domingo, 23 de fevereiro de 2014

A confissão de Boni sobre o debate entre Lula e Collor



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Me enviam um vídeo que resume o Brasil.
Nele, sorridente, aparentemente orgulhoso, o ex-chefão da Globo, Boni, confessa um crime de lesa sociedade.
Você pode vê-lo aqui.
Boni conta que, no célebre debate entre Lula e Collor que definiria as eleições presidenciais de 1989, a Globo preparou Collor.
Quer dizer: uma concessão pública achou que tinha o direito de se meter nas primeiras eleições diretas para presidente.
A Globo, conta Boni, tirou a gravata de Collor para dar a ele um ar mais popular. Se pudesse, disse Boni, a Globo borrifaria caspa em Collor, a exemplo da tática clássica de Jânio Quadros para se identificar com a voz rouca das ruas.
Mas havia coisa bem pior.
Há muitos anos conheço a história das pastas de Collor. Ele se apresentou no debate com elas.
O que nas redações se comentava é que fora um truque de Collor. Chegou a Lula a informação de que na pasta estavam denúncias contra ele.
Lula ficou apavorado. Durante todo o debate, Collor fingia de tempos em tempos que ia abrir as pastas para apanhar coisas que comprometeriam Lula.
As pastas tinham papel que não significavam nada, na realidade. Mas levaram Lula a ter um desempenho sofrível num debate vital.
A revelação – confissão – de Boni é que quem armou o golpe das pastas foi a Globo, e não Collor.
Mais uma vez: ele disse isso em tom triunfal. Não tinha noção, ou não parecia ter, da gravidade do que estava dizendo.
O que se fez diante das palavras de Boni?
Nada. A mídia não se mexeu. A justiça não se mexeu. O governo não se mexeu. Para que serve um Ministério da Comunicação?
Este é o Brasil.
A Globo goza de espantosa impunidade. Pode fazer tudo, que não acontece nada.
Boni conta que o homem chave da Globo no crime foi o executivo Miguel Pires Gonçalves, filho de um general da ditadura. A Globo agora contrata filho de ministro do Supremo. Antes, contratava filho de general. Mudaram as circunstâncias, mas a Globo ficou igual.
Joaquim Barbosa arrumou um emprego para o filho na Globo. Ayres Britto escreveu o prefácio de um livro de Merval sobre o Mensalão. Gilmar Mendes aparece em fotos ao lado de Merval.
Lula, a vítima do crime eleitoral da Globo, foi ao enterro de Roberto Marinho, e produziu uma eulogia em que disse que o falecido era um brasileiro que viera “a serviço”.
A serviço do quê?
Não satisfeito em aplaudir Roberto Marinho, Lula decretou três dias de luto oficial. Ao fazer isso, Lula enxovalhou a memória de homens como Getúlio Vargas e João Goulart, vítimas das conspirações golpistas de Roberto Marinho.
É possível que o episódio do debate tenha deixado Lula para sempre com um sentimento paralisante de medo em relação à Globo, para infortúnio da sociedade.
A Carta aos Brasileiros, com a qual logo no início do mandato ele se comprometeu essencialmente a não fazer nada de muito diferente do que vinha sendo feito antes dele, foi arrancada a ele por João Roberto Marinho, filho de Roberto Marinho.
Montaigne escreveu que seu maior medo era ter medo.
A Globo pôs medo em Lula e no PT. E põe medo no Brasil.
O medo foi o responsável pela chamada “mídia técnica”, pela qual a Globo recebeu de governos petistas 6 bilhões de reais em dez anos mesmo tendo sonegado escandalosamente impostos e mesmo produzindo um conteúdo destrutivo para todas as causas sociais. A manchete do Globo quando foi efetivado o 13.o, sob Jango, dizia que se tratava de uma “calamidade”.
O medo da Globo impediu que se discutissem regras para a mídia, para evitar monopólios como a Globo.
Se Kirchner tivesse medo do Clarín, não faria o que fez.
Enquanto perdurar o medo da Globo, o país vai patinar no desenvolvimento social, porque a Globo é um obstáculo intransponível para a construção de uma sociedade justa.
É irônico que um partido que dizia que a esperança tinha que vencer o medo tenha se tornado, ele mesmo, depois de chegar ao poder, tão medroso. 
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/a-confissao-de-boni-sobre-o-debate-entre-lula-e-collor/

As pegadas de Matarazzo


Quais são os indícios que levaram o Ministério Público a investigar o vereador tucano que teria se beneficiado da propina de R$ 23 milhões paga pela Alstom

Pedro Marcondes de Moura (pedro.marcondes@istoe.com.br)
 

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COMPLICOU
Para o juiz federal, a secretaria dirigida por Andrea Matarazzo, durante
o governo de Mário Covas, beneficiou-se de valores indevidos

Os escândalos envolvendo as sucessivas gestões do PSDB à frente do Estado de São Paulo chegaram à antessala da cúpula tucana. Na última semana, após acatar a denúncia de corrupção do Ministério Público Federal em estatais de energia durante o governo de Mário Covas, o juiz federal Marcelo Cavali autorizou também a abertura de um novo inquérito para investigar o vereador tucano e serrista de primeira hora, Andrea Matarazzo. “Pessoas submetidas à sua esfera de comando hierárquico foram tidas como beneficiárias de propinas”, escreveu o magistrado na terça-feira 18. “Além disso, há ao menos indício de que o próprio partido político ao qual é filiado (o PSDB) e a própria Secretaria de Energia dirigida por ele – conquanto em curto espaço de tempo – tenham sido beneficiários de valores indevidos”, complementou. A decisão frustrou a tentativa de Matarazzo de encerrar as investigações. Para a Justiça e o MPF, há sim o que se apurar sobre a conduta do tucano. Documentos que aguardam apenas uma autorização do Tribunal de Bellinzona, na Suíça, para desembarcar no Brasil podem esclarecer a ligação de Matarazzo com o esquema operado para beneficiar a multinacional francesa Alstom.

A Polícia Federal já havia indiciado o tucano por corrupção passiva. Para o delegado Milton Fornazari, existem “indícios robustos” de que Matarazzo, então secretário estadual de Energia, se beneficiou do esquema criminoso comandado pela Alstom, que pagou R$ 23,3 milhões para agentes públicos paulistas em troca da obtenção, em 1998, de aditivo em um contrato firmado com a Empresa Paulista de Transmissão de Energia (EPTE). O acordo previa a instalação de equipamentos em subestações de energia. Entre os indícios da participação de Matarazzo, para os investigadores, consta um documento em que um diretor da Alstom detalha os destinos do suborno. O dinheiro teria como um dos alvos “a Secretaria de Energia”. Em outro papel recolhido na matriz na Alstom em poder de autoridades suíças e francesas, a divisão da propina novamente aparece. Dessa vez, a “SE” (identificada como Secretaria de Energia) aparece como beneficiária de 3% do suborno. Matarazzo, em depoimento ao MP ao qual ISTOÉ teve acesso, disse estar “indignado” e que “repele veementemente afirmações de que tenha recebido vantagens”, repetindo uma retórica comum entre políticos acusados de corrupção.

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Na decisão proferida na última semana, o juiz federal pediu ainda que o MPF avance na apuração sobre a participação no esquema criminoso de três diretores da Alstom e de Eduardo José Bernini, ex-presidente da Eletropaulo. Se mais elementos forem encontrados, eles podem ter o mesmo destino de outras 11 pessoas que se tornaram esta semana, oficialmente, réus por participação nesse escândalo. Entre eles, José Sidnei Martini (ex-presidente da Empresa Paulista de Transmissão de Energia) e Celso Cerchiari (ex-diretor da EPTE), acusados de corrupção passiva pelo recebimento de quatro milhões de reais. Dos indiciados, quatro réus responderão por lavagem de dinheiro por simularem as consultorias fictícias, usadas para disfarçar o pagamento da propina. Outros cinco indiciados responderão pelos crimes de corrupção ativa. Na sexta-feira 21, a Justiça decretou o sequestro de R$ 32,4 milhões do patrimônio de cinco deles.

O escândalo no setor de energia é, segundo integrantes do Ministério Público e da Polícia Federal, o embrião de outra máfia que atuou em estatais paulistas: a dos trens. Além de contar com lobistas em comum e ter também a participação da multinacional francesa Alstom, o cartel na área de transporte sobre trilhos agiu durante as gestões tucanas no Estado. Como ISTOÉ mostrou em julho, o superfaturamento de contratos firmados com o Metrô paulista e a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) gerou um prejuízo de, ao menos, R$ 425 milhões ao erário. Pelas irregularidades, dez pessoas são investigadas. Entre elas, o deputado federal Arnaldo Jardim (PPS) e os secretários do governo Geraldo ­Alckmin: Edson Aparecido (PSDB), Rodrigo Garcia (DEM) e José Anibal (PSDB). Os quatro políticos, que negam envolvimento com as irregularidades, são acusados por Everton Rheinheimer, ex-dirigente da Siemens, de receber propina. 

FOTO: EVANDRO MONTEIRO/BRASIL ECONOMICO 

http://istoe.com.br/reportagens/349177_AS+PEGADAS+DE+MATARAZZO+

A vitória do retrocesso

Comissão do Senado derruba projeto que reduzia maioridade penal para 16 anos e País perde a oportunidade de tomar medida concreta para frear a criminalidade adolescente


Na quarta-feira 19, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado deu um passo para trás e rejeitou um projeto que visava a reduzir, em algumas circunstâncias, a maioridade penal de 18 para 16 anos. A proposta tentava enfrentar um problema grave e urgente: dar tratamento mais duro a jovens às portas da maioridade que cometem crimes bárbaros e que, pouco depois, ganham a liberdade. O texto, de autoria do senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), não valia para todas as situações. A maioridade penal só iria baixar para adolescentes que praticassem crimes hediondos, tráfico de drogas, tortura, terrorismo ou que fossem múltiplos reincidentes por infrações como roubo violento e lesão corporal grave.

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PUNIÇÃO
A maior pena para criminosos menores de idade é três anos de reclusão
O projeto foi apresentado no ano passado, na esteira de uma morte que chocou o País: o assassinato do estudante de rádio e tevê, Victor Hugo Deppman, 19 anos, por um bandido armado que atingiu a maioridade três dias depois do crime. Vítima de um assalto na porta de seu prédio, na cidade de São Paulo, o universitário entregou seu celular e não reagiu. Mesmo assim, o criminoso atirou contra sua cabeça logo após receber o aparelho – toda a movimentação foi captada pelas câmeras de segurança do edifício. Preso, o jovem foi levado a uma Fundação Casa e cumprirá no máximo três anos de reclusão, como manda o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

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"A medida se justifica diante do fato de que, hoje,
os crimes bárbaros cometidos por menores de 18 anos
constituem uma realidade terrível que precisa ser enfrentada"

senador Aloysio Nunes (à dir.), do PSDB-SP

A votação do texto que inibiria que situações como essa acontecessem novamente foi conturbada e incluía outras cinco PECs (Propostas de Emenda à Constituição) que tratavam da maioridade penal. No fim, todas foram rejeitadas e perdeu-se uma oportunidade de tomar uma medida concreta que pode conter a escalada da criminalidade entre jovens seguros de que cumprirão penas brandas. Nunes defendeu seu ponto de vista: “A medida se justifica diante do fato de que, hoje, crimes bárbaros cometidos por menores de 18 anos constituem uma realidade terrível que precisa ser enfrentada”. O bloco governista foi o maior responsável pela derrubada do projeto, por 11 votos a 8. Em função do placar apertado, o tucano promete recorrer ao plenário para que todos os senadores votem. A sociedade espera que, dessa vez, os senadores tomem a decisão correta.
Fotos: Shutterstock; Geraldo Magela/Agência Senado 

http://istoe.com.br/reportagens/349179_A+VITORIA+DO+RETROCESSO

Os redutos ameaçados do PT


Seis Estados que foram determinantes para a vitória de Dilma Rousseff em 2010 agora apresentam cenário desfavorável à petista. Em jogo, 12 milhões de votos

Pedro Marcondes de Moura (pedro.marcondes@istoe.com.br)
 

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Ao conferir, nos últimos dias, o mapa eleitoral nos Estados, a presidenta Dilma Rousseff franziu o cenho de preocupação. Dilma percebeu que o cenário político lhe é desfavorável em seis Estados nos quais o resultado eleitoral tinha sido determinante para sua vitória na corrida ao Palácio do Planalto em 2010. São eles: Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro, Maranhão, Ceará e Bahia. Nesses locais, ela obteve em 2010 uma vantagem de 12,6 milhões de votos sobre José Serra. No total, Dilma venceu o tucano por uma diferença de 12%. Só em Pernambuco, Bahia e Ceará, Dilma conquistou cerca de 7,5 milhões de votos a mais que o rival. Agora, nesses Estados, rachas entre siglas da base aliada ou rearranjos locais e nacionais fortalecem as candidaturas do governador pernambucano, Eduardo Campos (PSB), e do senador Aécio Neves (PSDB), principais adversários de Dilma.
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Na Bahia, Estado em que a petista obteve a maior vantagem em votos sobre a oposição no segundo turno, Dilma encontra dificuldades para montar palanques competitivos. Além do desgaste da máquina petista, que comanda o governo do Estado há dois mandatos com Jaques Wagner, aliados desertaram da campanha petista à reeleição ao Planalto. De um lado, a senadora socialista Lídice da Mata lançou-se à sucessão estadual, abrindo palanque para o correligionário Eduardo Campos. De outro, o PMDB costura uma aliança com o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), e com o PSDB. O objetivo é lançar um candidato único ao governo baiano, garantindo um robusto palanque ao presidenciável tucano Aécio Neves.

No Ceará, outro Estado estratégico para o triunfo de Dilma em 2010, os atritos entre as legendas da base aliada também podem favorecer Aécio. O PMDB local já sinalizou informalmente que, caso o PT insista em se coligar com o PROS, comandado pela família Gomes, a legenda irá firmar um acordo com um dos candidatos oposicionistas. O senador peemedebista Eunício Oliveira, que não pretende abrir mão de disputar o governo estadual, ensaia uma aliança com o PSB de Eduardo Campos. Nem mesmo a oferta de Dilma de nomeá-lo para o Ministério da Integração Nacional o fez abrir mão de lançar-se candidato.

O cenário em território cearense é similar ao do Maranhão, onde Dilma obteve 79,09% dos votos no segundo turno de 2010. O apoio sinalizado pelo PT ao grupo político da família Sarney contraria o ex-presidente da Embratur e pré-candidato pelo PCdoB à sucessão estadual Flavio Dino. Com isso, a campanha de Dino tenta montar um arco de alianças que inclui o PSDB, de Aécio, e o PSB, de Campos. No Rio, a insatisfação dos aliados está relacionada à candidatura do senador petista Lindbergh Farias à sucessão estadual. O PMDB já contabilizava como certo o apoio do PT para eleger o vice-governador, Luiz Fernando Pezão, o que não ocorreu. Agora, os peemedebistas reclamam da falta de reciprocidade do PT à legenda, que participou ativamente da campanha de Dilma Rousseff em 2010. Preterido, o partido negocia uma aliança com o PSDB, o que poderá abrir uma trincheira para Aécio no Estado.

A candidata à reeleição Dilma Rousseff também enfrentará uma combativa oposição em Minas Gerais e Pernambuco, Estados de seus principais rivais. Ao contrário de 2010, quando tinha o governador Eduardo Campos como cabo eleitoral, o PT agora vê o rival socialista tentando isolar a sigla. Em um lance político bem-sucedido, Campos selou o fim da hegemonia petista à frente da capital do Estado e manteve sob seu controle as principais prefeituras do Estado. Também aumentou sua aliança, trazendo o PMDB, o PSDB e até ex-petistas, como Maurício Rands.

Em Minas Gerais, Estado onde petistas e tucanos foram aliados nas recentes eleições, Aécio elegeu a vitória de Pimenta da Veiga (PSDB), candidato ao governo, como crucial neste pleito. Inusitadas dobradinhas nas urnas, como a Dilmasia, em que eleitores votaram na petista para o Planalto e no tucano Antonio Anastasia para o Executivo estadual em 2010, não irão ocorrer. Para se certificar de que irá derrotar o PT no Estado, o tucano Aécio Neves trabalha intensamente para manter em sua canoa antigos aliados locais e conquistar o apoio de outras legendas que ameaçam pular do barco do governo. Segundo as recentes pesquisas, Dilma navega em águas tranquilas: ainda é favorita para vencer no primeiro turno das eleições presidenciais. Mas, se a maré virar para ela nesses seis colégios eleitorais, a eleição de outubro pode ter um desfecho distinto.  

http://istoe.com.br/reportagens/349176_OS+REDUTOS+AMEACADOS+DO+PT

A guerrilha de R$ 30 milhões nas redes sociais


Com um investimento milionário, PT, PSDB e PSB planejam mobilizar 90 mil ativistas da internet. Eles podem ser os grandes cabos eleitorais numa eleição em que a guerra digital será decisiva para a vitória nas urnas

Josie Jeronimo (josie@istoe.com.br)

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Embora a internet já tenha sido um campo de batalha importante em 2010, na expectativa dos marqueteiros dos principais partidos, a guerra pelas redes sociais na campanha presidencial deste ano será ainda mais acirrada e poderá ser decisiva para o triunfo eleitoral. Se é verdade que a propaganda na tevê conserva sua importância e mantém-se como destino preferencial dos gastos dos candidatos, no meio político existe também a convicção de que a internet está destinada este ano a se tornar o espaço prioritário para o eleitor resolver dúvidas, confrontar propostas e, numa função ativa que só as redes sociais permitem, combater no corpo a corpo pelo candidato de sua preferência. Hoje, 105 milhões de pessoas têm acesso à internet no Brasil e cada uma delas costuma passar em média duas horas por dia conectada à rede. Na internet, o brasileiro já faz compras, tira diploma universitário e até se casa com ajuda das redes sociais. É muito provável também que a internet seja usada pelo eleitor para definir seu candidato presidencial. A partir dessa percepção, a pré-candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT) e os presidenciáveis Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) já começaram a montar seus bunkers digitais.

Num esforço para capturar o voto desses brasileiros, os comitês do PT, PSDB e PSB programam um investimento total de R$ 30 milhões e planejam mobilizar uma massa de 90 mil militantes eletrônicos até outubro. Com uma verba estimada em R$ 12 milhões, o PT inicia nas próximas semanas as oficinas de preparação de 1.200 coordenadores de redes sociais de 18 Estados. Através deles, o partido pretende organizar uma massa de 20 mil internautas bem  conectados, capazes de disparar mensagens que podem alcançar o computador de 20 a até 40 milhões de pessoas em poucos minutos, operação que, bem coordenada, pode alterar os ânimos do eleitorado nas horas difíceis de uma campanha. Em 2010, quando a perspectiva de uma vitória no primeiro turno não se confirmou, criando uma decepção com consequências imprevisíveis entre os eleitores de Dilma, o PT voltou a caminhar através de uma “onda vermelha” organizada em plenárias de militantes que ocuparam boa parte da rede. “A internet representará, em 2014, pelo menos 30% da campanha,” atesta Alberto Cantalice, vice-presidente do partido e coordenador da mobilização digital.  

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Em 2013, a equipe digital de Dilma foi reformulada e na campanha presidencial sua orientação política ficará por conta do jornalista Franklin Martins, ministro da Comunicação Social do governo Lula. Ainda no ano passado, jovens de tênis All Star, jeans e camisa xadrez  começaram a circular pelo Planalto, contratados para animar o Facebook e dar uma nova cara para o Twitter da presidenta. Em menos de um ano, a audiência da página de Dilma saltou de 20 mil curtidas para 220 mil. Entre esse público, 80% não é filiado ao PT nem se considera eleitor fixo do partido, o que é motivo de comemoração, já que ninguém precisa pregar para convertidos. Essa situação, contudo, exige cuidados especiais de forma e conteúdo. Atitudes agressivas podem ser aceitas e até bem-vindas em conversas fechadas. Mas causam constrangimento e mesmo escândalo quando feitas em público, como se viu quando um texto do PT no Facebook, cuja confecção foi atribuída à empresa Pepper Comunicação, classificou o concorrente Eduardo Campos de “tolo” e “playboy mimado”, dizendo ainda que Marina Silva era um “ovo da serpente”, motivada por um “adesismo puro e simples.”
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O PSDB não quer cometer esses erros, mas, como o PT, o partido sabe que nem sempre é fácil segurar o ímpeto da militância quando o que está em jogo é a vitória do candidato do coração – ou daquele que lhe paga. Além de acordar o País para um descontentamento profundo, os protestos de junho de 2013 serviram para o PSDB demonstrar uma força nas redes sociais que era desconhecida pelos adversários. Trabalhando silenciosamente desde 2010, os tucanos fazem um esforço para profissionalizar a equipe digital. Apenas em Minas Gerais, que hoje concentra grande parte dessa militância, o número de ativistas aumentou 840%, explica Nárcio Rodrigues, presidente da Juventude do PSDB. “Tínhamos 600 jovens, agora são 5.040, em níveis diferentes de engajamento. Alguns podem passar o dia todo online.”

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Depois do Carnaval, a equipe de internet da campanha de Aécio será reforçada. O ex-deputado Xico Graziano, diretor do Instituto FHC, montará uma redação com 50 internautas experientes. A estratégia de trabalho seguirá o cardápio clássico de redes sociais da maioria dos partidos: publicar notícias positivas com formato moderno e leve, desconstruir informações negativas e apontar erros dos adversários. Em 2010, o partido gastou cerca de R$ 8 milhões com a campanha virtual. Quatro anos depois, prevê uma despesa próxima dos R$ 12 milhões admitidos pelo PT.

No PSB, de Eduardo Campos, a guerrilha nas redes sociais também é vista como um bom atalho para a vitória nas urnas nas eleições deste ano. No início do mês, o marqueteiro Diego Brandy, responsável pela campanha de Campos, resolveu submeter seu candidato a uma experiência inédita. Colocou Campos num encontro de duas horas com internautas, numa conversa que gerou 12 milhões de interações replicadas rede afora. Brandy dá sua receita: “Se você chega numa roda de amigos e fala apenas de você, logo todos lhe acharão um chato. As redes são fundamentalmente para o diálogo”.

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Em 2010, a equipe de Marina Silva, vice de Eduardo Campos, conseguiu mobilizar 60 mil militantes digitais a partir de 500 internautas, façanha que, ao lado dos eleitores evangélicos, foi uma das alavancas para seus 20 milhões de votos. Para Eduardo Rombauer, o cérebro digital da campanha de Marina, a guerra por votos na internet tem uma característica principal: “Os partidos não entendem que não adianta tentar controlar o debate. É preciso estar a serviço da demanda dos internautas. Por isso, conseguimos 60 mil replicadores sem precisar pagar.” Os gastos, mesmo assim, não foram pequenos. O PV gastou pouco mais de R$ 5 milhões com a campanha na internet, em 2010. Juntos, Marina e o PSB planejam gastar R$ 8,5 milhões este ano.

Cabe lembrar que a mesma tecnologia capaz de criar tantas possibilidades de um ativismo político saudável também permite ações condenáveis, muitas das quais protagonizadas pela militância virtual de 2010 para cá. A internet abre possibilidades sem fim para abusos e golpes baixos. A partir de um site localizado no exterior, é possível divulgar mentiras e calúnias sem que a parte atingida possa tomar qualquer tipo de providência legal.  Nos bastidores da campanha, o lado obscuro das redes sociais começa a preocupar os principais candidatos, que debatem a possibilidade de estabelecer uma espécie de código de guerra para definir limites e sanções. Mas, por ora, a guerrilha digital dispõe de sinal verde para entrar em ação. Preparem-se as trincheiras.

Colaborou Pedro Marcondes de Moura
fotos: shutterstock; Darlei Marinho/Parceiro/Ag. O Globo; Carlos Cecconello/Folhapress 

http://istoe.com.br/reportagens/349175_A+GUERRILHA+DE+R+30+MILHOES+NAS+REDES+SOCIAIS