sábado, 10 de setembro de 2011

A Líbia tem um novo chefe. O Brasil reconhece?

                           

A Líbia tem um novo chefe. O Brasil reconhece?
 
Foto: REUTERS

 

Mustafa Abdul-Jalil, líder dos rebeldes, desembarca em Tripoli para tomar posse de um governo reconhecido pelo mundo inteiro, menos pelo Brasil. Alguém precisa avisar o Itamaraty que Muamar Kadafi perdeu a guerra e já é passado


Por Agência Estado

10 de Setembro de 2011 às 18:30

Agência Estado
O líder dos ex-rebeldes líbios e do Conselho Nacional de Transição, Mustafa Abdul-Jalil, chegou neste sábado a Trípoli, e foi recebido com uma cerimônia oficial, para mostrar que ele está assumindo um governo interno que substitui o regime deposto de Muamar Kadafi. Mas mesmo com os novos líderes da Líbia tentando consolidar o controle do país, os seguidores de Kadafi continuam seus contra-ataques, em um sinal de que a batalha ainda não terminou.

Na chegada de Abdul-Jalil, um enorme tapete vermelho foi desenrolado e centenas de aviadores e autoridades em ternos correram para próximo do avião à medida que ele descia a escada. Alguns acenaram com sinais de vitória ou gritaram "Deus é grande". Uma multidão se apoderou do ex-rebelde à medida que ele tentava ir para o prédio da força aérea. Sua vinda para Trípoli significa que os ex-rebeldes estão prontos para estabelecer seu governo na capital. Até agora, a maioria dos líderes de movimentos anti-Kadafi ficaram localizados na cidade de Benghazi.

O Brasil é um dos poucos países que ainda não reconhecem o governo de transição, liderado pelos rebeldes. A decisão vem sendo adiada pelo chanceler Antônio Patriota por várias razões. Primeiro, porque Muamar Kadafi era amigo pessoal do presidente Lula. Segundo, porque há interesses bilionários em jogo. A Odebrecht, por exemplo, executava contratos de U$S 1,4 bilhão na Líbia. Outras empreiteiras, como Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão, também possuíam contratos importantes obtidos na era Kadafi. É possível que, agora, os prejuízos acabem sendo assumidos pela União (leia mais).

Dez anos depois, morte de prefeito do PT é mistério

                           

Dez anos depois, morte de prefeito do PT é mistério
 
Foto: Divulgação

 

Quem matou Toninho do PT, ex-prefeito de Campinas? Até hoje, essa pergunta não foi respondida


Por Agência Estado

10 de Setembro de 2011 às 07:06

Agência Estado
A família do prefeito de Campinas Antonio da Costa Santos, o Toninho do PT, assassinado há dez anos, prepara um ato público em nome da resistência contra a omissão no caso. A manifestação está marcada para as 9 horas de amanhã, 10, na praça da Catedral Metropolitana Nossa Senhora da Conceição, no Centro de Campinas (SP). Às 19h30 haverá uma missa e uma apresentação da Orquestra Sinfônica do município.

Após ir a Brasília na última terça-feira, 6, para tentar a federalização das investigações sobre o assassinato, a viúva do político, Roseana Garcia, informou que, caso não haja desdobramento na esfera federal, ela e seu advogado recorrerão à comissão de direitos humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA). A viúva diz não ter dúvidas de que o crime foi político. Até hoje não se sabe quem matou Toninho.

O prefeito eleito em 2000 foi atingido com um tiro na noite de 10 de setembro de 2001, após sair do Shopping Iguatemi. Toninho foi encontrado morto dentro de seu carro, um Palio, na Avenida Mackenzie. O prefeito não utilizava carros oficiais fora do expediente e não tinha seguranças. Hoje, 9, cerca de 70 pessoas participaram de um ato ecumênico realizado no local do crime.

Investigações reabertas

O caso passou pela Polícia Civil de Campinas e pelo Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) de São Paulo. O Ministério Público Estadual em Campinas chegou a apontar a quadrilha do sequestrador Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, como responsável pelo assassinato, mas o juiz José Henrique Torres não aceitou a denúncia. Os promotores recorreram da decisão do juiz no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), que manteve a sentença de Torres. No fim do ano passado, as investigações foram reabertas pela Justiça.

Em sua viagem a Brasília na última terça-feira, a viúva solicitou ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a entrada da Polícia Federal do caso. Roseana e o advogado da família também pediram ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, a federalização das investigações.

"A PF pode cooperar no caso, mas como estamos em uma República, deve haver uma conversa com o governador do Estado de São Paulo. Pedimos que o ministro tivesse essa conversa", disse Roseana. "O procurador-geral precisa enviar o pedido de federalização ao Superior Tribunal de Justiça. E sabemos que só houve um caso de federalização, o do Manoel Mattos (advogado pernambucano morto em 2009 e cujo crime foi o primeiro a sair da jurisdição de um estado para ser julgado pela União), mas o caso do Antonio é emblemático, é um atentado contra a democracia."

Dilma e Alckmin juntos novamente

                           

Dilma e Alckmin juntos novamente
 
Foto: AGÊNCIA BRASIL

 

Menos de um mês após encontro em São Paulo, petista e tucano terão agenda conjunta novamente na terça. Aproximação vem desagradando petistas e tucanos


Por Agência Estado

10 de Setembro de 2011 às 15:55

Agência Estado
247 - A polarização entre petistas e tucanos, que marcou o cenário político brasileiro nos últimos 16 anos, parece estar ficando para trás. Depois das trocas de gentilezas entre a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a troca de elogios e as parcerias firmadas entre a petista e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, parecem estar consolidando uma nova fase na relação entre os dois partidos. A aproximação vem desagradando a petistas e tucanos, já preocupados com os efeitos do flerte nas eleições de 2012 e 2014.

Menos de um mês após encontro em São Paulo, a presidente Dilma Rousseff e o governador Geraldo Alckmin estarão juntos novamente na próxima terça-feira. Em agosto, a aproximação entre a petista e o tucano foi selada na cerimônia de lançamento do programa federal Brasil sem Miséria para os Estados do Sudeste. Se o primeiro encontro no Palácio dos Bandeirantes causou desconforto no PT e no PSDB, a extensão da agenda para um evento no interior do Estado promete despertar mais polêmica.

Embora o Palácio do Planalto não tenha fechado a agenda presidencial de terça-feira, a assessoria do governador dá como certa a participação da presidente na assinatura do termo aditivo para construção do trecho norte do Rodoanel, obra que é uma das principais bandeiras tucanas no Estado.


Em seguida, Dilma e Alckmin vão até Araçatuba, no interior do Estado, para lançar a pedra fundamental do Estaleiro Rio Tietê. A agenda oficial em Araçatuba, cidade administrada pelo PT, deve incluir a assinatura de um protocolo de intenções para investimento na hidrovia Tietê-Paraná.

No dia 18 de agosto, Dilma e Alckmin firmaram acordo de unificação dos programas de transferência de renda paulista e federal. Com o acordo, 1 milhão de famílias beneficiadas passaram a ter um mesmo cartão para sacar os recursos do Bolsa Família, do governo federal, e do Renda Cidadã, do Estado.

Na ocasião, a ala tucana mais crítica ao governo federal, ligada ao ex-governador José Serra, não compareceu à cerimônia. Dilma dividiu o palco com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e aceitou o convite para almoçar com os tucanos. "O grande pacto republicano e pluripartidário que estamos firmando hoje é um pacto capaz de transformar a realidade social que vivemos", comemorou Dilma durante o evento. Alckmin disse que o "período de disputa" política estava ultrapassado e que era o momento de unir esforços. "Isso se deve ao seu patriotismo, generosidade e espírito conciliador", disse o governador.

Seis anos de xadrez para Valério. Antes do Mensalão


Seis anos de xadrez para Valério. Antes do Mensalão
 
Foto: DIVULGAÇÃO

 

Operador do Mensalão foi acusado de prestar informações falsas ao BC; seu sócio Cristiano Paz também foi condenado



10 de Setembro de 2011 às 13:37

Com informações do portal G1 - Marcos Valério e o empresário Cristiano Paz foram condenados à prisão pela Justiça Federal de 1º Grau em Minas Gerais, por terem dado informações falsas ao Banco Central. A condenação, divulgada nesta quinta-feira (9), foi determinada no dia 31 de agosto.

De acordo com a sentença, em 1999, os acusados prestaram declarações falsas sobre as operações e situação financeira da agência SMP&B, da qual eram sócios, no Banco Rural. Os dois alteraram o capital da agência de publicidade de R$ 150 mil para R$ 4,5 milhões. Com isso, eles conseguiriam justificar depósitos irregulares na conta e não levantar suspeita na fiscalização do Banco Central.

Na Junta Comercial de Minas Gerais, o capital social da SMP&B foi alterado de R$ 150 mil para R$ 600 mil.

Para a Justiça, se o Banco Central não tivesse informações alteradas, o esquema de evasão de divisas, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro, feito por empresas ligadas a Marcos Valério, poderia ter sido descoberto mais cedo. Em 2005, Marcos Valério ficou conhecido por suspeita de envolvimento no esquema do “mensalão”.

O juiz federal Leonardo Augusto de Almeida Aguiar, em auxílio à 4ª Vara Federal Criminal, alegou que, a partir das provas apresentadas, os réus agiram com consciência de que a conduta era ilícita. De acordo com a Justiça, Cristiano Paz foi condenado a aproximadamente cinco anos de prisão e 210 dias-multa e Marcos Valério, a seis anos de prisão e 280 dias-multa.

O advogado Marcelo Leonardo, responsável pela defesa de Marcos Valério, negou a acusação contra o réu e informou que entrou com recurso da decisão no Tribunal Regional Federal (TRF) de Brasília. A defesa de Cristiano Paz, feita pelo advogado Castellar Guimarães, informou que também efetuou a apelação da sentença no TRF, no dia 2 de agosto. Segundo Guimarães, a pena fixada pela Justiça não é correta, pois diante das provas a pena deveria se aproximar do mínimo previsto, porque se trata de réus primários com bons antecedentes. Devido a isso, o advogado alegou que a decisão deve ser reformulada.

A Justiça informou que, por falta dos requisitos necessários para o decreto da prisão cautelar, os réus podem recorrer em liberdade.

Mensalão

Marcos Valério também é réu no processo que apura um suposto esquema de compra de apoio político de parlamentares, conhecido como “mensalão”, tornado público em 2005. A denúncia foi aceita pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2005. A defesa dele e de outros 37 acusados, entre membros do Legislativo e servidores públicos, apresentaram as alegações finais ao STF nesta quinta-feira (8).

Após elaboração do voto do relator do caso, ministro Joaquim Barbosa, o processo será incluído na pauta de julgamentos. Ainda não há data prevista para a audiência.

Dilma vai pagar a conta da Odebrecht na Líbia


Dilma vai pagar a conta da Odebrecht na Líbia
Foto: REUTERS

 

Contratos de US$ 1,4 bilhão não serão honrados e o Brasil não será chamado a participar da reconstrução. Reportagem de Claudio Tognolli


10 de Setembro de 2011 às 15:34

Claudio Julio Tognolli_247 - O repórter Lourival Sant’Anna, do jornal O Estado de S. Paulo, visitou a sede da construtora Odebrecht, em Trípoli. E, na edição deste sábado, relata que, apesar de a Odebrecht ter sempre apoiado Muamar Kadafi, a sede da construtora foi saqueada por milícias leais ao ditador. Segundo o correspondente, os milicianos se instalaram na sede até 21 de agosto passado e saquearam as 111 salas. Três funcionários da Odebrecht, que trabalharam em Trípoli, aprofundaram o relato em entrevista ao Brasil 247.

“Quem vai pagar a conta desse prejuízo? Eu te digo que será o governo Dilma, porque Lula sempre flertou com Kadafi, e o PT era quase uma garantia de investimentos, para a Odebrecht, de que nada aconteceria por ali. Por isso o Brasil se absteve em votar a favor de entrada das tropas da Otan. Era uma tentativa de garantia. Não funcionou. Te digo que os saqueadores milicianos eram os mesmos que arrumavam para a Odebrecht mão de obra praticamente escrava para as obras da empreiteira na Líbia”, diz um funcionário da Odebrecht, morador do Nordeste do Brasil, e que trabalhou em Trípoli. Ao todo, os contratos da Odebrecht na Líbia somam US$ 1,4 bilhão e, ao que tudo indica, não serão honrados, o que pode fazer com que a conta seja paga pelo governo brasileiro.

Desde abril passado a reportagem do Brasil 247 vem mantendo contato com tais funcionários, que trazem relatos desse suposto esquema de escravidão. Com muitas loas, os números líbios atraíram grandes construtoras brasileiras: Odebrecht, Queiroz Galvão e Andrade Gutierrez. Afinal, na terra de Khadaffi o setor de construção vinha sendo o gerador de 4% do PIB do país, o que empregava cerca de 700 mil pessoas, num crescimento de 5% ao ano. O que nunca se soube é que essa força de trabalho, sobretudo a expressivamente contratada pelas construtoras brasileiras, é escrava. E as condições de trabalho não são melhores que as de um campo de concentração – uma situação ainda piorada pelas maracutaias montadas para se extorquir os escravizados com preços em desacordo com os da cidadania mais escassa.

A reportagem de Brasil 247 vem tomando, desde abril depoimentos de funcionários da Odebrecht, trazidos de volta ao Brasil em fevereiro, depois que a situação na Líbia ficou a da pá virada. Os funcionários são de Pernambuco, Ceará, Minas Gerais, Bahia e Rio Grande do Sul. Referem que as três gigantes brasileiras, Odebrecht, Queiroz Galvão e Andrade Gutierrez, fazem uso dos esquemas de trabalho escravo.

Os funcionários são taxativos: com apoio do Labor Department, nome dado ao ministério líbio do trabalho, a força de trabalho para as três construtoras brasileiras é oriunda de empregados trazidos da Tunísia, Egito, Palestina, Tailândia e Vietnã. “Os números da escravidão foram computados e levados para o Egito por dois líbios foragidos, chamados Faher e Moussa. Mas todos sabem que um argentino, funcionário da Odebrecht, e hoje lotado no Panamá, chamado Claudio Herrero, é quem ia buscar boa parte da mão de obra escrava nos outros países”, relata um brasileiro. Segundo ele, os contatos de Claudio Herrero, no ministério do trabalho líbio, sempre foram com dois funcionários nomeados pelo próprio Khadaffi, chamados Juma e Chuckre.

Os brasileiros relatam, em uníssono, que Odebrecht, Queiroz Galvão e Andrade Gutierrez faziam uso dos serviços de Juma e Chuckre. “Veja você que o esquema com o governo era tão forte que um visto de trabalho, que oficialmente custava 50 dinares líbios, era cobrado, pelo esquema de maracutaias, em 600 dinares”. O salário médio de um trabalhador, nessas obras, era de US$ 1 mil. “Mas as condições são terríveis: sempre testemunhei refeições sendo servidas a base de pele de frango frita, verduras pisoteadas, cachorros e ratos assados, álcool feito de batata, com os funcionários sendo viciados em perder as suas horas de descanso em “gambling”, a jogatina pura que come-lhes o resto do salário”.

A situação desses operários ganha um tom especial quando avaliados os números em jogo: o programa de incentivo à construção líbio, o GMR, previa a destinação de cerca de 10% da arrecadação governamental para obras de habitação e infraestrutura ao longo dos próximos anos, numa média de US$ 6,7 bilhões anuais. Só a Odebrecht interrompeu na Líbia duas obras grandes, como o novo terminal de passageiros do aeroporto internacional e o terceiro anel viário de Trípoli, o que totalizava US$ 2,3 bilhões.

A Odebrecht, desde 2005 na Líbia, por sua subsidiária em Portugal, a Bento Pedroso Construções e a CCC-Consolidated Contractors Company, do Líbano, iniciou as obras de construção de dois terminais em 2007. A previsão era que fossem entregues em setembro de 2009.

Outro projeto da construtora brasileira na capital Trípoli era a construção de um anel viário na cidade. A obra vinha sendo tocada pela Lybian Brazilian Construction and Developement (LBCD), que tem 60% de participação da Odebrecht e 40% da UDHC, empresa do governo líbio. Em fevereiro, a Odebrecht ordenou nesta segunda a evacuação de seus 5 mil funcionários no país, entre eles, 187 brasileiros,- incluídos familiares

Já a Andrade Gutierrez vinha operando na Líbia desde 2009. Trabalhava em obras de infraestrutura urbana de água, esgoto, drenagem e pavimentação.

Os brasileiros ouvidos viviam bem: ganhavam cerca de RS$ 7 mil mensais, sempre hospedados em bons hotéis ou no condomínio Palm City, em Trípoli. Sustentam que o governo brasileiro sempre soube do emprego de mão de obra semi-escrava, ou escrava, nas obras tocadas por empresas brasileiras na Líbia.

“Tudo isso sempre ocorreu sob os olhos de um dos filhos de Khadaffi, que faz parte do esquema que explora a mão de obra nessas condições, e que dá carta branca para que funcionários do governo líbio explorem esses trabalhadores, seja pela jogatina, seja pela extorsão para torná-los trabalhadores legalizados”, relata outro brasileiro.

O filho de Kadafi a que se refere é o “artista plástico” Saif El Islam El Gaddafi. Bem falante e dado a itinerâncias artísticas, o filho do ditador líbio, ano passado, foi incensado no Brasil. Na página do Ministério da Cultura, o filho do ditador líbio foi assim apresentado, em março de 2010:

“O ministro da Cultura, Juca Ferreira, participou na noite dessa segunda-feira, 8 de março, no Museu Afro Brasil, em São Paulo, da abertura da exposição O Deserto não é Silente, sobre a arte da Líbia.Em seu discurso na cerimônia, além de lembrar o Dia Internacional da Mulher, o ministro Juca Ferreira elogiou cooperação entre o Brasil e os países árabes. Quero parabenizar o artista e os patrocinadores que propiciaram o intercâmbio cultural com os países árabes, estreitando as relações econômicas e culturais, promovendo políticas públicas para consolidar os laços de amizade entre os países.”

A Gaddafi International Foundation for Charitable Associations, sob a liderança do arquiteto e artista plástico Saif El Islam El Gaddafi, filho do líder líbio Muammar El Gaddafi, e o Museu Afro Brasil estão promovendo a mostra O Deserto não é Silente – uma seleção das mais importantes obras do patrimônio arqueológico e da arte contemporânea da Líbia.

A exposição já foi montada em Paris, Berlim, Londres, Roma, Milão, Genebra, Viena, Madrid, Tóquio e Montreal.

Segundo Gaddafi, o tamanho e a importância do Brasil foram as razões para que o país fosse escolhido como primeiro destino da mostra na América Latina”.

Quando veio ao Brasil, o filho do ditador foi ciceroneado por Marcelo Odebrecht, presidente da maior empreiteira do País, e homenageado pela socialite Ana Paula Junqueira.

Pane na Lotérica Federal


Pane na Lotérica Federal
 
Foto: DIVULGAÇÃO

Muitos apostadores da Mega-Sena no Rio de Janeiro perderam a chance de jogar no último sorteio devido a um problema no servidor da Caixa Econômica Federal que tirou do ar os pontos de venda de bilhetes





10 de Setembro de 2011 às 20:20

Uma problema no servidor da Caixa Econômica Federal (CEF) provocou pane no sistema de parte das lotéricas do Rio de Janeiro. Na capital fluminense, era possível perceber várias casas lotéricas exibindo cartazes com os dizeres "fora do ar" em seus equipamentos.

Devido ao problema, apostadores da Mega-Sena, acumulada em R$ 4 7 milhões, não puderam realizar seus jogos antes do sorteio deste sábado. Segundo a Caixa Econômica Federal, poucas lotéricas ainda estavam com o sistema fora do ar até o fechamento desta matéria. O problema tinha prazo de resolução até às 22 horas deste sábado, ou seja, após o sorteio.

Como Osama bin Laden derrotou um Império

 

Dez anos depois do atentado às Torres Gêmeas de 11 de setembro, o terrorista, mesmo morto, alcançou seu objetivo: a falência do Império americano. Mas o mérito não é dele, e sim da Casa Branca, que cometeu erros em série


10 de Setembro de 2011 às 19:56


Leonardo Attuch_247 – Os números estão estampados na reportagem de capa da revista Carta Capital desta semana. Uma década depois do atentado terrorista de 11 de setembro, o que aconteceu nos Estados Unidos? Eis alguns dados:

1) O preço das ações que fazem parte do índice Standard & Poors caiu 39%.

2) O desemprego dos americanos subiu de 3,9% para 9,1%.

3) O preço do petróleo triplicou.

4) A dívida americana saltou de 57,6% para 96,8% do PIB.

5) A participação dos Estados Unidos no PIB mundial caiu de 30,8% para 23,5%.

Em 11 de setembro de 2001, a economia americana estava exuberante. Bill Clinton, em seus dois mandatos, orgulhava-se de ter zerado o déficit americano. E o século XXI já era anunciado como mais um período de domínio absoluto do que os franceses chamavam de “hiperpuissance” – a hiperpotência. O Império parecia invulnerável.

Mas a história nunca é previsível. Depois da bonança da era Clinton, o poder passou das mãos dos democratas para os republicanos numa eleição fraudada – não fosse a contagem manipulada de votos na Florida, governada por Jeb Bush, George W. Bush teria perdido a disputa para Al Gore.

E logo no seu primeiro ano de mandato, a tragédia de 11 de setembro serviu de pretexto para que todos os demônios fossem liberados. Sob a influência do vice-presidente Dick Cheney e de radicais “neocons” como Paul Wolfowitz e Donald Rumsfeld, os Estados Unidos deflagraram a chamada Guerra ao Terror, passando por cima de resoluções internacionais. Wolfowitz era o ideólogo da teoria dos ataques preventivos, segundo a qual um inimigo poderia ser atacado, mesmo que não tivesse feito nada que justificasse a agressão.

Bush teve como maior aliado em sua cruzada o ex-premiê britânico Tony Blair. E ambos elegeram como primeira vítima o ex-presidente iraquiano Saddam Hussein. Ainda em 2002, ruas de Londres e de várias capitais europeias eram tomadas por manifestantes que já enxergavam o motivo óbvio da invasão iraquiana. “No Blood for Oil”, diziam os cartazes. Ou seja, não se aceitava o escambo do sangue de inocentes pelo petróleo.

Apesar disso, Bush expôs o então secretário de Estado Colin Powell ao maior vexame de todos os tempos: o de tentar convencer a opinião pública mundial de que o Iraque possuía “armas de destruição em massa”. Mesmo sem qualquer evidência nessa direção, os Estados Unidos invadiram o Iraque em 2003. De lá para cá, já foram assassinadas 111 mil pessoas, de acordo com o site Iraq Body Count.

Quase todos inocentes.

E o objetivo de se apoderar das riquezas americanas não foi alcançado, porque foi impossível estabilizar o Iraque. A guerra ao terror, na verdade, gerou mais núcleos de terror em vários cantos do Oriente Médio. (Abre-se aqui um parêntese: em 2007, entrevistei Phil Gramm, consultor econômico do candidato republicano John McCain, que foi derrotado por Barack Obama, um ano depois. Ele me dizia que o preço do barril do petróleo cairia a US$ 50. Perguntei o motivo. E ele me respondeu: “Porque já invadimos o Iraque”. John McCain perdeu e o petróleo foi a US$ 150).

Falência econômica e moral

De acordo com os cálculos do economista Joseph Stiglitz, a invasão do Iraque custou U$S 4 trilhões aos Estados Unidos. Não apenas em função das despesas com a máquina de guerra, mas também com o aumento dos gastos na importação do petróleo.

Resultado: as decisões tomadas pelos falcões “neocons” da Casa Branca estão na gênese da atual crise econômica, que arrastou bancos poderosos, como o Citi, e há poucos meses, colocava no ar uma dúvida aterradora: os Estados Unidos decretariam ou não a moratória de sua dívida? Faltou pouco para que a nação mais rica do mundo desse o calote no resto do mundo – incluindo o Brasil, que é um dos maiores detentores de títulos do Tesouro norte-americano.

Não bastasse a falência econômica, as respostas equivocadas dos Estados Unidos ao atentado terrorista provocaram a decadência moral do país. Na era Bush, os Estados Unidos, antes admirados em boa parte do mundo, passaram a despertar ódio e desprezo. E contribuíram para essa decadência cenas degradantes como as das torturas na prisão de Abu Graib, no Iraque, e em Guantánamo, em Cuba.

Obama capturado e morto

Em maio deste ano, o terrorista Osama Bin Laden foi capturado e morto pelos “Seals”, que formam a tropa de elite do Exército americano. Neste momento, que marca a passagem de dez anos do atentado terrorista, ele poderia estar sendo julgado numa corte internacional e expondo suas razões, se não tivesse sido alvejado e atirado ao mar.

Fotos do terrorista jamais foram divulgadas. Osama foi capturado no Paquistão, bem ao lado das instalações militares de um país aliado dos Estados Unidos, tornando ainda mais evidentes os erros cometidos pela Casa Branca nas guerras do Iraque e do Afeganistão.

Osama bin Laden perdeu.

Mas, de certa forma, seus objetivos foram alcançados.

Basquete do Brasil se classifica para Londres e acaba com tabu

DANIEL BRITO
ENVIADO ESPECIAL A MAR DEL PLATA

A seleção brasileira masculina de basquete despertou de um pesadelo que em 2012 completaria 16 anos. O time se classificou para a próxima edição dos Jogos Olímpicos, ao vencer a República Dominicana neste sábado, por 83 a 76.

A partida histórica, que arrancou lágrimas de todos os jogadores e até do tarimbado técnico Rubpén Magnano, aconteceu no ginásio Islas Malvinas, em Mar del Plata (Argentina), pela semifinal do Pré-Olímpico, que dá duas vagas para Londres-2012.

Na outra semifinal, Argentina enfrentaria Porto Rico na noite de hoje.

Andres Stapff/Reuters
Marcos Vinicius tenta passar pela marcação de Benjamin, da República Dominicana
Marcos Vinicius tenta passar pela marcação de Benjamin, da República Dominicana

A última participação brasileira em uma Olimpíada foi em Atlanta-1996, quando o cestinha Oscar Schmidt, 53, ainda defendia a equipe.

De lá para cá, o Brasil falhou por três ciclos olímpicos consecutivos, mesmo contando com uma das mais talentosas gerações que a modalidade já produziu no país.

Apesar do longo período ausente, o Brasil continua sendo o segundo mais frequente em Olimpíadas.

Em Londres, completará sua 14ª participação em 18 eventos, desde Berlim-1936. Os Estados Unidos, já classificados para 2012 por terem sido campeões mundiais no ano passado, vão para sua 17a. participação olímpica.

Curiosamente, a vaga brasileira para em Londres veio sem que o time contasse com suas principais estrelas.

O ala-armador Leandrinho, do Toronto Raptors, da NBA, e o pivô Nenê, do Denver Nuggets, anunciaram que não estariam em Mar del Plata com a seleção. Alegaram, sem muitas justificativas, motivos pessoais e físicos para não se apresentarem.

O também pivô Anderson Varejão, do Cleveland Cavaliers, chegou a se apresentar ao técnico Rubén Magnano, mas ainda não está recuperado da cirurgia no tornozelo direito, a qual se submeteu em fevereiro, nos EUA.

Com um elenco limitado tecnicamente, mas unido e raçudo, e um treinador campeão olímpico, o Brasil conseguiu superar as ausências.

Hoje, fez uma partida digna de entrar para a história, por só ter sido decidido no minuto final.

A vitória serviu também como revanche, porque os dominicanos foram os únicos a vencer o Brasil na competição. Na terceira rodada da primeira fase, por 79 a 74.

A seleção joga neste domingo a final, a contragosto de jogadores e comissão técnica, que consideram a vaga olímpica mais importante do que um troféu de campeão do torneio.

Além disso, está classificada para a Olimpíada seguinte, em 2016, porque o Brasil é o país sede.

Protesto chique e o fracasso do Cansei

Dos blogs do Miro e balaio do Kotscho

 

 


Eles não aprendem e não desistem. Derrotados três vezes nas eleições presidenciais, os valentes da fina flor paulistana foram de novo às ruas para protestar “contra tudo o que está aí”. Desta vez, o álibi foi a Marcha Contra a Corrupção organizada nas redes sociais em várias regiões do país.


Em São Paulo, apesar dos esforços de alguns blogueiros histéricos, o protesto fracassou: segundo a Policia Militar, apenas 500 pessoas se animaram a sair de casa neste belo feriado de 7 de setembro com muito sol para ir à avenida Paulista levantar cartazes contra a corrupção.


A personalidade mais conhecida identificada pela imprensa foi a socialite Rosangela Lyra, sogra do jogador Kaká e representante da Dior no Brasil.


Era a mesma turma chique do “Cansei”, um “movimento cívico” criado em julho de 2007, para protestar contra o “caos aéreo”, pelo presidente da OAB paulista, Luís Flávio Borges D´Urso, agora pré-candidato do PTB de Roberto Jefferson a prefeito de São Paulo, mas nem ele foi visto hoje na avenida Paulista.


De outro líder do “Cansei”, o executivo Paulo Zotollo, ex-presidente da Phillips, não se ouviu mais falar. Na época, ele causou um enorme dano para a imagem da empresa ao declarar em entrevista ao jornal “Valor”:


“Não se pode pensar que o país é um Piauí, no sentido de que tanto faz como tanto fez. Se o Piauí deixar de existir ninguém vai ficar chateado”.


O Piauí ainda existe, virou até nome de revista, vai bem, cresce e seu povo está melhorando de vida, ao contrário do infeliz executivo que apenas vocalizou o que pensava boa parte da elite paulistana sobre os nordestinos, quando o presidente do país era o pernambucano Lula.


A direção nacional OAB nacional na época, que ainda não era dominada por tipos como Ophir Cavalcante (quem?), o novo Álvaro Dias predileto da mídia, decidiu não participar do movimento e criticou a sessão paulista da entidade.


O então presidente da OAB-RJ, Wadih Dammus, resumiu do que se tratava. “O Cansei é um movimento de fundo golpista, estreito e que só conta com a participação de setores e personalidades das classes sociais mais abastadas de São Paulo”.


Foi o que se viu no 7 de setembro de protestos na avenida Paulista. São os mesmos. Só mudou o mote.


Em tempo (atualizado às 19h12):


No final da tarde desta quarta-feira, 7 de setembro de 2011, os números sobre o tamanho das manifestações em São Paulo variavam nos portais da grande mídia, que ajudaram a promover os protestos na avenida Paulista.


Segundo a “Veja”, em nova manifestação promovida à tarde, no mesmo local, havia entre 2 e 4 mil pessoas no protesto, dependendo do informante e do blogueiro.


No portal da “Folha”, o maior jornal do país, a multidão de protestantes chegou ao máximo de 700 manifestantes, em seus diferentes informes ao longo do dia.


Até o final da tarde, segundo o portal do “Estadão”, um dos mais empenhados promotores das manifestações na avenida Paulista, em nenhum momento, até as 19 horas, o protesto passou de 500 participantes.


Seja como for, foi bem menos gente do que o registrado na maior manifestação do fracassado “Cansei”, promovida no dia 17 de agosto de 2007, na praça da Sé, em São Paulo, com o apoio da Febraban (a federação dos bancos) e da Abert ( a associação das grandes emissoras de televisão), entre outras mais de 60 entidades da “sociedade civil organizada”.


Segundo a Polícia Militar, havia 5 mil pessoas naquele dia em São Paulo protestando contra o “caos aéreo” do governo Lula e outras mazelas nacionais.


A grande imprensa brasileira, que se uniu para promover o golpe militar de 1964 e eleger Fernando Collor em 1989, parece ter perdido seu poder de mobilização. E seus blogueiros, colunistas e editores amestrados continuam latindo para cada vez menos gente.

Folha defende o assassinato de inocentes na guerra dos aviões drones



Aviões-robô têm papel central na guerra contra terrorismo

IGOR GIELOWENVIADO ESPECIAL AO PAQUISTÃO

A guerra de dez anos travada pelos EUA e seus aliados no Sul da Ásia aperfeiçoou os manuais de contraterrorismo e contrainsurgência, mas provavelmente entrará para a história como o primeiro conflito em que robôs tiveram um papel central.

Trata-se, claro, dos famosos "drones" --palavra inglesa que designa uma família de aviões-robô controlados a milhares de quilômetros de distância, em bases nos EUA.

As Forças Armadas americanas os usam em funções de vigilância no Afeganistão, mas são os modelos operados pela CIA no Paquistão que causam o verdadeiro impacto e polêmica na guerra.

Utilizando mísseis Hellfire, que são capazes de vaporizar seus alvos, Predators e Reapers são hostilizados como verdadeiros vilões. "Nós não dormíamos à noite, ouvindo aquele zunido. Até que um dia acertaram um de nossos vizinhos. Umas 30 pessoas morreram, inclusive um primo meu que de taleban não tinha nada. Eu perdi meu carro e duas vacas", diz Sahr Zamin, 48.

Ele morava com sua família na vila de Ghar Shanozi, perto de Damadola, na agência tribal de Bajaur. O ataque ocorreu em outubro de 2009, e depois disso todos se mudaram para Mansehra, uma área tribal mais calma perto da capital, Islamabad.

O ataque provavelmente está sob a entrada 44/2009 do maior levantamento já feito sobre o tema, pela ONG New America Foundation. Lá, o suposto alvo do "drone" era um comandante taleban chamado Faqir Muhammad, que não morreu no ataque. A ONG, baseada em noticiário, diz que morreram 25 pessoas, e que a maioria era composta de militantes.

Zamin conta uma história diferente, afirmando que quase todos os mortos eram moradores da vila. Soldados paquistaneses sempre se queixam da dificuldade de discernir entre militantes e moradores. É de se imaginar a imprecisão então de analistas da CIA em seus escritórios com ar-condicionado em Langley, Virgínia, que usam vocabulário de vídeo-game ("splash" é quando aviões captam a morte de um alvo).

O levantamento da New America registra 267 ataques entre 2004 e agosto de 2011, ano que, sozinho, teve 54 incursões. Ele afirma que 20% dos até 2.588 mortos registrados eram inocentes.

"Claramente isso é uma visão errada. Civis são a maioria entre as vítimas", diz o ex-chefe do serviço secreto paquistanês Hamid Gul, um dos "pais" do Taleban afegão.

Sua opinião é refletida na mídia e na elite paquistanesas. Mas a posição oficial do Exército é ambígua: enquanto seu comandante pede que a tecnologia dos robôs seja compartilhada, é sabido que pelo menos até o começo deste ano o Paquistão ajudava a identificar alvos indesejáveis.

Há outras implicações. Defensores dos robôs afirmam que há questionamentos a serem feitos, mas que os princípios de autodefesa e de proporcionalidade os justificam.

Por fim, há questões: o analista que apertou o botão em Langley é alvo legítimo de retaliação? Em qual corte sua ação pode ser questionada?


Percebeu leitor, o quanto esse jornalismo da Folha é canalha? Defende abertamente o uso dos aviões robôs nos crimes de mortes cometidos contra civis inocentes cuja única culpa é está na zona de guerra em meio a uma resistência tenaz que não se entrega à força de ocupação dessa nação de terroristas chamada E.U.A da América. Mas não aceite a porcaria que é dita neste artigo criminoso, canalha publicado na páginas da latrina dos Frias. Abaixo você terá a dimensão exata dos efeitos do uso da tecnologia militar do drones, armas perigossímas acionadas por controle remoto no estilo vídeo game que tem matado centenas de milhares de pessoas no Afeganistão, Paquistão, Líbia, Iêmen e em outros países na guerra terrorista criada pelos E.U.A para se apossar dos recursos naturais das nações ricas em petróleo. Porque é de petróleo que se trata. Esse jornalismo sórdido só pode ser combatido com contra-informação. Quem quiser saber o que são e o que fazem os aviões drones clique no link abaixo e se assombre!

http://redecastorphoto.blogspot.com/2011/09/cia-e-os-drones-para-resolver-problemas.html

A CIA e os “drones”: para resolver problemas internos

5/9/2011, Gareth Porter, OpEdNews
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu

Quando David Petraeus chegar à CIA na 3ª-feira, estará assumindo a presidência de uma organização cuja missão mudou nos anos recentes. A CIA já não é encarregada de reunir e analisar dados de inteligência. Hoje, tem participação direta em campanhas militares, comandando os aviões-robôs tripulados à distância, os drones, no Paquistão, no Iêmen e na Somália.

Mas a transformação da CIA não acompanhou, apenas, a expansão da guerra dos drones no Paquistão, até chegar ao ponto em está hoje. O diretor Michael Hayden, da CIA, trabalhou ativamente a favor dessa expansão, num momento em que os ataques com drones pareciam ser experimento fracassado.

Uma das razões pelas quais Hayden tanto operou para conseguir ampliar muito a guerra dos drones, como se pode ver agora, é que já se havia criado toda uma burocracia para aquela guerra, antes da guerra e antecipando a guerra.

Durante 2010, a “guerra dos drones” da CIA no Paquistão matou mais de 1.000 pessoas, menos do que os cerca de 2.000 mortos pelos “raids noturnos” das forças especiais no Afeganistão, segundo matéria do Washington Post, dia 1º de setembro.

Um funcionário da CIA citado pelo Post começou dizendo que a CIA tornou-se “uma tremenda máquina de matar”, para, em seguida, corrigir-se: “tornou-se uma tremenda ferramenta operacional.”

A mudança na missão da CIA refletiu-se no crescimento espetacular de seu Centro de Contraterrorismo [ing. Counter-terrorism Center (CTC)], de 300 funcionários em setembro de 2001, para os atuais cerca de 2.000 funcionários – 10% de toda a força de trabalho da agência, segundo a matéria do Post.

O braço analítico da agência, que antes se devotava inteiramente a avaliações e pareceres de inteligência para políticos, foi profundamente afetado.

Mais de 1/3 do pessoal do braço analítico trabalha hoje completa ou prioritariamente em funções de apoio às operações da CIA, segundo altos funcionários citados no Post. E quase 2/3 deles analisam dados usados pelo CTC na guerra dos drones, selecionando e definindo alvos a serem atacados.

Parte dessa mudança no trabalho interno, para apoiar a guerra dos drones aconteceu depois que aumentou o número de ataques de drones no Paquistão desde meados de 2008, mas bem antes disso a CIA já começara a construir as bases institucionais para ampliar a guerra dos drones.

Crucial para que se entenda o papel da dinâmica interna nas decisões da CIA é o fato de que a campanha dos drones no Paquistão começou muito mal. Nos quatro anos, de 2004 até 2007, a CIA só fez 12 ataques aéreos com drones no Paquistão, todos contra alvos ‘de alto valor’, da Al-Qaeda e grupos ligados a ela.

A política de George W. Bush para os drones foi cautelosa, em grande parte porque o presidente do Paquistão, general Pervez Musharraf, era visto como tão confiável que o governo não quis correr qualquer risco de desestabilizar seu governo.

Essas limitações foram impostas à CIA, na tarefa de definir alvos para os ataques com drones. O drones só poderiam ser usados contra elementos definidos como de alto valor, da Al-Qaeda e afiliados no Paquistão; e a CIA sempre teria de poder provar que o ataque não provocara mortes de civis.

Aqueles primeiros 12 ataques com drones mataram apenas três figuras identificadas como da Al-Qaeda ou do Talibã no Paquistão. Mas, apesar de os “danos colaterais” estarem proibidos... morreram naqueles 12 primeiros ataques nada menos que 121 civis – consideradas só as notícias de jornal daquele ano.

Um único ataque dos drones contra uma madrassa (escola religiosa) dia 26/10/2006, que matou 80 estudantes locais, já dá conta de 2/3 das mortes de civis no período.

A matéria do Post revela que, apesar do começo desastroso, a CIA rapidamente envolveu-se no esforço para construir um grande programa especial para a guerra dos aviões-robôs: em 2005, a agência criou um projeto de carreira para analistas de inteligência para aquele específico programa.

Por aquela decisão administrativa, analistas que escolhessem especializar-se em definir alvos para os drones comandados à distância pela CIA recebiam a promessa de que o programa teria longa duração, que haveria trabalho garantido e promoções de carreira. A CIA assumiu compromissos de longo prazo com seu próprio corpo de funcionários, apostando que a guerra dos drones iria bem além dos três raids por ano e que, muito provavelmente, continuaria por longo tempo.

Em 2007, a agência deu-se conta de que, se queria manter aqueles compromissos, teria de conseguir que a Casa Branca mudasse as regras ‘políticas’ e relaxasse as restrições que ainda pesavam sobre o uso dos drones.

Foi quando Hayden abraçou o lobby pró-drones e passou a insistir com o presidente George W. Bush para que levantasse as limitações e impedimentos para novos e mais numerosos ataques dos drones – como se lê em The Inheritance, de David Sanger, repórter do New York Times. Hayden pediu autorização para usar os drones contra casas e veículos, selecionados como alvos a partir de qualquer atitude ou movimentação suspeita, avaliados segundo um “padrão de vida” definido para a Al-Qaeda ou outros grupos.

Em janeiro de 2008, Bush deu um primeiro passo não divulgado na direção de afrouxar as limitações ao uso de drones, como Hayden desejava, mas a maior parte dos impedimentos a ataques com drones foram mantidos. Nos primeiros seis meses de 2008, houve quatro ataques pelos aviões-robôs comandados à distância.

Mas em meados de 2008, o diretor da Inteligência Nacional, Mike McConnell, retornou de uma viagem que fizera em maio ao Paquistão decidido a provar que os militares paquistaneses, em segredo, estavam apoiando os guerrilheiros Talibã – especialmente da rede Haqqani –, que estava ganhando fôlego no Afeganistão.

Segundo Sanger, a equipe de McConnell produziu avaliação formal, que reforçava a necessidade de ‘mais drones’, enviada em junho à Casa Branca e a outros altos funcionários. Com isso, Bush, que andava elogiando Musharraf como aliado contra os Talibã, viu-se obrigado a fazer alguma coisa para mostrar firmeza ante os militares paquistaneses e, também, ante os guerrilheiros afegãos que viviam em paraísos seguros no noroeste do Paquistão.

Bush queria que os aviões-robôs tripulados à distância fossem usados exclusivamente em ataques contra alvos dos Talibã afegãos, não contra a Al-Qaeda e seus aliados Talibãs paquistaneses. Mas, naquele momento, segundo Sanger, Bush rapidamente suspendeu todas as limitações que ainda havia (exigência de que houvesse informação de inteligência sobre determinados alvos ‘de alto valor’ e garantia de que não houvesse civis mortos).

Livre das limitações e impedimentos que pesavam sobre o programa dos aviões-robôs, no segundo semestre de 2008 a CIA aumentou o número de ataques com drones, para entre quatro e cinco por mês, em média.

Segundo os relatos de discussões internas nas primeiras semanas do governo de Barack Obama, que se leem em Obama’s Wars [as guerras de Obama], de Bob Woodward, havia sérias dúvidas, desde o início, sobre se os drones poderiam, de fato, derrotar a Al- Qaeda.

Mas Leon Panetta, recentemente nomeado por Obama para dirigir a CIA, sempre foi empenhado defensor da guerra dos drones. Nunca parou de falar dos drones, apresentando-os à opinião pública como estratégia para destruir a Al-Qaeda – embora soubesse que a CIA, naquele momento, estivesse atacando principalmente os Talibã afegãos e seus aliados, não a Al-Qaeda.

Na primeira conferência de imprensa, dia 25/2/2009, Panetta, em referência indireta, mas óbvia, aos ataques com aviões-robôs, disse que o esforço para desestabilizar a Al-Qaeda e destruir sua liderança estaria sendo “bem-sucedido”.

Sob comando de Panetta, o número de ataques por aviões-robôs continuou, ao longo de 2009, no mesmo ritmo de crescimento acelerado da segunda metade de 2008. E em 2010, aquele número mais que dobrou: de 53 em 2009, para 118.

A CIA, afinal, conseguiu chegar à grande guerra de aviões-robôs, os drones, para a qual já se organizara antecipadamente.

Há dois anos, Petraeus dava sinais de não depositar muita confiança em ataques com aviões-robôs no Paquistão. Em documento secreto que redigiu como comandante do CENTCOM, dia 27/5/2011, que vazou e foi publicado pelo Washington Post, Petraeus advertiu que os ataques por aviões-robôs tripulados à distância estavam fazendo aumentar os sentimentos de antiamericanismo no Paquistão. Hoje, o que Petraeus pense ou deixe de pensar, pessoalmente, sobre os drones já não tem qualquer importância.

Os interesses institucionais da CIA, que mandam manter e ampliar o uso de aviões-robôs tripulados à distância – a guerra de drones – parecem ter-se imposto de tal forma, que nenhum diretor conseguirá opor-se àqueles interesses, baseado em sua pessoal opinião sobre como ou o quanto os ataques dos aviões robôs possam ser contraproducentes, se se consideram os interesses dos EUA.

Defesa de Marcos Valério diz que não pediu que Lula fosse incluindo na denúncia do mensalão


Defesa de Valério diz que considerações finais não pedem a inclusão de novos réus no processo do mensalão

09/09/2011 - 19h00


Débora Zampier
Repórter da Agência Brasil
Brasília – O advogado Marcelo Leonardo, que representa o publicitário Marcos Valério no processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF), disse hoje (9), por meio de nota, que as alegações finais de seu cliente foram interpretadas de forma equivocada pela imprensa.
De acordo com o advogado, o único objetivo foi fazer uma crítica à dimensão exagerada dada ao seu cliente no caso e mostrar que, caso o mensalão fosse verdadeiro, outras pessoas teriam sido incluídas na ação penal.
"A defesa não fez nenhum pedido para incluir qualquer pessoa entre os acusados do processo. Quem diz o contrário [que a defesa quer incluir esta ou aquela pessoa na ação penal] é porque não leu a petição”.
O advogado ainda declara que seria ilógico querer que outras pessoas fossem responsabilizadas pelo que não ocorreu. “A defesa nega veementemente as acusações, inclusive e especialmente a existência do suposto mensalão, formulando, quanto mérito das acusações, pedidos de absolvição de Marcos Valério”.
Nas alegações finais do processo, encaminhadas na terça-feira (6) ao STF, a defesa tenta livrar o publicitário das acusações de formação de quadrilha, falsidade ideológica, corrupção ativa, peculato, evasão de divisas e lavagem de dinheiro.

Edição: Aécio Amado

Biópsia virtual contra o câncer


 

Cientistas criam método que identifica células tumorais sem precisar tirar amostras de tecidos

Mônica Tarantino

img.jpg
INTERCÂMBIO
Wallace ensinou o método para colegas brasileiros. E conheceu
a técnica inovadora de diagnóstico de endometriose
Os instrumentos usados para examinar o sistema digestivo, como os endoscópios, estão sendo reinventados. A associação desses aparelhos a novas tecnologias está permitindo a identificação de células cancerígenas sem precisar extrair amostras do tecido sob suspeita. “Estamos assistindo ao começo das biópsias virtuais”, disse à ISTOÉ Michael Wallace, da Clínica Mayo, (EUA), e um dos criadores do método.

A nova tecnologia é fruto da união do endoscópio a uma sonda laser de fibra óptica de 2,5 milímetros de diâmetro. Enquanto a endoscopia tradicional gera imagens de regiões do esôfago para avaliar sua aparência, por exemplo, a adição dessa sonda ao endoscópio restringe o campo de visão e amplia mil vezes a imagem de uma única célula. “As imagens tornam fácil distinguir a célula cancerosa da sadia”, diz Wallace. Outra vantagem do método é poder ser aplicado depois da operação, com o paciente ainda na mesa, para checar se não restaram células malignas após a retirada do tumor.

Sessenta centros médicos nos EUA e instituições na França e Alemanha oferecem a técnica para examinar lesões pré-cancerosas de esôfago e intestino. O método ainda não está disponível no Brasil. “Os aparelhos para esse exame chegarão em um ano”, diz Lucio Rossini, chefe da ecoendoscopia da Santa Casa de Misericórdia, em São Paulo. Na semana passada, Wallace deu o primeiro curso de formação sobre o método a médicos brasileiros, realizado na Santa Casa. E aproveitou para aprender a técnica avançada de diagnóstico de pontos de endometriose no intestino criada por Rossini, que permite espiar mais profundamente o órgão de forma menos dolorosa para a paciente.

O que também já chegou aos hospitais de primeira linha do País é um exame para rastrear a existência de micrometástases em áreas próximas ao pulmão – o ultrassom endobrônquico (Ebus). É um exame necessário para avaliar o grau desse tipo de câncer. Nesse caso, um tubo flexível segue pela traqueia levando um microaparelho de ultrassom para espiar os brônquios e uma região de quatro centímetros ao redor deles. A última novidade é a adição de agulhas muito finas a esse procedimento, para aspirar amostras do interior dos tumores e analisar qual terapia aplicar nos pacientes. E, para dar mais um passo, Wallace está testando a combinação dessas agulhas finas com o método que aumenta mil vezes as células para avaliar o interior dos tumores de pâncreas. “É o que chamamos de biópsia por imagem molecular”, diz o pesquisador.
img1.jpg

Um crime de cinema

 

Em ação espetacular, bandidos passam dez horas dentro de uma agência bancária na avenida Paulista, arrombam 170 cofres particulares e levam milhões em joias e dinheiro

Flávio Costa

Um assalto com um quê cinematográfico, mas muito fácil de ser realizado. A polícia tenta ligar os fios soltos da investigação do roubo ao banco Itaú da avenida Paulista, em São Paulo, centro financeiro do País. Sem serem incomodados, 12 bandidos passaram quase dez horas na agência, entre o sábado 27 e o domingo 28, para surrupiar 170 cofres particulares localizados no subsolo do local. Em apenas três deles, obtiveram cerca de R$ 10 milhões em joias e dinheiro, indicativo de que a ação pode rivalizar em lucro e audácia com o roubo do Banco Central de Fortaleza, ocorrido de 2006, quando foram levados R$ 164 milhões. A estimativa é de que o assalto da avenida Paulista tenha rendido mais de R$ 100 milhões.

Os seguranças da empresa de vigilância que presta serviço ao banco informaram à polícia que os alarmes da agência não foram acionados, inclusive o específico da sala dos cofres particulares, pois os dispositivos estavam em manutenção. Para entrar, os criminosos furaram a parede lateral com uma britadeira e tiveram tempo suficiente para pedir um lanche a um comparsa que estava do lado de fora por meio de um sistema de rádio-escuta. Durante toda a ação, o vigilante foi obrigado a ficar sentado em uma mesa de frente à porta de entrada para despistar quem passasse pela avenida. A filmagem da câmera de entrada e saída da agência, única a registrar o ocorrido, mostrou que os ladinos usavam caixas para carregar as joias. Peças de menor valor foram deixadas pelo piso da agência. A polícia considera que os ladrões já tinham informações sobre o conteúdo dos cofres particulares e funcionários estão sob suspeita.

ISTOÉ apurou que na lista dos clientes roubados estão os nomes da apresentadora Hebe Camargo e do jurista Ives Gandra, além do deputado federal e ex-governador Paulo Maluf (PP-SP) e de um alto funcionário do consulado do Chile em São Paulo. Procurada, a assessoria de Hebe negou que ela possuísse um cofre particular na agência. Já Gandra limitou-se a dizer que está “resolvendo o assunto com o banco”. Maluf não respondeu à reportagem. Outros dois empresários confirmaram, sob anonimato, a perda somada de R$ 12 milhões em joias e em moeda estrangeira, que é acondicionada em envelope fechado a vácuo e em notas sequenciadas de alto valor. Havia, ainda, clientes que guardavam documentos de comprovação de patrimônio, como portfólios de ações de mercado. Segundo especialistas em segurança, as peças de alto valor são retiradas do Brasil por países como Paraguai, Argentina e Suriname. Os destinos mais prováveis são Leste Europeu, Rússia e China, onde há ativo submundo de receptação de joias roubadas.

Até a sexta-feira 9, apenas quatro vítimas haviam registrado queixa no 78º DP. Uma delas afirmou ter perdido R$ 3 milhões em joias. Quem aluga um cofre particular não precisa informar o conteúdo ao banco, o que dificulta o trabalho da polícia, pois podem existir bens não declarados à Receita Federal. “Não fazemos investigação fiscal, isso é um problema da Receita. Queremos é chegar ao ladrão”, diz o diretor do Departamento de Investigações Criminais (Deic), Nelson Silveira Guimarães. Mas a razão principal da subnotificação é o medo de se expor a novas ações de criminosos. “A demanda por esse serviço de cofres em bancos está diretamente ligada ao aumento do número de invasões a apartamentos de luxo e mansões nas capitais brasileiras, principalmente em São Paulo”, diz o especialista em segurança Ricardo Chilelli. O aluguel desses cofres gira em torno de R$ 800 por semestre, mais a taxa de manutenção, que é de R$ 600.

A polícia já começou a apuração vários passos atrás da quadrilha. O assalto foi informado ao 78º DP, e não ao Deic, que tem uma delegacia especializada nesse tipo de crime e só foi comunicado uma semana depois. A demora irritou o secretário de Segurança Pública Antonio Ferreira Pinto, que promete punir os responsáveis. Diante da inépcia policial, os clientes prejudicados já contratam empresas particulares de investigação. O Itaú diz que “está atendendo de forma exclusiva e cuidadosa os impactados, que correspondem a 5% do total de cofres mantidos na agência”. O seguro padrão pago é de R$ 15 mil. Valor infinitamente menor que o prejuízo dos clientes milionários do banco.
img.jpg

Colaborou Vasconcelo Quadros

E a coroa vai para...


Brilho, sorrisos, maldades, intrigas e grandes causas internacionais recheiam os bastidores do primeiro Miss Universo realizado no Brasil

Débora Rubin

chamada.jpg
A Miss Argentina Natalia Rodriguez: e gestos ensaiados
Linda, linda!
Derrete-se um jornalista latino-americano que está cobrindo o primeiro Miss Universo realizado no Brasil. A linda a qual ele se refere é Alyssa Campanella, a Miss Estados Unidos, um dos rostos mais perfeitos da competição. Na sequência, durante um evento realizado cinco dias antes da grande noite que premiará a mulher mais bela do mundo, ele se volta para uma colega ao lado e pergunta baixinho:
– Ela está anoréxica, né?

Alyssa, uma das 89 misses que disputam a coroa universal na noite da segunda-feira 12, em São Paulo, é, de fato, uma das mais magras da competição. E a reação do profissional é uma pequena amostra do comportamento de todos que acompanham o evento, de missólogos internacionais a jornalistas perdidos diante de tantas beldades. Em frente às belas, todos são suspiros e exclamações. Nas costas, e também nos sites e blogs dedicados ao tema, não faltam comentários ácidos sobre penteados, figurinos e sorrisos falsos.

A Miss Brasil, a gaúcha Priscila Machado, que o diga. “Não é das mais simpáticas”, confidencia, sussurrando, um brasileiro que acompanha concursos de beleza desde criança. Nos fóruns, a anfitriã é das mais criticadas. “Estou muito feliz por representar meu país justamente quando o concurso é aqui e bem no aniversário de 60 anos do Miss Universo”, afirma uma sorridente Priscila, a despeito da torcida contra. Se a gaúcha não é tão calorosa como se esperava de uma brasileira, a Miss França, veja só, transborda simpatia. A parisiense Laury Thilleman dá atenção a cada um que se dirige a ela e jura que a blasé França torce por sua vitória. “Estou bem famosa por lá”, diz, num charmoso inglês afrancesado. Este Miss Universo é, definitivamente, um balde de água fria nos estereótipos.
img.jpg
COLÍRIO
Priscila Machado, a Miss Brasil.
Criado há seis décadas na Califórnia (leia quadro), o concurso é realizado em um país diferente a cada ano. A organização é feita pela rede de televisão americana NBC em parceria com a empresa do americano Donald Trump. Quem trouxe o Miss Universo para o Brasil foi a Band, que fará a transmissão nacional no dia da premiação. Apesar de todo o aparato e do investimento de R$ 35 milhões da emissora, do lado de fora do Hotel Hilton de São Paulo, onde elas estão hospedadas, e longe do Credicard Hall, palco da competição, pouca gente sabe que elas estão por aqui. “Achei estranho não ver nenhum banner anunciando o concurso quando cheguei”, conta Hector Joaquin, um porto-riquenho que mantém um blog no qual conta todos os detalhes da competição. Sua percepção, entretanto, não é equivocada. Longe de ser uma atração com o peso da Copa ou dos Jogos Olímpicos, o Miss Universo diverte, mas não monopoliza atenções na cidade-sede. A movimentação se dá entre aqueles que admiram o “universo miss”. Além, é claro, das próprias candidatas. Alyssia, a americana, acredita que, se vencer, poderá ajudar a economia de seu país. Já a imponente Luo Zilin, tão gigante quanto sua nação, a China, é uma das favoritas.

Enquanto todos os flashes se voltam para as potências econômicas – ou para as potências da beleza, como Venezuela e Porto Rico –, novas caras aparecem. Anedie Azael, do Haiti, conta que seu país nem sabe ao certo o que significa ser miss. “É o segundo ano que estamos participando, ainda estamos aprendendo.” A candidata, que é modelo, tirou dinheiro do próprio bolso para bancar a inscrição, a passagem e todas as despesas. Só conseguiu algum patrocínio quando já estava no Brasil. Seu desejo de vencer não é só para levar um pouco de alento ao seu sofrido país, especialmente após os terremotos de 2010. Anedie quer aprender como as grandes organizações não governamentais apoiadas pelo Miss Universo trabalham para, depois, tocar sua própria ONG, a Peace & Love International.
Elas são mesmo lindas. E cheias de boas causas.
img1.jpg

Aposta oportunista

 

Aproveitando as discussões sobre novas fontes de recursos para a Saúde, bancada do jogo no Congresso se articula nos bastidores para aprovar projeto que regulamenta os bingos no País

Adriana Nicacio

chamada.jpg
Nos últimos dias, um grupo de deputados aproveitou as discussões sobre novas fontes de receita destinadas a financiar a Saúde para reacender uma discussão polêmica. Integrantes da chamada Bancada do Bingo, eles passaram a se articular fortemente nos bastidores na tentativa de colocar novamente na ordem do dia do Congresso a regulamentação do jogo no Brasil. Desde 2004, quando os bingos e máquinas caça-níqueis foram proibidos de operar no País, deputados ligados a empresários do setor tentam, em vão, recolocar o projeto em pauta. Agora, o tema ressurge com força. O principal porta-voz é o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP). Mas, por trás do petista, existe hoje uma bancada composta por mais seis parlamentares. São eles: Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), Lincoln Portela (PR-MG), Sandro Mabel (PR-GO), Jovair Arantes (PTB-GO), Darcísio Perondi (PMDB-RS) e João Campos (PSDB-GO).

Um dos argumentos da bancada é de que os bingos já funcionam de maneira clandestina no País e acabam se tornando terreno fértil para a atuação do crime organizado. E, com a regulamentação, os impostos provenientes dos jogos de azar no País podem render aos cofres públicos de R$ 3 bilhões a R$ 10 bilhões por ano. “Não tenho o menor pudor em defender a legalização”, afirmou Vaccarezza à ISTOÉ. Especialista no assunto, o líder do governo visita Las Vegas sempre que pode. Recentemente, ficou impressionado com a sofisticação do cassino City Center Rosário, em Santa Fé, na Argentina.“Hoje, a atividade no Brasil é marginalizada e abre-se um bingo clandestino em qualquer lugar”, explica. Em sua opinião, cassinos e bingos poderiam funcionar como polos de desenvolvimento. “Um cassino em Manaus seria outro pré-sal”, prevê, defendendo a abertura de 10 a 20 casas em todo o País.

Afinado com Vaccarezza, Lincoln Portela afirma que considera a matéria oportuna. “Hoje os bingos funcionam sem regras e o Tesouro não recebe nada”, explica. Para o deputado Sandro Mabel (PR-GO), o ideal é tratar o tema de forma desapaixonada. “É muito mais simples aprovar a volta dos bingos do que criar a Contribuição Social da Saúde.” Outro membro da bancada do jogo, o deputado Jovair Arantes (PTB-GO) aponta casos bem-sucedidos de controle dos bingos na Argentina, Uruguai e na Itália, além do Canadá, onde a arrecadação é destinada ao meio ambiente. Para o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), “o tema é polêmico, mas é preciso regulamentar”. Antigo defensor da liberação, o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) considera um absurdo o argumento de que a Receita Federal não tem meios de fiscalizar o jogo. “Não seria por causa da eventual incompetência da Receita que não haverá essa regulamentação para o bem da Saúde.” Na quinta-feira 8, o projeto ganhou mais um aliado. Em evento na Loterj, o governador do Rio, Sérgio Cabral, lamentou o fato de o Brasil não ter jogos “legalizados e organizados”.

O tema é polêmico, pois os bingos e as máquinas caça-níqueis normalmente são associados a irregularidades. O episódio mais lembrado e de impacto ocorreu em 2005, quando o ex-assessor da Casa Civil, Waldomiro Diniz, foi acusado de cobrar propina de empresários do ramo de jogos para arrecadar dinheiro para o PT. O caso motivou a CPI dos Bingos. No fim do ano passado, a Força Sindical fez lobby por um projeto de lei na Câmara, que, se aprovado, reabriria as portas dos salões de bingo. Os recursos seriam destinados ao aumento do salário mínimo. Mas as alterações ao projeto foram rejeitadas por 212 votos a 144. Resta, agora, na Câmara, o texto original, já aprovado em três comissões.
img.jpg

A reação do tráfico

 

Para tentar impedir a implantação de Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), criminosos levam terror ao Complexo do Alemão, mas ameaças surtem efeito contrário: governo agora vai antecipar lançamento do programa na favela de julho para março do ano que vem

Michel Alecrim

chamada.jpg
TENSÃO
Tiroteio entre traficantes e militares (acima) e protesto
popular no Complexo do Alemão: clima de guerra
img.jpg
Há nove meses, os céus da Penha, bairro da zona norte do Rio de Janeiro, não eram riscados pela luz vermelha das balas traçantes disparadas por fuzis de grosso calibre. Ali, onde está boa parte do Complexo do Alemão, a paz se instalara desde que o Exército ocupou as suas ruas para preparar a implantação de mais uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Na noite da terça-feira 6, a tranquilidade foi quebrada e o clima de guerra voltou. Aproveitando-se de um episódio em que soldados do Exército e moradores entraram em conflito – vários deles foram feridos pelos militares –, traficantes voltaram a mostrar suas garras. Tiros, explosões de granadas e outros estampidos de guerra soaram novamente no Alemão. “Como foi uma ação combinada pouco tempo antes, nosso setor de inteligência não tinha como prever”, declarou o general Adriano Pereira Júnior, comandante do Comando Militar do Leste (CML). O episódio é o mais grave numa escalada de turbulências que o plano de pacificação das favelas do Rio, elogiado no Brasil e no Exterior, vem sofrendo ultimamente. “Isso faz parte de um processo, mostra que se deve fazer ajustes”, diz a socióloga Julita Lemgruber.

Um dia antes, outra favela pacificada teve problemas. Na Cidade de Deus, na zona oeste, a própria sede da unidade da PM foi atacada por pessoas que saíam de um baile funk. Também na semana passada, um homem ficou ferido em uma briga com a polícia por estar ouvindo funks de apologia ao crime. Nos últimos meses, outros embates vinham sendo travados em favelas com UPPs (desde 2009, 17 comunidades antes dominadas pelo tráfico ou milícias receberam essas unidades). A reação do tráfico fez com que as autoridades mudassem os planos. O secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, anunciou que antecipará para março o processo de implantação das UPPs no Complexo do Alemão, antes previsto para julho de 2012. “Ninguém vai reverter 40 anos de domínio do tráfico em um curto prazo”, diz Beltrame. “Não há mágica. Incidentes vão acontecer, mas não deixaremos de fazer com que as pessoas vivam melhor.”
A reação imediata das autoridades foi reforçar a presença das tro­­­pas no conjunto de favelas do Alemão. Mais de 100 fuzileiros do Exér­­­­­­cito foram chamados e outros 120 policiais militares passaram a ocupar dois morros que não tinham patrulhamento permanente. Segundo o general Pereira Jr., a revista a moradores vai continuar e outros reforços serão chamados. “Se for preciso colocar mais uma brigada, vamos colocar”, diz ele. “O Alemão e a Penha são pontos de honra para nós.” Basta andar pelas ruas do lugar para perceber que, apesar dos recentes confrontos entre militares e moradores, a maioria da população quer se ver livre do tráfico. “As pessoas querem a permanência do Exército”, diz um morador, que pediu para não ser identificado. “O problema é que os soldados não sabem abordar os moradores. Eles agem com truculência, como se todos fossem bandidos.” Foi o que aconteceu no domingo 4, no confronto que serviu de álibi para que os criminosos insuflassem a população contra os soldados.

O sociólogo Gláucio Soares, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, afirma que é difícil para policiais e militares do Exército identificar entre as pessoas que circulam pelas vielas das comunidades quem tem ou não relação com o tráfico. Grande parte dos criminosos, diz ele, cresceu nesses lugares, ao lado de moradores. “Os bandidos não usam uniforme como as torcidas de futebol”, diz Soares. “Sem colocar recursos no patrulhamento e dar melhores salários aos policiais, é complicado vencer esse jogo.” Para Julita Lemgruber, uma importante solução já está nas mãos das autoridades do Estado, que estudam a construção de um centro de treinamento só para policiais que vão ocupar os morros. “Entrevistamos 400 PMs que atuam nessas áreas e ficou claro que eles não sabem o que fazer para se aproximar da população”, diz Julita. O ex-policial e atualmente consultor de segurança pública Paulo Storani afirma que essa disputa só será definitivamente vencida pelo poder público se as batalhas ocorrerem em outras frentes. Para ter o apoio das populações, seria preciso mais investimento social. “Várias secretarias têm que se unir para atuar nas áreas de UPPs”, afirma Storani. “A prioridade deveria ser para menores em situação de vulnerabilidade, como forma de evitar que venham a optar pelo crime.”
img1.jpg

O sonegador de R$ 34 milhões

 

Investigação do Ministério da Fazenda acusa o senador Wilson Santiago (PMDB-PB) de usar laranjas em construtora com dívida milionária e de repassar patrimônio para empresa do filho a fim de evitar o confisco pela receita federal

Izabelle Torres

chamada.jpg
JUSTIÇA
Juíza atestou (abaixo) que o verdadeiro dono da empresa Construções e Incorporações
Adrina é o senador Wilson Santiago (acima). Ele atribui denúncias a manobras dos adversários
img1.jpg
O empresário Wilson Santiago ficou em terceiro lugar, no ano passado, nas eleições para o Senado, na Paraíba. Mesmo assim, ele assumiu o cargo de senador pelo PMDB por causa da Lei da Ficha Limpa, que barrou a posse do candidato mais votado no Estado, o ex-governador tucano Cássio Cunha Lima. Apesar do acesso pela porta lateral da Casa, Santiago conquistou o posto de segundo vice-presidente do Senado e tem comandado diversas sessões. Principal expoente de uma família bem-sucedida no mundo empresarial paraibano, o senador comanda empreiteiras, é reconhecido como dono de um patrimônio milionário e conseguiu eleger também seu herdeiro, Wilson Santiago Filho, como deputado federal. O sucesso do clã Santiago, no entanto, está sob suspeita. Sua prosperidade financeira é questionada por subprocuradores do Ministério da Fazenda, que o acusam de comandar um esquema de sonegação fiscal que teria causado rombo de mais de R$ 34 milhões aos cofres públicos. ISTOÉ teve acesso ao processo, em fase de conclusão no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, mas já com alguns pareceres judiciais. Na denúncia contra o senador, o subprocurador Gustavo César Porto, descreve uma série de graves irregularidades cometidas por Wilson Santiago. Desde a presença de “laranjas à frente dos negócios da família” até transferências de bens para terceiros numa tentativa de fugir de processos judiciais e do pagamento das dívidas.

As investigações feitas pela Fazenda Nacional revelam que a empresa Construções e Incorporações Adrina Ltda. sonegou R$ 34,4 milhões em Imposto de Renda, Contribuição Sobre Lucro Líquido, PIS e Cofins. A empreiteira, segundo o subprocurador Porto, pertence ao senador. Pelos documentos colhidos no processo, verifica-se que Santiago colocou como sócios os cunhados Terezinha Alves de Oliveira e João de Souza Brito, mas comandava os negócios por meio de procuração. O documento concede a ele plenos poderes administrativos. A dupla de sócios oficiais, diz o subprocurador, não tem capacidade financeira para fundar ou gerir a empresa e, por isso mesmo, nunca participava das decisões da companhia. As acusações feitas pela Fazenda Nacional foram aceitas pela juíza Helena Delgado, da 5ª Vara da Justiça Federal da Paraíba. “O aumento do capital social pelos aludidos sócios – Terezinha Alves de Oliveira e João de Souza Brito –, sem capacidade econômico-financeira para tanto, conforme atestam as declarações de rendimentos, demonstra a irregularidade na própria constituição da sociedade em questão e o laço concreto de ligação entre ambas as pessoas jurídicas e seu efetivo controlador e administrador, José Wilson Santiago”, observou a juíza.

Não bastasse a indicação de laranjas para comandar os negócios, a Justiça Federal considerou ainda que o parlamentar estava tentando fugir da dívida fiscal, repassando o patrimônio em nome da empresa Adrina para a construtora Terradrina, uma empreiteira, segundo o subprocurador Porto, aberta exclusivamente para driblar a Justiça nos processos de execução fiscal. Para tentar barrar a transferência de bens – considerada pela Fazenda Nacional como estratégia para se livrar do patrimônio e declarar insuficiência financeira para pagar as dívidas –, a Justiça Federal concedeu uma medida cautelar no final do ano passado tornando indisponíveis os bens da construtora Adrina e de um dos imóveis repassados às pressas para a Terradrina, depois do início da fiscalização.
img.jpg
PRECOCE
Wilson Filho declarou possuir bens que somam R$ 4,8 milhões
A empreiteira Terradrina – única que o senador admite comandar – engorda atualmente o patrimônio de Wilson Filho. Com 22 anos recém-completados, ele já faz parte do seleto grupo de milionários da Câmara dos Deputados. Wilson Filho declarou à Justiça Eleitoral possuir bens que somam R$ 4,8 milhões, sendo R$ 4,6 milhões provenientes justamente das quotas da empreiteira.

O senador Santiago está recorrendo judicialmente. Ele nega que tenha usado os cunhados como laranjas e afirma que apenas trabalhou como advogado para a Construtora Adrina. De acordo com o parlamentar, a denúncia de que ele é o verdadeiro sócio da empreiteira acusada de sonegar mais de R$ 34 milhões nos últimos anos é resultado de manobras políticas feitas por seus adversários no Estado, “que ainda não digeriram” a chegada dele ao Senado. Santiago assumiu o mandato porque os votos de Cunha Lima foram considerados nulos. O tucano aguarda decisão do ministro Ricardo Lewandowski para autorizar sua diplomação, visto que, em março, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que a lei não poderia barrar os candidatos em 2010 e somente poderia surtir efeito a partir do próximo ano. Portanto, é bem provável que Santiago deixe o Parlamento. “Há essa briga jurídica entre o meu grupo e o do ex-governador. Ele foi acusado e impedido de assumir”, diz.

Apesar de negar qualquer vínculo com a construtora acusada de fraude, Santiago afirma que a empreiteira do seu cunhado tem dinheiro para pagar possíveis débitos, caso perca os recursos apresentados. “O estranho nesses valores cobrados é que a empresa faturou uns R$ 15 milhões no período que eles dizem que ela sonegou mais de R$ 30 milhões. Paciência. Se a empresa perder, vai pagar”, garante o senador. O processo está atualmente na esfera administrativa. Depois de concluído o julgamento pelo Conselho, a ação segue para a Justiça Federal, de onde já partiu decisão sobre o caso durante o julgamento da medida cautelar que tornou os bens da empresa indisponíveis.
img2.jpg

Cidadania ameaçada

 

A história do empresário mineiro que denunciou esquema de corrupção na região norte e acabou torturado, a mando dos denunciados, mostra que o programa de proteção à testemunha no Brasil não funciona e prejudica a faxina ética

Claudio Dantas Sequeira e Alan Rodrigues

chamada.jpg

Experiências recentes mostram que os países que conseguiram enfrentar para valer a corrupção e o crime organizado tinham um forte e eficiente programa de proteção a testemunhas. Na última semana, quando milhares de pessoas foram às ruas clamar por uma faxina ética no Brasil, ISTOÉ teve acesso a uma série de documentos que revelam o quanto o nosso Programa de Proteção a Testemunhas (Provita), criado em 1999, e anualmente comemorado pelo governo, é falho e inconfiável. Os papéis, já encaminhados ao Palácio do Planalto e à Secretaria Nacional de Direitos Humanos pela Defensoria Pública da União (DPU), mostram como os objetivos do Provita estão sendo desvirtuados pela burocracia e descaso das autoridades. Há falhas na garantia dos sigilos das testemunhas e ocorre até o vazamento criminoso de informações sobre suas localizações.

Os documentos narram a incrível história de um empresário mineiro, cujo codinome adotado pela DPU é Antônio Maria. Casado e pai de dois filhos, ele ajudou a desvendar um esquema de corrupção no Norte do País envolvendo políticos, promotores, policiais e juízes. Depois de fazer as acusações, contar o que sabia e ser admitido no Programa de Proteção a Testemunhas do Ministério da Justiça, o empresário teve sua identidade, seu paradeiro e até a rotina diária da família entregues por quem deveria protegê-lo a pessoas ligadas aos por ele denunciados. Acabou sendo barbaramente torturado e hoje vive escondido em um hotel sem saber o que fazer no dia seguinte. “Além da tortura, me persuadiram a não mais testemunhar ou sequer voltar para o Norte”, relata Antônio em carta de cinco páginas, acompanhada de documentos confidenciais, entregue pela Defensoria ao Palácio do Planalto na terça-feira 6.

Ao denunciar o episódio ao Provita de Pernambuco, o Gajop (Gabinete de Assessoria Jurídica das Organizações Populares), ONG executora local, solicitou audiência com a cúpula da Secretaria Especial de Direitos Humanos. Estavam presentes à reunião o secretário-executivo da SDH, Ramais de Castro Silveira, e a coordenadora-geral de Proteção à Testemunha, Luciana Garcia, entre outras autoridades. O caso foi comunicado à ministra de Direitos Humanos, Maria do Rosário, e um grupo de trabalho passou a estudar soluções alternativas para garantir a vida do empresário e de sua família. Uma análise preliminar concluiu que o grupo denunciado por Antônio Maria integraria uma rede com contatos em todo o País, e que a única saída seria enviá-lo para o Exterior. A promessa de transferência foi formalizada num ofício confidencial enviado por Luciana Garcia à Defensoria Pública da União no último dia 9 de junho. Dentre os compromissos assumidos pela coordenadora-geral do programa está a “emis­são de passagens aéreas para deslocamento para o país de destino, no prazo máximo de 17 de junho”.

O problema é que, passados quase três meses, nada aconteceu. O Gajop, em reunião com o Conselho Deliberativo do Provita, alegou que não havia dinheiro para a operação. Cerca de R$ 60 mil foram consumidos até agora em diárias do hotel, onde o empresário e a família vivem agora acuados, sem nenhuma proteção especial. Os filhos tiveram que deixar a escola e devem perder o ano letivo. Antes, foram obrigados a passar 45 dias nas dependências do Serviço de Proteção ao Depoente da Polícia Federal, local que serve de triagem e no qual só deveriam permanecer por 20 dias, segundo a lei. Para Antônio Maria, a situação chegou ao limite. Na denúncia à Defensoria, ele explica que a ausência de uma definição sobre o caso vem causando “sérios danos psicológicos”, além de óbvia indignação.

Na carta encaminhada à Defensoria Pública da União, Antônio relata ter enxergado falhas no programa desde o momento em que foi enquadrado nele. “Após dois atentados, foi oferecido a mim e a minha família o Provita”, contou. Porém, logo nos primeiros meses, o empresário diz ter sido levado pela equipe do Provita a uma reunião com um advogado. Ele tomou um susto ao vê-lo. O advogado era ligado à família de uma das pessoas por ele denunciadas no esquema de corrupção. “Ele era empregador da filha de um dos algozes e com relacionamento estreito com membro do Conselho Deliberativo (Condel)”, afirma Antônio Maria, em referência ao órgão estadual que supervisiona a execução do programa. Ante o risco de ter a identidade revelada, Antonio Maria pediu para ser transferido. Depois de muita insistência, foi enviado com a família para um Estado do Nordeste, onde passou por novos percalços. “Mais uma vez presenciei o despreparo da equipe”, diz. Documentos pessoais foram perdidos, perguntas ficaram sem resposta. E a cada questionamento, ficava patente a indiferença. “A frase ‘o programa é assim, ninguém é obrigado a ficar’ era ouvida constantemente”, afirma.

Em dezembro passado, ISTOÉ já havia denunciado a via-crúcis vivida pela família do maranhense Francisco Leal dentro do Programa de Proteção a Testemunhas, do Ministério da Justiça. Após sete meses vivendo sob condições subumanas numa favela da periferia de Manaus, o comerciante decidiu abandonar o programa, mesmo sabendo que pode ser morto a qualquer momento. Hoje se sabe que o caso de Leal não é isolado. Atualmente há cerca de 1.500 pessoas sob proteção no País, mas não há registro confiável sobre o número de abandonos e expulsões. Questionada por ISTOÉ, a coordenadora-geral de Proteção a Testemunhas rejeitou as acusações. Por meio da assessoria de imprensa, pôs em dúvida a versão do empresário, ao alegar que o exame de corpo de delito não identificou lesões no corpo de Antônio Maria. “Também não há qualquer comprovação até o momento de que houve vazamento de informações”, disse. Sobre a possibilidade de enviá-los ao Exterior, a assessoria da Secretaria de Direitos Humanos informa que se trata de uma medida “absolutamente excepcional e inédita”, mas que já haveria autorização para a realocação de Antônio Maria e sua família num país europeu. Só que testemunhas e promotores já cansaram de esperar. Apelam à presidente Dilma para que resolva o caso de Antônio Maria e promova uma revisão completa do Provita, que, pelo visto, não protege ninguém.
img.jpg
img1.jpg