quinta-feira, 23 de junho de 2011

Reflexões sobre o assassinato de uma jovem adolescente por outra em escola de Fortaleza.




Pregam os teóricos da educação ser a escola um reflexo da sociedade, tão imbricados estão os seus problemas. Essa conjectura vem se configurando, nos últimos tempos, em relação à violência migrada das ruas para o ambiente escolar. Episódios esporádicos, registrados em países desenvolvidos, de repente, começam a proliferar no terceiro mundo, onde a violência é a mesma, apenas menos sofisticada. A realidade incorpora sua disseminação como fenômeno social.

As escolas públicas do Ceará estão distantes do padrão de qualidade desejável, apoiado em tecnologias avançadas de transmissão do conhecimento, em métodos especiais de aprendizagem, avaliação e certificação de seu rendimento. Infelizmente, o maior progresso em sala de aula, verificado na região, foi a substituição do quadro negro por quadros verdes. O giz foi trocado por pincel atômico, quase sempre descarregado, impondo aos professores uma despesa adicional para utilizá-lo como meio instrucional.

Do pondo de vista do apoio, esse é o clima dominante, em meio ao desconforto da desmotivação por parte da massa crítica do magistério, mergulhada na insatisfação de salários defasados, na falta de perspectivas de crescimento na carreira e de um programa contínuo de aperfeiçoamento profissional, para melhorar o nível de ensino. Os gestores públicos continuam a enxergar a escola como despesa, quando o correto seria encará-la como investimento.

No seio do alunado, especialmente entre os grupos direcionados para a escola média, a desesperança domina a cena pela inadequação do que aprendem com as exigências do mercado empregador; pela presença destruidora dos tóxicos e pela violência como estilo de vida. As gangues espalhadas pelos bairros periféricos aumentam o pânico com ameaças e agressões praticadas contra os professores.

Dentro desse contexto, parece estar se incorporando à imagem da escola pública o cometimento de homicídio em seu espaço interno. Foram cinco casos em menos de três meses. O primeiro em março, vitimando um jovem no Colégio Polivalente do Conjunto José Walter; o segundo, em abril, numa tentativa de roubo, à tarde, durante as aulas, numa escola estadual de Sobral. O vigia do prédio público, perseguido por dois assaltantes, conseguiu eliminar um deles.

O terceiro caso foi registrado no bairro Pan-Americano, da Capital, quando um aluno foi assassinado a tiros numa escola de nível médio; a quarta eliminação teve como cenário uma escola de ensino fundamental do Bom Jardim, onde um menor se refugiou, mas não escapou da morte; o quinto assassinato foi mais dramático, por envolver uma menor contra outra adolescente numa escola pública de Messejana.

Notável educador, Dom Bosco deixou para seus seguidores a obra chamada Sistema Preventivo, que apresenta um método para prevenir os desvios de conduta, o consumo de drogas, a prática do "bullying" e a desagregação dos grupos. Esse sistema oferece soluções de como atenuar os malefícios da violência, as quais ainda podem ser empregadas com eficácia, além das indispensáveis providências do poder público.
 
Extraido da página Opinião do Diário do Nordeste.

O reino encantado de Neymar

A vida em família, as conquistas amorosas, os carros luxuosos, as mansões e os contratos milionários do maior esportista brasileiro da atualidade

por Amauri Segalla e Rodrigo Cardoso foto: Caio Guatelli/Nike


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MOLECAGEM
"Eu gasto o meu dinheiro com roupas e brincos"
Prodígio. Fantástico. Extraordinário. Espetacular. Mágico. Rei. Os jornais do Brasil e do Exterior não economizaram adjetivos para expressar o talento do paulista de Mogi das Cruzes Neymar da Silva Santos Júnior, que na quarta-feira 22 entrou para a galeria dos heróis do esporte brasileiro ao conquistar pelo Santos a Taça Libertadores da América, o torneio de clubes mais importante do continente americano. Aos 19 anos, Neymar repetiu, quatro décadas depois, o feito de Pelé, que venceu a competição contra o mesmo Peñarol, tradicional time do Uruguai. Assim como o maior jogador da história do futebol, Neymar foi o protagonista do espetáculo (ele fez o primeiro gol da vitória santista por 2 a 1) e confirmou a irresistível vocação para os holofotes. Mas a força de Neymar não se limita aos gramados. Além de um atacante excepcional e com potencial para se tornar o novo número 1 do planeta, ele é um astro pop por natureza. Estiloso no penteado e no figurino, farto em sorrisos, desinibido diante das câmeras, conquistador de mulheres, apaixonado por Porsches, Ferraris e mansões, habilidoso para fazer dinheiro, ágil nos negócios, Neymar é dotado daquela chama que diferencia os seres normais dos gigantes de verdade. Trata-se de uma celebridade por completo – papel que, com maestria, adora cultivar.

Neymar é um fenômeno desde cedo. Aos 14 anos, foi fazer uma espécie de estágio no galático time do Real Madrid, na capital espanhola, que tinha no elenco craques como Ronaldo e Robinho e o francês Zidane.
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INTIMIDADE
Perfumes, chocolates, cartas de fãs e um ursinho de pelúcia no armário compõem o
espaço do quarto que Neymar divide com Paulo Henrique Ganso no CT Rei Pelé
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A experiência acabaria por transformá-lo em um adolescente milionário. Sob o risco de perder seu futuro craque, a diretoria do Santos entrou em ação: pagou R$ 1 milhão ao jogador para que ele permanecesse nas categorias de base do clube. “Acertamos o valor e o pai do Neymar ligou para o filho pedindo para ele voltar ao Brasil”, diz Marcelo Teixeira, ex-presidente do Santos. “Fui tachado de louco.” Com o dinheiro, a família comprou o primeiro imóvel, um apartamento ao lado da Vila Belmiro, em Santos – que, dois anos atrás, foi trocado por uma cobertura triplex avaliada em cerca de R$ 1,5 milhão. Quando o jogador ainda não ganhava o suficiente para sustentar a família, ele, o pai, a mãe e a irmã moravam em um cômodo na casa da avó, na periferia de São Vicente. À medida que o adolescente crescia, o nível de vida da família melhorava. Aos 15 anos, Neymar ganhava R$ 10 mil por mês. Aos 16, R$ 25 mil. Aos 17, quando virou titular no time principal do Santos, vieram os primeiros patrocínios. Em abril de 2011, já como estrela da Seleção e um dos principais garotos-propaganda da televisão brasileira, adquiriu, por R$ 4 milhões, uma mansão no condomínio Jardim Acapulco, no Guarujá.

O salário atual de R$ 160 mil é baixo para os padrões brasileiros – Rogério Ceni, ídolo do São Paulo, recebe R$ 300 mil por mês; Ronaldinho Gaúcho, do Flamengo, R$ 700 mil. A diferença é que nenhum deles é capaz de atrair tantos patrocinadores quanto Neymar, que tem cinco contratos de publicidade vigentes (leia quadro ao lado). Sua imagem e seu potencial são tão fortes que empresas como a Nike querem tê-lo por perto durante muito tempo. O craque recebe cerca de R$ 1 milhão por ano da fabricante de materiais esportivos e o contrato vale até 2022, quando ele terá 30 anos. Detalhe: o valor pode ser multiplicado. Uma cláusula prevê remuneração para títulos conquistados e convocações para a Seleção Brasileira – algo que, convenhamos, deve acontecer com frequência. Se uma empresa quiser desembolsar uma quantia fixa, sem definir prêmios por desempenho, a fatura chega a R$ 1,5 milhão por ano. “Há uma fila de interessados em fazer publicidade com o Neymar”, diz o advogado Lissandro Silva Florêncio, que analisa todos os contratos antes de o jogador assiná-los. “Mas a maioria das propostas é rejeitada por não acrescentar nada à imagem dele.”
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OS AMIGOS
O pastor Lobato, da Igreja Batista Peniel, que recebe o dízimo de
R$ 40 mil do jogador, e o cabeleireiro Salles, autor do corte moicano
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Neymar é o símbolo acabado de uma tendência que começou com Ronaldo: a de atletas que parecem estrelas do rock e administram suas carreiras de maneira estritamente profissional. O Santos criou um departamento para cuidar apenas da imagem do jogador, hoje administrada pelo especialista em marketing Eduardo Musa. Além do advogado Lissandro Florêncio e do empresário Wagner Ribeiro (que cuida dos contratos ligados ao futebol), Neymar também tem seus passos acompanhados pela 9nine, a empresa de mar­keting esportivo recém-criada por Ronaldo. O craque santista está se preparando para brilhar sob os holofotes. Ele já fez três cursos de media training, como são chamados os treinamentos em que os participantes recebem dicas sobre como se comportar em uma entrevista e de respostas adequadas para cada tipo de situação. Uma vez por semana tem aulas de inglês e se consulta regularmente com uma fonoaudióloga, que busca melhorar sua dicção e ajudá-lo a enfrentar o assédio permanente de fãs e jornalistas.

Toda a equipe é comandada por Neymar da Silva Santos, que batizou o rebento com o mesmo nome e sobrenome. Ele não desgruda do filho. Não à toa, é chamado, entre amigos, de “mãe de miss”. Embora farto, o dinheiro é administrado com mão de ferro. Neymar pode gastar, para suas despesas pessoais, R$ 15 mil por mês, valor que fica disponível em seus cartões de crédito e débito. Acima disso, precisa consultar o chefe. A maior parte da mesada é desembolsada em restaurantes japoneses e no McDonald’s, compras no shopping Miramar e baladas em casas noturnas e shows de pagode. Mimos mais caros podem ser adquiridos, desde que com a devida autorização paterna. “O Neymar passou um tempão me enchendo o saco porque queria um carro novo”, afirma o pai. “Decidi fazer uma aposta, achando que ele não iria cumprir.” Os dois combinaram o seguinte: se Neymar fosse artilheiro, campeão sul-americano sub-20 e fizesse dois gols na final, ele, que já guiava um Volvo XC60, ganharia um Porsche Panamera turbo. “Depois que ele fez o primeiro gol contra o Uruguai, torci para que parasse por aí”, diz o pai. “Não teve jeito, o moleque fez o segundo gol e ainda tirou um sarro na comemoração.” Basta dar uma espiada no YouTube para confirmar a história: ao marcar pela segunda vez na vitória de 6 a 0 do Brasil sobre o Uruguai, Neymar imita o gesto de um motorista, como se conduzisse um volante de carro imaginário.
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A FAMÍLIA
O craque na infância, ainda sem ousar no penteado; entre a mãe, Nadine,
o pai Neymar e a irmã, Rafaela: sinuca é um dos passatempos
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Na quarta-feira 22, no mesmo dia da final da Libertadores, a reportagem de ISTOÉ fez uma entrevista exclusiva com Neymar horas antes do início da partida, passou a manhã com o pai e mentor do craque e teve acesso ao seu quarto na blindada concentração do Santos – algo raríssimo em tempos de máxima proteção aos jogadores. “Tenho só 19 anos e ainda muito o que aprender”, disse o craque na ocasião. Seu estilo de vida não é nada discreto. A começar pelo cabelo cortado ao estilo moicano que lembra os punks dos anos 1980. Neymar usa o penteado desde os 15 anos. Hoje, as madeixas recebem tintura loira, alisamento progressivo e gel fixador. “Ele ficou menos feio depois que eu passei a fazer moicano nele”, brinca Cosme Salles, 25 anos, o cabeleireiro oficial do craque que é requisitado pelo menos uma vez por semana. No Geométricos Cabeleireiros, um modesto salão com adesivos colados no espelho, colegas de Salles se referem a Neymar como “avatar”, apelido que pegou. “Eu não entendo: ele gasta mó nota no cabelo e continua feio? Parece uma cacatua”, diverte-se um dos funcionários do salão, que confidencia que o jogador sente ciúme da irmã Rafaela, hoje com 15 anos. “Ela é mó gatinha, bonita mesmo. A gente tira uma onda com isso e o Juninho fica no veneno.” Juninho é outro apelido de Neymar, usado apenas por familiares e amigos íntimos.

Os colegas cometem algumas inconfidências: o craque do Santos, garantem eles, depila as pernas, faz as unhas da mão e do pé e gosta sempre de “perfume exalando”. No quarto de número 22 do Centro de Treinamento Rei Pelé, em Santos, que Neymar divide com o parceiro de time Paulo Henrique Ganso, perfumes espalhados pela cômoda dividem espaço com chocolates, cartas de fãs e um urso de pelúcia. Tênis bom, roupas do momento e relógios – ele tem uma coleção – também são artigos inseparáveis. “No futuro, ele vai colecionar mulheres”, conta um funcionário santista. “A quantidade que ele atrai, muitas delas mais velhas, é impressionante. Outro dia, ele disse que elas gostam de beliscar a bunda dele.” A fama de garoto prodígio o colocou no foco feminino. Na época em que estudava no colégio Lupe Picasso, que frequentou até o segundo ano do ensino médio, Neymar já foi flagrado beijando garotas perto de um dos canais que demarcam a praia de Santos. Quando passou a ter carteira de motorista e a dirigir carros de luxo, seu esquema passou a ser outro. “Ele pegava uma menina num prédio, saía com ela e dali a pouco a trazia de volta”, diz um amigo próximo. “Minutos depois, ele encontrava uma outra garota duas esquinas à frente.”
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PRECOCE
Com a conquista da Taça Libertadores, Neymar soma
cinco títulos na curta carreira como profissional

Foram os hormônios em ebulição do adolescente Neymar que o colocaram em choque com Dorival Júnior, ex-técnico do Santos. Em maio do ano passado, Neymar e mais quatro jogadores rumaram para São Paulo para ver um show do rapper Cris Brown. De lá, emendaram uma festa particular em um hotel com dançarinas de um programa de tevê. A balada varou a madrugada. Resultado: Neymar e outros três jogadores chegaram atrasados à concentração. Dias depois, o craque se irritou durante um jogo, ao ser impedido por Dorival Júnior de bater um pênalti. O técnico suspendeu o craque por atos de indisciplina, mas quem acabou perdendo o emprego foi o treinador – a parte mais frágil da história, já que Neymar, com seu imenso talento, não poderia ser dispensado. Foi o período mais conturbado vivido pelo craque. Nessa época, até o pastor da Igreja Batista Peniel, que a família frequenta há 12 anos às quintas-feiras e aos domingos, entrou em campo para salvar o garoto. “O Neymar se perdeu um pouco quando brigou com o Dorival”, diz o pastor Belmiro Paiva Neto. “Ele procurou o nosso presidente do ministério, os dois conversaram e o Juninho pediu perdão.”

Nos cultos, o jogador, que foi batizado nas águas da praia do Gonzaguinha, em 2008, costuma sentar nas últimas fileiras. De boné para esconder o rosto, fica tímido e não gosta de dar seu testemunho no microfone. “Um dia peguei no pé dele”, diz o pastor Newton Glória Lobato. “Ele vai no Jô Soares, bagunça e aqui tem vergonha?” Presidente do ministério, Lobato avisou os subordinados e os fiéis que, durante o culto, se alguém incomodar o craque, ele imediatamente para a reunião. Desde os 12 anos Neymar deposita seu dízimo em um envelope. Hoje, sua oferta mensal, segundo pessoas próximas, é de R$ 40 mil. O boleiro tem tanta moral entre as lideranças religiosas que chegou a cometer a heresia de, em uma pelada realizada entre fiéis e pastores, aplicar um chapéu no pastor Neto. “Falar que levei um chapéu do Neymar é algo glorioso”, diverte-se ele.

O pastor Lobato espera em breve ter uma conversa com a ovelha mais valiosa de seu rebanho sobre a paternidade. No dia 8 de maio, horas antes da final do Campeonato Paulista contra o Corinthians, Neymar descobriu que uma de suas conquistas, uma garota de 17 anos de classe média de Santos (com que não mantém um relacionamento estável) estava grávida.“Chorei quando soube que seria pai”, disse Neymar à ISTOÉ. “No começo, senti medo. Depois, alegria.” A mãe de Neymar também foi às lágrimas ao saber da novidade. O pai ficou irritado. “Puxa vida, dei tantos conselhos e ele vacilou”, diz. “Meu filho contou que a camisinha estourou.” Para o pai, o correto seria que o craque, mesmo com preservativo, fosse mais cuidadoso na hora do clímax. Dezesseis dias depois de saber da gravidez, na véspera da semifinal da Taça Libertadores, contra o Cerro Porteño, no Paraguai, a mãe da criança informou Neymar sobre o sexo da criança: um menino. “É uma responsabilidade nova e agora estou curtindo”, diz o craque. “Estamos conversando sobre os nomes, não definimos nada.”

O assunto incomoda o pai de Neymar. “Quem sabe eles amadurecem e vão morar juntos.” Na manhã da quarta-feira 22, ele não conseguia parar de falar sobre o jogo que seria disputado horas mais tarde. “Estou mais ansioso que o time inteiro do Santos”, disse em um escritório na zona sul de São Paulo, enquanto atendia um rosário de ligações de amigos, parentes e pessoal do staff do craque. A conquista do título foi também uma realização para ele. Ex-atacante de times pequenos do interior de São Paulo, Neymar pai jamais brilhou nos gramados. “Se você nunca ouviu falar de mim como jogador, é que devo ter sido ruim mesmo.” Sua vida foi difícil. Atleta peregrino (“jogava três meses aqui, quatro meses ali”), teve a carreira abreviada por uma batida de carro, que deslocou sua bacia e quase o impediu de andar de novo. A tragédia poderia ter sido maior. Aos 4 meses, Neymar estava no banco de trás do automóvel, deitado no banco e nem sequer preso pelo cinto de segurança. O bebê rolou para o assoalho, mas não se machucou. “Foi um milagre ele ter saído ileso”, diz o pai. Neymar parece ser realmente um milagre em todos os sentidos.


“Chorei quando soube do meu filho”
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Em entrevista exclusiva ao repórter Rodrigo Cardoso concedida na quarta-feira 22, horas antes da final da Libertadores, Neymar fala sobre família, sonhos e, claro, futebol
ISTOÉ – Com o que você sonha quando dorme?
Neymar – Sonho todo dia, dormindo ou acordado. Normalmente sonho com alguma coisa relacionada a futebol.

ISTOÉ – Você acha que conseguiria morar sozinho fora do Brasil? Ou melhor: gostaria de morar sozinho?
Neymar – Sozinho? Nem no Brasil eu moraria sozinho. Não me vejo vivendo sem a minha família.

ISTOÉ – Do que você sente saudade do período em que morava na casa da sua avó, em São Vicente?
Neymar – De jogar futebol na rua.

ISTOÉ – Qual a última vez que você chorou?
Neymar – Quando soube que seria pai. No começo por medo. Depois, por alegria.

ISTOÉ – O que é ser pai aos 19 anos?
Neymar – É uma responsabilidade nova, mas estou curtindo.

ISTOÉ – Já pensou em um nome para o filho?
Neymar – Estamos conversando sobre nomes, mas ainda não definimos nada.

ISTOÉ – Qual sonho de consumo gostaria de realizar?
Neymar – Não sou muito de gastar.

ISTOÉ – Mas em que produtos você gasta seu dinheiro?
Neymar – Eu gasto meu dinheiro com roupa e brinco.

ISTOÉ – Que sonho realizou?
Neymar – O sonho que tinha era dar uma casa para minha família.Graças a Deus, já realizei.

ISTOÉ – Se hoje fosse seu último dia de vida, qual seria o último desejo?
Neymar – Ser campeão do mundo pelo Brasil.

ISTOÉ – Em relação à sua personalidade, em qual aspecto você precisa melhorar?
Neymar – Ah, em tudo. Tenho só 19 anos e ainda muito o que aprender. O que já aprendi é que a maturidade só vem com o tempo, não adianta forçar.
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STF confirma que PC Farias, o famoso tesoureiro de Collor, foi assassinado por seus seguranças


STF confirma que PC Farias, o famoso tesoureiro de Collor, foi assassinado por seus seguranças e derruba a farsa do crime passional, denunciada por ISTOÉ há 15 anos

Mário Simas Filho

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Com 15 anos de atraso, o Supremo Tribunal Federal colocou um ponto final em um dos crimes mais rumorosos do Brasil: os assassinatos de Paulo César Farias e de sua namorada, Suzana Marcolino. PC Farias, como era conhecido o empresário alagoano, foi o tesoureiro do ex-presidente e atual senador Fernando Collor de Mello. Ele era considerado o maior conhecedor dos esquemas de corrupção que levaram ao impeachment de Collor e apontado pela Polícia Federal como o responsável pela movimentação de dezenas de contas no Exterior abastecidas pelo propinoduto instalado no governo federal. Em 23 de junho de 1996, dias antes de depor em uma CPI que investigava a relação de empreiteiras com o Palácio do Planalto, PC e sua namorada foram mortos na casa do empresário na praia de Guaxuma, litoral de Maceió. Antes mesmo de os corpos serem removidos, os irmãos de Farias, também envolvidos com o governo Collor, e a polícia alagoana passaram a tratar o caso como crime passional. Suzana teria matado PC e se matado em seguida. Uma versão endossada por delegados da Polícia Federal e pela mídia em geral, mas que não tinha nenhuma sustentação em provas técnicas ou testemunhais, como denunciaram diversas reportagens de ISTOÉ desde a primeira semana de julho de 1996. Com base nos relatos de testemunhas, muitas delas ignoradas pela polícia alagoana, e nos estudos feitos por peritos e legistas de todo o País, as reportagens mostravam que PC e Suzana foram vítimas de um duplo homicídio e que a cena do crime fora alterada para dificultar as investigações.
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ARMAÇÃO
A cena do crime (acima) foi alterada para atrapalhar as investigações. Em julho de 1996,
ISTOÉ denunciou a montagem para que o caso fosse arquivado como crime passional
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No início deste mês, o ministro Joaquim Barbosa, do STF, decidiu, em última instância, que Adeildo dos Santos, Reinaldo Correia de Lima Filho, Josemar dos Santos e José Geraldo da Silva, ex-seguranças de PC e ainda hoje funcionários da família Farias, deverão ser levados a júri popular acusados como coautores dos assassinatos. A decisão de Barbosa não deixa dúvida. O que ocorreu na casa da praia de Guaxuma foi um duplo homicídio e não um homicídio seguido de suicídio. “O jornalismo praticado por ISTOÉ teve papel fundamental para que a farsa não prevalecesse sobre os fatos”, diz o juiz Alberto Jorge Correia Lima, da 8ª Vara Criminal de Alagoas, responsável pelo processo que apura o crime. Segundo ele, o julgamento dos ex-seguranças de PC deverá ocorrer em setembro.
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RÉUS
Adeildo, Reinaldo, José Geraldo e Josemar (da esq. para a dir.),
os ex-seguranças acusados pelo assassinato de PC
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“Depois de tanto tempo, aumentam as chances de os ex-seguranças serem inocentados, pois os detalhes já não estão mais na memória das pessoas como na época do crime”, lamenta o promotor Luiz Vasconcelos. “Mas só o fato de haver um júri popular comprova que uma farsa estava em gestação.” Em março de 1997, o promotor e o juiz colocaram em dúvida um laudo elaborado pelo legista Fortunato Badan Palhares, da Unicamp, que procurava impor rigor científico à tese do homicídio seguido de suicídio. Com base em reportagem de ISTOÉ, que, amparada em pareceres emitidos por legistas de diversos Estados enumerou uma série de falhas no laudo de Palhares, a Justiça alagoana convocou três especialistas em medicina forense para mediar o impasse. A conclusão foi a de que todos os indícios apontavam para o duplo homicídio. “Se quatro pessoas estão em uma sala e uma delas é morta, ou o assassino está entre os três que sobreviveram ou eles compactuaram para encobrir uma outra pessoa”, diz o promotor, referindo-se à situação dos acusados. O promotor lamenta que a farsa montada em torno da tese do crime passional tenha impedido que investigações mais profundas fossem feitas. Ele explica que a possível condenação dos ex-seguranças de PC pode representar a punição aos autores dos homicídios, mas que o mandante do crime ainda é um mistério. Em sua denúncia, o juiz Correia Lima chegou a apontar o ex-deputado Augusto Farias, irmão de PC, como o mentor intelectual do crime, mas o STF entendeu que não havia provas suficientes contra o ex-parlamentar. Se a Justiça fosse menos morosa, é provável que todos os mistérios em torno da morte de PC já estivessem resolvidos.
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Brasil sob ataque de hackers

 

Piratas da computação derrubam sites do governo brasileiro na internet e mostram que o sistema pode ser mais vulnerável do que se pensava

Lúcio Vaz

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O Brasil sofreu o maior ataque de hackers de sua história no início da madrugada da quarta-feira 22, quando os sites da Presidência da República, da Receita Federal e o Portal Brasil ficaram fora do ar por uma hora. O portal da Petrobras também foi invadido. Entre a meia-noite e meia e as três horas da manhã, houve mais de dois bilhões de acessos. A pirataria virtual foi assumida pelo grupo Lulz Security Brazil, uma ramificação do Lulz Security (LulzSec), que justificou a ação como um protesto contra a corrupção no País. O Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) retirou os sites de operação por medida de segurança. Na versão oficial, dados sigilosos do governo não foram acessados, mas os autores do ataque divulgaram pelo Twitter informações pessoais da presidente Dilma Rousseff e do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab.

Na manhã da quinta-feira 23, o ataque se ampliou. Outro grupo entrou em ação: o Fatal Error Crew anunciou ter derrubado 500 sites de prefeituras e Câmaras municipais no interior do País. Como prova, divulgou os endereços das páginas que deixou fora do ar. No caso dos ataques ao governo federal, os sites ficaram inoperantes pelo acúmulo de mensagens, segundo o diretor-superintendente do Serpro, Gilberto Paganotto. “Não houve invasão. O que eles conseguiram foi deixar os sites não operantes por determinado período”, disse. O ataque partiu de provedores da Itália, mas não significa que os hackers vivem lá. Foram utilizados robôs – programas implantados em computadores à revelia dos seus usuários. A Polícia Federal vai abrir inquérito para investigar a ação, mas será difícil encontrar uma forma de punir os responsáveis, já que os crimes virtuais não estão tipificados na legislação brasileira. Há apenas um projeto de lei que aguarda votação na Câmara dos Deputados.
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FECHADO
Paganotto, do Serpro, garante que não houve invasão
A presidente Dilma Rousseff recebeu informações sobre um movimento estranho de acesso aos sites oficiais na tarde da terça-feira 21. O Serpro tomou medidas preventivas, porém não conseguiu evitar o colapso nos sistemas de informação. A diretoria do órgão explicou que haviam sido detectadas outras tentativas de invasão nos últimos meses, mas em menor proporção. Ultimamente, os hackers mantinham a ação concentrada em grandes potências mundiais. O primeiro atentado atingiu a Serious Organised Crime Agency. A agência britânica de combate ao crime organizado teve o seu portal derrubado pelo LulzSec. O grupo também atacou o site da CIA, a agência de inteligência dos EUA. Outro grupo, o Anonymous, invadiu e derrubou a rede Playstation Network, da Sony, em abril. Nesse caso, mais de um milhão de usuários tiveram violados números e senhas de cartões de crédito.

Nas ações dessa semana, O Serpro garante que os servidores que suportam os sites da Presidência, da Receita Federal e do Portal Brasil não foram violados. “Não houve acesso aos bancos de dados nem danos aos sistemas e a suas informações”, diz a nota. Os dados da presidente Dilma, como números do CPF e do PIS, data de nascimento e telefone, são informações públicas que podem ser encontradas em sites oficiais. Mas o LulzSec também divulgou arquivos com e-mails de funcionários da Petrobras e senhas e logins da página do Ministério do Esporte. O ataque ao governo brasileiro, portanto, pode ser bem mais grave do que o Serpro deu a entender.
Fonte: Revista Istoé

Os anestesiados

 

Eles são mais de 14 mil. Foram demitidos por Collor e anistiados por Itamar. Hoje já recebem salário, mas ainda lutam para trabalhar

Lúcio Vaz

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NO LIMBO
Servidores que hoje são classificados como “empregados públicos”,
e não “funcionários públicos”, denuinciam discriminação em Brasília
Eles são pouco conhecidos dos brasileiros em geral, embora formem um contingente de mais de 14 mil pessoas que recebem salário do governo federal. Trabalham em condições precárias em ministérios e empresas estatais e vivem numa espécie de limbo burocrático. Tecnicamente, não são “funcionários públicos”, mas “empregados públicos”. Explica-se: quase 20 anos atrás, eles estavam entre os 100 mil servidores demitidos de forma atabalhoada pelo governo Collor. Eram todos celetistas, não concursados, exercendo carreiras que acabaram extintas ao final daquele ano (1990), quando foi criado o regime jurídico único dos servidores que tornou estatutários aqueles que ficaram no serviço público. Em 1994 eles foram anistiados pelo presidente Itamar Franco e tiveram que brigar mais cinco anos para começarem a voltar ao trabalho. Na maioria dos casos, reingressaram no nível mais baixo do quadro de salários, hoje não têm direito a gratificações nem a progressão de carreira e não podem contar o período que ficaram afastados para o tempo de serviço da aposentadoria. Em Brasília, eles são conhecidos como “os anestesiados”.

“Temos sido humilhados”, diz Marlúcia Souza Pinto, 45 anos, uma das 139 pessoas anistiadas que retornaram ao trabalho no Ministério da Ciência e Tecnologia. Junto com colegas de outros órgãos públicos ela rejeita a qualificação de “anestesiados” e denuncia assédio moral por parte de servidores de carreira. “Somos discriminados”, afirma o servidor Frederico Jaime, do mesmo ministério. “A função que eu ocupo dá direito à gratificação, mas eu não posso recebê-la”. Também na Ciência e Tecnologia, Samuel Santana, 56 anos, foi reintegrado na função que exercia 20 anos antes, como arquiteto. Mas seu salário é menor do que o piso nacional da categoria: R$ 1,9 mil.
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"Temos no nosso grupo pessoas com 70 anos
que têm dificuldade com o computador"

Marlúcia Souza Pinto, do Ministério da Ciência e Tecnologia

O drama desses servidores vem de longe. Depois de muita mobilização, o governo Itamar Franco concedeu-lhes a anistia por medida provisória em maio de 1994. Mas, somente em 2005, uma comissão interministerial ratificou a decisão e determinou o retorno dos anistiados. Foi analisado caso a caso. A volta ao trabalho começou em 2009, em dezenas de órgãos federais, entre eles Emater, BNCC, Datamec, Telebrás, Eletronorte e Siderbrás. Só na Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) foi cerca de 1,5 mil. Houve casos especiais como o dos 350 empregados do antigo SNI, acomodados na Secretaria de Segurança Institucional. Nas audiências realizadas nos Estados, a comissão interministerial encontrou histórias polêmicas, como a da Companhia Docas de São Paulo (Codesp). Ali, centenas de empregados tinham sido pressionados a pedir demissão no governo Collor. “Eles eram levados a um local chamado casa de convencimento”, conta Érida Feliz, presidente da comissão interministerial. Anos depois, na audiência da comissão, dois policiais responsáveis pela pressão psicológica sobre os servidores acabaram depondo como testemunhas a favor dos anistiados. Todos os funcionários da Codesp foram reintegrados.

“Acontece que a lei da anistia é falha”, diz Érida Feliz. A presidente da comissão interministerial reconhece que esses servidores tiveram prejuízos, mas entende que há pouco a fazer. “Eles são empregados públicos, por isso, enfrentam defasagem salarial e não têm direito à progressão.” Érida ressalta que há também outros problemas. “Muitos estudaram, evoluíram nestes 20 anos, outros não. Há pessoas qualificadas e outras com dificuldade de readaptação”, afirma ela. Realmente, vários servidores ficaram afastados do mercado por muito tempo, o que atrapalhou a readaptação. “Temos no nosso grupo pessoas com 70 anos que têm dificuldade com o computador”, admite Marlúcia Souza Pinto, do Ministério da Ciência e Tecnologia. Talvez, por isso, alguns anistiados se mostram conformados e nem reclamam do apelido de “anestesiados”. Durvail Ferreira de Paula, 74 anos, ex-motorista e hoje auxiliar administrativo, comenta as perdas salariais rindo: “O que vamos fazer? Comer o que nós ganhamos aqui, não é?”.
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Todas as brigas de Kassab


 

O prefeito paulistano transforma velhos parceiros em desafetos, coleciona inimigos e enfrenta dificuldades para criar o PSD

Luiza Villaméa e Sérgio Pardellas

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Tirando o aposentado que foi acusado, aos berros, de ser um vagabundo por protestar contra a má qualidade dos serviços de saúde municipal, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, tinha poucos inimigos públicos até o início deste ano. Político pragmático e ideologicamente flexível, Kassab construiu sua carreira evitando embates polêmicos e procurando estar bem com todos, amigos, aliados ou adversários. Mas, desde que decidiu abandonar o DEM para criar um partido à sua imagem e semelhança, o PSD, o prefeito paulistano tem sido incapaz de evitar os confrontos. O último deles teria colocado fim até mesmo à longeva parceria entre Kassab e o secretário estadual de Desenvolvimento Social, Rodrigo Garcia, cuja trajetória política sempre esteve colada à do prefeito. Nos bastidores da política paulistana não cessam os relatos de uma visita de Kassab ao gabinete de Garcia, que continuou no DEM. “Se você quer me destruir, vou te destruir primeiro”, teria gritado Kassab, que, assim como Garcia, confirma a visita, mas nega a briga.

O fato é que o ambiente anda tenso entre Kassab e antigos aliados. Preocupados com o crescimento do PSD e o provável alinhamento à base de apoio da presidente Dilma Rousseff (PT), alguns deles não se constrangem em afirmar que vão ingressar com ações para que o novo partido não seja registrado. Kassab tem até o final de setembro para entregar à Justiça Eleitoral e autenticar a veracidade de 490,3 mil fichas de apoio ao partido se quiser disputar as eleições do ano que vem. “O PSD é um partido sem dignidade. Essa questão das assinaturas virou caso de polícia”, afirma o deputado ACM Neto (DEM-BA). O parlamentar se refere à descoberta de cinco eleitores mortos na lista de apoio coletada em Santa Catarina, onde o governador Raimundo Colombo deixou o DEM para ajudar a fundar o novo partido.
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ALIADOS
A senadora Kátia Abreu e o governador Raimundo Colombo, de
Santa Catarina, onde a lista de apoio tinha assinatura de mortos
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Em São Paulo, as denúncias são relativas ao uso da máquina pública na arregimentação de apoios. Na terça-feira 21, o presidente municipal do PT, vereador Antonio Donato, protocolou na Câmara Municipal um pedido de abertura de CPI para investigar o caso. “Há indícios de que não se trata de episódios pontuais”, explica Donato. Kassab nega as acusações e diz não acreditar que o DEM – nem o PSDB – tenha deflagrado uma operação contra o PSD (leia entrevista à dir.). Presidente do PSDB, o senador Sérgio Guerra (PE) também descarta oficialmente a possibilidade. “O PSDB não especula sobre qualquer ato que venha a interferir em procedimentos de outras legendas”, diz. Em conversas com aliados, porém, Guerra tem apostado que o PSD não se viabilizará até as eleições municipais de 2012.
Potencial presidente do novo partido, a senadora Kátia Abreu, que também deixou o DEM, desabafou com correligionários há poucos dias: “Talvez não dê tempo para o PSD se viabilizar para as eleições do ano que vem. Estou preocupada.” Testemunhou a conversa o presidente da Fiesp, Paulo Skaf (PMDB). A desarticulação do novo partido em Estados e municípios é o que mais atemoriza os novos integrantes do PSD. “As ameaças de ações judiciais do DEM intimidam simpatizantes e interessados em se filiar”, lamentou Kátia. Kassab, no entanto, demonstra confiança. “As etapas mais difíceis já foram vencidas”, diz o prefeito, no seu tom de voz habitual – pausado e baixo.
“O PSD AINDA NÃO TEM PROGRAMA”
ISTOÉ – Qual a diferença entre o DEM e o PSD?
Gilberto Kassab – O DEM é um partido que nasceu como PFL, com convicção na democracia. Depois, assumiu uma posição de intransigência. Acabou incompatibilizado com a opinião pública.

ISTOÉ – Que tipo de intransigência?
Kassab – De se negar a apoiar políticas públicas por estarem vinculadas a um governo. Não é a maneira de fazer política em que acredito.

ISTOÉ – Que modo é esse?
Kassab – Defender ideias, mas sempre procurar políticas de conciliação para o bem do País. Fui parceiro do presidente Lula em diversos programas. E, quando chegaram as eleições, ninguém foi mais leal a Serra do que eu.

ISTOÉ – E o que diferencia o PSD dos outros partidos? Apenas a liberdade de participar ou não da base de apoio à presidente Dilma?
Kassab – Essa é uma posição transitória. Em 2014, o partido terá uma definição de qual será a sua conduta. A partir daí, teremos uma ação única.

ISTOÉ – Qual o programa do partido?
Kassab – O partido ainda não tem programa. Vamos construí-lo com as bases.

ISTOÉ – Mas, para se criar um partido, é preciso ter um programa.
Kassab – Nosso primeiro ato jurídico foi lançar um manifesto com as diretrizes, com o cuidado de dizer que era ­preliminar.

ISTOÉ – O sr. tem falado que conta com quase 1,2 milhão de assinaturas de apoio. Que apoios são esses?
Kassab – Para criar qualquer partido, é preciso cerca de 500 mil assinaturas de apoiamento. Elas são encaminhadas à Justiça Eleitoral, para certificar que cada assinatura bate com a do eleitor, com o título. Em uma semana, foram certificadas 100 mil.

ISTOÉ – É uma lista ou uma ficha?
Kassab – É uma ficha. Pode ser uma única folha com várias assinaturas
ou uma ficha individual. As certificadas são aquelas que já foram homologadas pela Justiça Eleitoral.

ISTOÉ – Há um pedido de CPI na Câmara Municipal para investigar o uso da máquina pública na criação do PSD. Como o sr. vai se defender?
Kassab – A CPI não foi criada. Não acredito que seja o caso. Foi protocolado apenas o pedido. Estamos tranquilos porque não há uso da máquina.

ISTOÉ – O que houve então?
Kassab – Foi pontual. Um jornalista visitou um funcionário numa ­subprefeitura e pediu a ficha. O funcionário se exonerou. Foi aberta uma ­sindicância.

ISTOÉ – E como a descoberta de assinaturas de pessoas mortas na lista de apoios afeta a credibilidade do PSD?
Kassab – Por isso se faz a homo­logação na Justiça Eleitoral. Às vezes a assinatura não bate. No caso de morto, precisa ver se é morto mesmo, se não é.

ISTOÉ – O que ocorreu nesse caso?
Kassab – Pode ter sido até malandragem de alguém, para tentar prejudicar o partido. Pode ser até brincadeira de criança.

ISTOÉ – Quem trabalha para inviabilizar o seu partido?
Kassab – Para ser sincero, eu não identifiquei ninguém até agora.

ISTOÉ – E o sr. também está colecionando desafetos. Há relatos de o sr. querer até torcer o pescoço de pessoas.
Kassab –Não são relatos verdadeiros, são mentiras. São calúnias. Eu sou muito tranquilo, muito calmo.

Fonte: Revista Istoé

Base aliada exige cargos para continuar apoiando governo Dilma.

O mapa da barganha

Quase 200 cargos em órgãos federais são a recompensa exigida pela base aliada para continuar a apoiar o governo no Congresso

Sérgio Pardellas

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XADREZ
Ideli terá a dura missão de tentar agradar a todos sem desagradar a ninguém
Sobre a mesa da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, ocupa lugar de destaque uma lista com 184 indicações para cargos de segundo escalão do governo. Esse é o loteamento exigido pelas legendas governistas, que querem ver as nomeações publicadas no “Diário Oficial” o mais breve possível. Além da acomodação em postos estratégicos, a fatura cobrada pelos parlamentares inclui o empenho de R$ 3 bilhões em emendas do Orçamento de 2011 e a liberação de R$ 1 bilhão de anos anteriores. Do contrário, ameaçam endurecer o jogo para o governo no Congresso. As declarações da ministra Ideli, na terça-feira 21, de que haverá “frustrações” nos partidos no processo de preenchimento de vagas foram pessimamente recebidas pelas lideranças na Câmara e no Senado. Os cargos e as emendas representam o capital eleitoral dos deputados junto a prefeitos e vereadores às vésperas das eleições municipais. Daí a pressa. Os aliados insistem que, se não forem atendidos, matérias de interesse do governo, como os destaques apresentados à Medida Provisória que trata das regras especiais de licitação para a Copa, não tramitarão no Legislativo ao sabor das conveniências do Palácio do Planalto. “O PMDB não vai abrir mão do direito de indicar”, afirma o líder na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN).

Apesar de a pecha do fisiologismo ficar sempre com o PMDB, a lista de demandas do PT corresponde a 60% do total, ou 110 cargos. Na lista de pleitos mais recentes do partido encontra-se a indicação de Elcione Diniz para a diretoria de administração e finanças da Transurb, da lavra do presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), e do ex-ministro José Dirceu. Já os diretórios do PT da Bahia, Ceará e Piauí querem emplacar nomes em seis diretorias do Banco do Nordeste: de negócios (Paulo Sérgio Rebouças), financeira (Oswaldo Serrano), de gestão (José Sydrião), administrativa (José Alan Teixeira), tecnologia da informação (Stélio Gama) e de controle (Luiz Carlos Farias). Além disso, a pedido do PT, só na semana passada foram criadas 11 novas diretorias da Caixa Econômica Federal. As vagas serão preenchidas com a supervisão do ministro da Fazenda, Guido Mantega.“Também queremos indicar nomes nos Estados”, disse à ISTOÉ o presidente do PCdoB, Renato Rabelo. A lista dos comunistas é bem mais modesta do que a do PT e perfaz seis nomes.

O PMDB sonha com mais 48 cargos no segundo e terceiro escalões. Na semana passada o partido deu prazo de 20 dias para a ministra Ideli Salvatti atender seus pleitos. Desde o início do ano, seis nomes do partido já foram contemplados. Entre as reivindicações mais urgentes estão a diretoria do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para o ex-senador Valter Pereira, do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) para Mauro Benevides Filho e a vice-presidência do Banco do Brasil e uma diretoria do Banco da Amazônia para os ex-senadores José Maranhão e Leomar Quintanilha. O partido ainda almeja postos estratégicos na Chesf e Eletronorte. Pela vaga na Chesf, o PMDB terá de medir forças com os socialistas do PSB, também contrariados com a demora do governo. O PSB aguarda a nomeação de cinco pessoas para já. Segundo o líder do partido no Senado, Antônio Carlos Valadares (PSB-SE), “os pleitos foram entregues ainda ao Palocci, quando era ministro, e até agora não foram levados em conta”.

No vale-tudo por cargos no governo, o rosário de reclamações é desfiado também por dirigentes do PTB, PP e até do PDT. “Estamos há cinco meses pedindo e até agora nada. A demora está grande demais. E o que nós queremos é muito pouco”, desabafou à ISTOÉ o líder do PDT na Câmara, Giovanni Queiroz (PA). Os trabalhistas que­rem fazer mudanças nas superintendências regionais do Ministério do Trabalho. No Pará, por exemplo, a troca envolve duas pessoas do próprio partido, mas ainda precisa da chancela do governo. Os senadores do PTB Armando Monteiro (PE) e Mozarildo Cavalcanti (RR) são outros par­lamentares que aguardam com ansiedade o aval do Planalto para suas indicações.

Na cúpula do PP, os objetos de desejo são quatro postos. A presidência do Denatran para o ex-deputado Inaldo Leitão (PB), uma indicação do senador Ciro Nogueira (PI), um assento no Conselho Público Olímpico para Magda Oliveira Cardoso, apadrinhada pelos deputados Nelson Meurer (PR) e João Leão (BA), uma vaga no Departamento de Água e Esgotos para Johnny Ferreira dos Santos e uma diretoria da BR Distribuidora para Paulo Roberto Costa. Esse último cargo, os progressistas disputam palmo a palmo com o PR. Enquanto a presidente Dilma diz a interlocutores que não vai aceitar negociar com “faca no pescoço”, a ministra Ideli admite ceder em alguns pontos. Mas, depois de lidar com os bagrinhos do Ministério da Pesca, ela ainda não sabe como vai conseguir domar os tubarões cada vez mais famintos do Congresso.
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Fonte: Revista Istoé

As amizades suspeitas do governador do rio


Dize-me com quem andas, Sergio Cabral, e todos saberão que tipo de governante você se tornou.

Carlos Newton
Por muito menos, pediram o impeachment de Fernando Collor. Não há comparação entre as trajetórias do então presidente e a do atual governador do Rio de Janeiro. Os “empresários” Marcelo Mattoso de Almeida, que morreu pilotando o helicóptero na Bahia, Fernando Cavendish, Sergio Luiz Côrtes da Silveira e Arthur Cesar Soares de Menezes Filho – são estes os principais parceiros de Sergio Cabral Filho, um jovem suburbano que abraçou a política e daí passou a flertar com a elite e frequentar o eixo Leblon-Angra dos Reis-Miami-Paris.
Parceiro 1 – Marcelo Mattoso de Almeida era um ex-doleiro, que se autoexilou em Miami, fugido de uma operação da Polícia Federal, onde abriu uma revendedora de carros de luxo (por coincidência, o nome da agência era First Class, o mesmo do empreendimento na Bahia). Voltando ao Rio de Janeiro, passou a frequentar a casa do governador, tornando-se assíduo no Palácio Laranjeiras. Por coincidência, há informações circulando de que na semana passada Cabral voltou de Paris fazendo escala em Miami.
Parceiro 2 – Fernando Cavendish, dono da Delta Construções, era um empreiteiro de terceiro time e rapidamente se tornou um dos mais ricos do país, depois que se aproximou do governador Sergio Cabral Filho, ganhando as mais importantes licitações do Estado do Rio de Janeiro, inclusive a reforma do Maracanã e a construção das novas lâminas do Tribunal de Justiça.
Parceiro 3 – Arthur Cesar Soares de Menezes, o “Rei Arthur”, assim chamado porque é o grande artífice e planejador das terceirizações e licitações no governo Sergio Cabral. Em 2008, recebeu 23,5% (R$ 357,2 milhões) de tudo o que o governo estadual pagou. Na verdade, o reinado de Arthur César, do grupo Facility, se iniciou na gestão de Anthony Garotinho e desde então jamais foi destronado. Mas nem Garotinho ousou pagar tanto, em 2003, por exemplo, Arthur César só levou R$ 58,5 milhões.
Parceiro 4 – Sergio Luiz Cortes da Silveira é o homem de Cabral na área da saúde. O governador tentou emplacá-lo como ministro do governo Dilma Rousseff, que declinou quando viu a lista dos processos que o secretário responde por improbidade administrativa. A corrupção de Côrtes virou manchete dos jornais e ele jamais explicou como comprou o luxuoso apartamento de cobertura na Lagoa, que seu salário de Secretário de Saúde não poderia pagar. A atuação de Cortes rendeu ao governador uma interpelação judicial no STJ (IJ nº 2008/0264179-0), promovida pelo Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro e pela Federação Nacional dos Médicos.
Além dos quatro parceiros, o governador tem forte apoio da própria mulher, Adriana Ancelmo Cabral, que se tornou o maior fenômeno da advocacia nacional. Saiu da função de advogada assistente na Alerj (2001 a 2003) para catapultar sua carreira e fundar, em 2004, o Escritório Coelho, Ancelmo & Dourado Advogados Associados, sociedade que mantém o maior número de causas milionárias em que o Estado do Rio de Janeiro, suas autarquias e fundações funcionam como parte ou contraparte.
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O ENRIQUECIMENTO DE CABRAL
Sérgio Cabral Filho vem de uma família de classe média baixa, nasceu no Engenho Novo e foi criado no bairro de Cavalcanti, subúrbio do Rio. O pai, conhecido jornalista e crítico musical, se candidatou a vereador e foi eleito em 1982 e reeleito em 1988 e 1992. Cabral Filho se integrou à equipe do pai, acabou nomeado diretor da TurisRio, no governo Moreira Franco.
Em 1990, pegou carona no nome do pai e foi eleito deputado estadual, tornando-se uma espécie de político-modelo. Recusou as mordomias da Alerj, não usava o carro oficial, dirigindo seu modesto Voyage. Defendia duas classes sociais: os jovens e os idosos, organizando os famosos bailes da Terceira Idade, primeiro no Clube Boqueirão do Passeio, depois no Canecão.  Fazia uma carreira impecável, trocou o PMDB pelo PSDB e tinha tudo para dar certo na política.
Até que se candidatou a prefeito do Rio, em 1992, e descobriu as famosas “sobras de campanha”. Foi quando começou a enriquecer. Reeleito deputado estadual em 1994, ligou-se a Jorge Picciani, que durante 6 anos foi primeiro-secretário da Alerj, no período em que Cabral presidiu a casa (1995-2007). Em 1994, foi novamente candidato a prefeito, amealhando “mais sobras de campanha”.
Em 1998, tinha declarado um patrimônio de R$ 827,8 mil, mas já dava demonstrações explícitas de enriquecimento ilícito. Ainda estava no PSDB, mas rompeu com o então governador Marcello Alencar, que o denunciou ao Ministério Público Estadual por improbidade administrativa (adquirir bens, no exercício do mandato, incompatíveis com o patrimônio ou a renda de agente público), pela compra de uma mansão no condomínio Portobello em Mangaratiba, e pela aquisição também de um luxuoso apartamento no Leblon.
Mas essa investigação foi arquivada pelo subprocurador-geral de Justiça Elio Fischberg, em 1999, porque Cabral alegou que fazia “consultoria política” para a agência do publicitário Rogério Monteiro, que lhe pagaria R$ 9 mil por mês, quantia insuficiente para justificar os elevados gastos de Cabral, mas o subprocurador parece que não era bom em aritmética.
Em 1999, Cabral volta para o PMDB, e ainda como presidente da Alerj, se aproxima do então governador do estado, Anthony Garotinho, que o ajuda a se eleger senador em 2002, e depois o apóia na campanha para governador em 2006, com mais “sobras de campanha”.
Como governador, estrategicamente Cabral logo rompeu com seu protetor Garotinho, mas manteve o “reinado” de Arthur César Soares de Menezes Filho. E se ligou aos outros três mosqueteiros: Marcelo Mattoso de Almeida, o ex-doleiro que morreu sexta-feira pilotando o helicóptero na Bahia, o empreiteiro Fernando Cavendish, e o secretário Sergio Luiz Côrtes da Silveira. Com isso, foi aumentando desmesuradamente a fortuna, que já não dependia dos serviços de “consultoria” à agência do amigo Rogério Monteiro.
Hoje, o deslumbramento e o exibicionismo novo rico da família Cabral chega a tal ponto que uma foto publicada por O Globo esta terça-feira diz tudo. O filho de Cabral, Marco Antonio, aparece usando um relógio Rolex Oyster Perpetual Daytona de Ouro Branco, que custa nas melhores lojas do país a bagatela de R$ 50 mil. Não é preciso dizer mais nada.