sábado, 17 de setembro de 2011

Ex-presidiário escolhido pelo Jornal Nacional para atacar Dilma em 2010, pede desculpas ao PT nos tribunais






Você se lembra do ex-presidiário Rubnei Quicoli, que a TV Globo abriu seus microfones e câmeras no Jornal Nacional para entrar nas casas dos brasileiros fazendo denúncias na base do "gogó" contra Dilma Rousseff e o PT durante a campanha eleitoral de 2010?



Pois é... ele pediu desculpas ao PT nas barras dos tribunais (na 9a. Vara Cível do TJDFT).



O ex-presidiário responde processo movido pela direção nacional do PT nas varas Cível e Criminal.





Mesmo com um passado de ex-presidiário por receptação de roubo de cargas, entre outros crimes (confira aqui), o Jornal Nacional da TV Globo o escolheu como pauta para fazer denúncias mirabolantes contra a então candidata Dilma Rousseff e o PT, sem qualquer credibilidade, sem qualquer prova, só na base do "gogó".



Nós, blogueiros "sujos", desmontamos a farsa, revelando a folha corrida do "empresário", apresentado como se fosse impoluto no Jornal Nacional.



Quem aposta na TV Globo levar ao ar pelo menos uma notinha da retratação?



http://osamigosdopresidentelula.blogspot.com/2011/09/ex-presidiario-esco...

O ocaso do MST




O Movimento dos Sem-Terra é um arremedo do que foi. Está sem rumo e é incapaz de promover grandes assentamentos. O Brasil avançou e os novos líderes da organização acabaram isolados numa disputa por dinheiro público

Pedro Marcondes de Moura/ Fotos: Rafael Hupsel









Menos de 60 quilômetros separam três cenários distintos: o berço, o pal­co da consolidação e a demonstração definitiva da decadência atual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O primeiro cenário está à beira da rodovia RS-324. Um monumento de ferro retratando um casal de camponeses sinaliza o embrião mítico do MST no Rio Grande do Sul, a “Encruzilhada Natalino.” Ali, cerca de 600 famílias expulsas de uma reserva indígena mostraram, em 1981, o poder de resistência de um grupo organizado em prol da reforma agrária. Apesar da forte repressão, em pleno governo militar, eles não arredaram pé do acampamento. A poucos minutos da Encruzilhada ficam as terras que testemunharam a primeira grande prova de força do movimento, a fazenda Anoni, invadida, na chuvosa madrugada de 29 de outubro de 1985, por cerca de sete mil pessoas. A organização que cortou as cercas da propriedade ameaçava incendiar os campos brasileiros e despertava o medo nos latifundiários. É um sentimento muito diferente do que hoje pode ser experimentado em Sarandi, a pequena cidade vizinha da Anoni. Barracos abandonados e outros trancados com cadeados, mas também vazios, atestam a decadência do MST. Das 83 famílias teoricamente instaladas no acampamento, um quarto só aparece aos sábados, domingos e feriados. Durante os dias úteis, tocam suas vidas. Moram e trabalham nas zonas rurais e urbanas de cidades próximas. Para eles, a peleja pela terra virou uma atividade de fim de semana.





CRISE

O assentado Rodrigo Rodrigues tenta sustentar a família com um emprego numa escola pública



As estatísticas confirmam o declínio. Dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT) revelam que, em uma década, a quantidade de famílias acampadas sob a bandeira do MST diminuiu seis vezes de tamanho. Durante o governo Lula, a queda foi ainda maior: desabou de 32.738 famílias acampadas para 1.204, excluindo as fileiras comandadas por José Rainha, considerado “dissidente” pela cúpula nacional do MST. “O momento está difícil mesmo”, admite Laércio Barbosa, um dos dirigentes na região do Pontal do Paranapanema, no sudoeste paulista. “Não vemos sinal de desapropriações e assentamento por parte dos governos ou do Incra. Não tem jeito. Isso afasta as pessoas da luta mesmo”, diz ele. Barbosa deu essa entrevista em meio a um acampamento à beira de uma estrada vicinal de acesso a Sandovalina. Consta que ali estariam abrigadas 220 famílias. As lideranças dizem que 40% delas vão ao local apenas nos fins de semana. Mas, na verdade, foi impossível contar mais do que 80 pessoas no local.



Parte do encolhimento das fileiras do MST pode ser explicada pela situa­ção econômica do País. Viver anos a fio sob barracos de lona, à espera de um lote de terra, deixou de ser a única opção para uma legião de trabalhadores rurais. O Brasil cresceu, em média, 3,65% nos últimos dez anos. Novas oportunidades surgiram no campo e nas cidades. A poucos metros do marco da Encruzilhada Natalino, por exemplo, funcionam hoje duas grandes agroindústrias. Antes só havia por ali campos de soja e fazendas improdutivas que geravam contingentes de marginalizados. A luta pela conquista de um pedaço de terra, nos braços do MST, era a única perspectiva concreta de futuro. “Hoje a gente tenta mostrar que a crise está aí, fala da situação da Europa e dos Estados Unidos para provar isso, mas muitos só pensam no agora e desistem”, lamenta-se José Machado, coordenador do acampamento em Sarandi. “A luta é dura”, diz ele, que registrou 20 baixas entre seus comandados desde 2009. No Pontal do Paranapanema, os assentamentos também contabilizam dissidentes. Muitos deles estão entre os brasileiros que foram beneficiados pelo 1,8 milhão de empregos formais que o País gerou nos oito primeiros meses do ano. É o caso de Rodrigo Capatto Rodrigues, 30 anos, assentado na fazenda São Bento. Ele arrumou trabalho como auxiliar de serviços em uma escola pública na cidade de Mirante do Paranapanema e agora pode sustentar a mãe e o irmão caçula.



Principal alvo da fúria do MST, o setor agroindustrial também passou por um importante processo de modernização e hoje se tornou um dos pilares da geração de emprego. Com investimentos em técnicas e equipamentos, a produtividade das lavouras nacionais cresceu cerca de 150% nos últimos 35 anos. O MST certamente contribuiu em parte para este avanço, pois o medo de ver terras improdutivas desapropriadas funcionou como impulso para proprietários rurais mais reticentes e tradicionalistas. Na região do Pontal do Paranapanema, um dos principais redutos do MST, a mudança é eloquente. Fazendas que na década de 90 se destinavam a uma pecuária extensiva de pouco investimento deram lugar a canaviais integrados a uma sofisticada cadeia produtiva, que desemboca em grandes usinas. Apenas a ETH Bioenergia, produtora de etanol e açúcar, gera mais de três mil empregos com duas plantas nas cidades de Teodoro Sampaio e Mirante do Paranapanema. “No meu assentamento, dá para montar mais de dois times de futebol com a meninada que foi trabalhar na usina”, conta João Bosco Rodrigues. O filho dele, Irivan, 20 anos, é um dos beneficiados pelo novo ciclo produtivo da região.





O NASCIMENTO E A QUEDA

O padre Arnildo Fritzen testemunhou a fase áurea do

movimento. José Machado, em Sarandi, lamenta as baixas:

"Tem gente que desiste"



Os programas sociais do governo federal, em especial o Bolsa Família, tiveram igualmente um papel relevante para afastar a população do campo do Movimento dos Sem Terra. O be­nefício pago mensalmente a pessoas em situação de miséria (cerca de 20% dos moradores da área rural do País) atacou um dos principais bolsões de captação de novos integrantes da organização. Além disso, a própria ideia da reforma agrária como panaceia do desenvolvimento econômico perdeu seu charme. Ela não integra sequer o principal projeto de erradicação da pobreza extrema do país, o Brasil Sem Miséria. O programa, concebido pela presidente Dilma Rousseff, aposta em regularizar, facilitar as linhas de crédito e melhorar a produtividade de terras já ocupadas. Não contempla investimentos para a ampliação do número de famílias assentadas.



Por todas essas razões, a imagem do MST sofre um sério desgaste na sociedade. Uma pesquisa do Ibope realizada no final de 2009 demonstra o descontentamento dos brasileiros com os rumos adotados pela organização. Mais de 70% dos entrevistados dizem que o Movimento dos Sem Terra prejudica a geração de empregos e o desenvolvimento econômico e social do País. Um cenário bem distinto daquele que embalou o ato de fundação do movimento em 1984, em Cascavel, no Paraná. “Naquele tempo, o MST tinha amplo apoio”, relembra Darci Maschio, um dos nomes da emblemática ocupação da Fazenda Anoni no Rio Grande do Sul. “No final da ditadura, a defesa da luta pela reforma agrária estava presente em quase todos os partidos. As pessoas abraçavam a causa. Hoje, você observa que o PT está no governo e essa questão saiu de pauta.”



O isolamento do MST é resultado direto das políticas escolhidas por seu comando. A relação do movimento com a Igreja Católica talvez seja o melhor exemplo disso. Desde o início, os padres tiveram um papel fundamental na organização e arregimentação dos sem-terra. Religiosos tratavam de amparar as famílias no mítico momento da Encruzilhada Natalino e estavam na linha de frente dos camponeses que romperam os arames da Fazenda Anoni. “Um povo que se emancipa e enfrenta o opressor para chegar à terra prometida” era o lema dessa ala chamada de “progressista”, como lembra o padre Arnildo Fritzen, 68 anos, um dos principais responsáveis pela formação de lideranças do MST no Rio Grande do Sul. Aos poucos, porém, os religiosos foram sendo deixados de lado no comando da organização. A separação ficou mais forte na década de 90, quando a Igreja Católica como um todo acabou se afastando dos movimentos populares, na esteira do declínio da Teologia da Libertação, que, anos antes, assanhava seus setores de esquerda.





SEM PERSPECTIVA

Laércio Barbosa, do Pontal, e Darci Maschio, que ocupou a Fazenda Anoni :

“Com o PT, a questão agrária saiu de pauta”



A direção do movimento passou a apostar numa estrutura altamente hierarquizada, mesmo entre seus pares. Nos seus primórdios, o MST parecia uma assembleia permanente. Hoje, os acampados apenas colocam em prática as decisões tomadas em esferas superiores. Nos assentamentos do Pontal do Paranapanema, em São Paulo, e também da região norte do Rio Grande do Sul, é evidente o fosso que separa o discurso dos dirigentes das práticas adotadas na vida real. É comum ver nessas áreas colonos que já conseguiram prosperar recrutando vizinhos para trabalhar como empregados, miseravelmente remunerados, em suas novas propriedades. Também se vê gente arrendando áreas para aumentar a produção – o que, antes, era denunciado como um pecado pelo MST. Isso sem contar os casos de compras irregulares de lotes de reforma agrária. Na grande vitrine da organização, a Fazenda Anoni, a comercialização das terras, proibida por lei, foi recentemente alvo de uma operação do Incra. Em 19 dos 412 lotes do assentamento, houve flagrantes de venda ilegal. No Pontal do Paranapanema, a negociação é feita sem pudor. Em Mirante do Paranapanema, pagando entre R$ 20 mil e R$ 30 mil, adquirem-se terras de pessoas que ficaram anos embaixo de uma lona.



Durante mais de duas décadas de história, o MST passou por um processo de filtragem ideológica. Lideranças mais pragmáticas ou que divergiam da orientação de cunho stalinista, adotada pela cúpula, foram alijadas. Um caso emblemático é o de José Rainha. Responsável por levar o movimento no Pontal do Paranapanema às manchetes de jornal, ele acabou renegado, em 2007. Rainha foi acusado de não seguir as orientações do movimento e “apoiar candidatos que não eram identificados com a causa da organização”. Pouca gente, no entanto, fala abertamente sobre as divergências internas. Todos temem o poder do grupo dirigido por João Pedro Stédili. Não é à toa que o MST assistiu à criação de uma legião de siglas concorrentes. Essa trajetória levou a um forte enfraquecimento do movimento, situação confirmada por dados da CPT: o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra representa hoje apenas 33,6% dos acampados brasileiros.



Essa redução do poder de mobilização do movimento não se reflete, no entanto, no acesso a verbas públicas. Mesmo sendo uma organização social semiclandestina que nunca existiu no papel (para evitar a criminalização de seus membros), o MST criou dezenas de ONGs, associações e cooperativas com a finalidade de abrigar os seus líderes e captar dinheiro de prefeituras, Estados e da União. Até o seu site está hospedado em nome da Associação Nacional de Cooperação Agrícola. Segundo levantamento da ONG Contas Abertas, os repasses triplicaram durante a gestão do presidente Lula. De R$ 73,3 milhões, em 2003, cresceram para R$ 282,6 milhões em 2010, embora, no mesmo período, o número de famílias acampadas sob a bandeira do movimento tenha desabado. Sem a aura e a força do passado, o MST sobrevive das verbas do Estado capitalista brasileiro.

O que o Brasil esconde




Congresso vota, nesta semana, a criação da Comissão da Verdade. Pelo menos quatro grandes grupos de mistérios dos anos de repressão terão de ser desvendados, se parlamentares e autoridades quiserem virar essa triste página da história

Mariana Queiroz Barboza e Vasconcelo Quadros













Era outubro de 1973, o perío­do mais duro da ditadura militar, quando 750 homens das Forças Armadas combateram, entre os rios Araguaia e Tocantins, no sul do Pará, guerrilheiros do PCdoB que tentaram promover uma revolução socialista a partir do campo. As consequên­cias da Guerrilha do Araguaia são conhecidas. Houve um banho de sangue. Pelo lado da guerrilha foram 80 mortos e desaparecidos – 59 militantes e 21 camponeses que aderiram à rebelião. Os militares sofreram 16 baixas. O caso, porém, continua cercado de vários mistérios. Os militares, por exemplo, jamais permitiram que o País soubesse quem foram os responsáveis pela ordem de extermínio geral e por que um grupo de 23 guerrilheiros – aprisionados em confrontos ou que se renderam a partir da segunda fase do conflito – foi executado. Já o PCdoB nunca justificou por que não foi ordenada a retirada dos militantes quando já não havia mais chances de êxito e os líderes da rebelião haviam partido para São Paulo. Para tentar elucidar esses e outros episódios de violação de direitos humanos no Brasil de 1946 a 1988, o governo, antigos e atuais ministros e líderes partidários negociaram um acordo para a votação, na próxima semana, do projeto que cria a Comissão da Verdade. Enquanto as autoridades e os parlamentares buscavam solucionar o impasse político, ISTOÉ procurou especialistas, historiadores, militantes de esquerda e integrantes do Exército para entender, afinal, qual a verdade que se busca. E quais são os outros grandes mistérios que ainda cercam os casos de tortura, mortes e desaparecimentos ocorridos durante os momentos mais violentos da repressão no País.





EM NOME DA VERDADE

Atuais e ex-ministros da Justiça e de Direitos Humanos se uniram, na última

semana, em favor da instalação da Comissão da Verdade no Congresso



O que se sabe é que perduram pelo menos quatro grandes vertentes de mistérios a ser desvendados na história recente do País. O primeiro desses grupos refere-se à fase inicial da revolução, de 1964 até o sequestro do embaixador suíço Giovanni Butcher, em 1970, quando a matança de inimigos ainda não havia se constituído propriamente numa clara política de governo. Mesmo assim, o aparelho de repressão produziu uma série de vítimas. Os episódios foram pontuais e não há documentos oficiais conhecidos capazes de esclarecê-los. Entre os mais emblemáticos está a morte do ex-sargento Manoel Raimundo Soares, cujo cadáver foi encontrado boiando no rio Jacuí, em Porto Alegre, no que ficou conhecido como “caso das mãos amarradas”, de 1966. Também é dessa fase o assassinato do ex-deputado Rubens Paiva. Sequestrado em 20 de janeiro de 1971 dentro de sua própria casa, no Rio de Janeiro, Paiva foi morto após dois dias de tortura no Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi). A ocultação da morte envolveu esforços da cúpula do governo e até hoje pouco se sabe dela. O assassinato do jornalista Vladimir Herzog, embora tenha ocorrido um pouco depois, em 1974, também pode ser incluído entre casos pontuais ainda sem explicação.



A outra vertente de mistério pertence à fase da chamada política de extermínio urbano, que vitimou militantes que retornaram de Cuba, banidos pelo regime militar e dirigentes de organizações de esquerda. É o momento em que começa a ficar claro que a repressão e a tortura fazem parte de uma política de Estado e não são apenas obras de agentes descontrolados dos porões da tortura. Uma das vítimas famosas do período é o estudante Frederico Eduardo Mayr, morto sob tortura. Os documentos conhecidos sobre sua prisão são típicos daqueles anos de cumbo: contraditórios e inconclusivos.





RIOCENTRO

O ataque à bomba na noite do dia 30 de abril de 1981, quando ali se

realizava um show comemorativo ao Dia do Trabalho, até hoje não foi esclarecido



O terceiro grupo de episódios pendentes de esclarecimento refere-se aos fatos ocorridos a partir de outubro de 1973 durante a Guerrilha do Araguaia, quando todos os que estavam em batalha morreram. Integrante do grupo de trabalho criado pelo Ministério da Defesa para reconstituir o conflito, Myrian Alves sustenta que é no movimento organizado pelo PCdoB que estão os principais “esqueletos” escondidos tanto pela ditadura quanto pelo próprio partido. Entre eles, o sumiço do soldado Valdir de Paula, que pertencia ao comando militar do Pará.

O quarto e último grande grupo de mistérios do período da repressão remete já ao fim da ditadura militar, quando são exterminados dirigentes do PCB, durante a chamada Operação Radar. São casos como o de Orlando Bonfim Júnior, um dos “desaparecidos” do perío­do. Não há sinais de Bonfim desde que ele foi levado por agentes da repressão ao presídio Castelo Branco, em outubro de 1975. “A resposta que buscamos é única: a verdade, o que aconteceu, onde estão os desaparecidos. Vamos esclarecer e virar essa página”, diz o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Para Paulo Abrão, secretário nacional de Justiça, a Comissão chega num instante em que o efeito do tempo é benéfico, “porque a distância dos fatos permite que hoje eles possam ser administrados de forma menos apaixonada”.



Pelo acordo fechado com o colégio de líderes pelos ministros José Eduardo Cardozo (Justiça), Celso Amorim (Defesa) e Maria do Rosário (Direitos Humanos), é provável que o projeto que cria a Comissão da Verdade seja aprovado na íntegra, como quer o governo. Por ele, a Comissão terá dois anos de vigência, seus sete integrantes serão insubstituíveis e terão ainda completa autonomia para revirar a história em busca da verdade. Ex-militante do PCdoB, preso na Guerrilha do Araguaia, torturado e condenado pela Justiça Militar, o ex-deputado José Genoino, assessor especial do Ministério da Defesa, afirma que não há riscos de a investigação descambar para o revanchismo nem de recolocar na agenda a lei de anistia ou a punição dos torturadores. Ele diz que o que foi pactuado pacifica o País, repõe a verdade histórica e afasta as animosidades que alimentaram a “guerra fria” entre esquerda e direita nos últimos 50 anos. “A comissão não será palanque e nem discutirá o que já foi resolvido pela anistia”, garante Genoino.











Sintonia fina






Entrosamento entre Dilma e Geraldo Alckmin aprofunda a divergência no PSDB e expõe dilema tucano para 2012

Izabelle Torres e Alan Rodrigues







AFINIDADE

Alckmin e Dilma trocam elogios durante assinatura de convênio do Rodoanel



É extremamente salutar para qualquer democracia que os diversos níveis de poder – municipal, estadual e federal – se relacionem bem, independentemente da coloração partidária de seus comandantes. Quando se assiste à troca de afagos entre a presidente Dilma Rousseff e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), como a que ocorreu em solenidade na cidade de Araçatuba (SP), na terça-feira 20, o País só tem a ganhar. Ocorre que essa parceria, classificada de “excepcional” por Dilma, é vista com muitas reservas no PSDB. Tradicionais caciques da legenda não olham com bons olhos a performance de Alckmin, cada vez mais forte no partido. Por trás das críticas, encontra-se um dilema que atormenta os tucanos nos seus redutos mais fortes, como São Paulo, Minas Gerais e Paraná. Começa na dificuldade de ter nomes consistentes para disputar as eleições municipais de 2012 e se agrava na ausência de um projeto para se contrapor ao PT no plano federal.



Além da falta de candidatos nas grandes cidades, a legenda enfrenta a resistência dos diretórios municipais de lançarem candidaturas próprias e serem obrigados a se afastar dos atuais núcleos de poder local. Em Curitiba (PR), o PSDB decidiu manter o apoio à reeleição de Luciano Ducci (PSB) e, em consequência, deixou ao relento o ex-deputado federal Gustavo Fruet, que já havia se lançado como candidato pelo partido. Fruet tentou convencer a Executiva Nacional a interferir nas negociações, mas, segundo ele, a resposta foi um silêncio constrangedor. “O PSDB vive um ciclo desvirtuoso e suicida. Uma crise de assepsia”, diz Fruet, que, ressentido, deixou o ninho e está a caminho do PDT. Em Belo Horizonte, os caciques querem a manutenção da aliança em torno de Márcio Lacerda (PSB), que tenta se lançar à reeleição com o apoio do PT e do PSDB. Outro grupo projeta um voo independente. O problema é a falta de nomes competitivos.





"O PSDB vive um ciclo desvirtuoso e suicida. Uma crise de assepsia"



Não bastasse a dificuldade de marcar seu lugar como oposição nas capitais, o PSDB também enfrenta graves problemas em São Paulo. Há divisões internas e falta de nomes competitivos. A avaliação é de que a candidatura de José Serra à prefeitura acomodaria todas as tendências partidárias. Sem outra opção com viabilidade e musculatura eleitoral para a campanha de 2012, a solução Serra seria para a cúpula tucana a única alternativa capaz de pôr fim à guerra fratricida que tomou conta da legenda. Serra, no entanto, espantou-se com sua rejeição nas recentes pesquisas de opinião e insiste que não tem interesse em entrar na disputa. Apareceram algumas opções para substituí-lo, como o secretário estadual de Cultura, Andrea Matarazzo, e o deputado estadual Bruno Covas. Alckmin tem defendido Covas. Já Serra, apoia o nome de Matarazzo. “É muito difícil uma decisão de consenso”, avalia o presidente municipal da legenda, deputado estadual Júlio Semeghini.



Em outras capitais onde o governador é tucano as dificuldades da legenda se resumem à falta de nomes com chance de vitória. Em Goiânia (GO), a esperança do PSDB é que o governador de Goiás, Marconi Perillo, construa um candidato. Em Maceió (AL), o voo dos tucanos esbarra no governador Teotônio Vilela, que ainda não decidiu se apoiará um nome do próprio partido. Vilela é conhecido por ser um governador governista na oposição. Entre tantas indefinições, os tucanos negam sua identidade e se dividem cada vez mais.







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A cota de Sarney




Gastão Vieira substitui o enrolado Pedro Novais no Ministério do Turismo graças à indicação do cacique maranhense. Em seu quinto mandato, coleciona casos de nepotismo

Claudio Dantas Sequeira







EXPERIENTE

Gastão está no quinto mandato e foi derrotado na eleição para prefeito de São Luís



O novo ministro do Turismo, Gastão Vieira (PMDB/MA), que substituiu o octogenário Pedro Novais, costuma fazer piada com o próprio nome. Na Câmara, em conversas com colegas, chama a si mesmo de “Pato de Sorte”, numa referência direta ao primo sortudo do Pato Donald, personagem de Walt Disney, que, como ele, também leva o nome de Gastão. Mas a sorte de Gastão não vem de berço. Ela começou a partir da relação de amizade com o clã Sarney. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-MA), teve peso importante em sua trajetória política e foi decisivo para sua indicação ao Turismo, na última semana. As negociações que levaram à nomeação de Gastão, no entanto, não foram nada fáceis, apesar do apadrinhamento do cacique maranhense. Começaram cedo na quarta-feira 14 e só terminaram às 22h30. A dificuldade se explica. Após perder o quinto ministro em nove meses, quatro deles envolvidos em denúncias de corrupção, a presidente Dilma Rousseff avisou que não queria “errar uma sexta vez”. Pediu ao PMDB um “ficha limpa” e ensaiou resistência à indicação de outro nome do Maranhão. Mas, depois de consultar perfis indicados por outros caciques peemedebistas, o Palácio do Planalto acabou cedendo às pressões de José Sarney a favor de seu afilhado político.



Na reunião com a presidente, o vice Michel Temer, responsável por articular a indicação dentro do partido, afirmou que tinha mais de 70 nomes para o cargo. Dilma retrucou de pronto. “Se é assim, por que não nomear o Gabriel Chalita?”, disse, deixando claro que também está disposta a influenciar na corrida à Pre­­­feitura de São Paulo. Comenta-se que Chalita pode suceder Fernando Haddad no Ministério da Educação. Segundo fontes do governo, Temer não aceitou e propôs até nomes de fora da bancada, como Moreira Franco, atual ministro de Assuntos Estratégicos. Diante do impasse, Sarney impôs sua vontade. “Não vou ceder nenhum espaço político”, avisou. O presidente do Senado havia indicado Pedro Novais e trabalhou nos bastidores para mantê-lo no cargo desde o início dos escândalos, em dezembro. Conseguiu blindá-lo, apesar da denúncia desmoralizante de que Novais usou verba indenizatória para bancar festa num motel de São Luís. Mas o cacique maranhense não pôde fazer nada após a divulgação na semana passada de que Novais pagou com dinheiro público uma governanta e o motorista particular da esposa (leia quadro).



Se a intenção de Dilma é evitar mais desgaste desse tipo, não há garantia de que a escolha de Gastão foi acertada. À primeira vista, o novo ministro parece um caso raro de político que empobreceu ao longo dos anos. Em 2010, declarou ao TSE possuir bens no valor de R$ 421 mil, cerca de R$ 20 mil a menos do que havia declarado em 2008. Nos bastidores, assessores garantem que ele é um dos poucos parlamentares que mandam verba para os municípios e não pedem um percentual de retorno. Mas sua trajetória política não é acima de qualquer suspeita, como seus assessores pretendem fazer supor. Ele foi duramente criticado, por exemplo, quando secretário de Educação do governo Roseana entre 1995 e 1998, por apoiar a implantação de telecentros nas escolas do Estado. A Corregedoria-Geral do Maranhão concluiu que mais de R$ 171 milhões foram utilizados irregularmente no projeto. Entre as irregularidades apontadas estão falta de notas fiscais, aquisição de material sem licitação e falhas na entrega de livros. Gastão também virou alvo de críticas ao usar o apartamento funcional em Brasília quando estava licenciado do mandato, em 2009, para assumir a Secretaria de Planejamento do governo Roseana. A despeito dos questionamentos, ele estava escudado numa autorização excepcional que lhe foi dada pela direção da Casa. Foi o que o salvou de um eventual processo de cassação.



Tal como tantos outros deputados, Gastão foi acusado de nepotismo ao empregar a filha Lycia Maria Vieira como funcionária comissionada em seu gabinete. Ela foi exonerada depois que o STF proibiu a prática. Quando secretário de Roseana, Gastão também empregou parentes na administração estadual. E, depois, os levou para Brasília. O genro Ricardo Lins, seu braço direito, foi nomeado assessor do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência. O atual ministro também indicou o sobrinho Danilo Furtado como assessor especial do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Com ajuda do tio, Furtado conseguiu ainda um assento no Conselho Fiscal da Eletrobras.



Nepotismo à parte, Gastão tem um estilo de vida incomum para um político de 65 anos. É fã de esportes e de redes sociais, como o Twitter e o Facebook. Quando viaja, usa terno e mochila com laptop. Advogado de formação, o deputado maranhense está em seu quinto mandato parlamentar. Durante o fórum nacional do PMDB, Gastão procurou marcar posição ao falar da relação com os Sarney. “Sou ligado à família há muito tempo, mas a família nunca me impôs nada”, declarou. A relação com a governadora, de fato, é de altos e baixos. Roseana o apoiou na campanha à Prefeitura de São Luís, em 2008, que resultou num fiasco. Já no ano passado, ela impediu Gastão de indicar o sucessor na Secretaria de Planejamento. Os dois se estranharam. Mas a indicação ao comando do Turismo serviu para outro propósito, segundo pessoas ligadas a ambos: o de selar a paz entre Gastão e a filha de Sarney.