaram ruas e avenidas. No fim do dia, integrantes dessas categorias acabaram se juntando a quem protestava contra o evento esportivo e engrossando a adesão a ele.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/pais/protestos-contra-mundial-tem-adesao-menor-do-que-os-de-categorias-profissionais-12504844#ixzz31qpPQy10 
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Pedro Estevam Serrano / Julgamento do mensalão

STF, totalmente, desmascarado pelo Dr. Pedro Serrano

O economista francês que colocou a direita em pé de guerra





Concentração de renda como norma

Para romper a lógica da acumulação crescente no topo da pirâmide, o economista Thomas Piketty sugere imposto global sobre a riqueza


Tratamento de superstar para um professor de economia. Não é sempre que isso acontece…
Mas também não é todo dia que um livro de 700 páginas, cheio de gráficos, sobre a desigualdade histórica engendrada pelo capitalismo bate todos os recordes de venda pela internet (no momento, está esgotado) e dispara na lista de mais vendidos do jornal New York Times.

O assunto, aparentemente árido para o gosto popular, surpreendeu o mercado editorial e até mesmo o autor.

Mas o volume de vendas não deixa dúvidas: ele é o grande expoente de uma onda de publicações voltadas para assuntos correlatos.

Flash Boys”, de Michael Lewis, a respeito das operações de alta frequência em Wall Street mostra como pouquíssimos ganham uma fábula e está em quinto lugar na lista dos mais vendidas do Times.

Todos os banqueiros do presidente”, de Nomi Prins, a respeito da centenária interligação entre a Casa Branca e Wall Street, também anda badalado. São três aspectos de um único problema. Mas vamos ao francês que está na moda esta semana.

Thomas Piketty, professor da Escola de Economia de Paris, está voando de uma cidade à outra dos Estados Unidos para dar entrevistas e participar de seminários e palestras a respeito das ideias expostas no livro “Capital no Século XXI”.

Aqui em Nova York, ele dividiu a mesa de debates com dois economistas premiados com o Nobel: Joseph Stiglitz e Paul Krugman. Entre os três, não houve muita discórdia. A gritaria surgiu nos jornais e revistas mais conservadores, como o Wall Street Journal e a Foreign Affairs, onde as ideias de Piketty foram veementemente rechaçadas.

A edição norte-americana do livro do francês (desbancou sucessos comerciais como “Divergent”, a ficção científica que também ganhou versão cinematográfica) tem capa branca com a palavra Capital em grandes letras vermelhas em uma referência intencional à obra de Karl Marx.

Thomas Piketty está longe de ser um marxista. Mas é especialista em distribuição de renda, tema da tese de PhD que defendeu aos 22 anos de idade.

Agora, ele traçou o histórico da concentração de renda nos últimos três séculos e concluiu que o processo de concentração de renda aguda pelo qual o primeiro mundo passa hoje não é uma aberração e sim a norma do sistema capitalista (para a esquerda, até aí nenhuma novidade).

Uma lógica que foi rompida apenas em momentos de grande calamidade, como as guerras mundiais. Por isso os Estados Unidos viveram uma época áurea nos anos 50 e 60. Agora, para romper novamente a lógica da acumulação cada vez maior no topo da pirâmide, Piketty propõe a adoção de um imposto global sobre a riqueza.

A expressão “distribuição de renda” é quase um palavrão, hoje, nos Estados Unidos, como destacou Paul Krugman em uma entrevista a respeito do livro do colega francês.

“Existe um aparato muito eficiente na TV, na mídia impressa, nos institutos de análise e assim por diante, que martelam contra qualquer menção à redistribuição. Eles conseguiram convencer muita gente de que essa é uma ideia não americana”, disse Krugman. E foi mais longe: “olha, temos que admitir, a raça está sempre escondida sob tudo na vida norte-americana. E redistribuição de renda, na mente de muitas pessoas, significa tirar dinheiro de alguém como eu (branco) e dar para alguém que não se parece comigo”.

O racismo não explicaria tudo, mas nos Estados Unidos é com certeza um agravante. Segundo as previsões do livro de Piketty, a maior potência mundial caminha, a passos largos, na substituição da democracia por um regime autocrático.

De fato, faz tempo que o setor financeiro tomou posse da política e da economia. Desobrigado de prover uma vida melhor para a maioria da população do que o comunismo podia proporcionar, o capitalismo norte-americano soltou todas as amarras e não há governo que lhe devolva os freios já que é justamente o poder econômico quem determina o resultado das eleições, em todos os níveis, com raríssimas exceções.
A questão é como reverter um processo que deu a um grupo cada vez menor a maior fatia do bolo financeiro e, junto com ele, através dessa concentração, ainda mais poder de barganha política.

Daí a proposta do francês, na verdade um eco da grande reivindicação do movimento Occupy Wall Street, que tomou as ruas de várias cidades dos Estados Unidos, por meses, em 2011: instituir impostos altíssimos para o 1% mais rico da população.

Cobrar impostos elevados, também, sobre heranças para impedir que a casta endinheirada se perpetue passando a acumulação de uma geração para a outra. Faltou incluir na lista uma cobrança salgada para os lucros financeiros que não produzem, mas sugam o setor produtivo.

Piketty destaca que Estados Unidos e Europa trocaram de lugar. Os Estados Unidos, diz ele, foram concebidos como a antítese da sociedade patrimonial. “Alexis de Tocqueville, o historiador do século XIX, viu nos Estados Unidos um lugar onde a terra era tão abundante que todo mundo podia ter uma propriedade e a democracia de cidadãos iguais poderia florescer. Até a Primeira Guerra Mundial, a concentração de renda nas mãos dos ricos era bem menos extrema nos Estados Unidos do que na Europa. No século XX, entretanto, a situação se inverteu”.

O economista francês também lembra que a ideia de cobrar mais impostos dos mais ricos foi uma invenção norte-americana do período entre as duas grandes guerras justamente para evitar que o país repetisse o modelo de desigualdade europeu.

Paul Krugman destacou o essencialmente óbvio, que muita gente faz questão de esquecer. O ex-presidente Franklin Delano Roosevelt salvou o capitalismo norte-americano com a adoção de uma rede social e de redistribuição de renda. Mas se chegou lá, não foi por convicção.

Antes de Roosevelt desembarcar na Casa Branca, lembra Krugman, já existia um movimento progressista estruturado pressionando por mudanças. O movimento Occupy foi um começo. Mas dobrar a aliança capital-política cristalizada, hoje, nos Estados Unidos, vai exigir uma organização bem mais ampla e coesa.

http://www.viomundo.com.br/politica/o-frances-que-colocou-a-direita-neoliberal-em-pe-de-guerra.html

Luciano Martins Costa: “O interesse do noticiário negativo é o de influenciar o eleitor”



Lulopetismo acabou com a Nação

FATOS & VERSÕES

A mensagem insidiosa do catastrofismo

Por Luciano Martins Costa em 14/05/2014


Na quarta-feira (14/5), a menos de um mês do início da Copa do Mundo, a imprensa oscila entre dois pontos contraditórios: num deles, parece apostar no recrudescimento de conflitos que poderiam colocar em risco o sucesso da festa internacional do futebol; no outro, precisa que a sociedade vista a camiseta da seleção nacional, para manter vivo o mito heroico do esporte e continuar faturando com a publicidade.

Exemplos desse movimento ambíguo podem ser vistos em fragmentos do noticiário econômico, na política e até mesmo no jornalismo cultural ou de entretenimento. Selecionamos, por exemplo, uma reportagem doEstado de S. Paulo, na qual se lê que a média dos salários nos doze meses até março subiu 8,2%, acima da inflação do período, que foi de 6%.

Trata-se de um paradoxo para a imprensa, mas de um resultado lógico para quem enxerga a política econômica com olhos curiosos, sem os antolhos do dogmatismo liberal. O desemprego segue abaixo da linha histórica, os salários nominais ganham da inflação, e isso compõe basicamente o atual modelo brasileiro, explicando por que a maioria do eleitorado teme uma mudança radical desse cenário.

Também no Estado, o leitor encontra nova atualização do indicador IED, de Investimento Estrangeiro Direto, onde se lê que, nos primeiros quatro meses do ano, foram realizadas 235 grandes fusões e aquisições no Brasil, média 21% superior à do mesmo período no ano passado. Não se trata de especulação, mas de dinheiro investido diretamente em produção. Por que será que o apetite de investidores estrangeiros por negócios no Brasil segue alto?

Na Folha de S. Paulo, destacamos uma entrevista com o economista francês Thomas Piketty, autor do livroO Capital no século 21, a ser lançado até o final do ano em português. Sua obra, na versão em inglês, há quase dois meses entre os cem livros mais vendidos da Amazon, está em segundo lugar entre os best-sellers, atrás apenas de um romance para adolescentes. Suas ideias estão mudando a maneira de pensar a economia e a sociedade, e o núcleo de seus estudos coincide em grande parte com os preceitos da política econômica adotada pelo Brasil na última década.

O rock errou

Agora, imagine o leitor ou leitora dotados de senso crítico, como fica a cabeça do cidadão que toma as manchetes da imprensa como retrato fiel da situação do Brasil.

Não erra quem afirmar que o público típico da mídia tradicional acredita que o país está afundando, embora a realidade mostre que a circunstância atual é melhor para a maioria, aqueles que vivem do seu trabalho, embora ainda restem muitos problemas estruturais a serem resolvidos.

Como disse a empresária Luiza Helena Trajano, dona do Magazine Luiza, há cerca de dois meses, durante debate num programa de televisão, não se trata apenas de olhar o copo “meio vazio” ou “meio cheio”: trata-se apenas de enxergar ou não enxergar aquilo que está diante do nariz.

Com todas as turbulências a que estão submetidas as economias nacionais no contexto global dos negócios, a situação do Brasil não pode ser descrita como catastrófica, como fazem supor as manchetes. A realidade está bem escondida em reportagens que nunca vão para a primeira página, como as que citamos há pouco.
E por que razão os jornais demonstram diariamente essa opção preferencial pelo catastrofismo, se, afinal, um estado de espírito derrotista prejudica até mesmo os negócios das empresas de mídia? Porque os editores sabem que os fundamentos da economia são apenas parcialmente afetados pelo noticiário: os grandes investidores não costumam tomar decisões por notícia de jornal.

O interesse do noticiário negativo é o de influenciar o cidadão comum, o eleitor, e fazer com que ele manifeste nas urnas um desejo de mudança que foi insuflado diariamente pela imprensa. Simples assim.
Nesse jogo, entra até mesmo a produção cultural e de entretenimento. Veja-se, por exemplo, a extensa reportagem do Globo sobre a volta à cena da banda de rock Titãs, com chamada na primeira página sob o título “Um retrato pesado do Brasil”. Na entrevista do lançamento de um novo disco, o guitarrista e compositor Tony Bellotto repete o refrão e afirma (com o perdão pela expressão): “É uma merda pensar como o Brasil há 30 anos ou patina, ou piora”.

Ora, o Brasil de hoje é muito melhor do que há 30 anos, mas na sua ignorância ruidosa, o roqueiro faz coro ao discurso da imprensa, que procura incutir no brasileiro um sentimento de automenosprezo.
Funciona assim.

http://www.viomundo.com.br/denuncias/luciano-martins-costa-o-interesse-do-noticiario-negativo-e-o-de-influenciar-o-eleitor.html