domingo, 31 de julho de 2011

Presidente constrange Jobim e cogita substituição

NATUZA NERY
FERNANDO RODRIGUES

MÁRCIO FALCÃO
DE BRASÍLIA


A presidente Dilma Rousseff constrangeu ontem o ministro da Defesa, Nelson Jobim, ao tratá-lo de forma protocolar durante evento oficial no Palácio do Planalto.

Ela avalia a possibilidade de demiti-lo da pasta após Jobim declarar publicamente à Folha e ao UOL ter votado no tucano José Serra na eleição presidencial de 2010.

Dilma ficou irritada com a declaração. Cogitou demitir Jobim, mas preferiu não fazer isso já. No governo avalia-se que, se o ministro tivesse pedido demissão, ela teria aceito na hora.

Ontem, em um evento no Planalto, Dilma tratou o auxiliar com frieza ostensiva. Não o citou no discurso, como é praxe. O cumprimento entre ambos foi protocolar.

Dilma já sabia da opção eleitoral do ministro por Serra desde o ano passado. Ainda assim, decidiu reconduzi-lo ao cargo por influência de Lula. Pesou a favor de Jobim seu reconhecimento no meio militar e seu trabalho para institucionalizar o Ministério da Defesa, criado há 12 anos.

Sérgio Lima - 26.jul.2011/Folhapress
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, concede entrevista para a TV Folha e para o UOL
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, concede entrevista para a TV Folha e para o UOL

Ministro de Lula e Fernando Henrique, Jobim perdeu espaço sob Dilma. Deixou de ser mediador em negociações com o mundo jurídico e não conseguiu concluir a compra dos caças Rafale.

O próprio Jobim confidenciou a amigos que não ficará por muito tempo no posto. A recente polêmica, porém, pode precipitar sua saída.

Além de revelar o voto em Serra, o ministro afirmou que o tucano teria tomado as mesmas atitudes de Dilma se tivesse vencido a eleição.

Essa foi a segunda controvérsia a incomodar o Planalto. Em junho, numa homenagem a FHC, o ministro havia dado declaração ambígua: "Os idiotas perderam a modéstia". Isso foi interpretado como uma referência à atual gestão. Ele negou.

O Planalto registrou que Jobim revelou o voto em Serra na terça de manhã mas não antecipou a declaração, que seria publicada no dia seguinte, na reunião que teve com Dilma naquele dia. Ontem, integrantes do alto escalão tratavam da demissão sem cerimônia. Dilma chegou a ouvir de diversos interlocutores que o melhor seria demiti-lo de imediato.

Na segunda, o ministro dará entrevista ao programa "Roda Viva", da TV Cultura.

Para Carvalho, revelação de Jobim foi 'desnecessária'




DANIELA LIMA
DE SÃO PAULO


O ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, classificou como "desnecessária" a revelação feita pelo colega Nelson Jobim (Defesa), que assumiu publicamente ter votado no tucano José Serra na eleição presidencial de 2010.

Carvalho falou com a imprensa após o segundo dia de seminário do chamado Campo Majoritário do PT --grupo que reúne as três tendências hegemônicas do partido-- na capital paulista.



O ministro se negou a avaliar a situação de Jobim no governo, mas emitiu opinião ao comentar a reação de integrantes do partido. "Eu não diria que o PT ficou magoado, porque não se trata disso. Eu diria que, no contexto em que se deu, foi uma declaração desnecessária", afirmou.

Jobim disse ter votado em Serra nas últimas eleições, quando o tucano concorreu com Dilma Rousseff à Presidência, em entrevista ao jornalista Fernando Rodrigues, publicada na Folha e no UOL, empresa controlada pelo Grupo Folha.

Carvalho ressaltou que a presidente Dilma Rousseff exigiu discrição sobre o caso. "Essa é uma questão que a presidente tomou muito pra si. Ela não tem aberto esse debate dentro do governo. Ela pediu que a gente deixasse com ela esse tema e eu vou respeitar."

DEMISSÃO

Alas do PT pregam a demissão de Jobim, filiado ao PMDB, do Ministério da Defesa. A declaração de voto em Serra foi a segunda polêmica protagonizada pelo ministro.

No início deste mês, em discurso no Senado em comemoração aos 80 anos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Jobim disse, dirigindo-se a FHC, que "os tempos mudaram". "O que se percebe hoje, Fernando, é que os idiotas perderam a modéstia", arrematou. A afimação foi vista como uma crítica à gestão de Dilma Rousseff.

Na última semana, o ex-presidente Lula, que nomeou Jobim para o governo em 2007, saiu em defesa do ministro. "Jobim não foi convidado para o meu governo por causa do voto dele. Foi convidado para o meu governo pelo que poderia fazer no Ministério da Defesa", sustentou Lula.

Proibida a entrada

 

Brasileiros foram os mais barrados nos aeroportos europeus em 2010, independente de viajarem a turismo ou com o intuito de ficar ilegalmente no continente
Talita Boros
talita.boros@folhauniversal.com.br
Com pouco dinheiro, muita disposição e vontade de vencer, eles partem de todas as regiões do Brasil. Mesmo com a crise econômica na União Europeia (EU) e nos Estados Unidos, o sonho de construir uma vida próspera em outro país, mesmo de forma ilegal, ainda encoraja brasileiros a deixarem a família, rumando para um destino incerto.

Muitos não conseguem entrar nos países europeus ou nos Estados Unidos, os preferidos dos imigrantes ilegais brasileiros. Os que passam nem sempre encontram emprego, convivem com o preconceito, falta de documentos legais, dificuldade com a língua e medo da deportação. A crise europeia e a estabilidade da economia brasileira, porém, tiveram outro efeito, perverso, para quem viaja apenas como turista: aumentaram o risco de ser barrado nos aeroportos europeus, principalmente.

No ano passado, os brasileiros foram os estrangeiros mais barrados nos aeroportos de países da União Europeia, de acordo com levantamento da agência de controle de fronteiras da Europa (Frontex). Ao todo, 6.072 brasileiros foram impedidos de entrar nos países do bloco. Isso representa 12% do total de entradas recusadas de estrangeiros na comunidade europeia. Boa parcela deles não conseguiu justificar o motivo da viagem ou comprovar as condições em que ficaria no país como turista.

O principal fator, de acordo com o Ministério das Relações Exteriores, que faz os brasileiros serem os que mais recebem “nãos” para entrar na UE é o desconhecimento das regras de ingresso. “O brasileiro é visto como imigrante em potencial por autoridades de determinados países europeus e, por isso, é importante cumprir com todos os requisitos da lei europeia para entrar no continente a turismo”, diz. Do total de casos entre brasileiros, quase 30% das entradas negadas ocorreram na Espanha, segundo a Frontex, onde 1.813 pessoas foram enviadas de volta ao Brasil no aeroporto. “Não podemos descartar a inflexibilidade dos agentes de imigração espanhóis e, infelizmente, o preconceito”, afirma a assessoria do Itamaraty.

Com relação aos ilegais, a situação é ainda mais complicada. Segundo pesquisa do Observatório Espanhol do Racismo e a Xenofobia, quatro em cada dez cidadãos espanhóis são a favor de expulsar os imigrantes desempregados e quase 80% acham que há um número “excessivo” de estrangeiros no país.

O mineiro Marcelo Souza, de 24 anos, se prepara para viajar para Londres, no Reino Unido, no próximo mês. Desempregado e morador de Governador Valadares, uma das cidades que mais “exporta” imigrantes, ele diz que precisa ir para ajudar os pais que passam dificuldades por aqui. “Meu irmão mora nos Estados Unidos, mas está complicado por lá. Eu quero tentar a Europa, primeiro”, conta. “Eu vou com visto para Londres”. Segundo o Ministério das Relações Exteriores, o Reino Unido é onde se concentra hoje o maior número de brasileiros no continente europeu.

Preocupados com a situação econômica e com o crescimento do desemprego, tanto a União Europeia quanto os Estados Unidos estão tornando as leis imigratórias mais rígidas, dificultando a entrada e permanência de estrangeiros, ilegal ou legalmente. Segundo o Itamaraty, o governo brasileiro vem acompanhando, com preocupação, a discussão sobre os controles migratórios. “Temos feito esforços para que o respeito e a promoção dos direitos humanos dos imigrantes e de suas famílias sejam assegurados, independentemente de sua condição migratória, nacionalidade, origem étnica, gênero ou qualquer outro critério discriminatório.”

Irene Zwetsch, coordenadora da organização Rede de Brasileiras e Brasileiros na Europa, com sede na Suíça, afirma que além das dificuldades com a língua e as diferenças culturais, os brasileiros que moram naquele continente também começam a encontrar dificuldades financeiras. “A crise atingiu bastante a Europa e a possibilidade de encontrar trabalho diminuiu. Sem uma qualificação especial fica complicado conseguir um emprego que garanta o visto de permanência”, destaca.

Apesar do cenário, Irene diz que o fluxo de chegada de brasileiros continua. “Recebo semanalmente telefonemas ou e-mails de brasileiros que querem vir trabalhar na Suíça e pedem informações sobre como funciona o sistema aqui”, destaca. Segundo Irene, há medo da deportação entre parte dos brasileiros ilegais. Mas há os que vivem e trabalham sem dar atenção a isso.

Para o casal Camila e Davi Campos, que moram em Dambury, em Connecticut (EUA), as dificuldades chegaram ao limite e os dois, com os filhos, devem retornar ao Brasil. “Meu marido perdeu o emprego na construção civil. A empresa fechou”, conta Camila. Os dois temem a deportação. Segundo Abigail Amorim, representante da organização The Brazilian Alliance in United States (Aliança Brasileira nos EUA), muitos brasileiros enfrentam dificuldades. “Tenho notado o regresso de casais com filhos pequenos, devido à lenta recuperação do país com a crise econômica”, analisa.

O terrorista de olhos azuis e o nosso preconceito

O terrorista de olhos azuis e o nosso preconceitoFoto: DIVULGAÇÃO

Um texto de Frei Betto promete causar polêmica. Denuncia como a propaganda do Ocidente transformou todo muçulmano num potencial assassino e abre os olhos para a indiferença de cada brasileiro diante da violência cotidiana

247 - O artigo abaixo, escrito por Frei Betto, toca em vários pontos que vêm sendo abordados pelo Brasil 247: a intolerância, a violência urbana e o desrespeito ao próximo. Merece ser lido na íntegra e denuncia como a propaganda do Ocidente transformou cada muçulmano num potencial terrorista. Leiam:

Preconceitos, como mentiras, nascem da falta de informação (ignorância) e excesso de repetição. Se pais de uma criança branca se referem em termos pejorativos a negros e indígenas, judeus e homossexuais, dificilmente a criança, quando adulta, escapará do preconceito.

A mídia usamericana incutiu no Ocidente o sofisma de que todo muçulmano é um terrorista em potencial. O que induziu o papa Bento XVI a cometer a gafe de declarar, na Alemanha, que o Islã é originariamente violento e, em sua primeira visita aos EUA, comparecer a uma sinagoga sem o cuidado de repetir o gesto numa mesquita.

Em qualquer aeroporto de países desenvolvidos um passageiro em trajes islâmicos ou cujos traços fisionômicos lembrem um saudita, com certeza será parado e meticulosamente revistado. Ali reside o perigo... alerta o preconceito infundido.

Ora, o terrorismo não foi inventado pelos fundamentalistas islâmicos. Dele foram vítimas os árabes atacados pelas Cruzadas e os 70 milhões de indígenas mortos na América Latina, no decorrer do século 16, em decorrência da colonização ibérica.

O maior atentado terrorista da história não foi a queda, em Nova York, das torres gêmeas, há 10 anos, e que causou a morte de 3 mil pessoas. Foi o praticado pelo governo dos EUA: as bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945. Morreram 242.437 mil civis, sem contar as mortes posteriores por efeito da contaminação.

Súbito, a pacata Noruega – tão pacata que, anualmente, concede o Prêmio Nobel da Paz – vê-se palco de dois atentados terroristas que deixam dezenas de mortos e muitos feridos. A imagem bucólica do país escandinavo é apenas aparente. Tropas norueguesas também intervêm no Afeganistão e deram apoio aos EUA na guerra do Iraque.

Tão logo a notícia correu mundo, a suspeita recaiu sobre os islâmicos. O duplo atentado, no gabinete do primeiro-ministro e na ilha de Utoeya, teria sido um revide ao assassinato de Bin Laden e às caricaturas de Maomé publicadas pela imprensa escandinava. O preconceito estava entranhado na lógica ocidental.]

A verdade, ao vir à tona, constrangeu os preconceituosos. O autor do hediondo crime foi o jovem norueguês Anders Behring Breivik, 32 anos, branco, louro, de olhos azuis, adepto da fisicultura e dono de uma fazenda de produtos orgânicos. O tipo do sujeito que jamais levantaria suspeitas na alfândega dos EUA. Ele "é dos nossos”, diriam os policiais condicionados a suspeitar de quem não tem a pele suficientemente clara nem olhos azuis ou verdes.

Democracia é diversidade de opiniões. Mas o que o Ocidente sabe do conceito de terrorismo na cabeça de um vietnamita, iraquiano ou afegão? O que pensa um líbio sujeito a ser atingido por um míssil atirado pela OTAN sobre a população civil de seu país, como denunciou o núncio apostólico em Trípoli?

Anders é um típico escandinavo. Tem a aparência de príncipe. E alma de viking. É o que a mídia e a educação deveriam se perguntar: o que estamos incutindo na cabeça das pessoas? Ambições ou valores? Preconceitos ou princípios? Egocentrismo ou ética?

O ser humano é a alma que carrega. Amy Winehouse tinha apenas 27 anos, sucesso mundial como compositora e intérprete, e uma fortuna incalculável. Nada disso a fez uma mulher feliz. O que não encontrou em si ela buscou nas drogas e no álcool. Morreu prematuramente, solitária, em casa.
O que esperar de uma sociedade em que, entre cada 10 filmes, 8 exaltam a violência; o pai abraça o filho em público e os dois são agredidos como homossexuais; o motorista de um Porsche se choca a 150km por hora com uma jovem advogada que perece no acidente e ele continua solto; o político fica indignado com o bandido que assaltou a filha dele e, no entanto, mete a mão no dinheiro público e ainda estranha ao ser demitido?

Enquanto a diferença gerar divergência permaneceremos na pré-história do projeto civilizatório verdadeiramente humano.

Parentes de vereadores presos agridem jornalistas em Minas

As cenas repulsivas avisam que, no Brasil dos cafajestes, os parentes dos bandidos é que se enfurecem com gente honesta

Acusados de uso indevido do dinheiro público, enriquecimento ilícito e formação de quadrilha, todos os nove vereadores de Fronteira, no Triângulo Mineiro, foram presos no dia 19. Segundo o Ministério Público, a quadrilha que se apossou da Câmara Municipal, lacrada por ordem judicial desde fevereiro, desviou para os próprios bolsos, em apenas um ano e meio, R$ 600 mil das “verbas indenizatórias” destinadas à compra de combustível para os carros oficiais. No dia 21, os nove foram levados para depor no fórum de Frutal, onde estão presos.

Obedientes à lei, os policiais estenderam o tratamento dispensado aos detentos sem cadeira na Câmara aos vereadores (todos filiados a partidos integrantes da base alugada federal) Maurílio Carlos de Toledo (PSB), Raidar Mamed (PSDS), Sileide Nunes do Nascimento Faitarone (PP), João Veraldi Júnior (PDT), Nildomar Lázaro da Silva (PR), João Marcelo Soares dos Santos (PDT), Eduardo Florêncio de Souza (PMDB), Daniel dos Reis Linhares Pontes (PMN) e Samer Saroute (PMN). Todos chegaram a bordo de camburões, algemados e vestidos de presidiários.

Acampadas na entrada do fórum, as famílias dos criminosos reagiram à presença de repórteres e câmeras da TV Alterosa com a indignação que tem faltado às vítimas do roubo. Exigindo aos berros “mais respeito aos familiares”, desafiando os jornalistas com gestos obscenos, impediram que as cenas fossem filmadas. Os quadrilheiros só aceitam exibir-se na telinha em liberdade.

Há alguns anos, parentes de ladrões capturados temiam a fúria das vítimas e sentiam vergonha. Hoje, os familiares de políticos bandidos é que se enfurecem ─ e afrontam a gente honesta com o espetáculo da pouca vergonha. A coluna pede desculpas pela divulgação das cenas repulsivas. Mas é preciso mostrar sem camuflagens o que pode acontecer a um país que aceita ficar parecido com um grande clube dos cafajestes.



Extraído do blog do Augusto Nunes.

Gleisi Hoffmann: “Naquela noite, eu chorei. Chorei mesmo. Daí eu fui conversar com a presidenta"


A chefe da Casa Civil diz que quase recusou o convite para o cargo e conta como é a vida de uma mulher no ministério mais importante do governo

Por Marina Caruso

Igo Estrela

ECLÉTICA

Gleisi Hoffmann, na semana passada, no Palácio do Planalto. Ela quis ser freira, entrou no PCdoB e gosta de ABBA
Tailleur de tweed, colar de pérolas, escarpim de verniz. São 8 horas da quinta-feira 28 de julho, e a ministra Gleisi Hoffmann está sendo maquiada em seu gabinete, no Palácio do Planalto. É o início de mais um dia na agenda da mulher que assumiu a Casa Civil do governo Dilma, em meio a sua primeira grande crise, provocada pela demissão do ex-ministro Antonio Palocci. Convite feito, Gleisi conversou com o marido, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. "Eu dizia: ‘Paulo, tenho dúvidas. Não me sinto preparada’. Mas ele me pedia para refletir", afirma a ministra. "Naquela noite, eu chorei. Chorei mesmo. Era muita responsabilidade." Decidida a recusar o cargo, Gleisi foi então se encontrar com a presidente Dilma Rousseff. Saiu do gabinete presidencial como a ministra mais poderosa do governo Dilma, função que exerce há quase dois meses.

Leia mais: Dilma Rousseff e suas ministras - a mudança começa com elas

O que foi fundamental em sua trajetória para transformá-la em chefe da Casa Civil?

Gleisi Hoffmann Duas características foram essenciais na minha vida: determinação e disciplina. Meus pais me deram isso. Eles sempre foram rígidos na educação e nos impuseram humildade. Minha mãe criou a mim e a meus três irmãos (Bertoldo, Juliano e Francis) praticamente sozinha. Meu pai era comerciante e viajava muito. Não tínhamos empregada e éramos uma família de classe média baixa. Para que a casa ficasse em ordem, todo mundo ajudava.

"O DIABO MORA NOS DETALHES"

Quais são as virtudes femininas em cargo de comando?

Gleisi Acho bárbaro quando os homens dizem que nós nos preocupamos muito com os detalhes. Essa é uma avaliação crítica recorrente, inclusive que alguns fazem à própria presidente. Dizem que a gente fica muito preocupada com detalhe e que temos de pensar no macro. Só que o diabo mora nos detalhes. Então se dedicar para que a coisa dê certo desde o início até o final, cuidando, acompanhando, é uma característica das mulheres. Eu não tenho dúvida que isso vai fazer uma diferença importantíssima na vida pública do país.

Como a cúpula feminina do governo pode ajudar a sanar problemas de gênero como a violência doméstica, a desigualdade salarial, a falta de políticas públicas para a saúde da mulher

Gleisi – Com estímulo a políticas públicas e interlocução com a iniciativa privada. As conquistas nesse campo farão parte de um processo que já está acontecendo. Podemos acelerá-lo e é o que pretendemos.

A presidente Dilma disse ironicamente que está cercada de "homens meigos". Como a senhora lida com esses homens?

Gleisi Ela fez uma brincadeira por acusarem-na de ser dura e firme. Aliás, esses atributos são considerados normais em um homem. Por que as mulheres têm de ser frágeis e meigas no comando? Liderança exige determinação e firmeza, independentemente do sexo.

"NÃO ME ATRAI UMA ATITUDE HEROICA"

Com sua nomeação, as atribuições da Casa Civil diminuíram. Sente-se desprestigiada em relação aos antecessores?

Gleisi – Não vejo dessa maneira. Nenhuma concentração é boa. Desde o governo do presidente Lula, havia a Secretaria de Relações Institucionais, responsável pela articulação política. A Casa Civil é articuladora e facilitadora das ações de governo. Trabalhar em equipe é sempre mais seguro e eficaz. Não me atrai a atitude heroica.

Como recebeu o convite para a Casa Civil?

Gleisi – Quando a presidenta me convidou para ser ministra-chefe da Casa Civil, eu gelei. Foi um susto. Tive dúvidas se deveria aceitar. Pensei: "Meu Deus, é muita responsabilidade". Ela me chamou um dia antes da posse, e eu fiquei muito preocupada. Fiquei quatro anos na política, longe da gestão. Por isso falei para o Paulo (Paulo Bernardo, seu marido e ministro das Comunicações): "Acho que não devo aceitar. Não me sinto em condições". E ele disse: "Reflita bem". Naquela noite, eu chorei. Chorei mesmo. Daí eu fui conversar com a presidenta. Sentei na frente dela decidida a falar que eu achava melhor não assumir, porque não me sentia preparada para desafios tão grandes. Mas ela foi falando, falando, falando e no final eu disse: "Tá bem, presidenta" (faz voz de menina e solta uma gargalhada). Pensei: "Se Deus me pôs aqui é porque eu devo poder fazer algo diferente para ajudar o Brasil. Não é fortuito".

"PAULO VAI TER QUE CUIDAR UM POUCO MAIS DAS CRIANÇAS"

Editora Globo

O CASAL DA ESPLANADAGleisi e o marido, Paulo Bernardo. Ela diz que a paixão pelo orçamento os aproximou

E o Paulo Bernardo, como recebeu essa notícia? Isso não mexe com os brios dele?

Gleisi Para ele, foi um susto também. Não acredito que o tenha afetado. Mas ele tem reclamado que eu trabalho demais. Saio de casa antes dele e chego depois. Mas ele vai ter de ter paciência e cuidar um pouco mais das crianças. Ele sempre foi a pessoa pública, e agora sou eu que estou mais em evidência. No dia da minha posse, o telefone de casa tocou às 6 horas da manhã. Ele atendeu, ainda sonolento. Era uma jornalista de uma rádio perguntando: "Alô, é o assessor da Gleisi?". Ele costuma ser mal-humorado de manhã, mas foi espirituoso: "Claro que não. É o marido dela. O assessor de imprensa não dorme aqui em casa!".

A senhora perdeu eleições para o Senado, em 2006, e para a prefeitura de Curitiba, em 2008. Como encarou as derrotas?

Gleisi – De forma pedagógica. Derrotas ensinam muito. E nem sempre uma derrota eleitoral é uma derrota política. Minha avó dizia que aquilo que não nos mata fortalece. Num mundo público majoritariamente masculino, é o máximo ser mulher e dizer: "Me preparei, posso discutir, conversar, encaminhar, participar das lutas". Para mim, é mais que um orgulho pessoal, é mostrar que as mulheres podem fazer a diferença do seu jeito. Para equilibrar o mundo, a enorme parcela feminina da população precisa estar nos processos decisórios. Não é possível uma democracia em que mais da metade da população não participe.

Até mesmo mulheres fortes têm seus momentos de fragilidade. Quais foram os seus? Não pensou em desistir da política quando perdeu as eleições?

Gleisi Nunca! Perder e sofrer são lados da mesma moeda da vida. O que vale é a dimensão e importância que você dá a eles. Foram duas situações. Na do Senado, houve uma derrota eleitoral, mas uma vitória política. Eu saí muito de baixo, ninguém acreditava que eu iria ganhar. Foi no final da campanha que a gente avaliou que tinha chance, e aí já não tinha tempo. Mas saí fortalecida. A campanha pela prefeitura de Curitiba foi muito difícil, dura, pesada, de desconstrução da imagem. Ia para alguns bairros, e os adversários diziam que eu não era de Curitiba, não era casada, não tinha filhos, afirmavam que eu era uma mentira. Eu chegava em casa me perguntando onde havia me metido. E, no final, a vitória deles foi acachapante. O que me deixou triste, mas não a ponto de jogar a toalha.

A vitória, no ano passado, na disputa pelo Senado teve um gosto especial?

Gleisi – Comemorei de forma muito tranquila. Sabia, e sei, que não é uma vitória individual. É uma conquista coletiva de todos que acreditaram na caminhada. Mais que uma vitória, encaro como uma missão. Ter a função de senadora é ter a função de servir. É uma grande responsabilidade com o povo do meu Estado.

A senhora era chamada de "Pit-bull do Senado", por defender com veemência o governo. Outra alcunha da senhora é a "Barbie da Dilma". Os apelidos a incomodam?

Gleisi
– Nunca mordi ninguém. Defendia o governo porque acredito nele. E se me chamam de Barbie é porque me acham bonitinha e vazia como uma boneca, não ligo. Não me acho bonita e cuido de minha aparência como a maioria das mulheres. Ser como a Barbie, embora longe da realidade, me envaidece.
“Já cheguei em casa, me tranquei no quarto e chorei, chorei, chorei. Não gosto de críticas que não são construtivas”
Chorou por causa desse bullying político?

Gleisi Já chorei muito na vida. Já cheguei em casa, me tranquei no quarto e chorei, chorei, chorei. Os apelidos não me afetam muito. Mas, quando um projeto não dá certo, falha, eu me frustro muito. Sou muito perfeccionista e não gosto das críticas que não são construtivas.

Assim que assumiu a Casa Civil, a senhora disse que faria de tudo para levar seus filhos à escola. Tem cumprido isso?

Gleisi Fui salva pelas férias! As crianças passaram o mês de julho em Curitiba, na casa da minha mãe. Só voltaram agora. Mas a verdade é que não vou poder levá-las mais à escola. Tenho vindo para cá todos os dias às 8 horas, horário em que elas entram. Talvez eu vá no primeiro dia, mas mais que isso não vou conseguir.

Sente culpa?

Gleisi Agora menos, mas já tive muita, de chorar. Quando era diretora da Itaipu, ia para Foz de Iguaçu dois dias da semana, e o João ficava com a minha mãe. Saía de casa, de carro, e o via no portão, dando tchau. Eu já começava a chorar ali. Ele era tão pequenininho. No hotel, eu só pensava: "O que eu estou fazendo? Devia estar com meu filho", e chorava, chorava. A caçula, que é adotiva, também sofreu muito lá atrás. O processo de adoção já corria há dois anos e meio, e eu estava em plena campanha para o Senado de 2006 quando me ligaram do Juizado dizendo: "Sua filha está aqui". Eu não podia tirar licença-maternidade, estava no meio de uma campanha. Fiquei desesperada. Mas minha família se mobilizou, e a Gabi se apegou muito a minha mãe. Quando terminou a campanha, tive de fazer uma aproximação para que ela sentisse que eu era a mãe. Ainda hoje ela se ressente muito da minha ausência.

Com quantos meses ela chegou?

Gleisi
Cinco. Aliás, o juiz poderia ter liberado a adoção antes, e não o fez. Fiquei muito chateada com isso. Nem tinha a pretensão de ter um recém-nascido. Poderia ser de 2 ou 3 anos. E a Gabi já estava liberada para adoção desde que nasceu, porque a mãe dela já tinha assinado os papéis. E ainda assim ficou cinco meses no abrigo! (Indignada.) Por quê? Porque, infelizmente, o sistema de adoção no Brasil é muito ruim. Os juízes têm medo de entregar os meninos às famílias e, por cautela, eles têm a infância roubada. Para uma criança, cada mês passado num abrigo é uma eternidade.

"NÃO QUERIA PASSAR POR TODA A GESTAÇÃO DE NOVO"

Por que adotou? Não podia ter mais filhos?

Gleisi Podia. O João Augusto queria uma irmãzinha, e eu achava que tinha tanto amor por criança que era demais para dar apenas a ele. Precisava repartir um pouco (risos). Sentia vontade de ter outro bebê, mas não queria passar por toda a gestação de novo. Aquele barrigão, aquele desgaste. É uma delícia, mas basta o primeiro filho. Não consigo entender até hoje a minha avó. Ela teve 15! Todo ano aquela mulher ficava grávida. Não dá, gente...

A senhora e o ministro Paulo Bernardo arrumam tempo para namorar?

Gleisi É difícil. Quando dá, vamos ao cinema, tomamos um vinho. Ultimamente temos lido muito jornais juntos.

Como começou o namoro? O que mais a encantou nele?

Gleisi Em Brasília, quando fui trabalhar na Câmara dos Deputados. A dedicação do Paulo ao trabalho e a seriedade com que tratava os assuntos da política. Gostávamos também das mesmas coisas, das mesmas matérias, como orçamento. Além de tudo, ele é um galanteador, que tem muita sensibilidade com o mundo feminino. Isso também me preocupa...

Dizem que a senhora começou a namorar Paulo Bernardo quando ainda era casada com o jornalista Neilor Toscan, então assessor de Bernardo, que, na época, era deputado. Falam também que vocês moravam juntos em um apartamento funcional...

Gleisi Minha mudança para Brasília e o fim do meu primeiro casamento foram os momentos mais difíceis da minha vida. Mas não teve isso de morar junto, não. Eu era casada com o Neilor, que trabalhava no Banco do Brasil. A gente morava em Curitiba. Quando ele foi transferido para Brasília, eu já conhecia o Paulo e o procurei para trabalharmos juntos. Eu tinha experiência em gestão e orçamento, e essa era a área dele.
Acompanhe a trajetória de Gleisi:


"SE EU PUDESSE PEDIRIA AO TEMPO PARA ANDAR MAIS DEVAGAR"

A senhora é vaidosa? Já fez plástica?

Gleisi Sou cuidadosa como toda mulher. Fiz uma plástica nos seios, depois de amamentar, e apliquei Botox no rosto, para atenuar as rugas. Se eu pudesse, pediria ao tempo para andar mais devagar. Uso sempre filtro solar, porque sou muito clara, e maquiagem. Sou meio relaxada com exercícios físicos. Ainda não consegui priorizá-los. Mas gostaria.

Quem a ajuda a escolher o que vai vestir?

Gleisi
Não sou atenta à moda. Visto aquilo que acho que fica bem e me deixa minimamente confortável. Sempre peço opinião para amigas. Durante a campanha para o Senado, recebi orientação de uma profissional de estilos. Guardo algumas lições, como as cores que funcionam melhor para minha pele, os cortes.

Liga para marcas? Seu tailleur é de onde?

Gleisi Este custou caro... (ajeita a lapela e pede para a assessora ver de onde é). É da Maxmara. Eu olhei, gostei e comprei. Não faço muito isso, porque evito gastar. Mas deste eu gostei mesmo.

"ADORARIA TER UMA BOLSA LOUIS VUITTON"
A senhora tem algum sonho de consumo?

Gleisi Adoro bolsa e sapato. Eu olho na vitrine e me dá vontade de levar. Adoraria ter uma bolsa Louis Vuitton. Não é nem pela marca, pelo estilo mesmo. Acho tão bacana, gosto do design. Uma vez pensei em comprar uma no Paraguai, mas achei melhor não (risos).
Desde quando a senhora é vegetariana?

Gleisi
Não como carne vermelha há mais de 16 anos. Carnes brancas deixei de comer há quatro anos. Não gosto. Não me faz falta e não sei ao certo por quê.
A senhora era boa aluna?

Gleisi Era esforçada (risos). Tinha de estudar muito para ir bem. Não era algo natural, era fruto de disciplina e esforço mesmo. Sempre fui muito contestadora, o que me dava problemas com meus pais. Quando eu achava que a professora era rígida demais, injusta, batia boca. Nunca admiti que gritassem comigo.

"QUERIA AJUDAR O PRÓXIMO E, POR ISSO, SER FREIRA"

De onde veio o desejo de ser freira?

Gleisi Estudei em um colégio religioso, só de meninas, em Curitiba. As freiras tinham uma ação muito intensa de caridade em torno da escola. Queria aquela vida para mim, queria ajudar o próximo e, por isso, ser freira. Mas a formação era em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, e meu pai achou longe e não me deixou ir.

Como entrou para a militância política?

Gleisi Entrei quando fazia movimento estudantil, com 19, 20 anos. Meu primeiro partido foi o PCdoB. Conheci o PT depois, em 1989, e nunca mais o deixei. Trago o compromisso de dedicar-me àquilo que efetivamente melhora a vida das pessoas e busca justiça social. Deixei para trás a visão romântica de esquerda.

Que livro a senhora está lendo?

Gleisi Conversas que tive comigo, do Nelson Mandela. Sou fã dele.
Que música não se cansa de ouvir?

Gleisi
Chico Buarque, que adoro, e grupo ABBA. Por conta disso já assisti a Mamma mia umas seis vezes.

O que gosta de fazer para relaxar?

Gleisi Ficar em casa, ler e assistir a filme. E, de vez em quando, tomar um vinho.
A entrevista exclusiva de Marie Claire com a ministra Gleisi Hoffmann também poderá ser lida na íntegra na revista Época, nas bancas a partir deste sábado, 30 de julho.

Foto: Igo Estrela/Marie Claire. Produção executiva Bianca Assunção/Beleza Rose Paz

Ministro da Agricultura nega denúncias




Oscar Jucá Neto, irmão de Romero Jucá, foi demitido da Conab e atacou o governo
 
Do R7, em Brasília

O ministro da Agricultura, Wagner Rossi, rebateu neste sábado (30) as acusações feitas pelo ex-diretor financeiro da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) Oscar Jucá Neto em reportagem publicada pela revista Veja.

Em entrevista, Jucazinho, como é conhecido o irmão do senador Romero Jucá (PMDB-RR), contou que a estrutura do ministério é controlada por um consórcio formado entre o PMDB e o PTB com o suposto objetivo de arrecadar dinheiro. Wagner Rossi seria o virtual comandante do esquema.

Jucazinho relatou dois casos suspeitos envolvendo a Conab. Em um deles, a estatal estaria atrasando o repasse de R$ 14,9 milhões à empresa Caramuru Alimentos. O pagamento foi determinado pela Justiça e se refere a dívidas contratuais reclamadas há quase vinte anos. O motivo da demora, segundo o ex-diretor da Conab, é que representantes da estatal estariam negociando o aumento do montante a ser pago para R$ 20 milhões. Os R$ 5 milhões seriam repassados por fora a autoridades do ministério.

O segundo caso envolve a venda, em janeiro deste ano, de um terreno da Conab numa das regiões mais valorizadas de Brasília, distante menos de 2 quilômetros do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto. Apesar de ser uma área cobiçada, uma pequena empresa apareceu no leilão e adquiriu o imóvel pelo preço mínimo: R$ 8 milhões. O valor seria um quarto do estimado de mercado. O comprador é Hanna Massouh, amigo e vizinho do senador Gim Argello (PTB-DF).

Jucazinho, que foi demitido da Conab na semana passada por ter autorizado um pagamento de R$ 8 milhões a uma empresa fantasma que já foi ligada à sua família e que hoje tem como “sócios” um pedreiro e um vendedor de carros, também contou que Rossi lhe ofereceu dinheiro quando sua situação ficou insustentável.

- Era para eu ficar quieto. Ali só tem bandido.

Em nota oficial publicada pelo ministério, Wagner Rossi negou o teor das denúncias e criticou a atitude de Jucazinho, demitido pelo ministro.

- Desde que passei a tomar medidas saneadoras e promovi mudanças administrativas, sabia do risco de desagradar pessoas e sofrer retaliações injustas. Como acontece agora. Mas isso não vai mudar minha atuação como homem de governo

Leia a íntegra da nota do Ministério da Agricultura:
“Repudio as falsas acusações atribuídas ao ex-diretor financeiro da Conab Oscar Jucá Neto em reportagem da revista Veja, neste final de semana. É lamentável que um veículo de imprensa abra suas páginas para um homem afastado do serviço público exatamente por acusações de irregularidades levantadas por esta mesma revista.

Quanto às insinuações de ilegalidades em vendas de imóveis e pagamentos de decisões judiciais, esclareço:

1. Nenhum acordo extrajudicial foi fechado durante minha gestão à frente da Conab ou do Ministério da Agricultura com qualquer empresa privada. A única exceção foi o pagamento, à minha revelia, feito justamente pelo senhor Oscar Jucá Neto. E exatamente este caso levou-me a tomar medidas, juntamente com a Advocacia Geral da União, para bloquear o pagamento na Justiça.

2. O terreno citado na reportagem, situado no Setor de Clubes Norte e de propriedade da Conab, foi vendido em leilão público. A avaliação feita pela Caixa Econômica Federal estipulou o preço do imóvel em R$ 8,030 milhões. O preço arrematado em concorrência pública foi de R$ 8,1 milhões. A alegação de que o terreno foi vendido por um quarto do valor, como aponta Veja, é infundada. Além disso, diferentemente do que informa a revista, a operação de venda do terreno não foi realizada durante a minha gestão.

3. A decisão judicial que beneficia a Caramuru Alimentos transitou em julgado em abril deste ano. Os cálculos foram determinados pela Justiça e não pela Conab. Portanto, o pagamento a ser feito respeitará a determinação do juiz e não aquilo que um diretor da Conab, qualquer que seja ele, acredite ser possível fazer. Nenhuma tentativa de antecipar este pagamento chegou a meu conhecimento. E, caso isso ocorresse, não se efetivaria.

4. Todas as informações relativas aos dois processos mencionados na reportagem foram colocadas à disposição da revista, que optou por ignorar as explicações do Ministério da Agricultura.

5. Coloco-me à disposição para qualquer esclarecimento adicional sobre este caso a fim de demonstrar a transparência e lisura da minha gestão. Desde que passei a tomar medidas saneadoras e promovi mudanças administrativas, sabia do risco de desagradar pessoas e sofrer retaliações injustas. Como acontece agora. Mas isso não vai mudar minha atuação como homem de governo.

Wagner Rossi
Ministro de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento”

http://noticias.r7.com/brasil/noticias/ministro-da-agricultura-nega-denuncias-feitas-por-irmao-de-senador-20110730.html

HSBC vai demitir 10 mil funcionários, diz emissora de TV

DA EFE

O banco britânico HSBC vai anunciar nesta segunda-feira, na apresentação de seus resultados semestrais, a demissão de 10 mil funcionários no mundo todo, informou neste domingo o canal "Skynews".

Com 300 mil colaboradores, o banco planeja que os cortes ocorram no próximo ano, como parte da estratégia de seu novo executivo-chefe, Stuart Gulliver, que anunciou em maio um multimilionário plano de economia.

Está previsto que o gigante HSBC apresente resultados "decepcionantes" relativos ao primeiro semestre do ano, com lucro bruto de US$ 1,09 bilhão frente aos US$ 1,11 bilhão do mesmo período do ano anterior.

A queda nos lucros pode afetar os outros grandes bancos britânicos. Lloyds, Royal Bank of Scotland e Barclays apresentam resultados semestrais ao longo da próxima semana.

A proposta da comissão independente dos bancos britânicos (ICB, na sigla em inglês) de separar os bancos comerciais dos de negócios e o instável clima da economia global afetaram os lucros dos primeiros meses do ano das instituições financeiras britânicas.

As ações do Lloyds e do RBS, dois bancos que receberam intervenção do governo britânico, caíram 30% e 17%, respectivamente, no primeiro semestre do ano.

Já as ações do Barclays recuaram 26% e as do HSBC perderam 14% de seu valor nesse mesmo período.

No caso de Barclays, que publicará resultados semestrais na terça-feira, espera-se que anuncie perdas de 24% nos lucros, segundo os investidores Seymour Pierce.

Dilma evita Teixeira, enaltece Pelé e promete transporte eficiente

CIRILO JUNIOR
RODRIGO RÖTZSCH

DO RIO


Diante dos gargalos nos aeroportos, a presidente Dilma Rousseff prometeu neste sábado um 'eficiente sistema de transporte' durante a Copa-14, durante seu rápido discurso no sorteio das chaves das eliminatórias do próximo mundial.



    Além dos transportes, Dilma também enfatizou a garantia de segurança durante o maior evento futebolístico do planeta.

    "Queremos encantar o mundo em 2014. Vocês terão a oportunidade de conhecer um povo alegre, generoso, solidário", afirmou, ao conclamar que os povos conheçam o Brasil em 2014.

    Felipe Dana/Associated Press
    Da esquerda para a direita: João Havelange, Joseph Blatter, Dilma Rousser, Pelé, Ricardo Teixeira e Sérgio Cabral
    Da esquerda para a direita: João Havelange, Joseph Blatter, Dilma Rousser, Pelé, Ricardo Teixeira e Sérgio Cabral

    A estabilidade da economia e a redução da pobreza também foram destacados por Dilma. Segundo a presidente, essas condições já fazem com que o Brasil deixe de ser admirado no exterior apenas pelo futebol, a música e as festas populares.

    "Estamos fazendo a nossa parte para que a Copa do Mundo de 2014 seja a melhor de todos os tempos. Estejam certos de que o Brasil estará preparado", afirmou.

    Dilma discursou por aproximadamente cinco minutos, logo após o presidente da Fifa, Joseph Blatter. A presidente aguardou ser chamada em uma sala reservada, na qual evitou contato com o presidente da CBF, Ricardo Teixeira.

    Ao cumprimentar as autoridades presentes, Dilma tratou Teixeira formalmente, e fez questão de mencionar Pelé antes do presidente da CBF, que também comanda o Comitê Organizador da próxima Copa.

    Silvia Izquierdo/Associated Press
    A presidente Dilma Rousseff durante o sorteio das eliminatórias da Copa do Mundo-2014
    A presidente Dilma Rousseff durante o sorteio das eliminatórias da Copa do Mundo-2014

    O maior jogador de todos os tempos não havia sido convidado para participar do sorteio, o que teria irritado Dilma. A presidente decidiu nomear Pelé como embaixador honorário da Copa-14.

    Ao ser exaltado por Dilma, Pelé, que foi tratado de 'querido' pela presidente, foi aplaudido de forma entusiasmada pelas 2.000 pessoas presente na Marina da Glória.

    "O Brasil continua a ser identificado como o país do futebol e isso nos envaidece. Nós, brasileiras e brasileiros, amamos o futebol. Ganhamos cinco Copas do Mundo e aqui nasceram vários craques ao longo do tempo a começar pelo maior deles: Pelé, que fizemos questão de nomear embaixador da Copa do Mundo de 2014", observou.

    Cartolas orbitam em torno de Dilma no 1º evento da Copa-14

    MARTÍN FERNANDEZ
    RODRIGO MATTOS
    ENVIADOS ESPECIAIS AO RIO
    RODRIGO RÖTZSCH
    SÉRGIO RANGEL
    DO RIO


    Primeiro evento oficial do Mundial no Brasil, o Sorteio Preliminar da Copa-2014 serviu para a Fifa e para o COL (Comitê Organizador Local) adularem a presidente da República, Dilma Rousseff.



      A presidente aceitou conversar com os cartolas, mas mostrou, em discurso, que o governo federal terá atuação independente das duas entidades. E não fez elogios a elas em suas declarações.

      Fifa e COL tentam uma reaproximação após se distanciarem do governo federal desde que Dilma chegou ao poder. Nesse período, cartolas das duas entidades se viram envolvidos em denúncias de corrupção, enquanto a petista quer se distanciar de casos de irregularidades.

      Felipe Dana/Associated Press
      Da esquerda para a direita: João Havelange, Joseph Blatter, Dilma Rousser, Pelé, Ricardo Teixeira e Sérgio Cabral
      Da esquerda para a direita: João Havelange, Joseph Blatter, Dilma Rousser, Pelé, Ricardo Teixeira e Sérgio Cabral

      Assim, Dilma nomeou Pelé para ser embaixador do Brasil para o Mundial e se tornar um contraponto aos dirigentes da Fifa e do COL. Foi o que a presidente deixou claro em seu discurso no sorteio.

      "Aqui nasceram muitos dos maiores craques de todos os tempos, a começar pelo maior deles, o nosso querido Pelé, que fizemos questão de nomear embaixador honorário do Brasil para a Copa do Mundo Fifa 2014", afirmou.

      Antes, Dilma só citara os presidentes do COL, Ricardo Teixeira, e da Fifa, Joseph Blatter, de forma protocolar.

      Mas é justamente Pelé que a Fifa usará para agradar à presidente. Um projeto da entidade prevê que o Rei, juntamente com outros ex-jogadores, passe a receber remuneração para atuar no Mundial. O COL não participa dessa proposta.

      Pelé, que criticou Teixeira antes do sorteio, mostrou-se mais conciliador. "São 190 milhões de brasileiros trabalhando para dar certo."

      Blatter pediu apoio do governo e, "mais importante", de todo o povo brasileiro.

      Antes dos discursos, Dilma se encontrou com Teixeira e Blatter por 20 minutos. Falaram amenidades. A petista vem recusando audiência com os dois desde sua eleição. Blatter lhe deu uma flâmula, como já tinha feito com outros políticos no Rio.

      Na cerimônia, a presidente ficou sentada perto dos cartolas, com Pelé entre eles. E conversava com Teixeira.

      Essa abertura de Dilma à Fifa e ao COL, porém, não tornará sua relação com os cartolas igual à do ex-presidente Lula, que recebia os dirigentes com frequência.

      A presidente conduz o Mundial de forma mais técnica, como já mostrou em cobranças e pedidos de relatórios sobre obras de estádios.

      Ontem, viu um evento caro e sem falhas, só atrapalhado pelo vento. Antes do sorteio, o teto provisório do auditório rasgou, o que assustou membros do COL. Foi feito um reparo. Resta saber se será possível, de fato, consertar a relação com o governo federal.

      Oi banca R$ 300 mil de peça estrelada por neta de Lula



      DE SÃO PAULO

      Depois de socorrer uma empresa do filho do ex-presidente Lula, a Oi vai financiar peça de teatro que terá no elenco uma neta do petista, informa reportagem de Nádia Guerlenda Cabral, Andreza Matais e Fernanda Odilla, publicada na edição deste domingo da Folha (a íntegra está disponível para assinantes do jornal e do UOL, empresa controlada pelo Grupo Folha, que edita a Folha).

      A produção, que busca patrocínio há um ano e três meses, conseguiu a ajuda após promover na mídia a participação da jovem. A peça "Megera Domada", de Shakespeare, marcará a estreia de Bia Lula, 16, filha de Lurian Lula da Silva, nos palcos.

      André Muzel - 25.jul.11/AgNews
      Bia Lula, neta do ex-presidente, estreia nos palcos em peça patrocinada pela Oi
      Bia Lula, neta do ex-presidente, estreia nos palcos em peça patrocinada pela Oi

      A Oi é a única empresa até agora a patrocinar o projeto via Lei Rouanet. A tele vai bancar R$ 300 mil, quase metade do custo da produção, de R$ 639,4 mil.

      Em 2005, a Oi aplicou recursos numa empresa de um dos filhos de Lula. A Gamecorp, de Fábio Luís Lula da Silva, recebeu R$ 5 milhões da então Telemar --uma concessionária de serviço público. O negócio é alvo de investigação da Polícia Federal.

      OUTRO LADO

      A Oi afirmou que "é uma das maiores patrocinadoras de projetos culturais" do país e que "não opina no processo de seleção do elenco". A tele negou ainda ter sido beneficiada por decisões do governo.

      A assessoria do ex-presidente Lula disse que ele desconhece o patrocínio. "É uma operação entre a Oi e a produção da peça. Lula não tem nada a ver com isso."

      O produtor Oddone Monteiro disse que convidou Bia Lula para participar do elenco porque sabia que ela atrairia a atenção, mas negou que tê-la na peça ajude no patrocínio. O Ministério da Cultura informou que a prorrogação da captação de recursos está dentro dos trâmites e prazos.

      Leia mais na Folha deste domingo, que já está nas bancas.

      Guerra contra a Líbia: “Uma loucura perversa, mal intencionada” (1/2)

       



      Charles Abugre
      29-31/7/2011, Charles Abugre, Counterpunch (edição de fim de semana)
      Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu

      Charles Abugre é diretor regional da Campanha “Milênio” da ONU, para a África

      A invasão foi planejada e a oportunidade para executá-la, muito propícia.

      Há quem diga que “o tempo cura todas as feridas” emocionais. Se fosse assim, por que me sinto cada dia mais furioso, com a escandalosa invasão da Líbia, sob falsos pretextos, há quatro meses? Trata-se exatamente disso: a Líbia está sob ataque por mar e ar, sob bombardeio direto de forças especiais estrangeiras em território líbio. O objetivo exposto da invasão seria o que se tem chamado de “troca de regime”. O objetivo visível das bombas que matam líbios e estão reduzindo a ruínas a capital Trípoli é um só: ajudar um grupo de rebeldes que o ocidente reuniu e armou, a depor o governo do coronel Gaddafi. O bombardeio aéreo começou sob expectativa delirante de que, no instante em que as bombas começassem a cair sobre Trípoli, os líbios de Trípoli levantar-se-iam contra Gaddafi; na situação que assim se criaria, um grupo já armado viria de Benghazi e assumiria o poder. O tempo passou, e, agora, a única estratégica dos invasores é o desespero. Vale qualquer tática para tentar matar ou expulsar Gaddafi e seus filhos.

      É exatamente a mesma tática dos anos 1960s, usada outra vez pelos mesmos atores, para derrubar governos que não se ‘subordinaram’. O plano fracassou. Quatro meses depois do início da carnificina, Gaddafi ainda salta do esconderijo de onde resiste e pode gritar insultos contra os exércitos invasores. A invasão à Líbia foi planejada. No que tenha a ver com os EUA, já estava planejada desde os primeiros dias da ‘guerra contra o eixo do mal’ de George Bush Filho. No que tenha a ver com a França, o planejamento já era ativo, no mínimo, desde outubro de 2010. É altamente provável que o planejamento tenha começado por assegurar que houvesse armas e alguns soldados em Benghazi, à espera do momento propício.

      Só isso explica que as manifestações civis em Benghazi, que começaram como outras em Túnis e no Egito, como manifestações de civis desarmados, em apenas dois dias tenham-se transformado em rebelião armada; e que, em menos de um mês, a rebelião local já estivesse convertida em invasão militar por forças da OTAN e da França. É absolutamente impossível que esses eventos tenham-se sucedido tão rapidamente, sem planejamento.

      Não há nem o que discutir: é inegável que já havia forças britânicas, holandesas e francesas, além de forças especiais italianas, dentre outras, em campo, não só em Benghazi mas por todo o país. São fatos já sabidos: a mídia britânica noticiou; como houve notícias, também, do modo como Holanda e Grã-Bretanha tentavam introduzir soldados de suas forças especiais na Líbia, nos primeiros momentos das manifestações. Houve o caso do helicóptero de forças especiais britânicas que pousou no meio de tropas rebeldes e foi imediatamente capturado e a captura foi comemorada... antes que os rebeldes percebessem que eram “soldados aliados”. Dias depois, os holandeses fizeram ainda pior: pousaram onde não deviam pousar e foram capturados pelas forças de Gaddafi, que os fez fotografar pela imprensa e em seguida devolveu-os à Europa. Para saber que nada ali havia sido forjado, bastava ver o brilho no rosto do filho de Gaddafi.

      Já havia penetração clandestina de forças especiais em território líbio, como informa Franco Bechis, jornalista italiano, na edição de 24 de março do jornal Libero [1] (matéria reproduzida em Economics NewsPaper [2] ), no mínimo, em 16/11/2010, quando um grande grupo de franceses chegou a Benghazi, apresentando-se como empresários que sondavam oportunidades de negócios para investir na agricultura líbia. Muitos desses “empresários” eram, de fato, soldados.

      Segundo Franco Bechis, no Maghreb Confidential [3] , os franceses começaram a planejar ativamente a troca de regime na Líbia dia 21/10/2010, quando Nuri Mesmar, chefe de protocolo de Gaddafi e seu braço direito, chegou a Paris para uma cirurgia. Mesmar não esteve com médicos. Todos seus contatos foram agentes do serviço secreto francês e assessores próximos de Sarkozy. Mesmar também era responsável pelo ministério da Agricultura. Dia 16 de novembro, Mesmar aprovou a estratégia de introduzir soldados na Líbia, disfarçados como delegação de empresários. Dois dias depois, um avião pousou em Benghazi, levando soldados, dentre outros agentes, e ali se reuniram, dentre outros, com comandantes militares líbios; o objetivo era convencê-los a desertar. Um dos que concordou foi o coronel Gehan Abdallah, que, chegado o momento, liderou a rebelião armada. De onde veio essa informação? Do serviço de inteligência italiano.

      A função de Nuri Mesmar – os franceses usaram-no para apunhalar pelas costas um seu amigo, que o receberia sem cautelas – é velha como a história de Brutus e Cesar, na peça Julius Caesar de Shakespeare; faz pensar também no que fez o capitão Blaise Campaoré de Burkina Faso, usado pelos franceses para executar seu mais íntimo amigo, Thomas Sankara.

      Mas não foram só os franceses que planejaram o movimento ‘dos rebeldes’ de Benghazi. O chefe do Conselho Nacional Líbio, coronel Khalifa, chegou dos EUA dia 14 de março, para comandar a rebelião armada, um mês depois de iniciada. O coronel Khalifa vivia nos EUA desde os anos 1980s, trabalhando, como se suspeita como agente da CIA. Esse fato foi revelado em livro publicado em 2001, de Pierre Pean, intitulado “O Manejo da África” [African Handling].

      A edição de 31 de março do New York Times publicou matéria em que se lê: A CIA infiltrou agentes secretos na Líbia para reunir inteligência de orientação para ataque aéreo e fazer contato com veteranos e rebeldes que combatem as forças do coronel Gaddafi, segundo declararam agentes americanos.” [4] Khalifa, Mesmar e outros serão acompanhados, na liderança do Governo Provisório por alguns dos mais temidos membros do regime de Gaddafi, entre os quais Jalil Mustafa Abud, que até o levante fora ministro da Justiça e é listado pela Anistia Internacional como um dos mais notórios violadores de direitos humanos do planeta.

      Ridículos falsos pretextos

      Escolhi deliberadamente a expressão “ridículos falsos pretextos” para caracterizar as desculpas que foram servidas à opinião pública, por imprensa facciosa. Por quê? A resolução n. 1.973 da ONU define o único objetivo de “proteger civis”. Há dois conjuntos de princípios a partir dos quais se pode inferir que seja o caso de proteger civis. Um, o princípio segundo o qual todos os combatentes são responsáveis, nos termos da Convenção de Genebra. Esse princípio está acolhido nas resoluções do Conselho de Segurança n. 1.265, 1.296 e 1.820, dentre outras.

      Combatentes armados, dos dois lados em luta, que violem a Convenção de Genebra, podem ser considerados responsáveis, nos termos dessas resoluções, e podem ser apenados e, por extensão, podem ser levados à Corte Internacional de Justiça Criminal [ing. International Criminal Court (ICC)], pela prática de violações definidas como crimes contra a humanidade e crimes de guerra ou genocídio. Mas essas resoluções, evidentemente, não legalizam nenhuma intervenção militar por força estrangeira.

      O segundo princípio é o princípio da “responsabilidade de proteger” (“R2P”). Baseia-se no conceito de segurança “sem limites de fronteira”, que é título do relatório da Comissão sobre Intervenção e Soberania do Estado [ing. International Commission on Intervention and State Sovereignty (ICISS)] divulgado em dezembro de 2001 e subsequentemente adotado como princípio operacional pela ONU. Essa comissão, presidida por Gareth Evans e Mohamed Sahnoun, estudou o relacionamento entre (a) os direitos dos estados soberanos, sobre os quais se construíram a maior parte das relações internacionais; e (b) o chamado “direito de intervenção humanitária” que tem sido exercido esporadicamente – na Somália, Bósnia e Kosovo, mas não em Ruanda –, com graus variados de sucesso e controvérsia internacional.

      O relatório examina a seguinte questão: “em que casos será apropriado que estados empreendam ação coercitiva – especificamente militar – contra outro estado, com vistas a proteger pessoas que estejam em risco naquele outro estado”.

      O estudo concluiu que a prioridade deve ser garantida aos seres humanos, não à soberania do estado. Portanto, se houver ameaça à segurança de seres humanos – à segurança física e à dignidade humana – e ameaça criada pelo estado, ou no caso de o estado manifestar incapacidade severa para defender seus cidadãos, a comunidade internacional passará ter a responsabilidade de agir, incluída aí a ação de intervenção militar armada. O princípio R2P impõe que a lei humanitária se sobreponha aos direitos de soberania. O princípio R2P tem sido muito citado, sobretudo por organizações humanitárias ocidentais, e a ONU tem celebrado sua adoção.

      Mas há também os que chamam a atenção contra os riscos de adotar-se esse princípio, e por inúmeras razões. Em primeiro lugar, pôr a lei humanitária à frente da soberania implica impor razões humanitárias acima dos direitos do cidadão, que dependem de respeito à soberania. Em segundo lugar, o princípio R2P abre a porta para intervenções seletivas e justiça seletiva, que passa a poder ser exercida por quem controle o Conselho de Segurança da ONU. Cria-se assim uma relação em que todos os países passam a depender politicamente (e legalmente) do Conselho de Segurança da ONU e de países militarmente fortes. Assim, se acabará por minar as próprias fundações da justiça e da paz duradoura, que dependem de processos políticos locais, domésticos.

      Mas fato é que a Resolução n. 1.973 foi elaborada sob o pretexto do R2P, para “legalizar” a invasão à Líbia. Os países da OTAN desejavam invadir, isso sim; não apenas minimizar algum eventual dano que os civis líbios viessem a sofrer. Os países da OTAN invadiram para derrubar o governo do coronel Gaddafi.

      É razoável invadir militarmente um país, alegando razões humanitárias? É, no mínimo, muito discutível. No caso da Líbia, a resposta certa só seria conhecida depois da invasão... no caso de as forças de Gaddafi virem a bombardear Benghazi como Gaddafi ameaçou fazer. O que se sabe hoje é que a força aérea de Gaddafi não bombardeou alvos civis em Benghazi, e, como a Anistia Internacional já declarou, não se constataram estupros em massa pelas forças do estado líbio. Também se sabe que a repressão violenta contra a manifestação civil do dia 15 de fevereiro não foi a primeira. O último grande caso de repressão violenta contra manifestantes aconteceu na Líbia em 2006. Como vários ditadores norte-africanos e do Oriente Médio, Gaddafi reprimiu com violência o levante de 2006, feriu alguns e prendeu outros. Não houve assassinatos em massa e, naquela ocasião, a ação de Gaddafi foi tacitamente apoiada – com destaque para o apoio que recebeu dos EUA – como legítima resposta à influência maléfica da Al-Qaeda.

      A verdade simples é que, dois dias depois de iniciado o levante popular, a situação já era de guerra na Líbia. Já estava convertida em insurgência armada; e todos os estados têm pleno direito de usar o exército contra insurgência armada.

      Estamos cansados de ver acontecer nos EUA, sempre que respondem a fanáticos religiosos ou a gangues de traficantes em bairros pobres, de maioria negra.

      Não haveria melhor modo de proteger vidas humanas? Claro que sim, se dessem uma chance à paz.

      Todos sabemos que o presidente Lula da Silva (ex-presidente do Brasil) ofereceu-se para liderar uma missão de mediação, que tentaria negociar um cessar-fogo.

      Foi iniciativa apoiada por países da América Latina, pela União Africana e, até, pela sempre acovardada Liga Árabe. Gaddafi aceitou a ideia de um cessar-fogo, desde que as forças internacionais também aceitassem. A OTAN rapidamente destruiu essa iniciativa, com seus vassalos em Benghazi. A missão da União Africana foi humilhada em Benghazi e toda a grande mídia ocidental dedicou-se a promover “debates” que nada fizeram além de ridicularizar as iniciativas da União Africana. Ninguém deu qualquer chance à paz. Por quê? Porque a agenda real visava a derrubar Gaddafi, não a proteger civis.

      Se a intervenção militar seria tão boa via para proteger civis, por que a OTAN não invadiu o Iêmen, onde levante absolutamente pacífico foi suprimido a tiros, com munição real e máxima brutalidade? Robert Gates, que até recentemente foi secretário de Defesa dos EUA respondeu: “Não nos parece que seja nossa obrigação intervir nos assuntos internos do Iêmen”. Talvez, porque o ditador do Iêmen seja “nosso ditador”? Talvez porque lute contra separatistas de esquerda, de quem “nós! não gostamos? Talvez porque o Iêmen hospede a 5ª. Frota dos EUA?

      E quanto ao Bahrain, minúsculo, onde a família real é proprietária de quase todas as ilhas que compõem o reino, e onde, com apoio de soldados sauditas, grande número de manifestantes desarmados foram fuzilados nas ruas? Ouve-se algum boato de que o sultão será julgado pela Corte Internacional de Haia? Esse, precisamente, é o uso discriminatório, seletivo, do princípio da “responsabilidade para proteger” que muitos tanto temiam.

      [Continua]



      Notas dos tradutores
      [2]Understanding the war in Libya”, Economics Newspaper.
      [3] Em português, no Blog Maria Frô, 25/3/2011, (tradução de Victor Farinelli).
      [4]C.I.A. Agents in Libya Aid Airstrikes and Meet Rebels”, New York Times, 31/3/2011. A matéria prossegue: “Apesar de o presidente Obama insistir em que nenhum militar norte-americano participa da campanha na Líbia, pequenas unidades de agentes da CIA já trabalham na Líbia há várias semanas, como parte de força clandestina ocidental que o governo Obama espera que possa ajudar a sangrar o exército de Gaddafi – disseram fontes oficiais”. Em SlantRight 2.0, que visivelmente é página da extrema direita dos EUA, reúne matérias de praticamente todos os grandes jornais dos EUA, da mesma data, dizendo, todas, exatamente a mesma coisa: que a CIA estava na Líbia em março de 2011.

      O esquema do PP no Ministério das Cidades

       

      Arrecadadores do partido têm cargos de confiança, e obras que o TCU considera irregulares ganham verbas extras que favorecem empreiteiras doadoras da campanha do ano passado

      Lúcio Vaz

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      PEGO NA MENTIRA
      O secretário Nacional de Saneamento, Leodegar Tiscoski,
      muda de versão quando confrontado com documentos do TSE
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      Assim como o PR transformou o Ministério dos Transportes em centro de operações partidárias nem sempre republicanas, o Partido Progressista (PP) vem atuando de forma similar no Ministério das Cidades, um dos carros-chefe do PAC, dono do terceiro maior orçamento da Esplanada, com investimentos de R$ 7,6 bilhões previstos para este ano. Dos gabinetes do Ministério, o tesoureiro do PP, Leodegar Tiscoski, assim como outros executivos ligados ao partido, libera recursos para obras consideradas irregulares pelo Tribunal de Contas da União, algumas delas com recomendação de “retenção dos pagamentos”, e favorece empreiteiras que contribuem financeiramente para as campanhas eleitorais do PP.

      A atuação de Tiscoski é um flagrante da promiscuidade instalada no ministério. Desde 2007 ele é o secretário nacional de saneamento do ministério e no ano passado exerceu dupla função. Ao mesmo tempo que, como funcionário público, geria obras de saneamento em todo o País, ele operava como tesoureiro nacional do partido. Ou seja, em ano eleitoral, era ele quem, a partir de posto privilegiado, arrecadava recursos para financiar as campanhas do partido. Na semana passada, Tiscoski afirmou à ISTOÉ que em março de 2010 se licenciou do cargo de tesoureiro. “Solicitei meu afastamento das funções de tesoureiro e, desde então, não assinei mais qualquer documento da tesouraria do PP”, disse o secretário. “No período eleitoral eu não exercia mais a função de tesoureiro.” É mentira. Documentos do Tribunal Superior Eleitoral mostram que em dezembro do ano passado Tiscoski assinou a prestação de contas do partido. As doações de empresas registradas nas contas do PP vão de 18 de março a 29 de setembro do ano passado. O repasse do dinheiro para os candidatos ocorre entre 13 de abril e 23 de novembro. Colocado diante do documento, Tiscoski, por intermédio da assessoria do PP, reformulou sua explicação. Afirmou que não mais assina cheques ou ordens bancárias como tesoureiro, mas admitiu que “encaminhou” a prestação de contas ao Tribunal. No PP, informam que a gerência das finanças do partido está a cargo do primeiro-tesoureiro, o ex-deputado Feu Rosa. A troca de nomes, porém, não torna a relação do PP com o ministério mais transparente. O “novo tesoureiro” é assessor especial da pasta, cuidando do relacionamento do ministério com o Congresso.

      Com interesse direto nas obras do Ministério das Cidades, as empreiteiras contribuíram oficialmente com cerca de R$ 15 milhões nas campanhas do PP em 2010. A maior parte (R$ 8,7 milhões) na forma de doações ocultas. Isso significa que o dinheiro foi para a conta do partido, durante a campanha eleitoral, e imediatamente distribuído entre os seus candidatos. Três das grandes construtoras do País, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Queiroz Galvão repassaram legalmente um total de R$ 7,5 milhões para as campanhas do PP. Apenas três obras de mobilidade urbana tocadas por essas empresas com recursos do Ministério das Cidades somam R$ 2,7 bilhões. Só a implantação da Linha 3 do Metrô do Rio de Janeiro tem orçamento de R$ 1,3 bilhão. O Tribunal de Contas da União encontrou um superfaturamento de R$ 57 milhões no contrato, tocado pelas empresas Queiroz Galvão e Carioca Christiani-Nielsen. Após a ação do Tribunal, os preços que estavam acima dos valores do mercado foram refeitos. Em novembro do ano passado, porém, o TCU determinou a paralisação dessa obra por conta de falhas no seu projeto básico. A Secretaria de Transportes do Rio de Janeiro, que executa a obra, já apresentou o novo formato do projeto ao tribunal, que ainda não se manifestou. A obra de conclusão do Complexo Viário Baquirivu–Guarulhos, com orçamento de R$ 101 milhões, é outro exemplo de problemas. Tocada pela Construtora OAS, está na lista de irregularidades graves desde 2003. O TCU apontou superfaturamento de R$ 6,9 milhões. Mas a Prefeitura de Guarulhos informou que não tem interesse em executar o restante da construção. O Tribunal busca agora recuperar o dinheiro público desviado.
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      HOMEM DE PARTIDO
      O ministro Negromonte não era o preferido de Dilma, mais foi bancado pelo PP
      Os casos mais flagrantes de descaso com o dinheiro público no ministério são duas grandes obras que estão na lista suja do TCU: os metrôs de Salvador e de Fortaleza. As duas somam contratos no valor total de R$ 1,6 bilhão. Nos dois casos, o Tribunal determinou a retenção parcial de pagamentos para evitar prejuízos aos cofres públicos por causa de prática de preços acima do mercado. No caso do metrô de Salvador, trecho Lapa – Pirajá, o TCU exigiu a retenção de R$ 50 milhões nos próximos pagamentos ao consórcio Metrosal, formado pelas empreiteiras Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez. No Metrô de Fortaleza, trecho Vila das Flores–João Felipe, tocado pelas empresas Queiroz Galvão e Camargo Corrêa, foi encontrado superfaturamento de R$ 65 milhões em auditoria realizada em 2008. O tribunal determinou a repactuação do contrato. Foi exigida, ainda, a manutenção das retenções, seguros-garantias e fianças bancárias até o julgamento final do mérito da tomada de contas especial.

      Apesar das investigações e dos alertas emitidos pelo TCU, os responsáveis pelo Ministério das Cidades liberaram recursos para essas obras no crédito suplementar que reforçou as obras do PAC em julho do ano passado. O metrô de Salvador recebeu um extra de R$ 6,7 milhões, enquanto o de Fortaleza ganhou mais R$ 100 milhões. Essa mesma prática de desconsiderar as recomendações do TCU, aceitar o aumento nos preços de obras já consideradas superfaturadas e ainda efetuar o pagamento para as empreiteiras é que tornou a atuação do PR no Ministério dos Transportes um escândalo.

      As semelhanças entre os esquemas do PR e do PP, no entanto, não se resumem a isso. Assim como os republicanos, os progressistas tomaram conta do Ministério das Cidades, de cima a baixo. A presidente Dilma Rousseff trocou o ministro. Márcio Fortes, hoje na autoridade pública olímpica, deu lugar ao deputado Mário Negromonte (BA) por exigência do partido e com o aval do governador da Bahia, Jaques Wagner. A presidente chegou a cogitar a nomeação da secretária nacional de Habitação, Inês da Silva Magalhães, mas o PP vetou. A cobiçada Secretaria Nacional de Transporte e Mobilidade Urbana foi entregue a Luiz Carlos Bueno de Lima, que já havia sido secretário de Ciência e Tecnologia no Ministério da Saúde no período em que o ex-deputado Severino Cavalcanti (PP-PI) presidiu a Câmara. O chefe de gabinete de Negromonte, Cássio Ramos Peixoto, foi trazido do governo baiano, no qual era diretor da Agência de Defesa Agropecuária. O ex-secretário de Agricultura da Bahia Roberto Muniz, ex-deputado estadual pelo PP, assumiu a secretaria-executiva. A manutenção de Inês num posto-chave ainda não foi assimilada pelo partido. Um integrante da cúpula do PP afirmou à ISTOÉ que ela é a “olheira” da presidente no ministério. Seja por intermédio da secretária ou não, o fato é que o Palácio do Planalto já tem conhecimento da forma como o aliado PP vem se comportando no governo. Resta saber como o governo vai lidar com uma legenda que soma 44 votos na Câmara e cinco no Senado.
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