quinta-feira, 28 de abril de 2011

Vídeo Incrível: Serra e Alckmin encontram-se na floresta.

Lula diz que não há divergências entre ele e Dilma, e no dia que houver é porque ela está com a razão.


Na abertura do 8º Congresso da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM-CUT), na quarta-feira (27), o presidente Lula foi recebido com o grito "olê, olê, olá, Lula, Lula"... e mostrou-se afiado no discurso e nas declarações:

Imprensa de "namorico" com Dilma para semear divergências

"Um setor da imprensa está de 'namorico' com o governo Dilma para causar divergência entre eu e ela... Não existe divergências, porque o dia que eu e ela discordarmos, ela está certa".

Contra noticiário terrorista, firmeza em Dilma e Mantega no controle da inflação

"Estão inventando inflação. Eu ontem vi um pronunciamento da Dilma e do Guido Mantega (ministro da Fazenda), e sinto toda a firmeza. Nós não vamos permitir que a inflação volte. Nós, não só eles; como consumidores somos responsáveis para que não volte", insistiu.

Fusão demo-tucana é que nem carrapicho

Peguntado, Lula evitou aprofundar sobre a possível fusão do DEMos com o PSDB, preferindo responder em tom de brincadeira, que ser de oposição é mais fácil de crescer, sem ter que gerar resultados no governo: - "Já fui oposição... é que nem carrapicho, cresce sem ninguém precisar plantar."

Ex-presidente tem que deixar o sucessor trabalhar... viu FHC?

Bem humorado, Lula brincou: "Ainda não 'desencarnei' (da Presidência) totalmente, como vocês podem ver. Não é uma tarefa fácil a 'desencarnação... Assumi compromisso com a Dilma de que é preciso manter o processo de 'desencarnação' para não comprometê-la".

Apesar disso, Lula declarou que seu gradual afastamento da presidência deveria servir de exemplo: "Queria ensinar a alguns ex-presidentes para que se mantenham como eu e deixem a Dilma exercer o mandato dela", provocou. A referência velada teve como alvo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Nunca antes na história desse país...

Ele foi além nas críticas à oposição e foi ovacionado por isso. "O 'nunca antes na história deste país' era para provocar a oposição, porque eu sei o tanto que já falaram de mim, com discursos cheios de preconceito. (Eu) me determinei a provar que eu seria mais competente que eles para governar o país", orgulhou-se.

Valorização dos trabalhadores

O ex-presidente ressaltou ainda, em diversos momentos de seu discurso, a proximidade do governo com o movimento sindical. "Duvido que, na história da humanidade, tenha (havido) um governo que executou a democracia como o Brasil. Nunca houve tantas conferências sindicais. Em outros países, sindicalista é visto como inimigo do governo."

Governo para todos

Ele também celebrou o que considera ser uma ação de inclusão social implantada em seus dois mandatos e mantida na gestão de Dilma. "No Palácio do Planalto, que antes só recebia príncipes e banqueiros, agora continua recebendo príncipes e banqueiros, mas também os moradores de rua e deficientes físicos. É pra mostrar que eles podem entrar em uma igreja, num metrô ou num shopping center", disse.

Postura firme dos trabalhadores nas negociações com empresários

Dirigindo-se aos sindicalistas que participavam do evento, o ex-presidente cobrou postura firme dos representantes dos trabalhadores em negociações com empresários. "A conquista do respeito é a condição básica para ter respeito", disse. "Se você entrar numa mesa de negociação de cabeça baixa, sem se respeitar, nenhum empresário vai ter dó de vocês", recomendou.

Dedicação à África

Em relação a futuros compromissos, o ex-presidente revelou que, apesar de sentir vontade de "sair em caravana e reuniões com a CUT (Central Única dos Trabalhadores)", precisa ter autocontrole para não ter comprometimento político. "Vou me dedicar à África. A experiência brasileira pode ajudar o continente africano e este será o meu trabalho daqui pra frente", disse. (Com informações da Rede Brasil Atual)

Mídia geme, chora, sofre e se desespera com esfacelamento da oposição.

A mídia demotucana está apavorada
com o esfarelamento dos partidos da direita nativa. Editorialistas e “calunistas” tentam entender o que se passa. Como autêntico partido da oposição, conforme confessou no ano passado Judith Brito, executiva da Folha e presidente da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), a mídia teme ficar ainda mais isolada.




Por Altamiro Borges







Em seu editorial de hoje, O Globo parte para o desespero. Ele critica os “oposicionistas inseguros que debandam em busca do remanso no bloco situacionista”. O alvo da sua ira é o PSD, “legenda de conveniência do prefeito Gilberto Kassab”. Acuado, o jornalão da famiglia Marinho prega abertamente a cassação dos mandatos dos “adesistas”.



“Não se nota qualquer forte justificativa para a Justiça permitir que a fidelidade partidária seja atropelada nesse surto de adesismo”, esbraveja O Globo. O seu temor é com a ampliação da base de apoio do governo Dilma, que “contraria a vontade do eleitor”, alega o jornal, o mesmo que apoiou o golpe militar e tantas outras tramóias. Haja cinismo!



Folha chora “revoada da oposição”

No mesmo rumo, editorial da Folha lastima a “revoada na oposição”. Para a famiglia Frias, “a saída de seis vereadores do PSDB paulistano evidencia conflito Alckmin-Kassab e amplia o desgaste entre oponentes do governo federal”. O jornal até trata a briga como “paroquial e provinciana”, mas reconhece que a oposição vive uma situação “desesperante”.



“O racha no partido e a exposição agora aberta da rivalidade entre Alckmin e Kassab dificultam eventual candidatura de José Serra em 2012. Citado como único nome capaz de ainda unir prefeito e governador na sucessão municipal, Serra encontrará no quintal de sua própria casa um terreno mais minado do que imaginava”, aponta o jornal serrista.



Desespero dos serviçais de FHC

Os sinais de desespero da mídia são risíveis. A cada nova desgraça – demos e tucanos ingressam no PSD, Alckmin e Serra se bicam com violência, Aécio é detido em blitz policial –, a mídia demotucana se contorce. Alguns colunistas inclusive já decretaram o “desmanche da oposição”, a sua falência múltipla e completa.



Rubens Barbosa, ex-embaixador de FHC em Washington, colunista do Estadão e estrela da TV Globo, é um dos mais deprimidos. Em artigo publicado hoje no Estadão, ele choraminga: “As três últimas derrotas do PSDB em eleições presidenciais deixaram a oposição sem discurso e sem bandeiras – como a modernização do país e as privatizações –, cujos resultados positivos foram renegados três vezes, pelo próprio partido, durante as campanhas eleitorais”.



A mídia é a verdadeira oposição

Ele até reforça a tese de Judith Brito. “De maneira competente, o governo do PT ocupou todos os espaços políticos. A oposição, reduzida aos pronunciamentos parlamentares, teve pouca relevância e influência no processo político, pela dificuldade de ser ouvida pela sociedade. O papel da oposição, em larga medida, foi representado pela mídia”.



Mais resignado, Fernando de Barros e Silva, colunista da Folha, até zomba da crise demotucana. “Roupa suja se lava em casa. Sim, mas a oposição já não tem roupa, está pelada no meio da rua, exibindo a sua crise em praça pública. Perdeu, literalmente, a vergonha de mostrar seus vexames. A nudez é tanto do DEM quanto do PSDB”.



Para ele, o “esfarelamento da oposição” é inevitável e o clima de guerra entre os demotucanos deve piorar ainda mais. Como prova, ele cita a reação furiosa do demo-ruralista Ronaldo Caiado, que disparou no seu twitter: “Que os coveiros fracassados sigam o caminho adesista e de traição”. A mídia chora, mas não deixa de ser divertida a briga da direita!

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Tucanos se bicam e lavam roupa suja em público.

O vídeo abaixo é a prova incontestável de que a oposição está completamente sem rumo, dilacerada e sem um projeto de poder unificado capaz de fazer frente aos anos de domínio político que se vislumbra no horizante, posto em prática por Lula ainda em seu primeiro governo e que vai gradativamente seguindo adiante sem maiores obstáculos. 

CPI que ia investigar frota de veículo da rádio de Aécio é barrada. Tucano odeia CPI.

CPI para investigar repasses a rádio de Aécio Neves é barrada em Minas










Por: Redação da Rede Brasil Atual













São Paulo – Por falta de assintaruas, foi arquivado na terça-feira (26) o pedido de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigaria repasses de verbas a uma rádio Arco-Íris. a transmissora da Jovem Pan FM em Belo Horizonte (MG) é ligada à família do ex-governador e atual senador Aécio Neves (PSDB-MG) e teria sido privilegiada no repasse de verbas de publicidade pública pelo governo mineiro.









O líder da oposição, Rogério Correia (PT), conseguiu 23 das 26 assinaturas necessárias para a abertura da CPI – a Casa tem 77 parlamentares. Havia expectativa de se consiseguir apoio de três dos cinco deputados do PDT, mas isso não aconteceu. A oposição ao governador Antonio Anastasia (PSDB) considera que nomeações para cargos no governo prometidas a pedetistas teriam ajudado a conter a CPI.









A "operação abafa" deve impedir que se investigue se os R$ 210,6 mil em verbas publicitárias repassados para a Arco-Íris em 2010 havim sido repetidos durante os sete anos anteriores da gestão de Aécio. A irmão de Aécio Neves, Andrea, é sócia majoritária da rádio Arco-Íris e coordenou o Núcleo de Comunicação do Governo, tendo poder de determinar quais rádios receberiam anúncios.









A assessoria de Aécio afirma que foram utilizados critérios técnicos na escolha das rádios que receberiam investimentos publicitários e negou possíveis ingerências de Andrea no direcionamento de verbas.





A Arco-Íris é muita próxima da família de Aécio Neves. A mãe dele, Inês Neves, é uma das sócias minoritárias da rádio, de acordo com registro na Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). A camionete Land Rover preta que ele dirigia quando foi parado, há menos de dez dias, em uma blitz no Leblon, no Rio de Janeiro, está no nome da emissora.





Com informações de Brasília Confidencial

O esgoto da Abril apronta mais uma e leva na cara

Do vi o mundo.


por Gaudêncio Frigotto, Zacarias Gama, Eveline Algebaile, Vânia Cardoso da Mota, Hélder Molina*



Vários meios de comunicação utilizam-se de seu poder unilateral para realizar ataques truculentos a quem ousa contrariar seus interesses. O artigo de Gustavo Ioschpe, publicado na edição de 12 de abril de 2011 da Revista Veja (campeã disparada do pensamento ultraconservador no Brasil), não apenas confirma a opção deliberada da Revista em atuar como agência de desinformação – trafegando interesses privados mal

disfarçados de interesse de todos –, como mostra o exercício dessa opção pela sua mais degradada face, cujo nível, deploravelmente baixo, começa pelo título – “hora de peitar os sindicatos”. Com a arrogância que o caracteriza como aprendiz de escriba, desde o início de seu texto, o autor considera patrulha ideológica qualquer discordância em relação às suas parvoíces.



Na década de 1960, Pier Paolo Pasolini escrevia que o fascismo arranhou a Itália, mas o monopólio da mídia a arruinou. Cinquenta anos depois, a história lhe deu inteira razão. O mesmo poderia ser dito a respeito das ditaduras e reiterados golpes que violentaram vidas, saquearam o Brasil, enquanto o monopólio privado da mídia o arruinava e o arruína. Com efeito, os barões da mídia, ao mesmo tempo em que

esbravejam pela liberdade de imprensa, usam todo o seu poder para impedir qualquer medida de regulação que contrarie seus interesses, como no caso exemplar da sua oposição à regulamentação da profissão de jornalista. Os áulicos e acólitos dessa corte fazem-lhe coro.



O que trafega nessa grande mídia, no mais das vezes, são artigos de prepostos da privataria, cheios de clichês adornados de cientificismo para desqualificar, criminalizar e jogar a sociedade contra os movimentos sociais defensores dos direitos que lhes são usurpados, especialmente contra os sindicatos que, num contexto de relações de superexploração e intensificação do trabalho, lutam para resguardar minimamente os interesses dos trabalhadores.



Os artigos do senhor Gustavo Ioschpe costumam ser exemplos constrangedores dessa “vocação”. Os argumentos que utiliza no artigo recentemente publicado impressionam, seja pela tamanha tacanhez e analfabetismo cívico e social, seja pelo descomunal cinismo diante de uma categoria com os maiores índices de doenças provenientes da superintensificação das condições precárias de trabalho às quais se

submete.



Um dos argumentos fundamentais de Ioschpe é explicitado na seguinte afirmação: Cada vez mais a pesquisa demonstra que aquilo que é bom para o aluno na verdade faz com que o professor tenha que trabalhar

mais, passar mais dever de casa, mais testes, ocupar de forma mais criativa o tempo de sala de aula, aprofundar-se no assunto que leciona. E aquilo que é bom para o professor – aulas mais curtas, maior salário, mais férias, maior estabilidade no emprego para montar seu plano de aula e faltar ao trabalho quando for necessário – é irrelevante ou até maléfico aos alunos.



A partir desse raciocínio de lógica formal, feito às canhas, tira duas conclusões bizarras. A primeira refere-se à atribuição do poder dos sindicatos ao seu suposto conflito de interesses com “a sociedade representada por seus filhos/alunos”: “É por haver esse potencial conflito de interesses entre a sociedade representada por seus filhos/alunos e os professores e funcionários da educação que o papel do sindicato vem ganhando importância e que os sindicatos são tão ativos (…)”.



A segunda, linearmente vinculada à anterior, tenta estabelecer a existência de uma nefasta influência dos sindicatos sobre o desempenho dos alunos. Nesse caso, apoia-se em pesquisa do alemão Ludger Wossmann, fazendo um empobrecido recorte das suas conclusões, de modo a lhe permitir afirmar que “naquelas escolas em que os sindicatos têm forte impacto na determinação do currículo os alunos têm desempenho significativamente pior”.



Os signatários deste breve texto analisam, há mais de dois anos, a agenda de trabalho de quarenta e duas entidades sindicais afiladas à Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e acompanham ou atuam como afiliados nas ações do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior – ANDES-SN.



O que extraímos dessas agendas de ação dos sindicatos é, em tudo, contrário às delirantes e deletérias conclusões do articulista.



Em vez de citar pesquisas de segunda mão, para mostrar erudição e cientificidade em seu argumento, deveria apreender o que demanda uma análise efetivamente científica da realidade. Isso implicaria que de fato pesquisasse sobre a ação sindical docente e sobre os processos econômico-sociais e as políticas públicas com os quais se confronta e dialoga e, a partir dos quais, se constitui. Não imaginamos que um filho de banqueiros ignore que os bancos, os industriais, os latifundiários, a grande mídia têm suas federações ou organizações que fazem lobbies para ter as benesses do fundo público.



Um efetivo envolvimento com as pesquisas e com os processos sociais permitiria ao autor perceber onde se situam os verdadeiros antagonismos e “descobrir” que os sindicatos não se criaram puxando-se de um atoleiro pelos cabelos – à moda do Barão de Münchhausen –, autoinventando-se, muito menos confrontando-se com os alunos e seus pais.



As análises que não levam isso em conta, que se inventam puxando-se pelos cabelos a partir dos atoleiros dos próprios interesses, não conseguem apreender minimamente os sentidos dessa realidade e resultam na sequência constrangedora de banalidades e de afirmações levianas como as expostas por Ioschpe.



Uma das mais gritantes é relativa ao entendimento do autor sobre quem representa a sociedade no processo educativo. É forçoso lembrar ao douto analista que os professores, a direção da escola e os sindicatos também pertencem à sociedade e não são filhos de banqueiros nem se locupletam com vantagens provenientes dos donos do poder.



Ademais, valeria ao articulista inscrever-se num curso de história social, política e econômica para aprender uma elementar lição: o sindicato faz parte do que define a legalidade formal de uma sociedade capitalista, mas o ultraconservadorismo da revista na qual escreve e com a qual se identifica já não o reconhece, em tempos de vingança do capital contra os trabalhadores.



Cabe ressaltar que todos os trocadilhos e as afirmações enfáticas produzidos pelo articulista não conseguem encobrir os interesses privados que defende e que afetam destrutivamente o sentido e o direito da população à educação básica pública, universal, gratuita, laica e unitária.



Ao contrário do que afirma a respeito da influência dos sindicatos nos currículos, o que está mediocrizando a educação básica pública é a ingerência de institutos privados, bancos e financistas do agronegócio, que infestam os conteúdos escolares com cartilhas que empobrecem o processo de formação humana, impregnando-o com o discurso único do mercado – o da educação de empreendedores. E que, muitas vezes,

com a anuência de grande parte das administrações públicas, retiram do professor a autoridade e a autonomia sobre o que ensinar e como ensinar dentro do projeto pedagógico que, por direito, eles constroem, coletivamente, a partir de sua realidade.



O que o Sr. Ioschpe não mostra, descaradamente, é que esses institutos privados não buscam a educação pública de qualidade e nem atender o interesse dos pais e alunos, mas lucrar com a venda de pacotes de ensino, de metodologias pasteurizadas e de assessorias.



Por fim, é de um cinismo e desfaçatez vergonhosa a caricatura que o articulista faz da luta docente por condições de trabalho e salário dignos. Caberia perguntar se o douto senhor estaria tranquilo com um salário-base de R$ 1.487,97, por quarenta horas semanais, para lecionar em até 10 turmas de cinquenta jovens. O desafio é: em vez de “peitar os sindicatos”, convide a sua turma para trabalhar 40 horas e acumular essa “fortuna” de salário básico. Ou, se preferir fazer um pouco mais, trabalhar em três turnos e em escolas diferentes. Provavelmente, esse piso para os docentes tem um valor bem menor que o que recebe o articulista para desqualificar e criminalizar, irresponsavelmente, uma instituição social que representa a maior parcela de trabalhadores no mundo.



Mas a preocupação do articulista e da revista que o acolhe pode ir aumentando, porque, quando o cinismo e a desfaçatez vão além da conta, ajudam aqueles que ainda não estão sindicalizados a entender que devem fazê-lo o mais rápido possível.



*Os três primeiros autores são professores do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas e Formação Humana da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PPFH/UERJ); professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro e colaboradora do PPFH/UERJ; educador, assessor sindical e doutorando do PPFH/UERJ.



terça-feira, 26 de abril de 2011

Musica pra relaxar.







Uma letra impecável e uma melodia que toca o coração.







Aceito O Seu Coração


Roberto Carlos

Composição : Puruca




Eu não pensava que você viesse pra ficar


Felicidade traz pra mim

O que passou não quero mais lembrar

Só quero ter você aqui

Em cada dia quero ver de novo renascer

O amor que nunca mais senti

Aceito o seu coração

Para ficar junto ao meu mais uma vez

Você pode não acreditar

Eu fiquei só sem ter ninguém

Todo o amor que eu guardei em mim

Sempre será só seu meu bem

Em cada dia quero ver de novo renascer

O amor que nunca mais senti

Aceito o seu coração

Para ficar junto ao meu mais uma vez

Você pode não acreditar

Eu fiquei só sem ter ninguém

Todo o amor que eu guardei em mim

Sempre será só seu meu bem

Em cada dia quero ver de novo renascer

O amor que nunca mais senti

Aceito o seu coração

Para ficar junto ao meu mais uma vez

Para ficar junto ao meu mais uma vez

Para ficar junto ao meu mais uma vez

A verdade sobre a guerra na Líbia.

terça-feira, 26 de abril de 2011


O AfPak chega à África



Pepe Escobar





27/4/2011, Pepe Escobar, Asia Times OnlineAFPak comes to AfricaTraduzido pelo Coletivo da Vila Vudu

Falcões liberais ou intervencionistas neoconservadores, todos amam a eficiente techno-guerra dos EUA. No momento em que círculos íntimos do poder em Washington – e em Londres – fazem barulho a favor de intervenção do Ocidente na Líbia, a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) nessa 2ª-feira atacou o complexo de Muammar Gaddafi, Bab al-Azizya, em Trípoli, pela segunda vez em cinco semanas.



A OTAN insiste que não visava a atingir o coronel – mas um “centro de comunicações” que haveria em Bab al-Azizya. Tudo bem. Como se a Resolução n. 1973 do Conselho de Segurança da ONU autorizasse a bombardear, para “proteger civis”, o complexo onde Gaddafi morava.



Essa “atividade cinética” aconteceu depois que o ex-secretário de Estado dos EUA Henry Kissinger martelou a favor desse projeto para a Líbia em, no mínimo, três ocasiões: na Escola Elliot de Relações Internacionais da George Washington University; numa conferência no Aspen Institute sobre “Valores e Diplomacia”, também em Washington; e na reunião Bretton Woods II em New Hampshire [1].





O plano de Kissinger: invadir a Líbia e manter a coisa fervendo até, pelo menos, a primavera de 2012. A agenda (pirada): manter o Oriente Médio e o norte da África em estado de completo desarranjo, como tática/pretexto diversionista para que Washington possa atacar o Irã a serviço de Israel e a serviço, claro, do complexo militar-industrial. Há boa chance de o Marechal de Campo von Trump – codinome “Donald Trump” – comandar a invasão do Irã.



Gaddafi é o vilão perfeito para essa farsa anglo-franco-norte-americana digna do teatro de Georges Feydeau. Apesar de toda a megalomania ditatorial, Gaddafi é panafricanista empenhado – feroz defensor da unidade africana. A Líbia nada deve a banqueiros internacionais. Nunca tomou empréstimos do FMI para qualquer tipo de “ajuste estrutural”. Usou seu dinheiro do petróleo para serviços sociais – inclusive para construir a rede de aquedutos conhecida como Projeto Great Man Made River e para investimentos e ajuda a países subsaharianos. O Banco Central da Síria é independente, não-manipulável pelo sistema financeiro ocidental. E tudo isso é péssimo exemplo para o mundo em desenvolvimento.



Quebrar a Líbia seria só o hors d'oeuvres, antes de quebrar outras partes da África nas quais a China tem investimentos encampáveis. Sim, porque, se coturnos ocidentais pisarem o chão no norte da África, os tais coturnos logo chegarão ao Sahel – que já está em turbulência: Mali e Niger já estão recebendo armas dos ‘rebeldes’ líbios, e armas que rapidamente chegam às mãos da Al-Qaeda no Maghreb (AQIM). Os poderosos na Argélia e no Marrocos – onde continuam non-stop as manifestações pró-democracia – já começam a dar sinais de pânico.



Todas essas são variáveis que é preciso não perder de vista. No momento, o filme humanitário arrasa-quarteirões é, mesmo, “Drones sobre a Líbia” – mais uma coprodução Pentágono/Casa Branca/Departamento de Estado, diretamente saída de Hollywood, digo, desculpem, saída da Base Aérea Creech da Força Aérea, em Nevada.



Aviões-robôs drones “humanitários” comandados à distância



Por que ninguém pensou nisso antes?! Um exército de aviões-robôs, drones, comandados à distância (por enquanto são apenas cinco, com base no sul da Itália), em vez de coturnos no chão. O chefe do Pentágono Robert Gates até já disse que os aviões-robôs atacarão a Líbia por “motivos humanitários” (ninguém percebeu nem o sarcasmo nem as câmeras nos aviões-robôs). Gates já mentira ao Congresso dos EUA alguns dias antes: disse que o papel dos EUA na Líbia estaria encerrado no instante em que a OTAN assumisse.



Portanto, é hora de os pilotos à distância sentarem a pua nos controles dos aviões-robôs: o inferno, ao alcance de um toque no mause. Eis a techno-guerra dos EUA, no seu momento de glória: tragam a criançada que cresceu lutando em videogames, para lutar – é tudo virtual! – no deserto. Todos os sistemas de comando dos drones foram modelados como videogames.



Os mísseis Hellfire, na Líbia, atacarão os seguintes alvos: Produto Interno Bruto per capita de US$14.192; salário-desemprego de mais de $730 por mês; salários de $1.000/mês para enfermeiros do Estado; financiamento sem juros para casais recém-constituídos, para que comprem a primeira casa e o primeiro carro. Muitos desempregados norte-americanos adorariam ganhar passagem só de ida para Trípoli, se essas notícias se espalham!



Liberados os aviões-robôs para atacar a Líbia, Washington pode fingir que não está expandindo sua “ação militar cinética” – não é guerra. Kissinger acertou pelo menos uma: Obama apostou nessa guerra aérea em que não morrem pilotos, para chegar a 2012 e reeleger-se.



Há o problema dos malditos “danos colaterais” (mas quem liga? Os aviões-robôs podem permanecer 24 horas no ar – o que, na novilíngua do Pentágono, chama-se “persistência estendida”). Os militares de Gaddafi já se metamorfosearam e desapareceram entre os civis à maneira guerrilheira de Mao Tse Tung e Ho Chi Minh. O Vietnã de Obama está afundando – processo que, para o almirante Mike Mullen, chefe do comando do estado-maior dos EUA, estaria “com certeza andando rumo a um impasse”.



AfPak, teu nome é impasse (e danos colaterais): um avião-robô Predator matou pelo menos 25 civis em Mir Ali, 35 km a leste de Miranshah, na área tribal do Waziristão Norte – no dia em que os “rebeldes” líbios comemoravam a chegada dos mesmos aviões-robôs. Forças relacionadas a Gaddafi por laços empresariais – e tribais –, já estão afinando técnicas de “já derrubou o seu Predator de hoje?” que os paquistaneses lhes trouxeram; uma dessas técnicas implica posicionar quatro atiradores, cada um com uma reles bazuca lança-granadas.



Pena que a empresa Northrop Grumman ainda não possa distribuir sua máquina X-47B –, avião-robô armado matador, que foi lançado em fevereiro desse ano, com direito a vídeo com trilha sonora à moda da banda Blue Oyster Cult [2]. O avião-neorrobô-matador só estará disponível para comercialização em 2013 – depois da reeleição de Barack “Guerra” Obama.



Simultaneamente, os jogos de videogame começarão a incluir alguns acidentes “moralmente aceitáveis” (“danos colaterais”). E a Operação Alvorada da Odisseia afinal mostrará a que veio. Os EUA, de volta ao trono onde se sentem mais seguros – não como Ulisses no Mediterrâneo, mas como Zeus Todo Poderoso, lançando aviões-robôs-armados, em vez de raios.



Pode ser hora de remix de concurso futurista de dança à velha moda chapada-caidaça, de Weapon of Choice [Arma Preferida], de Fatboy Slim. No papel título, em vez de Christopher Walken (como se vê/ouve em: Christopher Walken – Fat Boy Slim Weapon of Choice), um drone-matador dançante desenhado pela Pixar. E, como mestre de cerimônia, o Marechal de Campo von Trump, livre, afinal, para entrar e pegar o petróleo. OK. Não deu certo no Iraque. Quem sabe funciona na Líbia?







--------------------------------------------------------------------------------







NOTAS DOS TRADUTORES



[1] : Sobre essas falas de Kissinger nesse mês de abril, a página “Bellum”, da ultraconservadora revista The Stanford Review da Universidade de Stanford, diz o seguinte: “Não há registro de nenhum evento na GWU nos dias 8-10/4 (...). Kissinger tampouco falou no evento do Aspen Institute dia 7/4. E não há qualquer evidência de que tenha falado na Conferência Bretton Woods II, realizada nos dias 8-11 de abril”.



Mas em: The Trilateral Comission – Program of the 2011 Annual Meeting, vê-se que Kissinger participou das reuniões de uma Comissão Trilateral, no domingo, 10/4. Essa informação, inexistente hoje cedo, apareceu agora, meio da tarde, na página “Bellum”, como “Up date”. Ao que tudo indica, há uma ‘polêmica’ em curso, nos EUA, sobre se Kissinger disse ou não disse o quê. O mais provável é que Kissinger disse sim, o que se lê nessa coluna de Pepe Escobar, mas tem interesse em fazer crer que não disse (no Brasil, por exemplo, nenhum leitor de jornal ou telespectador de televisão foi informado sobre qualquer fala de Kissinger nessa direção, o que sugere fortemente que, sim, Kissinger disse o que Pepe Escobar disse que Kissinger disse. O ‘fato’, mais uma vez e como sempre, não interessa. O que interessa, como sempre, é pensar mais aplicadamente sobre o possível (o que Pepe Escobar mais uma vez nos ajuda a fazer, nessa coluna), do que sobre algum pressuposto ‘fato acontecido’ sobre o qual, fatal e infalivelmente, nunca se pode saber tudo – apesar de a página “Bellum” da ultraconservadora revista The Stanford Review e toda a "mídia" no Brasil ainda insistirem que, sim, o William Waack saberia de tuuuuudo. Só rindo!



Sobre a Conferência Bretton Woods II em 2011, promovida pelo Institute for New Economic Thinking (INET), de George Soros, há boa informação em: SOROS CONVENES “BRETTON WOODS II”.



[2] Filme de propaganda de dois minutos do primeiro voo histórico do X-47B Sistema de Combate Aéreo Comandado à Distância da Marinha dos EUA, projetado e construído pela Northrop Grumman Corporation. O voo-demonstração aconteceu dia 4/2/2011 na base aérea de Edwards, na Califórinia.




Aécio Responda: É Rádio OU CONCESSIONÁRIA ARCO ÍRIS?






O bloco MINAS SEM CENSURA apresenta graves denúncias acerca do episódio que se inicia com a ocorrência de trânsito no Leblon, RJ, e que desdobra em fortes suspeitas sobre aportes de dinheiro público em empresa de comunicação pertencente a Aécio Neves, Andrea Neves e Inês Maria Neves.



Seguem-se os ESTRANHOS FATOS:



1) A rádio Arco-Íris, franqueada da Jovem Pan, com capital social declarado de 200 mil reais, possui 12 veículos, sendo seis de alto luxo.



2) Trata-se de uma rádio de programação musical, voltada para o público jovem e adolescente, sem estrutura para atividade jornalística, o que torna ESTRANHO essa quantidade de veículos. Empresas jornalísticas bem maiores que essa rádio não tem frota similar.



3) Os veículos, a maioria atípica para a atividade da citada rádio, são:



a) Toyota Fields (statio wagon)



b) Land Rover TDV8 Vogue



c) Toyota Hilux SWR SRV 4X4



d) Land Rover Discovery TD5



e) MMC L200 Sport 4X4 GLS



f) Audi A6



g) Fiat Strada Adventure Flex



h) Micro ônibus Fiat Ducato



i) Micro ônibus M Benz 312 B Sprinter M



j) Uno Mille fire



k) Gol Mil



l) Moto Honda CG 150 Titã (que não é moto por ele assumida como sua)



4) Ao contrário do que afirma a Sra. Andrea Neves, a Land Rover envolvida na ocorrência no Leblon já tem duas multas por excesso de velocidade e a Toyota Fields tem três. Isso só no estado do Rio de Janeiro, este ano. A citada empresa já foi autuada pelo Detran por não identificar condutores infratores. Ressalte-se que a mesma tem autorização para funcionar em Betim e sede em Belo Horizonte.



5) O ex-governador e senador mineiro declarou à justiça eleitoral 617 mil reais de patrimônio. E nessa declaração não há veículo automotor. Ou seja, sendo usuário de veículos da rádio, ou de outras empresas, isso gera suspeita sobre ocultação de propriedades. Até porque, os veículos não são destinados à típica atividade jornalística.



6) Ainda tem uma moto por ele assumida como meio de transporte pessoal, que não consta de sua declaração ao TRE e nem na da rádio. O que gera a suspeita sobre se a mesma estaria registrada como propriedade de outra empresa ou de terceiros.



7) Fato ESTRANHO é que somente depois de terminada a eleição, ele teve transferida ao seu nome parte significativa do capital da rádio. Alerte-se que tal transferência se deu por meio de triangulação: as cotas foram transferidas dia 30 de novembro de Andrea Neves para sua mãe e desta, no dia 28 de dezembro para Aécio Neves.



8) Ainda sobre sua recusa em fazer o teste do bafômetro, a desculpa de que não o fez porque já tinha contratado motorista em condições de conduzir o Land Rover, em segurança e legalidade; contrasta com sua postura de não questionar a multa de 1000 reais.







Além da solicitação de esclarecimento acerca de verbas governamentais, já oficializada, o bloco MINAS SEM CENSURA vai buscar esclarecer sobre a titularidade, pós-eleição, de empresas antes omitidas em sua declaração patrimonial.







Mais informações sobre esses ESTRANHOS FATOS com os deputados do bloco no Plenário, a partir das 14 horas.



Choque de Gestão do Governo Aécio Neves Verdades e Mitos

Saiba como a dupla Aécio/Anastasia escondeu a contratação de dívidas, usou o marketing e a imprensa para criar a farsa do déficit zero e do choque de gestão em Minas Gerais




Fabrício Augusto de Oliveira*



O Portal Minas Livre inicia com este artigo a publicação de uma série de estudos do economista Fabrício Augusto de Oliveira, nos quais ele demonstra, com brilhantismo, que o grande argumento da dupla Aécio/Anastasia para afirmarem que são grandes gestores públicos não passa de uma fraude.



Choque de Gestão foi a expressão cunhada pela administração Aécio Neves (2003-2010) para denominar seu programa de governo. Com este título-fantasia, o programa representava, em sua essência, uma crítica aos seus antecessores, ao mesmo tempo em que descortinava um futuro promissor para o estado de Minas Gerais.



Com ele vendeu-se a imagem de que a administração estadual padecia de uma gestão altamente ineficiente, que os governos anteriores ou não se empenharam em corrigir ou mesmo contribuíram para piorar, o que explicaria a situação caótica de suas finanças e a impotência do governo de exercer alguma ação proativa para o desenvolvimento do estado. Quanto ao futuro, a confiança de que, com a sua implementação, o governo do estado, uma vez saneado financeiramente e resgatada sua eficiência na gestão dos recursos públicos, teria condições de pavimentar os caminhos do crescimento econômico e de colocá-lo numa trajetória sustentável.



É essa a essência do programa que o atual governo e candidato à eleição, Antônio Anastasia, que foi o seu principal gestor, destaca quando afirma que com ele objetivou-se “colocar um mínimo de ordem na casa”, uma condição necessária para o crescimento, a geração de emprego e a melhoria das condições de vida da população. Nessa visão, tudo se passa como se a “casa” tivesse sido encontrada inteiramente desarrumada pela inépcia de seus antecessores, Eduardo Azeredo e Itamar Franco, seus atuais companheiros e importantes apoiadores de sua candidatura, e de ter sido necessária a “mão salvadora e criativa” do Choque de Gestão para corrigir essa anomalia e recolocar o governo nos trilhos do compromisso com o equilíbrio, com a responsabilidade fiscal e com a eficiência, e a economia do estado na trajetória do crescimento econômico.



O estoque da dívida continuou crescendo em velocidade de cruzeiro: em termos nominais saltou de R$ 33 bilhões, em 2003, para R$ 59 bilhões, em 2009 (aumento de 80%)



Em 1989, o candidato à presidência da República, Mário Covas usou a expressão Choque de Capitalismo com o objetivo de chamar a atenção para o fato de que a livre iniciativa, por não assumir os riscos inerentes aos investimentos privados, tornava-se um grande fardo para o Estado e prejudicava a população, reduzindo ou mesmo privando-a da oferta de bens públicos, ao drenar parte importante de seus recursos. Por isso, o Choque de Capitalismo seria vital para o setor privado assumir esses riscos e liberar o Estado para o desempenho de suas funções mais tradicionais. Na visão dos governos Aécio Neves e Antônio Anastasia, o Choque de Gestão desempenharia papel semelhante, mas com o governo do estado libertando-se de sua paralisia, com a adoção de uma política de saneamento financeiro e de recuperação de uma gestão eficiente dos recursos públicos, essenciais para o apoio e incentivo ao desenvolvimento econômico e social.



Passados oito anos de sua implementação, neste trabalho procura-se fazer uma avaliação dos resultados com ele alcançados, especialmente nas duas questões às quais se apegam seus idealizadores para vender uma imagem de competência e de sucesso: o saneamento financeiro do estado e o crescimento econômico. Como se verá, com os números em seguida apresentados, o Choque de Gestão nada mais passa de um produto de marketing vendido com eficiência para a população do estado – e também do país -, e que tem rendido bons dividendos – políticos, econômicos e financeiros – para os que o conceberam, à medida que continua distante, na realidade, de alcançar os principais objetivos a que se propôs.



Ilusões contábeis

Desde o primeiro ano de seu primeiro mandato, o governo Aécio Neves imprimiu à sua administração a marca do compromisso com o equilíbrio das contas públicas, etapa considerada indispensável para o êxito de seu programa. Naquele ano, o orçamento aprovado ainda no governo Itamar Franco, elaborado com a previsão de algumas receitas fictícias, acusava um déficit potencial de R$ 2,3 bilhões, indicando dificuldades para sua administração. Como paladino de um rigoroso ajuste fiscal, o novo governo implementou, ao longo deste primeiro ano, uma série de medidas, que se encontram relacionadas no Quadro 1, centradas principalmente no corte dos gastos, para tentar reverter essa situação. No final do ano, o déficit orçamentário havia sido reduzido para R$ 228 milhões e tal melhoria serviu de argumento para dar início à construção do mito do déficit zero, que se transformaria na principal bandeira e suposta conquista do governo.





Na verdade, nem o governo acreditava que poderia obter resultados tão rápidos neste campo. No PPAG de 2004-2007, por exemplo, projetava-se a obtenção de resultados orçamentários positivos, excluídas as contratações de operações de crédito (de dívida) apenas para o último ano, prevendo-se que todo o seu primeiro mandato continuaria marcado pela continuidade de desequilíbrios fiscais (Oliveira e Riani, 2006). O resultado de 2003, alcançado graças à política de “caça-ao-gasto” e à obtenção de apreciáveis receitas extraorçamentárias, despertou, contudo, a nova administração para a possibilidade de seu uso como uma conquista da política de austeridade e de competência e zelo do novo governo com os recursos públicos. Na esteira do Choque de Gestão, o mito do déficit zero começou a ganhar forma e força e a ser transformado no símbolo de eficiência da administração Aécio Neves, especialmente a partir de 2004.



A retomada do crescimento da economia brasileira a partir de 2004 permitiu à nova administração modificar a equação do ajuste, deslocando o seu principal instrumento para o lado das receitas. Com o forte crescimento dessas, os resultados orçamentários tornaram-se positivos, já a partir do ano de 2004 (antes, portanto, das projeções realizadas no PPAG de 2004-2007), aparentemente confirmando o sucesso do Choque de Gestão neste campo, como se pode constatar pelo exame da Tabela 1, de acordo com o critério utilizado pelo governo para sua divulgação. A partir daí, Choque de Gestão e eficiência da gestão pública tornaram-se sinônimos de competência e, num trabalho de refinado marketing, o programa ganhou as páginas da imprensa do país como exemplo a ser seguido pelas administrações públicas de modo geral. Uma análise mais acurada dos resultados contidos na mesma tabela desvela, contudo, tratarem-se os mesmos mais de ficção do que de realidade.





Para vender uma imagem de competência e eficiência, o governo passou a divulgar os resultados orçamentários, que se encontram na primeira coluna da tabela, e que efetivamente se tornaram positivos a partir de 2004. Embora desconhecido pela população de modo geral, qualquer estudante da área de finanças públicas aprende, contudo, desde o início, que este conceito nada significa para a avaliação dos resultados das contas públicas. Isto porque, entre outros motivos, ele inclui, do lado das receitas, os empréstimos e financiamentos realizados pelo governo (ou seja, as dívidas contratadas), podendo, por isso, esconder desequilíbrios em uma situação de aparente equilíbrio. O governo não divulgou este fato e passou a usar este conceito em sua campanha publicitária do déficit zero como o melhor retrato da eficiência de sua gestão.



Excluindo, como se faz na terceira coluna da tabela, os empréstimos tomados anualmente pelo governo, a realidade dos resultados de suas contas começa a se modificar: como se percebe, em apenas três anos (2004, 2005 e 2008) seriam obtidos superávits e, ainda assim, bem modestos, registrando-se déficits nos demais. No acumulado de todo o período do governo Aécio Neves, ou seja, entre 2003 e 2009, o tão propalado equilíbrio fiscal (que o governo continua chamando de déficit zero) transforma-se, com estes ajustes, em um déficit de R$ 1, 18 bilhão, a preços de 2009. Este é, no entanto, apenas um lado da história da farsa do déficit zero.



Boa parte dos ganhos atribuídos ao Choque de Gestão nada tem a ver com ele, enquanto outros foram obtidos com o sacrifício do funcionalismo público e de políticas sociais



Com a renegociação da dívida realizada pelos estados com a União no final da década de 1990, com prazo de 30 anos (até 2.028), dos encargos financeiros dessa dívida (atualização monetária pelo IGP-DI + juros reais de 7,5% no caso de Minas Gerais), o contrato exigiu que o governo do estado destinasse 13% de sua receita líquida real (um conceito próximo ao de receita corrente líquida) para o seu pagamento. Ocorre que os 13% costumam ser, via de regra, insuficientes para pagar estes encargos, com o resíduo (ou seja, os encargos não pagos) sendo incorporado diretamente ao estoque da dívida, sem passar, portanto, pelo orçamento. A contabilidade peculiar que surgiu em decorrência dos termos da dívida renegociada com a União também ajuda a mascarar o resultado orçamentário efetivo, à medida que a parcela dos juros nominais que não são pagos não é registrada no orçamento, apesar de constituir uma despesa. Se nele inscrita, como manda a boa técnica orçamentária, ter-se-ia como contrapartida, do lado das receitas, uma rubrica de “refinanciamento da dívida” (que equivale à de operações de crédito) e, em decorrência, o tão decantado déficit zero transformar-se-ia em desequilíbrio de grande magnitude.



Por isso, como recomenda a boa contabilidade de avaliação das contas públicas, o correto é trabalhar com um conceito que contempla essas questões e faz a apropriação adequada das receitas e despesas do governo, caso das Necessidades de Financiamento do Setor Público (NFSP), nos critérios primário e nominal. A tabela 2 apresenta estes resultados para o período que vai de 2003 a 2009 e, de seu exame, é possível constatar o grande desequilíbrio das contas do governo do estado, ao contrário do que difundiu, desde 2003, sua campanha publicitária.





Como se constata na tabela, o governo tem sido obrigado, por força do contrato da dívida, a gerar apreciáveis superávits primários para honrar o pagamento de parcela de seus encargos, estabelecida em 13% de sua receita líquida real. Essa considerável economia de recursos não tem sido suficiente, contudo, para o pagamento integral destes encargos, fazendo com que a contabilização de seus resíduos, que são diretamente incorporados ao estoque da dívida, garanta a geração de elevados déficits nominais em todos os anos da série considerada. São esses déficits, juntamente com o reconhecimento de outras dívidas (passivos ocultos), que têm garantido uma trajetória de firme e ininterrupto crescimento do estoque da dívida consolidada do governo do estado, como se mostra na tabela 3.



Como se vê na tabela, embora tenha declinado como proporção da receita corrente líquida do governo do estado entre 2003-2009, muito devido ao espetacular crescimento desta no mesmo período (aumento do denominador), beneficiada pela forte expansão da economia nacional e mineira, o estoque da dívida continuou crescendo em velocidade de cruzeiro: em termos nominais saltou de R$ 33 bilhões, em 2003, para R$ 59 bilhões, em 2009 (aumento de 80%); em termos reais (descontando-se a inflação), registrou um crescimento considerável de 15%. Se o governo tivesse conseguido, de fato, realizar um ajuste estrutural de suas contas e zerar o déficit fiscal, como divulgado em sua campanha publicitária, como explicar este crescimento se este decorre, a par do reconhecimento de passivos contingentes, de desequilíbrios orçamentários, mesmo que resultantes da realização de investimentos?



Na verdade, os principais investimentos realizados pelo governo do estado na administração Aécio Neves não contaram efetivamente com recursos do Tesouro, não se podendo creditar ao suposto ajuste realizado, ao Choque de Gestão, portanto, contribuição para sua materialização. O Proacesso foi totalmente financiado com recursos do Banco Mundial; o Expominas, a Linha Verde, a Cidade Administrativa e a duplicação da Avenida Antônio Carlos, com recursos da CODEMIG, obtidas com a receita de royalties da exploração do nióbio de Araxá.



Só mesmo uma “contabilidade criativa”, como a que tem sido desenvolvida pelo governo, seria capaz de transformar este inferno de desequilíbrios em um paraíso de equilíbrio fiscal. Se isso é muito, não é, entretanto, tudo.



Embora não seja possível quantificá-los, boa parte dos ganhos atribuídos ao Choque de Gestão nada tem a ver com ele, enquanto outros foram obtidos com o sacrifício do funcionalismo público e de políticas sociais. Entre os primeiros, cabe destacar:



• Ganhos extra-orçamentários: do lado das receitas, R$ 223 milhões vieram do governo federal relativos ao ressarcimento de despesas do estado realizadas nas estradas federais, negociados no último ano da administração Itamar Franco. A esses ganhos se somaram os provenientes da receita da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico incidente sobre os combustíveis, a CIDE-combustíveis, a partir de 2004, fruto da reforma tributária de 2003, e os das anistias fiscais realizadas na administração Aécio Neves. Em 2008, por exemplo, de uma receita da dívida ativa orçada em R$ 166 milhões, a arrecadação atingiu expressivos R$ 610 milhões, devido à anistia concedida. Do lado dos gastos, o governo estadual deixaria de pagar R$ 250 milhões à CEMIG, em 2003, referente aos encargos da CRC, enquanto o governo federal aceitaria o pleito do governo do estado de abater R$ 119,5 milhões no montante que teria de pagar à União relativos aos encargos da dívida renegociada;



• Crescimento econômico: depois de amargar um longo período de estagnação econômica, a economia brasileira, beneficiada pelo boom da economia mundial no período 2003-2008, ingressou numa rota de firme expansão, disseminando seus efeitos por todo país e catapultando as receitas tributárias. Em Minas Gerais, a receita corrente líquida do governo do estado cresceu, em termos nominais, 132,2% entre 2002 e 2009, e, deflacionadas pelo IGP-DI, 32,3% em termos reais. Ou seja, por um evento externo ao Choque de Gestão, o governo foi altamente beneficiado pela conjuntura econômica, o que lhe permitiu avançar mais rapidamente na melhora dos indicadores da Lei de Responsabilidade Fiscal.



Por outro lado, enquanto a receita líquida do governo crescia nessa velocidade de cruzeiro, as despesas com pessoal passaram a regredir, em termos reais, só retornando, em 2009, ao patamar que haviam atingido no último ano da administração Itamar Franco, como mostra a Tabela 4. Para isso, ao congelamento dos salários decretado, em 2003, pelo governo Aécio neves, somaram-se sub-reajustes nos anos seguintes, combinados com a retirada/extinção de vários de seus direitos, sempre em nome do ajuste fiscal e da eficiência do Choque de Gestão. Ao lado das políticas sociais, notadamente a saúde e a educação, teria sido também o arrocho dos salários do funcionalismo público a grande fonte de ganhos para garantir o suposto sucesso do programa.



Não é de estranhar, nessa situação, que, na ausência de um ajuste estrutural das contas públicas, as finanças do governo de Minas tenham sido severamente fustigadas pela crise econômica de 2007-2008, que, como um rastilho de pólvora, se espalhou rapidamente pelo mundo e que deve continuar mantendo desaquecida a atividade econômica ainda por um longo período. E nem que sérias dificuldades para a gestão de suas finanças se avizinham rapidamente, cuja solução deve representar um grande desafio para o próximo governo. Entre essas dificuldades para a gestão das contas públicas, cabe apontar:



• Pressão de gastos decorrentes do reajuste geral do funcionalismo público concedido pela administração Aécio Neves em abril deste ano, acrescido de um adicional de 10% para os servidores da educação, previsto para entrar em vigor em janeiro de 2011. Com a relação Gastos com Pessoal/Receita Corrente Líquida (GP/RCL) batendo no piso prudencial estabelecido pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), o próximo governo poderá enfrentar dificuldades para administrar essa situação, a menos que a receita do governo seja premiada com um crescimento espetacular, o que não é muito provável num cenários de grandes incertezas da economia mundial;



• Aumento de gastos que pode ser exigido para a área da saúde, caso aprovados os Projetos PLP 306/08 (e PLS 121/08) que regulamenta o que pode ser considerado efetivamente como “ações e serviços de saúde” para cálculo dos percentuais previstos na Emenda Constitucional n. 29/2000, já que atualmente, de acordo com o SIOPS/MS, o governo do estado aplica bem menos recursos do que os 12% exigidos pela lei;



• Avanço dos gastos com o serviço da dívida no orçamento, que representaram, em 2009, 11,3% da receita corrente líquida do governo. Como nos últimos anos, a contratação de empréstimos aumentou consideravelmente, esses encargos devem continuar crescendo, podendo prejudicar outras políticas do governo, dada sua natureza de gastos obrigatórios;



• O maior engessamento do orçamento que pode ocorrer devido a essas pressões coloca, assim, sérias dificuldades para o novo governo nele acomodar os projetos mais prioritários de sua administração. Estudo elaborado por Chevitarese (2009, p.125-6) confirma que mesmo no melhor ano do governo do primeiro mandato do governo Aécio Neves, em 2006, este só conseguiu contar com apenas 10% de “receitas livres”, dado o elevado grau de engessamento do orçamento, o que dá bem a dimensão de como essa questão pode piorar nos próximos anos;



• Como o Choque de Gestão efetivamente não deu nenhuma solução para a dívida do estado, a qual, pelo contrário, continuou em trajetória de firme crescimento, o próximo governo não pode descuidar-se de buscar uma solução junto ao governo federal, renegociando suas condições, para impedir tanto que ela continue atuando como uma trava para as políticas públicas como para que seu custo não penalize excessivamente as gerações futuras.



O crescimento econômico ficando para trás

A segunda pedra angular do Choque de Gestão foi o crescimento econômico. Apoiou-se na idéia-força de que, saneadas as contas do estado, o governo disporia de condições de investimentos para comandar as transformações da economia, modernizá-la e conduzi-la a um patamar superior ao alcançado em seu passado histórico. Um ambicioso programa de projetos estruturadores foi divulgado com grande pompa para essa finalidade. Mas, ainda hoje, seus efeitos ainda não parecem ter se refletido na economia, pois essa continua ficando para trás na corrida que se trava entre os estados do país, como mostra a Tabela 5.



Como se percebe de seu exame, mesmo contando com um ciclo de crescimento altamente favorável tanto da economia mundial como da brasileira, no período 2004-2008, condição que potencializa sua expansão, dadas as características de sua estrutura produtiva especializada na produção de bens intermediários e de commdodities (Fernandes e Oliveira, 2010), ainda assim a economia mineira registrou uma taxa média anual, entre 2003 e 2009, de 3,37%, inferior à verificada para o Brasil, que alcançou 3,49%. Uma tendência que vem se mantendo desde 1995: deste último ano, passando pelas administrações de Eduardo Azeredo e Itamar Franco, até 2009, enquanto a economia nacional registrou uma taxa média anual de 2,94%, a de Minas situou-se em 2,75%.



Não surpreende, assim, que o estado de Minas venha perdendo, gradativamente, importância relativa no cenário econômico nacional: atualmente ocupa apenas a terceira posição no ranking das economias estaduais, tendo perdido a segunda posição para o Rio de Janeiro. Sua participação relativa no PIB, que já esteve próxima de 9,5%, não passou, em 2009, de 8,9%, conforme os dados da Tabela 5, um nível equivalente ao que já detinha na década de 1990. Na produção agropecuária, em que manteve a liderança por muito tempo, foi ultrapassado por São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná, ocupando, hoje, apenas o 4º lugar. Em termos de renda per capita, cabe-lhe apenas a 10ª posição no ranking dos estados brasileiros.



Uma imprensa silenciada em Minas Gerais e, de modo geral, conivente com a montagem da farsa do déficit zero para pavimentar o caminho da candidatura de Aécio Neves à presidência da República, contribuiu, na ausência de qualquer crítica à sua administração por longos oito anos, para criar a imagem de um governo, se não perfeito, muito próximo da perfeição, à semelhança de uma divindade



Mais grave continua sendo a distribuição extremamente desigual dos frutos deste crescimento: 199 municípios do estado (23,3% do total) geram um PIB per capita inferior a 30% da média brasileira; 533 municípios (62,5%), um PIB inferior a 50% da média registrada para o país. Não sem razão, o estado situa-se na 8ª posição dos indicadores de concentração de renda do país, a mesma posição que detém, entre os estados brasileiros, no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).



Regionalmente, a produção se encontra altamente concentrada em três macrorregiões, Central, Sul e Triângulo, que detêm 70% do PIB estadual, enquanto, juntas, as do Noroeste de Minas, Norte de Minas e Jequitinhonha/Mucuri chegam a 7,5%. Considerando apenas a produção industrial, essa distribuição ainda é mais desigual: enquanto as três primeiras regiões responderam por 75% do produto industrial, em 2007, a das três últimas não foi além de 5,1% (Nogueira, 2010). Uma realidade de que não se tem notícia de que o Choque de Gestão tenha contribuído para modificar.



*Sobre o autor:

Fabrício Augusto de Oliveira é doutor em economia pela Universidade Estadual de Campinas, coordenador Centro de Estudos de Conjuntura do Departamento de Economia da Universidade Federal do Espírito Santo e consultor na área de economia do setor público. Publicou vários livros sobre Finanças Públicas e Economia Brasileira, entre os quais “Economia e política das finanças públicas no Brasil: um guia de leitura”, em 2009, pela Editora Hucitec, e foi secretário adjunto-geral da Fazenda de Minas Gerais no Governo Itamar Franco


segunda-feira, 25 de abril de 2011

Veja ataca honra de prefeita de Fortaleza.




A revista Veja tem se caracterizado como panfleto partidário que há muito deixou de fazer jornalismo para especializar-se em atacar a honra alheia, desconstruir a imagem de governantes sérios e basear suas matérias em fruticas de comadres.

A edição de 29/04/2011 traz pseudo reportagem sobre a administração de Luizianne Lins no velho estilo de fuzilar reputações, entrar na vida pessoal da prefeita, trazendo ao conhecimento público um suposto caso amoroso que teria rendido ao amante benefícios a custa do dinheiro público, semelhante ao que costumava fazer quando ainda podia arriscar a credibilidade que tinha.

Como hoje o que diz a veja em suas reporcagens vale tanto como uma cédula de 3 reais, a instrumentalização política de suas páginas são facilmente desmontadas.

Abaixo a íntegra da matéria e depois a nota da prefeitura de Fortaleza desmontando a farsa do panfleto da Abril.

"A CASA DA MÃE JOANINHA




Uma sucessão de vexames públicos, escândalos administrativos, protestos populares e ondas de boatos corroem o já minguado capital político da prefeita de Fortaleza



Luizianne Lins, do PT, é desde o ano passado a detentora do título de a prefeita mais mal avaliada do país, segundo o Datafolha. Os últimos acontecimentos mostram que ela não deve perder o trono tão cedo. Em fevereiro, a prefeita tirou uma licença médica de dez dias. Voltou ao grito de Carnaval, envergando uma fantasia de joaninha, com direito a antenas e microssaia de bolinhas. Assim trajada, abriu a folia de Fortaleza, para, logo em seguida, bater asas para Salvador, onde curtiu a folia no camarote da cantora Daniela Mercury. Há duas semanas, decidiu retribuir a hospitalidade da artista contratando-a para cantar no aniversário de 285 anos da capital. Luzianne novamente surpreendeu a população: escalou uma atriz para discursar em seu lugar e evitou, assim, as vaias com as quais a oposição pretendia ofuscar a apresentação da baiana. O show de Daniela Mercury custou 385.000 reais. Pegou mal. O valor é maior do que a dívida da prefeitura com um dos principais fornecedores de material cirúrgico da rede municipal de saúde. A falta de pagamento causou a suspensão das entregas do material na semana passada. “Ela pagou para o povo pular e beber cachaça em vez de cumprir suas obrigações com a saúde”, diz José Frota Neto, um dos credores.



Não foi a primeira vez que a prefeita usou o dinheiro público para demonstrar todo o seu apreço pelos cantores baianos, presença garantida nos réveillons de Fortaleza. Quatro dessas festas terminaram em pendengas jurídicas. Em todas, o motivo foi o mesmo: ausência de licitação e pagamentos de serviços não comprovados. Por exemplo, Luizianne declarou ter pago 715.000 reais de cachê a Caetano Veloso na última celebração. Alegou que o valor cobriu as passagens, as diárias e o transporte de equipamentos dos músicos que acompanhavam o cantor. O detalhe desconfortável é que Caetano havia feito um show-solo. À VEJA, o músico acusou a prefeitura de ter pago as despesas que ele não fez, nem cobrou.



Mesmo quando consegue comprovar suas despesas, a petista encontra problemas para justificá-las. O Tribunal de Contas do Ceará descobriu que, em 2007, ela usou o cartão corporativo pago pela prefeitura em uma loja de eletrônicos da Itália. Em 2008, Luizianne reincidiu. Mãe de um menino de 11 anos, foi flagrada passando o cartão em uma loja de brinquedos de Fortaleza. Aperreada com a repercussão do caso, requereu segredo de Justiça sobre os papéis. Sua mãe, a suplente de deputada estadual Luiza Lins, é outra fonte de problemas. Luiza não só construiu uma casa no meio de uma reserva ambiental como a está ampliando. Para não ser flagrada, pôs a obra em nome de um laranja. Só voltou atrás quando a ilegalidade foi descoberta pelo Mnistério Público Federal. Diante da casa em que mora, doze guardas municipais costumavam ficar postados até o Ministério Público estrilar. Apesar da proibição legal, Luizianne saiu em defesa da medida, alegando que ela visa à segurança do seu filho, que passa os dias com a avó.



Tantas são as reinações da petista em Fortaleza que acabaram inspirando a oposição a usar a internet para organizar manifestações públicas contra ela – no Ceará assim como no Egito. O movimento é liderado pelo dono de uma loja de manutenção de computadores, Tarsis Rocha. Ele conectou 7000 eleitores em redes sociais nas quais são divulgadas críticas e notícias sobre a prefeita. No dia 1° de abril, Rocha tentou converter a Rua São José, sede da prefeitura, em uma versão cariri da Praça Tahir, que sediou o movimento responsável pela queda do ditador Hosni Mubarak. Na ocasião, Rocha não conseguiu reunir mais do que 250 revoltosos. Espera ter mais sucesso na segunda passeata, marcada para o fim deste mês.



Solteira, alegre e jovial aos 42 anos, Luizianne não faz segredo de que mantém uma forte amizade com o empreiteiro Carlos Fujita. Os rumores de que os dois teriam um romance aumentaram de volume quando a prefeita ergueu (com dinheiro público, claro) um jardim japonês na orla de Fortaleza, em frente ao prédio onde mora Fujita. Recém-inaugurada, a obra homenageia o avô de Fujita e sua execuação coube a uma prima do empresário. Luizianne disse que o jardim não foi feito para agradar ao nipo-namorado, mas para homenagear a comunidade japonesa de Fortaleza. São 300 famílias."

http://www.cnews.com.br/poderepolitica/?p=432


http://virtual.diariodonordeste.com.br/eds/2011/04/25/A/paginas/pdf/A7.pdf


O último a sair por favor apague a luz.


O inusitado neste inicio de governo Dilma é a distensão política, o clima mais arejado e respirável que permite a presidenta nos poucos mais de 100 dias que está à frente do cargo de maior importância da república tocar em silêncio estratégico a continuidade a que se propôs imprimir a administração que sucedeu, impulsionando os projetos gestados ainda no governo Lula ao tempo que define um estilo pessoal que a diferencia do ex-presidente, muito mais afeito a uma interlocução direta com o destinatário das ações que desenvolveu enquanto liderava a nação em busca de um país mais justo, capaz de permitir oportunidades a tantos quantos fosse possível. Um ideal que precisa ser perseguido com tenacidade e que está além de um horizonte imediato.



A maior obra de Lula não foi eleger Dilma. Teria colocado um sucessor no lugar que ocupou por 8 anos independentemente do nome que apontasse, desde Marina a Ciro Gomes, Eduardo Campos, Mercadante, Marta ou Eduardo Suplicy. Uns com mais outros com menos dificuldades.

Passadas as eleições presidenciais que entrarão definitivamente na história como as mais sujas já disputadas no Brasil, fica a percepção de que a escolha que Lula fez foi quase um tiro no próprio pé, apesar das qualidades técnicas que o nome de Dilma reune,

reiteradamente desconstruido na tentativa de desqualificá-la pelo passado político militante de uma organização que combateu a ditadura, mulher, divorciada, sem jamais haver disputado uma eleição e dona de opiniões próprias que chocaram parte da sociedade brasileira,

por natureza conservadora e de perfil religioso, confrontado pelas idiossincrásias de um candidato extremamente duro e desleal que fez aflorar o sentimento de repulsa em segmentos relevantes que formam uma significativa parcela da opinião pública.



A obra maior de Lula foi deixar a oposição em frangalhos, sem bandeiras, esfacelada e brigando entre si. Desde que assumiu o governo de São Paulo, Alckmin não tem feito outra coisa que não seja eliminar qualquer vestígio do governo Serra,

acabando com programas criados pelo ex-governador, negando espaços a aliados e vazando informações sensíveis a imprensa amiga que comprometem a imagem de bom gestor de José Serra,

tais como a divulgação de que as enchentes que castigaram a capital paulista no ano em curso foi resultado direto da falta de investimentos na limpeza da calha do rio Tietê, bem como a interrupção das obras dos piçinões.



Alckmin também mandou fazer uma devassa em todos contratos celebrados pelo governo Serra e se empenhou pessoalmente em tomar para a si o controle do PSDB de São Paulo em retaliação ao apoio dado por Serra a Kassab, o que culminou com a saida do partido de seis vereadores, além de Walter Feldman um dos fundadores do PSDB que saiu disparando pra todos os lados.



A nau da oposição está desgovernada. Prova disso é a criação do PSD pelo prefeito paulistano Gilberto Kassab que esminliguiu os já definhados DEM e PPS dos quais vários deputados ensaiam uma debandada em direção a nova sigla, cuja orientação ideológica é o adesismo oportunista à base do governo Dilma. Até a estriônica Kátia Abreu uma das opositoras mais aguerridas ao governo Lula no senado federal ao lado de Marisa Serrano, agora muda o discurso e sinaliza que acompanhará Kassab em sua nova legenda.



E não fica por aí. Pelo menos 4 vices governadores e o governador de Santa Catarina estão definindo seu futuro político em direção ao partido de Kassab. Partido que segundo o próprio fundador não é nem de direita, nem de esquerda e nem de centro. Um bom entendedor definiria o partido de Kassab como adesista e fisiológico. Quem os elegeu o fez para que ficassem na oposição, fiscalizando o governo Dilma, fazendo o contraponto, apresentando alternativa.



O Brasil não precisa de uma oposição virulenta, incendiária e golpista do tipo que existiu durante todo o governo Lula. Mas um governo sem oposição, enfraquece a democracia, relaxa o governante e leva alguns a confundirem o público com o privado. Precisamos urgentemente de uma reforma política que dê consistência programática aos partidos e que acabe com essa indecência que desrespeita o eleitor, o menos que importa para essa corja de políticos oportunistas.

Um país de duas caras.







por Fábio Konder Comparato



Na cerimônia de conclusão do curso do Instituto Rio Branco, de preparação à carreira diplomática, a presidente Dilma Roussef declarou que o tema dos direitos humanos será promovido e defendido “em todas as instâncias internacionais sem concessões, sem discriminações e sem seletividade”.



A declaração foi acolhida com aplausos de todos os lados, muito embora ela nada mais represente do que o cumprimento de um expresso dever constitucional. A Constituição Federal, em seu art. 4º, inciso II, determina que o Estado brasileiro deve reger-se, nas suas relações internacionais, pelo princípio da “prevalência dos direitos humanos”.



Acontece que nessa matéria o Estado brasileiro – e não apenas este ou aquele governo – segue invariavelmente a regra dos dois pesos e duas medidas. A presidente da República corre o sério risco de passar à História como seguidora da máxima: Façam o que eu digo, mas não o que faço!



Em 24 de novembro de 2010, o Brasil foi condenado por unanimidade pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, em razão de crimes de Estado cometidos durante a chamada “Guerrilha do Araguaia”. Até agora, passados cinco meses dessa decisão internacional, nenhum dos nossos (mal chamados) Poderes Públicos fez um gesto sequer para iniciar a execução dessa sentença condenatória. Ressalte-se que, além de declarar que a decisão do Supremo Tribunal Federal de admitir a anistia dos torturadores e assassinos do regime militar “carece de efeitos jurídicos”, a Corte Interamericana de Direitos Humanos exigiu, entre outras medidas, que se implementasse um curso “obrigatório e permanente de direitos humanos, dirigido a todos os níveis hierárquicos das Forças Armadas”. Escusa dizer que tal curso não pode ser coordenado nem pelo Sr. Nelson Jobim nem pelo deputado Jair Bolsonaro.



Pior ainda. Inconformado com a decisão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que mandou suspender as obras de construção da Usina de Belo Monte, em razão do desrespeito aos direitos fundamentais dos indígenas que de lá foram expulsos, o governo da presidente Dilma Roussef, amuado, resolveu retirar a candidatura do ex-ministro Paulo de Tarso Vannuchi para ocupar justamente o posto de membro daquela Comissão, em substituição a Paulo Sérgio Pinheiro. Ou seja, “já que é assim, não brinco mais”.



Para dizer a verdade, essa duplicidade do Estado brasileiro em matéria de direitos humanos – o que se faz aqui dentro nada tem a ver com o que se prega lá fora – não é de hoje.



Durante todo o período imperial, a escravidão de africanos e seus descendentes tinha duas faces: uma civilizada e benigna perante os europeus civilizados, outra brutal e irresponsável cá dentro.



Em 1831 o governo do Regente Diogo Feijó promulgou uma lei que submetia a processo-crime por pirataria e contrabando, não só os traficantes de escravos africanos, mas também os seus importadores no território nacional. A mesma lei determinou que os africanos aqui desembarcados seriam de pleno direito considerados livres. No entanto, até 1850, como denunciou o grande advogado negro Luiz Gama, “os carregamentos eram desembarcados publicamente, em pontos escolhidos das costas do Brasil, diante das fortalezas, à vista da polícia, sem recato nem mistério; eram os africanos, sem embaraço algum, levados pelas estradas, vendidos nas povoações, nas fazendas, e batizados como escravos pelos reverendos, pelos escrupulosos párocos”.



Na verdade, a Lei Eusébio de Queiroz de 1850, que extinguiu efetivamente o tráfico negreiro, só foi aplicada porque a armada inglesa, autorizada pelo Bill Aberdeen de 1845, passou a apresar os barcos negreiros, até mesmo dentro dos nossos portos.



Pois bem, uma vez extinto o comércio infame de seres humanos, o governo imperial passou a sofrer a pressão internacional para abolir a escravidão. Na conferência de Paris de 1867, convocada para tratar do assunto, as nossas autoridades não hesitaram em declarar que “os escravos são tratados com humanidade e são em geral bem alojados e alimentados… O seu trabalho é hoje moderado… ao entardecer e às noites eles repousam, praticam a religião ou vários divertimentos”. Só faltou dizer que os brancos pobres se acotovelavam na entrada das fazendas, para serem admitidos como escravos…



Como combater essa duplicidade de conduta tradicional entre nós, em matéria de direitos humanos?



Só há uma maneira: denunciar abertamente os verdadeiros autores desses crimes, perante o único juiz legítimo, que é o povo brasileiro.



É indispensável, antes de mais nada, mostrar que essa reprovável duplicidade de caráter é um defeito específico das falsas elites que compõem a nossa oligarquia.



É preciso, porém, fazer essa denúncia diretamente perante o povo, pois em uma democracia autêntica é ele, não os governantes eleitos, quem deve exercer a soberania.



Acontece que, numa sociedade de massas, uma denúncia dessas há de ser feita, necessariamente, através dos meios de comunicação de massas. Ora, há muito tempo estes se acham submetidos à dominação de um oligopólio empresarial, cujos membros integram o núcleo oligárquico, que controla o Estado brasileiro.



Chegamos, assim, à raiz de todas as formas de duplicidade que embaralham a vida pública neste país: tudo é feito em nome do povo, mas este é impedido de tomar qualquer decisão por si mesmo. O soberano constitucional acha-se em estado de permanente tutela.

Governos fantoches e elites locais subordinadas, a força que alimentava o império agora em declínio.


O império de Washington subiu no telhado

“Em mundo multipolar de novas potências, com Pequim, Nova Delhi, Moscou, Ancara e Brasília”…



O ‘império’ dos EUA, de autocratas, aristocratas e ditadores militares, subiu no telhado



24/4/2011, Alfred W. McCoy e Brett Reilly, no TomDispatch



Tradução do Coletivo da Vila Vudu



Num dos mais bem-vindos movimentos das forças da história, a justaposição de dois extraordinários eventos deixou a nu a arquitetura do poder global dos EUA, e todos afinal podem vê-la. Em novembro do ano passado, WikiLeaks fez chover sobre o mundo quantidades diluvianas de telegramas diplomáticos, recheados dos mais abusivos comentários formulados por diplomatas dos EUA sobre governantes de todo o planeta, da Argentina ao Zimbabwe, e estampados nas primeiras páginas dos jornais. Em seguida, poucas semanas depois, o Oriente Médio explodiu em manifestações pró-democracia e contra ditadores, muitos dos quais aliados íntimos dos EUA, alianças sobre as quais os telegramas publicados por WikiLeaks não deixam dúvidas.



De repente, viu-se o esqueleto da ordem mundial construída pelos EUA e que depende significativamente de líderes nacionais que são “elites subordinadas” fiéis a Washington, mas que, de fato, não passam de bando sortido de autocratas, aristocratas e militares ditadores. Quando se viram os aliados, viu-se também a lógica mais ampla, que quem não visse jamais conseguiria explicar, que preside todas as decisões de política exterior dos EUA ao longo de meio século.



Por que a CIA se arriscaria, em 1965, no auge da Guerra Fria, em operações como derrubar líder prestigiado como Sukarno na Indonésia, ou por que encorajaria o assassinato do católico Ngo Dinh Diem em Saigon em 1963? A resposta – à qual afinal se chega agora, graças às publicações de WikiLeaks e ao “despertar árabe” – é que nos dois casos tratava-se de subordinados selecionados por Washington, os quais, de repente, se insubordinaram e tornaram-se descartáveis.



Por que, meio século depois, Washington trairia todos os seus princípios democráticos declarados e apoiaria o presidente do Egito Hosni Mubarak contra milhões de egípcios nas ruas, só para, quando já não havia como mantê-lo no comando, indicar para substituí-lo, pelo menos no primeiro momento, o seu chefe de segurança Omar Suleiman, conhecido como chefe dos serviços de tortura que eram arrendados aos serviços de tortura de Washington? A resposta é que os dois eram também subordinados selecionados por Washington, que serviam bem aos interesses dos EUA em estado considerado chave no Oriente Médio.



Em todo o Grande Oriente Médio, da Tunísia e Egito ao Bahrain e Iêmen, manifestantes democráticos, nas ruas ameaçam varrer do mapa todas as elites subordinadas, consideradas crucialmente necessárias para manter o poder dos EUA. Sempre foi assim: todos os impérios modernos dependeram de delegados que traduzissem o poder global em termos de controles locais. Mas, quando aquelas elites locais começaram a dar sinais de interesse em implantar agendas próprias, o colapso dos impérios começou a aparecer nas cartas.



Assim como as “revoluções de veludo” que varreram o leste europeu em 1989 tocaram as trombetas do fim do império soviético, assim também as “revoluções do jasmim” que se espalham pelo Oriente Médio podem bem estar sinalizando o começo do fim do poder global dos EUA.



Militares no comando



Para entender a importância das elites locais, é preciso considerar os primeiros dias da Guerra Fria, quando uma Casa Branca desesperada procurava alguma coisa, qualquer coisa, que tivesse qualquer mínima chance de deter o que Washington via como sentimento pró-comunistas e antiamericano no mundo. Em dezembro de 1954, o Conselho de Segurança Nacional reuniu-se na Casa Branca e traçou uma estratégia para domar todas as forças nacionalistas mais poderosas que se constituíam, naquele momento, em todo o mundo.



Na Ásia e na África, meia dúzia de impérios europeus que até então haviam garantido a estabilidade da ordem global por mais de um século estavam-se pulverizando, dando origem a cem novas nações, muitas das quais – do ponto de vista de Washington – suscetíveis de serem cooptadas pela “subversão comunista”. Na América Latina, o problema era o avanço da oposição de esquerda, entre as massas urbanas que não paravam de crescer e entre os camponeses sem terra.



Depois de examinar as “ameaças” que se formavam contra os EUA na América Latina, o influente Secretário do Tesouro George Humphrey declarou aos seus colegas do Conselho de Segurança Nacional que todos parassem “de falar tanto em democracia” e cuidassem, imediatamente, de “apoiar ditaduras de direita que tivessem políticas pró-EUA”. Foi quando, em momento de brilhante insight estratégico, Dwight Eisenhower interrompeu, para observar que Humphrey dizia, de fato, que todos passassem a raciocinar em temos de “Tudo bem, se for o nosso filho da puta”.



É momento histórico para nunca esquecer, porque o presidente dos EUA acabava de articular, com clareza cristalina, o princípio constitutivo do sistema de dominação global que Washington implementaria daquele dia em diante e pelos 50 anos seguintes: trocar qualquer princípio democrático por uma dura realpolitik de apoiar qualquer líder que apoiasse os EUA. E assim se construiu uma rede planetária de líderes nacionais (muitas vezes também nacionalistas) dispostos a por as necessidades de Washington acima de qualquer necessidade local.



Durante a Guerra Fria, os EUA favoreceram ditadores militares na América Latina, ditadores aristocráticos no Oriente Médio e uma mistura de democratas e ditadores na Ásia. Em 1958, golpes militares na Tailândia e no Iraque repentinamente viraram os holofotes para os militares do Terceiro Mundo, exibindo-os como forças às quais os EUA poderiam recorrer e com as quais poderiam contar. Foi quando o governo Eisenhower decidiu trazer líderes militares estrangeiros para treiná-los nos EUA e, assim, facilitar “o gerenciamento” das forças de mudança geradas pelo desenvolvimento daquelas nações emergentes. Dali em diante, Washington faria jorrar ajuda militar para cultivar os exércitos dos aliados e possíveis aliados em todo o planeta, ao mesmo tempo em que “missões de treinamento” seriam usadas para construir laços cruciais entre militares dos EUA e oficiais dos exércitos em todo o mundo; e, onde as elites subordinadas não parecessem suficientemente subordinadas, para ajudar a identificar líderes alternativos.



Nos casos em que presidentes civis se insubordinassem, entraria em ação a CIA, promovendo golpes que poriam no poder governos militares confiáveis – substituindo o primeiro-ministro do Irã Mohammad Mossadeq, que tentou nacionalizar o petróleo iraniano, pelo general Fazlollah Zahedi (então o jovem Xá) em 1953; o presidente Sukarno, pelo general Suharto na Indonésia na década seguinte; e, claro, o presidente Salvador Allende pelo general Augusto Pinochet no Chile em 1973, para citar apenas esses três casos.



Nos primeiros anos do século 21, a confiança de Washington nos militares nos seus estados-clientes só aumentou. Os EUA entregavam 1,3 bilhões de dólares ao ano ao Egito, como ajuda militar, e investiam só 250 milhões de dólares em programas de desenvolvimento econômico do país. Resultado disso, quando as manifestações populares sacudiram as bases do regime no Cairo em janeiro passado, os EUA imediatamente pensaram em uma “transição pacífica” com troca de generais. Nas palavras do New York Times, “investimento de 30 anos que rendeu bons dividendos, quando generais dos EUA e agentes de inteligência conheciam todos os nomes cogitados para formar um novo governo, amigos e colegas com os quais trabalharam e serviram”. “Transição pacífica”, no Egito, com apoio do exército, para manter a ditadura militar.



Em outros locais no Oriente Médio, Washington, desde os anos 1950s, sempre acompanhou a preferência britânica por aristocratas árabes, cultivando aliados como um Xá (no Irã), vários sultões (Abu Dhabi, Oman), vários emires (Bahrain, Kuwait, Qatar, Dubai), vários reis (Arábia Saudita, Jordânia, Marrocos). Em toda essa região vasta e volátil, do Marrocos ao Irã, Washington cortejou regimes monárquicos aos quais ofereceu alianças militares, sistemas de armas norte-americanos, apoio da CIA para a segurança local, paraíso seguro nos EUA para o dinheiro daquelas monarquias, e favores especiais às elites locais, entre as quais estudo e formação acadêmicas para os príncipes e nobres, com livre acesso às universidades norte-americanas ou escolas de formação de militares do Departamento de Defesa em todo o planeta.



Em 2005, a secretária de Estado Condoleezza Rice fez patético resumo de todo esse trabalho: “Há 60 anos, os EUA procuram a estabilidade à custa da democracia no Oriente Médio. Não conseguimos nem uma, nem outra”.



Mas, antes, funcionava…



Os EUA não são a primeira potência a construir poder imperial baseado em laços pessoais com líderes locais. Nos séculos 18 e 19, a Grã-Bretanha reinou sobre os oceanos (como os EUA depois reinariam nos céus), mas, em terra, como todos os impérios passados, tudo sempre dependeu de alianças locais que servissem de representantes locais, para o controle direto, local, das sociedades humanas, sempre mais voláteis que céus e mares. Não fosse assim, como, em 1900, uma nação insular, de apenas 40 milhões de almas, com exército de apenas 99 mil soldados, comandaria um império global de 400 milhões de seres humanos, quase um quarto de toda a humanidade?



De 1850 a 1950, a Grã-Bretanha controlou suas colônias formais mediante uma extraordinária rede de aliados locais – dos chefes das ilhas Fiji e sultões da Malásia a maharajas indianos e emires africanos. Simultaneamente, mediante elites subordinadas, os britânicos controlavam um “império informal” ainda mais amplo, que incluía imperadores (de Pequim a Istanbul), reis (de Bangkok ao Cairo) e presidentes (de Buenos Aires a Caracas). No auge, em 1880, o império informal britânico na América Latina, Oriente Médio e China era maior, em população, que as colônias formalmente ligadas à ‘metrópole’ na Índia e na África. Todo esse gigantesco império global, sobre cerca de metade de todos os seres humanos sobre o planeta, dependeu, sempre, de frágeis laços de cooperação com as elites locais.



Mas repentinamente, depois de 400 anos de ininterrupta expansão imperial, os cinco maiores impérios europeus de ultramar foram varridos do mapa, em apenas 25 anos de descolonização. Entre 1947 e 1974, os impérios belga, britânico, holandês, francês e português sumiram da Ásia e da África, dando lugar a uma centena de novas nações, das quais mais de 50 são hoje estados soberanos. À caça de explicação para mudança tão rápida e tão radical, muitos especialistas concordam com Ronald Robinson, historiador do império britânico, autor de famosíssima frase: “quando somem os seus governantes indígenas, os impérios morrem”.



Durante a Guerra Fria que coincidiu com essa era de rápida descolonização, as duas superpotências globais voltaram aos mesmos métodos e usaram com regularidade suas respectivas agências de espionagem para manipular os governos dos novos estados independentes. A KGB da URSS e suas agências delegadas, como a Stasi na Alemanha Oriental e a Securitate na Romênia forçaram uma uniformidade política entre os 14 estados satélites soviéticos na Europa do Leste e desafiaram os EUA, em todos os estados leais aos norte-americanos no Terceiro Mundo. Simultaneamente, a CIA monitorou de perto a lealdade de seus presidentes, autocratas e ditadores nos quatro continentes, com golpes, suborno e penetração nos serviços de segurança nacionais e, sempre que necessário, derrubaram governos inconvenientes.



Numa era de sentimento nacionalista, contudo, a lealdade das elites locais mostrou-se assunto mais complexo do que se esperava. Muitas daquelas elites eram arrastadas por lealdades conflitivas e muitas vezes por sentimentos arraigados de nacionalismo, o que obrigava os EUA a vigiá-las de perto. Aquelas elites eram tão criticamente importantes e qualquer insubordinação implicava questões tão amplas, que a CIA passou a trabalhar rotineiramente em operações clandestinas para ‘mantê-las em rota’, operações que geraram algumas das maiores crises da Guerra Fria.



Ante o crescimento da crise em seu sistema global de controle no mundo de depois da II Guerra Mundial, restaram poucas alternativas a Washington, além de trabalhar com fantoches locais os quais – mesmo que em posições mais fracas – ainda tentavam maximizar o que viam como interesse nacional de suas nações (tanto quanto viam como seu interesse mais diretamente pessoal). Mesmo no auge do poder global dos EUA, nos anos 1950s, quando a dominação norte-americana ainda não enfrentava desafios graves, Washington foi forçada a barganhar com alguns líderes locais, como, por exemplo, Raymond Magsaysay nas Filipinas, o ditador sul-coreano Syngman Rhee e com Ngo Dinh Diem no Vietnã do Sul.



Na Coreia do Sul, nos anos 1960s, por exemplo, o general Park Chung Hee, então presidente, condicionou o uso de tropas de seu país a bilhões de dólares para investimento – primeiro passo do que seria depois o “milagre” econômico sul-coreano. No processo, Washington pagou e obteve o que mais queria: 50 mil soldados e mercenários coreanos, para sua guerra no Vietnã, cada dia mais impopular.



No mundo pós-Guerra Fria



Depois de derrubado o Muro de Berlim em 1989, o que marcou o fim oficial da Guerra Fria, Moscou rapidamente perdeu seus estados-satélites, da Estônia ao Azerbaidjão, à medida que estados leais aos soviéticos saltavam do barco imperial que naufragava. Para Washington, que se sentiu “vitoriosa” e já se preparava para ocupar o lugar de “única superpotência” no planeta, começaria ali processo idêntico, mas um pouco mais lento.



Ao longo das duas décadas seguintes, a globalização gerou um sistema multipolar de potências emergentes em Pequim, Nova Delhi, Moscou, Ancara e Brasília – ao mesmo tempo em que um poder desnacionalizado e corporativo reduzia a dependência das economias em desenvolvimento, que deixavam cada dia mais de depender de um único estado, por mais ‘imperial’ que quisesse ser. Com sua capacidade para controlar elites pelo mundo cada dia menos efetiva, Washington teve, então de encarar a concorrência política e ideológica do fundamentalismo islâmico, dos sistemas de regulação da União Europeia, do capitalismo de Estado chinês e de uma onda crescente de nacionalismo econômico na América Latina.



Na medida em que o poder de influência dos EUA declinava, as tentativas de Washington para controlar suas elites subordinadas locais pelo mundo começaram a falhar, algumas vezes espetacularmente. O caso mais espetacular de fracasso desse tipo foi o golpe tentado para depor Hugo Chavez da Venezuela, fracasso, de fato, retumbante, em 2002. Outro caso, a tentativa de tirar da órbita soviética a Georgia do aliado Mikheil Saakashvili em 2008. E, isso, sem falar na nêmesis de Washington, Mahmoud Ahmadinejad, que enfrentou tentativa de golpe nas eleições de 2009 no Irã e lá continua, até hoje. Onde, antes, sempre bastaram os golpes da CIA ou muito dinheiro, foi necessário, no governo Bush, toda uma massiva invasão militar, com guerra, para tirar do posto um único adversário, ditador ex-aliado que, de repente, começara a criar problemas, Saddam Hussein. E mesmo assim, os EUA viram bloqueados seus planos para “troca de regime” na Síria e no Irã, quando esses dois estados contribuíram para criar uma guerrilha devastadora contra as forças dos EUA, dentro do Iraque.



Do mesmo modo, apesar dos bilhões de dólares consumidos em ajuda externa, Washington ainda não conseguiu controlar o presidente que os próprios norte-americanos puseram no poder no Afeganistão, Hamid Karzai, que, em resposta memorável aos enviados norte-americanos que não lhe davam sossego, disse que “Se querem um fantoche para chamar de parceiro, nada feito. Se querem um parceiro, sim, podemos conversar.”



Depois, no final de 2010, WikiLeaks começou a publicar aqueles milhares de telegramas diplomáticos dos EUA que abrem via ampla, sem qualquer controle ou censura, para que se veja, ‘ao vivo’, o enfraquecimento do poder de Washington, que já não domina o sistema de poder delegado que construiu e no qual muito investiu durante 50 anos. Ao ler aqueles documentos, o jornalista israelense Aluf Benn do jornal Haaretz, viu “a queda do império americano, o declínio de uma superpotência que comandou o mundo com seu exército e supremacia econômica.” Nunca mais, escreveu ele “os embaixadores dos EUA serão recebidos nas capitais do planeta como ‘altos comissários’. São vistos hoje como o que hoje são: burocratas cansados, que consomem seus dias ouvindo tediosamente o que não querem ouvir, cada interlocutor empenhado em seu discurso próprio, sem jamais conseguirem convencer os interlocutores locais sobre quem é a superpotência e quem é o estado-cliente.”



É verdade. O que os documentos publicados por WikiLeaks mostram é um Departamento de Estado que labuta para manter um sistema global indisciplinável, de elites locais cada dia mais insubordinadas; um Departamento de Estado que usa de todos os meios – que se serve da mais pura intriga tentando recolher informação e inteligência, de gestos de amizade para tentar obter alguma solidariedade, de ameaças para obrigar a cooperar e que desperdiça bilhões de dólares para comprar uma influência que nunca é suficiente. No início de 2009, por exemplo, o Departamento de Estado instruiu suas embaixadas em todo o mundo a agir como polícia imperial para recolher informação sobre líderes locais, inclusive “endereços de e-mail, números de telefones e faxes, impressões digitais, fotos, DNA e imagens SCAN da íris”.



Não há evidência mais clara de que, como qualquer subgovernador de colônia periférica, o Departamento de Estado depende hoje de informação de algibeira para incriminar adversários, do que a ordem, do Departamento de Estado à embaixada do Bahrain, para que reunisse detalhes sórdidos sobre os príncipes coroados do reino, que os comprometessem aos olhos de uma sociedade islâmica. Textualmente: “O que sabemos que incrimine os príncipes? Algum deles bebe álcool? Usa drogas?”



Com arrogância de quem foi enviado do império até anteontem, os diplomatas dos EUA ainda se autoconsideram senhores de todo o poder e descartam “os turcos neo-otomanos que aparecem pelo Oriente Médio e os Bálcãs”. Ou supõem que conheçam todas as fraquezas das elites subordinadas, como, por exemplo, “a loura voluptuosa que presta serviços de enfermagem ao coronel Muammar Gaddafi”, ou o “medo pânico” que os golpes militares inspiram ao presidente do Paquistão Asif Ali Zardari, ou sobre os 52 milhões de dólares “de fundos roubados” na conta do vice-presidente Ahmad Zia Massoud, do Afeganistão.



Mas, à medida que sua influência declina, Washington está descobrindo que muitos de seus aliados selecionados a dedo nas elites locais ou se tornam cada vez menos controláveis ou cada vez mais irrelevantes, sobretudo no estratégico Oriente Médio. Em meados de 2009, por exemplo, o embaixador dos EUA na Tunísia relata que “o presidente Ben Ali… e seu governo perderam qualquer contato com o povo tunisiano” e dependem “da polícia para controlar o povo”, ao mesmo tempo em que “a corrupção cresce nos círculos mais íntimos do poder” e “aumentam os riscos de instabilidade do regime, para o longo prazo”. Pois mesmo assim, o enviado dos EUA só recomenda que Washington “desconsidere a crítica popular” e passe a confiar “na sinceridade das informações que se obtêm nos altos círculos” – exatamente a mesma política que não produziu reforma alguma, até que as ruas derrubaram o ditador, apenas 18 meses depois dessa informação ‘de inteligência’.



Assim também , no final de 2008, a embaixada dos EUA no Cairo temia que “a democracia egípcia e os esforços de defesa dos direitos humanos estão sendo sufocados”. Mas, como disse a própria embaixada, “nada parece sugerir que se venha a assistir a complicações para os interesses regionais dos EUA, no caso de os laços entre EUA e Egito virem a ser gravemente enfraquecidos”. Quando, poucos meses depois, Mubarak visitou Washington, a Embaixada do Cairo insistiu para que a Casa Branca “restaure o senso de calorosa amizade que tradicionalmente caracterizou a parceria EUA-Egito”. E por isso, em junho de 2009, apenas 18 meses antes de Mubarak ser derrubado, o presidente Obama saudou seu ditador tão útil como “aliado confiável, um pilar de estabilidade e bonança na Região”.



Enquanto a crise na praça Tahrir no Cairo só fazia crescer, um respeitado líder da oposição, Mohamed ElBaradei, reclamava amargamente que Washington “está empurrando todo o mundo árabe na direção da radicalização, com essa política inábil de apoiar a repressão”. Depois de 40 anos de domínio dos EUA, o Oriente Médio, disse ele, não passava de “um punhado de estados fracassados que nada acrescentam à humanidade ou à ciência” porque “as pessoas são ensinadas a não pensar nem agir e, consistentemente, recebem educação inferior.”



Dado que não há guerra global capaz de simplesmente varrer do mundo um império, o declínio de uma grande potência sempre é lento, doloroso processo de esgotamento. Além das duas guerras dos EUA no Iraque e no Afeganistão, que se aproximam de alguma coisa que mais parece derrota que vitória, o capital do império vê-se atacado por grave crise fiscal, a moeda do reino perde valor de troca, e aliados de muito tempo constroem laços econômicos e até militares com a rival China. A tudo isso, impossível não acrescentar a possível perda de leais delegados em todo o Oriente Médio.



Há mais de 50 anos, Washington aproveita-se de um sistema global de poder baseado em elites locais subordinadas. Esse sistema facilitou a expansão da influência norte-americana por todo o mundo, com surpreendente eficácia e (em termos relativos) satisfatória economia de forças. Hoje, esses aliados leais já mais se parecem império desconexo, ou estados abertamente insubordinados. Make no mistake, como gosta de dizer o presidente Obama, que ninguém se engane: o fim de meio século de laços do velho tipo, indica, claramente, que Washington subiu no telhado.