segunda-feira, 2 de junho de 2014

PSDB GANHA NO 3.º TURNO. POR CAUSA DO MALUF. Perdeu o primeiro turno ? Perdeu o segundo turno ? Tem sempre a Justiça … ​


Saiu na Fel-lha (*) (cuidado com o mau hálito que provém do fel):

http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/06/1463807-juiz-suspende-caravanas-de-alexandre-padilha-em-sao-paulo.shtml

Em decisão liminar, o TRE de São Paulo acolheu denuncia da Procuradoria Eleitoral do Estado contra as caravanas “Horizonte Paulista” do Alexandre Padilha, que vem aí de jaleco branco.

Foi uma decisão provisória do tipo “perigo de gol”.

Da qual, é claro, o PT de São Paulo vai recorrer e, certamente, ganhar, pois se trata de um absurdo: impedir um encontro com lideranças regionais, um bate-papo numa escola, numa associação, num sindicato.

Na verdade, Padilha já rodou o Estado todo, só falta a região de São José dos Campos.

E, no ABC, de prefeitos petistas, a caravana vai se revestir da característica de um café com broa de milho.

Ou pinga, se fizer muito frio.

A menos que a Procuradoria determine que Padilha fique trancado em casa.

O que é bem possível, diante da conhecida tática conservadora, tucana: ganhar a eleição no terceiro turno, como exigiu da Ministra Laurita do STJ, mandar tirar do ar aquele notável vídeo do PT que ensandeceu a Direita.
Por que esse terceiro turno tucano, agora ?

Navalha
Por coincidência, dias antes da extravagante decisão do TRE de São Paulo, um emissário tucano de grossas penas esteve na casa de Paulo Maluf até a madrugada.
Foi convencê-lo a não apoiar Padilha.
O PP de São Paulo tem 1′18” de tempo de horário eleitoral gratuito.
O emissário saiu de lá convencido de que Maluf ia recuar.
Ia aderir ao Alckmin.
Quando, no PiG (**), Maluf voltaria a ser como nos tempos do FHC: tão casto e puro quanto o Cerra.
Mas, Maluf não recuou.
Quando os tucanos viram que Maluf tinha aderido ao PT, a Padilha, foram fazer as contas.
Neste momento, com o apoio do PC do B e do PP, Padilha terá 40” a mais que Alckmin no horário eleitoral.
Mesmo que o DEMO e o Pauzinho do Dantas estejam com o Alckmin.
Isso nunca aconteceu numa eleição em São Paulo.
O candidato do PT ter mais tempo que o tucano.
Padilha vai ter muito tempo para Lula, Dilma, Dilma, Lula …
Para muita Cantareira.
Pinheirinho.
Para muito FHC – clique aqui para ver o que o Padilha vai usar na campanha: tá com saudade dos fantasmas, olha só como era no Governo do FHC.
O Padilha também vai usar, na ida e na volta: olha só o que o Príncipe da Privataria fez com a transposição do rio São Francisco, promessa de suas duas campanhas.
Assim como a Dilma terá o triplo do tempo da oposição, o horário eleitoral em São Paulo pode ser fatal para os tucanos.
Parte do jogo agora está nas mãos puras e transparentes do Kassab, que controla o PSD.
Mais impuras serão se ele aderir à Dilma e ao Padilha.
A campanha, de fato, começa no dia 15 deste mês de junho, daqui a 13 dias, quando Lula e Dilma vierem a São Paulo tornar oficial a candidatura de Padilha.
Que comparecerá à cerimônia vestido de jaleco branco e um boné do Mais Médicos.
Em tempo: o amigo navegante sabe como funciona o 3.o turno, não ? É assim. Eles perdem no primeiro turno. Ou no segundo turno.Todas as tentativas de Golpe com a Globo deram errado. Aí, vão para a Justiça ganhar no Terceiro Turno. Pode ser no TSE, nos TREs, no Supremo … Tanto faz. Desde que um trabalhista não chegue ao poder.

Paulo Henrique Amorim
(*) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é, porque o dono é o que é; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.
(**) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.
http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2014/06/02/psdb-ganha-no-3-%C2%BA-turno-por-causa-do-maluf/

Saída de Barbosa enfraquece conservadores no STF

http://jornalggn.com.br/noticia/saida-de-barbosa-enfraquece-conservadores-no-stf

Não existem juízes, em qualquer tribunal, que não sejam influenciados por suas convicções pessoais e ideológicas em questões de maior relevância social. Pode-se dizer que alguns são mais legalistas, formalistas, técnicos, preocupados em atender as finalidades das leis, outros são mais políticos, ideológicos. Mas neutralidade mesmo, só aparece em questões eminentemente técnicas, de menor importância (exemplo: um carro bate atrás do outro que parou no farol: o que bateu, exceto em situações excepcionais, é o culpado e deve indenizar).
Em certas matérias, condenações de políticos de determinado partido ideológico ou decisão sobre célula tronco, por exemplo, percebe-se como o tecnicismo tende a perder para a ideologia, religião ou formação pessoal.
A neutralidade é um mito que as facções ideológicas exigem apenas quando interessa. Veja-se o caso da Suprema Corte americana, onde a partir de 1981, Reagan e sucessores, preencheram as vagas que iam surgindo com juízes sectariamente conservadores. E estes corresponderam, dando as respostas que deles se esperava. Desde então a sociedade americana vai numa direção e a Suprema Corte na outra, age como uma âncora, dificultando mudanças.
No Brasil Collor e FHC nomearam juízes indisfarçavelmente conservadores para o STF, com tranquilidade. Collor indicou até mesmo um parente. Posteriormente, a mídia e os setores sociais que se identificam com esses juízes bradaram protestos ante a ameaça de indicação de outros mais progressistas por Lula e Dilma. Mas por que motivo, mudando a orientação política do governo federal, mudança essa ditada pela maioria da população, não pode referido governo indicar juízes mais progressistas? Ainda mais obedecendo as regras do jogo, submetida a indicação  a aprovação do Senado?  Para evitar a grita, perceba-se que Lula e Dilma indicaram apenas nomes acima de qualquer suspeita, exceto Toffoli, que apesar de preparado, trabalhou no governo petista.
A saída de Joaquim Barbosa do STF, nomeado paradoxalmente por Lula,  é oportunidade de dar mais uma arejada na Corte. Temos um time conservador em Gilmar Mendes, Celso de Mello, Fux e Marco Aurélio, juízes mais progressistas como Lewandowski e Toffoli e outros mais para o centro, técnicos, formalistas, como Barroso, Zavaski, Carmem Lúcia e Rosa Weber.
Já se viu como o STF é importante para o país, na medida em que não apenas decide sobre temas relevantes, muitos que caberia ao legislativo se pronunciar, mas também é fundamental para a reforma do judiciário, sem o qual o país tem mais dificuldades de avançar. Dos três poderes, é um dos que vive seu pior momento, marcado pelo corporativismo, lerdeza, corrupção e etc.
Barbosa era um ponto fora da curva. Além de conservador, era arbitrário, deselegante, qualidades negativas que se tornaram positivas para comentarias de direita. Ou seja, ele estava certo em romper e mandar as favas os “rapapés e falsos refinamentos” com que se tratam os demais  magistrados, procuradores e advogados. Estupidez vira franqueza e virtude, a ideologia explica. Muito provavelmente até Gilmar Mendes prefere vê-lo distante.
Além de progressista, o que se espera é que o novo ministro seja um “jurista de renome e ilibada reputação, como ocorreu nos casos de Zavaski e Barroso. Ou seja, que tenha ambas as qualidades: competência e mente arejada. O país precisa continuar sua trajetória, não precisa de âncoras que o prenda ao passado.

O caso Mário Wallace Simonsen

http://jornalggn.com.br/blog/jota-a-botelho/o-caso-mario-wallace-simonsen




MÁRIO WALLACE SIMONSEN - O criador da TV Excelsior e dono da Panair 
Por Chico Santto , no Terceiro Tempo
Mário Wallace Simonsen nasceu em 21 de fevereiro de 1909 na cidade de Santos e morreu no vilarejo de Orgevall, aos 56 anos, em 24 de março de 1965 na França. Sobrinho de Roberto Simonsen, fundador da Federação das Industrias do Estado de São Paulo, a FIESP, tornou-se uma das figuras mais notáveis e poderosas do Século XX com o conglomerado de 30 empresas, entre as quais se destacavam a Panair, CELMA, Banco Noroeste do Estado de São Paulo, Biscoitos Aymoré e TV Excelsior, além da Comal ? a maior exportadora de café do Brasil - e  Wasim Trading Company, representada em 65 países. Simonsen atingiu o auge dos negócios entre os anos 1930 e 1950. Durante o período de sangria política, ganhou notoriedade pública como articulador da democracia. Corajoso, lutou abertamente contra o autoritarismo do país tendo, inclusive, colocado a sua TV Excelsior para apoiar o presidente socialista João Goulart. Publicamente, nos anos 60, teve o nome associado de forma oficial à candidatura de Juscelino Kubitschek na campanha presidencial de 1965. Entretanto, mais do que a derrota no Golpe de 1964, viu a ruína de seu império desmoronar diante dos muitos ataques de ordem político-militar da época. Ao fim dos anos 60 não só a TV Excelsior, tida como divisor de águas no que diz respeito à programação moderna da televisão brasileira, como suas demais empresas trocaram o milionário faturamento anual por uma cadeia de falência. De forma rápida e inesperada, seu império entrou em ruína. Abatido pela perseguição, Wallace Simonsen se mudou para Paris. Do outro lado do Atlântico, viu sua mulher Baby, com quem teve três filhos, Wallace, John e Mary Lou - falecer vitima de uma depressão profunda. Neto de ingleses, não chegou a receber a notificação do fechamento da TV Excelsior, em 30 de setembro de 1970. Seu descontentamento com o Brasil era tão grande que seu corpo sequer foi trazido de volta à América após a sua morte, cinco anos antes. Mário Wallace Simonsen foi sepultado no cemitério La Batignolle, de Paris. Junto com o seu corpo foi enterrada, de forma misteriosa, parte da história política do Brasil, um capítulo mal escrito da nossa nação.****************
O CASO PANAIR: O ESQUECIMENTO DE QUE A DITATURA FAZIA MAIS QUE TORTURAR
No caso da repressão, talvez se chegue à punição ou, no mínimo, à identificação de militares torturadores, mas o papel da Oban e da Fiesp e de outros civis coniventes permanecerá esquecido nas brumas do passado, a não ser que a tal Comissão da Verdade siga a sugestão do [Carlos] Araújo e jogue um pouco de luz nessa direção também.
Luís Fernando Verissimo, na crônica Os coniventes, de 21 de março de 2013
Cerveja que tomo hoje é
Apenas em memória dos tempos da Panair
A primeira Coca-cola foi
Me lembro bem agora, nas asas da Panair
A maior das maravilhas foi
Voando sobre o mundo nas asas da Panair
Conversando no bar (Canção de Milton Nascimento e Fernando Brant)



Milton Ribeiro
Há alguns anos, esta canção de Milton Nascimento recuperou seu título original de Saudades dos aviões da Panair. Na época em que foi lançada por Elis Regina, em 1974, os autores tiveram receio de falar em Panair e em suas saudades da empresa logo no título da canção. Então, ela foi rebatizada para Conversando no Bar. Afinal, era proibido sentir saudades da enorme e respeitada empresa que, por ação dos militares, foi desmontada sem maiores explicações nos primeiros meses do Golpe de 1964. Num país pobre e quase desindustrializado, a existência da Panair do Brasil S. A. era motivo de orgulho nacional.
Logotipo da Panair: pouso forçado em abril de 1965
Rio de Janeiro, 10 de fevereiro de 1965, 15 h. Um telegrama do Ministério da Aeronáutica chegou aos escritórios da Panair, a maior companhia aérea do país e uma das maiores do mundo. A mensagem era simples e dava conta de que o governo estava cassando seu certificado de operação em razão da condição financeira insustentável da empresa. O telegrama vinha assinado pelo ministro Eduardo Gomes. A Panair não tinha nenhum título protestado nem impostos atrasados, mas o telegrama adiantava que ela não tinha meios para saldar suas dívidas e que estava proibida de voar. Os dias eram assim, também cantava Elis, ou podiam ser assim.  À noite, tropas do Exército invadiram os hangares da Panair e a Varig imediatamente assumiu todas as  concessões de linhas aéreas e propriedades da concorrente. E conseguiu fazer isto sem atrasar nenhum voo. Provavelmente, tinha sido alertada sobre os caminhos se abririam para ela naquele grande abril.
Um avião que levava um passageiro e 25 fardos de borracha na Amazônia em 1943
A revogação das concessões de linhas aéreas da Panair do Brasil foi decretada pelo Marechal Castelo Branco e a Varig era de propriedade de um aliado do governo militar, Ruben Berta  – nome de bairro em Porto Alegre. De uma tacada, a atitude provocou o desemprego de cerca de 5 mil pessoas, deu à Varig o monopólio dos vôos aéreos internacionais do Brasil e isolou quarenta e três cidades da Amazônia, pois nenhuma outra empresa operava os hidroaviões Catalina, os únicos que alcançavam aquelas localidades. Já a Celma, a subsidiária da Panair que fazia a manutenção das turbinas aeronáuticas civis e militares no Brasil, foi estatizada. Fim.
Provavelmente, não houve apenas uma razão um motivo para que os militares responsáveis pelo Golpe de 1964 perseguissem a Panair. Provavelmente, o motivo foi o conjunto da obra e, certamente, houve considerável influência externa. Mário Wallace Simonsen, o principal sócio da empresa, era um dos homens mais ricos do país. Era uma versão principesca de nossos super-ricos, uma espécie de Eike Batista com glamour. Simonsen era o sócio majoritário da Panair, o dono da TV Excelsior, da Comal — maior exportadora de café do Brasil num período em que o café respondia por dois terços das exportações nacionais –, da Editora Melhoramentos, do Banco Noroeste, do Supermercado Sirva-se (o primeiro a existir no Brasil), da Rebratel (qualquer semelhança com o nome Embratel não é mera coincidência) e de mais 30 empresas. A rapidez com ele foi expurgado do mundo empresarial brasileiro após  1964 foi absolutamente espantosa. A única empresa que continuou a existir foi o Banco Noroeste, que foi repassado a seu primo Léo Cochrane Simonsen até ser recentemente comprado pelo Banco Santander.
A família era admiradíssima como os ricos costumam ser. Presença constante nas colunas sociais, sabia-se que a família Wallace Simonsen – Mário, sua esposa Baby e os três filhos Wallace, John e Mary Lou – viviam como reis. A linda Mary Lou era figura comum nas revistas dos dois lados do Atlântico. Sua festa de debutante foi realizada em Londres, na presença da rainha da Inglaterra. Seu noivado também ocorreu na capital inglesa, só que na embaixada do Brasil. Seu irmão Wallinho andava com um espantoso Mercedes-Benz esportivo nas ruas de São Paulo e tinha casa com mordomo em Paris.
Ou seja, tratava-se do jet set da época, pessoas que normalmente têm boas relações com o poder. Mas Mário Wallace Simonsen devia ter graves problemas, na opinião dos militares. Por que a ditadura empenhou-se tanto para acabar com o império de Simonsen? Há várias possibilidades: é notório que a Varig – cuja diretoria era amiga da ditadura – desejava o mercado aéreo dominado pela Panair, que os Diários Associados queriam o mercado da TV Excelsior e que as empresas americanas de café, representadas por Herbert Levy, queriam abocanhar a Comal. E se havia tais pressões civis, talvez houvesse também um bom motivo militar.
Mário Wallace Simonsen, dono de um grupo de empresas destroçadas pelo Golpe de 64
Simonsen não era especialmente simpático à esquerda nem tinha intimidade com João Goulart, porém, em agosto de 1961, enquanto Jânio Quadros estava em visita à China, Simonsen posicionou-se ao lado da legalidade. Houve “acusações” – fato inverídico – de que Jango teria voltado da China num avião da Panair. Mas a verdade talvez seja ainda pior: Simonsen mandou um executivo da empresa avisar o vice-presidente sobre o que estava em andamento no Brasil. Jango não sabia de nada, pois naquele tempo as comunicações eram tais que o vice-presidente poderia retornar da China sem cargo e sem saber de nada. Então, avisado, Jango deu telefonemas de Paris e Zurique, onde fazia escalas, para San Tiago Dantas — seu futuro Ministro de Relações Exteriores e da Fazenda — e para o ex-presidente Juscelino Kubitschek, articulando sua ascensão ao cargo que lhe cabia constitucionalmente.
Logo após o Golpe, o deputado Herbert Levy conseguiu criar uma CPI da Comal, a empresa de exportação de café de Simonsen.  Levy era uma figura da ditadura militar. Foi deputado federal por dez mandatos consecutivos, entre 1947 e 1987, pela UDN, Arena, Partido Popular, PDS, PFL e PSC, além de secretário da Agricultura do Estado de São Paulo em 1967, durante a administração Abreu Sodré. Na CPI, Levy conseguiu que o novo regime cancelasse a licença da empresa para comercialização de café, sem que ela tivesse um único título protestado.
Sempre com a ditadura: além de deputado, Herbert Levy fundou os jornais Gazeta Mercantil e Notícias Populares
Quando o novo governo, ignorando acordos assinados pela Comal com as autoridades monetárias, concluiu que a empresa tinha para com o Estado uma dívida de café no valor de US$ 23 milhões, Simonsen ofereceu seu vasto patrimônio como garantia para continuar operando. O Banco do Brasil fez as contas e concordou com a proposta, mas, logo em seguida, voltou atrás. O incrível é que depois, ainda em plena ditadura, Levy viu rechaçadas pelo Supremo Tribunal Federal todas as acusações que fizera à Comal. Mas as empresas de Simonsen, àquela altura, já tinham sido fechadas, fracionadas ou vendidas.
A TV Excelsior, como insistisse em cobrir o Golpe Militar, foi invadida e, no Rio de Janeiro, sofreu intervenção do governador Carlos Lacerda, inimigo declarado de Simonsen.
Tudo acabou muito rápido para Mário Wallace Simonsen. Deprimido, vítima de uma campanha governamental que depois partiu para difamações através dos jornais que apoiavam a ditadura, arruinado após oito meses de “investigação” no Congresso, morreu destituído de quase tudo em Orgevall, um local próximo a Paris, no dia 24 de março de 1965. No dia seguinte, os jornais de São Paulo publicaram um anúncio fúnebre assinado pelos funcionários da TV Excelsior. Agora os ódios e as perseguições não o podem mais atingir, dizia.
Merchandising estilo Panair
Apenas em dezembro de 1984, o Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu que a falência da Panair foi uma fraude. A União Federal foi condenada. A Panair luta até hoje, mas ainda não foi indenizada.
São fatos de 48 anos atrás e, obviamente, muita gente morreu, mas há velhos funcionários da Panair que sonham com um impossível retorno da empresa sob alguma forma. Ao menos, até hoje se reúnem anualmente para lembrar os velhos tempos. Têm saudades dos aviões da Panair. A empresa voltou a existir em 1995 e hoje conta com três funcionários, todos advogados, cujo trabalho é o de seguir com as ações indenizatórias. É raro, mas volta e meia o assunto dá notícia.
Em 2008, foi lançado o excelente longa-documentário Panair do Brasil, de Marco Altberg, que pode ser visto na programação da TV Brasil. É um excelente filme.
Neste sábado (23), a Comissão Nacional da Verdade realizou sessão pública para discutir a extinção da Panair e os contínuos atos de perseguições empreendidos pela ditadura militar a partir de 1965. Participaram da audiência o coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Paulo Sérgio Pinheiro, a coordenadora do grupo de trabalho Golpe de 64, Rosa Cardoso, o representante do Arquivo Nacional, Jaime Antunes, e o presidente da Comissão da Verdade do Rio de Janeiro, Wadih Damous. Também estava na reunião Rodolfo da Rocha Miranda, atual presidente da Panair do Brasil.
Como disse Carlos Araújo e confirmou Luís Fernando Verissimo, esta é uma face muito pouco discutida da ditadura: a que não envolve tortura física nem gente da esquerda, a do puro interesse econômico e corrupção, da vingança pessoal, das falências arranjadas e do silêncio.
E, evidentemente, do notável crescimento de algumas empresas de civis que foram beneficiadas durante a ditadura.

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Um tributo a Panair do Brasil











Leia aqui: 
Emoção domina audiência pública sobre o caso Panair
"Mário Wallace Simonsen, entre a memória e a história”
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Do Contexto Livre
Comar, Panair, TV Excelsior: O capitalista que o golpe de 64 destruiu com requintes de crueldade










Bibi na Excelsior: Com os Trapalhões, Barbosa Lima Sobrinho, Cid Moreira, Tarcísio Meira, Glória Menezes e outros…
Dizem por aí que foi um golpe anticomunista. Não exatamente. Foi um golpe que aniquilou todos aqueles que não rezavam pela cartilha dos militares subordinados aos Estados Unidos, que na política econômica assumiram, em 64, o liberalismo de fronteiras abertas pregado por Washington. Com Roberto Campos, o Bob Fields, e Otávio Gouveia de Bulhões. 

Jango não era comunista. Rubens Paiva não era comunista. Brizola não era comunista. Mário Wallace Simonsen não era comunista. O golpe foi contra os trabalhistas e, portanto, contra o trabalhador. Foi o golpe da turma que tinha ódio do salário mínimo. Aliás, acreditamos que o ódio ao PT hoje em dia é alimentado, entre outras coisas, pelo fato de que o partido contribuiu para acabar com a “criadagem” barata. 

PS do Viomundo: A TV Excelsior inventou os horários fixos de programas e, portanto, a grade de programação. O telejornal que chamou a “Revolução” de golpe tinha como editor Barbosa Lima Sobrinho. A Excelsior tinha Bibi Ferreira em horário nobre. Trouxe Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir para falar no Teatro Cultura Artística, sua sede em São Paulo. Sofreu dois incêndios misteriosos, em seguida. No momento final, apresentou um plano de recuperação ao governo Médici dando terras em São José dos Campos como garantia. Quem costurou o acordo foi o advogado Saulo Ramos. Assim que os representantes da emissora deixaram a reunião, Médici cassou a concessão. A Globo herdou o elenco da Excelsior. A emissora de Roberto Marinho tinha surgido graças a uma injeção de capital internacional, da Time Life. Ou seja, foi a vitória do capital internacional sobre o doméstico. Ao fim e ao cabo, Excelsior vs. Globo foi um retrato do próprio golpe. Falida, a emissora teve os ossos descarnados por concorrentes midiáticos, como a turma da Folha. Tudo em casa.
NAS ASAS DA PANAIR 
Panair do Brasil, uma história de glamour e conspiração

O filme Panair do Brasil, resgata a história da empresa Panair do Brasil S.A, símbolo de modernidade e eficiência, foi uma das companhias aéreas pioneiras do Brasil nascida em 1930, viveu o seu auge nas eras JK e Jango(1956/1963). Ao tomar o poder, o regime militar perseguiu a Panair e seus dirigentes, o que resultou na cassação de suas linhas aéreas em 1965. Tudo levava a crer, nos bastidores do poder, que a Varig naturalmente se envolveria na aquisição de parte da Panair, porém, ela acabou nas mãos dos grandes empresários Celso da Rocha Miranda e Mário Wallace Simonsen. Tal desfecho incomodou a VARIG, que dava como certa mais uma aquisição de outra empresa aérea nacional. Entretanto, em seu apogeu acabou por ter suas operações aéreas abruptamente encerradas em 10 de fevereiro de 1965, devido a um decreto do governo militar, que suspendeu suas linhas. A opção pela suspensão, ao invés da cassação, foi um mero artifício técnico encontrado pelo governo militar. Assim as operações poderiam ser, na prática, paralisadas de imediato, sem o decurso dos prazos legais de uma cassação. Até hoje suas linhas encontram-se tecnicamente suspensas. Imediatamente após a suspensão, estranhamente os aviões e tripulações da VARIG já se encontravam prontos para operar os principais voos da Panair nos aeroportos do Brasil e do mundo, evidenciando que a Varig havia sido comunicada do processo de cassação antes mesmo do que a própria Panair do Brasil. Nos dias seguintes, a empresa entrou na Justiça com um pedido de concordata preventiva, já que possuía boa situação patrimonial e financeira, e uma inigualável imagem de confiança e bons serviços prestados ao londo de décadas. Assim a recuperação judicial seria possível caso o decreto do governo fosse revogado. Porém, o Brigadeiro Eduardo Gomes, então Ministro da Aeronáutica, teria interferido no caso, pressionando o juiz responsável pela avaliação do caso, e, fardado, pressionou-o a indeferir a concordata. Assim, em um caso inédito na justiça brasileira, deu-se o indeferimento da ação no prazo recorde de 24 horas. O magistrado, em sua decisão, alegou que a Panair do Brasil não conseguiria recuperar-se, pois sem a operação de suas linhas não haveria receita. Essa decisão não levou em consideração, pela evidente pressão, que a empresa teria receitas provenientes de suas grandes subsidiárias, que atuavam nas mais diversas áreas de aviação civil, manutenção de turbinas ou, ainda, das receitas do conglomerado que a controlava, que incluía desde seguradoras, imobiliárias, fábricas do setor alimentício, exportação de café e telecomunicações e aeroportos da própria Panair. O fechamento total da empresa pela ditadura militar, só se deu definitivamente em 1969, através de um ato até então inédito na história do direito empresarial brasileiro, um "decreto de falência" baixado pelo Poder Executivo, durante o governo do General Costa e Silva. O principal beneficiário deste processo foi Ruben Berta, proprietário da VARIG, que apoiador do regime militar e amigo pessoal de diversos militares de alta patente, que acabou recebendo as concessões de linhas aéreas internacionais da Panair do Brasil e incorporou parte dos qualificados funcionários da empresa sem custo algum.










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Ferreira Gullar, do poema sujo ao argumento raso




Por Sergio Saraiva

O Poeta Ferreira Gullar morreu assassinado.

Mas não em uma sala de torturas dos porões da ditadura. Foi assassinado em algum momento pós-democratização. Foi assassinado não por um militar ou policial depravado, mas pela pessoa mais próxima de si que houvesse.

Seu assassino é conhecido, trata-se de José Ribamar Ferreira. Esse José Ribamar não só assassinou o Poeta, como tomou seu lugar. Na mais perfeita forma de ocultação de cadáver, faz se passar por ele e, hoje em dia, escreve crônicas dominicais em seu nome.

Ninguém soube cantar tão belo e doloroso o “sufoco”, os anos de chumbo, o país em estado de opressão pela ditadura e o último fio de esperança como Ferreira Gullar em seu Poema Sujo:

“E também rastejais comigo
pelos túneis das noites clandestinas
sob o céu constelado do país
entre fulgor e lepra
debaixo de lençóis de lama e de terror
vos esgueirais comigo, mesas velhas,
armários obsoletos gavetas perfumadas de passado,
dobrais comigo as esquinas do susto
e esperais, esperais
que o dia venha”.

Tal beleza trágica é a melhor prova do assassinato do Poeta quando comparada com os argumentos rasos de José Ribamar Ferreira em seu texto de 01/06/2014 na Folha de São Paulo, ”A Copa custou caro mesmo?”. Onde, achando-se ainda o Poeta, tenta um jogo de dizer e negar para reafirmar o que foi dito. José Ribamar não competência para tanto.

Logo no início, roga uma praga contra a Copa no Brasil, malsinando tumultos na porta dos estádios impedindo o acesso dos torcedores que desistiriam de assistir aos jogos temendo por sua integridade física. Para, logo em seguida, afirmar que não deseja tal desgraça, ainda que ela possa acontecer. Quem sabe? Eu também não creio em bruxos, mas que eles existem, existem. Eis um.

Depois do que ocorreu na Copa das Confederações e ninguém deixou de ver aos jogos ou para isso teve uma unha quebrada, só rogando praga mesmo.

Segue o bruxo, ou corvo, falando de estádios caríssimos em cidades onde pouco se pratica o futebol e cita, como exemplo, Brasília. Ah, que bola fora. O belíssimo “Mané Garrincha” será palco, se não de futebol, de memoráveis shows de músicos sertanejos a atrações internacionais. É o mais rentável dos estádios multiusos. Mas José Ribamar ainda acha que em estádios de futebol só se joga futebol.

Depois, deblatera contra a corrupção e os altos custos das obras que nunca ficam prontas no prazo. Do que fala, não sei, já que não cita onde houve a tal “corrupção” nas obras da Copa e os estádios estão prontos e já sendo utilizados no Campeonato Brasileiro deste ano. Os aeroportos estão sendo entregues, assim como as obras viárias.

Não vendo o que está à frente dos olhos, diz tratar-se, tal situação, de uma vergonha. Vergonha e envergonhados, sem dúvida, estão na moda.

Denuncia o mal uso do dinheiro público, que seria melhor utilizado em educação, saúde e infraestrutura(sic).

Em seguida, reconhece que os custos com a Copa não afetaram os gastos com educação. Os gastos com a Copa representam um duodécimo do que o Governo gasta com educação. Ele sabe, o jornal para o qual escreve, ele mesmo, noticiou isso em manchete.

Cabe, então, sair-se com o argumento de que, enquanto não tivermos a condição de educação da Finlândia, não poderíamos gastar um tostão sequer com a Copa. Não creio que a Alemanha, penúltima sede da Copa, tenha resolvido todos os seus problemas, educacionais inclusive, antes de promovê-la. Nem os EEUU, nem a Espanha, nem a Itália e mesmo nem a Coréia ou o Japão. Todos, países sedes. Imagino que a Copa tenha sido importante para o orgulho nacional dos sulafricanos, independente de seus problemas muitos e dos custos que sediar a Copa trouxe-lhes. Mas, que importa? José Ribamar é mais um brasileiro indignado, mais uma alma com complexo de vira-latas. Parece, esse complexo, ser o “mal do século” de intelectuais, artistas e ex-atletas brasileiros há algum tempo longe de seu maior brilho.

Por fim, em sua última maldição, prevê que a Presidente não comparecerá ao jogo inaugural por medo de ser vaiada. Não sei se a presença de um presidente é protocolar na cerimônia de abertura da Copa. Se for, ela lá estará presente. Esqueceu se José Ribamar do lema de vida da Presidente: “A vida quer é coragem”. Em nome dele, enfrentou a prisão e a tortura. O que uma claque de apupadores amestrados poderia fazer-lhe de mal?

São constrangedores argumentos tão rasos. Lamento. Em vida, Ferreira Gullar não os usaria. Lamentaria se do que seu assassino faz  em seu nome, tendo feito o tanto que o Poeta fez:

“Como se perdeu o que eles falavam ali
mastigando
misturando feijão com farinha e nacos de carne assada
e diziam coisas tão reais como a toalha bordada”.

Sinto, do profundo do coração, ver mais um poeta morto.

http://jornalggn.com.br/blog/sergio-saraiva/ferreira-gullar-do-poema-sujo-ao-argumento-raso