domingo, 4 de novembro de 2012

Mídias que se parecem


No Brasil e nos EUA, a reação justiceira da grande imprensa. Foto: Saul Loeb / AFP

A poética imagem do arco-íris no céu de Brasília, imortalizada na primeira página do Globo no dia seguinte à condenação de José Dirceu, não tem representado o pano de fundo desejado pelos conservadores para as recentes eleições administrativas.

Não obstante a instrumentalização eleitoral do “mensalão” e os tons de cruzada utilizados, a direita saiu do pleito redimensionada e a base governista fortalecida. Isso denota, entre outras coisas, que o eleitor brasileiro tem mais maturidade de quanto apostava a reação justiceira da grande imprensa e que o excesso de agressividade política pode resultar contraproducente no resultado das urnas.

É de se esperar que dinâmica similar possa se verificar daqui a poucos dias no outro hemisfério, na disputa estratégica pela Presidência dos Unidos Unidos. Nas últimas semanas da campanha que opõe Obama a Romney, aconteceram fatos graves mas pouco divulgados no Brasil: os eleitores americanos sofreram pressões inéditas e autênticas chantagens por parte de poderosos oligarcas, inconformados com a possibilidade de vitória do candidato democrata.

Vale a pena mencionar alguns episódios para dar ideia da violência do combate. Era fato sabido que os Koch, donos de uma das maiores fortunas dos EUA, torciam pela direita mais retrógrada. Nesta campanha, pela primeira vez, eles se atreveram a escrever aos 50 mil funcionários do seu grupo petroquímico, de que poderiam “sofrer consequências em caso de vitória de um candidato que queira impor outras regulamentações aos negócios”.

Outro exemplo: David Siguel é um bilionário do setor imobiliário da Flórida, já famoso por algumas extravagâncias como a construção da maior mansão do país, chamada com sobriedade de Versailles. Siguel teve o mérito de ser mais franco com os trabalhadores: declarou em entrevista que em caso de vitória de Obama ele poderia “fechar a empresa e despedir os 7 mil dependentes”.

Enredos do gênero apareceram aos magotes na imprensa americana. Representam, porém, e apenas a ponta mais radical de uma aliança integrada pela finança e grandes corporações, visceralmente contra Obama, réu de querer lhes impor regras e limites depois da crise iniciada em 2008. Dois enredos talvez tenham marcado a fogo tal coligação antidemocrata.

O primeiro foi a pesada indenização de 25 bilhões de dólares imposta pelo governo a cinco bancos comprometidos com os escândalos dos empréstimos imobiliários subprime: JP Morgan Chase, Bank of America, City Group, Wells Fargo e Ally Financial.

O segundo, mais recentemente, é constituído pela acusação formal de fraude contra a Bear Stearns, financeira controlada pela JP Morgan, acusada pelo procurador-geral de Nova York de ter enganado os investidores nos escândalos acima citados.

Esse processo é o primeiro fruto importante da task force, iniciativa do governo Obama, que visa indagar a respeito das irregularidades financeiras originárias da crise. Caso as acusações contra o JP Morgan sejam confirmadas em juízo, elas estabeleceriam uma jurisprudência muito perigosa para todo o sistema financeiro americano.

Não por acaso Wall Street virou as costas a Obama, com quem simpatizou na primeira eleição, e agora financia, copiosamente, o adversário Romney. Como resultado dessa situação, a atual campanha é destinada a ser a mais cara da história americana, com orçamento total de aproximadamente 6 bilhões de dólares.

Os financiamentos das corporações, liberados e sem limites em base a duas sentenças da Justiça em 2010, tem resultado na tremenda distorção da campanha, oferecendo ao candidato republicano uma vantagem nunca vista: entre os “grandes contribuintes”, ele recolheu quatro vezes mais do que o democrata.

Obama se confirma mais forte nas numerosas doações individuais e em alguns setores industriais de vanguarda, como a eletrônica, mas a desproporção dos meios materiais é brutal. Ao violar o sagrado princípio das oportunidades iguais, em tempos normais essa disparidade seria tomada como ameaça à democracia. Hoje, no calor do combate, parece não haver espaço para sutilezas.

É certo que, em tais condições, uma vitória de Obama representaria um autêntico milagre: a supremacia da participação dos cidadãos contra o poder do dinheiro. Sobretudo, poderia significar a aplicação de novas regras contra a prepotência da finança e das grandes corporações, além de um primeiro passo para reequilibrar as relações de força entre política e setor econômico-financeiro, de sorte a beneficiar o futuro da nossa civilização.

De regresso às nossas latitudes, é certo que as mudanças encarnadas por Obama são exatamente as que os nossos donos do poder detestam profundamente. Portanto, é necessária toda a atenção aos maus exemplos americanos, porque, aí sempre nasceu inspiração para as tragédias pátrias.

http://www.cartacapital.com.br/sociedade/midias-que-se-parecem/

Sobre o retorno de Marcos Valério

PAULO NOGUEIRA 
Lula, no Planeta Veja, já não é apenas o maior corrupto da história da humanidade. Está também, de alguma forma, envolvido num assassinato. Chamemos Hercule Poirot
E lá vem ele de novo, Marcos Valério.

Pobre leitor.

Mais uma vez, o que é apresentado – a título de “revelações” – é um blablablá conspiratório e repetitivo em que não existe uma única e escassa evidência.

Tudo se resume às palavras de Marcos Valério. Jornalisticamente, isso é suficiente para você publicar acusações graves?

Lula, no Planeta Veja, já não é apenas o maior corrupto da história da humanidade. Está também, de alguma forma, envolvido num assassinato. Chamemos Hercule Poirot.

Se você pode publicar acusações graves sem provas, a maior vítima é a sociedade. Não se trata de proteger alguém especificamente. Mas sim de oferecer proteção à sociedade como um todo.

Imagine, apenas por hipótese, que Marcos Valério, ou quem for, acusasse você, leitor. Sem provas. Numa sociedade avançada, você está defendido pela legislação. A palavra de Valério, ou de quem for, vale exatamente o que palavras valem, nada – a não ser que haja provas.

Já falei algumas vezes de um caso que demonstra isso brilhantemente. Paulo Francis acusou diretores da Petrobras de corrupção. Como as acusações – não “revelações” – foram feitas em solo americano, no programa Manhattan Connection, a Petrobras pôde processar Francis nos Estados Unidos.

No Brasil, o processo daria em nada, evidentemente. Mas nos Estados Unidos a justiça pediu a Francis provas. Ele tinha apenas palavras. Não era suficiente. Francis teria morrido do pavor de ser condenado a pagar uma indenização que o quebraria financeira e moralmente.

Os amigos de Francis ficaram com raiva da Petrobras. Mas evidentemente Francis foi vítima de si mesmo e de seu jornalismo inconsequente.

Por que nos Estados Unidos você tem que apresentar provas quando faz acusações graves, e no Brasil bastam palavras?

Por uma razão simples: a justiça brasileira é atrasada e facilmente influenciável pela mídia. Se Francis fosse processado no Brasil, haveria uma série interminável de artigos dizendo que a liberdade de imprensa estava em jogo e outras pataquadas do gênero.

Nos Estados Unidos, simplesmente pediram provas a Paulo Francis.

Uma justiça mais moderna forçaria, no Brasil, a imprensa a ser mais responsável na publicação de escândalos atrás dos quais muitas vezes a razão primária é a necessidade de vender mais e repercutir mais.
Provas são fundamentais em acusações. Quando isso estiver consolidado na rotina do jornalismo e da justiça brasileira, a sociedade estará mais bem defendida do que está hoje.

(este artigo foi publicado originalmente no Diário do Centro do Mundo)

A volta do fabuloso servidor de dois patrões

LULA MIRANDA 
Valério, nosso arlequim que agora parece pretender entrar novamente em cena, não pode ser considerado, por óbvio, o testemunho mais confiável e veraz dessa história
Muitos dos leitores certamente já conhecem a fabulosa história de Arlequim, servidor de dois amos. Trata-se de um clássico da Commedia dell’arte de autoria do italiano Carlo Goldoni [contexto histórico: séc. XVIII]. Nela o autor retrata um personagem “finório”, um “protagonista mequetrefe”, um criado um tanto “ardiloso” e “atrapalhado” em seu difícil ofício de servir ao mesmo tempo a dois patrões distintos, no afã de faturar um pouco mais e assim saciar sua ânsia e desejo por fortuna. Não lhes soa familiar essa história?

Se lhe veio à cabeça o nome do publicitário mineiro, Marcos Valério, atualmente réu condenado na Ação Penal 470 em julgamento no STF, e supostamente tão “finório” e “ardiloso”, mas talvez nem tão “mequetrefe” quanto o nosso personagem em epígrafe, caro leitor, você pode ter escolhido de modo correto o “arlequim” da vez dessa nossa eterna comédia – de maus costumes e pouca arte.

Esse “personagem”, como se sabe, também teria servido a dois patrões: ao PSDB, no chamado “mensalão mineiro” ou “mensalão tucano”, e também ao PT, no chamado “mensalão petista” – esse último, monopolista da pauta de uma imprensa “oligopolizada” e “seletiva”, digamos assim. O crime é o mesmo, os “costumes” são os mesmos, só mudam os atores, o patrão a que serve o servo e os interesses dos que defendem ou acusam determinado patrão. Não perca o fio dessa intrincada teia. Assim é essa “comédia”, densa em seus meandros, mas que já não tem, diga-se, a menor graça. Pois, repito, é assim desde sempre. Mas nem sempre foi considerado crime, e seus atores condenados. Parece ser, mais uma vez, a confirmação do velho “dogma” dos “3 pês”: de que, no Brasil, apenas preto, pobre e puta são presos. Agora, pelo que se percebe, parece terem acrescentado mais um “pê” na lista: o “pê” de petista.

Os “costumes”, hipocrisia à parte, são os mesmo de sempre da política brasileira e dos altos salões. Como se sabe: o de financiar os partidos da base que dão sustentação ao governo através da cessão de cargos e/ou aporte de recursos não contabilizados (caixa dois) às campanhas dos aliados. E a coisa funciona assim, hipocrisia à parte, repito, até hoje, nesse exato instante em que escrevo esse artigo. Ainda acontece dessa mesmíssima maneira, com todos os partidos [exceto, talvez, o PSOL e o PSTU] e em todas as esferas de poder: municipal, estadual e federal. Dizer o contrário disso é mera falácia ou hipocrisia.

Mas o fato da prática criminosa ter precedentes, ser contumaz, reiterada, ou mesmo de ser “regra” bastarda do jogo político, não absolve a culpa do arlequim e de seus dois patrões – em absoluto. É certo. Mas é certo também que inculpa, sobremaneira, além dos réus, culpados óbvios, os supremos ministros, demais autoridades (notadamente os legisladores) e jornalistas que insistem em representar essa eterna e abjeta farsa e “comédia”, em vez de mudar o sistema político brasileiro. De fato, para valer, e assim aperfeiçoar, melhorar a nossa incipiente democracia. Até parece que pretendem sabotar a democracia – mas essa tese da “sabotagem”, aqui aludida, será tema de outro artigo.

O nosso arlequim falastrão, melífluo, finório, que agora parece pretender entrar novamente em cena, com pompa e circunstância, e nos revelar suas últimas “verdades” de ocasião, não pode ser considerado, por óbvio, o testemunho mais confiável e veraz dessa história – afinal, a sagacidade e esperteza são próprias de sua natureza ladina.

Como dizem alguns pedagogos, a melhor maneira de ensinar as crianças e os mais inocentes é por intermédio de fábulas e parábolas. Quem sabe dessa forma escritores, jornalistas e educadores, consigamos explicar esse triste episódio, e essa complexa verdade, para a sociedade de hoje e do futuro, um pouco além das gritantes aparências “definitivas”, do falso moralismo e das manchetes de ocasião. Para além das mentiras, mistificações e hipocrisia.

Oxalá tenhamos, enfim, algum êxito! E que essa “fábula” nada “fabulosa” sirva para nos ensinar alguma coisa. Que assim seja.
(artigo originalmente publicado na Carta Maior)

Lula Miranda é poeta e cronista. Foi um dos nomes da poesia marginal na Bahia na década de 1980. Publica artigos em veículos da chamada imprensa alternativa, tais como Carta Maior, Caros Amigos, Observatório da Imprensa, Fazendo Média e blogs de esquerda.

http://www.brasil247.com/pt/247/brasil/84518/A-volta-do-fabuloso-servidor-de-dois-patr%C3%B5es.htm

Veja associa Lula a assassinato e "estupra" o jornalismo

DAVIS SENA FILHO 

O pasquim de extrema direita não tem limites e nem senso do que é real e irreal; justo e injusto, porque as autoridades políticas, inclusive as do PT, não efetivam o marco regulatório das mídias

Veja — a revista porcaria continua a pavimentar, com denodo e dedicação, sua trilha de sujeira, a chafurdar em seu próprio esgoto e a injuriar, a caluniar e a difamar aqueles que ela considera seus inimigos ideológicos, políticos e comerciais, ainda mais que a Editora Abril certamente não vai ter um aliado na Prefeitura paulistana a partir de 2013, com a vitória do petista Fernando Haddad e a derrota de seu aliado tucano, José Serra, nas últimas eleições.

Tal semanário continua, incessantemente, a praticar o verdadeiro e o autêntico jornalismo de esgoto. É sua marca, índole e essência, e não importa para o capo Roberto Civita e seus capitães do mato, travestidos de jornalistas, se a credibilidade da Veja, conhecida também como a Última Flor do Fáscio, vá para o espaço ou para a lixeira, lugar apropriado à publicação e que eu sempre a coloco quando a tenho em mãos. Asco!

A verdade é que apenas interessa a tal pasquim de péssima qualidade editorial macular o nome dos políticos e autoridades que não se submetem aos ditames políticos e empresariais do dono de uma empresa que vive comercialmente à sombra do poder público controlado há 20 anos pelos tucanos do PSDB, em São Paulo, bem como sustentada pela publicidade oficial do Governo Federal.

É a ditadura da imprensa de negócios privados a agir por meio do pensamento único e a querer submeter seus leitores e as pessoas desavisadas ou incautas a seus interesses mercantis e políticos, por intermédio de matérias criminosas, pérfidas e maliciosas, com características declaratórias, sempre em off e de conotação golpista. É a Veja, à la Murdoch, que publica um jornalismo bandido e se associa, durante anos, ao seu principal pauteiro e editor — o bicheiro preso Carlinhos Cachoeira.

A Veja bandida, mafiosa e desditosa. O pasquim de extrema direita não tem limites e nem senso do que é real e irreal; justo e injusto, porque as autoridades políticas, inclusive as do PT, não efetivam o marco regulatório das mídias, bem como o Judiciário é complacente com o jornalismo declaratório, cujos advogados aproveitam a ausência de regras para os meios de comunicação, bem como usam as brechas da lei para impedir que seus clientes jornalistas, bem como seus chefes, os donos de propriedades cruzadas dos meios de comunicação, não sejam punidos pela Lei, além de evitarem que eles paguem multas e os custos dos processos daqueles que os processaram.

Enquanto países vizinhos do Brasil estão a regulamentar os negócios dos barões midiáticos, os brasileiros ficam à mercê de empresários e jornalistas compromissados com os interesses mercantis das elites econômicas brasileiras e internacionais, a boicotar governantes trabalhistas e a derrubar autoridades constituídas sem acusações formalizadas e culpas comprovadas, como ocorreu com os ministros Carlos Lupi e Orlando Silva, somente para citar esses, além de terem quase conseguido derrubar o governador do PT do Distrito Federal, Agnelo Queiroz.

É a ditadura da imprensa e do pensamento único cujo produto — a notícia — é consumido e repercutido por parte de uma classe média retrógada, preconceituosa e reacionária, pois age como um vetor do conservadorismo, porque seus princípios e valores são os mesmos das classes dominantes controladoras de terras e dos meios de produção, que geram poder econômico e político e, consequentemente, causam a tolerância e a impunidade por parte do Judiciário (STF, STJ, TJ, PGR e MP) com os jornalistas e seus patrões.

A imprensa oligarca que publica e veicula matérias nitidamente oposicionistas aos governos trabalhistas, do jeito e da forma que quer, sem se preocupar, todavia, com a veracidade dos fatos e dos acontecimentos. A mídia de profissionais que não temem serem punidos, ao menos questionados sobre suas ilações, acusações e agressões, porque sabem que não existe lei de imprensa (não confundir com censura), regulamentação do setor midiático, conforme a Constituição, além do enfraquecimento da classe trabalhadora dos jornalistas cujos diplomas ainda existem, mas não são mais exigidos para que as empresas que pertencem basicamente a dez famílias possam ter um maior controle do sistema de trabalho, das políticas de contratações e salariais e dessa forma diminuir o poder de reivindicação dos trabalhadores.

Com isso, os empresários conseguiram enfraquecer o papel dos sindicatos e da Fenaj, federação de jornalistas que se aproximou da ANJ (associação patronal), na primeira década deste século.

Consequentemente, a Fenaj levou uma punhalada pelas costas. Até hoje, a entidade laboral, envergonhada e desmoralizada, corre atrás do diploma no Congresso, a fim de restabelecê-lo, pois perdeu a credibilidade perante a categoria. Bem feito, quem mandou representante de classe trabalhadora puxar o saco de patrão. E logo dos barões da imprensa, os patrões mais atrasados e reacionários de toda a classe empresarial, que foi atendida nesse caso pela maioria dos juízes burgueses do STF. Deu nisso: a Fenaj foi humilhada. Um fiasco.

Por sua vez, a Veja, a revista da marginal, resolve, em prazo máximo de um mês e por intermédio de duas publicações, incluir o presidente mais popular e respeitado no exterior da história do Brasil no episódio da morte do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel, bem como envolvê-lo no caso do “mensalão”, que, apesar dos juízes oposicionistas e de direita do STF, está ainda para ser provado.

As duas matérias emporcalhadas da revista porcaria citam o presidente Lula, mas o acusador ou denunciante não tem nome, as frases (aspas) são em off e evidentemente o material jornalístico não foi gravado (é a praxe), porque a Veja pode ser um detrito sólido de vaso sanitário, mas a rapaziada que trabalha lá não dá ponto sem nó e procede assim porque sabe que ser jornalista de empresa de comunicação grande e rica no Brasil é a mesma coisa do que estar livre de punições, multas, processos ou cadeia. É como se a cidadania dessas pessoas fosse à parte do conjunto da população brasileira.

Por isto e por causa disto, o presidente Lula, o maior líder popular das Américas e que saiu do poder com 83% de aprovação (índice maior do que o do mito Nelson Mandela) tem de aguentar ofensas, ignomínias e acusações desabonadoras de uma corja de sacripantas movidos pelo ódio de classe, interesses econômicos e pelo preconceito ideológico, combustíveis da intolerância e da violência.

São esses golpistas que detestam afirmações do líder trabalhista, como esta: “Optamos pelo desenvolvimento aliado à distribuição de renda. Nos últimos anos, o meu País integrou a agenda social à agenda econômica, numa equação em que toda a sociedade ganha.

Nos últimos anos, 28 milhões de brasileiros saíram da pobreza e quase 40 milhões entraram na classe média” — comentou. Por fim, Luiz Inácio Lula da Silva alertou os gestores públicos que a opção pelo desenvolvimento e pelos investimentos tem um custo político, mas é recompensadora, e envolve “muito mais do que dar comida a famintos”. E concluiu: “O dinheiro na mão dos pobres transforma-se rapidamente em comida, roupa e material escolar, e dinamiza o conjunto da economia, num círculo virtuoso”.

Precisou um operário, intelectual orgânico, migrante de Pernambuco, que conhece o povo, sem curso superior, mas sabedor da dor da fome, da pobreza e da ausência de condições de vida dignas para viver, ensinar os “doutores” compromissados com o status quo e com o establishment sobre economia, sociologia, direito, psicologia, engenharia, finanças, filosofia e, principalmente, sobre solidariedade, respeito e consideração pelo povo brasileiro e pela autonomia, independência e autodeterminação do Brasil.

Lula foi um presidente republicano, democrata e justo, pois defensor do estado democrático de direito. Enquanto isso, os “doutores” venderam o País, submeteram-se ao FMI, não criaram condições de emprego e renda e mostraram, de forma subalterna, o imenso complexo de vira-lata que toma conta das almas e das mentes colonizadas das classes dominantes brasileiras de princípios alienígenas.

O mandatário Lula, ao contrário dos governantes “doutores”, jamais reprimiu qualquer classe trabalhadora, movimento social ou sindical, recebeu no Palácio do Planalto os catadores de lixo, respeitou a Constituição e as regras do jogo democrático. E mesmo assim foi acusado por uma mídia mentirosa e corrupta até de ditador e censor.

Absurdo incomensurável e má-fé na veia da imprensa comercial e privada (privada nos dois sentidos, tá?), de alguns juízes do STF nomeados por ele e do procurador geral Roberto Gurgel, o prevaricador da República do Cachoeira, do Demóstenes Torres e dos empregados da Veja e da Época, Policarpo Jr. e Eumano Silva.

O procurador midiático, de direita e aliado da Veja, autora de reporcagens fascistas. A minha desconfiança me leva a pensar que quem está por trás das matérias em off de tal pasquim é o tal procurador, que para mim e para o senador Fernando Collor deveria sofrer um impeachment por parte do Senado.

Nada mais emblemático e sintomático do que o Collor questioná-lo duramente, por ter renunciado a Presidência e por isso ter também conhecimento o suficiente quando afirma que Gurgel prevaricou e “protege os bandidos da Veja”.

São essas coisas que acontecem ainda no Brasil. Bem feito! Quem manda não criar o marco regulatório para as mídias. Quem manda não existir lei específica com o objetivo de garantir o direito de resposta de forma rápida e com espaço igual à vítima de acusações levianas e mentirosas. Os contrários afirmam que já existe a lei penal etc. e tal. Mas não adianta, porque os juízes tendem dar causa ganha ao agressor, à máquina midiática.

Tem de ter lei específica e que acelere a punição ao caluniador e difamador e assegure o direito de defesa de quem foi injustiçado. O que esses barões de imprensa fazem  com o Lula é hediondo. É a covardia que remonta o que eles fizeram, através das décadas, com o Getúlio, com o Jango e com o Brizola. A direita conhece os trabalhistas de longe, bem como sabe quem é o líder político carismático e o “dono” dos votos. Lula é mais do que a Dilma e o Haddad. Foi ele que os elegeu.

A direita política e empresarial não reconhece a realidade ao tempo que sim, pois, do contrário, não se incomodariam e não perseguiriam tanto o operário, fundador da CUT e do PT, além de algoz dos conservadores. A Veja e seus coirmãos tem seu lugar na história: a lixeira. É isso aí.

http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/84499/Veja-associa-Lula-a-assassinato-e-estupra-o-jornalismo.htm

Lula, Valério, Cristo e Barrabás

EDUARDO GUIMARÃES 
Lula não é Cristo, não é santo – nem demônio –, mas a direita midiática quer trocar um homem que tirou o Brasil do fundo do poço por um ladrão
Os medíocres não hesitarão em tentar ridicularizar o que entenderão como “comparação entre Lula e Cristo” que este texto estaria pretendendo fazer. Até porque, desacostumados a pensar, não vão ler o que será dito a seguir, limitando-se a comentar o título acima.

É óbvio, no entanto, que não se está comparando um simples político com aquele que, na pior das hipóteses, é o maior personagem da história da humanidade. O que se fará aqui será, usando metáfora histórica, apontar o absurdo da situação criada pela mídia e pela oposição federal.

Como já se pode notar, o assunto é a nova investida da imprensa golpista – aquela que gerou o golpe militar de 1964, entre outros – para conseguir no Judiciário o que seus despachantes na política não obtiveram nas urnas.

Não surpreendeu, pois, que o Estadão não tenha esperado nem uma semana após o fim da eleição para requentar o que a direita midiática já havia sinalizado, nas páginas de Veja, que faria caso o eleitorado não lhe sorrisse.

Apesar de mídia e oposição relativizarem o desprezo que o eleitorado dedicou àquilo que pretendiam que fosse uma bomba atômica – e que se revelou um traque –, essas forças do atraso sabem muito bem que o brasileiro lhes fechou a porta na cara.

Assim que parecem ter se convencido de que a única saída para terem alguma chance de retomar o poder através de algum José Serra da vida – ou, no limite da imprudência, através do próprio – será anulando aquele que julgam ser responsável por mantê-los longe do poder.
É nesse ponto que, de alguma maneira, tal situação parece emular o texto bíblico, na narrativa sobre Jesus Cristo e Barrabás.

Cristo fora acusado pelos sacerdotes judeus perante Pôncio Pilatos, o governador da Judéia, que, após interrogá-lo, não encontrou motivos para sua condenação. Mas como a “opinião pública” vociferava contra o prisioneiro e lhe exigia a crucificação, Pilatos mandou flagelá-lo e depois exibi-lo ensanguentado, acreditando que a multidão se comoveria e julgaria aquele flagelo suficiente para lhe saciar a sede de vingança contra quem ousara criar a “insanidade” sobre igualdade entre os homens.

Pressionado, Pilatos mandou trazer um condenado à morte, tido como ladrão e assassino, chamado Barrabás, e ofereceu à “opinião pública” o direito de escolher qual dos dois acusados seria solto e qual seria  crucificado.

Lula não é Cristo, não é santo – nem demônio –, mas a direita midiática quer trocar um homem que tirou o Brasil do fundo do poço, que deu dignidade ao povo, que promoveu igualdade como nenhum outro governante, que fez o país ser respeitado como nunca, por um ladrão, um sujeito que envolveu de petistas a tucanos em suas artimanhas criminosas.

Eis a escolha que a direita midiática apresenta ao Brasil: livrar Marcos Valério da cadeia e colocar Lula em seu lugar, tal como foi feito com Cristo e Barrabás.

A diferença é que se o povo tivesse que escolher por certo tomaria a decisão certa, invertendo a metáfora histórica.  Não há dúvida, porém, de que, como a decisão não caberá ao povo, mas ao conluio entre imprensa, políticos, Judiciário e Ministério Público, a história tende a se repetir.

A menos, é claro, que a “turma do deixa-disso” que infecta o PT resolva parar de colaborar com o script do golpe que se desenha à vista de todos. Contudo, em um momento em que a direita midiática mostra que, na falta de votos, optará de novo pelo golpismo, vemos o colaboracionismo petista agindo a todo vapor.

Ou não seriam colaboracionismo as palavras da chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, que coonestam a farsa do mensalão, ou a covardia do presidente da Câmara, Marco Maia, que engavetou a CPI da Privataria, que dispensaria ao STF o “Domínio do Fato”?

http://www.brasil247.com/pt/247/poder/84485/Lula-Val%C3%A9rio-Cristo-e-Barrab%C3%A1s.htm

Já que Lula é imbatível, tentarão torná-lo inelegível

Celso Lungaretti
CELSO LUNGARETTI 
O certo é que Lula tem um caminho pedregoso pela frente, até a eleição de 2014. Se ainda usasse barbas, deveria botá-las de molho...
Na análise que fiz sobre o 2º turno da eleição paulistana (ver aqui), pensei em incluir um alerta ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, recomendando que reforçasse sua segurança.

A vitória de Fernando Haddad, aposta temerária de Lula que deu certo, praticamente afastou qualquer possibilidade de não ser ele o candidato do PT à eleição presidencial de 2014, com enorme chance de conquistar o terceiro mandato.

Ora, há direitistas dispostos a tudo para quebrarem o círculo virtuoso do lulismo.

As analogias históricas não podem ser descartadas, pois as repetições das tragédias ocorrem amiúde --e nem sempre como farsas.

Em 1945, as forças retrógradas pensaram que bastaria uma pequena ajuda estadunidense para se livrarem de Getúlio Vargas, a pretexto da supressão de uma ditadura semelhante às derrotadas nos campos de batalha da II Guerra Mundial.

O objetivo imediato foi conseguido, com o pressionado Vargas abdicando do poder e de concorrer à eleição presidencial imediata. Contudo, ele apoiou o poste Eurico Gaspar Dutra, fazendo com que fosse eleito; depois, sucedeu-o pela via democrática.

Os reaças contra-atacaram com a articulação (capitaneada pela UDN) para forçar o seu impeachment, por corrupção, em 1954.

Se tal cartada também tivesse falhado, qual seria o passo seguinte? Sabe-se lá. O certo é que quem vai tão longe, não volta atrás; joga cada vez mais pesado.

O lulismo já está no terceiro mandato presidencial e a conquista do quarto parece ser favas contadas. O escândalo do  mensalão  não produziu o mesmo resultado do  mar de lama, assim como o Cansei! não conseguira bisar a Marcha da Família, com Deus, pela Liberdade.

Então, minha sensibilidade política, no próprio domingo da eleição, era de que alguma ação mais contundente seria tentada pela direita, já que nas urnas ficou bem difícil barrar Lula. Mas, como muita gente confunde  reflexão  com  torcida, acabei deixando pra lá. Estou cansado de ser mal interpretado.

A notícia d'O Estado de S. Paulo, de que o condenado Marcos Valério Fernandes de Souza oferece-se para incriminar Lula em troca de uma vaguinha no programa federal de proteção à testemunha (o que o livraria do xilindró), mostra uma alternativa à  opção Kennedy, com a vantagem de não deixar para trás  perguntas que não querem calar.

Seria baterem de novo na tecla  mar de lama, só que agora com pata de elefante, envolvendo Lula inclusive na morte de um ex-prefeito de Santo André, o arquivo queimado Celso Daniel.
Vamos ver o que decidirão o procurador-geral da República e o Supremo Tribunal Federal. Pode-se depreender que a proposta indecente do traira tendia a não ser aceita, daí terem-na vazado para a imprensa, visando constranger Roberto Gurgel e o STF. Já há ministros do Supremo admitindo que Valério seja protegido.

O certo é que Lula tem um caminho pedregoso pela frente, até a eleição de 2014. Se ainda usasse barbas, deveria botá-las de molho...

* jornalista e escritor. http://naufrago-da-utopia.blogspot.com