segunda-feira, 7 de abril de 2014

Uma lista de filmes que foram proibidos em diversos países


 
Superproduções ou não, diversos filmes já tiveram seus conteúdos proibidos em países pelo mundo. Por tratar de temas religiosos, terem excesso de violência, cenas de sexo explícito ou conteúdo grosseiro, diversos longas já foram banidos e rejeitados por várias nações.
1
A mais nova superprodução 'Noé' foi proibido em países de maioria muçulmana, como Emirados Árabes Unidos, Catar, Indonésia e Bahrein. Segundo autoridades, o filme faz uma representação errônea de um de seus profetas e é contra doutrinas e valores islâmicos.
2
Um dos mais famosos filmes sobre nazismo, 'A Lista de Schindler', também foi proibido na Indonésia, já que o país considerou a obra a favor das causas judaicas.
3
Para manter sua população longe das influências cristãs, a China proibiu a exibição de um dos clássicos da filmografia mundial, 'Ben-Hur'. O governo temia a propagação do cristianismo e que isso fizesse o público aderir à religião.
4
O filme 'Eu Vos Saúdo, Maria' é um retrato da Virgem Maria dirigido por Jean-Luc Godard. A obra foi banida na Argentina por ofender o cristianismo, pois a personagem é uma mulher comum que trabalha, estuda e namora. Também por conter cenas de nudez, o filme foi censurado no Brasil, mas muitas sessões clandestinas do filme aconteceram no país.
5
Adaptação do livro de mesmo nome de Dan Brown, 'O Código Da Vinci' causou muitas polêmicas antes mesmo de ser lançado. Não só o Vaticano, mas também países de maioria católica foram contra a exibição do filme, e as Ilhas Salomão foi além e proibiu a execução da obra. A alegação foi de que seu conteúdo contradiz a religião cristã.
6
Com cenas de afeto e sexo entre dois homens, 'O Segredo de Brokeback Mountain' foi censurado em vários países por conta de sua temática. Nos Estados Unidos o filme não foi exibido em uma rede de cinemas e na Itália foi projetado com cortes das cenas homoafetivas. Já nas Bahamas e na China o filme foi totalmente proibido, assim como nos Emirados Árabes Unidos, já que o islamismo proíbe relações entre pessoas do mesmo sexo.
7
A comédia 'Borat - O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América' foi vetado não só no Cazaquistão, como na maioria dos países árabes, além da Rússia. Os governos alegaram que o filme era desnecessário, obsceno e medíocre. Interessante que, tempos depois, o Cazaquistão agradeceu o filme por fazer o turismo crescer no país.
8
Por ser considerado muito aterrorizante, 'O Exorcista' foi censurado por quase duas décadas no Reino Unido.
9
Alegando que o filme era preconceituoso em relação ao país, o governo nigeriano baniu o filme 'Distrito 9'. A controversa cena em questão se trata do momento em que o personagem principal, Wikus, quer comprar armas de uma gangue nigeriana.
10
'A Serbian Film - Terror sem Limites' conta a história de um ator pornô que, por falta de melhores opções, aceita participar de um filme repleto de cenas de pedofilia e necrofilia. Por conter também sequências de violência extrema, o filme foi censurado em vários países, tendo várias de suas cenas cortadas para que pudesse ser exibido.
11
Depois de fazer barulho no mundo do cinema, 'A Centopeia Humana' ganhou uma continuação ainda mais forte, tanto que foi proibida no Reino Unido. Segundo o 'The Guardian', o filme foi censurado por ser considerado uma ameaça ao espectador.
12
Um dos destaques da carreira de Stanley Kubrick, 'Laranja Mecânica', também foi alvo de censura por sua violência e crueldade extremas. Irlanda, Malásia, Cingapura, Coreia do Sul e Brasil foram alguns dos países que proibiram sua exibição.
13
O polêmico 'Holocausto Canibal' tem uma longa lista de países em que foi censurado: Nova Zelândia, Alemanha, Itália, Reino Unido, Austrália, Noruega, África do Sul, Finlândia e Marrocos foram só alguns deles. A razão da proibição são as cenas de tortura, estupro e ainda porque animais foram mortos para a gravação da obra.
14
'Último Tango em Paris' causou muita polêmica com a cena em que Paul (Marlon Brandon) usa manteiga como lubrificante para transar com Jeanne (Maria Schneider). Por causa dessa sequência e do conteúdo sexual explícito, o filme foi proibido na Nova Zelândia, Espanha, Portugal, Coreia do Sul, Itália e Cingapura.
15
Com direção de Oliver Stone, 'Assassinos por Natureza' foi proibido na Irlanda por excesso e glorificação da violência. E para evitar a censura nos Estados Unidos, diversas cenas foram refeitas ou cortadas.
http://jornalggn.com.br/noticia/uma-lista-de-filmes-que-foram-proibidos-em-diversos-paises

IMPOPULARES E AMARGOS EM 2014



O espantoso, na campanha, é que candidatos falam em medidas que prejudicam a maioria dos eleitores e nada acontece


Só pode haver algo muito errado numa campanha eleitoral na qual um candidatos de oposição diz que não tem medo de tomar “medidas impopulares” e nada acontece.  
Assessores de outro candidato de oposição, informa o  Pedro Venceslau no Estado de S. Paulo de hoje, admitem em voz baixa que apoiam “medidas amargas.”
 Vamos combinar.
 Até por uma questão de respeito por cada um de nossos 100 milhões de eleitores, em especial a imensa maioria que é alvo de medidas impopulares e amargas,  seria bom saber o que se quer dizer com isso.
Fazendo uma imagem para facilitar o entendimento, vou colocar a coisa em termos bem populares.
 É como um sujeito que chega para jantar de luxo, avisa que dentro de alguns minutos pretendem passar na cozinha para bater a carteira dos empregados e nenhum convidado pergunta: como assim? Eles vão deixar?
Na lata? E ainda manda aviso prévio?
Quantos reais pode ser extraídas do bolso de cada brasileiro quando um governante pretende tomar medidas “impopulares?”
Quanto valem os “amargos?”
Este é o debate que importa, não?
Em situações normais, nossos  New York Times,  Guardian,  CNN,  El País, Le Monde não deixariam passar uma notícia dessas. Na disputar pelo olhar do público, teriam transformado uma afirmação dessas num escândalo.
Tenho certeza de que Adam Prezeworski, o brilhante  cientista político que o PSDB adorava ler quando se considerava social-democrata, iria questionar: estamos abandonando a frágil mas necessária relação entre capitalismo e democracia?
 Até por uma questão de etiqueta, no mundo inteiro políticos que defendem medidas “não-populares” gostam de disfarçar, dizendo  que  são na verdade “populares.”
 Não é sincero mas é menos arrogante do que entrar numa campanha eleitoral dizendo que se pretende prejudicar a maioria.
  Igual a isso é falar em medidas amargas quando faltam poucas semanas para a criançada ganhar os ovos de Pascoa, não é mesmo?  No fundo, não espanta.
   Um sorridente filósofo-economista em campanha já disse – longe, muito longe dos palanques -- que acha que o país não pode conviver com um povo que come bife todo dia. É ruim para o meio ambiente, pretextou, pois  gado solta gases para a camada de ozônio.
 O  cidadão comum – o “popular” que não estava naquele jantar de “impopulares”, agora você começa a entender a coisa, tem direito a fazer perguntas. Diga rápido o que são medidas “impopulares” para 2015? Por exemplo:
a)o plano é acabar com a lei do salario mínimo?
b) revogar a CLT e informalizar o mercado de trabalho?
c) cortar gastos sociais, o que inclui, você sabe, o Bolsa Família?
d) cortar repasses a bancos oficiais que permitem manter crédito barato para investimentos e  emprego?
O debate de política econômica na eleição  de 2014 é este.  O país vive o menor desemprego de sua história. A economia cresce. Sim. Não tivemos recessão – apesar da torcida impopular.  
  É preciso ser muito “não-popular” para encher a boca e dizer que “deu errado”, vamos combinar.
  Qual a prioridade, para a maioria dos “populares”, num país onde a lei diz que um homem vale 1 voto? 
     É preciso devotar um desprezo impopular irresistível pela inteligência popular para querer apresentar uma boa folha corrida do PSDB na luta contra a inflação.
     A média da inflação no governo FHC foi de 9,2% -- depois da moeda nova. A de Lula, que recebeu uma inflação de 12,5%, foi de 5,7%. A de Dilma se encontra em 6,1%.
  Em 1995, 1996, 1999 e 2002, a inflação atingiu sob FHC, um patamar que jamais seria repetido, em momento algum, após a chegada de Lula ao Planalto. Ocorreram perdas salariais, que não se verificaram a partir de 2002. Deu errado?
    Esse debate distorcido acontece porque estamos em 2002, mais uma vez. Terror eleitoral programado, com ajuda de nossos News of the World. O terror deles funciona com a língua de significados invertidos, onde a verdade é seu oposto.  
    Você lembra.  Em 2002  um economista do  Goldman Sachs lançou o “lulômetro”, uma peça de marketing eleitoral disfarçada de cálculo econômico, que pretendia aterrorizar o eleitor com projeções sobre o futuro do país caso Luiz Inácio Lula da Silva chegasse a presidência. Ajudou a criar pânico nas bolsas, deixou a classe média amedrontada, criando uma situação  política que forçou Lula a fazer concessões além da conta para garantir o início de seu governo. Já vimos este filme. Dez anos depois do lulometro, o  o economista-chefe do mesmo Goldman Sachs, disse para a revista Época Negócios que Lula foi o mais competente presidente dos países do G-20.
   Os mais espertos impopulares-amargos de 2014  apostam em todas as canoas – não podem se dar ao luxo da imprudência por motivos ideológicos -- mas não deixam de notar que uma delas anda na frente. Podem até ter suas preferencias profundas mas querem ganhar o jogo de qualquer maneira, não importa o vitorioso.  Em caso de derrota, querem colocar uma faca no pescoço de Dilma. Este é o ponto. Por isso falam tanto em mudar o “modelo.” A crítica se concentra em 2009, quando o país enfrentou a maior crise do capitalismo desde 1929 sem desemprego nem recessão. Dizem que o erro foi cometido ali e agora é preciso arrumar a casa. Não perdoam o esforço para resistir a austeridade, as demissões em massa, aos cortes que jogaram a Velha Europa no atoleiro de hoje. 
     Em 2014, o condomínio Lula-Dilma disputa – como favorito – o quarto mandato consecutivo no Planalto, um feito sem igual na história de nossa República. Não teve ajuda “im-popular” de ninguém.  
     Em momentos de delírio, os adversários sonharam até com um impeachment auxiliado por um barítono da Baixada Fluminense, não é mesmo? A base é o reconhecimento pelas conquistas que os “populares” obtiveram até aqui. O que se pretende é revogar, uma a uma, aquelas conquistas alinhavadas nos ítens  “a” a “d.”
     Foi assim há 50 anos, não custa lembrar.  Num gesto de grande dignidade, o avô das medidas impopulares chamou de “canalhas” aqueles que pretendiam derrubar, pelas baionetas, um governo que não tomava medidas “impopulares.”
      O avô do amargo recusou-se a entregar o cargo, foi para a cadeia depois discursar no rádio em defesa da “revolução pernambucana.”
     
       Está na hora de garantir transparência política na campanha, concorda?   
http://www.istoe.com.br/colunas-e-blogs/coluna/356385_IMPOPULARES+E+AMARGOS+EM+2014

OS DIREITOS DE DIRCEU E NOSSO CARÁTER



Numa injustiça clamorosa que vai além de qualquer opinião sobre as ideias de José Dirceu, seus direitos como prisioneiro não são respeitados
Há momentos em que a vida política deixa de ser um conflito de ideias e projetos para se transformar numa prova de caráter.
Isso é o que acontece com a perseguição a José Dirceu na prisão.
A defesa dos direitos de Dirceu é, hoje, uma linha que define o limite da nossa decência, ajuda a mostrar aonde se encontra a democracia e o abuso, a tolerância diante do ataque aos direitos elementares de uma pessoa.
Ninguém precisa estar convencido de que Dirceu é inocente sobre as denuncias da AP 470. Nem precisa concordar com qualquer uma de suas ideias políticas para reconhecer que ele enfrenta uma situação inaceitável.
As questões de caráter envolvem nossos princípios e nossa formação. Definem a capacidade de homens e mulheres para reagir diante de uma injustiça de acordo com princípios e valores aprendidos em casa, na escola, ao longo da vida, como explica Hanna Arendt em Origens do Totalitarismo. São essas pessoas que, muitas vezes, ajudam a democracia a enfrentar as tentações de uma ditadura.
Um desses homens, e nós vamos saber seu nome dentro de alguns parágrafos, "não era herói e certamente não era um mártir. Era apenas aquele tipo de cidadão com interesse normal pelos negócios públicos que, na hora do perigo ( mas não um minuto antes) se ergue para defender o país da mesma forma como cumpre seus deveres diários, sem discutir."
A mais recente iniciativa contra os direitos de Dirceu criou um situação nova.
O Ministério Público pede uma investigação telefônica-monstro envolvendo todas as ligações de celular – de 6 operadoras -- entre a região do presídio da Papuda, em Brasília, onde ele se encontra prisioneiro desde 16 de novembro, e uma região em torno de Salvador, na Bahia. São milhares, quem sabe milhões de ligações que devem ser mapeadas, uma a uma, e transcritas – em formato de texto – para exame do ministério público em Brasília.
Você sabe qual é o motivo alegado dessa investigação: procurar rastros de uma conversa de celular entre Dirceu e um secretário do governo de Jaques Wagner. Detalhe: supõe-se que o telefonema, caso tenha sido feito, teria ocorrido em 6 de janeiro. Pede-se uma investigação de todas as conversas por um período de 16 dias.
Você sabe qual será seu efeito prático: manter a pressão sobre Dirceu e impedir que ele possa deixar o presídio para trabalhar durante o dia – direito que tem todas as condições legais de cumprir. Não só obteve uma oferta de emprego, como tem parecer Psicossocial favorável e também do Ministério Púbico.
Você pode "achar" – assim como "achamos" tantas coisas a respeito de tantas pessoas, não é mesmo? – que ele cometeu, mesmo, essa falta disciplinar, de natureza grave.
O fato é que desde 6 de janeiro procura-se uma prova desse diálogo e nada. O secretário de Estado deu uma entrevista a Folha de S. Paulo, dizendo que havia conversado com Dirceu. Mais tarde, ele se corrigiu e desmentiu o diálogo. Também confirmou o desmentido em depoimento oficial. Dirceu sempre negou ter mantido qualquer conversa nestas ocndições.
A conta telefônica do celular do Secretário de Estado não registra nenhuma ligação que, em tese, poderia confirmar a conversa. Uma investigação da policia do Distrito Federal também concluiu que não há o mais leve indício de que o diálogo tenha ocorrido.
Conforme todos os indícios disponíveis, portanto, quem mentiu foi o Secretário – não Dirceu.
Você pode continuar duvidando da inocência de Dirceu, claro. Mas não pode aceitar que seus direitos sejam subtraídos sem que sua culpa seja demonstrada. Mesmo na prisão, uma pessoa é inocente até que se prove o contrário.
É verdade que, no julgamento da AP 470, o ministro Luiz Fux chegou a dizer que cabe ao acusado provar sua inocência. Mas foi uma colocação tão fora de qualquer princípio jurídico posterior ao iluminismo que, nos acórdãos, a declaração foi suprimida.
O pedido para esse grampo-monstro foi feito pelo Ministério Público em 26 de fevereiro mas ficou engavetado pelo juiz Bruno Ribeiro por mais de um mês. Quando se retirou do caso, no fim de março, Bruno enviou o pedido a Joaquim Barbosa, a quem caberá a palavra final sobre o semiaberto de Dirceu. Joaquim pode acolher o pedido.
Mas também pode manter Dirceu em regime fechado enquanto aguarda pelos grampos Papuda-Bahia. Seria uma nova injustiça, mesmo para quem é favorável a uma investigação nessa natureza e acha que toda punição a Dirceu será pouca.
A liberdade de Dirceu não pode ser diminuída porque os responsáveis pela sua prisão levaram um tempo absurdo– mais de um mês – para decidir se acatavam a solicitação ou não.
Ninguém pode ficar preso indevidamente porque o Justiça está "pensando."
Quando foi preso, em 15 de novembro, Dirceu tinha direito ao regime semiaberto, provisoriamente. Antes que os embargos infringentes tivessem sido julgados, havia a possiblidade de que o Supremo confirmasse a condenação por formação de quadrilha.
Mas o STF derrubou a condenação, o que confirmou o semiaberto.
Assim, do ponto de vista de seus direitos, Dirceu perdeu perdeu quatro mees de liberdade.
Se o apreço abstrato do caro leitor pela liberdade dos indivíduos não lhe permite avaliar o que isso significa, sugiro uma experiência concreta.
Peça a um amigo trancar a porta de seu quarto por um dia e faça um diário sobre o que fez e viu. Evite ligar a TV, porque ela só é autorizada a quem tem bom comportamento – e ninguém sabe se você merece isso. Não leia jornais nem revistas. Limite a leitura aos livros mas apague a luz às 22 horas. Desligue o telefone, não atenda a campainha e, se sentir fome, peça um resto de geladeira para aquecer em banho-maria. Pode ser qualquer coisa que sobrou da véspera mas lembre-se de que, comparado com o que se oferece na Papuda, sempre será um privilégio.
E se você achar que é inocente, e não fez nada para merecer o que está acontecendo, só quis passar por uma experiência existencial, lembre-se: esse pensamento só é válido para quem acredita que toda pessoa é inocente até que se prove o contrário. Esse é o princípio que garante nossa liberdade.
Também é o princípio que deveria definir a situação de Dirceu. Ele passou oito anos sendo acusado como chefe de quadrilha e era este ponto – a quadrilha – que poderia manter seu regime fechado.
Depois que a acusação de quadrilha caiu ele é chefe de que mesmo?
E aí podemos falar do personagem a que Hanna Arendt se refere. Ela está falando de George Picquard, major do Exército francês, que teve um papel decisivo no reestabelecimento da verdade no caso do capitão Alfred Dreyfus, condenado em 1894 à prisão perpétua na Ilha do Diabo, na Guiana Francesa, com bom base em provas falsas.
"Embora dotado de uma boa formação católica," e, como Arendt sublinha para registrar os preconceitos da época, " 'adequada' antipatia pelos judeus, ele ainda não havia adotado o princípio de que o fim justifica os meios. " Ela recorda que "esse homem, completamente divorciado do classicismo social e da ambição profissional, espírito simples, calmo e politicamente desinteressado" iria mostrar que havia encontrado provas que apontavam para outro culpado, sugerindo que o caso fosse reaberto.
Picquard acabou processado e perseguido, a ponto de enfrentar uma condenação num tribunal militar e deixar um posto confortável em Paris por um posto sem perspectiva na África colonial. Mas cinco anos depois de condenado, Dreyfus acabou recebendo indulto presidencial, depois de enfrentar um segundo julgamento – que perdeu, mais uma vez.
A campanha pela libertação de Dreyfus não passou pelo parlamento, que rejeitou seguidos pedidos de um novo exame do caso. Foi fruto de uma movimentação da sociedade civil, a margem dos principais partidos políticos.
Mesmo os socialistas temiam perder votos se colocassem o assunto nos debates eleitorais. Atribui-se uma derrota de um de seus líderes históricos, Jean-Jaurés, hoje nome de boulevard em Paris, ao empenho a favor de Dreyfus. Ninguém recorda o nome dos que se omitiram.
O alto comando militar, responsável pela condenação de Dreyfus e, mais tarde, pela manutenção da farsa, alimentava a imprensa suja de Paris. Numa avaliação que nos ajuda a entender que a realidade que hoje se vê nos trópicos brasileiros tem muito a dever às asneiras cometidas na capital francesa daquele tempo, Arendt analisa o mais duro dos jornais contra Dreyfus para dizer: "direta ou indiretamente, através de seus artigos e da intervenção pessoal de editores, mobilizou estudantes, monarquistas, anarquistas, aventureiros e simples bandidos, e atirou-os nas ruas." Essa turba espancava defensores de Dreyfus na rua e por várias vezes apedrejou as janelas de Emile Zola depois de seus artigos e conferencias mais contundentes.
Julgado pelo Eu Acuso, Zola recebeu pena máxima. Foi um alivio, pois se fosse absolvido "nenhum de nós sairia vivo do julgamento" recordou Georges Clemenceau, dono do jornal que publicou o artigo, L 'Aurore.
Em 1975, em São Paulo, o rabino Henry Sobel deu uma demonstração de caráter semelhante. Ele sequer era o rabino principal da comunidade paulistana. Apenas substituía o rabino principal, que se encontrava em viagem. Norte-americano de nascimento, Sobel admirava John Kennedy e nunca teve simpatias pelo Partido Comunista.
Mas, quando foi informado que o corpo do jornalista Vladimir Herzog apresentava sinais de tortura, como fora percebido pelos funcionários do cemitério judeu que o preparavam para o enterro, Sobel tomou uma decisão de acordo com sua formação e suas convicções.
Impediu que Herzog fosse enterrado na área do cemitério reservada aos suicidas, como seria coerente com a versão oficial para a morte do jornalista – acompanhada até por uma fotografia forjada na cadeia – para lhe dar a dignidade de um enterro comum. O resto é história, feita por um cidadão tão humano, tão comum, que mais tarde seria apanhado num pequeno e desagradável incidente num shopping em Miami, como todos nós sabemos.
http://www.istoe.com.br/colunas-e-blogs/colunista/48_PAULO+MOREIRA+LEITE

Joaquim e Gilmar e o ensino didático da chicana




Luis Nassif

Nos últimos anos, os Ministros Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa se tornaram o espelho do Judiciário. Graças ao seu fascínio por factoides e por holofotes, à capacidade de atender às demandas ds grupos de mídia, Gilmar mais, Barbosa menos, tornaram-se a vitrine de um poder, em geral, discreto e impessoal. São os magistrados que mais aparecem, que mais se expõem, que mais tem o amparo da mídia. Por consequência, tornaram-se a cara do Judiciário.

As prerrogativas da magistratura são um dos pilares do funcionamento do Judiciário. E a independência de que dispõe o Juiz, uma garantia para o funcionamento da democracia.

Esse poder superior, no entanto, é utilizado de maneira abusiva por juízes inferiores. E quando personalidades mesquinhas, pequenas ganham poder, os maus exemplos espraiam-se sobre a imagem de todo o Judiciário.

Uma das piores práticas é a chicana, o uso de expedientes visando postergar decisões – contra ou a favor de réus. Quem é do meio conhece. A opinião pública – que acredita no Judiciário como o último espaço de defesa dos direitos – está sendo apresentada agora.

Tome-se o caso de José Dirceu. Foi condenado pelo STF. A condenação liquidou com sua carreira política, abortou sua atividade partidária, humilhou-o, derrubou-o, jogou-o ao chão. Perto dos 70 anos, é um inimigo caído no campo de batalha. Mas não basta.

A sentença que liquidou com sua carreira política preservou-lhe pequenos direitos: o de cumprir a pena em regima semiaberto, trabalhando. Barbosa tem impedido esse direito pequeno meramente como demonstração de poder e vingança, um sujeito menor, atrabiliário, com uma postura indecente valendo-se exclusivamente de um poder pontual, o de presidente do STF. Para tanto, instrumentalizou-se com um lugar-tenente pequeno, esse juiz Bruno Ribeiro, da Vara de Execuções, inventando argumentos para não conceder o direito. Passarão os tempoa, e a imagem atual de Bruno o acompanhará por toda sua carreira, como exemplo do desrespeito à imagem de um poder que cabia a ele - como juiz - defender e preservar.

Com suas arbitrariedades, Barbosa conseguiu o impensável: vitimizou o outrora poderoso José Dirceu; e comprovou que todo o lero-lero dos grupos de mídia contra a ditadura e a favor do estado democrático de direito não vale para os adversários.

Já Gilmar Mendes pede vistas em um julgamento já decidido pela maioria do STF: 6 dos 11 votos a favor do fim do financiamento privado de campanha eleitoral. Seu voto em nada mudará o resultado final. Mas, pedindo vistas, impedirá que a decisão seja aplicada nas próximas eleições.

http://jornalggn.com.br/noticia/joaquim-e-gilmar-e-o-ensino-didatico-da-chicana