sexta-feira, 22 de julho de 2011

Dirigente da Fifa deu dinheiro a cartolas, indica documento

DA BBC BRASIL

A BBC obteve um documento que detalha a alegação de que o dirigente Jack Warner entregou a uma representante de uma federação do Caribe uma mala fechada com envelopes de dinheiro que deveriam ser distribuídos a membros da União Caribenha de Futebol (CFU, na sigla em inglês) durante um encontro para promover a candidatura de Mohamed Bin Hammam à presidência da Fifa.

A alegação faz parte de um relatório assinado pela secretária-geral da CFU, Angenie Kanhai. O documento de duas páginas, em papel timbrado da CFU com data de 15 de julho de 2011, foi preparado para o secretário-geral da Fifa, Jerome Valcke, mas deveria ser enviado por meio do comitê executivo da CFU.

O documento acabou sendo enviado para o comitê de ética da Fifa, que investiga a denúncia de que Bin Hammam teria tentado subornar membros da CFU com "presentes" no valor de cerca de R$ 100 mil cada. Kanhai viajou para Zurique, onde prestaria depoimento nesta sexta-feira em audiência do comitê que julga as acusações.

Warner, Bin Hammam e dois membros da CFU, Debbie Minguell e Jason Sylvester, se recusaram a cooperar com a investigação do comitê de ética da Fifa, comandada pelo ex-diretor do FBI Louis Freeh.

Por isso, a aparente cooperação de uma figura importante da CFU -- Warner era, na prática, o chefe de Kanhai -- representa um desdobramento significativo.

MALA COM ENVELOPES

O relatório assinado por Kanhai detalha o que aconteceu durante o encontro da CFU no Hyatt Hotel, em Trinidad, nos dias 10 e 11 de maio. No documento, ela afirma:
"Fui indicada para coordenar o encontro especial da CFU por Jack Warner, que era na época o presidente da CFU. Warner inicialmente pediu que o encontro fosse realizado em 18 de abril de 2011, mas a data em maio acabou definida.

"O objetivo do encontro especial era oferecer a Bin Hammam a oportunidade de se dirigir aos delegados da CFU.

"Em 10 de maio de 2011, Warner me avisou que tinha presentes, que deveriam ser distribuídos aos delegados. Warner não me contou o que eram os presentes, mas disse que eles deveriam ser distribuídos no hotel naquela tarde. Após consultar minha equipe, Jason Sylvester e Debbie Minguell, sugeri a Warner que os presentes fossem distribuídos entre 15h e 17h daquele dia.

"Durante a sessão da manhã de 10 de maio, Warner anunciou aos presentes que eles deveriam recolher os presentes mencionados acima. Fui informada que deveria ir ao escritório dele para pegar os presentes que seriam distribuídos.

"Cheguei ao escritório de Warner por volta de 14h30 de 10 de maio e peguei uma mala fechada com a chave no bolso da frente.

"A mala continha 26 envelopes, esses envelopes não estavam marcados e estavam dobrados e fechados. Não vi nenhum envelope aberto e deixei que Debbie Minguell e Jason Sylvester distribuíssem os envelopes.

"No dia seguinte, encontrei Debbie e Jason no café da manhã no hotel e eles me informaram que os envelopes continham dinheiro."

WARNER NEGA

O relatório prossegue e diz:

"Conversando com o representante das Bahamas, fui informada que ele devolveu o envelope. O representante de Turks e Caicos devolveu o envelope a Minguell na manhã de 11 de maio.

"Após o encontro, entrei em contato com Warner, que pediu que a mala e os envelopes que tivessem sobrado fossem devolvidos a ele."

Embora Bin Hammam, Minguell e Sylvester corram o risco de ser banidos do futebol após o julgamento no comitê de ética, todas as acusações contra Warner foram retiradas no mês passado, quando ele renunciou de seus cargos na Fifa e nas entidades regionais do futebol caribenho.

Testemunhas de algumas das 25 federações que pertencem à CFU declararam que a ideia de dar presentes em dinheiro começou com Warner. Mas, apesar de ter abandonado seus cargos diretivos no futebol, Warner negou diversas vezes ter qualquer envolvimento com o pagamento de propinas.

Um comunicado divulgado em 20 de junho, Warner afirmou: "Estou convencido de que, já que minhas ações não foram além de facilitar o encontro que deu a Bin Hammam a oportunidade de promover sua candidatura à Presidência da Fifa, eu seria totalmente inocentado por qualquer árbitro objetivo".

A descrição de Kanhai sobre os eventos em Trinidad sugere, no entanto, que Warner estava mais envolvido no escândalo de propinas do que ele admitiu anteriormente.

Mas, apesar de o relatório indicar uma clara cadeia de comando entre Warner e os funcionários que teriam distribuído o dinheiro, o documento não prova uma ligação direta entre o dinheiro e Bin Hammam.

COMITÊ DE ÉTICA

Trechos que vazaram do relatório de Freeh sobre o caso apontam que, embora não existam provas contundentes, há "evidências circunstanciais contundentes" de que Bin Hammam estava por trás do escândalo.

Procurada por telefone pela BBC nos últimos dias, Kanhai se recusou a comentar as informações de que teria entregue a polêmica mala de dinheiro de Warner.

Kanhai não retornou as diversas ligações até a publicação desta reportagem, e os pedidos para que Warner comentasse as informações também não foram respondidos.

As novas informações surgem em meio ao início da audiência do comitê de ética da Fifa que julga as alegações contra Bin Hammam. Nesta sexta-feira, o dirigente do Qatar de 62 anos, suspenso de qualquer atividade relacionada ao futebol desde 29 de maio, divulgou um comunicado em que se mostra pessimista quanto ao resultado do julgamento.

"Apesar da fragilidade das acusações contra mim, não estou confiante de que a audiência será conduzida da maneira como gostaríamos", afirmou Bin Hammam.

"Parece provável que a Fifa tomou sua decisão semanas atrás. Então, nenhum de nós deve ficar muito surpreso se um veredicto de culpado for anunciado".

Número de mortos em tiroteio em ilha na Noruega sobe para 80



DE SÃO PAULO

Subiu para 80 o número de mortos no tiroteio no centro de juventude do Partido Trabalhista, na ilha de Utoeya, ao noroeste da capital, segundo informação da imprensa norueguesa.

A polícia informou que eles encontraram mais vítimas do que os dez inicialmente reportados.

Vegard M. Aas/Associated Press
Imagem mostra vítimas do tiroreio na ilha de Utoya, na Noruega, número de mortos chega a 80
Imagem mostra vítimas do tiroreio na ilha de Utoya, na Noruega, número de mortos chega a 80

O duplo ataque ocorrido na Noruega nesta sexta-feira -- uma explosão que atingiu um prédio do governo no centro de Oslo e um tiroteio no centro de juventude do Partido Trabalhista, na ilha de Utoeya, ao noroeste da capital-- matou ao menos 87 pessoas. O número aumentou dramaticamente, uma vez que o número anterior era de 17 mortos.



O número foi confirmado pelo diretor da polícia, Oystein Maeland, em uma entrevista coletiva às 3h30 (horário local) divulgada pelo canal norueguês NRK. Maeland ainda disse que não poderia garantir que os números não iriam aumentar.

O ministro da Justiça do país, Knut Storberget, disse em coletiva de imprensa que um cidadão norueguês foi detido após os atentados. A identidade do homem não foi revelada de imediato, mas jornais divulgaram seu nome, Anders Behring Breivik, e sua foto.

Ele disse também que a resposta à violência é a democracia, pediu às pessoas que não usem celulares se não for estritamente necessário, para não sobrecarregar a rede de telefonia, e que permaneçam em casa.

O primeiro-ministro norueguês, Jens Stoltenberg, condenou os ataques durante a coletiva, e disse que o país "se unirá" nesse momento de crise.

"Isso não irá destruir nossa democracia", afirmou ele, dizendo ainda que a explosão no prédio em que fica seu gabinete na capital é um "ataque às suas políticas" e o atentado a tiros ao campo do Partido Trabalhista é um "ataque à juventude que discute as questões políticas".

DANOS

A explosão estourou vidraças no edifício de 17 andares onde fica o escritório do primeiro-ministro e também do Ministério do Petróleo, que está em chamas.

O prédio do tabloide "VG" e outras publicações norueguesas, que fica próximo, também foi danificado.



"Vi que as janelas do edifício do "VG" e da sede do governo estouraram. Há pessoas ensanguentadas nas ruas", disse um jornalista da rádio estatal NRK, que está no local.

"Há vidro por toda a parte. É o caos total. As janelas de todos os edifícios dos arredores voaram pelos ares", afirmou o jornalista da NRK Ingunn Andersen, que a princípio pensou que o estrondo fosse um terremoto.

As imagens divulgadas pelos jornais noruegueses mostram os destroços acumulados em frente ao edifício da "VG". Já as cenas filmadas por noruegueses nos momentos após a explosão mostram grande correria e pânico nas ruas.

A polícia isolou a região e esvaziou os prédios vizinhos.

Berit Roald/Associated Press
Pessoas feridas deixam local de explosão em Oslo; polícia encontrou bomba também em ilha
Pessoas feridas deixam local de explosão em Oslo; polícia encontrou bomba também em ilha atacada

Horas depois da explosão, tiros foram disparados no centro de juventude na ilha de Utoeya.

Editoria de Arte/Folhapress

Recados para Dilma

 

Professor universitário caminha mil quilômetros para recolher mensagens para a presidente e agora espera se encontrar com ela

Juliana Dal Piva

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No dia 14 de julho, o ministro Gilberto Carvalho, da secretaria-geral da Presidência, recebeu uma visita inusitada. Em vez dos compromissos tradicionais com políticos, Carvalho abriu espaço na agenda para uma conversa com o professor de relações públicas Backer Ribeiro. Não foi um encontro qualquer. Ribeiro trazia uma lista de três mil pedidos de brasileiros endereçados à presidente Dilma Rousseff. Mais incomum ainda: os recados foram recolhidos pelo professor ao longo de 1.040 quilômetros de estradas percorridas a pé e que duraram extenuantes 40 dias. No trajeto – ele saiu de São Paulo e foi até Brasília, passando por 27 municípios – foram entrevistados milhares de cidadãos ansiosos por enviar sua mensagem à presidente. O projeto, batizado de Carta de um Brasileiro, surgiu por acaso. Em uma conversa de bar com amigos, Ribeiro perguntou aos convivas o que pediriam se tivessem a oportunidade de mandar um recado para Dilma. A ideia foi levada para a internet. Diante da boa receptividade, ele decidiu colocar em prática o que de início parecia uma loucura. Agora espera pelo menos que a presidente tome conhecimento dos anseios dos cidadãos.

Ribeiro conseguiu a proeza de captar o que se pode chamar de Brasil verdadeiro. Ele conversou com todo tipo de gente. Uma prostituta de Luziânia, em Goiás, viúva e mãe de três filhos, o emocionou. “Ela queria um emprego que pagasse pelo menos um salário mínimo”, diz o professor. A paulista Rayssa Lira pediu cursos de idiomas para a população de baixa renda. O morador de Sobradinho (DF) Jean Luc Lombart quer a instituição da prisão perpétua. De Uberlândia, Lucas Henrique Ferreira solicita a criação de leis que defendam os direitos dos homossexuais. Na mesma cidade, Hanny Angele implora para que a presidente ajude as brasileiras a ser mais valorizadas. “Quero pedir à nossa presidente que seja revisto todo direito da mulher no Brasil”, escreveu Hanny. Segundo o professor, os depoimentos das mulheres são os mais solidários. “Sempre pensando na família e na comunidade, elas em geral pediam mais cuidado com a saúde e a educação.” Para compor um painel mais completo da nação, ele também recolheu cartas enviadas por pessoas de Estados por onde não caminhou. Do município de Rodeio, em Santa Catarina, um recado curioso. Anna Baranski quer que o médico Hosmany Ramos seja liberto da cadeia.
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Ribeiro caminhou em média 30 quilômetros por dia e a jornada começava sempre por volta das 6h30 da manhã. No trajeto, era acompanhado por um carro de apoio. Durante muito tempo, o professor chegou a duvidar que os pedidos seriam repassados à presidente, mas o encontro com Gilberto Carvalho deu a ele a esperança de que as mensagens sejam lidas por Dilma. “Os documentos foram encaminhados ao gabinete pessoal da presidente, mas ainda não há posição sobre o possível encontro dela com o professor Backer”, disse à ISTOÉ o assessor de comunicação da Secretaria-Geral da Presidência, Sérgio Alli. Ribeiro quer levar pessoalmente seu próprio pedido. “Meu recado é que a presidente deixe a questão econômica para o mercado”, diz o professor. “O Brasil não precisa ser a décima economia mundial, mas sim a décima nação em desenvolvimento humano.”
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O poder paralelo de Valdemar Costa Neto



Como o líder do PR montou um esquema no Ministério dos Transportes para se aproveitar de um orçamento de R$ 21 bilhões, cobrando propinas e superfaturando obras públicas

por Claudio Dantas Sequeira

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O PADRINHO
Ele tinha gabinete dentro do ministério e atendia empreiteiros com hora marcada
O deputado federal Valdemar Costa Neto (PR/SP) nunca foi ministro. Mas o cargo jamais chegou a lhe fazer falta para mandar, como pouca gente na República, num ministério inteiro. Nos Transportes, “Boy”, como Valdemar é chamado pelos amigos, reinou durante oito anos e meio. Ali ele era o padrinho. Despachava do gabinete do sexto andar, tinha assessores à disposição e recebia empreiteiros com hora marcada. Transitava pelo ministério com a desenvoltura de quem passeava pelas ruas pacatas de sua Mogi das Cruzes, a cidade de 387 mil habitantes, no interior paulista, onde sua família fincou poder. Desde que a pasta foi entregue ao Partido Republicano, Valdemar usou o orçamento, que pode chegar a R$ 21 bilhões, conforme os interesses de seus apadrinhados, engordando as contas da legenda e cooptando mais parlamentares. Isso era feito especialmente por meio do superfaturamento de contratos de obras públicas em rodovias e ferrovias de todo o País.

Agora se sabe que a cobrança de propina tornou-se mais voraz – o que acabou chamando a atenção do Palácio do Planalto – desde janeiro passado. O objetivo era cobrir um rombo milionário nas contas de campanha. O PR encerrou a eleição de 2010 com uma dívida oficial de R$ 41,3 milhões, mas fontes do próprio partido garantem que esse valor é pelo menos três vezes maior. Com apoio do amigo e ex-ministro Alfredo Nascimento, com quem costumava dividir passeios de barco pelo rio Amazonas, “Boy” criou no Ministério dos Transportes uma verdadeira central de arrecadação. Para cada grande obra aprovada pelo Dnit, a liberação da verba só acontecia após o chamado “acerto político”, que na prática consistia na cobrança de uma taxa de 2% a 5% sobre o valor do contrato. Os pagamentos aconteciam no próprio gabinete de Nascimento e em hotéis de Brasília e São Paulo.

No gabinete paralelo do padrinho Valdemar, cada setor do Dnit tinha o seu correspondente no ministério para a reavaliação dos projetos. Além do encarecimento das obras, o esquema se tornou ainda mais escandaloso e evidente por uma questão burocrática. “Para executar um orçamento de R$ 21 bilhões, como o previsto para 2011, é preciso agilidade. O acerto político começou a atravancar a execução das obras”, disse à ISTOÉ um ex-membro da cúpula do ministério. O diretor afastado do Dnit, Luiz Antônio Pagot, um dos poucos indicados do PR fora da cota de Valdemar (Pagot é ligado a Blairo Maggi), já vinha reclamando dos atrasos em encontros com empresários. As queixas de Pagot chegaram aos ouvidos da presidente Dilma Rousseff, que então convocou a reunião com a cúpula dos Transportes, na qual determinou a intervenção na pasta. Desde lá, Dilma já demitiu 16 pessoas, entre funcionários do ministério e do Dnit, inclusive o ministro Alfredo Nascimento. Na sexta-feira 22, o petista Hideraldo Caron, diretor de infraestrutura rodoviária do Dnit, pediu demissão.

Para o deputado federal Fernando Francischini (PSDB/PR), as denúncias são graves e devem ser investigadas a fundo. “Precisamos instalar a CPI para descobrir como funcionava esse esquema de arrecadação, quanto foi desviado, quem participou e onde eram esses encontros”, afirma Francischini. Segundo ele, o afastamento dos funcionários do ministério ligados ao PR não resolve o problema. Tampouco elimina a influência de Valdemar na pasta. “O atual ministro, Paulo Sérgio Passos, é seu homem de confiança e conhecia o esquema. É como matar os ratos da casa, mas não dedetizá-la”, afirma o tucano.
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DÍVIDAS
Valdemar reúne bancada do PR para debater as finanças do partido
A turma de Valdemar esperneia por moderação, é claro. De saída, eles pretendem conter a faxina do governo, pedindo equiparação de corruptos e apontando o dedo para petistas que também atuam nos Transportes. “Queremos que haja uma balança igual para todos”, alega o líder do PR, deputado Lincoln Portela (MG). A orientação dentro do partido é conter a operação limpeza de Dilma e evitar que o PT assuma a pasta, que se tornou vital para a sobrevivência financeira e política do PR. Valdemar mostra as armas e alardeia que tem sob seu controle 63 deputados na Câmara. São 40 deputados do próprio PR e 23 das legendas nanicas PRB, PTdoB, PRTB, PRP, PHS, PTC e PSL. Trata-se, portanto, de uma bancada poderosa que o padrinho batizou de “partido único”, embora não haja entre seus membros nenhuma afinidade programática – a não ser a manutenção de determinado naco de poder. “Nosso compromisso é dentro da Câmara”, afirma Valdemar. Ao que tudo indica, trata-se de um compromisso mantido a custo de muito dinheiro público. “A corrupção nos Transportes é tamanha que não surpreende que essa crise esteja acontecendo”, afirma Lucas Furtado, procurador-geral do Ministério Público no TCU.

As ameaças de Valdemar parecem ter começado a surtir efeito na semana passada. O Planalto já orientou ministros para que trabalhem com o objetivo de esfriar o assunto da mídia. Assim, na quinta-feira 21, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, saiu a campo para relativizar as denúncias. Segundo ele, o orçamento bilionário de um ór­gão como o Dnit é que o tornaria vulnerável. “Supor que não haverá nenhum problema é uma coisa quase impossível”, disse o ministro. Até agora, a Polícia Federal não foi acionada. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, diz que vai esperar o parecer da CGU, embora a PF tenha autonomia.

O Planalto não tem intenção de azedar ainda mais a relação com o comandante do PR. Mais que os votos sob seu controle no Congresso, Valdemar Costa Neto interessa ao PT por conta do processo do mensalão. Ele e o deputado João Paulo Cunha são os únicos dos 36 réus com mandato parlamentar. Ou seja, são as únicas peças que fazem com que o processo do mensalão permaneça na órbita do Supremo Tribunal Federal. “Ninguém quer correr o risco de ser condenado”, afirma um cacique petista. Segundo ele, caso o processo avance nessa direção, Valdemar e Cunha, em comum acordo, renunciariam a seus mandatos, fazendo com que o mensalão volte à primeira instância e os crimes acabem prescrevendo. Valdemar é parceiro firme. Foi ele, em 2002, que articulou com José Dirceu e Delúbio Soares a indicação do empresário José Alencar como vice na chapa de Lula. Esse apoio não foi de graça. Custou, segundo admitiu o próprio deputado, R$ 10 milhões. Tudo pago com a intermedição do publicitário Marcos Valério, o que deu origem a boa parte das denúncias do mensalão.

Valdemar é um homem acostumado desde cedo ao poder. Seu pai, Valdemar Costa Filho, administrou Mogi da Cruzes por quatro mandatos, com mão firme e revólver na cintura. Com a ajuda dos militares e das boas relações com Paulo Maluf patrocinou obras que consolidaram seu poder local. “O Boy foi criado no colo do Maluf”, diz Delmiro Gouveia, presidente do diretório municipal do PPS. Inteligente e pragmático, Valdemar Costa Neto não coleciona desafetos. Prefere colecionar bens e levar uma vida de rico. Tem predileção por cassinos no Exterior. Sua ex-mulher Maria Christina Mendes Caldeira, que se separou de Boy num rumoroso processo, lembra que ele era generoso em mesas de bacarat: mais de uma vez torrou US$ 500 mil no cassino do hotel Conrad, em Punta del Este, no Uruguai. “O esquema de jogo dele é muito pesado. É um negócio absurdo”, contou Maria Christina à ISTOÉ. Segundo ela, Valdemar faz questão de acertar suas contas em espécie, evitando cartões ou cheque. “Na casa em que morávamos existia um cofre enorme”, conta ela. Com um estilo de vida assim, é possível compreender por que um cargo formal de ministro só atrapalharia Valdemar. Do jeito dele, é bem melhor indicar amigos para cargos públicos que comandem cofres maiores que o de sua casa.
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Colaboraram: Lúcio Vaz e Pedro Marcondes de Moura

Os passos de uma mentira

 

Ministro dos Transportes negou irregularidades apontadas por ISTOÉ, mas documentos do TCU comprovam como ele beneficiou as empreiteiras

Lúcio Vaz

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O ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, desconsiderou documentos oficiais, omitiu informações e simplesmente mentiu ao afirmar, em entrevista coletiva, no sábado 16, que não havia irregularidades nas três obras do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) que receberam crédito suplementar em 2010, como ISTOÉ havia informado na semana passada. Quando os projetos ganharam reforço de R$ 78 milhões no período eleitoral, Passos ocupava interinamente o cargo de ministro, enquanto o titular, senador Alfredo Nascimento, disputava o governo do Amazonas. O histórico dos três projetos, com ilegalidades como sobrepreço e superfaturamento, está registrado nos arquivos do Tribunal de Contas da União (TCU). Desde 2009, esses projetos constam da lista de obras com indícios de irregularidades graves do tribunal. O trecho na BR-265/MG entre Ilicínea e São Sebastião do Paraíso frequentava a lista suja do TCU desde 2007 e chegou a receber indicativo de paralisação. Apesar disso, o crédito suplementar virou lei em 20 de julho de 2010. E Passos, como ministro interino, acompanhou de perto esse processo.

Entre os projetos que habitualmente pontificavam a suspeita e indesejada relação estava a construção de um trecho na BR-317/AM, entre Boca do Acre e a divisa com o Acre. O novo ministro dos Transportes disse que não haveria “nenhuma irregularidade nem o que contestar sobre a alocação de recursos para essa rodovia”. Não é verdade. O trecho recebeu o carimbo de IG-P, que significa “irregularidade grave com paralisação”, no ano passado. Mas isso não foi novidade. Ele esteve na lista suja por seis anos consecutivos, de 2003 a 2008. A construção teve início sem licenças ambientais e de instalação, apresentava fiscalização deficiente e ainda sobrepreço (preços acima do mercado). O primeiro contrato, firmado com a empreiteira Andrade Gutierrez, 11 anos antes, acabou rescindido por conta de fraudes. Novo contrato, no valor de R$ 71 milhões, foi assinado em 2008 com a empreiteira Colorado, do ex-governador acreano Orleir Cameli. A Secretaria de Controle Externo do Amazonas chegou a propor a anulação desse novo contrato, também repleto de ilegalidades, mas o plenário do tribunal decidiu pela continuidade da obra, com a retenção de pagamentos com preços acima do mercado. Tudo para evitar mais prejuízos à população local, que já fazia barricadas para impedir o tráfego na rodovia. O TCU determinou também a glosa de pagamentos superfaturados e a glosa de serviços pagos, mas não realizados. Até abril deste ano ainda havia pendências a serem cumpridas nessa obra.
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Passos reconheceu que a construção do trecho da BR-265 esteve com “determinação de paralisação” em 2010. Acrescentou, porém, que não seria a obra “como um todo”, mas apenas o primeiro lote. E informou que o Dnit promoveu a rescisão do contrato dessa etapa. Disse que não haveria, então, “impedimento” para que os serviços tivessem continuidade e que estaria sendo providenciada nova licitação para dar seguimento à obra. Os fatos apontados por ISTOÉ, no entanto, estão registrados na corte de contas. Já em 2008 havia sido determinada a interrupção da obra até que estivessem cumpridas exigências como a prática de preços de mercado, obtenção de licenças ambientais e regularização fundiária. Em setembro de 2009, ainda faltava a regularização fundiária e persistia o sobrepreço nos dois contratos abertos, um da Egesa Engenharia e outro do consórcio CMT/Sanches Tripoloni. Somente em dezembro daquele ano foi liberado o trecho tocado pelo consórcio. Para excluir a obra da lista suja, porém, seria necessário rescindir o contrato da Egesa, o que só ocorreria em outubro do ano passado. Mas, antes disso, foi providenciado dinheiro novo para o empreendimento. O projeto de lei que previa os recursos foi apresentado ao Congresso em abril de 2010. Aprovado em 7 de julho, virou lei duas semanas mais tarde. O TCU informa que várias de suas determinações ainda não foram cumpridas no trecho da Egesa, como a correção de desmoronamentos em trechos construídos. Foi vetado qualquer pagamento sem a efetiva prestação dos serviços.

Na adequação do trecho entre Santa Cruz e Mangaratiba, na BR-101/RJ, foram encontradas fraudes como superfaturamento, sobrepreço, desvio de objeto, restrição à competitividade na licitação e subcontratação irregular. O sobrepreço apurado chegou a R$ 18,8 milhões. Em dezembro de 2009, foi liberada a continuidade da obra, mas com retenção de pagamentos com preços acima do mercado. O ministro-relator, José Jorge, afirmou que a proposta teve por objetivo evitar que se responsabilize o tribunal, “de forma indevida e distorcida”, pelo atraso na execução de obras públicas. Na última atualização do processo, em abril deste ano, o TCU abriu tomada de contas especial para apurar o valor exato do sobrepreço. Também determinou a glosa de serviços pagos, mas não executados. O ministro Passos parece não ter lido as últimas decisões do tribunal. Na coletiva à imprensa, ele procurou justificar a suplementação para esse trecho. “Essas obras não tinham como ser cobertas dentro do contrato original. Em relação a essa obra não há nenhuma restrição do TCU”, disse. A lista suja elaborada todo ano é indicativa. Cabe ao Congresso determinar o bloqueio de recursos do Orçamento da União para esses empreendimentos, o que tem sido exceção nos últimos anos. Mas as irregularidades apontadas são graves e cristalinas. Se o ministro acredita que as três obras citadas estavam livres de qualquer irregularidade no momento da suplementação, fica difícil imaginar o que ele considera uma obra regular e limpa.
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Lula tromba com o PT

 

De olho nas eleições municipais de 2012, o ex-presidente lança seus nomes favoritos e atropela as apostas regionais do partido

Adriana Nicacio e Alan Rodrigues

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NOVIDADE
Lula sustenta que só Haddad está apto a vencer resistências em São Paulo
No último fim de semana, Lula encontrou-se com a presidente da República, Dilma Rousseff, e começou a desenhar o cenário eleitoral no qual ele apostará suas fichas para as eleições municipais do próximo ano. Certo de que o PT terá a obrigação de sustentar uma ampla política de aliança, que se refletirá na sucessão de 2014, Lula apresentou à presidente seu cardápio para a futura disputa. Para surpresa geral, é um cardápio com receitas de difícil digestão para boa parte dos petistas. As principais investidas de Lula dão prioridade às eleições em três capitais – São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre – consideradas por ele essenciais para abafar as pretensões tucanas em 2014. E em todas elas o ex-presidente choca-se contra fortes interesses regionais do seu partido.

Lula confirmou para Dilma a intenção de empurrar goela abaixo do PT paulista a candidatura do ministro da Educação, Fernando Haddad, para a Prefeitura de São Paulo. Em Belo Horizonte, apesar das resistências, Lula defende a aliança com o PSB em torno do nome do prefeito Márcio Lacerda. Por fim, em Porto Alegre, o ex-presidente quer que o PT abra mão da cabeça de chapa numa aliança com a deputada Manuela D’Ávila (PCdoB). A escolha contraria a preferência dos petistas gaúchos pela ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário. Dilma acompanhou atentamente as justificativas de Lula, mas não disse nem sim nem não.
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ESCOLHA
Manuela para os gaúchos, Lacerda para os mineiros. São as apostas do líder
As preferências de Lula já começam a incendiar a discussão no partido. Sua jogada mais pública, e talvez a mais arriscada, aconteceu em São Paulo. Lula vê no ministro da Educação qualidades de um político jovem e inteligente, capaz de vencer a resistência da classe média paulistana ao PT. O desgaste de Haddad com as trapalhadas de seu ministério em dois Enens, que perturbaram a vida dos estudantes brasileiros, e sua pouca expressão no PT de São Paulo são desprezados por Lula. O ex-presidente entende que a “novidade” e a “desenvoltura intelectual” de Haddad compensariam qualquer deficiência. Os petistas rangem os dentes: “A melhor forma de decidir qual será o nosso candidato é a realização de prévias”, critica o senador Eduardo Suplicy. “Antes de antecipar nomes temos que saber se os petistas querem ou não a renovação dos candidatos”, avalia o também pré-candidato, deputado federal Carlos Zaratini – que, ao lado dos parlamentares Arlindo Chinaglia e Jilmar Tato, além da senadora Marta Suplicy, lançou seu nome. “Acredito que nosso partido saberá optar pela candidatura mais competitiva e que tenha comprovada experiência administrativa”, alfineta Marta. Lula, por seu lado, defende a renovação dos quadros partidários. Ele reclama que nos últimos 25 anos o PT paulistano alternou três nomes (Eduardo Suplicy, Marta e Aloizio Mercadante) para as disputas à prefeitura e que o povo não aguenta mais os mesmos candidatos.

Entre petistas mineiros e gaúchos as preferências de Lula também ­geram desconforto. “Somos o maior partido do Rio Grande do Sul. Qual seria a razão de não termos cabeça de chapa? Boa vizinhança? Apoiar o desastre que foi o Rio e Minas, onde o PT se tornou secundário?”, questiona o presidente do PT-RS, deputado estadual Raul Pont. Ele garante que, apesar de Lula, o PT terá candidato próprio em Porto Alegre. Em Belo Horizonte, o diretório municipal do partido também já definiu que não vai aderir à reeleição do prefeito Márcio Lacerda se o socialista receber apoio do senador Aécio Neves (PSDB-MG). “Nosso objetivo central é derrotar o PSDB. Podemos até construir um consenso com o PSB, mas eles terão que largar de vez os tucanos”, diz o deputado estadual Rogério Corrêa, dirigente petista no Estado. Já ciente destas restrições regionais, no entanto, Lula não descarta apoiar o fim das prévias no PT, proposta que será votada no dia 2 de agosto, no congresso nacional do partido.
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O corpo fabricado

 

A criação de estruturas como fígado, traqueia, rins e vasos sanguíneos artificiais surge como alternativa para substituir partes danificadas do organismo por outras, novas e sadias

Cilene Pereira e Rachel Costa

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Uma das maiores ambições da medicina sempre foi conseguir trocar órgãos danificados por outros, novinhos, deixando o organismo permanentemente como uma espécie de carro zero-quilômetro. Pode parecer audacioso, mas grupos de cientistas envolvidos na concretização desse sonho estão demonstrando que isso é possível. Na segunda-feira 18, um desses times anunciou mais um passo importante nessa direção. Pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology, o prestigiado MIT, dos Estados Unidos, informaram ao mundo a criação de um fígado humano artificial, fabricado completamente em laboratório. Os detalhes da façanha estão descritos na edição online do Proceedings of the National Academy of Sciences, uma das mais respeitadas publicações científicas mundiais.

O órgão foi produzido a partir de uma mistura de hepatócitos humanos (células que compõem o fígado) com fibroblastos (células de suporte) extraídas de ratos. Os exemplares foram implantados em cobaias usadas em testes de medicamentos. Normalmente, antes de um remédio ser aprovado, ele passa por várias etapas para a análise de sua segurança e eficácia. As primeiras são realizadas em animais – comumente, em ratos. Mas, por mais semelhantes que sejam as respostas das cobaias e dos humanos às medicações, elas não são exatamente as mesmas. Por isso a ideia dos pesquisadores americanos de produzir um fígado humano e implantá-lo nos camundongos. Dessa maneira, as reações observadas serão ainda mais próximas das que serão manifestadas por um ser humano.
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PEÇAS
Atala, de um instituto americano de pesquisa, chefiou equipe que criou uretras
Esse foi o objetivo mais imediato do trabalho. E foi alcançado. Nos testes, os cientistas verificaram que o fígado artificial integrou-se ao organismo das cobaias cerca de uma semana após ser implantado. E foi capaz de se comportar como se fosse o fígado de um homem. Os pesquisadores, porém, estão sonhando mais alto. “Acreditamos que este trabalho seja um passo para, no futuro, criarmos um fígado artificial que possa ser usado em pessoas doentes”, disse à ISTOÉ a cientista Alice Chen, uma das responsáveis pelo estudo. “Tivemos e continuaremos a ter esta meta”, completou.

A apresentação da experiência americana ocorreu apenas dez dias depois da divulgação de outro feito de igual impacto. Na sexta-feira 8, pesquisadores do Karolinska University Hospital, na Suécia, anunciaram a realização de um implante de uma traqueia totalmente fabricada em laboratório. O beneficiado foi um homem de 36 anos, pai de dois filhos. Ele sofria de um câncer na traqueia e não respondia mais aos tratamentos. “Estava condenado à morte”, disse o médico Paolo Macchiarini, coor­denador do procedimento. A traqueia doente foi extirpada, e a nova, sadia, colocada em seu lugar. O rapaz não tem mais a doença e o que se espera, a partir de agora, é que ele tenha uma vida absolutamente normal. “Esta é uma demonstração de que o que até poucos anos atrás era considerado um sonho está se tornando realidade, transformando a vida dos pacientes”, disse o médico Alan Russel, diretor do McGowan Institute, em Pittsburgh, nos Estados Unidos, a respeito da experiência sueca.

A avaliação do cientista americano é mesmo precisa e – melhor – passa longe de promessas irresponsáveis que vendem soluções muito, muito distantes de se tornarem acessíveis. É verdade que ainda há muito o que caminhar, como ressaltou Alice Chen, do MIT, mas o fato é que a medicina regenerativa, como é chamado esse campo, vem colecionando conquistas em ritmo surpreendente. Um dos melhores exemplos é o trabalho realizado pelo Instituto de Medicina Regenerativa da Universidade Wake Forest, na Carolina do Norte, nos Estados Unidos. Trata-se de uma instituição de referência na área. Foi lá que, pela primeira vez, em 1998, pacientes receberam estruturas corporais completamente criadas em laboratório. À época, foram reconstruídas as bexigas de nove crianças. O processo revolucionário consistia em retirar uma pequena amostra de tecido desses pacientes – menor que metade de um selo postal –, separar as células, multiplicá-las e, uma vez tendo material suficiente, usá-lo para rechear e cobrir um suporte em formato de bexiga. Esse molde era então levado para um biorreator, onde passava por um período de encubação para o crescimento celular, promovido em condições ideais de temperatura e oxigenação. Feito isso, estava pronto para ser usado nos pacientes.
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PLANOS
Tedesco, da USP, planeja misturar células da pele com
células-tronco para melhorar o índice de sucesso dos implantes
O método mostrou-se eficaz para a produção de várias estruturas e, desde então, a equipe da universidade vem testando-o em diferentes situações. O sucesso mais recente foi a comprovação da sua eficácia para a reconstrução da uretra (canal que liga a bexiga ao exterior do corpo) de cinco meninos. Publicado em março deste ano, um estudo sobre o método atesta que as operações, realizadas entre 2004 e 2007, foram bem-sucedidas. Durante o período de acompanhamento, constatou-se que o canal reconstruído manteve o diâmetro e a capacidade urinária desejados. “Isso comprova que as uretras criadas em laboratório são um bom substituto ao tratamento atual”, diz Anthony Atala, líder da pesquisa e diretor do instituto. “Nos enxertos sem essa tecnologia há problemas em mais de 50% dos casos: ocorre o estreitamento do vaso, o que causa infecções, dificuldade para urinar, dor e sangramento.”

Além da bexiga e da uretra, outros 30 tecidos e órgãos construídos em laboratório estão em estudo nos laboratórios da Wake Forest. Entre eles, uma das boas promessas vem de uma pesquisa em estágio avançado que promete solucionar problemas de disfunção erétil. A técnica, já testada em animais, consiste em reconstruir o tecido erétil do pênis – essa estrutura, conhecida como corpo cavernoso, torna-se rija ao receber um volume maior de sangue. Por isso, o grande desafio é garantir a boa vascularização do tecido reconstruído. Em camundongos, o procedimento deu certo. Durante os testes, os animais foram capazes de engravidar fêmeas.

Obter o molde adequado é parte fundamental para a engenharia de órgãos. Além da opção de se recorrer ao biomaterial inteligente – construído de polímeros e reabsorvido pelo corpo após um tempo –, outra solução é usar como suporte o órgão “descelularizado” de um doador. Esse processo consiste em “limpar” o conteúdo celular da estrutura, deixando apenas uma espécie de esqueleto que será implantado no paciente. O corpo, ao receber essa estrutura vazia – mas capaz de atrair para ela as células específicas –, repovoa naturalmente o “molde”.
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FEITO
A cientista americana Alice Chen fez, em laboratório, um fígado humano
Por meio dessa metodologia, uma equipe de cientistas brasileiros da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) já substituiu válvulas cardíacas de mais de 300 pacientes. “Como o próprio corpo preenche a estrutura descelularizada, não há risco de rejeição do novo órgão”, explica o cirurgião cardíaco Francisco Diniz Affonso da Costa, coordenador do Núcleo de Enxertos Cardiovasculares da PUC-PR. A técnica tem sido usada principalmente em crianças e adolescentes que necessitam de novas válvulas cardíacas. A vantagem sobre o processo normalmente usado é que as estruturas descelularizadas são capazes de se desenvolver junto com o restante do organismo – o que é fundamental em pacientes em fase de crescimento. “Em crianças, era necessário substituir a válvula de dois a cinco anos depois de implantá-la. Nos pacientes que estamos acompanhando, não tem surgido essa necessidade”, avalia Costa.

A evolução na compreensão do papel das células-tronco nos últimos dez anos também tem garantido o avanço da medicina regenerativa. Embora em boa parte das experiências as estruturas sejam provenientes de células específicas do órgão a ser reconstituído (por exemplo, para refazer a bexiga, usam-se células retiradas da própria bexiga do paciente), há algumas situações em que isso não é possível. Nesses casos, pode-se recorrer às células-tronco – estruturas capazes de dar origem a diversos tecidos do organismo. A traqueia que salvou a vida do rapaz na Suécia, por exemplo, foi produzida a partir de células-tronco extraídas da medula óssea do paciente.

Outra iniciativa que recorre a essas estruturas será desenvolvida no Brasil, por um grupo do Centro de Nanotecnologia e Engenharia de Tecidos da Universidade de São Paulo, campus de Ribeirão Preto, interior de São Paulo. Os cientistas preparam os primeiros testes de um modelo misto para o desenvolvimento de pele humana. A ideia é acrescentar às células epiteliais uma parte de células-tronco. “Esperamos, com isso, melhorar a integração desse tecido ao sistema biológico do paciente transplantado”, esclarece Antônio Claudio Tedesco, coordenador do laboratório.
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CORAÇÃO
O médico Costa implanta novas válvulas cardíacas
A lista de progressos rumo à criação de uma espécie de corpo artificial é grande, mas ainda há obstáculos a serem superados. Neste momento, pode-se dizer que a confecção de órgãos menos complexos, como a bexiga, está dominada. “Mas um dos maiores desafios é fabricar estruturas sólidas, como o rim, o coração e o pâncreas”, disse à ISTOÉ Karen Richardson, porta-voz do Instituto de Medicina Regenerativa da Universidade Wake Forest. “Esses órgãos possuem alta densidade celular e é preciso boa vascularização para manter o suprimento de oxigênio necessário ao seu funcionamento.”

Nesse aspecto, porém, há experiências vitoriosas. Os resultados da última, aliás, foram apresentados há um mês, durante um encontro da Associação Americana do Coração. Pesquisadores da empresa Cytograft Tissue Engineering, dos Estados Unidos, informaram o sucesso de um implante de vasos sanguíneos criados com células de pele doadas. Eles foram colocados em três doentes renais para facilitar a entrada de cateteres durante a diálise. Oito meses depois da implantação, nenhum apresentara sinais de rejeição ou de qualquer outro problema. “Vamos agora iniciar um estudo clínico para verificar a eficácia em pacientes que tiveram pernas amputadas e sofrem com problemas de vascularização”, disse à ISTOÉ Todd McAllister, chefe-executivo da empresa.
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MOLDE
O aparelho é abastecido com células e já fabricou rins artificiais
Órgãos mais complexos apresentam ainda maior variedade de tipos de célula em sua composição. Isso cria uma nova demanda. “É necessário fazê-las interagir adequadamente, o que ainda exige muito trabalho”, falou à ISTOÉ Don Gibbons, porta-voz do Instituto de Medicina Regenerativa da Califórnia, nos Estados Unidos, outro centro especializado. Por isso, comemoram-se as conquistas por etapas. Um avanço positivo registrado recentemente, por exemplo, foi dado por um trabalho da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, em relação ao coração. Usando células-tronco humanas, os cientistas criaram um pedaço de músculo cardíaco que se mostrou capaz de bater em um ritmo equivalente a 120 batimentos por minuto – mais acelerado do que o do coração de um adulto em repouso, cuja média é de 70 batimentos por minuto.

Aprimorar e ampliar as possibilidades de criar órgãos representam um reforço importante contra um problema atual: com o aumento da expectativa de vida, a tendência é de que cada vez mais pessoas precisem de órgãos substitutos – o envelhecimento contribui para a falência das capacidades do organismo. O que se espera é que, num futuro não tão distante, mais e mais implantes – a exemplo dos feitos com traqueia, bexiga, uretra e vasos sanguíneos artificiais – garantam maiores esperanças de vida.
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Assalto ao Banco Central" retrata crime quase perfeito

 

Longa, que estreia nesta sexta, é dirigido por Marcos Paulo e traz Lima Duarte no elenco

AE

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Lima Duarte exemplificou bem o que foi o roubo de R$ 167,7 milhões do Banco Central do Brasil, ocorrido em Fortaleza, em 2005. "É o típico caso de roubar e não poder carregar", disse o ator durante a exibição do longa "Assalto ao Banco Central", na semana passada, durante encerramento do Festival de Cinema de Paulínia. O filme estreia hoje no circuito comercial e reconstrói a ação dos bandidos que cavaram, durante três meses, um túnel de 83 metros ligando uma casa ao cofre do banco. O roubo foi considerado um dos maiores e mais ousados do mundo. "Sabe quanto pesava todo esse dinheiro?", questionou Lima Duarte. "Quase quatro toneladas." O roteiro é baseado no livro homônimo, de autoria de Renê Belmonte e J. Monteiro, lançado recentemente pela editora Agir.

O longa tem direção de Marcos Paulo e os bandidos são interpretados por Milhem Cortaz, Eriberto Leão, Tonico Pereira e Gero Camilo, entre outros. Do outro lado, Lima Duarte e Giulia Gam encarnam os policiais responsáveis pela investigação.

Embora seja inspirado no roubo, o longa-metragem não mostra exatamente como tudo ocorreu na vida real. "Até porque é impossível saber como foi", pondera Marcos Paulo. O assalto foi feito sem tiros ou disparo de alarme. As especificações do túnel e a forma como os bandidos conseguiram entrar no cofre sem serem detectados, no entanto, foram mostradas da forma como tudo ocorreu na realidade. "Tivemos acesso ao processo e aos laudos técnicos da perícia", explicou o diretor.

Além disso, os personagens do filme não correspondem exatamente aos reais. "Ficamos preocupados de os bandidos nos processarem por usarmos sua imagem indevidamente", brincou o diretor. Na verdade, seria inviável colocar na tela todos os envolvidos, já que esse número passa de 30 pessoas. Assim, vários personagens foram mesclados em um, num total de 13 bandidos. Cada um com uma função definida e nome autoexplicativo. Milhem Cortaz é o Barão, comandante da operação. Doutor (Tonico Pereira) é o engenheiro responsável pelo túnel. Tatu (Gero Camilo) é o sujeito contratado para cavar, e assim por diante. Eriberto Leão interpreta Mineiro, figura acima de qualquer suspeita que lida com a vizinhança enquanto o bando age.

Na vida real, ao todo, 134 pessoas foram envolvidas no crime, sendo que 36 estavam diretamente ligadas à ação. Na construção do túnel, trabalharam cerca de 12 pessoas. Dessas 36, quatro morreram, duas foram absolvidas e duas ainda continuam foragidas. O assalto ao Banco Central do Brasil em Fortaleza foi um das ações mais bem planejadas do País e, do total roubado, menos de R$ 50 milhões foram recuperados. "Foi, de fato, um assalto bem-sucedido. Os cabeças estão gozando da grana em algum lugar do mundo", afirmou o diretor.

O núcleo policial é capitaneado por Lima Duarte, que interpreta o investigador Chico Amorim. Giulia Gam é a investigadora Telma Monteiro. "Hoje, a maioria dos atores é ligada à internet. Eu tenho outra formação. Acho que o policial que eu fiz combina com essa formação", disse Lima.

Por mais que o filme passe a impressão de que algo muito sério aconteceu, ele é repleto de humor. Segundo Marcos Paulo, a ação foi tão inacreditável que parece piada. "Tudo é um grande deboche no Brasil." De fato, em diversos momentos, a plateia de Paulínia gargalhava. A ousadia dos bandidos, aliada à corrupção da polícia e à morosidade da Justiça, fizeram com que cenas sérias parecessem piada pronta.

Diretor do Dnit entrega pedido de demissão a ministro

 

Único indicado pelo PT na direção do órgão comandado pelo PR, Hideraldo Caron era o responsável pelos aumentos nos valores de contratos de obras rodoviárias em andamento

Do Portal Terra

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O diretor de Infraestrutura Rodoviária do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Hideraldo Caron, entregou nesta sexta-feira (22) seu pedido de exoneração ao ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos. A informação foi divulgada pela assessoria da pasta. A carta será encaminhada à presidente Dilma Rousseff por Passos. O conteúdo do documento não foi divulgado.

Único indicado pelo PT na direção do órgão comandado pelo PR desde o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Caron era o responsável administrativo pelos aumentos nos valores de contratos de obras rodoviárias em andamento, cujo suposto descontrole na liberação de recursos foi criticado pela presidente Dilma Rousseff (PT).

Em reunião do ministro Paulo Sérgio Passos com Dilma, ficou acertado que ele fará uma lista com nomes técnicos para substituir os dirigentes afastados do ministério e do Dnit. A decisão de afastar Caron se soma à pressão do PR para tirá-lo do cargo.

O PR considerou a saída de Caron "uma questão de honra", já que outros nomes, indicados pela legenda, foram afastados após denúncias de corrupção. O Dnit tem sete cadeiras e é um órgão colegiado. As diretorias de Administração e Finanças e de Infraestrutura Aquaviária já estavam vagas antes da crise no órgão. Já o diretor-geral, Luiz Pagot, está em férias até o início de agosto, e o Planalto espera que ele se demita.

Na segunda-feira, o governo publicou resolução que permite que um servidor técnico seja indicado para o lugar de Pagot enquanto o futuro diretor-geral do órgão não for sabatinado no Senado. O jornal O Estado de S. Paulo noticiou que, quando foi diretor-geral do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) do Rio Grande do Sul, Caron teve irregularidades identificadas pelo Tribunal de Contas do Estado por três anos seguidos, de 1999 a 2001. Desde o julgamento das contas, entre 2004 e 2005, ele tenta se livrar de multas e ressarcimentos impostos pelo órgão, num total de R$ 255 mil.

Justificativa

Caron afirmou que deixou a direção do Dnit para deixar o governo à vontade para fazer as mudanças que julgar necessárias no setor de transportes. Em entrevista à Agência Brasil, Caron ressaltou que o pedido de afastamento é irrevogável e foi uma iniciativa “totalmente pessoal e voluntária”.

“O governo já expressou publicamente a intenção de reformular a área de transportes, e eu resolvi solicitar a exoneração no sentido de colaborar para que esses espaço fique disponível para a reformulação. Se é esse o desejo do governo, eu não vou ser impedimento para isso”, disse.

Segundo Caron, o pedido de afastamento não tem relação com as denúncias de irregularidades em relação a sua gestão no Dnit. “Até porque não tem nenhuma denúncia relativa à minha área que tenha comprovação, pelo contrário, todos os relatórios que temos dos últimos anos, inclusive da CGU [Controladoria-Geral da União], mostram avanços na melhoria dos procedimentos e da gestão do Dnit”, explicou.

Ele disse também que sua saída do governo não está relacionada com o trabalho à frente do Dnit porque, segundo Caron, o órgão teve o melhor desempenho percentual de execução de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). No encontro que teve na tarde desta sexta com o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, Caron pediu para continuar auxiliando o governo nos próximos dias para que não haja problemas de continuidade nas obras sob responsabilidade do Dnit.

A queda do ministro dos Transportes

No início de julho surgiu a denúncia de que integrantes do Partido da República teriam montado um esquema de superfaturamento de obras e recebimento de propina por meio de empreiteiras dentro do Ministério dos Transportes. O negócio renderia à sigla até 5% do valor dos contratos firmados pelo ministério sob a gestão da Valec (estatal do setor ferroviário) e do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).

O esquema seria comandado pelo secretário-geral do PR, Valdemar Costa Neto. Mesmo sem cargo na estrutura federal, ele lideraria reuniões com empreiteiros e consultorias que participavam de licitações do governo no ramo. Pelo menos dois assessores diretos do então ministro, Alfredo Nascimento (PR), foram afastados dos cargos. Também deixaram suas funções o diretor-geral do Dnit, Luiz Antônio Pagot, e o diretor-presidente da Valec, José Francisco das Neves.

O PR emitiu nota negando a participação no suposto esquema. Nascimento, que também negou as denúncias de conivência com as irregularidades, abriu uma sindicância interna no ministério e pediu que a Controladoria-Geral da República (CGU) fizesse uma auditoria nos contratos em questão. Assim, a CGU iniciou "um trabalho de análise aprofundada e específica em todas as licitações, contratos e execução de obras que deram origem às denúncias".

Apesar do apoio inicial da presidente Dilma Rousseff, que lhe garantiu o cargo desde que ele desse explicações, a pressão sobre Nascimento aumentou após novas denúncias: o Ministério Público investigava o crescimento patrimonial de 86.500% em seis anos do filho do ministro, Gustavo. Diante de mais acusações e da ameaça de instalação de uma CPI, o ministro não resistiu e encaminhou, no dia 6 de julho, seu pedido de demissão à presidente.

Explosões atingem prédios do governo em Oslo; sete morreram

 

Atentado foi reivindicado pelo grupo terrorista Ansar al-Jihad al-Alami; em cidade próxima à capital, um homem abriu fogo e matou 10 pessoas

Portal Terra e AFP

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O grupo terrorista Ansar al-Jihad al-Alami assumiu a responsabilidade pela explosão desta sexta-feira (22) no centro de Oslo, capital da Noruega. Carta na qual o grupo assumia a autoria do atentado foi divulgada pelo primeiro ministro do país, Jens Stoltenberg. Os terroristas afirmaram que o atentado foi uma resposta à presença de tropas norueguesas no Afeganistão, sob comando da Otan.

Atentados

Uma grande explosão atingiu o centro de Oslo, capital da Noruega, deixando ao menos sete pessoas mortas. As autoridades confirmaram que foi uma bomba, mas ainda não falam em atentado terrorista. O incidente ocorreu em um quarteirão onde estão localizados vários prédios do governo, inclusive o escritório do premiê, Jens Stoltenberg. O número de mortos pode subir, pois as informações ainda estão sendo confirmadas.

As explosões de Oslo estilhaçaram a maioria das janelas do prédio de 17 andares onde fica o gabinete de Stoltenberg, lançando destroços a uma distância de 400 metros. Primeiro, informações davam conta de uma explosão. Logo veio a suspeita de uma segunda, que não foi confirmada. A polícia não tem suspeitas sobre os autores do ataque.

Tiroteio

Pelo 10 pessoas morreram em um tiroteio ocorrido em um acampamento da juventude social-democrata na localidade Utoya, próxima de Oslo, segundo a polícia norueguesa. Além disso, uma testemunha afirmou à emissora norueguesa NRK que viu corpos boiando em um rio próximo ao acampamento. "Há muitos mortos na praia. Há entre 20 e 25 corpos", disse Andre Scheie, de acordo com a agência AP.

O tiroteio aconteceu por volta das 12h30 (hora de Brasília) em instalações ocupadas atualmente por cerca de 560 pessoas, quando um homem vestido com uniforme policial abriu fogo. Segundo informações do jornal norueguês Aftonbladet, o suspeito já foi detido. Segundo a rede TV2, que cita testemunhas, o autor da matança se apresentou na colônia de férias dos jovens trabalhistas afirmando ser responsável pela segurança dos participantes após a explosão na capital norueguesa, o que pode significar que o ataque foi orquestrado.

As forças de segurança confirmaram o tiroteio, mas não apresentaram mais detalhes. Segundo o jornal Aftenposten, as forças de segurança enviaram vários soldados e um helicóptero ao local. A polícia foi alertada pelos pais dos jovens que estavam no acampamento.

Neste acampamento, que pertence às alas jovens do partido trabalhista norueguês (AUF), discursou na manhã desta sexta-feira Gro Harlem Brundtland, ex-primeira-ministra social-democrata da Noruega. Além disso, estava previsto que o primeiro-ministro norueguês, Jens Stoltenberg, também realizasse um discurso no local no sábado.

Repercussão

O presidente da União Europeia, Herman Van Rompuy, condenou nesta sexta-feira a "covardia" do atentado a bomba que destruiu a sede do governo norueguês, e expressou solidariedade ao primeiro-ministro Jens Stoltenberg. "Condeno, nos termos mais fortes, esses atos covardes para os quais não há nenhuma justificativa", declarou Herman Van Rompuy, dizendo-se, num comunicado, "profundamente chocado".

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, enviou condolências à Noruega e pediu aos países mais cooperação contra o terrorismo. Discursando durante uma reunião com o primeiro-ministro da Nova Zelândia, John Key, Obama afirmou que os ataques são "um lembrete de que toda a comunidade internacional tem o papel de prevenir este tipo de terror".

"Temos que trabalhar juntos de forma cooperativa na inteligência e em termos de prevenção deste tipo de ataques horríveis", afirmou Obama. O presidente americano, que visitou Oslo em 2009 para receber o prêmio Nobel da Paz, relembrou com carinho a recepção que teve no país e afirmou que "gostaria de estender pessoalmente minhas condolências ao povo da Noruega".

"Nossos corações estão com eles e forneceremos todo o suporte que pudermos", disse Obama, que recebeu mais cedo um relatório sobre os ataques de seu principal assessor de contraterrorismo, John Brennan. O porta-voz do departamento de Estado, Heide Bronke Fulton, afirmou que os ataques são "desprezíveis" e disse que a embaixada em Oslo pediu para que todos os cidadãos americanos evitem o centro da capital norueguesa.

"Os Estados Unidos ofereceram ajuda às autoridades norueguesas, mas não foram formuladas solicitações concretas até agora", afirmou Fulton à AFP.

Murdoch, como Napoleão, é um grande homem mau


http://redecastorphoto.blogspot.com/2011/07/murdoch-como-napoleao-e-um-grande-homem.html

Conrad Black

14/7/2011, Conrad Black, Financial Times, Londres
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu


Conrad Black foi diretor e editor-chefe dos Telegraph Newspapers e de vários outros jornais. Foi condenado em cinco processos por fraude e obstrução da justiça em 2007. Cumpriu 29 meses de prisão, até que a Suprema Corte o absolveu. Uma corte de apelação restaurou duas das condenações e Black deverá cumprir mais 7½ meses de prisão. Ele continua a jurar inocência. Escreve coluna semanais para a National Review.


Rupert Murdoch é, provavelmente, o mais bem-sucedido proprietário e operador de empresa de comunicação da história. Não há o que dizer contra sua firmeza, visão e capacidade para fazer, na conquista do mercado britânico de tablóides, na liderança da integração vertical da mídia, unindo estúdios de cinema e estações de televisão, na quebra do monopólio dos EUA na televisão britânica, e é um dos mais notáveis pioneiros da televisão por satélite e na criação de uma rede conservadora-populista de notícias. (Foi para reduzir a dependência da News Corp, do Tea Party de Roger Ailes, que Murdoch tanto insistiu em gastar $13,3 bilhões de dólares para comprar o controle acionário da BSkyB.) Também é preciso admitir que o Wall St Journal é o único produto de qualidade que Mr. Murdoch algum dia comprou e, de fato, aprimorou.

Teve sorte algumas vezes, sobretudo quando Margaret Thatcher isentou de qualquer regulação seu satellite telecasting (apesar de ela só estar retribuindo os favores que recebeu do Sun); quando perdeu o leilão para comprar MGM, pouco antes da crise financeira quase mortal de 1990; e quando a British Satellite Broadcasting foi gerida com tal inépcia por Granada e outros, que morreu em seus braços há vinte anos. Mas sorte é parte pequena, na explicação de seu sucesso.

É pouco provável que Mr. Murdoch, seu filho James, ou Les Hinton tenham cometido crimes (Mr. Hinton é homem muito decente). Gente de discernimento não se deve deixar impressionar pelo processo, que conheço tão bem, como o conhecem outras vítimas dele, de uma mídia hostil que vive de solenemente citar professores de Direito e fontes que se escondem no anonimato (quase sempre mera expressão de fantasias tendenciosas pessoais dos próprios jornalistas), em comentários sobre as dificuldades que os Murdochs enfrentam hoje com a justiça. Ninguém deve invejar The Guardian, a BBC, a CNN, o New York Times e outros que se divertem à custa dessas dificuldades, nem levar excessivamente a sério o que dizem. Mr. Murdoch é, como Clarendon disse de Cromwell e o historiador britânico David Chandler atualizou para Napoleão, “um grande homem mau”. É errado lançar dúvidas sobre sua grandeza, a partir do que nele é mau.

Denegrir Murdoch tem sido, até bem recentemente, suja atividade na qual se empenham, principalmente, os invejosos, a extrema esquerda e os comercialmente não competitivos, comentaristas incapazes de leitura não interessada, quase sempre – mas nem sempre. Quanto a isso, pelo menos, essa é a hora da verdade.

Por décadas, o establishment britânico professou desprezo por Mr. Murdoch mas não o contrariou e sempre lhe foi servil (“Desaprovo Rupert profundamente, mas até que gosto dele” foi o refrão mais tedioso), como quando se viu bem claramente que boa parte da Londres ‘que pensa’ esperava que ele derrotasse o Daily Telegraph na guerra de preços que lançou em 1993. É motivo de algum orgulho para nós, do Telegraph que, então, não tenhamos sido derrotados. Por mais que queira responder resposta robusta aos britânicos, nem por isso preciso praticar o desarmamento verbal unilateral.

Surpresa será se alguns dos empregados da News International não se envolveram em crimes, revelando o clima de imunidade que regeu o modus operandi do grupo ao longo de décadas. Sucessivos governos na Grã-Bretanha submeteram-se de modo supinamente obsequioso a ele. Quanto mais os títulos de livros de jornalistas do grupo vituperavam a família real, mais seus livros apareciam resenhados no Sunday Times.

Apesar de ser homem de personalidade em geral bem agradável, Mr. Murdoch não é leal a nada e a ninguém, exceto ao seu negócio. Tem dificuldade para cultivar amizades; raramente mantém a palavra por muito tempo; é especialista em explorar o desconforto dos outros; e traiu todos os líderes políticos que algum dia o ajudaram em vários países do mundo, exceto Ronald Reagan e talvez Tony Blair. Todos os seus instintos apelam aos mercados populares: não é apenas sensacionalista de tablóides; é mal intencionado fazedor de mitos, assassino da dignidade dos outros e de instituições respeitáveis, tudo sob a máscara do antielitismo. Finge-se de pilar do populismo contemporâneo ilustrado na Grã-Bretanha; e de conservador sensível nos EUA – mas há anos lambe botas em Pequim.

Sua noção de entretenimento público e valores civis são os mesmos do seriado de televisão “The Simpsons”: todos os funcionários públicos são escroques e o público é um lumpenproletariat ignorante. Nada há de ilegal nisso, e tem aspectos engraçados, mas é inadequado em alguém que tem sido alvo de tanta reverência e favorecimento oficial.

Antes de a empresa News Corp desistir da proposta para comprar o controle acionário da BSkyB, eu ainda acreditava que, se se tratasse apenas de alguns jornalistas que subornaram alguns policiais e invadiram algumas privacidades, as autoridades deveriam aplicar-lhes as devidas palmadas e deixar que o negócio se consumasse. Que seria coisa pequena. Ninguém precisa de intrusões regulatórias tolas, e tudo acabaria como mais uma das trapaças camufladas de Rupert, que voltaria com oferta para comprar por melhor preço.

De fato, não vejo qualquer diferença prática, no que tenha a ver com interesse público, que Mr. Murdoch já controle, como controla, a BSkyB, ou que venha a ser único proprietário da empresa. Se, mas só nesse caso, a empresa News Corp for considerada legalmente culpada de crimes institucionais – e os réus têm sempre a seu favor a presunção de inocência (por mais que esse direito só muito raramente seja respeitado) – a licença da empresa para transmitir por satélite deve ser cassada.

Trata-se de recuperar a integridade das elites inglesas governantes, e nada conseguirão com as frágeis racionalizações de Alastair Campbell que o Financial Times publicou na 2ª-feira, nem com o pouco convincente recurso a princípios, de Ed Miliband.

É preciso resgatar o que sobre de décadas de covardia do establishment, frente a alguém cuja natureza todos conheceram sempre muito bem. Errou o establishment britânico. E não pode deixar-se seduzir e intimidar tão profundamente e por tanto tempo, outra vez.

Com Dilma, aditivos somente os previstos em lei


Aditivos param trechos de obras no São Francisco


André Borges | De Brasília

Uma das mais caras e polêmicas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a transposição do Rio São Francisco está com boa parte de sua construção paralisada. Isso ocorre em razão da dificuldade de o governo negociar a verdadeira enxurrada de pedidos de aditivos contratuais que cercam a obra. As faturas extras cobradas pelos consórcios de empreiteiras somam R$ 700 milhões. Como o governo decidiu endurecer nas negociações, parte das empresas cruzou os braços. Dos 14 lotes das obras realizadas por empreiteiras, três estão abandonados.


Até três meses atrás, a lista de aditivos da transposição somava 43 pedidos de empresas de construção e serviços. Todas as empreiteiras que trabalham nos 12 consórcios na transposição do rio pediram aditivos ao Ministério da Integração Nacional, responsável pela obra. O governo tem negociado com os consórcios e, nas últimas semanas, conseguiu chegar a um acordo com quatro deles, o que significou um desembolso extra de R$ 100 milhões. Outros oito aditivos, no entanto, ainda estão em negociação.


Há 11 aditivos que cobram reajuste de mais de 25% no preço do contrato, limite definido por lei. Entre os casos que mais chamam a atenção está o lote sete, sob a responsabilidade do consórcio construtor Águas do São Francisco, que pede aumento de 70% no preço original do contrato para entregar estruturas de canais e dois reservatórios. O mesmo percentual é reivindicado na construção de um túnel no lote 12.


O coordenador geral das obras da transposição e secretário de Infraestrutura do Ministério da Integração, Augusto Wagner Padilha Martins, afirmou que as negociações têm sido difíceis porque o ministério, orientado pelo Palácio do Planalto, decidiu que não vai liberar nenhum aditivo acima de 25%, como determina a lei.

Tá tudo dominado, meu irmão, no executivo, legislativo e judiciário!

Ministro do STF viaja para a Itália a convite de advogado


DE SÃO PAULO

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) José Antonio Dias Toffoli faltou a um julgamento na corte para participar do casamento do advogado criminalista Roberto Podval na ilha de Capri, no sul da Itália, informa reportagem de Catia Seabra e Rubens Valente, publicada na Folha desta sexta-feira (íntegra disponível para assinantes do jornal e do UOL, empresa controlada pelo Grupo Folha, que edita a Folha).
O ministro não informa quem pagou pela viagem.

Alan Marques/Folhapress
O ministro Jose Antonio Dias Toffoli durante sessão do STF
O ministro Jose Antonio Dias Toffoli durante sessão do STF

Os noivos ofereceram aos cerca de 200 convidados dois dias de hospedagem no Capri Palace Hotel, um cinco estrelas cujas diárias variam de R$ 1.400 a R$ 13,3 mil (de acordo com o câmbio de quinta-feira).

No STF, Toffoli é relator de dois processos nos quais Podval atua como defensor dos réus. Ele atuou em pelo menos outros dois casos de clientes de Podval. A legislação prevê que o juiz deve se declarar impedido por suspeição se for "amigo íntimo" de uma das partes do processo. Se não o fizer, a outra parte pode pedir que ele seja declarado impedido.

Procurado pela Folha, Toffoli não esclareceu se a viagem, os deslocamentos internos e a hospedagem foram cortesias de Podval. O advogado também não quis falar sobre o assunto.

Leia mais na Folha desta sexta-feira, que já está nas bancas.

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