segunda-feira, 4 de julho de 2011

BNDES financia 85%, mas qual sua parte no Pão de Açucar-Carrefour?



Pedro do Coutto
Num lance arrojadíssimo, inusitado, o BNDES decidiu repentinamente financiar  a parcela de 85% da escalada do Pão de Açúcar em adquirir o Carrefour no Brasil,  mais uma participação na empresa francesa no exterior. Desembolso da ordem de 3,9 bilhões de reais: o crédito figura entre os três maiores na história do banco criado por Getúlio Vargas em 1951 e que começou a funcionar no ano seguinte. Teve atuação decisiva no programa de desenvolvimento econômico do presidente Juscelino.
Os repórteres Tomi Sciareta e Cláudia Rolli, da Folha de São Paulo, Márcia Chiara, O Estado de São Paulo, Ronaldo Ercole e Paulo Justus, O Globo, nas edições de 29 de junho focalizaram o episódio sob vários ângulos.
Todos controvertidos. A começar pela reação do gigante Casino, também francês, que se afirma ludibriado por Abílio Diniz e seu principal concorrente em Paris.
Vamos por partes. Em primeiro lugar, o BNDES entrou com 85% da operação, mas qual a sua percentagem nas ações em garantia? A pergunta cabe porque a liberação do crédito, pelo que foi publicado, não se limita ao empréstimo colossal.
Estende-se à participação no empreendimento. Que é de risco. E pode até não se concretizar. O Casino publicou extensa e destacada matéria publicitária, primeiro na FSP, depois no O Globo, contestando o acordo Pão de Açúcar – Carrefour. Casino foi à justiça e sustenta que, por contrato firmado em 2005 com o Pão de Açúcar assumiria o comando de sua rede em 2012. Daqui a seis meses, portanto.
Além disso, qual o prazo de carência para o Novo Pão de Açúcar iniciar o resgate da dívida? Quais as frações do investimento e do crédito bancário? Isso é fundamental. Quem avaliza a operação? Qual o prazo dado para liquidação do crédito? Nada disso surgiu com a clareza indispensável.
No redemoinho existe também a participação do Banco Pactual que, me informam é controlado pelo banqueiro André Esteves, considerado um gênio do mercado financeiro. O Pactual compromete-se a aportar 690 milhões de reais.
Uma coincidência: informa a FSP que o Pactual tem entre seus sócios Cláudio Galeazi, ex-diretor do Pão de Açúcar. Acrescentando risco ao vôo financeiro, o Casino, no texto publicitário, acusa Diniz de jogar um lance de dados para fugir ao compromisso de transferir o comando da organização no próximo ano. E lembra ter financeiramente apoiado Abílio Diniz, há seis anos, com o compromisso do qual ele, agora, tenta escapar. O grupo Casino, que inclui a participação da grife Louis Vitton, destaca que em 2005 salvou Abílio Diniz de sérias dificuldades. O grupo Vitton participa do Casino através de seu controlador, Bernard Arnault.
Por todas as implicações nacionais e internacionais, o governo Dilma Roussef deve estar mais atento ao lance em jogo. A área econômica do país não é um cassino, para colocar um trocadilho no desenrolar da história. O item 8 do artigo 21 da CF diz competir à União: administrar as reservas cambiais e fiscalizar as operações de natureza financeira, especialmente as de crédito, câmbio e capitalização, bem como as de seguros e previdência privada. Tema portanto dos mais complexos.
Os defensores da operação argumentam que a nova empresa proporcionará a entrada de produtos brasileiros na Europa. Mas minha mulher, Elena, assinala que o movimento contrário sucederá com certeza: o ingresso no Brasil de mercadorias da Europa. Quem lucrará mais? O contrato exige iluminação mais ampla, devendo ter o sol por testemunha. Aliás um clássico do cinema francês.

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