domingo, 13 de maio de 2012

Bicampeonato consolida hegemonia do Ceará no Estadual

A conquista do bicampeonato do Ceará mostra que o alvinegro de Porangabussu é o time a ser batido. Melhor ataque, defesa menos vazada e um dos artilheiros no Campeonato Cearense 2012. O Vozão volta a gritar bicampeão depois de 15 anos.

Trajetória no Estadual 2012

O Ceará começou o Campeonato Cearense de 2012 como o principal favorito ao título. Era o atual campeão estadual e, apesar do rebaixamento para a Série B do Brasileiro, o time ainda tinha o elenco considerado o mais qualificado. Conseguiu segurar jogadores como o goleiro Fernando Henrique e o atacante Felipe Azevedo.

A diretoria também acertou nas contratações e revelou ótimos jogadores. Mota retornou o clube. O lateral-direito Apodi foi uma das grandes contratações para a competição, além do atacante Romário, revelado nas categorias de base.

foto: Kid Junior

A campanha

A estreia foi com vitória em cima do Trairiense. Porém, o favoritismo do Ceará logo foi dividido com o Fortaleza, que fez um ótimo início de campeonato. A primeira turbulência do Vovô no Cearense 2012 começou justamente na derrota para o maior rival, no primeiro Clássico-Rei do ano, válido pela 8ª rodada. Na ocasião, o clube perdeu de virada por 2 a 1 e deixou o caminho livre para o Fortaleza assumir a ponta do certame.

Na rodada seguinte, o Ceará goleou o Itapipoca por 3 a 0 e viu o mais ilustre dos soldados alvinegros deixar o comando do time pela 40ª vez. O então técnico, Dimas Filgueiras, alegou motivos de ordem pessoal e de saúde para entregar o cargo. Dimas tinha acumulado 6 vitórias, 2 empates e 1 derrota em 9 jogos à frente do Ceará.

Sem comando técnico, vieram as especulações e logo o nome de PC Gusmão começou a ser comentado nas arquibancadas e também nos corredores de Porangabussu. As negociações entre Ceará e o treinador não avançaram.

Sem perder muito tempo, a diretoria anunciou Lula Pereira. A nova fase do alvinegro na competição não foi das melhores. Apesar de 4 resultados positivos, o time comandado por Lula não apresentou um rendimento satisfatório, o que ocasionou protestos da torcida e insatisfação por parte dos dirigentes alvinegros. O resultado não poderia ser diferente. Mais uma troca no comando técnico do Ceará.

PC Gusmão de volta

Diferente da primeira mudança, o capítulo especulação não rendeu muito. O nome de PC Gusmão para comandar o time, naquela altura do campeonato, era o favorito. Hélio dos Anjos também estava cotado para assumir o Vozão. O Ceará chegou a um acordo e anunciou o nome de Paulo César Gusmão como o novo técnico alvinegro.

Vitorioso nas duas passagens pelo Ceará (2009 e 2010), o treinador conseguiu dar novo ânimo ao time, que passou a apresentar um ótimo rendimento dentro de campo. A equipe engatou uma sequência de 8 vitórias consecutivas, fato que culminou com a liderança do Estadual, a três rodadas do fim da fase classificatória.
O Tiradentes foi o adversário do Ceará nas semifinais e não conseguiu suportar a pressão, sendo derrotado nas duas partidas. No primeiro jogo, 2 a 0, e na segunda partida uma goleada de 4 a 0. Por ter terminado a primeira fase na primeira colocação, O Ceará foi para a final com a vantagem do empate no placar agregado dos dois jogos. Mais uma vez, o Campeonato Cearense seria decidido por Ceará e Fortaleza. O tricolor havia derrotado o Horizonte no outro jogo da fase semifinal.

Os jogos decisivos do Clássico-Rei foram marcados pela rivalidade extra-campo. Ofensas, troca de farpas entre dirigentes, rompimentos com a Federação Cearense de Futebol. Dentro de campo, uma primeira partida fraca, morna e sem gols. Já na grande decisão, Ceará arrancou o empate em 1 a 1 e garantiu a merecida comemoração dos torcedores alvinegros, que enfim, soltaram o grito de bicampeão!

Time base

Fernando Henrique, Apodi, Thiego, Potiguar e Márcio Careca; Heleno, Régis, Eusébio e Rogerinho; Felipe Azevedo e Mota.

Números do Ceará no Campeonato Cearense 2012

Jogos = 26/ Vitórias = 19/ Empates = 4/ Derrotas = 2/ Gols Pró = 53/ Gols Contra = 18/ Saldo Gols = 41.
Principais artilheiros na competição: Felipe Azevedo (16 gols), Mota (14 gols), Romário (7 gols), Rogerinho (4 gols).

Artilheiro do Estadual: Felipe Azevedo

O maior campeão do estado

Entre os seus 41 títulos estaduais, o Ceará Sporting Club conquistou seis bicampeonatos (1941-42; 1957-58; 1971-72; 1980-81; 1989-90; 1992-93), um tricampeonato (1961-62-63), dois tetracampeonatos (1975-76-77-78; 1996-97-98-99) e um pentacampeonato (1915-16-17-18-19).

Títulos de campeão cearense: 1915, 1916, 1917, 1918, 1919, 1922, 1925, 1931, 1932, 1939, 1941, 1942, 1948, 1951, 1957, 1958, 1961, 1962, 1963, 1971, 1972, 1975, 1976, 1977, 1978, 1980, 1981, 1984, 1986, 1989, 1990, 1992, 1993, 1996, 1997, 1998, 1999, 2002, 2006, 2011 e 2012.

Foto: Kid Júnior

Roberto Civita não é Murdoch



A REVISTA DEMOROU A PERCEBER QUE LULA NÃO É COLLOR. MAS DE NOVO: A COBERTURA DURA DA ADMINISTRAÇÃO LULA NÃO TROUXE VANTAGENS À ABRIL

13 de May de 2012 às 10:05

Paulo Nogueira

(este artigo foi postado originalmente no site Diário do Centro do Mundo)
Roberto Civita não é Murdoch, como escreveu em sua capa a revista Carta Capital. Mino Carta, assinalou corretamente Alberto Dines, fez vendetta, e não jornalismo. Mino jamais superou sua saída da Veja, que ele montou em 1968 e fez andar com talento, brilho e alguns tropeços até o final dos anos 1970. Divergências com a família Civita levaram à saída de Mino, e desse episódio ele guardou um ódio insuperável.
A única coisa claramente comum entre Civita e Murdoch é a ideologia conservadora, a fé absoluta em que o mercado salva e o Estado mata se intervier.
Mas as diferenças são enormes.
Primeiro, Roberto Civita, ao contrário de Murdoch, jamais manteve relações comprometedoramente próximas com os governantes. No Brasil, quem fez isso foi Roberto Marinho, este sim extremamente parecido, nos métodos, com Murdoch. Murdoch e Marinho utilizaram a proximidade com o poder para barganhar, na sombra, vantagens para seus negócios. Este traço é vital para entender por que a Globo ganhou uma concessão de televisão que a fez mudar de patamar como corporação e a Abril não.
Também são completamente diferentes na forma de tocar um negócio. Murdoch ajudou a criar uma cultura de vale tudo em sua organização. Recentemente, a BBC mostrou que a BSkyB, a tv por assinatura de Murdoch no Reino Unido, virtualmente eliminou um concorrente ao contratar hackers que tornaram fácil ao público ver a programação sem pagar. Essa cultura conduziu o tablóide de Murdoch News of the World ao escândalo das violações de caixas postais de celulares. É um episódio que Murdoch admite ter provocado um “estrago” em sua reputação — e que pode comprometer seriamente o futuro de sua News Corp, uma das maiores empresas de mídia do mundo.
A Editora Abril é conhecida pelos elevados padrões éticos em sua administração. Quando quase todas as empresas de mídia – da Globo à Folha – começaram a adotar a entratégia de transformar funcionários mais bem pagos em pessoas jurídicas para pagar menos impostos, a Abril recusou essa saída moralmente indefensável. Este é apenas um exemplo entre muitos de que fui testemunha pessoal em meus 25 anos de Abril.
No Brasil, foi a Abril que trouxe o conceito americano de separação entre Igreja (jornalismo) e Estado (administração). Isso fez a Abril ser guiada pelo conteúdo. Na Globo, ao contrário, á a área comercial que tem o comando. Isso se vê na bizarrice de você não poder dizer o nome de empresas no Jornal Nacional mesmo quando se trata de puro jornalismo porque isso poderia significar “propaganda” não paga. Uma vez, presenciei uma discussão patética no Conselho Editorial da Globo sobre como fazer para, numa transmissão de futebol, se referir a um time gaúcho que tinha o nome da faculdade que o comprara.
Coisas assim seriam inconcebíveis na Abril.
Lembro que uma vez, pouco antes de eu sair da empresa, fiz uma pergunta a Roberto Civita num almoço. Eu queria saber por que, diante de uma mesma situação, dívidas asfixiantes, a Abril tomara um caminho e a Globo outro. A Abril foi ao limite dos sacrifícios para honrar as contas. A Globo preferiu parar de pagar para forçar os credores a renegociar condições mais amenas. “Cresci vendo meu pai pagar todas as contas”, respondeu Civita depois de suspirar longamente.  Esse episódio, para mim, simboliza o espírito da Abril, primeiro sob o fundador Victor Civita e depois com seu filho e sucessor Roberto.
E então chegamos ao caso específico das denúncias passadas à Veja por um contraventor. Logo aprendemos nas redações que muitas vezes as melhores informações são dadas pelas piores pessoas. O público se beneficia com a publicação de furos dados por pessoas de baixa estatura moral? Se sim, o editor em geral tapa o nariz e vai adiante. Parece claro, além disso, que a revista não tinha conhecimento da folha corrida de Carlinhos Cachoeira quando publicou denúncias originárias dele.
A discussão mais proveitosa sobre o que Cachoeira passou à Veja gira em torno do interesse público.  Se o que foi publicado com base em informações de Cachoeira atendeu ao interesse público, a situação é uma. Se não, é outra. Sair desse campo objetivo de avaliação é um erro.
Como jornalista e como leitor, finalmente, acho que a Veja foi dura demais com Lula, principalmente no primeiro mandato. O colunista Diego Mainardi várias vezes ultrapassou os limites do bom senso, bem como Reinaldo de Azevedo em seu blogue movido a ódio e não a idéias. Na minha interpretação pessoal, a Veja imaginou estar diante de um novo Collor – uma percepção que se acentuaria com o caso do Mensalão. Certa ou errada, e fico, repito, com a segunda alternativa, a posição da Veja diante de Lula foi puramente editorial. É importante não esquecer isso.
A revista demorou a perceber que Lula não é Collor. Mas de novo: a cobertura dura da administração Lula não trouxe vantagens à Abril. Não aumentou – longe disso — os anúncios de estatais e nem a venda de livros educativos para o governo federal. Assim como Lula não é Collor, Roberto Civita não é Murdoch. Se fosse, a presidenta Dilma não teria recebido há pouco  uma equipe da Veja para uma entrevista de capa. E nem a Editora Abril seria o que é – uma referência em limpidez ética na administração e uma casa que provoca orgulho em seus funcionários, entre os quais me orgulho de ter figurado por tantos anos.

Brada Marconi: 'Quero ver alguém mais sério que eu'



Brada Marconi: 'Quero ver alguém mais sério que eu'Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

VÍDEO NA INTERNET MOSTRA O GOVERNADOR DE GOIÁS, NO CENTRO DAS LIGAÇÕES PERIGOSAS COM CACHOEIRA, DESAFIANDO TODOS OS PREFEITOS DO PAÍS, TODOS OS GOVERNADOR E ATÉ A PRESIDENTE DILMA. COM IRONIA NO DISCURSO, DESAFIA: “QUERO VER SE AGUENTAM UMA CPI”

13 de May de 2012 às 12:14
Goiás 247 – O governado de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), fez mais do que propor a CPI das Empreiteiras, durante discurso inflamado em Catalão, neste sábado, 12 (leia aqui). Vídeo disponível na internet mostra que, para provar que tem “as mãos limpas”, desafia “qualquer um” a mostrar “qualquer vírgula” contra as obras de sua administração. Garante: nada há contra ele. Mas e contra empreiteiras, prefeitos, governadores e até a presidente Dilma? Aí entra outro desafio, em tom de ironia: “...Mas eu quero saber se os outros aguentam uma CPI.”
“Vamos quebrar sigilo bancário de todas as empreiteiras, de todos os prefeitos, governadores, presidente da República, vamos fazer uma coisa séria, aí a gente moraliza este país, e eu topo, quero ser o primeiro a ser investigado”, continua Marconi, ao que parece se dispondo a fazer duas coisas pelas quais vem sendo cobrado nas últimas semanas: 1) ir à CPMI, mesmo que outros governadores não queiram ir e seu partido proteste; 2) abrir seus sigilos bancário e fiscal, para justamente deixar claro que a defesa intransigente que tem feito da moralidade não é uma moralidade de discurso.
Marca registrada de sua ação política, Marconi voltou a dar ênfase à sua moralidade irretocável. “Pode ter gente mais concentrada e mais séria na administração... eu quero ver alguém mais do que eu, mais comprometido. Por isso eu pedi ao Gurgel (Roberto Gurgel, procurador-geral da República): “Me investigue. Porque eu quero depois ter uma certidão de que eu sou limpo, tenho as mãos limpas e trabalho pelo bem das pessoas”.
O discurso do tucano em Catalão é parte de sua nova estratégia de defesa: o ataque. Daí bater geral, como que a avisar: se eu cair, muita gente vai junto. Ou: eu sou uma bomba ambulante; ou me salvam ou vou explodir geral.
Um dos questionamentos que vêm sendo feitos ao governador tucano tem a ver com a venda de sua casa, curiosamente onde foi preso o contraventor Carlinhos Cachoeira (leia aqui). Ele diz que a vendeu para o empresário Walter Paulo, mas os cheque que recebeu em pagamento são de um sobrinho de Cachoeira. E o dinheiro para a quitação do imóvel, que era financiado? Outro ponto em aberto.
Nas gravações da Polícia Federal, dentro da Operação Monte Carlo, há ainda inúmeras evidências de negócios realizados no governo com a autorização de Marconi Perillo. Sem falar nas nomeações de Cachoeira na administração estadual, na relação de proximidade dele com auxiliares diretos do tucano, e na amizade alimentada pela troca de 200 SMS entre Marconi e seu braço direito, Wladimir Garcez, que era também do PSDB e, talvez por acaso, foi o intermediário da venda da casa. Casa? De novo a casa? Pois é.
Para ver o vídeo com parte do discurso de Marconi Perillo em Catalão, clique aqui.

Depois de condenar cotas, Globo aponta discriminação contra negros



Depois de condenar cotas, Globo aponta discriminação contra negrosFoto: Divulgação

POPULAÇÃO AFRO GANHA MAIS EM APENAS 4% DAS 438 OCUPAÇÕES PESQUISADAS PELO CENSO 2010; NOS EUA, ONDE COTAS EXISTEM HÁ 50 ANOS, OBAMA CHEGOU À PRESIDÊNCIA

13 de May de 2012 às 11:36
247 – Os negros são as maiores vítimas da discriminação no Brasil. É o que demonstra reportagem de capa do jornal O Globo, publicada neste domingo. Elaborado com base em dados do Censo 2010, o texto de Antonio Gois e Alessandra Duarte demonstra que negros têm remuneração superior à de brancos em apenas 4% das 438 ocupações.
As ocupações com maior participação da população negra são justamente aquelas de menor remuneração, como trabalhadores elementares da caça (78%), pescadores (72%), coletores de lixo (70%), limpadores de janelas (69%) e condutores de veículos e máquinas de tração animal (69%).
Na outra ponta, os negros têm baixa participação em trabalhos de alta remuneração, como médicos (15%), engenheiros químicos (15%), pilotos de aviação (14%), arquitetos (14%) e juízes (13%).
Os dados são eloquentes, mas o Globo liderou nos últimos anos a campanha contra as cotas raciais e, há duas semanas, publicou editorial às vésperas de votação sobre o tema no Supremo Tribunal Federal – apesar disso, o STF validou, por unanimidade, a política de cotas. Leia, abaixo, o editorial: 
O sistema de cotas e a proteção enganosa
O Globo
Está previsto para hoje, no Supremo Tribunal Federal (STF), o início do julgamento da constitucionalidade da política de cotas em instituições de ensino no Brasil, contestada em três ações que tramitam na Corte.
Na pauta de hoje está a ação protocolada pelo DEM contra o sistema de cotas adotado pela Universidade de Brasília e o recurso que questiona a política adotada pela Universidade do Rio Grande do Sul, que combina dois critérios para a seleção: a origem de escola pública e a “raça”.
A questão foi debatida em audiências públicas realizadas pelo Supremo em março de 2010, com a participação de mais de 40 especialistas.
Tema complexo em que se embaralham traços da luta pelos direitos civis, da busca de justiça social, da inclusão de minorias menos favorecidas e até do politicamente (ou socialmente) correto.
A priori, pode parecer justa a preocupação de garantir espaço, nas instituições de ensino superior, para jovens que não tenham tido as mesmas oportunidades que outros, supostamente por questão de renda, cor da pele ou outro motivo.
O problema é que esse conceito embute distorções capazes de, ao supostamente neutralizar discriminações, criar outras ainda piores, uma vez que definidas em leis, normas e regulamentos.
Na próxima semana, o STF deverá analisar a ação do DEM e de entidades da área de ensino contra o sistema de reserva de bolsas de estudo para negros, indígenas, pessoas com deficiência e alunos da rede pública, implementado pelo ProUni, do governo federal.
A barreira defensiva para os negros, por exemplo, é traiçoeira. Segundo dados de 2008 do IBGE, apenas 6,1% da população se autodefinem como negros. Em termos percentuais, essa parcela da população só se torna expressiva se a ela se adicionarem os 45,1% que se denominam pardos. Nesse caso, portanto, a barreira funciona, na prática, como uma discriminação contra pardos, não contemplados com cotas.
Outro grande problema do sistema de cotas é o critério a ser adotado para selecionar os que nele devem ser incluídos.
Quando o sistema é o do mérito escolar, as nuvens se dissipam e as cotas deixam de ser necessárias. Entra quem obtiver nota suficiente, segundo o número de vagas. Quando entra o componente racial, a questão se complica.
A Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, por exemplo, criou cotas para negros, mas depois excluiu 76 inscritos porque suas fotos mostravam que eles não cumpriam as exigências: eram pardos.
O fato é que esses sistemas artificiais atendem mais aos objetivos eleitoreiros de alguns políticos que às reais necessidades dos que seriam supostamente beneficiados.
E, para beneficiar alguns, outros são prejudicados. Como é o caso óbvio dos milhões de jovens brancos e pobres, que têm tanta dificuldade de acesso ao ensino superior quanto qualquer outro jovem na mesma situação.
Sem falar no risco de esses sistemas incutirem na sociedade tensões raciais desnecessárias.
Bastante mais razoável que as cotas raciais seria a adoção de cotas sociais, em função da renda, e não da cor. Seriam beneficiados os mais pobres, não importando se brancos, pardos ou negros.
Mas a “ação afirmativa” verdadeiramente desejável é a melhoria do ensino público básico e profissionalizante, maneira adequada de qualificar o jovem das famílias de baixa renda, sem discriminações racistas. São aspectos a serem considerados pelos juízes do STF.

Torcida ilustre


Tom Cavalcante e Raimundo Fagner sempre proclamam o amor por Ceará e Fortaleza, respectivamente
O Clássico-Rei ganha um ingrediente a mais quando a rivalidade envolve pessoas famosas. Dois cearenses de destaque nacional caminham em lados apostos quando o assunto é a paixão clubística: o cantor Raimundo Fagner, tricolor, e o humorista Tom Cavalcante, alvinegro.

Um amor fiel pelo clube. Assim pode-se descrever o sentimento que Fagner tem pelo Fortaleza. Torcedor declarado, daqueles de gravar o hino do time em CD, o cantor sempre que pode vai prestigiar a equipe nos jogos na Capital. A última vez foi na goleada de 4 a 0 sobre o Náutico, no PV, pela Copa do Brasil. Na oportunidade, ele foi homenageado pela diretoria.

Fagner elogiou pessoalmente o trabalho do técnico Nedo Xavier. “Acredito que este ano temos chances de retornar à Série B do Campeonato Brasileiro”, confiou o cantor, que antes do jogo arriscou até a fazer algumas embaixadinhas com a bola, sendo aplaudido pelos jogadores do Leão.

No lado alvinegro, Tom Cavalcante também abre o coração para o Ceará. De férias com a família na Capital, ele marcou presença num jogo do Vovô contra o Crateús, no PV, pelo Campeonato Cearense. “Eu sempre vinha ao PV com meu pai. Sou torcedor do Ceará de corpo e alma”, definiu o humorista.

Nas suas inúmeras viagens pelo Brasil e pelo mundo, Tom esteve em Jerusalém em 2011. Na oportunidade, ele levou uma camisa em homenagem ao ídolo Gildo. Bateu uma foto e postou no Twitter. “O Gildo representa o espírito do torcedor do Ceará. É a alma da nação alvinegra”, comentou.

O retorno do Ceará à Série A do Campeonato Brasileiro no próximo ano é o sonho de 10 em cada 10 torcedores alvinegros. Tom comunga do mesmo desejo. “Sou mais um torcedor que grita e vibra. Acredito no trabalho do Evandro (Leitão) e acho que o time tem condição de voltar à Série A”, elogiou.
 
Artistas “jogadores”

Fagner, que já bateu bola com craques do futebol brasileiro como Zico, Júnior e Sócrates, vestiu uma vez a camisa do Fortaleza como jogador. “Uma vez arranjei um patrocínio para o time, então me homenagearam e entrei jogando contra o América. Nessa época jogava aqui o Zé Eduardo, que foi um grande craque”, relembra.

Já Tom Cavalcante, antes de enveredar pelo rádio cearense e a carreira de humorista, foi jogador das categorias de base do Calouros do Ar, tradicional clube da Capital hoje na 3ª Divisão do Estadual. (Rogério Gomes

Confiança
O humorista e o cantor se mostram confiantes no título cearense e, em seguida, no acesso de divisão do Campeonato Brasileiro para seus times de coração

A CPI das Reviravoltas


Do Correio Braziliense

Por Marcos Coimbra
A CPI do Cachoeira está apenas no início e já ganha o troféu de a mais inusitada dos últimos anos. A cada dia, confirma a antiga sabedoria mineira a respeito da política.
É como as nuvens: você olha e vê uma coisa; olha de novo e tudo mudou.
Foi assim desde o começo.
Quem acompanhava o noticiário estava convencido de que a CPI era uma invenção de Lula. Embora ninguém soubesse com certeza o que ele queria, havia quase um consenso a respeito de suas intenções: usá-la contra antigos - e novos - desafetos.
Não só, mas principalmente para atingir Marconi Perillo. (Consta que ele nunca teria perdoado o governador de Goiás por tê-lo acusado, em 2005, de nada ter feito quando o informou sobre o mensalão.)
Era, nessa altura, a CPI do Acerto de Contas. 
Os comentaristas de nossa imprensa estavam perplexos. Não havia precedente de uma CPI - arma tradicionalmente usada pelas oposições para atacar o governo - patrocinada pelo partido que está no poder. Sem ter outra coisa para dizer, puseram-se a repetir a verdade acaciana: “Todos sabem como começa, mas ninguém como termina uma CPI”. 
Quando as lideranças da oposição perceberam que ela seria mesmo realizada, correram para estar na foto de comemoração da instalação. Isso tranquilizou os analistas, que logo formularam a hipótese de que Lula, no afã de prejudicar os oponentes, havia cometido uma ingenuidade: o feitiço ia se virar contra o feiticeiro.
A comissão mudou de nome. Passou a ser a CPI do Juízo Final.  
Daí, alguém achou que havia descoberto a verdade. Lula tinha, de fato, segundas intenções e não temia perder o controle da CPI. O que ele queria era servir-se dela para desviar a atenção do Supremo Tribunal Federal. Atrapalhar o julgamento do mensalão.
A suposição é tosca, mas teve larga circulação. Só poderia acreditar nela quem possui péssima imagem dos ministros do STF e imagina que julgam ao sabor das circunstâncias, de acordo com o que leem no jornal. Nem por isso, no entanto, deixou de ser reproduzida mil vezes, como se fosse uma descoberta extraordinária. 
Já então, a CPI recebeu o terceiro batismo: era a CPI da Cortina de Fumaça.
Na semana que passou, a confusão aumentou. As reviravoltas se sucederam diariamente.
Começou com o primeiro depoimento que colheu, do delegado da Polícia Federal responsável pela investigação da Operação Vega – o ponto de partida da história inteira. 
A parte relevante foi quando ele disse que o inquérito havia sido concluído e encaminhado à Procuradoria Geral da República em 2009. Uma dúvida ficou no ar: por que só em 2012 ela o remeteu ao Supremo?
Se a tese da “cortina de fumaça” fizesse sentido, a questão seria ainda mais intrigante. E conduziria a outras perguntas.
Será que o retardo - que fez com que as denúncias viessem à tona justo na véspera do julgamento do mensalão - significaria que o procurador-geral estava mancomunado com alguém? Será que queria melar o mensalão? Afinal, não foi de sua ação - ou omissão - que resultou que acontecessem ao mesmo tempo?
Logo que escutaram as declarações do delegado, vários membros da Comissão entenderam que precisavam ouvir o procurador. Os que primeiro se manifestaram foram parlamentares do PSOL e do DEM.
Isso não o perturbou. Afirmou que não iria e que quem o criticava eram os “que estão morrendo de medo do julgamento do mensalão”.
Como? Se foi ele quem criou as condições para que o caso fosse utilizado como “cortina de fumaça”, o revelando agora? Como, se quem saiu à frente para convocá-lo foram políticos que nada têm a ver com o julgamento?
Será que a CPI precisa trocar, outra vez, o nome (que tal CPI das Piruetas da Lógica)?
Ou é melhor ficar como CPI do Cachoeira, uma oportunidade para que discutamos políticos, empresários, jornalistas, magistrados e procuradores?

Advogado de ‘inimigos públicos’, Kakay admite: caso Carol Dieckmann atenua ‘impopularidade’


A última vez que o criminalista Antonio Carlos de Almeida ‘Kakay’ Castro abraçou uma causa popular foi há 19 anos. No já longínquo ano de 1993, ele atuou no julgamento de um grupo de jovens que espancara até a morte um adolescente de Brasília, Marco Antonio Velasco.
O caso Velasco comoveu a Capital da República. O noticiário cobrava a condenação dos assassinos. E Kakay, contratado pela família do morto, exerceu no tribunal do júri o papel de acusador. Uma exceção na biografia de um dos mais notórios defensores de poderosos abalroados por escândalos no país.
Aos 52 anos, 30 dos quais dedicados ao exercício da advocacia, Kakay especializou-se na defesa de ‘vilões’. Toma-lhes as dores com vigor tal que acaba atraindo para si, como que por osmose, a aversão que sua clientela instila na opinião pública.
“É difícil defender o inimigo público número um”, disse Kakay em entrevista ao repórter Claudio Dantas Sequeira. “Essa confusão que se faz do advogado com o crime que supostamente teria cometido o cliente é uma visão míope”, ele declarou.
Recordou-se de uma passagem doméstica: “Meu filho tinha 6 anos e em Brasília só se falava da morte do índio Galdino [queimado vivo num ponto de ônibus da cidade]. Meu filho me pediu: ‘Papai, não pega esse caso não.’ É uma visão maniqueísta, de uma criança, mas é uma realidade.”
Poucos dias depois receber procuração para cuidar da defesa de Demóstenes Torres, penúltimo indefensável a cruzar-lhe o caminho, Kakay foi chamado ao Rio por Carolina Dieckmann. A atriz chegou ao criminalista graças a amigos que têm em comum. Gente como a produtora Bia Aydar e Regina Cazé.
Súbito, Kakay passou a usufruir de exposição simultânea em duas áreas distintas dos jornais: a editoria político-policial e as colunas voltadas às celebridades. Num dia, acompanhou a atriz no depoimento que inaugurou o inquérito policial que apura o vazamento de fotos íntimas na internet. Noutro, representou o senador na sessão em que o Conselho de Ética abriu o processo que pode despi-lo do mandato.
Perguntou-se a Kakay se a causa de Carolina Dickmann serve de contraponto à encrenca de Demóstenes Torres. E ele: “Não pensei nisso, mas advogar para Carolina Dieckmann pode contrapor a impopularidade. Como eu acho que ela agiu com muita dignidade, resolvi entrar no caso.”
Acha que a difusão não consentida da nudez da atriz na web pode resultar num subproduto: “É uma causa interessante que pode ajudar no debate sobre o controle da internet, especialmente das mídias sociais. Hoje estamos diante do fenômeno dessas redes sociais que são uma mídia opressiva. O que aconteceu com essa menina é sórdido, cruel.”
Como controlar o território livre da internet? “Não defendo a criação de conselhos nem nada disso, mas não existe direito absoluto. Deve haver uma resposta rápida do Judiciário. O que inibe a criminalidade é a certeza da punição. Sites nos EUA e na Inglaterra retiraram as fotos dela 48 horas depois de um contato meu, alegando que eram ilegais e estavam causando dano à imagem da atriz. É o limite da responsabilidade.”
Mutatis mutandis, também no caso Demóstenes Kakay lida com vazamentos ilegais e nudez indesejada. Briga no STF para anular os grampos nos quais a voz do seu cliente soa em diálogos vadios com Carlinhos Cachoeira. Alega que a PF captou-os à margem da Constituição, sem pedir licença ao Supremo.
No julgamento político do Senado, Kakay parece antever o pior desfecho –ou melhor, conforme o ponto de vista: “[…] Não acho que houve quebra de decoro. Mas os vazamentos criaram esse clima de irreversibilidade, o que pressiona o Senado. É um julgamento secreto, sem fundamento e eminentemente político. Se eu ganhar no Supremo, os senadores terão cassado o mandato de um parlamentar com base em provas nulas.”
Acredita mesmo que o STF vai invalidar as escutas? “[…] O foro de prerrogativa está previsto na Constituição. O delegado da Monte Carlo admitiu à CPI que investigou o Demóstenes por dois anos, sem autorização do STF. O relatório que eles chamam de ‘casos fortuitos’ contém um ano e meio de escutas ilegais. E essas são as únicas provas que existem contra o senador.”
Para Kakay, o Brasil tornou-se a república dos grampos.” O país atravessa “a era da insegurança”. A privacidade, diz ele, “acabou”. A arapongagem “virou profissão”. Pinta um quadro funesto: “Quando o Estado patrocina essa quebra de sigilo, é uma barbaridade. O número de grampos oficiais no Brasil é estrondoso e os não-oficiais deixariam qualquer um estarrecido. Na Monte Carlo, esqueceram que interceptação telefônica é o último recurso de uma investigação, não o primeiro.”  
A fama fez de Kakay um advogado seletivo. “De cada 20 casos que aparecem, a gente pega um.” Comanda uma banca enxuta. “Não concordo com essa americanização, essa massificação de escritórios, que chegam a ter 300 advogados. Hoje minha equipe são três advogados, além de mim.”
Diz acompanhar pessoalmente todos os casos. “Gosto do enfrentamento. Acho essa profissão do cacete.” Não tem o hábito de perguntar aos clientes se são culpados ou inocentes. “Não me preocupo com isso. Eu me interesso por casos em que acredito que se possa fazer uma defesa técnica.”
Reconhece que já advogou “para gente que matou.” Jacta-se dos resultados: “Tive cinco casos de maridos que mataram suas mulheres e absolvi os cinco. Não sou juiz. Nós, advogados criminalistas, exercemos papel fundamental para o estado democrático de direito. Essa impopularidade é o preço que se paga.”
Eleitor de Lula e amigo de José Dirceu, Kakay é apartidário na montagem do portfólio. Defende políticos “de todas as colorações partidárias.” Conta que já advogou “para cinco presidentes de partidos diferentes ao mesmo tempo.” Já bateram à porta do seu escritório: “a Roseana, o Bornhausen, o Agripino, o Arruda, o Paulo Octavio…”
A lista é tão vasta que os nomes lhe escapam. Esqueceu de mencionar ACM e José Sarney, para ficar em dois exemplos inesquecíveis. Sob Dilma Rousseff, foi contratado pelo ex-ministro pecedobê Orlando Silva (Esportes). No Cachoeiragate, além de Demóstenes, cuida da defesa do governador tucano Marconi Perillo (GO).
No mundo privado, advoga para grandes empreiteiras, bancos e banqueiros. Já defendeu Salvatore Cacciola. Daniel Dantas também já foi socorrido por ele. Em batida realizada no escritório de Dantas, no Rio, a Polícia Federal apalpou o recibo dos honorários de Kakay. Coisa de R$ 8 milhões.
Diz-se que o crime não compensa. No Brasil, não é que o crime não compensa. É que, quando compensa, muda de nome. E torna milionários os advogados que ajudam no rebatismo. Tomado pela fortuna, Kakay é, hoje, uma das principais provas de que a defesa de personagens a quem a opinião pública sonega até o benefício da dúvida pode ser uma atividade altamente compensatória.