segunda-feira, 25 de junho de 2012

A guarânia do engano



A guarânia do enganoFoto: Edição/247

EXCLUSIVO 247: CHIQUI AVALOS, UM DOS PRINCIPAIS JORNALISTAS PARAGUAIOS, QUE APOIOU A CANDIDATURA DE FERNANDO LUGO À PRESIDÊNCIA, CONTA POR QUE, AGORA, FOI A FAVOR DO IMPEACHMENT; ELE REVELA ATÉ QUE LUGO PEDIU UM JATINHO A ITAIPU; PODE-SE CONCORDAR OU NÃO, MAS É UMA AULA DE HISTÓRIA

25 de Junho de 2012 às 22:58
“A história do Brasil, vista desde o Paraguai, é outra”
(Millôr Fernandes)

Como num verso célebre de meu inesquecível amigo Vinicius de Moraes, “de repente, não mais que de repente”, alguns governos latino-americanos redescobrem o velho e sofrido Paraguay e resolvem salvar uma democracia que teria sido ferida de morte com a queda de seu presidente. Começa aí um engano, uma sucessão de enganos, mentiras e desilusões, em proporção e intensidade que bem serve a que se companha uma melodiosa guarânia, mas de gosto extremamente duvidoso.
Sucedem-se fatos bizarros na vida das nações em pleno século XXI. Uma leva de chanceleres, saídos da espetaculosa e improdutiva Rio+20, desembarca de outra leva de imponentes jatos oficiais no início da madrugada de um incomum inverno, e - quem sabe estimulados pela baixa temperatura  - se comportam com a mesma frieza com que a “Tríplice Aliança” dizimou centenas de milhares de guaranis numa guerra que arrasou a mais desenvolvida potência industrial da América Latina.
Surpresos? Pois, sim, não é para menos. Éramos ricos, muito ricos, industrializados, avançados, educados, cultos, europeizados, amantes das artes, dos livros, das óperas, do desenvolvimento. Nossos antepassados brilharam na Sorbonne e assinaram tratados acadêmicos, descobertas científicas ou apurados ensaios literários. A menção de nossa origem não provocava o deboche ou ironia tão costumeiros nos dias tristes de hoje, mas profundas admiração e curiosidade dos que acompanhavam nossa trajetória como Nação vencedora.
Não ficamos célebres como contrabandistas ou traficantes, mas como povo empreendedor e progressista. A organização de nossa sociedade, a intensa vida cultural, o progresso econômico irrefreável, a bela arquitetura de nossas cidades, a invulgar formação cultural de nossa elite, a dignidade com que viviam nossos irmãos mais pobres (sem miséria ou fome) impressionavam e merecem o registro histórico.  A rainha Vitória, que não destinou ao resto do mundo a mesma sabedoria com que governou e marcaria para sempre a história do Reino Unido, armou três mercenários e eles dizimaram a potência que, com sua farta e boa produção e espírito desbravador, tomava o mercado da antiga potência colonial aqui, do lado de baixo do Equador.
Brasil, Argentina e Uruguay, como soldados da Confederação, nos arrasaram. Nossos campos foram adubados pelos corpos de nossos irmãos em decomposição, decapitados à ponta de sabre e com requintes de sadismo. O Conde D’Eu, marido de quem libertaria os negros e entraria para a história, comandava pessoal e airosamente o massacre. Os historiadores, essa gente bisbilhoteira e necessária, registraram seu apurado esmero e indisfarçável prazer. O nefasto delegado Sérgio Fleury teve um precursor com quase um século de antecedência...
Nossas cidades terminaram por ser habitadas por populações majoritariamente compostas de mulheres e crianças. Poucos homens restaram. Pedro II, que marcaria a história do Brasil por sua honradez, comportou-se de forma impressionante nessa obscura página da história do Brasil, mas inversamente conhecidíssima na história de meu país: não moveu uma palha ou disse palavra acerca do sadismo de seu genro criminoso.
Documentos por mim revirados no Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro, mostram a assinatura do velho Imperador autorizando a compra de barcos, chatas, cavalos e tudo o que fosse necessário para uma caçada de vida ou morte (mais de morte, certamente) à Lopez. Não bastava derrotar o déspota esclarecido, o republicano que os humilhava, o que havia desafiado todos os impérios, o da Inglaterra, o do Brasil, o da Espanha... Era preciso assinar seu epitáfio e esculpir sua lápide. E assim foi feito.
Derrotados, nunca mais fomos os mesmos. Passamos a ser conhecidos por uma República já bicentenária, mas atrasada em comparação aos seus vizinhos. Enfrentamos uma guerra cruel com a Bolívia na primeira metade do século passado. Roubaram-nos importante faixa territorial do Chaco, região paradoxalmente inóspita e riquíssima. Ganhamos a guerra. Nossos soldados mostraram a valentia e patriotismo que brasileiros, uruguaios e argentinos bem conheceram meio século antes. Nossa incipiente aviação militar e seus jovens pilotos assombraram os experts norte-americanos, pela refinada técnica e o sucesso de suas ações contra o agressor. Mas numa história prenhe de ironias, vencemos a guerra e... ...jamais recuperamos as terras! Os bolivianos, que jamais olham nos olhos nem das pessoas nem da história, certamente se rejubilam em sua “andina soledad”, e como os argentinos depois da inexplicável Guerra das Malvinas, sabem-se “vice-campeões”...
Mal saímos da Guerra do Chaco e experimentamos a mesma e usual crônica tão comum a rigorosamente todos os outros países latino-americanos. Golpes e contra-golpes, instantes de democracia e hibernações em ditaduras ferrenhas. Presidentes  se sucederam despachando no belíssimo Palácio de Lopez e vivendo na vetusta mansão de Mburuvicha Roga (“A casa do grande chefe”, em guarani). Uns razoáveis, outros deploráveis. Nenhum deles, entretanto, recuperou a glória perdida dos anos de riqueza, opulência e fartura. Um herói da Guerra do Chaco tornou-se ditador e nos oprimiu por mais de três décadas. Homem duro, mas de hábitos espartanos e por demais interessante, o multifacético Alfredo Stroessner não recusou o papel menor de tirano, mas construiu com o Brasil a estupenda hidrelétrica de Itaipu, a maior obra de engenharia de seu tempo, salvando o Brasil de uma hecatombe energética. Foi parceiro e amigo de todos os presidentes do Brasil de JK a Sarney. Com os militares pós-64 deu-se às mil maravilhas, mas foi de suas mãos que o exilado João Goulart recebeu o passaporte com que viajaria para tratar sua saúde com cardiologistas franceses. Deposto, o velho ditador morreu no exílio, no Brasil. Nós que o combatíamos (nasci em Buenos Aires, onde meu pai, empresário de sucesso, mas adversário da ditadura, curtia seu exílio) jamais soubemos de ação qualquer, uma que fosse, do Brasil em seus governos democráticos contra a ditadura do general que lhes deu Itaipu.
A vez de Fernando Lugo 
Depois de duas décadas da derrubada de Stroessner, nos aparece Fernando Lugo. Sua história é peculiar. Era bispo de San Pedro, simpaticão e esquerdista, pregava aos sem-terra e parecia não incomodar ninguém, nem os fazendeiros da área. Pelos idos de 2007 o então presidente Nicanor Duarte Frutos, um jovem jornalista eleito pelos colorados, resolve seguir o péssimo exemplo de Menem, Fujimori e Fernando Henrique, e deixa clara sua vontade de mudar a Constituição e permanecer no presidência, através do instituto inexistente da reeleição. Seu governo era mais que sofrível e – descupem-nos a imodéstia latreada em nossa história – nós, os paraguaios, não somos dados ao desfrute de mudar nossa Carta Magna ao sabor da vontade de presidente algum. O país se levantou contra a aventura e ele, que o bispo bonachão, justamente por não ser político e garantir que não alimentava qualquer ambição de poder, é escolhido para ser o orador de um grande ato público, com dezenas de milhares de pessoas no centro de Assunção. Pastoral, envolvente, preciso, o Bispo de San Pedro cativou a multidão, deu conta do recado e catalisou imensa indignação da cidadania. A aventura continuísta de Nicanor não foi bem-sucedida, mas, com a sutileza de um príncipe da Igreja nos intricados concílios que antecedem a fumacinha branca, nos aparece um candidato forte à presidência da República: ‘habemus candidatum’! A batina vestia mais que um pastor, escondia um homem frio, ambicioso, ingrato e profundamente amoral.
Seu primeiro problema foi com a Santa Madre Igreja. O Vaticano, certamente por saber algo que nós não sabíamos, vetou sua disposição política. Não, de jeito algum, ele poderia ser candidato. A igreja católica combateu a ditadura do general Stroessner com coragem e ação, mas não queria ocupar a presidência do país. “Roma coluta, causa finita” (“Roma falou, questão decidida”), mas não para Lugo, que deixou seu bispado, despiu a batina e virou às costas a quem lhe educou e lhe acolheu no seu seio. Poucos e corajosos colegas Bispos e padres o apoiaram abertamente. Na última sexta-feira, depois de três anos sem vê-lo ou serem por ele procurados, esses mesmos amigos e apoiadores foram até a residência presidencial pedir – em vão – que Lugo renunciasse à presidência do Paraguay para que se evitasse derramamento de sangue.
Candidato sem partido, entretanto com as simpatias da clara maioria do eleitorado. Filiou-se, pois, a um partido e o escolhido foi o centenário e respeitável PLRA, dos liberais, há mais de 60 anos fora do poder e com a respeitável bagagem de uma corajosa oposição à ditadura stroessnista. Como um Jânio Quadros, Lugo filiou-se ao Partido Liberal Radical Autêntico e usou sua bandeira, sua história e sua estrutura capilarizada em toda a sociedade paraguaia. E depois deu-lhe um adeus de mão fechada, frio e indiferente.
Eleito, desfez-se de todos os companheiros de jornada. Um a um. Stalin não apagou tantos nas fotos oficiais do Kremlin como o ex-bispo o fez. Mas demitiu os mais qualificados, por sinal. Restaram-lhe os cupinchas, os facilitadores de negócios e de festinhas íntimas, os “operadores” e alguns incautos esquerdistas para colorir com as tintas de um risível ‘socialismo guarani’ o governo de um homem que chegou como o Messias e terminaria como um Judas Escariotes.
Lugo poderia emprestar seu nome e sua trajetória de vida política (e pessoal, também) ao mestre Borges e tornar-se uma das impressionantes personagens da “História Universal da Infâmia”. Um infame, não mais que isso! Mal eleito e empossado, sucedem-se escândalos e se revela seu procedimento. Filhos impensados para um supostamente casto Bispo. Vários. Todos jamais reconhecidos ou amparados, gerados com mulheres as mais pobres e sem instrução alguma, uma delas com apenas 16 anos quando da gravidez. Se traíra a sua Igreja, por qual razão não nos trairia? E traiu.
Não passou um mês sequer durante seus três anos de governo sem que viajasse a um país qualquer. Com razão ou sem nenhuma, para conferências esvaziadas ou cerimônias de posse de mandatários sem importância ou relevo para o Paraguay. As pompas do poder o abduziram como a nenhum déspota de república bananeira do Caribe. Os comboios de limusines com batedores estridentes, as festas e beija-mãos, os eternos e maviosos cortesãos do poder, as belas mulheres, as mesas fartas, os hotéis cinco estrelas, a riqueza, a opulência, os “negócios”. O despojado ex-bispo tornou-se grande estancieiro. O presidente que tomou posse calçando prosaicas sandálias como símbolo de humildade, revelou-se um homem vaidoso e fetichista. Como que a vestir a mentira em que ele próprio se tornou, passou a enxergar elegantes e bem-cortadas túnicas encomendadas à alfaiates da celebérrima e caríssima Savile Row, templo londrino da moda masculina. No detalhe, o estelionato (mais um): colarinhos eclesiásticos. Afeiçoou-se a lindas e jovens, digamos, “modelos”, que floriram sua vida e a banheira Jacuzzi que mandou instalar na austera e velha residência presidencial. Muitas delas o precediam mundo a fora, esperando-o em hotéis fantásticos e palácios, nas vilegiaturas internacionais. Viajavam com documentos oficiais. Kaddafi auspiciava passaportes diplomáticos a terroristas, Lugo a prostitutas.
O veto de Itaipu 
Sua afeição pelos jatinhos e jatões chegou às raias do fetiche: passou boa parte de seu peculiar mandato a bordo deles. Fretados à empresas de táxi aéreo de outros países, mandados pelos amigões Hugo Chávez e Lula, outras emprestados sabe-se lá por um tais e misteriosos amigos. Chocou-se com o brasileiro Jorge Samek, fundador do PT e competente gestor, que na presidência brasileira da Itaipu resolveu vetar capricho juvenil do ex-bispo e delirante presidente paraguaio: a poderosa binacional compraria um jato para seu uso. Um Gulfstream, quem sabe um Falcon, ou até um brasileiríssimo Legacy, mas ele precisava ardentemente de um jato para chamar de seu. Depois mandou que o comandante da Força Aérea negociasse um Fokker 100, adaptado com suíte e ducha. Nada feito, o raio de ação seria pequeno e ele precisava ganhar o mundo! Por fim, nos estertores de seu governo, entabulava a compra de um Challenger, usado mas chique, de um cartola do futebol paraguaio. O preço, como sempre, mais um escândalo da Era Lugo: pelo menos o dobro de um modelo novo, saído de fábrica...
Obras viárias? Imagine. De infraestrutura? Nenhuma. Modernização do país? Nem pensou nisso. Crescimento econômico? Sim, mas por obra de uma agricultura forte, de empresários jovens e ambiciosos, de uma indústria florescente e de um ministro da economia que destoou da regra geral do governo Lugo: competente e austero, imune às vontades do presidente e distante da escória que o cercava. A cada novo dia, no parlamento, nas redações, nos sindicatos, nos foros empresariais, nos encontros de amigos, um novo comentário, uma nova história de mais uma negociata dos assessores e companheiros de Lugo. Proporcionalmente, nem na ditadura de Stroessner (mais de três décadas), se roubou tanto quanto no governo pseudo-esquerdista de Fernando Lugo (menos de três anos).  Já com Lugo deposto, seu secretário mais forte, Miguel Lopez Perito, telefonou à diretoria da Itaipu solicitando a bagatela de US$ 300 mil para organizar uma manifestação em defesa do governo. Queria ao vivo e a cores, "na mala", por fora, não contabilizado, no "caixa 2". Que tal? Fato tornado público por um diretor da binacional e revelador do modus-operandi da verdadeira quadrilha que comandava o país.
O impeachment
Seu processo de “Juízo Político” – algo como um processo de impeachment – está previsto na Constituição do Paraguay, e não foi uma travessura histórica de meia dúzia de líderes políticos ou parlamentares revidando as descortesias de Lugo para com os partidos, os empresários, os paraguayos todos. Que tipo de presidente era esse que teve 73 deputados votando por sua queda contra apenas 1 solitário voto? Que espécie de chefe da Nação era esse que teve 39 votos contrários contra apenas 4 senadores fiéis ao seu desgoverno? Não teve tempo, apenas duas horas para defender-se. Ora, a Constituição não determina tempo, apenas assegura-lhe o direito de defesa, exercido através de competentíssimos advogados, que fizeram exposições brilhantes na defesa do indefensável. Um deles, Dr. Adolfo Ferreiro, admitiu claramente que o processo era legal. De outro, Dr. Emilio Camacho, em imponente ironia da história, os magistrados da Suprema Corte extraíram em um de seus celebrados livros aqueles ensinamentos necessários e a devida jurisprudência para rechaçar chicana jurídica do já ex-presidente contra o processo legal, constitucional e moral que o defenestrou. C’est la vie, Monsieur Lugo! 
Em Curuguaty, num despejo de terras ocupadas pelos "carperos" (os sem-terra daquí), dezenas de mortes de ambos os lados. Lugo e seu ministro do interior, o belicoso senador Carlos Filizzola, foram avisados de que havia uma emboscada pronta para as forças militares. Com a empáfia que os caracterizou do primeiro ao último dia, e fiel aos amigos que manejam o MST daquí e infernizam a vida de produtores rurais (entre os quais os 350 mil brasileiros que aquí plantam, colhem e vivem, nossos irmãos "brasiguayos"), ambos ordenaram a ação que se tornou uma tragédia na história de nosso país. Poderia citar, também, o EPP (Exército do Povo Paraguaio), guerrilha formada por terroristas intimamente ligados a Lugo em seus tempos na bispado de San Pedro. Jamais as forças de segurança puderam fazer nada contra eles. Mapeados, identificados, monitorados e soltos: Lugo se manteve fiel aos bandidos pelos quais mostra clara e pública afeição. Como Belaúnde Terry, no Perú, que permitiu com seu "democratismo" o crescimento do terror representado pelo Sendero Luminoso de Abimael Guzmán, Lugo é o pai e a mãe do EPP.
Um hiato na história
Fernando Lugo foi um hiato em nossa história. Necessário, mas sofrido. Seus defeitos superaram suas virtudes. Aqueles eram muitos, essas muito poucas. Nós que nele votamos, sequiosos de um Estadista, nos deparamos com um sibarita. Seu legado é de decepção e fracasso. Não choraram por ele dentro de nossas fronteiras, e os que o defendem foram deles o fazem muito mais pensando no que lhes pode ocorrer do que por solidariedade ao desfrutável governante e desprezível homúnculo que cai.
O fim de seu governo dói mais a um dolorido Chávez do que a nós. A Senhora Kirchner, radical na condenação que nos impõe, se esquece de nossa parceria na importante e gigantesca usina hidrelétrica de Yaciretá, e amplia sua lucrativa viuvez acolhendo em seu seio choroso o decaído amigo. Solidária? Nem tanto, apenas sabendo que se abriu o precedente para que os parlamentos expulsem os incapazes. Na Bolívia o sentimento popular em relação ao sectário e também bolivariano Evo Morales não é diferente do sentimento dos paraguayos por Lugo no outono de sua aventura presidencial. É pior. O relógio da história irá tocar as badaladas do fim de uma aventura mais que improdutiva: raivosa e liberticida.
A posição brasileira
Não compreendemos a posição do Brasil. Ou não queremos compreender, tanto é o bem que lhe queremos. Nos arrasou como sicário da Rainha Vitória e nós lhe perdoamos e juntos construímos o colosso de Itaipu. O tratamos bem e ele defende a continuidade de uma das piores fases de nossa história, em nome do quê? Nega-nos o direito à autodeterminação, mas se esquece do papelão ridículo que fez em defesa de um cretino como Zelaya, um corrupto ligado a grupos somozistas de extermínio e que era tão esquerdista como Stroessner e democrático como Pinochet.
Foi deplorável o papel do chanceler Patriota (que não se perca pelo nome), saracoteando pelas ruas de Assunção em desabalada carreira, indo aos partidos Liberal e Colorado pressionar em favor de um presidente que caia. Adentrando o Parlamento ao lado do chanceler de Hugo Chávez, o Sr. Maduro, para ameaçar em benefício de um presidente que o país rejeitava. Indo ao vice-presidente Federico Franco ameaçar-lhe, com imensa desfaçatez, desconhecendo seu papel constitucional e o fato de que ninguém renunciaria a nada apenas por uma ameaça calhorda da Unasul (que não é nada) e outra ameaça não menos calhorda do Mercosul (que não é nada mais que uma ficção). O Barão do Rio Branco arrancou seus bigodes cofiados no túmulo profanado pelo Itamaraty de hoje. O que quer o governo Dilma? Passar pelo mesmo vexame de Lula na paupérrima Honduras? Se afirmativo, já fica sabendo que passará. Nós temos imensa disposição de continuar uma parceria que se relevou positiva e decente para ambos os países. Mas não temos da austera presidente o mesmo terror-medo-pânico que lhe devotam seus auxiliares e ministros. Cara feia não faz história, apenas corrói biografias. Dilma chamou seu embaixador em Assunção e Cristina fez o mesmo. As radicais matronas só não sabiam que: o embaixador brasileiro é um ausente total, vivendo mais tempo em Pindorama do que por aqui. Recorda o ex-embaixador Orlando Carbonar, que foi pego de surpresa em fevereiro de 1989 pelo movimento que derrubou o general Stroessner. Até meus filhos, crianças na época, sabiam que o golpe se avizinhava e que estouraria a qualquer momento, menos o embaixador brasileiro, que descansa no carnaval de Curitiba, sua cidade natal. Voltou às pressas, num jatinho da FAB, para embarcar Stroessner rumo ao Brasil. E a Argentina... Bem, a Argentina não tem embaixador no Paraguay faz alguns meses... Ocupadíssima, Dona Cristina não nomeou seu substituto. País de necrófilos, chamou um fantasma até a Casa Rosada para consultas.
O Paraguay fez o que tinha que fazer. Seguirá adiante, como seguem adiante as Nações, testadas e curtidas pelas crises que retemperam e reforçam os povos. O religioso que não honrou seus votos de castidade e pobreza e traiu sua igreja, foi por ela rejeitado. O presidente que não honrou nossos votos e nos traiu, foi por nós deposto. Deposto por incapaz, por mentiroso, por ineficiente. Mas, principalmente, por que traiu as esperanças de um país e um povo que precisaram dele e nele confiaram e ele os traiu a todos. E, por isso, Lugo não voltará.
(*) Chiqui Avalos é conhecido escritor e jornalista paraguaio. Combateu a ditadura de Stroessner e apoiou a candidatura de Fernando Lugo. É o editor de "Prensa Confidencial", influente boletim digital editado no Paraguai.

Matheus Nachtergaele e a ética do corpo


Cedo Matheus Nachtergaele se deu conta de que seu corpo determinaria o limite e a liberdade para se expressar. “Não poderia ser o galã e por isso me tornei mais aberto a uma infinidade de tipos”, avalia. Franzino, o ator convocou uma habilidade física a seu favor para que aos olhos do público surgisse antes o personagem irretocável na criação e no gestual do que o intérprete destinado a um consenso. O que não impede uma divertida constatação na galeria de nomes somados à carreira. São simbólicos o Cintura Fina de Hilda Furacão, o João Grilo de O Auto da Compadecida, o Carreirinha de América, o Miguezim do recente Cordel Encantado e o ainda inédito Joãosinho, o Trinta, em cinebiografia a ser lançada no próximo ano. Todos agora em companhia de Pazinho, sua nova colaboração com o parceiro habitual Cláudio Assis no novo filme deste, Febre do Rato, que estreia sexta 22.
O físico e o poético. No papel do coveiro Pazinho de A Febre do Rato, talento moldado na irreverência
O diminutivo empregado reveste-se de ironia quando vemos o que Matheus concretiza na tela. Pazinho é um coveiro que assume sua paixão por um travesti. Não o faz em qualquer reduto, mas no lúmpen que tanto interessa a Assis. Ali, sob a liderança de um poeta libertário (Irandhir Santos), não há demarcações no território sexual ou amoroso e Pazinho sofre por seus próprios conceitos. Seria um tipo tragicômico, mas a espontaneidade anárquica da direção o coloca entre o humor poético e a postura reflexiva. “Não é mais central a questão da homossexualidade, mas como avançar nas novas constatações da sexualidade”, ressalta o ator, que conversou com CartaCapital durante o 22º Cine Ceará, onde Febre do Ratofoi exibido e rendeu o prêmio de melhor diretor a Assis.
Moldar-se por uma irreverência e um riso é outra face contumaz do seu talento. Uma de suas primeiras referências na interpretação é Grande Otelo. “É o mais bonito e mais brasileiro entre os palhaços, com aquela melancolia disfarçada com o riso largo.” A apreciação por certo justifica sua acolhida ao imaginário cômico nacional, como no João Grilo em O Auto da Compadecida, que viveu nas versões para cinema e televisão. Mas a esses o ator chegou já com uma importante contribuição corporal e dramática adquirida em diversos processos.
Um desses primeiros testemunhos é referido numa passagem divertida de A Febre do Rato, quando Pazinho diz não ser Jó para tolerar as liberalidades do companheiro. Em 1995, Matheus interpretou o mais determinado crente do Antigo Testamento no espetáculo O Livro de Jó, do Teatro da Vertigem, com direção de Antônio Araújo. Num hospital paulista como cenário, o ator se desnudava para uma aventura de limite físico inesgotável. Embora tivesse participado como um anjo caído na peça anterior do grupo, Paraíso Perdido, era a primeira vez que o franzino de menos peso ainda do que os 59 quilos atuais exercitava sua capacidade de expressão. Pelo feito, ganhou os prêmios Shell, Mambembe e um grande colaborador. “O Araújo é um dos nomes que me formou, ao lado de Antunes e Assis. Entendo agora como isso é importante para um ator que foi aconselhado a desistir e tornar-se um autor.”
"Grande Otelo é o mais bonito e brasileiro dos palhaços, aquela melancolia disfarçada pelo riso"
A referência é a Antunes Filho, o diretor do Centro de Pesquisas Teatrais, onde o paulista foi bater atraído por um teste enquanto estudava artes plásticas. Aceito, ensaiou para Paraíso Zona Norte, mas, à véspera da estreia, foi afastado e ouviu de Antunes que nunca se tornaria um ator. “Ele dizia que eu deveria ser autor, buscar outra coisa, e eu não entendia o que isso significava.” Decepcionado, viajou para a Bélgica, origem de seu pai, músico fundador da Traditional Jazz Band, que, junto à mãe poetisa, influenciou seu espírito para a arte. A distância ajudou-o a avaliar o que tinha passado. “Antunes foi como um pai malvado, rigoroso e violento, que me apontou o que ler, me ensinou.” Matheus diz que a lição o tornou um ator assustado. “Acho que ele me deu um não para ver se eu seria capaz de contrariar a tese e hoje entendo a ideia de autor como criar uma arte pessoal, a sua arte.”
Nesse processo de autoria descobriu, também por Antunes, a maior referência para seu trabalho, a dança butô de Kazuo Ohno. Acredita que o trabalho do ator se estabelece nessa junção do físico com o poético do criador japonês. “Ele nos mostrava que o corpo deve ser ético.” O bailado que dá certo com Cláudio Assis ele atribui à grande honestidade e generosidade do cineasta, com quem trabalhou nos dois longas anteriores, Amarelo Manga, no qual vivia o atirado gay Dunga, e Baixio das Bestas, intérprete de Everardo. Diz ter tido muito medo de se assistir neste filme, tamanha a violência do personagem. “É uma criação caótica a de Cláudio, ele consegue o êxtase. Posso até sentir raiva ao encarar alguém como Everardo, mas sei que no fim será uma raiva poética.”
A trajetória no cinema e na televisão, ele compreende, marcou-o para tipos à margem social. “A tevê especialmente tem esse poder, mas não me incomoda. Preparo-me para um papel tanto quanto no cinema, pois sei que para muita gente o alcance da arte está ali e ela tem de ser boa.” Sua constelação dramática, no entanto, é mais ampla e inclui participações em O Que É Isso, Companheiro? (1997), Central do Brasil (1998) e o marcante Cidade de Deus(2002). “Ali era o contrário, a ideia era não haver poesia, era o bruto.” Prepara-se para Serra Pelada, de Heitor Dhalia. “Achei que ia ganhar um garimpeiro, mas serei o fazendeiro que os explora.” Um raro vilão.
Dessas conjugações diferenciadas da arte de interpretar é que surge a importância do projeto Trinta para Matheus. Como protagonista, situação que não exerce ao menos desde o caipira inspirado em Mazzaropi de Tapete Vermelho (2006), ele se aproxima de um antigo ídolo, que conheceu antes da morte, em dezembro de 2011. Ainda, no filme de Paulo Machline, Joãosinho Trinta é apresentado antes da consagração no desfile da Salgueiro em 1974, quando ingressou no Teatro Municipal para ser bailarino e acabou responsável pelos adereços das óperas. “Ele não tinha tipo físico para o balé, o que lembra algo de mim”, brinca.
Pontua também as diferenças. “Trinta era culto e místico, eu não.” Quanto ao misticismo, que o ator procura afastar como visão de mundo, era dado fundamental do primeiro e elogiado longa que dirigiu em 2008, A Festa da Menina Morta. Na atuação impressionante de Daniel de Oliveira como o “santinho” de uma vila amazônica, é inevitável enxergar o próprio Nachtergaele em entrega física a um personagem. Reconhece que exigiu dos atores a dedicação por ele ofertada quando dirigido, que nenhum cineasta duvida hoje ser da mais alta compleição.

O purismo e o verdadeiro Maluf


De CartaMaior


A estratégia era clara demais para comportar tergiversações. O Maluf atual, aquele que merece combate, aquele que é conhecido pelos métodos fascistas de lidar com adversários e movimentos sociais, atende por outro nome: José Serra. Será preciso desenhar?

Ao firmar acordo com o deputado federal Paulo Maluf (PP), se deixando fotografar com seu adversário histórico, o ex-presidente Lula produziu a perplexidade que dominou, no primeiro momento, setores do próprio campo progressista. O debate que se seguiu foi - e é da maior seriedade - e da maior gravidade.
O purismo tem que despertar da frívola ciranda para a dura realidade do mundo adulto, do universo das relações reais entre pessoas e partidos. O erro maior de quase todos os revolucionários brasileiros, do século XIX em diante, foi não apenas ter frequentemente cometido equívocos nas análises das condições objetivas, mas também no exame da condição subjetiva fundamental, que é o alheamento político a que um modelo de exploração desigual submeteu nosso povo. A exclusão de processos decisórios torna-o cético diante do que não sabe, enquanto a classe dominante dá o exemplo com sua atitude invariavelmente cínica.
Analistas políticos que não percebem bem o que acontece por um misto de má-fé e preguiça mental - resultante da partidarização da imprensa e da academia - pontificaram sobre a logística comandada por Lula. E, triste, foram endossados por setores que se apresentam como a "esquerda autêntica". O papel de um operador político do quilate do ex-presidente é semelhante ao do regente de uma orquestra. Não faz a música, mas dá o compasso, define a harmonia do conjunto e tira de cada instrumento o som mais adequado.
Não pode ser confundido com alguém ocupado em arranjos paroquiais para colocar seu candidato em uma posição mais confortável. Não deve ser tratado como bufão que faz parte do espetáculo, mas não é bem-visto na peça. Não lhe faz justiça a roupagem de um Moisés a quem cabia levar seu povo à terra prometida, mas terminou por preferir ser adorador de um bezerro de ouro.
Não houve vacilações ou atitudes opacas, mas perfeito tino da logística requerida pela dinâmica política. A estratégia era clara demais para comportar tergiversações:aliança com ex-prefeita Erundina e o PSB, à esquerda, para garantir o apoio dos socialistas e neutralizar os descontentamentos do grupo ligado à senadora Marta Suplicy. Aliança com Maluf, à direita, para neutralizar parte do PSD de Kassab. Um tabuleiro sobre o qual havia que se debruçar meticulosamente, sem pruridos de uma ética de algibeira.
Esses apoios levariam o candidato do PT ao segundo turno até por que o partido tem históricos 30% dos votos na capital e, à exemplo de Dilma, a rejeição do Fernando Haddad é muito pequena em São Paulo. Para isso seria necessária a manutenção das candidaturas de Russomano e de Netinho, até então provável candidato do PC do B no primeiro turno. No segundo turno, ainda teríamos agregado o apoio de Chalita, do PMDB Apenas assim se conseguiria derrotar a máquina eleitoral do estado e do município de São Paulo pró- Serra, que tem cerca de 30% de rejeição dos eleitores na capital.
Pelo visto , faltou combinar com uma geração que gosta do suicídio político para expiar culpas sociais. Faltou dizer que o Maluf atual, aquele que merece combate, aquele que é conhecido pelas falcatruas e pelos métodos fascistas de lidar com adversários e movimentos sociais, atende por outro nome: José Serra. Será preciso desenhar?
Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil

Agora é o presidente do STF que faz pressão sobre revisor do "mensalão"


O STF dos dias atuais é uma caricatura de um tribunal. Seus ministros não estão preocupados em realizar um julgamento justo para aqueles que já foram condenados com antecedência pela imprensa, no chamado processo do "mensalão", escaramuça golpista inventada para derrubar o presidente Lula do cargo ao qual o povo brasileiro o elegeu ainda no ano de 2002.

Curiosamente a maioria dos ministros que ocupa o posto máximo da justiça brasileira foi indicada pelo ex-presidente Lula. Não que este detalhe por si só ou acompanhado implique em que os juízes do STF fossem cair na tentação de ceder a favores recebidos de um ex-chefe de Estado, o maior de todos estarem na corte de justiça mais importante do país. O usufruto da posição de juízes serve-lhes para com o saber de que possui interpretem a constituição e faça dos seus julgados, justiça, não importa quem seja o réu.

Não estariam cumprindo com sua missão se cedessem a pressões; ao açodamento de alguns que na imprensa dão como certa a condenação dos réus, embora os autos do processo demonstrem o contrário, seja cristalinamente claro no tocante a revelar que o "mensalão" da forma como foi denunciado, uma mesada mensal e regular para deputados votarem em projetos do governo nunca existiu e não há provas que corroborem com a denúncia apresentada no STF.

Contudo, neste julgamento que se avizinha e que a mídia joga todas suas fichas, tudo indica que não haverá outro resultado possível além de uma previsível condenação.

Quando não é a imprensa a fazer pressões sobre os ministros do STF, especialmente em cima do ministro revisor, Ricardo Lewandovisk, é o próprio presidente do tribunal que vai aposentar-se, ele e o ministro Cesar Peluzzo que com os votos de Gilmar Mendes,  e Joaquim Barbosa, uma maioria bem próxima a que condenará os réus se forma para um julgamento eivado de vicios que não dignifica o STF.

O presidente do STF  num gesto inédito pressionou o ministro revisor cujo relatório encontra-se sob sua responsabilidade para um parecer definitivo e fez a informação chegar a imprensa. O decoro do cargo, a parcimônia, a cautela no pronunciar-se, o comedimento, qualidades essenciais a um juíz, passa ao largo dos ministros midiáticos do STF que estão mais preocupados em aparecer para a plateiazinha que está a bancar o espetáculo, do que com o que poderá acontecer a vida daqueles que serão julgados.

Brito enviou um oficio cobrando do revisor que apresse-se com seu relatório, fato nunca antes presenciado no STF. Uma quebra de toda liturgia dos ritos processuais daquela corte. Eu é que não gostaria de está sob o crivo de juízes tão apressadinhos em mostrar serviço à turba, em ser  jogado como isca para ser devorada pelos tubarões.

Apenas a vaidade de aparecer para os holofotes faz o presidente do STF tomar medidas tão descabidas e despropositadas. Ele decidiu que deverá entrar para história do Supremo como o presidente que colocou em pauta e julgou o mensalão.

Ao que parece seu voto é pela condenação dos réus. Senão toda esta pantomima seria execrada pela imprensa. Aí seu esforço iria por água abaixo. Se ele não votar pela condenação a imprensa não hesitará em fazer picadinho da imagem dele, o que demonstra que o agir em direção concordante com o que a imprensa publica, sobre o tema, só prova sua falta de isenção.


Milionários têm jatinhos apreendidos mas PF não dá os nomes, por que será?


PF aumenta tensão entre bilionários com jatinho

PF aumenta tensão entre bilionários com jatinhoFoto: Edição/247

MAIS DOIS AVIÕES FORAM APREENDIDOS PELA POLÍCIA FEDERAL, QUE NÃO PRETENDE DIVULGAR NOMES DOS DONOS, ALEGANDO "RISCO DE DESTRUIÇÃO DE PROVAS"; CITADO EM RUMORES, ANDRÉ ESTEVES (À ESQ.), DO BTG PACTUAL, NEGOU PERDA DE POSSE DE SEU FX-7, MAS COLUNA APONTA APREENSÃO DO AVIÃO DO SÓCIO MARCELO KALIM; PAULO MALZONI (À DIR.) E LÍRIO PARISOTTO (CENTRO) TAMBÉM SÃO CITADOS COMO ALVOS DA OPERAÇÃO POUSO FORÇADO

23 de Junho de 2012 às 07:56
Marco Damiani _247 – Cresce a tensão no mundo dos milionários e bilionários "com jatinho". Desde a quarta-feira 20, numa verdadeira razzia sobre hangares estrelados, a Polícia Federal, a partir de investigação iniciada na Receita Federal, realiza apreensões de jatos executivos sob a suspeita de que seus proprietários não recolheram os impostos devidos. Já há oito aparelhos apreendidos – e mais quatro ordens de apreensão em cumprimento --, num lote de valor estimado em mais de R$ 600 milhões. Dois jatinhos foram apreendidos na manhã desta sexta-feira 22, nos aeroportos de Guarulhos e Campinas. Num esquema, de acordo com as suspeitas da Receita e da PF, fraudulento, os proprietários dos aviões apreendidos os mantinham em nomes de estrangeiros, de modo a não pagar impostos no Brasil. O que eles teriam apenas a fazer, para não caracterizar a propriedade, era impedir que seus aparelhos permanecessem por 90 dias seguidos dentro do País. Uma ida e volta a Nova York, por exemplo, e pronto!
Ouvido por 247, o departamento de comunicação da Polícia Federal em Brasília informou à repórter Andressa Anhelote que não haverá, por agora, a divulgação dos nomes dos verdadeiros proprietários desses sonhos alados. "Há o risco de que isso atrapalhe as investigações, com destruição de provas por parte dos suspeitos", registrou uma fonte oficial. Confirmou a fonte que esses "com jatinho" "são gente muito influente". Responsável pelo caso, o delegado Marcelo Siqueira já havia dito, em entrevista coletiva, na quarta 20, quando as primeiras apreensões ocorreram, que estava lidando com "pessoas de altíssimo poder aquisitivo". Ele fez questão de lembrar que essas pessoas "tinham todas as condições de pagar os impostos" correspondentes pelos bens. A alíquota, nos casos dos aviões executivos, é de 15% -- mas as multas pela sonegação podem custar o valor de até 50% dos aparelhos. Um Falcon X-7, da Dassault, por exemplo, como o pertencente ao banqueiro André Esteves, do Banco BTG Pactual, pode custar até US$ 40 milhões.
Ao 247, Esteves, por meio da assessoria de imprensa do BTG, disse ontem que o seu jatinho "está na TAM", referindo-se ao hangar da companhia aérea, no aeroporto de Congonhas. A assessoria adiantou que o aparelho pertence a ele, na pessoa física, com toda a situação tributária corretamente em dia (leia aqui).
O nome de um sócio do BTG Pactual, Marcelo Kalim, foi envolvido, nesta sexta, nos rumores sobre de quem, afinal, são os jatinhos apreendidos. Como se poderia imaginar – e é, efetivamente, o que está acontecendo -, o mundo dos "com jatinho" foi chacoalhado pelas apreensões. A tensão, entre o estamento riquíssimo da população, vai chegando às alturas. A não divulgação da lista pela PF só fez aumentar o estresse. Segundo o jornalista Leandro Mazzini, da coluna Esplanada, feita a partir de Brasília, além de Kalim também o ex-sócio do Pactual Gilberto Sayão teve seu jatinho apreeendido. 247 procurou a assessoria do BTG para esclarecimentos a respeito da situação da aeronave de Kalim. A informação recebida da assessoria foi a de que o banco não fará comentários sobre o tema. A assessoria da Vinci Partners, a empresa de investimentos montada por Sayão após sua saída do Pactual, respondeu, negando que ele tenha qualquer jato apreendido.
No mesmo rumor que envolveu o nome de André Esteves surgiram, entre empresários, os nomes dos milionários Paulo Malzoni, titular do Grupo Malzoni, e Lírio Parisotto, dono do grupo Videolar. 247 procurou as respectivas assessorias. Às 18h20, a assessoria de Malzoni informou que "Malzoni não possui avião em nome dele". Até aquele momento, não havia retorno da equipe de Parisotto.
247 igualmente apurou que, entre o diz-que-diz em torno do caso, o nome do empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade, titular do grupo Caoa, também foi citado como tendo seu jatinho apreendido. Ele próprio negou o rumor, garantindo que todos os impostos correspondentes foram recolhidos. Para outros, o céu de brigadeiro de repente se fechou.

Juíza de Pinheirinho tem orgulho do que fez


Conversa Afiada reproduz vídeo histórico com a entrevista da Juiza que reintegrou a posse de Naji Nahas em Pinheirinho.

Foi uma entrevista feita no “calor da hora”, logo em seguida ao que ela chama de trabalho “admirável” da Polícia tucana.

De novo, a Justiça brasileira será submetida a uma Corte Internacional de Direitos Humanos.

Já foi desmoralizada no que toca à Lei da Anistia.

E vamos ver, nesse caso, se a Juiza ainda terá orgulho da decisão que só beneficiou Naji Nahas.

Justiça para p…, p… e p…

Assim como as algemas.


Paulo Henrique Amorim

Contrabando ideológico do Paraguai


De Época

Paulo Moreira Leite
Começo a ficar preocupado com o debate em torno do golpe no Paraguai.
Meu receio é o contrabando ideológico, com idéias exóticas que podem ser trazidas ao Brasil e germinar por aqui.
Estou falando sério. É grande o número de comentaristas que dizem que a deposição de Fernando Lugo foi um processo dentro da lei e que, por essa razão, não pode ser comparado a um golpe de Estado.
Já li comparações inclusive com o impeachment de Fernando Collor. Teve até um professor universitário que disse isso no Rio Grande do Sul.
Vamos combinar que é feio reescrever a história, ainda mais a partir de fatos tão recentes.
Fernando Collor foi investigado por vários meses e considerado culpado pela Polícia Federal, que encontrou vários indícios de corrupção e troca de favores.
A CPI sobre PC Farias recolheu provas contra o tesoureiro e o presidente. Os auxiliares de Collor foram questionados, puderam se defender e acusar. Apareceu uma testemunha, com um cheque usado para comprar um carro para a primeira dama. E apareceram vários cheques-fantasma do esquema e suas conexões. A polícia federal descobriu um computador com a descrição gráfica do esquema financeiro. Estava tudo lá: quem recebia, quem pagava.
Depois de tudo isso, o Congresso votou o impeachment do presidente. O país estava convencido de sua culpa. Os estudantes foram às ruas pedir sua renuncia. Collor pediu apoio popular. Recebeu maiores protestos.
Ao contrário de Lugo, Collor não foi deposto. Renunciou. Lugo tinha apoio popular, a tal ponto que um dos motivos para a pressa dos golpistas era impedir a chegada de seus aliados a Assunção. É trágico: para dar um golpe contra o povo, correram de populares.
As acusações contra Collor não foram histórias que cairam céu contra um presidente fraco que, por falta de apoio parlamentar, foi despachado para casa.
Collor enfrentou um processo democrático, onde teve direito a ampla defesa.
Não tivemos nada disso contra Lugo. Não há um fiapo de prova de suas responsabilidades pelas 17 mortes num conflito agrária, que criou a comoção que ajudou os golpistas a criar um ambiente favorável a derrubá-lo.
Os outros quatro episódios são acusações vagas e genéricas. Em nenhum deles a culpa de Lugo está demonstrada. Sequer é descrita. Estamos falando aqui de um arranjo político, uma oportunidade. Lugo era um presidente incômodo, com ideias de esquerda – bastante moderadas, por sinal – e seus adversários não quiseram perder uma chance de livrar-se dele.
É o poder oligárquico em sua expressão extrema, anti-democrática e absoluta – tão poderoso que pode cumprir um simulacro de democracia para pervertê-la.
Falar que se cumpriu o ritual democrático é o mesmo que dizer que o ditador Alfredo Stroessner, que governou o Paraguai por 35 anos, acumulou uma fortuna ilícita estimada em 5 bilhões de dólares e deixou uma lista de 400 desaparecidos políticos era um presidente legítimo porque de tempos em tempos promovia eleições que vencia com mais de 90% dos votos.
E é isso o que mais preocupa neste caso. O gosto pelo simulacro.
Vitima de um golpe de Honduras, Manoel Zelaya foi acusado de tentar avançar uma emenda constitucional para permitir a reeleição presidencial – não para ele, mas para seus sucessores. Nem a embaixada americana acredita que esse fato era motivo para seu afastamento. Em documentos enviados para Washington, a representação diplomática em Tegucigalpa explicava que se tratava de um golpe de Estado. Mas havia, em Honduras, um pretexto que, de forma distorcida e abusiva, foi usada para depor um presidente constitucional.
Contra Fernando Lugo não havia nem pretexto e mesmo assim ele foi derrubado, um ano e dois meses antes do fim de seu mandato.
Mas nossos golpistas adoram uma novilíngua. Em 64, quando João Goulart foi deposto, eles anunciaram que a democracia foi resgatada. Fizeram marchas para comemorar a liberdade…Vai ler os jornais e está lá assim: a democracia foi salva…A liberdade venceu…
Que horror, não?

Clã Sarney lança nova geração na política




ANDREZA MATAIS
DE BRASÍLIA

Com a segunda geração envelhecendo, o clã Sarney aposta em novos nomes para não ver seu legado minguar.

Adriano Sarney, neto do presidente do Senado, José Sarney (PMDB), vai disputar a eleição para prefeito de Paço Lumiar, na região metropolitana de São Luís.

Será a entrada da terceira geração da família na política, 57 anos após a primeira eleição de José Sarney.

Adriano, 32, é a maior esperança do clã para manter o controle do Maranhão. Com 110 mil habitantes e a 23 km do centro da capital, a cidade é estratégica na "geografia Sarney": é o melhor caminho para a ilha de Cururupu, onde a família tem casas.

Cinco candidatos com experiência política já desistiram da eleição em Paço. Adriano ficou conhecido por operar a venda de empréstimo consignado no Senado, instituição chefiada pelo avô.

O principal cabo eleitoral de Adriano é a atual prefeita, Bia Aroso (PSD), que responde a 22 processos na Justiça e já foi afastada quatro vezes, sob acusação de corrupção. "Onde eu estiver, ele vai estar comigo", disse ela. "Tudo o que tem aqui em Paço tem o dedo da família Sarney."

Para comprovar domicílio eleitoral na cidade, requisito para a candidatura, Adriano tem apresentado a conta de luz de um sítio. O blogueiro Cesar Bello disse à Folha que vai ingressar na Justiça para questionar o documento emitido pela Cemar, a companhia energética do Estado governado por Roseana Sarney.

Outras apostas da família são Filuca Mendes (PMDB), afilhado de batismo de Sarney, candidato em Pinheiro. E Souza Neto, casado com uma sobrinha da governadora Roseana, que irá disputar como vice em Santa Inês.

Filuca já conseguiu uma pequena proeza. O PT decidiu apoiá-lo ignorando resolução que impede novas alianças com o DEM, também na chapa de Filuca. Petistas contrários prometem recorrer ao Diretório Nacional.