sexta-feira, 20 de abril de 2012

Cachoeira diz que vai “matar a pau” na Caixa Econômica Federal


Carlinhos Cachoeira (Foto: Roosewelt Pinheiro/ABr)
ÉPOCA teve acesso com exclusividade a diálogos gravados (ouça os áudios abaixo) que mostram como a turma do bicheiro Carlinhos Cachoeiraatua para conseguir negócios milionários com a Caixa Econômica Federal. Em uma conversa gravada pela Polícia Federal, em 14 de abril de 2011, o empresário Cláudio Abreu, então diretor da Delta Construções para o Centro-Oeste, diz, aos gritos, para Cachoeira que eles haviam ganhado um grande contrato com a CEF: a construção em Brasília do Centro Tecnológico da Caixa, uma obra no valor de R$69,7 milhões.
Cachoeira também tinha uma boa notícia para dar para o parceiro Cláudio Abreu. Ele diz que “a Marise” é a nova superintendente da Caixa Econômica em Goiás. Segundo Cachoeira, Marise havia sido indicada por Marcelo Limírio, do laboratório NeoQuímica, também sócio de Cachoeira. “Marise” é Marise Fernandes de Araújo, uma funcionária de carreira que assumiu a Superintendência da CEF 20 dias depois da conversa entre Abreu e Cachoeira. “Vou levar ela aí para você conhecê-la”, diz Cachoeira. Cláudio Abreu diz que é importante: “Sabe por quê? As obras de saneamento aí do PAC em Catalão, que nós vamos fazer. Isso tudo vai depender da superintendência”, afirma Abreu. Sete meses depois desse diálogo entre Cachoeira e Abreu, a empresa Delta foi contratada, no dia 22 de novembro de 2011, para fazer obras de saneamento em Catalão. Valor do contrato: R$ 25, 1 milhões.  
Numa terceira conversa gravada, na noite de 14 de abril de 2011, Cachoeira e Abreu voltaram a falar sobre o contrato para a construção do centro tecnológico da Caixa. “Carliiiinhos, que vitória lá em Brasília! Essa obra da Caixa. É o edifício digital da Caixa”, diz Abreu, vibrando. “Excelente, Cláudio! Excelente”, diz Cachoeira. “Isso para nós vai ser muito bom. Vamos fazer um negócio bacana, bonito, show de bola”. Carlinhos Cachoeira também se empolga: “Vamos matar a pau, Cláudio, matar a pau”.  

Quanto às obras de saneamento em Catalão – ampliação do sistema de esgotamento sanitário da cidade –, a Caixa diz que a responsabilidade pela licitação e a contratação da Delta é da prefeitura. Segundo o banco, a Caixa atua apenas como repassadora de recursos. Quem assinou o convênio foi o Ministério das Cidades. Em relação à nomeação da funcionária Marise Araújo para a superintendência em Goiás, a Caixa diz que ela entrou no banco em 1981 e, em todos esses anos no emprego, não há qualquer registro que desabone sua carreira. 
A Caixa afirma que a Delta Construções venceu uma licitação, na qual cumpriu todos os requisitos técnicos e legais e não sofreu qualquer tipo de contestação. Mas, diante das gravações feitas pela Polícia Federal, a diretoria da CEF determinou uma avaliação sobre os procedimentos adotados na licitação. “A Caixa, em respeito à transparência dos atos da administração, embora não tenha verificado nenhum procedimento em desacordo com os aspectos legais que orientam a contratação, instaurará processo de análise preliminar para rever todos seus aspectos, assim como solicitará uma auditoria no processo”, afirma a CEF, em nova enviada a ÉPOCA.
As conversas entre Cláudio Abreu e Carlinhos Cachoeira no dia 14 de abril de 2011
Às 16h59, Cláudio Abreu diz a Carlinhos Cachoeira que ganhou uma obra de R$ 70 milhões na Caixa. A conversa é interrompida para Cláudio atender um prefeito.
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Pouco depois, Cachoeira e Abreu voltam a conversar. Cachoeira diz que também tem uma boa notícia: a nova superintendente da Caixa foi indicada por Marcelo, da NeoQuímica. Ele diz que vai levá-la para Abreu conhecer. E falam sobre as obras de saneamento do PAC, com recursos repassados pela Caixa.
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À noite, Abreu vibra com o contrato para a construção do edifício digital da Caixa, Cachoeira diz “vamos matar a pau”.

http://revistaepoca.globo.com/Brasil/noticia/2012/04/cachoeira-diz-que-vai-matar-pau-na-caixa-economica-federal.html
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O STF rachado



Sob pressão e em meio a uma guerra de egos, ministros do 

Supremo se dividem em relação ao processo do mensalão e 

escancaram crise

Izabelle Torres
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PRESSA 
Nova presidente do TSE, ministra Cármen Lúcia (centro) 
também quer julgar mensalão logo
Manda a tradição que os ministros do Supremo Tribunal Federal façam homenagem a quem deixa a presidência da Corte com uma sequência de discursos repletos de elogios. Mas a despedida de Cezar Peluso, na quarta-feira 18, seguiu outro roteiro. Foi fria, rápida e sem uma palavra sequer de apoio. Minutos antes do início da sessão, no Salão Branco, dois ministros conversavam sobre a falta de disposição de cumprir o ritual de discursar na saída do presidente. Um deles chegou a sugerir que telefonassem para o decano Celso de Mello, que ainda não tinha chegado para a sessão. O gesto deixou claro que Marco Aurélio Mello, o segundo mais antigo integrante do STF, não pretendia fazer elogios à atuação de Peluso. A quebra da tradição foi um exemplo claro do clima de discórdia que reina no Supremo às vésperas do julgamento do processo do mensalão, o maior da história da mais alta Corte do País. Responsáveis pelo desfecho do caso, os 11 ministros têm opiniões diferentes sobre a prioridade que deve ser dada ao processo. ISTOÉ conversou com ministros, assessores e advogados que circulam entre os integrantes do mais importante órgão do Judiciário para mostrar o tamanho da crise no STF.

A descrição sobre o que está, de fato, acontecendo muda de tom, mas o conteúdo é semelhante. Todos concordam que o clima nunca foi tão tenso e não se restringe apenas ao grau de impopularidade que Cezar Peluso atingiu nos últimos anos, especialmente entre os próprios pares. Tanto assim que nem a chegada do novo presidente, Carlos Ayres Britto, parece ser capaz de apaziguar os ânimos e reduzir as divergências instauradas. O ministro mais popular da Corte assumiu a presidência com a firme disposição de apressar a votação do processo do mensalão. Afinado com o relator Joaquim Barbosa, o novo presidente começou a telefonar para os colegas e perguntar sobre o andamento dos votos. Antes de tomar posse, Ayres Britto avisou que pretende conversar com seus pares sobre a importância do caso e a necessidade de julgá-lo rapidamente.

Nem bem iniciou sua estratégia, ele encontrou resistência de outros ministros, que, como não têm interesse em mudar a rotina do tribunal, apegam-se a formalismos para justificar suas posições. O ministro revisor do caso, Ricardo Lewandowski, é o mais irritado e resolveu interpretar os telefonemas como uma forma de pressão para que acelere o seu voto. Publicamente, fez um discurso afirmando que “ministros não são pressionados”. Reservadamente, no entanto, o discurso é outro. O revisor do mensalão admitiu não estar satisfeito com posicionamentos de outros integrantes da Corte. “Tenho plena autonomia”, reclamou. Lewandowski tem repetido que também respeita a opinião pública, mas não admite as interferências externas e não concorda em colocar o mensalão na frente de outros processos.

A posição de Lewandowski é respaldada por Marco Aurélio Mello e pelo decano Celso de Mello. Os dois consideram absurda a inversão de pauta. “Não vejo motivo para dar tratamento diferenciado”, diz Marco Aurélio. Por motivos muito mais pessoais do que os argumentos de julgador, o ministro Antonio Dias Toffoli não tem qualquer interesse em priorizar o caso. Advogado do PT por anos e titular da AGU no governo Lula, Toffoli se irritou com declarações de colegas de que será uma verdadeira “anomalia” ele não se declarar impedido. Disposto a votar no caso, ele disse que não vê motivo para seu impedimento. “Todos os ministros do STF que receberam a denúncia foram indicados por Lula, mas o magistrado não tem compromisso com quem fez sua indicação”, disse Toffoli após um evento na Fiesp. Apesar do argumento, ele não convence os colegas. 

O mal-estar envolvendo Toffoli e os demais integrantes do STF já começou a ser notado no mundo jurídico. No dia 2 de abril, quem assistiu à posse dos novos dirigentes do Tribunal Regional Federal da 3ª Região percebeu que ele sequer cumprimentou o colega Ayres Britto durante o evento. Ao ser questionado sobre a deselegância de seu ato, o ex-AGU explicou que estava com muita pressa para pegar carona no avião do vice-presidente Michel Temer. Ayres Britto fez que entendeu.

A maioria do STF se alinha com Ayres Britto e defende tratamento diferenciado para o mensalão. Até integrantes da ala mais conservadora, como Gilmar Mendes e Cezar Peluso, acreditam que adiar o julgamento colocaria o Supremo numa situação delicada por conta do risco real de prescrição. “Além disso, não podemos ignorar o fato de que dois ministros se aposentam este ano. E sabemos que a substituição nunca é rápida”, diz Mendes, referindo-se às aposentadorias de Peluso, em setembro, e Ayres Britto, em novembro. O julgamento já no primeiro semestre deste ano é defendido também pelo reservado ministro Luiz Fux e pela nova presidente do TSE, Cármen Lúcia. A ministra, por sinal, protagoniza outra frente de discordâncias entre ministros. Antes da posse, ela soube que o ministro Lewandowski não recebeu bem as homenagens antecipadas a sua sucessora no comando do TSE. Cármen Lúcia confidenciou que estava “pisando em ovos” para não se desentender com o colega. É nesse clima de vaidade e egos que o plenário do STF se prepara para o maior julgamento do século.  
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Uma rede criminosa que corrompe o País



Como o bicheiro montou um verdadeiro império empresarial para

desviar verbas, fraudar licitações, lavar dinheiro e se infiltrar no

poder público. Esse bilionário esquema de corrupção funciona há 

16 anos e se espalha por todo o Brasil

Claudio Dantas Sequeira
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INVESTIGAÇÃO
CPI pretende apurar o alcance do esquema de Cachoeira
Na semana passada, ISTOÉ obteve a íntegra do inquérito da Operação Monte Carlo, que resultou na prisão do bicheiro Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira. São quase 15 mil páginas, reunidas em 40 volumes e duas dezenas de apensos, além de 11 mil horas de gravações. Na análise do processo, do qual apenas alguns trechos eram conhecidos até então, a Polícia Federal não só traz à tona as relações promíscuas do esquema do bicheiro com autoridades nos três níveis de poder como esmiúça um império de empresas criadas com a finalidade de corromper em todo o País, desviar verbas, fraudar licitações e lavar o dinheiro ilegal. O levantamento também deixa claro que o grupo de Cachoeira vem agindo há pelo menos 16 anos e foi capaz de ultrapassar diversos governos e tonalidades partidárias. “Aqui come todo mundo, cara. Se não pagar pra todo mundo não funciona. Eu tô nisso há 16 anos!”, sintetiza Lenine Araújo de Souza, o braço direito de Cachoeira, em diálogo gravado pela Polícia Federal.

A descentralização dos negócios e o uso extensivo de laranjas deram capilaridade nacional à atuação de Cachoeira. Embora o bicheiro mantenha o controle das empresas por meio de um núcleo formado por parentes e amigos próximos, a PF identificou pelo menos 149 pessoas que em algum momento estiveram ou ainda estão associadas à quadrilha. Normalmente, a máfia de Cachoeira participa de licitações que já consideram ganhas, à base, é claro, de pagamentos de propina para autoridades e servidores estratégicos. A análise desse império de dimensões bilionárias indica que Cachoeira, nos últimos anos, usou especialmente empresas ligadas à área de medicamentos para se aproximar de governos em, no mínimo, nove Estados. O objetivo do empresário-bicheiro era abocanhar uma bilionária fatia da verba pública destinada à compra de medicamentos genéricos. Para isso, criou o laboratório Vitapan, com sede em Anápolis (GO), que rapidamente se tornou um dos principais fornecedores nacionais de genéricos. O laboratório foi uma espécie de cartão de visitas de Cachoeira para se infiltrar em governos estaduais e municipais. Hoje, a empresa está avaliada em R$ 100 milhões, tem convênios até com a Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, e está associada a outros grandes do setor, como a Neo Química e o laboratório Teuto Brasileiro. A Neo Química está hoje nas mãos do grupo Hypermarcas do empresário Marcelo Henrique Limírio, sócio de Cachoeira no Instituto de Ciências Farmacêuticas (ICF), que produz testes laboratoriais e faturou R$ 10 milhões em 2010, segundo a PF. Limírio também é sócio do senador Demóstenes Torres no Instituto de Nova Educação, faculdade criada em Contagem, e doou R$ 2,2 milhões para as campanhas de Demóstenes e do governador de Goiás, Marconi Perillo.

Ao longo dos últimos 16 anos, Cachoeira aprimorou e diversificou esse esquema. Mas, no início de suas atividades, ele usava empresas de gestão de loterias, seu core business, para fazer a aproximação com o poder público. Com a empresa Capital Bet, ele venceu sozinho a concorrência para a distribuição de bilhetes de loterias no Rio Grande do Sul, em 2001, na gestão Olívio Dutra. Com a Gerplan, que controlava a loteria em Goiás, entrou no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. O modus operandi incluía fraudes nos prêmios das loterias e suborno de autoridades, como foi revelado no escândalo Waldomiro Diniz, que desembocaria na CPI dos Bingos.
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ALVO 
Senador Demóstenes Torres reaparece
no Congresso e gera tumulto
Hoje as organizações de Cachoeira possuem tentáculos que vão muito além da loteria e do jogo do bicho. Entre os negócios com fachada legal mais lucrativos de Cachoeira, está a construção civil. Até aqui desconhecida do mercado, a Mapa Construtora firmou contratos com prefeituras do Ceará e de São Paulo. Na capital paulista, a empreiteira é a responsável pela construção do edifício que vai abrigar o arquivo geral da USP – contrato de R$ 2,1 milhões. Na cidade cearense de Vartoja, firmou convênios de R$ 1,8 milhão para a construção de uma escola infantil e uma quadra esportiva, que ainda não saíram do papel. Outra empresa do grupo do bicheiro, a Trade Construtora, obteve contrato de obras públicas em Anápolis, na atual gestão do petista Antônio Gomide. A Trade foi condenada pela Controladoria do Estado a devolver R$ 360 mil por irregularidades. Esses contratos, no entanto, representam uma pequena parcela do lucro de Cachoeira no setor. 

A partir de rastreamentos bancários feitos pela PF, sabe-se agora que boa parte dos recursos públicos que irrigaram o esquema do bicheiro saiu de contratos da Construtora Delta, líder de repasses do governo na área do Ministério dos Transportes. Segundo a PF, Cachoeira seria “sócio oculto” da Delta, articulando negócios conjuntos com a empreiteira, discutindo planilhas de obras, compartilhando funcionários e, inclusive, despachando da própria sede da empresa. Um dos diálogos interceptados pela PF mostra como Cachoeira e a Delta fizeram um consórcio para a compra da empresa Ideal Segurança, responsável pela segurança de aterros sanitários controlados pela Delta, por R$ 199 milhões. Em outro grampo revelador, até agora inédito, descobre-se que o ex-diretor do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) Luiz Antônio Pagot foi monitorado clandestinamente por pelo menos dois anos. “Tem mais de um ano que o tal do Pagot tá no grampo, entendeu?”, conta o espião Dadá ao bicheiro, em 11 de julho de 2011. Questionado por ISTOÉ, Pagot confirmou que, quando estava no comando do Dnit, foi informado por um delegado amigo sobre a existência de grampos no gabinete em Brasília e em seu escritório em Cuiabá (MT). A deflagração da Operação Monte Carlo indica que Cachoeira trabalhou pela demissão de Pagot e da cúpula do Ministério dos Transportes. Agora, suspeita-se que a Delta pode ter tido acesso a informações privilegiadas de dentro do Dnit, responsável pelas maiores obras da empreiteira.

Sócio ou não da Delta, está cada vez mais claro que a empreiteira fazia a ponte com outras empresas do grupo de Cachoeira para facilitar o toma lá dá cá com o mundo político. A Delta também tem contratos em Anápolis, que abrangem obras rodoviárias e coleta de lixo. Nos contratos das duas empresas a PF vê o dedo do deputado federal Rubens Otoni (PT), flagrado em vídeo negociando com Carlinhos doação de R$ 100 mil para o caixa 2 de sua campanha eleitoral. Otoni, aliás, está na lista da PF de beneficiários do jogo do bicho. Foi denunciado que o senador Demóstenes Torres recebia 30% do faturamento da jogatina comandada por Cachoeira. Só que esse montante, na verdade, era repartido entre os deputados Leréia (PSDB), Jovair Arantes (DEM) e o próprio Rubens Otoni, segundo as investigações.
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O caso mais flagrante, talvez, seja o repasse de R$ 26,2 milhões feito pela Delta à empreiteira Alberto e Pantoja Construções. Sem negócios reais e funcionando num endereço fictício, a empresa destinou R$ 17,8 milhões às companhias Midway Int. Labs. e Rio Vermelho Dist., que injetaram capital na campanha do deputado federal Sandes Júnior (PP-GO), do ex-senador Leomar Quintanilha (PMDB-TO), do governador Marconi Perillo (PSDB-GO) e da vereadora Miriam Garcia (PSDB-GO). Também foram beneficiados políticos do Distrito Federal, de Pernambuco e São Paulo. Já a Emprodata Administração de Imóveis, também uma empresa de fachada, repassou ao menos R$ 100 mil à Asfalto Brasília Ltda., que injetou R$ 175 mil na campanha da deputada Jaqueline Roriz (PMN). 

Outra empresa do esquema, a MZ Construções efetuou depósitos de R$ 520 mil na conta da Negocial Fomento Mercantil, que doou R$ 20 mil para a campanha do deputado federal Augusto Coutinho (DEM-PE). A gráfica Laser Press, também usada pela quadrilha, foi doadora da campanha do deputado Edson Aparecido (PSDB-SP). O argumento usado pela Delta é de que tais repasses não têm relação com as campanhas políticas, são apenas pagamentos a alguns dos milhares de fornecedores da empresa. Faria sentido, não fosse a proximidade de Carlinhos com a empreiteira. 

Por fim, o levantamento da Operação Monte Carlo também indica que Cachoeira passou a investir em imóveis rurais para a criação de gado, recurso usado como meio para a lavagem e evasão de capitais. Seu patrimônio inclui ao menos 31 imóveis, incluída aí uma fazenda de gado nelore. Cachoeira também vinha fazendo investimentos pesados em empreendimentos imobiliários, turísticos e até na implantação de cidades. A preferência é por áreas ainda não regularizadas, pelas quais ele poderia subornar autoridades e servidores para conseguir a regularização e depois revender o imóvel com uma valorização exponencial. Um dos maiores negócios na mira de Cachoeira é uma fazenda de dez milhões de metros quadrados no Distrito Federal. A área está sendo cogitada a abrigar uma extensão da cidade-satélite de Vicente Pires. Num diálogo interceptado pela PF, Gleyb Ferreira, gerente do esquema Cachoeira, trata da negociação com um grupo de São Paulo de metade da fazenda, avaliada em R$ 1,07 bilhão e cuja regularização será acertada com a Terracap na base da propina. Outra parcela estaria sendo negociada com o grupo Brookfield, que, segundo suspeita a PF, teria o ex-governador José Roberto Arruda como representante informal no DF. “Se o pessoal da Brookfield também abrir as pernas e começar com muito rolo, eu passo para São Paulo”, diz Gleyb. 
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Da Istoé: As assombrações de Protógenes



PF diz que gravações de conversas do deputado e do araponga

Dadá ligam Protógenes Queiroz ao esquema de Cachoeira. A CPI 

quer explicações

Mário Simas Filho
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cumplicidade Segundo a Polícia Federal, o araponga 
Dadá poderá ser indiciado como cúmplice dos
crimes do deputado Protógenes Queiroz
Delegado licenciado da Polícia Federal, Protógenes Queiroz se elegeu deputado pelo PCdoB-SP, em 2010, em busca de imunidade e foro privilegiado. A instalação da CPMI para investigar a rede de corrupção montada pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira, porém, coloca abaixo a estratégia de proteção. Na quinta-feira 19, alguns deputados e senadores cotados para compor a comissão davam como certo que Protógenes será um dos primeiros convocados a prestar esclarecimentos, apesar de haver assinado o requerimento para a abertura das investigações. As gravações de conversas telefônicas feitas pela PF durante a Operação Monte Carlo – que revelou o esquema de Cachoeira – mostram que Protógenes e um dos principais operadores do bicheiro, o sargento da Aeronáutica Idalberto Matias Araújo, conhecido como Dadá, são mais do que íntimos amigos. Os diálogos agora divulgados e documentos em poder da Corregedoria da PF e do Ministério Público Federal indicam que o deputado e o araponga Dadá são cúmplices em crimes pelos quais Protógenes já foi indiciado, denunciado e condenado em primeira instância a três anos e quatro meses de prisão pela 7ª Vara Criminal da Justiça Federal em São Paulo. “Os diálogos comprovam fatos passados durante a Operação Satiagraha e levantam a suspeita de que o atual deputado participava do esquema de Cachoeira”, disse um parlamentar de São Paulo que deverá assumir um posto na CPMI tão logo a comissão seja instalada.

Durante a Operação Monte Carlo, foram gravados seis telefonemas que revelam uma associação criminosa entre Protógenes e Dadá. Um dos crimes que teriam sido praticados pelo atual deputado, segundo os delegados da PF e procuradores que trabalham na investigação, seria o de coação de testemunhas, ação que costuma ser punida com a prisão preventiva do acusado. Em 2008, Protógenes comandou a chamada Operação Satiagraha, que prendeu o banqueiro Daniel Dantas. O problema é que foram descobertas diversas ilegalidades na investigação. De acordo com a Corregedoria da PF, com a denúncia do Ministério Público e com a decisão de primeira instância da Justiça Federal, Protógenes foi responsável por quebra de sigilos da investigação, promoveu grampos telefônicos em ambientes sem autorização judicial, forneceu senhas de acesso aos grampos da PF para 84 arapongas comandados por Dadá que foram levados de forma clandestina para a investigação. No processo, Protógenes é réu. Dadá e Jairo Martins, outro araponga ligado ao esquema de Cachoeira, são testemunhas. Nos diálogos gravados pela Operação Monte Carlo, Protógenes diz como Dadá e Martins devem se conduzir durante seus depoimentos. A conversa (leia quadro na pág. ao lado) foi gravada em nove de agosto do ano passado. Dias depois, os dois espiões deveriam depor na Polícia Federal. Ambos disseram que só iriam se pronunciar na Justiça.
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Além dos diálogos que confirmam as ilegalidades praticadas por Protógenes no correr da Satiagraha, outras conversas interceptadas no ano passado apontam para a participação de delegado licenciado na organização comandada por Cachoeira. Segundo relatos de delegados que participaram da operação, “Protógenes procurava influir na nomeação de pessoas em governos ligados ao esquema e também se proporia a abrigar em seu gabinete na Câmara funcionários que fossem indicados pelo grupo”. Duas conversas em especial chamaram a atenção dos delegados e procuradores. Uma foi gravada em 20 de dezembro de 2011. O diálogo (leia quadro ao lado) entre Dadá e um policial chamado Ventura, da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, durou mais de cinco minutos e, na conversa, o araponga revela que a nomeação do delegado da PF Daniel Lorenz para comandar a polícia do Distrito Federal não havia agradado ao grupo de Cachoeira por causa de divergências com Protógenes. Meses antes, Lorenz tinha se demitido, alegando não haver condições de trabalho. A outra gravação que chamou a atenção da PF (leia quadro ao lado) foi feita em 14 de janeiro do ano passado e durou seis minutos. Dadá diz a um interlocutor identificado como Serjão que estava empenhado em arrumar um emprego para a ex-secretária do deputado Laerte Bessa (PMDB-DF), que perdera a eleição. Na conversa, ele afirma ter recorrido a Protógenes e que o deputado lhe dissera que o gabinete estava lotado.

Na semana passada, o deputado negou qualquer participação no esquema de Cachoeira. Admitiu que conhece Dadá, mas afirmou que mantinha com o araponga uma relação profissional, pois era do setor de inteligência da PF e Dadá, do serviço de informações da Aeronáutica. O problema é que, nas datas em que as conversas foram gravadas, Protógenes estava afastado da PF e já exercia mandato parlamentar e Dadá estava aposentado na Aeronáutica e já atuava como araponga a serviço de causas privadas. As conversas, portanto, não são entre dois funcionários públicos lotados em serviços de inteligência, mas revelam a promiscuidade de um deputado com um araponga funcionário de bicheiro. Na quinta-feira 19, o PSDB encaminhou representação assinada pelo deputado Sérgio Guerra (PE) ao presidente da Câmara pedindo que fosse aberto um processo disciplinar contra Protógenes. 
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A lista dos deputados e senadores que não assinaram a cpi do Cachoeira




A lista dos deputados e senadores que não assinaram o pedido de criação da CPI do caso Cachoeira traz deputados que são réus no processo do mensalão e parlamentares envolvidos em escândalos.

Os presidentes da Câmara e do Senado, Marco Maia (PT-RS) e José Sarney (PMDB-AP), também não assinaram o requerimento lido ontem no plenário do Congresso, criando oficialmente a Comissão Parlamentar de Inquérito.

No total, 396 deputados e 72 senadores apoiaram a abertura da CPI --entre eles os quatro deputados suspeitos de envolvimento no esquema de Cachoeira: Sandes Júnior (PP-GO), Rubens Otoni (PT-GO), Stepan Nercessian (PPS-RJ) e Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO).

A CPI vai investigar as informações obtidas pela Polícia Federal, por meio das operações Vegas e Monte Carlo sobre jogos de azar, que indicam o envolvimento de agentes públicos e privados com o empresário de jogos ilegais Carlinhos Cachoeira.

O senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), que responde a processo no Conselho de Ética do Senado por suspeita de envolvimento com Cachoeira, não assinou o pedido de CPI.
Entre os réus do mensalão, os deputados Pedro Henry (PP-MT) e Valdemar da Costa Neto (PR-SP) não assinaram o pedido. O deputado Zeca Dirceu (PT-PR), filho do ex-ministro José Dirceu, também não está na lista dos que assinaram.

O ex-ministro também é réu do mensalão, além de ter prestado consultoria à empresa Delta --citada pela Polícia Federal no escândalo que teria Cachoeira em seu comando.
Outro que não assinou foi o deputado Eduardo Azeredo (PSDB-MG), suspeito de envolvimento no mensalão mineiro.

Os deputados Sérgio Morais (PTB-RS) e Jaqueline Roriz (PMN-DF), envolvidos em recentes escândalos, também não assinaram o pedido. Morais ficou conhecido por afirmar que se "lixava" para a opinião pública, enquanto Roriz escapou de processo de cassação depois de aparecer em vídeo recebendo pacote de dinheiro de Durval Barbosa, delator do esquema do mensalão do DEM.

Veja abaixo a lista de quem não assinou o requerimento de criação da CPI

Deputados que não assinaram: (117 no total)

Acelino Popó - PRB BA

Adrian - PMDB RJ

Aelton Freitas - PR MG

Alex Canziani - PTB PR

Anderson Ferreira - PR PE

André Zacharow - PMDB PR

Aníbal Gomes - PMDB CE

Antônia Lúcia - PSC AC

Antonio Brito - PTB BA

Antônio Roberto - PV MG

Aracely De Paula - PR MG

Arlindo Chinaglia - PT SP

Arnon Bezerra - PTB CE

Aureo - PRTB RJ

Beto Mansur - PP SP

Bruna Furlan - PSDB SP

Carlos Magno - PP RO

Celia Rocha - PTB AL

Cida Borghetti - PP PR

Cleber Verde - PRB MA

Damião Feliciano - PDT PB

Davi Alves Silva Júnior - PR MA

Dimas Fabiano - PP MG

Dr. Adilson Soares - PR RJ

Edivaldo Holanda Junior - PTC MA

Eduardo Azeredo - PSDB MG

Elcione Barbalho - PMDB PA

Eliene Lima - PSD MT

Eros Biondini - PTB MG

Eudes Xavier - PT CE

Fábio Faria - PSD RN

Felipe Bornier - PSD RJ

Francisco Floriano - PR RJ

Francisco Praciano - PT AM

Giacobo - PR PR

Gladson Cameli - PP AC

Guilherme Mussi - PSD SP

Heleno Silva - PRB SE

Hermes Parcianello - PMDB PR

Hugo Napoleão - PSD PI

Inocêncio Oliveira - PR PE

Janete Capiberibe - PSB AP

Jaqueline Roriz - PMN DF

Jefferson Campos - PSD SP

João Carlos Bacelar - PR BA

João Leão - PP BA

João Lyra - PSD AL

João Pizzolatti - PP SC

Joaquim Beltrão - PMDB AL

Jorge Boeira - PSD SC

Jorge Corte Real - PTB PE

José Carlos Araújo - PSD BA

José Chaves - PTB PE

José Linhares - PP CE

José Otávio Germano - PP RS

José Priante - PMDB PA

José Rocha - PR BA

Jose Stédile - PSB RS

Josué Bengtson - PTB PA

Júlio Cesar - PSD PI

Junji Abe - PSD SP

Lael Varella - DEM MG

Laercio Oliveira - PR SE

Lauriete - PSC ES

Luciano Castro - PR RR

Lúcio Vale - PR PA

Luis Tibé - PTdoB MG

Luiz Carlos - PSDB AP

Luiz Nishimori - PSDB PR

Magda Mofatto - PTB GO

Mandetta - DEM MS

Manoel Junior - PMDB PB

Manoel Salviano - PSD CE

Marçal Filho - PMDB MS

Marcelo Aguiar - PSD SP

Márcio Reinaldo Moreira - PP MG

Marco Maia - PT RS

Mário De Oliveira - PSC MG

Mauro Benevides - PMDB CE

Mauro Mariani - PMDB SC

Natan Donadon - PMDB RO

Nelson Marquezelli - PTB SP

Nelson Meurer - PP PR

Nice Lobão - PSD MA

Nilton Capixaba - PTB RO

Otoniel Lima - PRB SP

Paes Landim - PTB PI

Paulo Magalhães - PSD BA

Paulo Maluf - PP SP

Pedro Henry - PP MT

Penna - PV SP

Rebecca Garcia - PP AM

Roberto Balestra - PP GO

Roberto Britto - PP BA

Rogério Peninha Mendonça - PMDB SC

Ronaldo Nogueira - PTB RS

Rosinha Da Adefal - PTdoB AL

Sandro Alex - PPS PR

Saraiva Felipe - PMDB MG

Sebastião Bala Rocha - PDT AP

Sérgio Moraes - PTB RS

Silas Câmara - PSD AM

Simão Sessim - PP RJ

Taumaturgo Lima - PT AC

Toninho Pinheiro - PP MG

Valdemar Costa Neto - PR SP

Vicente Arruda - PR CE

Vilson Covatti - PP RS

Vinicius Gurgel - PR AP

Vitor Paulo - PRB RJ

Walter Tosta (PSD-MG)

Wellington Fagundes (PR-MT)

Wladimir Costa (PMDB-PA)

Zé Silva (PDT-MG)

Zé Vieira (PR-MA)

Zeca Dirceu (PT-PR)

Zequinha Marinho (PSC-PA)

Senadores que não assinaram: (9 no total)

Benedito de Lira (PP-AL)

Clésio Andrade (PMDB-MG)

Clovis Fecury (DEM-MA)

Demóstenes Torres (sem partido-GO)

Eunício Oliveira (PMDB-CE)

Garibaldi Alves (PMDB-RN)

José Sarney (PMDB-AP)

Lobão Filho (PMDB-MA)

Sérgio Petecão (PSD-AC)