segunda-feira, 4 de julho de 2011

O polêmico caso do filho que FHC reconheceu mas que não é dele.


O filho da Grande Imprensa

Causa espanto que uma imprensa sempre tão ciosa de ter seu direito à liberdade de expressão cassado, censurado, suprimido, tenha de livre e espontânea vontade desistido de divulgar assunto tão mobilizador de corações e mentes como o do “filho de FHC”. Quando foi para falar sobre Lurian Cordeiro, filha de Lula, o comportamento foi bem distinto.

Washington Araújo, na Carta Maior


Causa espanto a desfaçatez com que a grande imprensa decide tratar, destratar, maltratar ou não tratar assunto que por algum infinitésimo de segundo lhe cause incômodo na esfera política. Refiro-me ao filho adulterino do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso com a jornalista Miriam Dutra, então funcionária da Rede Globo de Televisão. A vida do inocente filho sempre foi permeada por mistério, muitos silêncios, excessivas pausas e imoderada paciência em levar a público o que já era de conhecimento de meia Brasília política, de meio país dos mexericos e se podiam contar nos dedos os jornalistas desinformados de paternidade tão noticiada nos bastidores do Poder quanto sigilosa nos meios noticiosos de circulação nacional e de maior audiência radiofônica e televisiva.

Causa espanto a desfaçatez com que a grande imprensa vem, com atraso de 19 anos, dar conta que o filho do experiente político com a renomada jornalista na verdade não é seu filho biológico: dois exames de DNA deram negativo. E o mesmo espanto é estendido à informação de que este filho, mesmo não sendo seu do ponto de vista biológico é assumido plenamente pelo velho patriarca como seu por “laços afetivos e emocionais”. E o assunto somente terá seu capítulo final após sua morte que é quando seus três filhos legítimos com D. Ruth Cardoso irão tratar do sensível tema chamado direito à herança. Até lá, este mais novo desdobramento de uma notícia há tanto tempo vetada de vir à luz pública, não por força de monstruosos sensores, e sim, de decisão editorial envolvendo os principais jornais do eixo Rio-São Paulo, as revistas de maior circulação nacional e as redes de televisão de maior audiência.

Causa espanto a desfaçatez com que a grande imprensa aceitou ser “furada” por uma revista de modesta circulação nacional e, para completar o contraste do furo, de regularidade mensal – a Caros Amigos. E foi em sua edição nº 37, de abril do ano 2000, que o editor de Caros Amigos Palmério Dória publicou a matéria “Por que a Imprensa esconde o filho de oito anos de FHC com a repórter da Globo?”. A revista questionava o silêncio concedido pela grande imprensa ao assunto, e apontava o grave contraste com o estardalhaço com que esta mesma grande imprensa tratara de filhos ilegítimos de outras personalidades do mundo político como Fernando Collor de Mello e Luiz Inácio Lula da Silva, não por acaso, também ex-presidentes da República.

Causa espanto que uma imprensa sempre tão ciosa de ter seu direito à liberdade de expressão cassado, censurado, suprimido, tenha de livre e espontânea vontade (editorial) desistido de divulgar assunto tão mobilizador de corações e mentes. Vale registrar que, à época, não foram poucos os jornalistas que se apressaram a não acusar o golpe – no caso o furo protagonizado por Caros Amigos – e deixando claro que o “filho ilegítimo de FHC” se tratava tão-somente de um “assunto pessoal”, desprovido de qualquer “teor jornalístico” e não oferecendo aqueles características basilares que têm o poder de converter a mera informação de bastidor em “notícia capaz de interessar à opinião pública”.

Causa espanto que o assunto, desde seu nascedouro, no caso, desde o nascimento do pequeno Tomás Dutra Schmidt, o tema já se impunha com todos os ingredientes com que uma informação assume ares e jeito de notícia e mesmo assim foi escanteado para o misterioso arquivos dos “assuntos que são, mas não deviam ser notícia”. Tinha a marca da novidade, relevância, importância (por se tratar de filho do Presidente da República); configurava aspectos de raridade (porque não é comum deixar de noticiar a existência de filho ilegítimo de um Presidente da República), trazia a força capaz de atiçar a curiosidade (porque era filho de famosa jornalista da principal rede de televisão do Brasil, a Globo); era, sobretudo, oportuna (porque na campanha eleitoral de 1989, um dos maiores escândalos era nada menos que a existência da jovem Lurian Cordeiro, igualmente filha ilegítima do segundo candidato mais votado à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva.

Em resumo, noticiar a existência de Tomás não poderia ser chancelado, sob qualquer hipótese como “evento pouco significativo, banal ou corriqueiro”. Muito menos ainda vir a ser tratada como notícia destinada a passar ao largo do chamado interesse do público. E, no entanto, assim foi tratada. E não apenas pela Rede Globo de Televisão, como também pelo SBT, pela Record e pela Band. Deixou de ser impressa tanto nas páginas de Estado de São Paulo quanto nas de O Globo e da Folha de S.Paulo. Nenhuma emissora de rádio registrou algum locutor dando conta do assunto. E quando se levanta a tese da existência de personalidades premiadas com a blindagem da imprensa é óbvio que esta não surge do nada, do encontro do vento sudeste com o noroeste, do acaso com a mera coincidência. É que existe blindagem mesmo.

Causa espanto que somente no domingo, 15 de novembro de 2009, reportagem da jornalista Mônica Bergamo na Folha de S.Paulo, dava conta que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso reconheceria oficialmente Tomas Dutra Schmidt como filho. E agregava que “Tomas, que hoje tem 18 anos, nasceu da relação amorosa que FHC teve com a jornalista Mirian Dutra, da TV Globo.”. A jornalista informava ainda que “FHC consultou advogados e viajou na semana passada para Madri — onde vive a jornalista — para cuidar do reconhecimento do filho.” Cuidadosa na apuração de suas notícias exclusivas, Mônica Bergamo informava também que “FHC negou a informação e disse que estava na cidade para a reunião do Clube de Madri. Procurada pela Folha, Mirian disse que quem deveria falar do assunto seria ele e a família dele.” Com este punhado de informações parecia que, finalmente, nove anos após a alentada reportagem do jornalista Palmério Dória em Caros Amigos, um dos nossos grandes diários trazia à luz o mais comentado e também o quase-nunca-noticiado segredo da República. Outros veículos de comunicação fizeram o de sempre: repercutiram a notícia sem agregar qualquer nova informação.

É curioso observar como o mexerico, desde o início, recebeu as tintas da autenticidade. Bergamo não deixa margem à dúvidas quanto à paternidade de Tomás: “Tomás, que hoje tem 18 anos, nasceu da relação amorosa que FHC teve com a jornalista Mirian Dutra, da TV Globo.” E escancara nas entrelinhas a quantidade de energia despendida pelo ex-presidente para despistar nossos argutos jornalistas sobre o assunto, quando mesmo há poucos dias de reconhecer oficialmente o filho, na verdade encontrava-se na capital espanhola apenas para atender “a reunião do Clube de Madri”.
Causa espanto, e põe espanto nisso!, as três notas publicadas pela revista Veja (Edição 2223, de 29/6/2011), na coluna Radar, do jornalista Lauro Jardim. São elas:

DNA revelador 1


Dois exames de DNA, o último deles feito no início do ano, deram um desfecho surpreendente a uma história envolta em muita discrição há duas décadas: Tomás, de 19 anos, o rapaz que FHC reconheceu oficialmente como filho em 2009 em um cartório espanhol, não é filho do ex-presidente.

DNA revelador 2


Embora só tenha perfilhado Tomás há dois anos, FHC sempre ajudou a jornalista Miriam Dutra, sua mãe, a sustentá-lo. Como morava entre Portugal e Espanha, para onde Míriam foi enviada pela Globo pouco antes do seu nascimento, Tomás tinha contato com FHC quando o ex-presidente viajava para a Europa – tendo eles se encontrado também várias vezes no Brasil durante a passagem de FHC pela Presidência. A situação, porém, sempre foi envolta em total reserva, quebrada somente com a publicação pela Folha de S.Paulo, em 2009, de uma reportagem sobre o reconhecimento de Tomás.

DNA revelador 3


No ano passado, mesmo sem nenhuma contestação da paternidade, FHC e Tomás, hoje estudando relações internacionais nos EUA, decidiram fazer exames de DNA. Eles foram juntos ao laboratório. Antes, no entanto, FHC disse a Tomás que, qualquer que fosse o resultado, nada mudaria na relação entre os dois. Com o inesperado resultado dos exames em mãos, FHC reafirmou o que dissera. Portanto, nada muda na vida do rapaz no que diz respeito a seu ex-pai biológico.

Nenhuma das notas, com o que agora soa como irônico título “DNA revelador”, revelou algo que capaz de jogar luzes sobre o DNA da nossa grande imprensa: quais os reais motivos para sonegar do público a existência do filho ilegítimo de Fernando Henrique Cardoso? E, se optasse por condensar as três notas em apenas uma, o jornalista poderia ter brindado seus sonolentos leitores com informações como:

(1) Por quê o tratamento desigual concedido aos filhos ilegítimos de outros ex-presidentes da República?

(2) Por quê não buscar alguma declaração de Miriam Dutra sobre a real identidade do pai biológico de Tomás Dutra Schmidt?

(3) Quanto custou a Fernando Henrique Cardoso o peso de tão longevo silêncio por parte de nossa grande imprensa acerca de suas estripulias extramatrimoniais?;

(4) Por quê a revista Veja desconheceu o furo de Caros Amigos – ocorrido com antecipação de no mínimo 9 anos? – e oferece atestado de paternidade do referido furo ao jornal Folha de S.Paulo, que, a bem da verdade, publicou informações da jornalista Mônica Bergamo, apenas em sua edição de 15/11/2009?

Aberta a temporada de celebrações por ocasião dos 80 anos do pai-afetivo, mas não biológico do jovem Tomás, há que se inferir que seria tremendo mau gosto incluir o exame de DNA tão diligentemente divulgado por Lauro Jardim como… parte das comemorações.
Sem dúvida, o assunto que ainda parece longe de ter seu desfecho, oferece ensejo para alentada reflexão do papel de nossa grande imprensa e sua perigosa opção por continuar se equilibrando entre o bom e o mau jornalismo.

Até o momento, o mau jornalismo parece estar ganhando. E de goleada.

Washington Araújo é jornalista e escritor. Mestre em Comunicação pela UNB, tem livros sobre mídia, direitos humanos e ética publicados no Brasil, Argentina, Espanha, México. Tem o blog

http://www.cidadaodomundo.org
Email – wlaraujo9@gmail.com

Os negócios “laranjas” da secretaria de Saúde de Cabral


Saquarema está virando a terra das "laranjas"
Saquarema está virando a terra das "laranjas"


O presidente da ALERJ, Paulo Maria-Mole diz que ficou rico ganhando comissões por negócios imobiliários na região dos Lagos, ele gosta de ser chamado de “rei de Saquarema”, a cidade que se intitula a Capital Nacional do Surf, por conta das boas ondas. Mas o que eu não sabia é que a terra de Paulo Maria-Mole estava produzindo tanta “laranja”.

A secretaria estadual de Saúde, na gestão de Sérgio Côrtes descobriu que Saquarema deve ter algo de especial, porque adora contratar cooperativas de funcionários que são sediadas na cidade de Paulo Maria-Mole. Bem, os dois, Côrtes e o “corretor de imóveis” são muito amigos, não sei se foi o presidente da ALERJ que mostrou ao secretário a nova vocação de Saquarema, as cooperativas de funcionários da área de saúde.

Pois só nos meses de agosto e setembro de 2008, quatro cooperativas de Saquarema receberam R$ 5,7 milhões da secretaria de Sérgio Côrtes por conta de funcionários terceirizados. Vejam a relação.

COOPERATIVA INTERNACIONAL DE TRABALHOS Serviços de Assistência a Saúde Custeio R$ 1.544.308,17 /

COOPINTER – COOPERATIVA DE INTERNAÇÃO RESIDENCIAL E APOIO HOSPITALAR -Serviços de Assistência a Saúde. Custeio: R$ 708.125,03

SERVICE COOP - COOPERATIVA DE TRABALHO. Serviços de Assistência a Saúde. Custeio R$ 2.954.408,62

SUPER VIDA SAUDE - COOPERATIVA DE PRESTADORES DE SERVIÇOS DE SAUDE. Serviços de Assistência a Saúde. Custeio: R$ 581.266,54.


Agora vejam a coincidência. Abaixo reproduzo os documentos que mostram que das quatro cooperativas, três informam que funcionam no mesmo endereço de Saquarema. E para completar ninguém nunca ouviu falar das cooperativas no endereço fornecido. Engraçado que o Ministério Público também não se interessou por essa denúncia que foi divulgada no final de 2008.

Mas deixo aqui minha sugestão. Peçam ajuda ao presidente da ALERJ, Paulo Maria-Mole. Ele por certo, como “o rei de Saquarema” e sua mulher sendo a prefeita da cidade, com certeza, algum dos dois deve saber de alguma informação útil para uma investigação. Pelo menos já devem ter ouvido alguma coisa. Ou será que não?

Reprodução do CNPJ com os endereços das cooperativas
Reprodução do CNPJ com os endereços das cooperativas



Em tempo: Amanhã tem o 3º capítulo de “Mar de lama na Saúde do governo Cabral”

Mar de lama do governo Cabral na Saúde – Capítulo 1


Cabral aplaude Sérgio Côrtes, o homem que comanda as negociatas na Saúde
Cabral aplaude Sérgio Côrtes, o homem que comanda as negociatas na Saúde


O que vocês vão ver eu denunciei no blog, em março de 2010, portanto há bem mais de um ano. Desde essa época eu venho revelando seguidos escândalos de improbidade administrativa, desvio de dinheiro público, de fraudes em licitações, um verdadeiro festival de corrupção nos gabinetes da secretaria estadual de Saúde, que envolvem evidentemente Sérgio Côrtes, além de Cabral e vários de seus amigos como vocês poderão constatar nesta série que começa agora.

Como poderão observar abaixo, no dia 11 de março de 2008, o Diário Oficial publica uma dispensa de licitação no valor de R$ 17,9 milhões em favor da empresa de logística TCI FILE para a gestão e controle de estoque de remédios da secretaria estadual de Saúde. Mas pior do que a dispensa de licitação é que o contrato consta como tendo sido omitido do Diário Oficial, de 31 de maio de 2007. Ou seja, a empresa prestou um contrato de um ano, sem licitação, no valor de R$ 17,9 milhões, e a publicação no D.O. só aconteceu 10 meses depois. É algo inacreditável! Mas não termina por aí. Até ao final desta nota vocês vão ver que tem pior, até ameaças de morte.

Reprodução do Diário Oficial do Estado
Reprodução do Diário Oficial do Estado



Lá embaixo desta postagem eu reproduzo a nota do blog, de 24 de março de 2010 com a denúncia para vocês verem. Mas, cinco dias depois (confiram as datas), o jornalista Cláudio Humberto, na sua coluna, revelava o caso de um empresário com negócios com o governo Cabral que contou muita coisa à Polícia Federal, sobre esse contrato com a TCI, porque ainda tem mais que não veio à tona, e passou a viver escondido por causa de ameaças de morte.


Reprodução do Blog do Garotinho mostrando nota de Cláudio Humberto
Reprodução do Blog do Garotinho mostrando nota de Cláudio Humberto



Agora vejam a triste ironia desse escândalo, a TCI começou a cuidar do estoque de remédios em 2007, embora o D.O. só tenha publicado o contrato em 2008. E no final das contas, um outro escândalo revelou que em 2009, a secretaria estadual de Saúde deixou estragar nos depósitos, o equivalente a R$ 15,6 milhões em remédios que perderam a validade, conforme podem ver em seguida.


Reprodução de O Dia online
Reprodução de O Dia online



O pior é que até hoje, nada aconteceu. A operação da Polícia Federal que estava sendo preparada foi abafada. O Ministério Público tinha outras coisas para se preocupar deve ter achado tudo isso uma bobagem, porque não tomou nenhuma providência. E continua tudo na mesma. O secretário Sérgio Côrtes não é incomodado nem com um simples pedido de informações. É uma vergonha!


Reprodução do Blog do Garotinho (Clique na imagem para ampliar)
Reprodução do Blog do Garotinho (Clique na imagem para ampliar)



Em tempo: Nesta segunda tem o 2º capítulo: Os negócios sujos da Saúde na terra de Paulo Maria-Mole, o presidente da ALERJ. Vocês vão ver um festival de negócios fantasmas. Aguardem!

Suplente de Itamar Zezé Perrela é investigado pelo MP de Minas.


Promotoria vai ouvir suplente de Itamar sobre enriquecimento

JULIANNA GRANJEIA DE SÃO PAULO

O Ministério Público de Minas Gerais pretende ouvir Zezé Perrella (PDT), ex-deputado e suplente de Itamar Franco(PPS) no Senado, nesta semana. O órgão investiga a evolução patrimonial de Perrella, que é presidente do Cruzeiro Esporte Clube.
Presidente do Cruzeiro vai assumir vaga de Itamar no Senado


Washington Alves - 20.jun.2011/Divulgação
Presidente do Cruzeiro Esporte Clube, Zezé Perrella, é investigado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público
Presidente do Cruzeiro Esporte Clube, Zezé Perrella, é investigado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público
O inquérito foi instaurado após o jornal mineiro "Hoje em Dia" publicar reportagem no dia 29 de maio afirmando que Perrella não declarou à Justiça Eleitoral a propriedade de uma fazenda avaliada em cerca de R$ 60 milhões. A Promotoria não informou a data do depoimento.

O caso está nas mãos do promotor Eduardo Nepomuceno, do Patrimônio Público. Procurado pela reportagem, Nepomuceno preferiu não se manifestar sobre o caso.
Em outra frente de investigação, o Grupo de Repressão a Crimes Financeiros da Polícia Federal de Minas também abriu um inquérito para apurar supostos crimes de lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito do político. A PF também irá ouvir Perrella e seu filhos, mas não divulgou a data.

O cartola declarou ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) um patrimônio de R$ 490.077,56, no qual não consta cotas da fazenda Guará --localizada em Morada Nova de Minas, a 300 km de Belo Horizonte-- que, segundo o jornal mineiro, está registrada na Junta Comercial do Estado de Minas Gerais como sendo de propriedade da Limeira Agropecuária e Participações Ltda.
Já a declaração à Justiça Eleitoral do deputado estadual Gustavo Henrique Perrella Amaral Costa (PDT-MG), 27, filho de Perrella e vice-presidente do Cruzeiro, é de um patrimônio bem maior do que o pai: R$ 1.977.936. No documento consta cotas no valor de R$ 900 mil da empresa Limeira.

Na mesma declaração, Gustavo registra uma doação de R$ 250 mil em dinheiro do pai.
O jornal mineiro diz que segundo a Junta Comercial do Estado de Minas Gerais, 95% das cotas da empresa estão divididas entre Gustavo e a outra filha de Perrella, a estudante Carolina Perrella Amaral Costa, 25. Um sobrinho do presidente do Cruzeiro, André Almeida Costa, 29, detém os outros 5% das cotas da Limeira e aparece como administrador da fazenda Guará nos documentos oficiais, segundo o veículo.

O jornal mineiro informa que a fazenda produz grãos e tem criações de aves, suínos e gado.


JOGADOR


Perrella também é alvo de uma outra investigação que apura irregularidades na venda do zagueiro Luisão, ex-jogador do Cruzeiro, para o empresário uruguaio Juan Figger, que posteriormente o repassou ao Benfica, time de Portugal.]

Segundo a Polícia Federal de Minas Gerais, o inquérito foi concluído e entregue ao TRF (Tribunal Regional Federal) e o processo corre sob segredo de Justiça.
Procurado pela reportagem, Zezé e Gustavo Perrella não foram localizados para comentar os casos.

Na época das denúncias, o cartola chegou a divulgar uma nota em que afirma que o valor declarado da fazenda Guará diz respeito à soma de toda a propriedade, suas benfeitorias, rebanhos e produtividade, e não apenas às terras. Disse também que, como não possui cotas da empresa Limeira Agropecuária, não declarou em sua prestação de contas à Justiça Eleitoral. Na nota, ele confirmou que as cotas da empresa estão divididas entre os filhos e um sobrinho.

"Tudo o que consegui na vida foi fruto de 38 anos de trabalho e está declarado. As pessoas dizem que sou bom administrador no futebol, mas será que sou ruim para comandar os meus negócios?", afirmou o dirigente na nota.

Sobre supostas irregularidades na negociação de Luisão, Perrella diz que já foi investigado e que nada fora encontrado pelo Ministério Público.

Ele também disse, na época, estar à disposição para apresentar à Promotoria os todos os documentos de sua declaração de bens.

http://www1.folha.uol.com.br/poder/938725-promotoria-vai-ouvir-suplente-de-itamar-sobre-enriquecimento.shtml

Dilma mantém Alfredo Nascimento no governo; oposição fala em CPI




Alfredo Nascimento
Enquanto o governo se mobiliza para defender e manter o ministro Alfredo Nascimento no comando dos Transportes, a oposição já fala em pedir uma CPI no Congresso para investigar o suposto esquema envolvendo servidores do ministério e de órgãos ligados à pasta em superfaturamento de obras e recebimento de propina de empreiteiras e consultorias.

Quatro integrantes da cúpula do ministério foram afastados no último sábado por conta das denúncias e, nesta manhã, a presidente Dilma Rousseff divulgou nota mantendo Nascimento no cargo.

O líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), anunciou que seu partido vai solicitar uma audiência pública com o ministro e com o diretor-geral afastado do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), Luiz Antônio Pagot, para que eles prestem esclarecimentos sobre as denúncias.

O requerimento de audiência será apresentado à CI (Comissão de Serviços de Infraestrutura), cuja reunião está prevista para a próxima quinta-feira (7). De acordo com o PSDB, o requerimento prevê a convocação do ministro e o convite do diretor-geral do Dnit. A diferença é que a convocação torna a presença do ministro obrigatória, sob pena de crime de responsabilidade.

O esquema de corrupção no Ministério dos Transportes foi revelado pela revista "Veja". Para Alvaro Dias, o próprio ministro deveria se afastar durante o período de investigações.

O líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP), por sua vez, afirmou que o afastamento da cúpula do ministério e a instauração de sindicância interna para apurar o caso são insuficientes diante da gravidade das denúncias.

"Os fatos são graves. O afastamento foi correto, mas há necessidade de investigações mais profundas", disse.

Ele anunciou uma série de ações que o partido fará no início da semana --uma representação ao Ministério Público Federal solicitando a abertura de investigações, um requerimento à Polícia Federal e um pedido de auditoria especial para o TCU (Tribunal de Contas da União).

"Estamos também avaliando, junto à assessoria jurídica do PSDB, se é o caso de pedir uma CPI [Comissão Parlamentar de Inquérito]", disse o líder.


GOVERNO


Segundo a assessoria de Imprensa do Palácio do Planalto, a presidente já conversou com Nascimento e pediu que ele conduza as investigações do suposto esquema.
De acordo com assessores, o governo "reitera apoio ao ministro".

"O governo manifesta sua confiança no ministro Alfredo Nascimento".O ministro é o responsável pela coordenação do processo de apuração das denúncias feitas contra o Ministério dos Transportes."

Após reportagem da revista "Veja" sobre o esquema no fim de semana, Nascimento, presidente licenciado do PR, foi obrigado a afastar a cúpula do ministério. Sua permanência não estava assegurada e dependia do encontro com a presidente.

Entre os servidores afastados estão Pagot e o diretor-presidente da Valec (Engenharia, Construções e Ferrovias S.A.), José Francisco das Neves.
Os órgãos são responsáveis por obras vitais para o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

O Ministério dos Transportes faz parte da cota do PR, partido da base aliada e que faz dobradinha com o PT desde o primeiro governo Lula. O partido tem 40 deputados federais e seis senadores.


DEFESA


Os senadores do PR Magno Malta (ES) e Clésio Andrade (MG) defenderam a apuração das denúncias, até mesmo por meio de uma CPI, mas pouparam sempre a figura de Nascimento.
"O ministro Alfredo Nascimento é de toda confiança nossa, do PR. Não podemos misturar algumas possíveis situações que possam ter ocorrido abaixo dele como [sendo] responsabilidade dele", afirmou Andrade.

Malta disse que é preciso "apurar tudo" e afirmou que às 17h desta segunda-feira terá uma reunião com o ministro. Na condição de líder do PR no Senado, ele vai emitir uma nota pedindo que a Procuradoria-Geral da República e o Tribunal de Contas da União investiguem as denúncias.

"O ministro para nós é um sujeito digno e tem o nosso apoio, até que se prove o contrário. Agora, penso que o próprio ministro, de punho, ou todos os outros, devem se manifestar para as autoridades, pedindo que investigação seja feita", afirmou Malta.
A fala do senador não esclarece quem são "todos os outros".
Com Agência Senado

Câmara aprova aumento de salário para Kassab e secretários

JOSÉ BENEDITO DA SILVA
DE SÃO PAULO


A Câmara de São Paulo aprovou na tarde desta segunda-feira, em segunda votação, o reajuste dos salários do prefeito Gilberto Kassab (PSD) e dos secretários municipais. O projeto, da Mesa Diretora, precisa agora ser sancionado pelo próprio Kassab para vigorar.

Com o reajuste, o salário dos secretários terá um aumento de 250% no ano que vem, passando de R$ 5.344 para R$ 19.294. Já o do prefeito terá aumento de 20% e subirá para R$ 24.117 --hoje, ele ganha R$ 20.042.

Os valores fixados no projeto tiveram como parâmetro o salário de um ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) --R$ 26.723. O vencimento de Kassab representa 90,25% do vencimento do ministro.

Também foi aprovado que quando não for apresentado projeto sobre o reajuste do salário do prefeito, valerá o mesmo reajuste concedido aos servidores municipais.


DOAÇÃO


Kassab já havia recebido um aumento de 62% em fevereiro, quando seu salário passou de R$ 12.384 para R$ 20.042.

No sábado (2), o prefeito disse que vai calcular quanto recebeu no período e que doará a quantia para a Fundação Antônio Prudente, do hospital de tratamento de câncer A.C. Camargo, e que teve Pedro Kassab, seu pai, como um dos fundadores.

No último dia 28, o prefeito também afirmou que abriria mão do novo aumento, caso fosse aprovado na Câmara.

Extraido da Folha Tucana.

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/938750-camara-aprova-aumento-de-salario-para-kassab-e-secretarios.shtml

GRÉCIA? ONDE? AINDA EXISTE? SUMIU NAS LETRINHAS MIÚDAS...



Laerte Braga

Laerte Braga

Que eu saiba a Grécia existiu há milhares de anos; nos legou uma história fantástica sob todos os aspectos e sumiu desde então. Uma espécie de Atlântida, o continente perdido? Não. O mais provável é que tenha sido uma experiência em que o ser humano é viável. Ou, hipótese não descartável, algo como extraterrestres que por aqui aportaram e tentaram criar bases para um processo de civilização, no mínimo, calcado na inteligência.

As tentativas de manter aquela Grécia terminaram quando Melina Mercouri morreu e levou consigo alguns excelentes diretores de cinema, outros tantos atores, deixando o arremedo de país, hoje dissolvido na mélange chamada Comunidade Européia (colônia dos EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A que controla a Europa Ocidental).

O que teimam em chamar de Grécia, a despeito dos protestos populares, sumiu nas letrinhas miúdas dos contratos assinados para salvar os bancos de judeus alemães (sionistas) e outros acionistas minoritários.

Liquidação a perder de vista, prazos imensos para pagar o impagável, fim de direitos dos trabalhadores (as novas formas de escravidão do século XXI) e, lá nos adendos, no pé do contrato, o fascismo.

O governo da extinta Grécia, cumprindo as exigências do complexo terrorista que controla o mundo impediu a FLOTILHA DA PAZ de deixar os portos gregos.

Navios com militantes pela paz pretendiam chegar a Gaza submetida a um bloqueio desumano (é da natureza dos judeus/sionistas; não sabem o que é ser humano), levando alimentos, remédios e solidariedade. Entre os que estavam a bordo uma cidadã judia que perdeu os pais em campo de concentração nazista.

Os campos de concentração hoje são construídos por norte-americanos e israelenses.

Os métodos bárbaros e cruéis de execução se voltam contra palestinos e são postos em prática por norte-americanos e israelenses.

Matar palestino pode. Prender, torturar, estuprar mulheres palestinas, assassinar, isso pode. Saquear e roubar terras palestinas também pode, é prática corriqueira de judeus sionistas e conta com a cumplicidade dos países cristãos e democráticos em sua maioria, além da maioria da própria população de Israel, o que transforma não só os sionistas em criminosos contra a humanidade, mas também a imensa maioria dos judeus, principais acionistas dos Estados Unidos.

Controlam Wall Street e têm o poder final sobre as decisões da Casa Branca em Washington. A propósito, nos treze anos da filha do fantoche Obama, lógico, enviaram presentes. Devem ter escolhido algo significativo entre o que saqueiam do povo palestino.

Israel é uma invenção das grandes potências logo após o término da 2ª Grande Guerra com o intuito de monitorar o Canal de Suez (controlam as forças armadas que dizem ser egípcias, mas são venais como muitas em muitos países do mundo, as brasileiras por exemplo, desde 1964) e assegurar o petróleo para as empresas de judeus/sionistas com parceria de norte-americanos, inclusive a família Bush.

Negócios, só negócios.

Eu, se fosse grego neste momento, iria começar a angariar assinaturas para mudança do nome do país em respeito à Grécia. Casa da Mãe Joana seria o mais adequado. Ou bordel preferido de banqueiros judeus/sionistas com apoio das forças da OTAN – ORGANIZAÇÃO DO TRATADO ATLÂNTICO NORTE – aquela que mata inocentes líbios em nome do petróleo nosso de cada dia e sob o pretexto da democracia.

Toda essa ação bárbara e terrorista encontra eco na mídia internacional e no Brasil tem o apoio de organizações venais como GLOBO, ou VEJA/ABRIL (condenada na Justiça por inventar histórias que agridem o povo muçulmano).

Os sofrimentos impostos ao povo palestino desde que suas terras foram roubadas por judeus/sionistas com a cumplicidade de judeus omissos, muitos cúmplices ativos, outros passivos, não tem paralelo na história contemporânea exceto na barbárie dos campos de concentração de Hitler.

Que por sinal não executava só judeus não. Mas comunistas, adversários do regime, homossexuais, ciganos, negros, povos considerados inferiores. O que chamam de Holocausto não é privilégio dos judeus.

Em Guantánamo mais de 70% dos presos – a revelação foi feita por jornais norte-americanos – acabaram sendo soltos. Eram inocentes. Foram presos, levados de suas casas e países e torturados segundo os ditames do ATO PATRIÓTICO de Herr Bush, seguido à risca pelo garção Obama.

Aspásia, mulher de Sócrates, adorou os bolinhos de Tia Nastácia, segundo Monteiro Lobato num dos seus livros infantis, me parece que O MINOTAURO (não vale dizer que é racismo colocar Tia Nastácia fritando bolinhos para Aspásia).

Nem Sócrates, nem Aspásia, nem Tia Nastácia, os povos africanos, a exemplo dos gregos, dos paquistaneses, dos iraquianos, dos líbios, dos palestinos evidentemente, dos afegãos, dos colombianos, dos somalis (são chamados de piratas por sequestrar navios que despejam lixo hospitalar e nuclear em seu litoral, em suas águas territoriais), existem mais como os concebíamos, ou como tenta fazer concebê-los a mídia a serviço do Conclomerado Terrorista EUA/ISRAEL S/A.

Aquela conversa que comunistas comiam criancinhas e matavam idosos, teve que ser trocada com o fim da União Soviética.

A realidade, hoje, é diferente.

A seguir um dos rotineiros e diários casos que ocorrem no país dos insanos, os EUA: Christian Choate, de 13 anos, foi encontrado morto o mês passado. As cartas que deixou mostravam que vivia preso numa jaula de cachorro, era espancado e violentado por seu padrasto com o consentimento, primeiro da mãe e depois da madrasta, além de ser o encarregado da limpeza da casa – momento em que era tirado da jaula.

Obama expressou sua “indignação” pelo fato. Não faz outra coisa o dia inteiro. Esses fatos repulsivos fazem parte da realidade do dia a dia do seu país.

A barbárie foi divulgada pelo Juizado de Menores do estado de Indiana. Christian morreu há três anos e só agora seu corpo foi descoberto. Várias denúncias foram feitas à época por pessoas que conheciam a realidade do menino. Nenhuma delas foi apurada pela Polícia.

Essa preocupação com criminosos nos EUA é só em filmes e séries para a tevê. Na prática não existe. No mundo dos negócios isso vira lucro e as empresas que produzem filmes e séries são controladas por judeus/sionistas.

Em si e por si os criminosos são os norte-americanos que controlam os “negócios”.

Imagino que arqueólogos do terceiro milênio, ao escavarem as ruínas desse nosso segundo milênio irão encontrar monumentos fantásticos. As sedes de bancos e os complexos militares espalhados pelo mundo na “missão democrática de paz e liberdade”.

Nada que possa ser comparado ao trabalho de Fídias.

E valas comuns onde a “manada” é despejada (até rima). Ficarão intrigados com o noticiário dos jornais de nossos tempos, os vídeos que sobrarem das tevês e gravações de rádios, relatando as maravilhas das bonecas chinesas capazes de várias posições e próximas do corpo real da mulher por compostos desenvolvidos com alta tecnologia que tornam o envoltório próximo do que é a pele humana.

Todos com celulares nos bolsos e as maravilhas da comunicação instantânea.

Nessa altura não haverá senão lenda sobre a Grécia, a antiga. A atual sumiu nas letrinhas miúdas dos contratos impostos por banqueiros judeus/sionistas através do governo alemão de Ângela Merkel (podia ser qualquer outro), versão da Alemanha-colônia do complexo terrorista EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A.

E Charlton Heston esmurrando as ruínas do metrô de New York diante da boçalidade do capitalismo/ terrorista, como previsto no original de O PLANETA DOS MACACOS.

Diga-se de passagem que os macacos não têm nada a ver com isso. Nem de longe.

Com certeza haverá algum Cecil B de Mille para filmar O TEMPO DOS BOÇAIS.

Ah! Um detalhe, quem estiver interessado em PEQUENOS NEGÓCIOS & GRANDES EMPRESAS, o PCC – Primeiro Comando da Capital – concorrente de tucanos, abriu o sistema de franquia no Estado de São Paulo e em todo o Brasil para a venda de drogas. Basta o ponto, o pagamento correto da licença, que além da droga, a “empresa” fornece assistência jurídica em caso de necessidade e proteção à família do franqueado que eventualmente venha a ser preso.

Breve deve disputar a presidência do esquema FIESP/DASLU.

Na alça de mira das letrinhas miúdas, depois da Grécia, Portugal, Irlanda, Itália e Espanha. Vão assim até chegar aqui, é só questão de tempo.  

E não sei como FHC vai fazer agora com o fim definitivo de qualquer resquício do Olimpo. Deve ascender aos céus no quadragésimo dia.  
Por fora bela viola, por dentro pão bolorento! O ser transgênico da MONSANTO em imensos desertos. Kátia Abreu vai liderar o exército de predadores. Nada de colunas de Fídias, ou templos, mas imensas plantações de eucalipto e gado pastando a floresta Amazônica, repleta de toras de madeira de lei à espera do embarque com as garantias governamentais devidas.

A consultoria é de Palocci, nossa versão de primeiro-ministro grego, ou da cúpula do PT.

Defensora pública federal é desrespeitada em quartel da Aeronaútica em RN


A ditadura continua

Natal: Aqui continuam os efeitos do golpe. Foto: Henrique Trajano/FAB
As regras dos quartéis podem ser incompatíveis com as regras da Constituição?
A resposta deveria ser não. Mas, no Brasil, duas décadas e meia após o fim do regime militar, a resposta é sim. Por descaso ou omissão superior e, pior ainda, talvez por legado autoritário, as “leis” na caserna estão em constante rota de colisão com certas práticas essenciais à democracia.
Um exemplo recente ocorreu na quarta-feira 22, na Base Aérea de Natal (RN). Essa organização militar foi criada, em 1942, para dar sustentação à luta, travada em nome da democracia, do acordo dos aliados contra as tropas nazistas que ocupavam o Norte da África. A gravidade do episódio, à margem dessa ironia histórica, está no relato do confronto com o autoritarismo travado por Lorena Costa, defensora pública federal, titular do 2º Ofício Criminal, no Rio Grande do Norte. Eis um resumo do que ela descreveu e encaminhou aos integrantes da Defensoria Pública da União (DPU):
“Tive as minhas prerrogativas funcionais totalmente desrespeitadas por sargentos, tenentes e o coronel da Base Aérea, uma vez que fui impedida de visitar um assistido em razão de ter me negado a realizar revista, na qual teria de ficar nua perante uma sargento (…).
A esposa do assistido afirmou que vai visitá-lo e é submetida à revista na qual tem de ficar nua, se agachar e fazer força, por três vezes seguidas, a fim de verificar se carrega consigo algo suspeito (…) como estava muito desesperada, ficou temerosa de retornar ao local, e virar alvo de abusos outros, eu me comprometi a acompanhá-la.
Assim que cheguei ao local, me apresentei como defensora pública da União e fui acompanhada por um sargento – Júnior – até uma sala. Lá entrando, a sargento – Érika – me perguntou se conhecia os procedimentos de revista e me disse que eu teria de ficar nua. Acho que perdi a fala, de tanta indignação (…) ela chamou outro sargento – Félix. Relatei as prerrogativas da minha função. Ele distanciou-se e foi ligar para um tenente. Após uns vinte minutos, voltou e disse que era ‘norma da casa’ e que, se eu não realizasse a revista, não poderia ter a entrevista com o assistido.
Pedi então para que me fornecesse uma declaração de que tinha sido impedida de ter contato com o preso por ter me negado a realizar a revista, além de me apresentar a norma que me obrigaria a tal dever ‘legal’. Claro que ele se negou, tendo eu pedido para falar com o dito tenente.
Esperei mais uma meia hora. Fiz para o tenente – Gabriel – o mesmo discurso (…) ele insistiu na negativa, afirmando que havia recebido orientação do setor jurídico. Continuei argumentando sobre a inconstitucionalidade (…) ele se afastou para ligar para um coronel – Lima Filho – (…) voltou e disse que, definitivamente, eu não poderia conversar com o preso.
(…) Fiquei estarrecida com a situação. Não resisti à medida apenas pelo fato de ser defensora pública, mas, sobretudo, na qualidade de cidadã livre e que vive sob a égide de um Estado Democrático de Direito, no qual não há mais espaço para abusos como esse, contra ninguém e por nenhuma ‘autoridade’.
Nunca tinha visitado um estabelecimento pertencente às Forças Armadas, mas senti que a ditadura por lá ainda não acabou e não se teve notícia da Constituição Federal de 1988”.

A última grande entrevista do ex-presidente Itamar Franco foi concedida ao jornalista Mauro Santayana

por Mauro Santayana, no seu blog

A última grande entrevista do ex-presidente Itamar Franco foi concedida ao jornalista Mauro Santayana, há cerca de um ano. Santayna republicou hoje no seu blog a íntegra da reportagem que saiu no dia 6 de junho de 2010 nas páginas do JB, cuj0 título é “Itamar Franco — O poder de um homem ético”. Publicou também hoje “Itamar Franco: Um honrado patriota”. Os dois textos estão abaixo.

Itamar Franco – O poder de um homem ético

Quando assumiu a Presidência da República, durante o afastamento compulsório do titular, Fernando Collor – que seria definitivo meses depois, com o impeachment – Itamar Franco surpreendeu as elites, representadas pelos principais veículos de comunicação do país. Seu ministério foi tachado de “governo de compadres”, e “República do Pão de Queijo”. A resposta de Itamar foi uma pergunta, quase inocente: “As pessoas simples não podem governar?”. Meses depois, o senador Antonio Carlos Magalhães pediu-lhe uma audiência. Queria fazer “graves revelações” contra Jutahy Magalhães Júnior, seu ex-aliado e então desafeto na Bahia, que ocupava o cargo de ministro de Bem-estar Social. Ao ser introduzido no gabinete, na hora marcada, Antonio Carlos encontrou todos os jornalistas credenciados no Planalto, com seus fotógrafos e as câmeras de televisão. Diante do espanto e constrangimento do Senador,Itamar explicou: “Como o senhor me disse que faria uma denúncia, achei conveniente que a fizesse à nação inteira. O senhor pode apresentá-la diretamente aos jornalistas”.

Antonio Carlos engoliu em seco. Seu “dossiê” era constituído de recortes de jornais, que nada provavam contra Jutahy. Ao minimizar a importância do episódio, que alguns atribuíram à sua astúcia de mineiro, Itamar confessou, modesto: “Eu, astuto? Eu sou até meio bobo”.

A República do Pão de Queijo pode ter sido, para o desdém de seus críticos, a república do pão, pão; queijo, queijo; orientada pelo pensamento óbvio, pelo senso comum. Mas é provável que Itamar tenha sido realmente ingênuo, ao deslumbrar-se pela retórica professoral do sociólogo Fernando Henrique Cardoso e fazer dele seu sucessor. Itamar relembra o episódio:

“O nome de Fernando Henrique surgiu por exclusão. Diante da pressão dos fatos, que me levaram a aceitar a demissão do ministro Eliseu Resende, desloquei Fernando Henrique do ministério de Relações Exteriores e o nomeei para a Fazenda. A partir de então, seu protagonismo foi natural. Mas, naquele momento, eu pensava, e pensava firmemente, em dar a José Aparecido de Oliveira visibilidade que o credenciasse à sucessão. Aparecido – tal como hoje ocorre ao presidente Lula – se revelara excepcional diplomata, à frente de nossa embaixada em Lisboa. Coube-lhe articular, com grande sacrifício pessoal, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Teve que vencer a resistência de certos setores lusitanos, que não queriam dividir, com o Brasil, a influência sobre as suas antigas colônias. Com o apoio de Mário Soares, Aparecido partiu para a segunda etapa: a de convencer os novos países que podiam confiar na CPLP, porque a presença brasileira neutralizava a suspeita, natural, de que a instituição viesse a ser instrumento de novo colonialismo. Foi assim que, sem linhas aéreas regulares, que lhe possibilitassem as viagens sucessivas e rápidas pelo continente africano, Aparecido teve que se deslocar de um país para outro em aviões monomotores. O Brasil deve também ao Aparecido a oportunidade de hoje estar presente na Ásia: ele nos revelou a existência de Timor-Leste e incluiu essa realidade em nossa política externa. Eu não tive dúvida em convidá-lo para ocupar a Secretaria de Estado. Os elitistas do Itamaraty se levantaram contra a indicação, mas eu não recuaria. Quem recuou foi o próprio Aparecido, e com razões ponderáveis: estava enfermo, sujeito a uma cirurgia arriscada e, com sua sensibilidade, entendeu que não teria condições para ocupar o cargo. Foi então que – e mais uma vez eu lhe louvo a perspicácia diplomática – ele me sugeriu o nome do embaixador Celso Amorim. Acatei, com prazer, a sugestão. Em primeiro lugar porque, não podendo contar com Aparecido, era mais razoável que me valesse de um quadro do Itamaraty, para servir-me no curto mandato que me restava. Além da recomendação de Aparecido, tive outras referências que confortaram a minha escolha. Quanto à sucessão, o nome de Aparecido se tornou inviável pela enfermidade. Optei então pelo jornalista Antonio Brito, que se destacara como ministro da Previdência e estava à frente das pesquisas. Brito declinou: era muito jovem, e preferia governar o Rio Grande do Sul. Fernando Henrique era a terceira opção”.

Lula e a política externa

Já que falamos em diplomacia – e Itamar foi embaixador em Portugal, na OEA e na Itália – conversamos algum tempo sobre a política externa de Lula. Itamar sorri: ele se sente parceiro de seus êxitos, uma vez que lhe coube levar Amorim para a chancelaria.

Ex-presidente disse que Lula o afagou politicamente ao indicar Amorim para chefiar o Itamaraty:

“Senti-me homenageado quando, na presença do embaixador Amorim, em uma recepção na Embaixada do Brasil no Vaticano, o presidente Lula me disse que o havia convocado para a chefia do Itamaraty por ele ter sido meu chanceler. É claro que Lula me fazia um afago político, e que a razão da escolha não fora só a nomeação de Amorim pelo meu governo, mas, de qualquer forma, eu dera ao diplomata de Santos a chance de revelar-se como um dos mais importantes negociadores internacionais de nosso tempo. Só tenho a lamentar que Amorim tenha ido a Juiz de Fora participar de um comício em favor da candidatura de Nilmário Miranda, do PT, com Lula, e ao lado de Newton Cardoso, contra a reeleição de Aécio. Um ministro de Relações Exteriores não deveria intervir em disputa regional, e muito menos na cidade natal de quem nele confiara a execução da política externa brasileira. Magalhães Pinto, que era político, nunca fez isso. Esse episódio, que me entristeceu profundamente, não diminui a admiração pelo grande diplomata que ele é”.

Comento com Itamar curiosa circunstância histórica. Celso Amorim é de Santos, e em Santos nasceram dois dos mais importantes diplomatas brasileiros, decisivos em momentos cruciais da nacionalidade. O primeiro foi Alexandre de Gusmão, que deu ao Brasil os seus limites continentais, com oTratado de Madri, de 1750, em que se reconheceu o princípio do utis possidetis que legitima a posse de fato. O segundo foi José Bonifáciode Andrada, o primeiro-ministro de Relações Exteriores do Brasil. Continuando na política externa, Itamar faz pequeno reparo a Celso Amorim:

“O ministro disse que, para não ter direito a um voto independente, é melhor não fazer parte do Conselho de Segurança da ONU. No meu entendimento, trata-se de falsa questão. A nação que faz parte do Conselho tem a liberdade de votar como quiser, de acordo com seus princípios e interesses e em favor da paz mundial. O que deve ser contestado é o ainda poder de veto exclusivo aos cinco países que são membros permanentes do órgão. O Brasil sempre teve direito, pelas suas dimensões geográficas e pela sua formação histórica, a participar do Conselho de Segurança. Em 1926, com forte presença na Liga das Nações, teve a sua candidatura, como membro efetivo do Conselho das Nações, preterida em favor da Alemanha – da mesma Alemanha que fora derrotada em 1918. Como era nosso presidente o grande estadista mineiro Artur Bernardes, e seu representante na Liga outro invulgar homem de Estado, também mineiro, o embaixador Afrânio de Mello Franco, o Brasil preferiu a honra e abandonou a Liga, que se revelara instrumento dócil do eurocentrismo. Um país que defendera, com Rui, em Haia, a plena igualdade entre as nações, não poderia compactuar com a ditadura dos grandes”.

Nacionalismo

A referência ao episódio de há 84 anos e a Artur Bernardes nos leva ao sentimento nacionalista dos mineiros. Itamar não é apologista radical da mineiridade, ainda que sempre se valha de uma frase forte, a de que ninguém nivelará as montanhas de Minas. Ele pondera que o nacionalismo está presente em todos os estados brasileiros, em maior ou menor expressão, mas reconhece que as circunstâncias históricas acentuaram essa consciência de defesa da soberania em Minas.

Falamos durante algum tempo sobre essas circunstâncias. A primeira delas foi a descoberta do ouro, e a promessa de riqueza e potência que o metal sugere. Em um primeiro momento, o ouro atrai a ambição de enriquecimento pessoal. Depois, esse sentimento passa a ser coletivo: para proteger o direito de cada um, é preciso proteger o de todos. Foi assim que os mineiros criaram o Estado dos Emboabas, contra a pretensão dos paulistas de expulsarem os recém-chegados da Bahia, das capitanias do Nordeste e da Europa. Ao expelir os paulistas das minas centrais, os emboabas fundaram o pensamento nacionalista dos mineiros, que se afirmaria contra o Conde de Assumar, em 1720, no martírio de Filipe dos Santos, e na Conjuração de 1789, chefiada por Tiradentes.

Sentimento

“A minha tese é de que coube aos mineiros despertar esse sentimento nos demais brasileiros, o de que o nacionalismo é a união entre a ideia da dignidade e da defesa da riqueza que coube, pela natureza, à geografia de cada nação. É certo que a dignidade dos povos é mais importante do que seus bens: uma nação pode ser honrada, ainda que pobre. Mas a cobiça internacional se dirige aos recursos naturais. O nacionalismo deve ser instrumento de defesa e resistência, jamais estímulo à conquista, como ocorreu com a Alemanha de Hitler”.

A conversa nos leva à experiência diplomática de Itamar, e ele acredita que ela foi mais importante na representação do Brasil junto à Organização dos Estados Americanos. O fato de se tratar de órgão multilateral possibilitou-lhe contato com personalidades de todo o continente e lhe confirmou a divergência de fundo entre a América Latina e os Estados Unidos. Na OEA, Itamar atuou com a independência de sua autoridade política. Foi assim que fez veemente discurso contra a existência do centro de treinamento de militares latino-americanos. que existira antes no Panamá, e fora transferida para os Estados Unidos, a conhecida Escola das Americas. Itamar citou o secretário de Defesa dos Estados Unidos de então, William Perry, que considerou “totalmente inaceitáveis” os manuais de instrução da Escola. O órgão continua funcionando em Fort Benning, nos Estados Unidos, mas sob pressão crescente para seu fechamento. Hoje, a escola quase se limita a treinar militares colombianos.

O pronunciamento foi criticado por alguns embaixadores, pelo fato de que o Itamaraty não fora consultado previamente, e porque envolvia as relações bilaterais entre Brasília e Washington. Itamar não se defende, ataca: um ex-presidente da República – e isso já ocorrera a Campos Salles, quando enviado à Argentina – dispõe de mandato ético e político para defender os interesses brasileiros, conforme sua consciência e convicção.


Plano Real

Há uma coisa que aborrece particularmente o ex-presidente: a memória seletiva de alguns homens públicos sobre a sua administração. Ele se refere a pontos importantes, começando pelo Plano Real. O plano nada tinha de original, baseado que foi no Plano Schacht, da Alemanha dos anos 20, e já um pouco adaptado – sem êxito – pelos argentinos, com o Plano Austral. Itamar lembra que só o aprovou depois de conferir os seus números, trabalhando várias horas nisso. Como engenheiro, e bom conhecedor de matemática, corrigiu alguns de seus itens, antes de aprová-lo e correr todos os riscos políticos da decisão. Da mesma forma, Itamar lembra que os medicamentos genéricos foram adotados pelo seu ministro da Saúde, o médico Jamil Haddad, com sua aprovação, apesar da resistência dos laboratórios. Embora fosse reivindicação de médicos brasileiros, o SUS começou a ser implantado pelo médico Carlos Mosconi, presidente do Inamps em seu governo. Hoje – e Itamar usa o advérbio “despudoradamente” – tais êxitos são atribuídos ao governo de seu sucessor.

De fora, sempre entendi que o Estado existe para impor aos poderosos o respeito aos cidadãos, qualquer que seja a sua posição na sociedade. Mais do que isso, sempre acreditei que o poder político deve buscar a igualdade de todos, diante da lei e das oportunidades da vida. Assim agi quando, por duas vezes, fui prefeito de minha cidade. E só fui atraído para a política porque, como engenheiro do DNOS, tomei conhecimento da vida difícil das populações periféricas. Até hoje creio que o saneamento básico é uma das principais tarefas do poder público. Na mesma época, juntamente com meu colega Nicolau Kleijorge, dei aulas de matemática e conhecimentos gerais aos trabalhadores de Juiz de Fora. No Senado, para onde fui eleito pela primeira vez em 1974, naquela memorável manifestação de inconformismo de nosso povo, quando o MDB não era o PMDB de hoje, mantive a mesma postura, a de que o mercado deve estar sob o controle do Estado, servidor da sociedade, e não o contrário. Resisti ao projeto neoliberal que se iniciara no governo Collor, e não concordei com a privatização de setores estratégicos, como os da energia e das telecomunicações. Da mesma forma cortei, pela raiz, o projeto da equipe econômica, de privatizar o Banco do Brasil e a Caixa Econômica”.

Outros fatos foram lembrados na conversa, como a redução da dívida pública e a aprovação excepcional de seu governo, de acordo com pesquisas de opinião, alem de seu plano de combate à fome, dirigido por dom Mauro Morelli.

Aécio Neves

O ex-presidente lembra a luta que teve, ao assumir o governo de Minas, em 1999, a fim de organizar as finanças do estado. Ao decretar a moratória – uma vez que os presos e os enfermos de alguns hospitais públicos estavam ameaçados de morrer de inanição, por falta de comida – o mundo desabou sobre ele. Logo depois, coube-lhe resistir, manu militari, à anunciada privatização de Furnas, situada em território mineiro. Isso sem falar na Cemig.

“Não quero lembrar os nomes dos responsáveis, mas estávamos reféns, na administração da Cemig, de investidores estrangeiros, que haviam obtido, por alguns 30 dinheiros, o controle operacional da empresa. A minha resistência e a atuação do governador Aécio Neves nos libertaram desse conluio dissimulado em acordo de acionistas. Nestes últimos 10 anos – dois dos quais sob meu governo – a Cemig valorizou-se em 400%. Ela se tornou, nesse período, a empresa energética de maior sustentabilidade no mundo, de acordo com a Bolsa de Nova York. Entramos na atualidade política. Itamar diz que sua prioridade é a sucessão em Minas. Não cita o nome, porque não é necessário citá-lo em Minas, mas se declara disposto a lutar para que o governo não seja entregue a alguém não confiável”.

Pergunto-lhe sobre os rumores de que poderia vir a ocupar a chapa da oposição como candidato à Vice-Presidência:

“O governador Aécio Neves, com sua generosa amizade, citou meu nome como apto a compor a chapa da oposição. Pertenço, hoje, ao PPS. Sei que se tratou de homenagem a um amigo. Mesmo assim, rejeitaram essa hipótese, como se fosse postulação minha. Não sou candidato àquele cargo. Não insinuei essa possibilidade, mas a recusa ao meu nome robustece a decisão de agir, no pleito, conforme a minha consciência, sem qualquer constrangimento político”
.
Não é Itamar que deve influir na sucessão. São as razões de Minas que terão de ser respeitadas. E as razões de Minas são as razões do Brasil. Em qualquer lugar do Brasil há “mineiros”, isto é, honrados patriotas, que colocam, acima dos interesses regionais, a soberania do país e o bem-estar de nosso povo.

Itamar Franco: Um honrado patriota
O homem que morreu neste sábado não pertencia às elites políticas ou empresariais de Minas. Engenheiro, filho de descendentes de imigrantes (o pai, de alemães, e a mãe, de italianos) Itamar teve uma infância de classe média modesta. Não chegou a conhecer o pai, que morreu pouco antes que nascesse. Formado, com as dificuldades da situação familiar, em engenharia, aos 24 anos, trabalhou no saneamento básico na periferia de Juiz de Fora, antes de integrar os quadros do DNOCS. Esse contato com o povo o levou à vida pública.

Itamar não foi um político definido pelos estereótipos. Destacaram-se em sua personalidade e ação política os dois sentimentos que orientam os grandes homens públicos de Minas: o do nacionalismo – que vem da Inconfidência – e o da justiça social. Não há como negar a Itamar o alinhamento ideológico à esquerda. Um de seus ídolos desde a adolescência foi o gaúcho Alberto Pasqualini, dos mais importantes pensadores políticos brasileiros e conselheiro de Getúlio.

Como é de conhecimento público, prestei assessoria informal ao Presidente, e, mais tarde, ao governador. Pude acompanhar, de perto, seu empenho na defesa dos interesses nacionais e da moralidade no governo. Acompanhei, de perto, as suas preocupações, quando decidiu adotar, a conselho de membros da equipe econômica, o expediente antiinflacionário da Alemanha dos anos 20 – o Plano Schacht. Era a segunda vez que se tentava, no continente, a mesma estratégia contra a hiperinflação, bem conhecida como matéria de estudos financeiros. A primeira fora a do Plano Austral, da Argentina. Também o Plano Cruzado, de Sarney, contemplava algumas de suas medidas.
Conhecedor de matemática, Itamar reviu o plano, ponto a ponto, fez correções que lhe pareceram apropriadas e, só depois disso, assinou a medida provisória que o implantou.

Poucos dias antes de sua internação, estive em seu gabinete, em companhia do Embaixador Jerônimo Moscardo, que foi seu Ministro da Cultura. Ao nos cumprimentar, visivelmente gripado, Itamar reclamou do ambiente frio do Senado. “Esse ar acondicionado é de matar”. E disse que estava com uma gripe que não cedia.

Convidou-nos para uma

visita ao gabinete do presidente José Sarney, ao lado do seu. Conversamos os quatro, alguns minutos, sobre a situação do país e do mundo. Relembramos a personalidade de Tancredo Neves e episódios menos conhecidos do processo de transição democrática que, pelas circunstâncias do tempo, Sarney e este jornalista haviam vivido mais de perto.

Itamar estava preocupado com a situação do país, e a necessidade de que se formassem líderes capazes de enfrentar as dificuldades internacionais do futuro próximo. Naquele mesmo dia, ele solicitara da Mesa do Senado a transcrição de um artigo meu, publicado neste jornal, de reparos ao seu sucessor.
O grande êxito de Itamar pode ser explicado pela renúncia pessoal às glórias e pompas do poder. Não foi açodado em assumir o governo, depois do impeachment de Collor. Coube a Simon instá-lo a isso, sob o argumento da razão de Estado: o poder não admite o vazio. Logo que assumiu a Presidência, reuniu todos os dirigentes partidários e líderes no Congresso, sem excluir ninguém, nem mesmo o folclórico Enéas Cardoso. Disse-lhes que estava disposto a convocar eleições imediatas para a Presidência e Vice-Presidência, se estivessem de acordo. Silenciou-se, à espera da resposta – e ninguém concordou. Por duas ou três vezes, ele me disse que, apesar daquela recusa unânime, talvez tivesse sido melhor consultar o povo, naquela difícil circunstância.

Quando se pôs o problema de sua sucessão, tendo em vista a sua altíssima popularidade – de mais de 80% – alguns líderes políticos lhe propuseram a apresentação de emenda constitucional permitindo a sua reeleição. Itamar recusou, com veemência, a proposta. O democrata não poderia admitir o golpe que seu sucessor desfecharia.

Mais do que sanear a moeda, Itamar ficará na História por haver recuperado a credibilidade da Presidência da República junto ao povo brasileiro. Poucos, muito poucos, dos que exerceram o alto cargo ao longo da História, ficarão na memória da Nação com a mesma e sólida presença de Itamar Franco, modesto homem do povo, intransigente patriota, severo guardião do bem público.