por Altamiro Borges, em seu blog
Em sua página no Facebook, a ex-ministra Helena Chagas, da Secretaria
de Comunicação da Presidência da República (Secom), resolveu enfrentar a
polêmica sobre a destinação das verbas publicitárias do governo. Ela
até apresenta alguns ideias positivas para resolver as distorções
atuais, nas quais os impérios midiáticos ficam com o grosso dos recursos
públicos – “ou seja, o meu, o seu, o nosso”. Mas, talvez ressentida por
ter deixado a Secom, ela utiliza uma grosseria para atacar os que
criticam a política de publicidade do governo. Insinua que “o chororô de
quem acha que levou pouco e quer mais” poderia resultar numa “ação
entre amigos”.
De que “amigos” ela está se referindo?
Em seu texto, postado no sábado (8), Helena Chagas defende
enfaticamente a chamada “mídia técnica”, que se baseia somente em
critérios de audiência e tiragem para distribuir as verbas
publicitárias. Para ela, esta “é a melhor fórmula que se inventou até
hoje para aplicação correta e eficiente dos recursos públicos destinados
a investimentos de mídia”. Ela lembra que, atualmente, “são 9.963
veículos cadastrados e aptos a receber mídia em todo o país, na
proporção de suas audiências e circulação. É exatamente isso o que é
feito na Secom”.
A opção do governo pela “mídia técnica” já gerou inúmeras
contestações. Ela parte de uma visão mercadológica, que beneficia sempre
os mais fortes e sabota a pluralidade e diversidade nos meios de
comunicação. Ou seja: ele serve apenas aos atuais monopólios midiáticos.
Além disso, ela se baseia em sondagens sobre audiências e tiragens
bastante questionáveis. Alguém confia nas pesquisas do Ibope – já
apelidado do Globope? A tal “mídia técnica” inclusive não leva em devida
conta as profundas mudanças no setor, com a explosão de um novo
jornalismo na era da Internet!
A própria ex-ministra reconhece, timidamente, que há distorções nesta
fórmula e defende uma discussão “aberta e saudável” sobre o tema. “Não
sou contra iniciativas do Estado para promover a pluralidade e a
diversidade da comunicação para que o cidadão tenha acesso ao número
mais amplo e variado possível de informações, abordagens e enfoques. Só
acho que isso, quando implicar ajuda financeira a esses veículos, deve
ser feito de forma aberta, transparente e democrática, com programas
designados especificamente para este fim”.
Ela até apresenta uma sugestão de abordagem para o complicado
assunto. “Da mesma forma como o governo dá condições especiais de
crédito e vantagens tributárias às micro e pequenas empresas, poderia
fazê-lo para as pequenas empresas de mídia. No limite, pode até aprovar
uma lei determinando que uma fatia da verba publicitária seja destinada
aos ‘pequenos’”. Até aí, tudo bem. É um debate “saudável”. A grosseria,
porém, surgiu no intertítulo (“ação entre amigos”) e no último parágrafo
da sua postagem.
A ex-ministra da Secom dispara que não seria correto, “à luz da atual
legislação e dos novos tempos de transparência na administração
pública, transformar investimentos em mídia em ações entre amigos, por
maior que seja o chororô de quem acha que levou pouco e quer mais.
Simples assim, minha gente”. Mas não é tão simples assim e nem tão
transparente e “republicano”. A quem Helena Chagas se refere? Quem é que
fez mais visitas e chororô no gabinete na Secom em Brasília nestes seus
três anos a frente do órgão? Quem levou muito, mesmo sem merecer?
Como ex-jornalista das Organizações Globo, a ex-ministra sabe que
este império midiático foi construído graças às benesses da ditadura
militar, que garantiu toda a infraestrutura de transmissão e ainda
desrespeitou a legislação brasileira, ao permitir a participação da
estadunidense Time-Life na criação da emissora. Isto sim foi uma “ação
entre amigos” – entre os generais golpistas e a famiglia Marinho. Ela
também sabe que a poderosa rede foi erguida a partir de concessões
públicas para afiliadas regionais sem qualquer transparência e por
motivações políticas.
Ela tem consciência que a Rede Globo sempre abocanhou o grosso das
verbas publicitárias dos governos, mesmo com a sua recorrente perda na
audiência e para desespero das suas concorrentes no mítico “livre
mercado”. No reinado neoliberal de FHC, esta política foi, sim, uma
“ação entre amigos”. A famiglia Marinho ajudou a eleger e depois blindou
o tucano, salvando-o das denúncias da compra de votos para a reeleição
ou do escândalo da privataria. FHC retribuiu a cortesia e transformou a
Secom numa antessala da Rede Globo.
Já nos governos Lula e Dilma, a política da Secom foi, no geral, uma
“ação entre inimigos”. Com exceção do período de Franklin Martins – em
que a TV Globo sabotou a Conferência Nacional da Comunicação (Confecom),
bombardeou a criação da TV Brasil e chiou contra as tímidas mudanças na
distribuição das verbas publicitárias –, até hoje a famiglia Marinho
não sofreu maiores abalos no seu poder de monopólio. Não é para menos
que os três filhos de Roberto Marinho figuram na lista dos maiores
bilionários do planeta e lideram, de fato, a oposição no Brasil.
Durante a gestão de Helena Chagas, a Secom até tentou, por
pragmatismo e medo, ser “amiga” da TV Globo, mas o governo Dilma seguiu
sendo tratado como “inimigo”. Esta política masoquista de comunicação é
que deve ser reavaliada, num “debate saudável”! Do contrário, as
opiniões da ex-ministra apenas alimentarão cobras.
Não é para menos que o jornal
O Globo elogiou a sua
recente postagem no Facebook. Para o jornalão, a ex-ministra só caiu
porque foi alvo do PT, que pretende maiores investimentos na internet,
“onde estão os chamados blogs amigos do governo, com posições alinhadas
ao partido. Há setores que defendem inclusive mudanças nos critérios de
medição do alcance dos veículos”. Mesmo sem Helena Chagas, a famiglia
Marinho quer manter o seu poder!
http://www.viomundo.com.br/politica/altamiro-borges-a-que-amigos-a-ex-ministra-esta-se-referindo.html