domingo, 3 de agosto de 2014

Processado pela SEC, sócio dos EUA inspirou marketing anti-Dilma de consultoria

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Jornal GGN - A campanha "Se proteja se a Dilma ganhar" foi uma boa sacada da consultoria Empiricus. De fato, o mercado antecipa estratégias de investimento dependendo de cada situação prevista. E o noticiário dos jornais tem enfatizado – forçando a barra – a ideia de que a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT) seria um risco para a estabilidade econômica. Embora seja uma análise terrorista, influencia investidores. 
A visibilidade, no entanto, trouxe à tona métodos polêmicos encampados pela consultoria, que resultaram em gestores punidos por conselhos de ética do mercado e em associação com grupos norte-americanos igualmente polêmicos – e sob a mira da SEC dos EUA.
A Empiricus notabilizou-se por relatórios informais, repletos de chistes e questões pessoais, mais adequados a perfis de Facebook do que da sobriedade que se exige dos relatórios financeiros.
Responsáveis pelas análises da Empiricus em 2011, Marcos Eduardo Elias, Rodolfo Cirne Amstalden e Roberto Altenhofen Pires Pereira resolveram explorar o noticiário de jornais em uma campanha contra o frigorífico Marfrig Alimentos S/A.
Nos relatórios de análise, promoveram uma empreitada quase que pessoal ferindo a imagem da companhia e de seus controladores, Marcos Molina e Ricardo Florence. Acusaram-nos de fraude contábil e divulgaram análises e comentários negativos, enquanto negociavam com ações da companhia.
Em janeiro de 2012, a Superintendência de Analista de Valores Mobiliários da Apimec (Associação de Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais) determinou a instauração de processo administrativo.
Os ataques à Marfrig começaram, segundo a Empiricus, após a corretora ter sido supostamente ridicularizada em público, durante um evento com a presença de diversos analistas e de auditores da KPMG. "Por uma questão de sobrevivência de mercado", ou “para salvar a reputação”, a Empiricus teria dado início à campanha para demonstrar supostas inconsistências dos balanços da Marfrig.
relatório do julgamento reproduz trechos que confirmam que o teor das declarações da Empiricus contra a Marfrig é pior do que o de "brigas de botecos". Marcos Eduardo Elias – autor de sentenças ácidas como “demitam Ricardo Florence, ele é um sujeito gago” – acabou sendo punido com a suspensão por 12 meses do credenciamento de analista. Ele deixou a empresa em novembro de 2012. Os dois outros foram condenados a pagar multas de R$ 2 mil e não recorreram da sentença.
Além disso, a Marfrig abriu um processo (nº 0106655-70.2012.8.26.0100) no Tribunal de Justiça de São Paulo, que corre em segredo de Justiça, onde cobra dos analistas uma indenização de R$ 1 milhão por danos morais.
Construção de riqueza
O episódio com a Marfrig não é a única polêmica envolvendo a Empiricus.
Nos últimos tempos seu estilo se radicalizou depois de uma associação com o grupo norte-americano Agora Inc. e com seu promotor Mark Ford. Ambos - Agora e Ford - já foram alvos de investigação pela SEC por manobras no mercado de capitais.
O modelo de atuação consiste em fabricar um guru de mercado, inundar o mercado com newsletters de estilo informal e, a partir delas, montar estratégias de investimento pouco ortodoxas, garantindo ganhos extraordinários e sem risco.
Em seu site (www.empiricus.com.br), a corretora promove o “Clube de Construção de Riqueza - WBC Brasil”. O grupo se apresenta como “a forma mais rápida de construir uma fortuna séria no Brasil atual”. E recomenda: “Esqueça esquemas de pirâmide, esqueça jogos de azar. Há um método consistente e legítimo para alcançar seu primeiro milhão, e até mais.”
O segredo consiste em aplicar as fórmulas inspiradas no americano Mark Ford, hoje um empresário que ultimamente se dedicou ao ramo imobiliário e que, segundo os releases, "fez amigos no Brasil graças ao jiu-jitsi".
O público visado é formado pelo pequeno investidor, “milhares de indivíduos que ainda não conseguiram juntar o patrimônio necessário para uma vida de independência financeira.” O método de Mark Ford é propagado pelos fãs associados à Empiricus como “11 segredos”. A apresentação do sistema é eivada de lugares-comuns, com cálculos básicos de juros compostos e promessas que só se materializam em caluladoras financeiras.
Na justiça internacional
Mark Ford, entretanto, é alvo de reportagens veiculadas em jornais gringos por ter sido parte, em mais de uma ocasião, de negócios que acabaram sendo investigados pelas autoridades norte-americanas.
Em 1991, por exemplo, o Serviço de Inspeção Postal dos Estados Unidos apreendeu 6,6 milhões de dólares em contas bancárias detidas por Ford e seu sócio, Joel Nadel. O órgão sustentou que ambos estavam metidos num esquema que envolvia fraude postal e lavagem de dinheiro. 
Ford e Nadel supostamente operavam sorteios por correspondência eletrônica, através de um grupo de mídia de propriedade deles, que rendia cerca de 8 milhões de dólares por mês. A disputa judicial entre o Serviço de Inspeção Postal e os acusados atrasaram o pagamento das vítimas do suposto golpe. De acordo com publicação do The News de 1993, Nadel e Ford nunca assumiram a culpa pela fraude.
Segundo o portal Friends in Business, a operação consistia em emitir e-mails para milhares de pessoas avisando que elas ganharam um “prêmio valioso” em um suposto sorteio. Tudo o que o vencedor precisava fazer para retirar o prêmio era pagar uma pequena taxa de manutenção para a empresa de sorteios. Porém, os itens ditos valiosos nunca chegaram às mãos dos vencedores ou, se chegaram, valiam bem menos do que a taxa que eles pagaram.
Lucrando com a Copa 2014
A Empiricus chegou a Mark Ford através de uma associação com a Agora Inc. que injetou R$ 2 milhões na consultoria para promoção de vendas.
No Brasil, um grupo que se diz fã dos ensinamentos de Mark Ford relata no portal Cartas da Iguatemi como consegue fazer dinheiro. Um dos seguidores que se auto denomina“privilegiado por ser o membro número zero do clube de construção de riqueza WBC Brasil”conta como conseguiu ganhar lucrar com a Copa do Mundo.
A ideia brilhante foi a de colocar o apartamento que um amigo possui no Rio de Janeiro, numa região bem localizada, à disposição dos estrangeiros. Quatro argentinos fecharam o aluguel do espaço pelo valor diário de R$ 760, durante 25 dias. O “número zero do clube" vai embolsar R$ 7 mil do total de R$ 19 mil angariados com o negócio.
O mesmo espírito em Agora e a subsidiária Stansberry & Associates
Mark Ford é um dos responsáveis pelo crescimento milionário da Agora Inc., uma editora de jornais, livros e boletins que tem como subsidiária a Stansberry & Associates Investment Research (S&A). Esta, por sua vez, é outra editora privada com assinaturas em mais de 100 países. No portal da S&A, Ford é apontado como editor convidado.
A S&A tem como um de seus fundadores Frank Porter Stansberry, um profissional do mercado financeiro conhecido por elaborar e publicar notícias e conteúdo associados “aos interesses dos conservadores dos EUA e da ala direitista da política”. Em 2010, ele publicou um viral de 77 minutos intitulado "End of America”.
No vídeo, Porter Stansberry afirma que há anos atrás avisou aos investidores americanos que era melhor evitar empresas como Lehman Brothers, General Motors, Fannie and Fredies e dezenas de outras companhias que entraram em colapso durante a crise de 2008 – situação que ele também afirma ter previsto.
Feita a promoção pessoal, Porter dá sequência ao vídeo alertando para um novo evento drástico para a economia mundial. Isso dois anos antes da reeleição de Barack Obama.
Stansberry afirma, no material, que aguarda um fenômeno ainda relacionado à crise financeira de 2008, mas “infinitamente ainda mais perigoso”, porque vai afetar diretamente a conta-corrente, poupança, aposentadoria, modo de trabalho e o estilo de vida de cada cidadão americano.
O fenônemo estaria para atingir o “tesouro americano” e, diante da situação, Stansberry se propõe a ensinar onde os americanos podem aplicar seu dinheiro sem sofrer represálias do poder público. O empresário promete enviar um relatório gratuito explicando passo a passo.
Os relatórios falsos de mil dólares
Assim como Mark Ford, Porter Stansberry, um dos editores do Agora, também se meteu em imbróglios judiciários em mais de uma ocasião.
Em 2003, a SEC (Securities and Exchange Commission) trouxe à tona um esquema da S&A de comercialização de “falsas informações privilegiadas sobre a USEC Inc., uma empresa de Maryland que abastece usinas nucleares com urânio enriquecido”.
Stansberry assinava – sob o pseudônimo Jay McDaniel – um relatório com as informações que nortearam os investimentos de 1.217 pessoas, em 2002. Cada relatório foi vendido por mil dólares. A USEC afirmou a SEC que nunca repassou a Stansberry informações privilegiadas.
Em 2007, a S&A foi condenada pelo Tribunal Distrital dos EUA a pagar 1,5 milhão de dólares em restituição e penalidades civis por ter fraudado as informações aos assinantes nesse esquema. Ágora Inc. também era réu no julgamento, mas a corte entendeu que apenas a subsidiária deveria sofrer sanções.  Pouco mais de 200 compradores pediram o reembolso pela compra do relatório.
Segundo o juiz a Marvin Garbis, “a gravidade do dano, neste caso, não se limita à quantidade de dinheiro que cada comprador gastou com o Relatório Especial”. Todos eles, acreditando que as informações no documento eram verdadeiras, perderam de 20 a 25 por cento do dinheiro aplicado em compra de ações recomendada pela Stansberry. Alguns acumularam prejuízos de 28 mil dólares. Já a Stansberry lucrou pelo menos 1 milhão de dólares com o negócio.
A Agora invocou a Primeira Emenda (liberdade de expressão) para se defender. O episódio suscitou um rico debate sobre os limites da liberdade de expressão (clique aqui) e (clique aqui).
A criatividade da Empiricus
Voltando aos segredos de Mark Ford – que usa o pseudônimo de Michael Masterson em seus best Sellers – aplicados pela Empiricus, o terceiro princípio, que tornou a corretora muito conhecida no mercado, é a descontração com que todos devem escrever. Aí, a criatividade em terras tupiniquins é sem limite. Até paixões adolescentes pela mesma menina e rixas de escola vêm à tona.
Um dos analistas, Felipe Miranda, narrou as disputas com um certo Daniel Torelli, na época do colegial.  “Brigávamos rigorosamente todos os dias, usando o futebol como catálise... honestamente, nosso time era melhor”, lembra, sem deixar de alfinetar o rival. 
O outro motivo era a disputa pelo coração de uma garota de quem ele sequer lembra o nome. Isso porque Renato Torelli, irmão de seu antigo desafeto, foi contratado pela Empiricus – e coube a Miranda apresentá-lo aos clientes. “Hoje, depois de ter gastado uma caixa de lenço, posso lhes assegurar: você merecem ler/ouvir o que este homem tem a dizer”, afirma Miranda.
Dizer que o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, começou certa semana“relaxadão”. Afirmar o óbvio: que muitos financistas “comem mortadela para arrotar peru”. Reconhecer que o próprio autor do relatório é bipolar. “Tentamos escrever da forma mais direta possível, usando o humor, porque ele auxilia na absorção da informação”, afirma Mesquita. “Desde que o homem é homem, ele conta histórias, e isso ajuda a entender nossa mensagem”.
A reportagem da IstoÉ Dinheiro publicada em 5 de maio contem os depoimentos e aponta que "a famosa casa de análises independente do País – e reconhecida por seus relatórios descontraídos e mordazes" deve gerar receita de 10 milhões de reais em 2014. "Cerca de 10 mil pessoas já compraram, pelo menos, um relatório da empresa, e há 5 mil assinantes de periódicos da casa.”
As críticas a Dilma Rousseff
A criatividade da Empiricus gerou um episódio retratado pelo site Conversa Afiada na notícia“Vendo proteção contra Dilma. Com Globo e Jabor”, que pode ser lida aqui. Nesta segunda (26), a Empiricus tratou de rebater o que foi veiculado no site encabeçado pelo jornalista Paulo Henrique Amorim. Em nota à imprensa, a empresa se diz acusada pelo site de “ser financiada para fazer campanha contra Dilma”. E explica que a situação não é essa.
“O anúncio da Empiricus [em O Globo] em questão era uma chamada para um relatório que aborda os desdobramentos da corrida eleitoral sobre os mercados, sob as duas óticas: tanto da situação quanto da oposição.” De acordo com a Empiricus, “tal anúncio é criado automaticamente pelo Google AdWords, ferramenta de geração de Leads do Google, também utilizado pelo Conversa Afiada."
A peça, portanto, teria sido foi fornecida “gratuitamente e tratava da volatilidade causada no mercado pelas últimas pesquisas eleitorais – seus e seus desdobramentos”.
O relatório está disponível aqui.
O que o mercado pensa, segundo a Empiricus
Na mesma nota enviada à imprensa, a Empiricus afirma que tem sido alvo de militantes partidários, por supostamente fazer campanha. "Como se tivéssemos trazido uma grande novidade ao falar que o mercado financeiro prefere o Aécio Neves ou Eduardo Campos à Dilma... Vou revelar uma coisa muito importante, só entre a gente. Simba, este é o nosso segredinho: a Bolsa sobe quando a oposição ganha espaço nas pesquisas.”
A Empiricus avalia que “o mercado espera cada vez mais inflação e um crescimento ínfimo da economia brasileira nos próximos anos. Relatório Focus dessa semana mostrou que os agentes de mercado voltaram a aumentar a projeção para a inflação em 2014, de 6,43% (na semana passada) para 6,47% nesta semana, o que é bem distante do centro da meta de inflação, de 4,5%. A mediana das estimativas aponta crescimento de 1,62% este ano e 1,96% para o ano que vem. Não, crescimento pífio com inflação elevada em um cenário de maior juro real do mundo e recente perda de rating não é um quadro exemplar. Independentemente de quem levar a eleição, precisamos de um ajuste de política monetária e fiscal para já.”

FHC e a arte de se apequenar antes e depois

http://jornalggn.com.br/noticia/fhc-e-a-arte-de-se-apequenar-antes-e-depois

Perguntam-me dos motivos para a implicância com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
São vários.
O principal é que tinha base de apoio no seu partido, conhecimento, descendia de família de militares que participaram de episódios centrais de formação do país; tinha formação e adesão de parcelas importantes da opinião pública para montar um governo socialdemocrata, que conduzisse reformas mas lançasse as bases de políticas sociais legitimadoras. Tinha tudo, até a assessoria luxuosa da verdadeira estadista que era dona Ruth para lançar as bases do combate à miséria.
Em vez disso, terceirizou a política econômica para os financistas do seu governo, permitiu a manutenção de políticas cambial e monetária ruinosas, mesmo após três graves crises externas. Jamais conseguiu pensar como um verdadeiro estadista. Era deslumbrado com as pompas do poder, mas não com a possibilidade de mudar realidades.
Fora do poder, poderia ter se tornado um desses sábios referenciais dos quais toda Nação necessita, os mais velhos que trabalham para mostrar rumos, para conciliar, para ajudar na construção de consensos.
Pequeno antes, manteve-se pequeno depois.
Seu artigo de hoje, no Estadão (clique aqui), é tão medíocre que merecia ser assinado por Roberto Freire – o único (repito o único!) Senador da República que, em 1999, foi contra o projeto de renda mínima proposto em comum acordo por ACM e Eduardo Suplicy.
É medíocre por ser falsamente esperto, e pela absoluta falta de respeito de FHC pelos fatos e pela sua própria biografia.
Diz o artigo:
“O que fez o PSDB quando as pesquisas eleitorais de 2002 apontavam para a possível vitória do PT?”.
1.     Elevou os juros, mesmo antes das eleições, reduzindo as próprias chances eleitorais.
Coloca como se fosse um ato de desprendimento e não um gesto de desespero, ante os erros colossais cometidos pelo então presidente do Banco Central Armínio Fraga, que jogou a cotação do dólar nas alturas e quase explodiu com a economia brasileira.
Primeiro, Armínio criou o sistema de pagamento eletrônico, que passou a medir de forma muito mais intensa os movimentos de juros intrabanco e as cotações dos títulos do Tesouro. Depois, introduziu o sistema de “marcação a mercado” – pelo qual os fundos tinham que contabilizar diariamente suas cotas pelo valor de negociação dos títulos a cada dia.
Exemplo pequeno:
·       um título vale 100 no momento de resgate; a taxa de juros do mercado está em 10%. Logo o valor presente do título é 90,9. Ou seja, se alguém comprar por 90,9 e levar até o dia do vencimento, receberá os 100.
·       ai a taxa aumenta para 15%.  Imediatamente o valor a mercado do título cairá para 86,8 – para garantir os 15% de juros no vencimento.
Mesmo que os fundos levassem os títulos até o vencimento, para receber os 100, a nova regra obrigava-os a remarcar o valor da cota de acordo com o valor de negociação diária dos títulos.
Finalmente, lançou uma operação desastrosa de vender títulos pré-fixados amarrados a hedge cambial – visando empurrar goela abaixo do mercado os pré-fixados, em uma atitude de um voluntarismo tal que nada fica a dever às medidas de Dilma Rousseff, e muito mais ruinosa.
Os investidores passaram então a comprar o pacote, a ficar com o hedge e a desovar os pré-fixados no mercado. Esses títulos eram uma parcela ínfima do estoque de pré-fixados do mercado. Mas o valor das cotas de todos os papéis dependia das negociações diárias.
Quando os pré-fixados foram desovados no mercado, houve queda de sua cotação e imediatamente todos os fundos que tinham pré-fixado em carteira foram obrigados, pela marcação a mercado, a desvalorizar o valor de sua cota. Da noite para o dia, investidores se deram conta de que havia caído o saldo de suas aplicações nesses fundos.
Foi um pânico generalizado no mercado, que ajudou a fortalecer o falso temor de que, eleito, Lula confiscaria a poupança.
Foi uma barbeiragem tão grande que em muitas cabeças passou a impressão de ter sido intencional, para espalhar o temor nas eleições que se avizinhavam.
As medidas posteriores foram mero paliativo para impedir que a economia explodisse nas mãos de FHC como consequência dessa barbeiragem.
2.     Sustentou mundo afora que não haveria perigo de irresponsabilidade de Lula, pois as leis e cultura haviam mudado.
FHC baseia-se em uma versão falsa de ter conduzido a aproximação de Lula com o governo Bush Jr, versão devidamente desmascarada aqui por pessoas que participaram diretamente das reuniões prévias entre as equipes de Bush e de Lula. O principal homem de FHC em Washington, embaixador Rubens Barbosa, sempre acenou com fantasmas para o Departamento de Estado norte-americano.
3.     Pediu empréstimo ao FMI, com previa anuência dos candidatos.
Mas é óbvio que o FMI só emprestaria com aval do futuro presidente. Não se tratou de concessão, mas de um ato de moratória, quatro anos após o anterior, devido ao fato de adiar a tomada de medidas urgentes para não atrapalhar as eleições - prática que ele aponta em Dilma, em seu artigo.
FHC termina o artigo prevendo tempos duros, de autoritarismo e repressão.
E conclui: “Vejo fantasmas? Pode ser, mas é melhor cuidado do que não lhes dar atenção”.
É por essas e outras que jamais será a figura referencial que poderia ter sido, depois de deixar o poder.
Comprova o pior receio de Sérgio Motta quando, pouco antes de morrer, mandou um bilhete implorando: “Não se apequene”.

Bêbado de novo, ou "tá ventando"?

https://www.youtube.com/watch?v=VDzZnDMyEGY#t=66

Samba do Samba do aécioporto

O encontro de dois escândalos

POR LEONARDO DUPIN*
Uma distância de apenas 14 quilômetros separa os dois escândalos recentes da política nacional que envolvem dois senadores por Minas Gerais, o ex-presidente do Cruzeiro, Zezé Perrela (PDT) e o candidato a presidente Aécio Neves (PSDB).
A pista de pouso e decolagem construída durante o governo de Aécio Neves em Cláudio, no Centro-Oeste mineiro, em um terreno que pertenceu a fazenda do tio avô do candidato tucano fica distante 14 quilômetros de Sabarazinho, um povoado de Itapecerica, também no Centro-Oeste Mineiro, onde o helicóptero da empresa Limeira Agropecuária, da família do senador Zezé Perrela, fez uma parada para reabastecimento carregado com 445kg de pasta base de cocaína, em novembro do ano passado.
A parada em um ponto de Sabarazinho aconteceu três horas e meia antes da apreensão da aeronave por policiais militares e federais em um sítio em Afonso Cláudio, no Espírito Santo. O valor da carga é estimada em R$ 10 milhões, podendo multiplicar por dez com o refino. Segundo o inquérito da PF, o carregamento foi feito em Pedro Juan Cabalero, no Paraguai, e tinha como possível destino Amsterdam, na Holanda, o que configura tráfico internacional.
No dia 20 do mês passado, reportagem do jornalista Lucas Ferraz, da “Folha de S.Paulo”, revelou que Aécio Neves construiu a pista na fazenda que pertenceu a seu tio-avô, além de ficar próxima a uma propriedade da família do candidato.
Na última semana, Aécio Neves admitiu que já usou a pista, mesmo o espaço ainda não tendo sido homologado pela Agência Nacional de Aviação Civil.
O investimento do governo mineiro para a construção da pista foi de R$ 14 milhões. Cláudio tem 25 mil habitantes e está distante 50 quilômetros de Divinópolis, onde já existia uma pista de pouso e decolagem.
O cruzamento dos dois escândalos – do helicóptero e da pista – é comprovado pelos documentos considerados sigilosos do inquérito da Polícia Federal (PF), que este repórter teve acesso.
A PF constatou, com base no rastreamento do GPS do helicóptero e nas anotações do plano de vôo dos pilotos, ambos apreendidos e examinados pela perícia técnica, que o helicóptero carregado com quase meia tonelada de pasta base de cocaína parou em um ponto próximo ao povoado de Sabarazinho.
Segundo o inquérito da PF, no dia 24 de novembro de 2013, às 14h17, aproximadamente três horas e meia antes do helicóptero ser apreendido pela polícia no município de Afonso Cláudio, no Espírito Santo, a aeronave ficou parada por trinta minutos numa fazenda do povoado, onde duas pessoas aguardavam o pouso com galões de combustível.
A localidade fica a 14 quilômetros da pista de Cláudio e também das fazendas da família Tolentino, onde nasceu Risoleta Neves, esposa de Tancredo Neves e avó de Aécio Neves.
O município de Cláudio chega, inclusive, a ser citado no inquérito na análise das mensagens telefônicas dos pilotos, que foram captadas pelas Estações de Rádio Base (ERB), que são os equipamentos que fazem a conexão entre os telefones celulares e a companhia telefônica.
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Mapa mostra distância entre a pista de pouso e o local em que o helicóptero parou para reabastecimento
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Detalhe do inquérito da PF, com o local de parada do helicóptero em Sabarazinho
Suspeita que não foi desvendada
O helicóptero foi apreendido no dia 24 de novembro. Três dias depois, 27 de novembro, após a apreensão ganhar destaque na mídia, o proprietário da terra fez uma denúncia para a Polícia Militar de Divinópolis. Segundo a PM, tal denúncia foi feita de maneira “anônima”.O proprietário afirma que avistou um helicóptero sobrevoando a região em baixa altitude e depois encontrou em suas terras 13 galões, de 20 litros cada, com substância semelhante a querosene.
Como o Boletim foi realizado após a apreensão do helicóptero, o delegado da Polícia Federal em Divinópolis, Leonardo Baeta Damasceno, afirma no inquérito não descartar o envolvimento de pessoas da região e recomenda como imprescindível uma diligência sigilosa no local, para saber quem são o dono do terreno e as pessoas que tem livre acesso ao local.
Porém, ainda de acordo com o inquérito que esse repórter teve acesso a diligência não foi realizada. Em outra página do inquérito, o proprietário é inocentado sem explicação convincente, dessa vez por documento assinado pelo agente da PF, Rafael Rodrigo Pacheco Salaroli, que afirma: “A total isenção da propriedade e de seu proprietário na empreitada criminosa, restando, portanto, a terceiros sem ligação com o local, a atuação delituosa de reabastecimento da aeronave”.
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Trecho do inquérito descartando a investigação no local do abastecimento em Sabarazinho
Parente é serpente
Tancredo Aladim Rocha Tolentino é primo de Aécio Neves e filho de Múcio Guimarães Tolentino, o tio-avô do candidato tucano que teve a terra desapropriada para a construção da pista em Cláudio. Quêdo, como é conhecido, é o responsável, segundo o jornal Folha de São Paulo, por controlar a chave do aeroporto público de Cláudio, que fica distante seis quilômetros da fazenda frequentada por Aécio Neves.
Em 2012, Quêdo tentou se candidatar a prefeito de Cláudio, mas foi impedido pela lei da Ficha Limpa devido a pendências judiciais. Meses antes, Quêdo foi preso na operação “Jus Postulandi”, da Polícia Federal, por participar de uma quadrilha especializada na venda de habeas corpus para traficantes de drogas.
Quêdo, segundo a denúncia, fazia a intermediação do negócio. Ele recebia a quantia, que variava entre R$ 120 mil e R$ 240 mil dos traficantes, ficava com uma parte do dinheiro e repassava o restante ao desembargador Hélcio Valentim, que determinava a expedição de alvará de soltura dos presos.
Em três casos descritos na denúncia realizada pelo subprocurador-geral da República Eitel Santiago, as liminares foram negociadas para favorecer presos por tráfico de drogas. Um dos beneficiários foi preso em flagrante, em julho de 2010, num sítio do distrito de Marilândia, também pertencente a Itapecerica, com cerca de 60 quilos de pasta-base de cocaína.
O processo será julgado no STJ e Quedo responderá por formação de quadrilha e três vezes por corrupção, duas delas “ativa qualificada”.
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Trechos da denúncia do procurador Etiel Santiago, que acusa o primo de Aécio Neves de participar de uma quadrilha de venda de habeas corpus para traficantes de drogas
* Leonardo Dupin é jornalista e doutorando em Ciências Sociais na Unicamp.
http://blogdojuca.uol.com.br/2014/08/o-encontro-de-dois-escandalos/