domingo, 31 de julho de 2011

Proibida a entrada

 

Brasileiros foram os mais barrados nos aeroportos europeus em 2010, independente de viajarem a turismo ou com o intuito de ficar ilegalmente no continente
Talita Boros
talita.boros@folhauniversal.com.br
Com pouco dinheiro, muita disposição e vontade de vencer, eles partem de todas as regiões do Brasil. Mesmo com a crise econômica na União Europeia (EU) e nos Estados Unidos, o sonho de construir uma vida próspera em outro país, mesmo de forma ilegal, ainda encoraja brasileiros a deixarem a família, rumando para um destino incerto.

Muitos não conseguem entrar nos países europeus ou nos Estados Unidos, os preferidos dos imigrantes ilegais brasileiros. Os que passam nem sempre encontram emprego, convivem com o preconceito, falta de documentos legais, dificuldade com a língua e medo da deportação. A crise europeia e a estabilidade da economia brasileira, porém, tiveram outro efeito, perverso, para quem viaja apenas como turista: aumentaram o risco de ser barrado nos aeroportos europeus, principalmente.

No ano passado, os brasileiros foram os estrangeiros mais barrados nos aeroportos de países da União Europeia, de acordo com levantamento da agência de controle de fronteiras da Europa (Frontex). Ao todo, 6.072 brasileiros foram impedidos de entrar nos países do bloco. Isso representa 12% do total de entradas recusadas de estrangeiros na comunidade europeia. Boa parcela deles não conseguiu justificar o motivo da viagem ou comprovar as condições em que ficaria no país como turista.

O principal fator, de acordo com o Ministério das Relações Exteriores, que faz os brasileiros serem os que mais recebem “nãos” para entrar na UE é o desconhecimento das regras de ingresso. “O brasileiro é visto como imigrante em potencial por autoridades de determinados países europeus e, por isso, é importante cumprir com todos os requisitos da lei europeia para entrar no continente a turismo”, diz. Do total de casos entre brasileiros, quase 30% das entradas negadas ocorreram na Espanha, segundo a Frontex, onde 1.813 pessoas foram enviadas de volta ao Brasil no aeroporto. “Não podemos descartar a inflexibilidade dos agentes de imigração espanhóis e, infelizmente, o preconceito”, afirma a assessoria do Itamaraty.

Com relação aos ilegais, a situação é ainda mais complicada. Segundo pesquisa do Observatório Espanhol do Racismo e a Xenofobia, quatro em cada dez cidadãos espanhóis são a favor de expulsar os imigrantes desempregados e quase 80% acham que há um número “excessivo” de estrangeiros no país.

O mineiro Marcelo Souza, de 24 anos, se prepara para viajar para Londres, no Reino Unido, no próximo mês. Desempregado e morador de Governador Valadares, uma das cidades que mais “exporta” imigrantes, ele diz que precisa ir para ajudar os pais que passam dificuldades por aqui. “Meu irmão mora nos Estados Unidos, mas está complicado por lá. Eu quero tentar a Europa, primeiro”, conta. “Eu vou com visto para Londres”. Segundo o Ministério das Relações Exteriores, o Reino Unido é onde se concentra hoje o maior número de brasileiros no continente europeu.

Preocupados com a situação econômica e com o crescimento do desemprego, tanto a União Europeia quanto os Estados Unidos estão tornando as leis imigratórias mais rígidas, dificultando a entrada e permanência de estrangeiros, ilegal ou legalmente. Segundo o Itamaraty, o governo brasileiro vem acompanhando, com preocupação, a discussão sobre os controles migratórios. “Temos feito esforços para que o respeito e a promoção dos direitos humanos dos imigrantes e de suas famílias sejam assegurados, independentemente de sua condição migratória, nacionalidade, origem étnica, gênero ou qualquer outro critério discriminatório.”

Irene Zwetsch, coordenadora da organização Rede de Brasileiras e Brasileiros na Europa, com sede na Suíça, afirma que além das dificuldades com a língua e as diferenças culturais, os brasileiros que moram naquele continente também começam a encontrar dificuldades financeiras. “A crise atingiu bastante a Europa e a possibilidade de encontrar trabalho diminuiu. Sem uma qualificação especial fica complicado conseguir um emprego que garanta o visto de permanência”, destaca.

Apesar do cenário, Irene diz que o fluxo de chegada de brasileiros continua. “Recebo semanalmente telefonemas ou e-mails de brasileiros que querem vir trabalhar na Suíça e pedem informações sobre como funciona o sistema aqui”, destaca. Segundo Irene, há medo da deportação entre parte dos brasileiros ilegais. Mas há os que vivem e trabalham sem dar atenção a isso.

Para o casal Camila e Davi Campos, que moram em Dambury, em Connecticut (EUA), as dificuldades chegaram ao limite e os dois, com os filhos, devem retornar ao Brasil. “Meu marido perdeu o emprego na construção civil. A empresa fechou”, conta Camila. Os dois temem a deportação. Segundo Abigail Amorim, representante da organização The Brazilian Alliance in United States (Aliança Brasileira nos EUA), muitos brasileiros enfrentam dificuldades. “Tenho notado o regresso de casais com filhos pequenos, devido à lenta recuperação do país com a crise econômica”, analisa.

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