domingo, 8 de julho de 2012

1932: a guerra de 80 anos que ainda não acabou



1932: a guerra de 80 anos que ainda não acabouFoto: Edição/247

NO 9 DE JULHO, SÃO PAULO COMEMORA OITO DÉCADAS DE SUA “REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA” CONTRA GETÚLIO VARGAS. UM MOVIMENTO QUE LULA DEFINIU COMO “GOLPE” E QUE JOSÉ SERRA, COMO GOVERNADOR, TENTOU RESGATAR. AFINAL, QUEM TEM RAZÃO?

08 de Julho de 2012 às 19:27
Leonardo Attuch _247 – Eis algumas perguntas intrigantes para um forasteiro, como eu e milhões de brasileiros, que constrói sua vida em São Paulo:
1) Por que não há, na capital paulista, ao contrário das outras capitais metrópoles, uma única rua ou avenida que homenageie Getúlio Vargas?
2) Por que depois de Júlio Prestes, eleito presidente em 1930, mas não empossado, nenhum outro paulista conseguiu tal feito? (Jânio Quadros nasceu no Mato Grosso e Fernando Henrique Cardoso no Rio de Janeiro)
3) Por que na bandeira paulista há a inscrição “Non Ducor, Duco” (Não sou conduzido, conduzo)?
4) Por que a data mais importante de São Paulo, o Nove de Julho, celebra um movimento que poderia ter separado o estado do restante do País?
5) Afinal, a revolução constitucionalista de 1932 foi um movimento em defesa da democracia ou uma tentativa frustrada de golpe, arquitetada pelas oligarquias cafeeiras de São Paulo, que se sentiam ameaçadas pela Revolução de 1930?
Essas perguntas podem parecer distantes, mas, até hoje, ecoam na política brasileira.
Sim, estão mais presentes do que se imagina. Dias atrás, ao iniciar sua corrida pela prefeitura de São Paulo, José Serra não falou absolutamente nada sobre a cidade que pretende comandar. Tratou sua eventual vitória como uma batalha democrática a ser vencida. “O que acontecer em São Paulo é fundamental para o que vai acontecer no Brasil”, disse Serra. “O que está em jogo aqui é o futuro de um sistema democrático, republicano, que respeita as oposições, que respeita a democracia, que respeita a liberdade de imprensa. A nossa vitória aqui significa afirmar a luta democrática do povo brasileiro”.
O Brasil vive hoje sua plenitude democrática, nunca tantos se expressaram como agora, mas o discurso das oposições, frequentemente, trafega pela defesa de uma liberdade, que não está ameaçada. De todo modo, Serra se coloca como um dos heróis de 1932, que estão homenageados no Obelisco do Ibirapuera, porque se levantaram e pegaram em armas para enfrentar Getúlio Vargas.
São Paulo não gosta de Getúlio. E, de certa forma, também rejeita o chamado “lulismo”. Por quê? Certa vez, fiz essa pergunta ao economista Delfim Netto. E ele, com a fina ironia de sempre, respondeu: “Os paulistas nunca perdoaram o bem que Getúlio fez por São Paulo”.
Em 1959, Delfim Netto publicou um trabalho chamado “O problema do café no Brasil”, considerado um clássico da historiografia econômica. Delfim demonstrou que a economia cafeeira era intrinsicamente geradora de instabilidades cambiais. E quem começou a libertar o Brasil desses ciclos foi justamente Getúlio Vargas, ao impulsionar o processo de industrialização do País.
Se os paulistas rejeitam Getúlio e o “lulismo”, o ex-presidente também tem um caso mal resolvido com São Paulo. Depois de cumprir seus dois mandatos na presidência da República, Lula quer porque quer tomar a principal cidadela tucana no País. E sempre fez de Getúlio seu principal referencial – mesmo em imagens oficiais, como aquela em que sujou as mãos de petróleo. Se Fernando Henrique tomou posse prometendo enterrar a era Vargas, Lula tratou de resgatá-la.
Ao abordar o Nove de Julho de 1932, Lula tratou a data que os paulistas chamam de revolução como golpe. “Lamentavelmente, uma parte da elite brasileira, inclusive uma parte da elite intelectual, inconformada porque não conseguiu ganhar o golpe de 32... que chama de revolução, mas aquilo foi uma tentativa de golpe [...] não se conforma... [então] é muito triste, aqui em São Paulo a gente não encontra uma rua com o nome de Getúlio Vargas", disse o ex-presidente, em 2010, ao inaugurar um auditório do Sindicato dos Metalúrgicos em homenagem a Getúlio.
José Serra, naturalmente, pensa de forma oposta. Como governador de São Paulo, publicou, pela Imprensa Oficial, um livro do historiador Marco Antônio Villa – um dos maiores críticos do ex-presidente Lula – que resgata o movimento de 1932 e até mesmo um livreto em quadrinhos para distribuição nas escolas. Anos atrás, também publicou um artigo na Folha de S. Paulo sobre o Nove de Julho, onde se lê:
A participação da juventude dava ao movimento um ar de esperança na construção de um país democrático. Mais uma vez, estava sendo jogada a sorte do Brasil. Após a independência e a República, o desafio era o compromisso intransigente e inegociável com a democracia.
Enganam-se os que imaginam que recordar 1932 é simplesmente remexer no velho baú da história. É muito mais que isso: é uma bela data da história do Brasil e de São Paulo. Seus sinônimos são a liberdade, o voto secreto, a eleição livre, a independência dos três Poderes, a Constituição.”
José Serra talvez não sonhe mais com a presidência. Talvez seja um Júlio Prestes redivivo, que não chegou lá por ter sido traído pelos mineiros (leia-se Aécio Neves). Afinal, muitos historiadores avaliam que a política do café com leite foi rompida porque os mineiros se aliaram aos gaúchos na Revolução de 1930. E, dois anos depois, teriam deixado os paulistas sozinhos no combate contra as forças getulistas.
Lula, que se vê como herdeiro de Getúlio, talvez volte em 2018, ou mesmo em 2014, caso Dilma decida não concorrer à reeleição. Se isso ocorrer, mesmo que em eleições livres, podem escrever: as forças de São Paulo, lideradas por nomes como Reinaldo Azevedo e Augusto Nunes, pegarão em armas para defender a ordem constitucional. Golpe ou revolução?


Intervenção de Kassab cria duas baixas no PSD



Intervenção de Kassab cria duas baixas no PSDFoto: Edição/247

SENADORA KÁTIA ABREU (TO) DIZ QUE ABRIRÁ DISSIDÊNCIA NO PARTIDO SE FOR CONFIRMADO O APOIO A PATRUS ANANIAS (PT) EM BELO HORIZONTE, DECIDIDO PELO PREFEITO PAULISTANO GILBERTO KASSAB; EX-DEPUTADO, EX-MINISTRO E ATUAL VICE-PRESIDENTE NACIONAL FERNANDO BRANT VAI ALÉM E ANUNCIA DESFILIAÇÃO

08 de Julho de 2012 às 18:33
Minas 247 - Mal foi criado e em sua primeira eleição, o PSD do prefeito paulistano Gilberto Kassab já enfrenta sua primeira e séria crise interna. A origem dela é Belo Horizonte, onde o partido vive impasse pelo apoio às duas principais candidaturas: a do ex-ministro Patrus Ananias, pelo PT (com apoio do PMDB) e a do atual prefeito, que tenta a reeleição, Marcio Lacerda, do PSB (com apoio do PSDB).
Tudo parecia encaminhado quando, na última quarta-feira, o presidente nacional do PSD, o prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, anunciou o apoio a Patrus. A operação contou com a ajuda da presidenta Dilma Rousseff, que conversou com Kassab e pediu o apoio ao petista. O tucano José Serra, candidato à vaga de Kassab este ano (com apoio do prefeito paulistano) também auxiliou na operação - Serra é adversário interno do senador Aécio Neves no PSDB.
A bancada mineira de deputados pessedistas não aceitou a ação de Kassab, classificando-a como intervenção. Mas o auge do conflito no novo partido veio este fim de semana. A senadora Kátia Abreu, de Tocantins, uma das fundadoras e entre as principais lideranças do PSD anunciou que abrirá dissidência se o apoio a Patrus for confirmado. “Se ocorrer a intervenção em BH, eu abro dissidência”, diz ela.
O PSD está inscrito no TRE nas duas coligações, a liderada pelo PT e também a do PSB. A disputa deverá ser decidida pela justiça eleitoral, mas a tendência é pelo apoio a Patrus, já que veio da executiva nacional da legenda.
Kátia Abreu negou que pode deixar o PSD por conta disso, embora diga que lutará pela “democracia partidária”. O mesmo não se pode dizer do vice-presidente nacional do partido, o ex-deputado federal e ex-ministro Fernando Brant. Alegando que a atuação de Kassab foi um “ato truculento”, ele deixou a direção partidária e anunciou a desfiliação do PSD. “Como é que o prefeito de São Paulo desembarca em Belo Horizonte para interferir na política mineira?”, questionou Brant. “Fiquei magoado e ferido como mineiro e dirigente do PSD porque não fui ouvido e BH não é moeda de troca.”

Tucano tentou orientar Gurgel contra Agnelo



Tucano tentou orientar Gurgel contra AgneloFoto: Edição/247

DOCUMENTO DA CPI REVELA QUE O DEPUTADO FERNANDO FRANCISCHINI (PSDB/PR) ARTICULOU MONTAGEM DE DOSSIÊ CONTRA O GOVERNADOR AGNELO QUEIROZ, DO DISTRITO FEDERAL, QUE SERIA ENTREGUE AO PROCURADOR-GERAL, ROBERTO GURGEL; DA TRAMA, PARTICIPARAM AINDA ARAPONGAS DE CARLOS CACHOEIRA E JORNALISTAS DE BRASÍLIA; ISENÇÃO POLÍTICA DE GURGEL É COLOCADA EM XEQUE

08 de Julho de 2012 às 15:33
247 – O site Conversa Afiada, do jornalista Paulo Henrique Amorim, publicou, neste domingo, um documento ainda inédito da CPI do caso Cachoeira, que cita o procurador-geral da República, Roberto Gurgel (leia aqui).
São conversas que envolvem o deputado Fernando Francischini (PSDB-PR) e o araponga Idalberto Matias, o Dadá, além de personagens conhecidos da política brasiliense, como o ex-senador Alberto Fraga, do DEM, e os jornalistas Edson Sombra e Mino Pedrosa. Ambos, críticos ferozes da gestão de Agnelo Queiroz, do PT, no governo do Distrito Federal.
Já se sabia que Francischini pensava em mudar seu domicílio eleitoral do Paraná para Brasília, onde concorreria ao GDF em 2014 – a revelação foi feita, aqui, no 247. A novidade é que, pela primeira vez, há grampos que citam o nome do procurador-geral da República, Roberto Gurgel.
Nos diálogos, interlocutores de Dadá articulam para que Gurgel apresente denúncia contra Agnelo Queiroz. O trabalho do grupo envolvia, ainda, a publicação de notícias em blogs políticos de Brasília contra o governador.
Num email interceptado pela Polícia Federal, Alberto Fraga sugere a Edson Sombra que fale com Mino Pedrosa para maneirar as denúncias contra Agnelo, para não prejudicar o trabalho do procurador-geral. “Você tem que falar com o Etelmino para ele ir com calma. Pois todo esse alvoroço pode até atrapalhar o trabalho que o Gurgel está fazendo junto com o Francischini”.
No início do ano, o deputado tucano denunciou, na revista Veja, a existência de uma central de grampos, no governo do Distrito Federal, contra adversários políticos de Agnelo Queiroz. Ele estaria entre os alvos, assim como os jornalistas Edson Sombra e Mino Pedrosa. Em abril, Francischini disse até que pediria a prisão do governador do Distrito Federal.
O que o documento publicado neste domingo revela, no entanto, é bem diferente. Era Francischini quem tramava com Dadá, Carlos Cachoeira, Alberto Fraga e blogueiros de Brasília a queda do governador. O que ainda não se sabe é qual era o grau de envolvimento do procurador Gurgel na trama.

Supremos momentos


Têmis, a deusa mitológica da Justiça, sempre desfrutou de grande prestígio. Dante lembrou-se dela no Purgatório. Ovídio, na Metamorfose, contou em poema épico a solução do oráculo para Pirra e Deucalião povoarem o planeta devastado pelo Dilúvio Universal. Assim, os dois saíram a atirar, sem olhar para trás, pedras que se transformavam, ao tocar o solo, em mulheres e homens, conforme lançadas pelo casal.
Foto: José Cruz/ABr
A venda nos olhos de Têmis foi colocada por artistas alemães da Idade Média, como lembra o jurista Damásio de Jesus e para simbolizar a imparcialidade. No Brasil, seria melhor termos uma Têmis de olhos bem abertos e com representantes no Supremo Tribunal Federal (STF), com mandato improrrogável de cinco anos. Como ironizou Mario Quintana, o poeta das coisas simples: “A Justiça é cega e isso serve para explicar muita coisa”.
A propósito, o STF, nos últimos 40 anos, condenou à pena de prisão fechada apenas um deputado, e ele era do baixo clero: Natan Donatan (PMDB-RO). Em 2 de agosto, começará o julgamento do processo criminal que ficou conhecido por mensalão, com 38 réus, 234 volumes, 495 anexos e 50.119 páginas. Têmis estará lá, entronizada que foi na parte externa da sede do Pretório, com venda nos olhos e de costas para os 11 julgadores.
O nome “mensalão” completou sete anos de idade e restou cunhado pelo então deputado e delator Roberto Jefferson. Refere-se, conforme o Ministério Público Federal em denúncia apresentada e recebida pelo STF, a um esquema de compra, habitual e em dinheiro, de apoio de parlamentares e a envolver crimes de formação de quadrilha, peculato, lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta, evasão de divisas e corrupção ativa e passiva.

Jefferson, um dos réus, admitiu ter recebido 4,5 milhões de reais. Até hoje, ele não declinou, de modo a conferir impunidade, os nomes dos parlamentares do seu partido político e para os quais repassou o dinheiro. Talvez pelo silêncio com relação aos seus, Jefferson, um varão de Plutarco às avessas, mantém-se como presidente do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). A propósito, ele contou ter embolsado vivos 4 milhões de reais e o restante mandou seu motorista buscar no restaurante do Banco Rural.
O ministro Ayres Britto, presidente da Corte excelsa, quebrou lanças para tentar julgar o caso antes de se aposentar em 18 de novembro próximo. No momento, os ministros do STF gozam férias e Brito tentou suspendê-las para poder antecipar o julgamento. Apesar do recesso e movido pela preocupação de uma quase certa falta de tempo para se colher o voto do ministro Cezar Peluso, que se aposenta compulsoriamente em 3 de setembro, o presidente Britto tenta mudar o cronograma já divulgado. Ele trabalha, junto aos seus pares, para marcar três sessões semanais e apressar a solução final.
De olho num desgaste de adversários em período eleitoral, muitos aplaudem a pressa de Britto. Lógico, se esquecem da lentidão do processo chamado “mensalão tucano”. Na verdade, e a Têmis bem sabe, o julgamento açodado compromete o processo justo. A pressa jamais pode ser o objetivo principal em um julgamento.
No caso do “mensalão”, os ministros realizaram, sem ouvir os advogados constituídos pelos réus, uma divisão de tempo para a sustentação oral em plenário da Corte e o acusador ganhou prazo maior. Dessa maneira, os ministros transformaram o poder discricionário em puro arbítrio.
Diante desse quadro e com dois ministros impedidos por flagrante parcialidade (Gilmar Mendes e Dias Toffoli), surgirão incidentes processuais que poderão furar o cronograma. E até impossibilitar, pelo decurso do tempo, o voto de Peluso, ainda que se cogite de antecipar o voto, depois dos lançados pelo relator e o revisor.
Nada justifica tal apressamento, e aqui cabe um data venia em homenagem a Ayres Britto. Em clima impróprio por pressões e cúmulos de interesses variados, o julgamento poderá transmudar-se de técnico para político. O STF, diversas vezes, optou por decisões políticas. Por exemplo, ao decidir pela legitimidade da denominada lei da anistia, aprovada por Parlamento biônico e cunhada pelos militares para garantir a impunidade em face de consumados crimes de lesa-humanidade, os ministros,  por maioria e conduzidos pelo voto de Eros Grau, deram uma decisão política, além de canhestra.
Numa apertada síntese, deveria ser esquecida a pressa e se focar no fazer Justiça no melhor dos climas. Peluso, que é homem honrado e que  nunca tirou coelho de cartola,  deveria pendurar a toga na volta do recesso pela razão de não poder, colhido pela aposentadoria, acompanhar o voto dos demais.
Até o final do julgamento, o julgador pode se retratar diante dos argumentos apresentados nos votos dos demais. Se Peluso votar e cair fora, será vencido, e aqui cabe outro data venia, pela soberba. Com dez ministros (contando Mendes e Toffoli) e empate, vai valer o in dubio pro reo, pois todos são presumidamente inocentes.

Um ministro camarada



De 81 processos envolvendo políticos, Dias Toffoli deu voto 

favorável a eles em 53 casos. O ministro também é crítico da lei da 

Ficha Limpa e permitiu que candidatos com contas reprovadas 

pudessem disputar eleições

Izabelle Torres
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COLEÇÃO FAVORÁVEL
Análise das decisões de Toffoli mostra sua indisposição em condenar políticos
Ex-advogado do PT e advogado-geral da União no governo Lula, o ministro Antonio Dias Toffoli chegou ao Supremo Tribunal Federal em outubro de 2009, na condição de mais jovem membro da corte. Nos últimos meses, com a proximidade do julgamento do mensalão, a relação íntima de Toffoli com o mundo político vem sofrendo ressalvas de procuradores e até de seus próprios pares no STF. Pelo menos três ministros do tribunal, em conversas particulares, defendem que ele se declare impedido de participar da votação do processo do mensalão. Para avaliar as posições que o ministro tem assumido, ISTOÉ analisou 451 processos decididos monocraticamente por ele, que citavam parlamentares e integrantes das diferentes esferas do Executivo. O resultado é um mapa de boa vontade para com as autoridades. De 81 ações em que políticos constavam como principais acusados, Toffoli beneficiou os denunciados em 53 casos. Nenhuma denúncia em suas mãos virou ação penal, pelo menos nove inquéritos foram arquivados sob o pretexto de falta de provas e 11 foram mandados de volta à Justiça Comum. “Acho que a situação é bem complicada por conta dessa relação próxima que ele mantém há anos com o partido. Além disso, você tem aí uma série de decisões tomadas por ele que mostra, no mínimo, uma tendência nos julgamentos”, avalia o professor de direito constitucional da Universidade de Brasília (UnB), Menelick Carvalho. Toffoli tem meditado muito sobre o assunto, mas se mantém em silêncio. Ele poderá declarar-se impedido até a abertura do julgamento, prevista para o dia 2 de agosto.

O levantamento de ISTOÉ mostra que em casos de menor repercussão, sem a pressão o que cerca o julgamento do mensalão, o ministro tem sido francamente favorável aos políticos. Toffoli, por exemplo, decidiu sozinho suspender a investigação por crime de peculato contra o deputado federal Pedro Henry (PP-MT), acusado de ter contratado um piloto particular com dinheiro da Câmara dos Deputados. Os demais ministros acharam o arquivamento tão absurdo que cassaram seu veredicto em plenário. Toffoli também julgou pela rejeição de ações penais contra o deputado André Zacharow (PMDB-PR) e contra outros dois parlamentares cujos casos corriam em segredo de Justiça. Ele paralisou ainda as investigações contra o deputado estadual da Bahia Oziel Alves e devolveu o mandato ao deputado estadual no Amazonas Wilson Lisboa. E, com uma única canetada, travou as investigações criminais que corriam no Ministério Público do Paraná sobre o escândalo dos “Diários Secretos” da Assembléia Legislativa.
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BENEFICIADOS
Toffoli decidiu a favor do senador Jader Barbalho (acima)
e foi o único a votar pelo fim da prisão de Arruda (abaixo)
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Esta sequência de pareceres isolou Toffoli dentro do próprio Supremo. Ministros ouvidos por ISTOÉ avaliam que ele ainda não conseguiu se desvencilhar das simpatias partidárias. “Ele deveria se declarar impedido de realizar vários julgamentos dos quais participou”, avalia um ministro do STF. Das 451 decisões monocráticas, por exemplo, em apenas uma ele se colocou sob suspeição. “O juiz tem o compromisso de se autoavaliar. Tem o dever de julgar apenas casos com condições de ser realmente imparcial. É uma tarefa que a experiência ensina e alguns demoram a aprender”, comenta um antigo integrante da corte. “As paixões precisam abandonar nosso corpo quando assumimos a função de ministro. Nunca fiz levantamentos sobre como meus colegas decidem. Mas cada um tem um perfil e isso aparece nos votos”, avalia outro colega de Toffoli.
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A ligação de Toffoli com o mundo político também se reflete nos julgamentos em plenário. Durante a apreciação de processos, o ministro defende a liberdade de acusados e critica abertamente propostas importantes como a Lei da Ficha Limpa. Nessa toada, reformulou decisões do Tribunal Superior Eleitoral que negavam registros de candidaturas a quem respondia a processos na Justiça. Na contramão do entendimento de outros ministros do STF, Toffoli rejeitou as duas ações apresentadas por parlamentares que tentavam impedir a posse dos senadores Jader Barbalho (PMDB-PA) e Cássio Cunha Lima (PSDB-PB). Ambos foram enquadrados na Ficha Limpa. O ex-advogado-geral da União, em sua curta trajetória no Supremo, também beneficiou governadores. Aceitou os argumentos para manter a aposentadoria vitalícia de governadores de Mato Grosso e foi o único ministro da corte a votar o fim da prisão preventiva do então governador do Distrito Federal José Roberto Arruda, que caiu na operação Caixa de Pandora em 2010. Ironicamente, outros ministros do STF já chamam as decisões de Toffoli de “votos camaradas”. 
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Fotos: Joédson Alves e Adriano Machado/Ag. Istoé; Divulgação

Trabalhismo papa-tudo



Interessado em administrar quase R$ 300 milhões em títulos de 

loteria, PTB pressiona e consegue derrubar o responsável pela 

liquidação da Interunion Capitalização

Claudio Dantas Sequeira
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PRESSÃO
Desde 2010, o PTB pressiona para substituir o liquidante da Interunion. Ofensiva teria partido do
deputado Jovair Arantes (abaixo), ligado ao presidente da sigla, Roberto Jefferson (acima).
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Na quinta-feira 5, o responsável pela liquidação dos bens da Interunion Capitalização, José Emílio Quintas, foi demitido. Por trás de sua saída está o PTB, que deseja colocar alguém de sua confiança no cargo. O partido quer a todo custo controlar o que considera uma verdadeira “mina de ouro”. No cargo desde 2007, o liquidante descobriu nos livros contábeis da Interunion mais de R$ 260 milhões em títulos do Papa-Tudo, loteria controlada pela corretora Interunion, que nunca foram resgatados por seus compradores. Há também uma disputa judicial com a Vale do Rio Doce, que poderia render mais meio bilhão de reais para o grupo. “Os ex-controladores têm esperança de colocar as mãos nesse dinheiro”, acusa Emílio Quintas. 

O agora ex-liquidante da Interunion se refere ao empresário Artur Falk, que responde na Justiça por crime contra o sistema financeiro nacional. Segundo apurou ISTOÉ, Falk firmou um acordo de cavalheiros com a cúpula do PTB. A articulação foi costurada pelo presidente do Sindicato dos Corretores do Rio, Henrique Brandão, que é ligado ao presidente da sigla – Roberto Jefferson. Em troca de benefícios no processo de liquidação, Falk ajudaria financeiramente o partido, por meio de acordos com escritórios de advocacia. As pressões para trocar o liquidante da Interunion se intensificaram a partir de 2010, ano eleitoral. “Nunca sofri isso na minha vida profissional. Fiz a liquidação do Banco Nacional e a do BANERJ. Não havia essa interferência”, alega Quintas. 

Em 2010, o então chefe da Superintendência de Seguros Privados (Susep), ao qual a Interunion Capitalização está vinculada, Paulo dos Santos, foi chamado várias vezes no gabinete da liderança do PTB na Câmara para conversar com o deputado Jovair Arantes (GO). Participou de alguns desses encontros o deputado Nelson Marquezelli (SP). Apesar das pressões, Paulo dos Santos negou-se a atender os reiterados pedidos dos petebistas e acabou demitido do cargo. Um dos argumentos para trocar Quintas eram as ações que pesavam contra ele, tanto dentro da Susep como no Ministério Público e na Polícia Federal. Uma delas trata da venda do Hotel Nacional, que teria sido leiloado por preço abaixo do mercado para beneficiar o empresário goiano Marcelo Limirio, sócio do bicheiro Carlinhos Cachoeira. Desde então, nenhum outro bem da Interunion foi vendido. “É uma grande armação. A suspensão do processo é prova disso”, diz Quintas. Uma vez resolvidos débitos trabalhistas, a liquidação do grupo entrou na fase das pendências tributárias. Só depois será a vez dos credores, o que não inclui integrantes do PTB.

O rodoanel chega à CPI



Comissão convoca os ex-diretores da Dersa, Paulo Preto, e do 

DNIT, Luiz Antônio Pagot. O objetivo é esclarecer denúncia de 

desvios de recursos para campanhas do PSDB em 2010

Pedro Marcondes de Moura
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ACUSAÇÃO
Paulo Preto teria pressionado o ex-diretor do DNIT, Luiz Antônio Pagot,
a liberar aditivos irregulares para o Rodoanel
Integrantes da CPI do Cachoeira deram os primeiros sinais de sintonia com a opinião pública. Depois de mais de dois meses de sessões marcadas pelo silêncio e até pelo deboche de depoentes, os parlamentares aprovaram, na quinta-feira 5, uma série de convocações que poderão, finalmente, esclarecer como atuava a organização criminosa apontada pela Polícia Federal. Entre os chamados a depor está Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto. Quem também foi convocado a prestar esclarecimentos foi o ex-diretor do DNIT, Luiz Antônio Pagot. Em entrevista concedida à ISTOÉ em junho, Pagot disse que foi pressionado pelo governo de São Paulo, em 2010, a liberar aditivos irregulares a empreiteiras envolvidas na construção do eixo sul do Rodoanel. Entre elas, a Delta. De acordo com Pagot, empresários envolvidos no projeto lhe disseram que porcentagens das obras eram desviadas para as campanhas tucanas de José Serra e Geraldo Alckmin e para o prefeito Gilberto Kassab (PSD). Um dos que o teriam pressionado pela liberação dos recursos seria Paulo Preto, então diretor de engenharia da Dersa, empresa do governo paulista responsável pelo Rodoanel. 

O relator da comissão, deputado Odair Cunha (PT-MG), comemorou a convocação de Paulo Preto. “O Pagot imputa ao Paulo Preto a prática de um crime”, afirmou Odair. Paulo Preto ganhou notoriedade depois que a então candidata do PT em 2010 à Presidência da República, Dilma Rousseff, citou o suposto desvio de R$ 4 milhões do caixa de campanha de José Serra num debate televisivo. Segundo reportagem de ISTOÉ, baseada em depoimentos de integrantes da campanha tucana, o dinheiro teria sido arrecadado por Paulo Preto junto às empreiteiras e depois desaparecido. Outra importante resolução da CPI, durante a semana, foi a convocação de Fernando Cavendish, dono da Delta. Se abrir o jogo à CPI, Cavendish pode ampliar o alcance da investigação.
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A solidão do ocaso



Depois de ter sido um dos senadores mais poderosos, apontado 

como a voz da ética no Congresso, Demóstenes Torres 

experimenta o isolamento total da queda

Claudio Dantas Sequeira
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"Peço perdão pelos constrangimentos
que porventura causei Senador"

Demóstenes Torres, na segunda-feira 2, em pronunciamento
no plenário do Senado para apenas cinco parlamentares
O senador Demóstenes Torres passou o fim de semana preparando o discurso. Repassou cada frase minuciosamente, riscou palavras, grifou outras. Na segunda-feira 2, pouco depois das 15h30, começou a se preparar para deixar o gabinete de número 13, localizado no subsolo do Senado. Fez uma oração diante da pequena imagem de Santa Edwiges que tem em cima da mesa. Quando partiu rumo ao plenário, tinha a aparência tranquila, embora suas unhas, muito roídas, denunciassem o contrário. O senador deu-se conta de que nunca havia passado tanto tempo longe da tribuna. Exatos 118 dias, desde que fizera o primeiro discurso para se defender das acusações de envolvimento com a quadrilha do bicheiro Carlinhos Cachoeira. A partir dali foi massacrado por evidências que desconstruíram sua imagem de representante da ética e da moral política no Congresso brasileiro. O arauto da oposição contra a corrupção no setor público. Acostumado aos holofotes, sempre pronto para julgar os erros de colegas, ao subir à tribuna Demóstenes experimentou pela primeira vez a dura solidão do ocaso. No plenário não havia ninguém para ouvir o seu discurso. “Há quatro meses vivo um calvário sem trégua, sem sossego, sem paz. O que pesa é carregar, pelo isolamento dos corredores, os grilhões impostos pelos holofotes”, reclamou diante de poltronas vazias. Foram 20 minutos de discurso, em que fez 44 referências nominais de desculpas, além de incontáveis ataques à Polícia Federal e à mídia. “Peço perdão pelos constrangimentos que porventura causei”, desculpou-se Com exceção de alguns funcionários da Casa, apenas quatro parlamentares testemunharam suas desculpas. Um de seus antigos aliados, o senador tucano Álvaro Dias (PR), foi um dos que viraram as costas e só mais tarde soube dos pedidos de perdão feitos por Demóstenes. Mesmo com a repercussão negativa do discurso, Demóstenes ainda voltou à tribuna mais duas vezes durante a semana para se defender. E a defesa ganhou ares de despedida.
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CONVERSÃO
A mulher, Flávia, organiza rezas semanais na residência do casal
Nesta semana, os senadores lotarão o mesmo plenário para dar a palavra final sobre seu futuro. Não há esperanças de que escape da condenação política, mesmo que futuramente seja absolvido no processo que corre no Supremo Tribunal Federal. Embora não admita publicamente, o próprio Demóstenes dá indícios de que não acredita mais em sua absolvição no Senado. Nas últimas semanas, limpou as gavetas e retirou das paredes de seu gabinete várias fotos suas e pinturas, como uma tela de Siron Franco, um de seus artistas prediletos. Ele também já dispensou vários funcionários e assessores de confiança, mantendo apenas uma secretária, a chefe de gabinete e a assessora de imprensa, além de uma auxiliar de limpeza. Um dos primeiros assessores a ser dispensado foi Weber Magalhães, servidor de carreira que estava lotado em seu gabinete a pedido de Romero Jucá (PMDB-RR). Weber é presidente da CBF no Distrito Federal e muito ligado a José Carlos Feitoza, o Zunga, ex-secretário do governo Agnelo Queiroz. Além de começar a esvaziar o gabinete, Demóstenes viu diminuir o intenso movimento de jornalistas, lobistas e parlamentares que o procuravam diariamente. O telefone pouco toca. As raras visitas são de prefeitos de pequenas cidades do interior de Goiás, que passam por lá para prestar solidariedade. A maioria dos amigos de outrora se foi. Poucos políticos, como é o caso de Jucá, vizinho de gabinete e de bloco, ainda telefonam para Demóstenes. 

O senador, até então acostumado a uma vida social intensa, tem passado seus dias trancado em casa, isolado. Demóstenes abandonou totalmente os hábitos arraigados de estrela política. Deixou de frequentar restaurantes e coquetéis de embaixadas. Evita até reuniões na casa de amigos. Pouco viaja, ficando a maior parte do tempo em Brasília, no apartamento funcional do bloco C da quadra 309 ou no gabinete. Não recebe muitas visitas, apenas alguns poucos amigos promotores, procuradores e membros do CNJ. Evita aglomerações e tem o cuidado de entrar e sair pela garagem. Sempre pede comida por telefone, normalmente do restaurante Piantella, que pertence ao seu advogado, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay. Como o restaurante não oferece serviço de delivery, Kakay avisou a funcionários que deem tratamento exclusivo e prioritário para o senador, que não gosta de fazer refeições sozinho. Quem busca a comida é o motorista de Demóstenes que almoça junto com o senador e a assessora de imprensa. À noite, Demóstenes, que possui uma farta adega, sempre toma uma ou duas taças de vinho para conseguir dormir. Segundo Kakay, o senador não tem esbanjado em vinhos, preferindo rótulos acessíveis: “Demóstenes nunca me serviu um bordô”, diz o advogado.
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NOVO HÁBITO
O advogado Kakay é quem providencia o almoço de Demóstenes,
que tem saído pouco de casa e pede comida pelo telefone 
Nos últimos três meses, Kakay e Demóstenes dizem ter extrapolado a relação advogado-cliente, tornando-se amigos. Kakay montou em casa uma estrutura para Demóstenes poder estudar seu caso, avaliar as acusações do inquérito e o processo no Conselho de Ética, trabalhando em sua defesa com o apoio da equipe do advogado. Flávia, a mulher do senador, é uma figura sempre presente a seu lado. Ela toma as dores do marido diante das críticas da imprensa ou de políticos, especialmente vindas de antigos amigos que o abandonaram. “São uns traidores”, diz Flávia. Advogada de formação, a mulher de Demóstenes se dedica inteiramente à família e tem acompanhado o marido, seja em Brasília, seja em Goiânia. Cuidou dele especialmente nas semanas posteriores ao escândalo, quando o marido não conseguia dormir e parou de se alimentar. A depressão profunda, associada ao diabete, custou a Demóstenes uma internação num hospital de Brasília, para restabelecer os níveis de ferro no sangue. Religiosa, Flávia montou em casa um pequeno altar com imagens sagradas, pois deixou de ir à igreja com Demóstenes para evitar o assédio. O casal tem promovido correntes de oração toda semana. Esses encontros são normalmente comandados pelo irmão de Demóstenes, Benedito Torres, que, além de ser procurador-geral de Justiça de Goiás, é ministro da eucaristia da Paróquia Nossa Senhora Aparecida e Santa Edwiges. Benedito, em outubro passado, recebeu no Mosteiro de São Bento, em Salvador, o título de Cavaleiro Extraordinário do Santo Sepulcro de Jerusalém, que lhe havia sido concedido pelo Vaticano por indicação do padre Bernard Beshc. Demóstenes, que sempre foi mais cético, se agarrou à religião para atravessar o que ele chama de “pior momento de sua vida”. O que não mudou nos últimos tempos é que Demóstenes continua chamando a todos pela alcunha de “professor”. E ainda jura que desconhecia as atividades ilegais do bicheiro. Se for cassado, porém, pensa em advogar. “Nunca mais volto para a política”, garante.
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Juquinha na prisão



Denunciado por ISTOÉ, ex-presidente da Valec é preso pela PF em Goiás, acusado de chefiar uma quadrilha que desviou cerca de R$ 100 milhões dos cofres públicos

Alan Rodrigues
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DENÚNCIA
Em sua edição do dia 20 de abril de 2011, ISTOÉ antecipou que
Juquinha era o responsável por superfaturamento na Norte-Sul

Uma operação da Polícia Federal realizada na quinta-feira 5, batizada de “Trem Pagador”, levou para trás das grades dez integrantes de uma organização criminosa e apreendeu cerca de R$ 60 milhões em bens móveis e imóveis. O grupo é acusado de desviar recursos dos cofres da União a partir de licitações e concorrências fraudulentas na área de infraestrutura do governo federal. De acordo com as investigações, o esquema era chefiado por José Francisco das Neves. Conhecido como Juquinha, Neves é ex-presidente da Valec, empresa ligada ao Ministério dos Transportes que administra projetos gigantescos, como a Ferrovia Norte-Sul e o trem-bala. Segundo a Polícia Federal, Juquinha Neves é suspeito de ocultação e dissimulação da origem de dinheiro e bens imóveis, rurais e urbanos, adquiridos em seu nome e de familiares, com recursos obtidos indevidamente durante a gestão na Valec (2003 a 2010).

As investigações que conduziram à operação tiveram início em agosto de 2011, quatro meses depois que ISTOÉ revelou as irregularidades na gestão de Juquinha à frente da Valec. Após ser constatado superfaturamento das obras da Ferrovia Norte-Sul, conforme havia revelado ISTOÉ na ocasião, o MP fez um levantamento do patrimônio de Juquinha para confirmar as chances de ressarcimento dos danos. Durante a investigação, ficou provada a ascensão meteórica de Juquinha e seus parentes. O patrimônio imobiliário de Juquinha evoluiu de R$ 560 mil em 1998 para quase R$ 100 milhões em 14 anos, um crescimento espetacular de 18.000%. A PF comprovou que Juquinha comprava imóveis há mais de uma década e os registrava em nome de empresas e laranjas. 

A mulher de Juquinha, o filho e um sócio do filho também estão presos na Polícia Federal, todos acusados de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Somente com o serviço de terraplenagem e fornecimento dos dormentes, onde são colocados os trilhos da Norte-Sul, a quadrilha desviou, de acordo com a PF, R$ 40 milhões. Para a PF, Juquinha estava mesmo comendo bola.
http://www.istoe.com.br/reportagens/219984_JUQUINHA+NA+PRISAO

O mistério do brasileiro de US$ 100 milhões



Mãe, mulher e tio brigam por fortuna, enquanto polícia tenta 

desvendar o desaparecimento de milionário na Flórida

Natália Martino
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SUMIÇO
Guma Aguiar tem um histórico de internações psiquiátricas,
brigas familiares e devoção religiosa 
As câmeras de segurança da casa de Guma Aguiar, 35 anos, que fez fortuna explorando gás nos Estados Unidos, guardaram o registro do brasileiro partindo em sua lancha do seu pequeno porto particular, em Fort Lauderdale, na Flórida, Estados Unidos, às 18h57 da terça-feira 19 de junho. A embarcação foi encontrada planando vazia e ainda ligada na madrugada do dia seguinte. Já o empresário nunca mais foi visto. O caso é envolto em mistério. “Pode ter acontecido rigorosamente qualquer coisa. Ele pode estar vivo ou morto, pode ter se suicidado ou ter sido assassinado, não temos certeza de nada”, disse à ISTOÉ o tenente Frank Sousa, responsável pela investigação, que envolve um milionário com histórico de internações psiquiátricas, uma família em permanente disputa e uma fortuna avaliada em US$ 100 milhões. Apenas dois dias depois do sumiço do brasileiro, que morava nos EUA desde os 2 anos de idade, antes mesmo de a Guarda Costeira terminar as buscas pelo corpo, a mãe de Aguiar, a americana Ellen, que também mora na Flórida, já havia entrado com pedido na Justiça para receber toda a renda gerada pelo patrimônio do filho. Em seguida, a mulher dele, a também americana Jamie, com quem teve quatro filhos, fez ação semelhante. 

Na quinta-feira 28 de junho, a Justiça da Flórida determinou que uma empresa de administração de riquezas, a Northern Trust, cuidasse temporariamente da fortuna de Guma Aguiar, que ainda nem sequer foi considerado oficialmente morto. No dia seguinte à decisão, apoiada pela mãe e rejeitada pela esposa, o advogado da mulher de Aguiar, Bill Scherer, sugeriu em uma entrevista à rede de televisão americana ABC que o milionário poderia ter forjado o próprio desaparecimento com o apoio da mãe, para se livrar de problemas conjugais, uma vez que Jamie havia falado em divórcio pouco antes do desaparecimento. O tio e ex-sócio do brasileiro, Thomas Kaplan, irmão de Ellen, já havia entrado na Justiça para pedir a preservação de todos os registros eletrônicos de comunicação entre Guma Aguiar e sua mãe, motivado pela mesma suspeita. A família brigava pela fortuna do milionário bem antes de seu desaparecimento. Em março, ele cogitou transferir o controle de seus bens à mulher. Dois meses depois, mudou de ideia e transferiu os mesmos direitos à mãe. Em resposta, Jamie fez um pedido na Justiça para ter acesso à parte do lucro do marido semanas antes de seu desaparecimento.
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Essas querelas judiciais se tornaram constantes desde 2003, quando o brasileiro encontrou uma enorme reserva de gás natural no Texas (EUA). A descoberta foi financiada por seu tio Thomas Kaplan. A Leor Energy, empresa fundada por Kaplan e administrada por Aguiar para explorar o gás, foi comprada em 2007 por uma companhia canadense por mais de US$ 2 bilhões. Tio e sobrinho não conseguiram entrar em acordo sobre a divisão desse dinheiro e a história foi parar na Justiça. Kaplan já havia sido acusado pelo sobrinho várias vezes de tentativa de assassinato, ora por envenenamento, ora por tentar atirar nele de um helicóptero. Declarações como essas renderam a Aguiar o diagnóstico de severa psicose e distúrbio bipolar, o que levantou a hipótese de ele ter simplesmente pulado do barco. O milionário apresentou sintomas de problemas psicológicos outras vezes e chegou a ser internado, em 2010, em uma clínica psiquiátrica de Israel. No seu passado conturbado também constam prisões por posse de drogas e violência doméstica. Apesar desse histórico, ele nunca foi afastado do controle dos negócios, que tocava com a assessoria de dois rabinos. Desde os 26 anos, ele seguia os preceitos do judaísmo, a religião da mãe – o pai, o artista plástico brasileiro Otto de Souza Aguiar, morreu em 2006. Por conta de sua fé, fez doações milionárias ao Estado judaico, salvou da falência um tradicional time de futebol israelense e comprou vários imóveis no país. 

Enquanto a Justiça se encarrega de dizer quem vai controlar os US$ 100 milhões de Guma Aguiar, o Departamento de Polícia de Fort Lauderdale tenta desvendar os mistérios que envolvem seu desaparecimento. Depois de rastrear uma área de 3,9 quilômetros quadrados da costa durante 70 horas, a Guarda Costeira suspendeu as buscas pelo corpo, mas segue investigando as circunstâncias do sumiço. Dentro do barco em que o milionário foi visto pela última vez, ainda estavam seu celular e sua carteira, que a polícia deixou por dias com Ellen, a mãe do brasileiro, e posteriormente recolheu como provas. “Agora estamos verificando quais foram suas últimas chamadas para saber se conseguimos alguma pista do acontecido”, afirmou o tenente Frank Sousa. Enquanto o mistério não é resolvido, a família briga pelo que lhe parece mais importante: a fortuna de Guma Aguiar.
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Fotos: Tara Todras-Whitehill/AP Photo; Chris Bott/Splash News

O lado bom do aborrescente



Esqueça o que você ouviu falar sobre essa faixa etária. Pesquisas 

recentes derrubam os estereótipos e mostram que 80% desses 

jovens atravessam essa fase sem maiores percalços. Saiba como 

tirar proveito da adolescência e aprenda a superar os conflitos

João Loes
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MUDANÇA
As mentes ágeis e sedentas por novidades dos adolescentes
podem dar frutos tanto em casa quanto no ambiente de trabalho
Impulsivo, egoísta, inseguro. Inconsequente, irresponsável, instável. Questionador, teimoso, arrogante. Não é de hoje que esses adjetivos são usados para descrever os adolescentes. Há décadas, os jovens com idades entre 10 e 19 anos são vistos e compreendidos pela ótica dos estereótipos. “Tenho vontade de trancar meu filho no quarto e só tirá-lo de lá quando ele for adulto”, dizem alguns pais. “Lá vem o aborrescente”, falam outros. Pesquisas recentes, no entanto, têm mostrado que essa percepção negativa não condiz com a realidade. Os adolescentes podem até ser impulsivos e egoístas, questionadores e arrogantes. Mas são muito mais do que isso. “Durante anos, limitamos nosso entendimento dessa etapa ao que ouvíamos de psicólogos que tratavam jovens e famílias que buscavam ajuda profissional em momentos de crise”, explica o psiquiatra Laurence Steinberg, pesquisador da Temple University, nos Estados Unidos, uma das maiores autoridades mundiais quando o assunto é comportamento juvenil. “Agora, revendo dados sem nos limitarmos às famílias e aos jovens com problemas, percebemos que essa faixa etária é bem mais tranquila e produtiva do que os estereótipos nos faziam imaginar.”

Números levantados por um estudo conduzido pelos psiquiatras Daniel Offer e Kimberly Schonert-Reichl, das Universidades de Northwestern, em Chicago (EUA), e British Columbia, em Vancouver (Canadá), mostraram que 80% dos adolescentes passam pela fase sem maiores percalços. Ou seja, apenas um em cada cinco jovens com idades entre 10 e 19 anos apresenta comportamentos que já nos condicionamos a esperar deles (leia quadro com os cinco maiores mitos dessa faixa etária na página 56). “De maneira geral, esses jovens têm valores sociais bastante positivos”, reforça Stanley Kutcher, psiquiatra e pesquisador canadense conhecido internacionalmente por seus estudos do cérebro e do comportamento adolescentes. “No trato com os pais, a maioria também é bastante tranquila.”

A nova percepção tem relevância especial para o Brasil. Hoje, há cerca de 34,2 milhões de brasileiros com idades entre 10 e 19 anos, ou 17,9% da população total, segundo dados do Censo 2010. E mais, de acordo com cálculos do Unicef, fundo da Organização das Nações Unidas para a Infância, o País nunca mais passará por outro período com uma fatia tão grande de sua população composta por adolescentes. “Trata-se de uma oportunidade única”, afirma o psiquiatra Fabio Barbirato, coordenador do Departamento de Psiquiatria Infantil da Associação Psiquiátrica do Rio de Janeiro e coautor do livro “A Mente de seu Filho” (Ed. Agir, 2009). “Se os pais e educadores conseguirem colocar os estereótipos de lado, eles poderão administrar os aspectos negativos da fase com mais eficiência e capitalizar as qualidades que esse exército de jovens pode oferecer”, diz. Segundo Barbirato, características conhecidas da etapa, como impulsividade, desejo de mudança, curiosidade e até intransigência, quando bem administradas, podem empurrar famílias, culturas e nações para a frente.
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APRENDIZADO
Itamar e o filho, Hugo, 16 anos, e Cristina e a filha, Magê, 15: eles trabalham
com os pais e contribuem com sugestões para melhorar os negócios
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Na família paulistana dos Cechetto isso já está acontecendo. Itamar e Cristina, pais de Hugo, 17 anos, e Maria Eugênia, a Magê, 16, colocaram os filhos para trabalhar nos negócios do clã no começo de 2012. E os resultados da iniciativa têm sido ótimos. Cristina tem um salão de cabeleireiro e Itamar uma importadora e distribuidora de cosméticos. Os irmãos têm horários a serem cumpridos, tarefas diárias e salário correspondente ao tempo de serviço. A agilidade no aprendizado e a energia da adolescência já dão resultados. Hugo frequentemente palpita nos produtos da importadora e, como prêmio, acompanha o pai em viagens de negócios ao Exterior. Foi Hugo quem garantiu uma venda importante para a empresa. Numa reunião em que estava apenas como ouvinte, se arriscou e citou uma característica do produto da empresa até então esquecida por Itamar. O jovem lembrou que a alternativa deles era reciclável e não agredia o meio ambiente, ao contrário da solução proposta pela concorrência. “Foi o que selou o negócio”, diz o pai. Já Magê tem o hábito de sugerir melhorias que aumentam a eficiência do salão da mãe. Vendo que muitas clientes usavam o celular para tirar fotos do próprio cabelo depois de passar no salão, Magê decidiu criar uma conta do estabelecimento em uma rede de compartilhamento de imagens na internet. Com isso, os cabelos passaram a ser exibidos, mediante autorização das clientes, atrelados ao nome do salão. “Foi uma forma de aumentar a exposição do nosso trabalho”, diz Magê, que pretende ainda ampliar a presença do negócio nas redes sociais. “A agenda cheia que eles têm, com escola e trabalho, dá vazão à energia da fase”, diz Cris, mãe e chefe de Magê. “Talvez seja por isso que eles são mais tranquilos.” 

Mas as divergências e contratempos continuam existindo, mesmo em famílias que funcionam como um relógio suíço, como é o caso dos Cechetto. Um ano e meio atrás, por exemplo, Hugo estava desrespeitando horários, voltava para casa tarde demais, era repreendido e pouco ligava. Só entrou nos eixos depois de uma conversa séria com os pais e a inclusão do trabalho em sua rotina. “Hoje estamos vivendo uma espécie de lua de mel”, afirma o pai. Para os especialistas, a maturidade que Itamar demonstrou diante do tropeço do filho é a marca máxima da nova geração de progenitores que, esclarecidos, sabem reagir de forma controlada e pontual diante das intempéries naturais da adolescência. 

No cerne desse novo entendimento da adolescência está o convívio e o diálogo franco entre pais e filhos. Estão aí os novos estudos para comprovar essa tese. Um dos mais recentes, conduzido em 2011 pela Universidade Colúmbia, dos Estados Unidos, mostrou que jovens que jantam cinco vezes por semana com os pais têm duas vezes menos chance de se envolver com drogas, tabaco e álcool se comparados àqueles que não têm esse hábito. Esse mesmo grupo reportou ainda ter relação excelente com os pais em proporção três vezes superior aos que não gozam dessa rotina. “A mensagem é simples: o convívio e a conversa frequentes entre pais e filhos nessa fase têm valor incalculável”, afirma Eduardo Coutinho, psicólogo especializado em adolescentes e jovens adultos.
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CONVÍVIO
Na família de Sérgio e Branca Oliveira (acima), cada filho está em
uma fase da adolescência: Rachel, tem 10 anos, Sofia, 18, e Elias, 15.
Maria de Lucca, 15 anos (abaixo), dá vazão à energia em treinos de futebol
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Na casa da família Oliveira, no bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro, fica complicado juntar todo mundo para cinco refeições semanais. Mas o almoço que reúne a prole às 14h de domingo não falha. O esforço para estarem juntos é de todos. São quatro filhos, sendo três adolescentes e um jovem adulto, além da mãe, Branca Oliveira, 50 anos, e de Sérgio Naidin, 50 anos. Ele é pai de Rachel, a mais nova, e padrasto dos outros três. “A gente sente que nesses almoços fica claro para eles que estamos ali para o que der e vier”, afirma Naidin. À mesa sentam-se, além de Rachel, hoje com 10 anos, Elias, de 15, e Sofia, 18. Cada um está em uma fase distinta da adolescência. Rachel, por exemplo, no início da etapa, vem dando sinais cada vez mais claros de impaciência com a família. Já Elias, o do meio, tem questionado tudo – a começar pela religião dos pais, judeus, o que tem gerado problemas com a mãe. Por fim, Sofia, a mais velha dos três, parece estar inteiramente focada nos planos para a futura carreira como designer e estilista (leia quadro com comportamentos típicos de cada idade e como lidar com eles na página 54). “É uma fase cheia de delícias e preocupações”, afirma Branca.

“A novidade é que as delícias podem superar as preocupações se os pais forem mais compreensivos”, diz Barbirato. Um aliado nesse processo de aculturamento à adolescência é a escola. As mais modernas já entenderam que dar autonomia ao adolescente em vez de cortar suas asas pode ser mais proveitoso. “Falar em aborrescência hoje é falta de informação”, afirma Cristiano Wiik, psicólogo e coordenador pedagógico do ensino médio do Colégio São Luís, em São Paulo. Na escola que ele coordena, atividades como trabalho voluntário, campeonatos esportivos, ciclos culturais e festivais de música não são apenas oferecidos aos alunos. O formato dessas atividades, a escala que elas podem ganhar e os rumos que elas devem seguir passam, invariavelmente, pelo que quer o corpo estudantil. “O engajamento que propomos ao adolescente vai além da inscrição em uma atividade proposta pela coordenação pedagógica”, diz Francisco Eduardo Bodião, orientador educacional da Escola da Vila, também em São Paulo. “E temos visto que, quando damos espaço, os alunos se envolvem.”

Em casa, comportamento parecido, com pais que incluem os adolescentes em processos decisórios, também tem dado resultados satisfatórios. “E mais, a troca na hora da discussão tem grande valor para o jovem que está aprendendo a defender suas opiniões”, afirma o psiquiatra canadense Kutcher. Uma pesquisa de 2011 conduzida pela Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos, mostrou que em algumas discussões os pais podem ensinar mais aos filhos cedendo às suas argumentações do que as contrariando. “Assim, eles desenvolvem habilidades que os ajudarão a resistir às pressões negativas dos amigos”, afirma Joanna Maria Chango, coautora do estudo. Isso não quer dizer que pais devem ser os melhores amigos de seus filhos. Ou que sempre concordar com os adolescentes é sinal de que o discurso entre gerações está afinado. “Muitos preferem ser colegas a ser responsáveis porque é mais fácil, dá menos briga e aproxima”, explica Silvana Leporace, professora e coordenadora de orientação educacional do Colégio Dante Alighieri, na capital paulista. “Mas o pai é autoridade e o adolescente quer limites, mesmo que não articule esse desejo.” Ser o melhor amigo na hora de dizer não atrapalha e faz muitos pais não ser levados a sério.
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CHAVE
Para Francisco Eduardo Bodião (de barba), coordenador da Escola da Vila,
dar espaço e responsabilidades ao adolescente é o melhor caminho

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TRANSFORMAÇÃO
Guilherme Silva, 10 anos, está no começo da adolescência
e já trocou o “oi, tudo bem?” pelo “e aí mano, firmeza?”
E os limites são necessários nessa etapa. Ainda que ouvidos com mais atenção, ainda que mais conscientes e informados, ainda que com pais mais esclarecidos, os adolescentes sempre serão um grupo de risco. Essa é a fase de experimentações, com novos comportamentos, estilos, amigos e ambientes. É o momento dos riscos diante das drogas, do álcool e do cigarro. “O cérebro busca por novidades incessantemente”, diz Ann Hagell, psiquiatra e autora do livro “Changing Adolescence: Social Trends and Mental Health” (Policy Express, 2012, sem tradução para o português). O órgão está no auge de sua sensibilidade à dopamina e à oxitocina, hormônios neurológicos responsáveis tanto pelo prazer das recompensas quanto pelo rápido aprendizado. Ocupar esse cérebro é fundamental até para que ele desenvolva todo o seu potencial.

A paulistana Maria de Lucca, 15 anos, parece saber bem disso. Quando não está no colégio, está no clube, onde ocupa seu tempo com treinos de atletismo e futebol. Às quartas-feiras só sai de lá às 22h. Quando sobra tempo, vai ao cinema com as amigas e até arrisca uma balada. “Mas não volto tarde, pois de manhã cedo sempre tenho jogo ou treino”, diz a menina. Maria Célia de Lucca, que tem mais dois filhos também adolescentes, acha ótimo o ritmo de vida de Maria, a do meio. “Ela tem muita energia e felizmente encontrou uma boa forma de gastá-la”, afirma a mãe. Com a agenda corrida, Maria acaba mantendo contato com os colegas por meio do Facebook, onde tem 400 amigos. A mãe está sempre de olho e conta com a ajuda dos irmãos para que nada fuja do controle. “A internet sempre será um ambiente estranho para os adultos”, alerta Maurício de Souza Lima, médico hebiatra da Unidade de Adolescentes do Hospital das Clínicas de São Paulo. “Para todos os outros percalços da idade os pais têm repertório, para o trato com a tecnologia, não.” 

Na casa do paulistano Guilherme Gomes da Silva, de apenas 10 anos, os desencontros tecnológicos já começaram. Por enquanto, não por causa da internet, mas pelos games. O garoto prefere as disputas virtuais a praticamente qualquer outra atividade. “Ele também trocou o ‘oi, tudo bem?’, pelo ‘e aí, mano, firmeza?’”, diz a mãe, Angélica Gomes da Silva, 28 anos. O cabelo, antes com franja, agora vive espetado, moldado com gel. A cara emburrada também virou regra. “Começou a adolescência”, suspira Angélica. Se ela conseguir superar os preconceitos estabelecidos nas últimas décadas, os próximos nove anos da vida de Gui têm 80% de chance de ser muito prazerosos para ambos.
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Fontes: Fabio Barbirato, psiquiatra, coordenador do Departamento de Psiquiatria Infantil
da Associação Psiquiátrica do Rio de Janeiro e autor do livro “A Mente de seu Filho” (2009);
Caio Feijó, psicólogo da infância e da adolescência da Universidade Federal do Paraná (UFPR);
Ann Hagell, editora de “Changing Adolescence: Social Trends and Mental Health” (2012);
Stanley Kutcher, autor de “Parenting Your Teen” (2012) e “Teening Your Parent” (2012);
Laurence Steinberg, autor de “You and Your Adolescent: The Essential Guide for Ages 10 to 25” (2011);
Family Education Network; American Academy for Child and Adolescent Psychiatry

 
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Fotos: Bruno Fernandes e Pedro Dias/Ag. Istoé