segunda-feira, 1 de agosto de 2011

A longa guerra entre sunitas e xiitas



Olivier Roy

23/6/2011, Olivier Roy, New Statesman
[or. em francês, trad. Para NS por Jonathan Derbyshire] The long war between Sunni and Shia
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu
Olivier Roy é professor de Teoria Social e Política no Instituto Universidade Europeia em Florença, Itália.


A leste do rio Jordão, o cisma geopolítico e religioso no Oriente Médio, define o fosso no entendimento entre Arábia Saudita e Irã

Paquistaneses muçulmanos xiitas marcham durante um protesto em Karachi contra o governo Bahrain, em 01 de maio de 2011. Foto: Getty Images

É tal a força dos movimentos pró-democracia no Oriente Médio que, pela primeira vez no mundo árabe, a revolução não se ligou a alguma grande causa supranacional: panarabismo, panislamismo, socialismo, apoio aos palestinos, anticolonialismo, antissionismo ou anti-imperialismo. Os novos movimentos são patrióticos, em vez de nacionalistas; lançam raízes num contexto doméstico; e confrontam as autoridades, sem acusá-las de agir como fantoches de potência estrangeira.

Isso não implica dizer que as grandes fissuras geoestratégicas sumiram, mas que existem, em primeiro lugar, na mente dos líderes que ainda não caíram, os quais, quando não se contentam com lutar exclusivamente pela própria sobrevivência (como no Iêmen), interpretaram as revoltas em termos de suas implicações regionais mais amplas. Vale também para os israelenses, os quais, como o regime saudita em Riad, só fizeram calcular as prováveis consequências da agitação social reinante. Embora as potências ocidentais se congratulem pela onda de democratização que estimularam, aquelas mesmas potências, simultaneamente, são extremamente sensíveis à dimensão geoestratégica – como o comprova o silêncio das potências ocidentais no caso da repressão aos manifestantes no Bahrain.

O que vemos emergir é uma estranha dicotomia, sem precedentes na história contemporânea. Até agora, todos os movimentos revolucionários trabalharam para favorecer, no plano real ou imaginário, ou uma grande potência, ou uma ideologia. Por muito tempo, foi a União Soviética; depois, foi o islamismo – e não se pode esquecer o papel que o ocidente desempenhou nas manifestações que levaram ao desmanche do Muro de Berlim.

Mas, agora, parecem estar ativadas duas lógicas políticas estanques. Não há ilustração mais eloquente dessa desconexão, que imagens que chegaram da Síria dia 5 de junho: de um lado, sírios que arriscam a própria vida para manifestar-se contra o governo de Bashar al-Assad; de outro, refugiados palestinos em marcha, na Síria, encorajados pelas autoridades em Damasco, na direção da própria morte sob fogo do exército de Israel, nas Colinas do Golan. A primeira impressão é que os dois grupos de manifestantes vivem em países diferentes.

É preciso distinguir entre os países nos quais as apostas geoestratégicas são baixas – ou, dito de outro modo, estão controladas –, e os países nos quais a derrubada do regime é interpretada, correta ou erradamente, como prelúdio de levante mais amplo.

No primeiro grupo, estão Tunísia, Líbia e Iêmen. Esses três países são periféricos, em relação às alianças e aos conflitos pan-regionais. A Tunísia, quase certamente, adotará linha em larga medida pró-ocidente e o país olha na direção da Europa. Muammar al-Gaddafi vive isolado, há muito tempo, no mundo árabe. E o Iêmen, embora seja importante para a Arábia Saudita, essa importância advém, sobretudo, de o risco de qualquer instabilidade interna no Iêmen poder atingir a fronteira sul do reino saudita. Paradoxo, aqui, é o Egito.

O Egito é ator central no conflito Israel-palestinos e, para muitos, essa confrontação está no âmago das tensões que convulsionam o mundo árabe. Apesar disso, a derrubada do presidente Hosni Mubarak praticamente não teve nenhum impacto geoestratégico.

Ninguém duvida de que a opinião pública egípcia faz críticas fortes contra o que o governo Mubarak fez a favor de Israel e não aprova a colaboração entre Cairo e Telavive nos ataques contra o Hamás, no cerco à Faixa de Gaza, nem no fornecimento de gás a Israel. Apesar disso, é evidente que a derrubada de Mubarak pouco alterará, de fundamental, no estado de coisas vigente durante a ditadura.

Mesmo que o Egito se abra um pouco mais para o Hamás e os palestinos em geral, a linha vermelha do tratado de paz com Israel dificilmente será rompida. Mais do que isso, essa abertura poderia promover o processo de paz, ao trazer o Hamás de volta ao plano dos contatos políticos e democráticos. O principal obstáculo nessa direção está em Telavive, não no Cairo.

A “neutralidade” dos eventos no Egito revela também algo mais profundo, que vários analistas experientes do mundo árabe ainda relutam em reconhecer. O conflito Israel-palestinos, apesar do impacto emocional que tem em toda a Região, não é fator ativo na atual mobilização no mundo árabe e já não tem papel determinante na modelagem da política externa dos estados árabes – exceto na Síria.

A evolução do conflito dependerá de relações entre israelenses e palestinos dentro das fronteiras históricas da Palestina do Mandato, não das políticas dos estados árabes. O conflito árabes-israelenses cedeu lugar ao conflito entre israelenses e palestinos. Basta ver o desconforto que os movimentos novos, pró-democracia, causam a Israel[1], a irritação que provocam, para ver que a irritação é praticamente a mesma também entre as lideranças palestinas.

Isso não implica dizer que os novos movimentos não terão impacto algum nos rumos do conflito entre israelenses e palestinos. Terão impacto, se por mais não for, porque estão fazendo despertar um gosto por melhor democracia e pela não-violência entre palestinos e também entre israelenses; isso, por sua vez, impede Israel de continuar a apresentar-se como “a única (e perfeita) democracia no Oriente Médio”, único baluarte ocidental contra o terrorismo e o islamismo. A onda de democratização já forçou os partidos Hamás e Fatah a construir um acordo, porque ambos temem ser surpreendidos por movimentos populares (uma IIIa. Intifada anti-Israel); e o governo de Israel começa a enfrentar as primeiras manifestações “da rua[2].

O que ainda não se sabe é se esse desenvolvimento será acompanhado por um governo israelense interessado em mudanças. Não é o caso do governo que está no poder em Israel. A direita israelense não quer retomar um processo que trará de volta à agenda a questão das fronteiras. A disjunção essa direita impermeável a qualquer conciliação, a evolução do quadro regional e a cultura em processo de transformação entre os jovens palestinos fará aumentar o isolamento internacional de Israel (por mais que a direita israelense creia que suportará o isolamento e que, além disso, também conseguirá prosseguir na colonização dos territórios ocupados até que seja irreversível).

Hoje, a principal fratura que divide o mundo árabe – pelo menos a leste do rio Jordão – é a oposição entre, de um lado, um bloco árabe sunita dominado pela Arábia Saudita; e, por outro lado, o Irã.

Nos últimos 30 anos, os sauditas viram o Irã como a principal ameaça regional; e tentaram, com diferentes graus de sucesso, mobilizar o nacionalismo árabe, além de todas as formas da militância dos sunitas, para conter as tentativas do Irã, interessado em converter-se em principal potência regional. Nesse contexto, Riad considera os movimentos democráticos que cresceram no Bahrain como dupla ameaça: uma ameaça interna, porque o movimento mina a legitimidade da monarquia reinante (e, com ela, também a legitimidade da monarquia saudita); e também como ameaça externa, porque põe em risco um equilíbrio estratégico até hoje considerado vital – a oposição entre o Irã e a Arábia Saudita, a partir da fissura que, para Riad seria a fissura que define o Golfo: entre sunitas e xiitas.

Oficialmente, o Irã não explorou essa divisão, porque não tem interesse em confinar-se num ghetto. Em vez disso, os iranianos procuraram ir além do conflito entre sunitas e xiitas, apresentando-se como vanguarda da causa árabe, mediante o apoio que dão aos palestinos e ao Hezbollah.

Nos anos 1980s, o Irã foi o grande perdedor nas divisões sunitas-xiitas que a Revolução Islâmica iraniana tanto fez para fomentar. Só as minorias xiitas no mundo árabe apoiavam o Irã (e mesmo assim, sem unanimidade). Durante a guerra Iraque-Irã, os ba'athistas confiaram numa coalizão baseada no nacionalismo árabe e no panislamismo sunita, o que permitiu que isolassem os iranianos (Saddam Hussein destruiu temerariamente essa coalizão, ao invadir e Kuwait em 1990).

Disso tudo o Irã extraiu a seguinte lição: a Revolução Islâmica não faria avançar sua causa; mas, sim, a militância antiamericana, o apoio aos palestinos e a nova posição do país como potência regional, que daria segurança ao Golfo que nem os sauditas nem os EUA haviam conseguido oferecer. Essa política chegou ao apogeu com a guerra no Líbano em julho de 2006, quando o Hezbollah derrotou Israel, e Hasan Nasrallah surgiu como novo campeão da causa árabe. Mas tudo mudou outra vez com a execução de Saddam Hussein alguns meses depois. A execução foi vista como vingança dos xiistas aprovada por iranianos e EUA.

Os xiitas árabes não são uma 5ª Coluna iraniana: xiitas no Iraque e no Bahrain já entenderam, há muito tempo, os perigos de converterem-se em instrumentos do Irã. São em primeiro lugar e, sobretudo, iraquianos e bahrainis; e lutam para ser reconhecidos como cidadãos plenos nos países nos quais vivem. Mas, como o Hezbollah no Líbano, dependem do apoio iraniano, em ambiente sunita hostil.

A Arábia Saudita está por trás da elaboração de uma grande narrativa que joga os xiitas persas contra os sunitas árabes e na qual os xiitas árabes são vistos como persas que falam árabe (ou como hereges, segundo a doutrina wahhabista). Esse é um dos poucos casos em que a política externa do reino saudita serve-se de justificação religiosa – o que explica a ambivalência que Riad sempre manifestou contra os movimentos sunitas de linha-dura, dos Talibã aos novos jihadistas em Fallujah. Já há algum tempo, a questão palestina passou a ser marginal para os sauditas; só se têm manifestado a favor dos palestinos nos casos em que tenha surgido oposição popular entre povos árabes.

O verdadeiro problema para os sauditas, como para Israel, é a “ameaça iraniana”. Mas aqui a profecia se realiza: ao negar plena cidadania aos xiitas do Bahrain, a Arábia Saudita, de fato, aparece como uma 5ª Coluna iraniana.

E há a questão nevrálgica da Síria. Os sírios são os principais aliados dos iranianos na Região; e todos, dos sauditas aos israelenses, festejariam o fim do governo de Damasco. Mas a ansiedade reina, porque as consequências da mudança de regime, nesse caso, são imprevisíveis. A ideia de que haveria interesse nacional estável e facilmente identificável, que persistiria mesmo que o poder mude de mãos é aplicável nos casos de Tunísia e Egito. Mas aplicar-se-ia à Síria? Qual poderia ser a política externa de uma Síria pós-ba'athistas? Difícil dizer, porque a estratégia regional da família Assad sempre foi intimamente conectada a considerações de política interna.

Durante 40 anos, Damasco seguiu estratégia de permanente tensão com Israel, apresentando-se como defensora do nacionalismo árabe. Mas, simultaneamente, seguiu uma modalidade diplomática de realpolitik: jamais cruzou linhas ‘intransponíveis’ e, simultaneamente, manteve intactas várias alianças. Derrubar o regime sírio hoje implicaria pôr fim a esse jogo sutil e complexo, mas estável; e ninguém sabe a que poderia levar algum outro (qualquer outro) governo sírio.

Um medo do desconhecido paralisa todos os estados em volta da Síria – exceto, talvez, a Turquia, que parece ser o único país vizinho que se prepara para uma era pós-Assad. É bem possível que, quando a poeira afinal baixar, que a Turquia apareça como grande vitoriosa nas convulsões atuais na Região; e que se fixe como um novo pólo de estabilidade no Oriente Médio (evidentemente, se conseguir resolver a eterna questão dos curdos).



Notas dos tradutores
[1] Ver “Israel tenta pegar carona na Primavera Árabe”, M K Bhadrakumar, 28/7/2011 (em português).
[2] Ver “Boycotting Israel fascism?”, Mark LeVine, 26/7/2011, Al-Jazeera. (em tradução).

'Fantástico' distorceu depoimento de Macarrão, diz advogado

 

Wasley Vasconcelos pediu uma cópia sem cortes da gravação para anexar ao processo e disse que a edição do programa dá margem a interpretações diferentes do que o réu afirmou

Do Portal Terra

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O advogado Wasley Vasconcelos, que defende Luiz Henrique Romão, o Macarrão, um dos acusados pelo desaparecimento e morte de Eliza Samudio, entrou com um requerimento no Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG), nesta segunda-feira, pedindo uma cópia da entrevista exibida no domingo pelo programa Fantástico, da TV Globo. Segundo Vasconcelos, as declarações feitas por Macarrão ao programa foram distorcidas pela emissora.

De acordo com ele, o depoimento de Macarrão durou cerca de duas horas, mas a edição ocultou declarações importantes que seu cliente teria dito. Vasconcelos disse ainda que pediu uma cópia sem cortes para anexar ao processo. "O que eles (Globo) fizeram dá margem para novas interpretações da acusação, isso pode prejudicá-lo", disse.

O advogado afirmou também que, na entrevista, Macarrão teria dito que quando trouxe Eliza e o adolescente J. - primo do ex-goleiro Bruno - do Rio de Janeiro a Belo Horizonte (MG), eles teriam dado carona a um policial militar até a cidade de Juiz de Fora, no interior de Minas. "Se ele (Macarrão) tivesse que temer alguma coisa, porque ele daria carona para um policial?", indagou.

Segundo Vasconcelos, a edição do programa também prejudicou seu cliente ao fazer cortes em um trecho em que Macarrão fala de Bruno. "No que foi ao ar, a edição mostra o Luiz Henrique falando que ama o Bruno, mas corta o resto da frase, em que ele diz que não seria capaz de matar ninguém pela amizade", explicou.

Na entrevista que deu ao Fantástico, o amigo do goleiro afirmou que não tem envolvimento com o desaparecimento e morte de Eliza Samudio. Ele afirmou que entregou R$ 30 mil a Eliza, a deixou em um ponto de táxi e foi embora.

Macarrão já havia prestado depoimento à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem (MG), no dia 21 de julho deste ano. Na ocasião, o amigo de Bruno também negou as acusações.

O caso Bruno


Eliza desapareceu no dia 4 de junho de 2010 quando teria saído do Rio de Janeiro para Minas Gerais a convite de Bruno. No ano anterior, a estudante paranaense já havia procurado a polícia para dizer que estava grávida do goleiro e que ele a agrediu para que ela tomasse remédios abortivos. Após o nascimento da criança, Eliza acionou a Justiça para pedir o reconhecimento da paternidade de Bruno.


No dia 24 de junho, a polícia recebeu denúncias anônimas de que Eliza havia sido espancada por Bruno e dois amigos dele até a morte no sítio de propriedade do jogador, localizado em Esmeraldas, na Grande Belo Horizonte. Na noite do dia 25 de junho, a polícia foi ao local e recebeu a informação de que o bebê apontado como filho do atleta, então com 4 meses, estava lá. A mulher do goleiro, Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, negou a presença da criança na propriedade. No entanto, durante depoimento, um dos amigos de Bruno afirmou que havia entregado o menino na casa de uma adolescente no bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, onde foi encontrado.

Enquanto a polícia fazia buscas ao corpo de Eliza seguindo denúncias anônimas, em entrevista a uma rádio no dia 6 de julho, um motorista de ônibus disse que seu sobrinho participou do crime e contou em detalhes como Eliza foi assassinada. O menor citado pelo motorista foi apreendido na casa de Bruno no Rio. Ele é primo do goleiro e, em dois depoimentos, admitiu participação no crime. Segundo a polícia, o jovem de 17 anos relatou que a ex-amante de Bruno foi levada do Rio para Minas, mantida em cativeiro e executada pelo ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola ou Neném, que a estrangulou e esquartejou seu corpo. Ainda segundo o relato, o ex-policial jogou os restos mortais para seus cães.


No dia seguinte, a mulher de Bruno foi presa. Após serem considerados foragidos, o goleiro e seu amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão, acusado de participar do crime, se entregaram à polícia. Pouco depois, Flávio Caetano de Araújo, Wemerson Marques de Souza, o Coxinha Elenilson Vitor da Silva e Sérgio Rosa Sales, outro primo de Bruno, também foram presos por envolvimento no crime. Todos negam participação e se recusaram a prestar depoimento à polícia, decidindo falar apenas em juízo.


No dia 30 de julho, a Polícia de Minas Gerais indiciou todos pelo sequestro e morte de Eliza, sendo que Bruno foi apontado como mandante e executor do crime. Além dos oito que foram presos inicialmente, a investigação apontou a participação de uma namorada do goleiro, Fernanda Gomes Castro, que também foi indiciada e detida. O Ministério Público concordou com o relatório policial e ofereceu denúncia à Justiça, que aceitou e tornou réus todos os envolvidos. O jovem de 17 anos, embora tenha negado em depoimentos posteriores ter visto a morte de Eliza, foi condenado no dia 9 de agosto pela participação no crime e cumprirá medida socioeducativa de internação por prazo indeterminado.


No início de dezembro, Bruno e Macarrão foram condenados pelo sequestro e agressão a Eliza, em outubro de 2009, pela Justiça do Rio. O goleiro pegou quatro anos e seis meses de prisão por cárcere privado, lesão corporal e constrangimento ilegal, e seu amigo, três anos de reclusão por cárcere privado. Em 17 de dezembro, a Justiça mineira decidiu que Bruno, Macarrão, Sérgio e Bola serão levados a júri popular por homicídio triplamente qualificado, sendo que o último responderá também por ocultação de cadáver. Dayanne, Fernanda, Elenilson e Wemerson também irão a júri popular, mas por sequestro e cárcere privado. Além disso, a juíza decidiu pela revogação da prisão preventiva dos quatro. Flávio, que já havia sido libertado após ser excluído do pedido de MP para levar os réus a júri popular, foi absolvido. Além disso, nenhum deles responderá pelo crime de corrupção de menores.

Hotéis sul-africanos às moscas um ano após a Copa do Mundo

 

Setor de turismo investiu em melhorias, mas os visitantes não voltaram após o mundial

AFP

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Por falta de frequentadores, os hotéis sul-africanos estão tendo problemas para enfrentar a temporada de inverno, um ano após o país a Copa do Mundo sediada pelo país, evento para o qual muitos estabelecimentos fizeram importantes investimentos. A taxa de ocupação do Conselho da Indústria Turística da África do Sul (TBCSA, na sigla em inglês), a TBI, estava em 74,5% no segundo trimestre do ano. A previsão era de 94%. "O último índice TBI confirma o que observamos no dia a dia", lamenta Mmatsatsi Marobe, diretora-geral da TBCSA.

Enquanto muitos hotéis baixaram os preços para tentar contornar a situação - especialmente na Cidade do Cabo, capital turística que está vazia neste inverno - um dos grandes hotéis de Johannesburgo recentemente anunciou que fechará as portas no final de agosto. "O hotel sofreu uma drástica redução no número de turistas, tanto estrangeiros quanto locais. A queda foi ainda maior em relação aos visitantes a negócios", revela o grupo Hyprop, propietário do Grace Hotel. Entre as causas ele destaca principalmente "as pressões contínuas da recessão mundial, que afeta negativamente a indústria do turismo sul-africano".

"Pensávamos que após o Mundial (que aconteceu de junho a julho de 2010) teríamos um aumento no número de turistas. Mas as dificuldades econômicas continuam, não temos tantos turistas como esperávamos", explica Marobe. "Os estrangeiros não visitam o país e os empresários locais tomam o último avião antes de passar a noite em um hotel", analisou Marobe, destacando que os estabelecimentos mais modestos também são vítimas da tendência.

Marobe afirma ainda que a a situação se agravou porque para o Mundial foi ampliada a oferta hoteleira no país, aumentando a concorrência. De acordo com um estudo de um escritório especializado, a capacidade hoteleira aumentou em 17,4% entre 2007 e 2010 na África do Sul, com 28,5% para os de cinco estrelas e 19,7% para os de quatro. Os hotéis também tiveram que enfrentar nos últimos meses um aumento nos gastos devido aos salários de seus funcionários, na eletricidade e nos impostos municipais.

A previsão não aponta números para 2011, mas as perspectivas do turismo, que representa 8% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, não são muito positivas, ainda que o ministro do Turismo, Marthinus Van Schalwyk, se mostre otimista. "Temos como objetivo aumentar o número de visitantes estrangeiros. Em 2009 foram sete milhões e esperamos que em 2020 chegue a 15 milhões", observou Van Schalwyk em uma recente coletiva de imprensa na Cidade do Cabo.

Ele acredita ainda que até o final desse ano cerca de 18 milhões de sul-africanos escolham viajar pelo país. Em 2009 este número foi de 14,6 milhões. O Governo espera que o setor de turismo arrecade 499 bilhões de rands por ano (51 bilhões de euros) para a economia do país. Caso este valor seja alcançado, ele irá gerar 225 mil empregos no setor.

Van Schalwyk pretende sobretudo fortalecer o turismo de negócios, um setor que em sua opinião é muito importante para combater os problemas da sazonalidade, que geralmente marca o turismo de lazer no país. Outras alternativas apontam para a diversificação, a promoção do turismo desportivo, ecológico e gastronômico: a Cidade do Cabo, por exemplo, tem previsto para setembro de 2012 o primeiro salão dedicado ao turismo do vinho.

Adolescente que sobreviveu ao massacre escreve carta aberta ao assassino norueguês

 

"Você se descreve como um herói, como um cavaleiro. Mas não é um herói. Uma coisa é certa: você criou heróis" diz o jovem

AFP

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"Não respondemos ao Mal com o Mal como você queria. Combatemos o Mal com o Bem. E venceremos". Com essas palavras, um jovem de 16 anos, sobrevivente da matança de Utoya, na Noruega, dirigiu uma carta aberta ao autor da chacina, afirmando que ele fracassou em seus propósitos.

"Talvez, possa pensar que saiu ganhando. Matando meus amigos e companheiros, talvez acreditasse que destruiria o Partido Trabalhista e as pessoas que, em todo o mundo, acreditam numa sociedade multicultural", escreveu Ivar Benjamin Oesteboe, de 16 anos, em carta publicada pela imprensa nesta segunda-feira e que começa por um "Querido Anders Behring Breivik", nome do autor de um duplo atentado no qual morreram 77 pessoas.

"Saiba que fracassou", acrescentou Oesteboe, que perdeu cinco de seus amigos em Utoya, a ilha na qual a juventude trabalhista celebrava num campus e onde Behring Breivik matou a tiros 69 pessoas, pouco depois de fazer explodir uma bomba no centro de Oslo, causando outros oito mortos. O documento foi publicado no Facebook e, posteriormente, reproduzido pelo jornal Dagbladet. "Você se descreve como um herói, como um cavaleiro. Mas não é um herói. Uma coisa é certa: você criou heróis. Em Utoya, naquele calorento dia de julho, você criou alguns dos maiores heróis que o mundo jamais conheceu, uniu toda a humanidade", continuou o adolescente.

"Muitos estão indignados, é o homem mais odiado da Noruega. Mas eu não estou. Não tenho medo de você. Não nos pode alcançar, somos maiores que você", disse o jovem em sua carta, que conclui com a frase: "Não respondemos o Mal com o Mal como queria. Combatemos o Mal com o Bem. E venceremos".
Behring Breivik justificou seus ataques alegando querer iniciar uma guerra na Europa contra o Islã e a esquerda multicultural.

Jobim elogia Dilma e diz que quer ficar no governo

BERNARDO MELLO FRANCO
DE SÃO PAULO


O ministro Nelson Jobim (Defesa) afirmou nesta segunda-feira (1º) que não está demissionário e que deseja permanecer no governo.

Em entrevista ao "Roda Viva", da TV Cultura, ele disse ter "prazer" no cargo e rasgou elogios à presidente Dilma Rousseff, que estuda substituí-lo.

"A presidente Dilma é extraordinária. Minha relação com ela é ótima. Ela tem uma grande visão de Estado, uma visão de futuro", disse.

O peemedebista irritou Dilma na semana passada ao declarar, em entrevista à Folha e ao UOL (empresa controlada pelo Grupo Folha, que edita a Folha), que votou em José Serra (PSDB) na eleição presidencial de 2010.

Seis dias depois, ele disse não se sentir desconfortável na Esplanada.

"Eu não tenho nehum problema, nenhuma dificuldade. Eu estou no governo porque me dá prazer", afirmou. "Sou ministro por prazer. Tenho desejo de continuar a fazer aquilo que estou fazendo."

Questionado se teria vontade de deixar o governo, Jobim foi enfático: "Não. Absolutamente. Não mesmo. Eu tenho um projeto para tocar".

O ministro repetiu a versão de que teria informado seu voto em Serra ao ex-presidente Lula durante a campanha. E disse não ter enganado a atual chefe, que enfrentou o tucano no segundo turno.

"Alguém pode não acreditar, mas eu não sou dissumulado. Sempre fui assim."

A gravação da entrevista teve início na tarde desta segunda-feira nos estúdios da TV Cultura, em São Paulo, e vai ao ar na noite

Muçulmanos são “terroristas”; ocidentais são “homens maus”




A imprensa grande ocidental acha-se a braços com uma dificuldade de oceânica dimensão. Primeiro, as “barrigas” de imprensa ao redor do mundo, ao dar voz a autoridades dos EUA e Europa que apontaram dedos para “muçulmanos” como autores dos atentados terroristas de Oslo e ilha de Utoya. A “barriga” mais célebre foi a do Wall Street Journal, da rede News do gângster de extrema-direita Rupert Murdoch, que reapontou a autoria de muçulmanos em editorial, mesmo após a polícia ter identificado o autor norueguês.

Após as barrigas iniciais, acham-se agora em andamento os malabarismos para apresentar o autor como “homem mau”, “louco”, etc. A imprensa não sabe o que fazer com a realidade, e tenta escamotear as verdades que vêm à tona com os atentados.

O autor de 32 anos, Anders Breivik, filho de ex-diplomata norueguês e fazendeiro, é velho participante de grupos de extrema-direita islamófobos de seu país; foi, por exemplo, membro do neofascista Partido do Progresso norueguês. Suas extensas ligações vêm sendo levantadas pelos inquéritos, mas omitidas pela imprensa, que insiste em apresentá-lo como agente que operou “sozinho”, em atendimento a suas convicções. Antes, Breivik havia postado na rede um calhamaço de 1.500 páginas, em que desenvolveu suas teorias sobre a necessidade de salvar o Ocidente e seus valores ameaçados pela maré muçulmana, com alertas contra o “marxismo cultural” e o “multiculturalismo”.

O discurso é o mesmo da neofascista italiana Liga Norte, que oferece apoio a outro gângster gordo, o indigno e putanheiro Silvio Berlusconi, e da mais fascista ainda Frente Nacional francesa, em que avulta a filha do antigo líder, Marine Le Pen, com 25% das intenções de voto para presidente. Dezenas de movimentos neofascistas (afinal, neo apenas porque são mais recentes, mas a matriz permanece a mesma) espalham-se pela Europa, sob o influxo de duas forças básicas: o agravamento da situação econômico-financeira e social e a presença maciça de imigrantes muçulmanos em muitos países, alvo fácil para acusações de toda ordem. Não por acaso, esses movimentos são alinhados com Israel e com as políticas israelenses para seus “inimigos” muçulmanos, como palestinos e iranianos. Breivik escreve isso com letras fortes.

Os governos de direita estabelecidos, por exemplo, na Itália e na França vêm aplicando medidas de contenção contra muçulmanos, como a proibição do uso público de véus e de práticas religiosas e a imposição de barreiras à imigração. Os dois países estão na linha de frente dos derrotados por Gaddafi na invasão líbia, e agora se vêem na incômoda posição de ter de negociar com o demônio. A imprensa grande, ao magnificar o caráter “isolado” dos atos terroristas de Breivik, omite suas relações com diversos grupos europeus e até mesmo a existência de uma rede de apoios tão vasta quanto as oficiais como a da OTAN.

Mas aos poucos as faces reais vão aflorando. Dois destacados membros da direção da Frente Nacional francesa, Jacques Coutela e Lauren Ozon, defenderam Breivik e justificaram os atentados em blogs. Para Coutela, Breivik é um “combatente resistente”, o “primeiro defensor do Ocidente” e o “Carlos Martelo II” (rei franco que conteve a invasão muçulmana via Espanha em 732, na batalha de Poitiers). Disse mais: que Breivik “não é um ícone, mas simplesmente um visionário contra a crescente islamização da Europa, com cumplicidade dos governantes e [autoridades da União Européia] em Bruxelas”. Pregou a expulsão dos “que querem impor o alimento hallal, mesquitas, pedofilia e ocupação de nossas ruas”.

Ozon também deu suporte ao terrorista Breivik, e afirmou que a explicação do ocorrido em Oslo deve levar em conta “a explosão da imigração”, que cresceu seis vezes do patamar de 1970 até hoje. Na Itália, o líder fascista Francesco Speroni registrou que “as idéias de Breivik vão na direção da defesa da civilização ocidental”. A Frente Nacional, dirigida por parâmetros de marketing político em face das futuras eleições, “afastou” Coutela (Ozon, não) e afirmou que a Frente nada tem a ver com o atentado, “trabalho de uma pessoa desequilibrada solitária”.

A ascensão de forças fascistas são fenômeno que costuma fortalecer-se em crises e momentos em que as regras do jogo sociopolítico entram em tensão. Nos EUA, o pusilânime BHObama vem sendo anulado pelos republicanos, e, para não soçobrar, acabou cedendo, não a contragosto, sem dúvida, a suas plataformas anti-povo de manutenção de cortes de impostos para ricos e aumento de cortes de recursos de programas sociais essenciais. Isso, num cenário de progressivo empobrecimento dos trabalhadores e das camadas de baixo da sociedade. As políticas de “austeridade”, tanto na Europa quanto nos EUA, são orquestradas para que o povo pague a conta e os governos possam permitir aos bancos “manter suas posições”.

A imprensa grande enfrenta ainda ondas altas no oceano de contorcionismos em que se enreda. O “solitário” Breivik abrigava seis pessoas em seu apartamento por ocasião dos atentados. A polícia, logo após os deter, liberou todos sob alegação de que eram inocentes. Como se chegou a essa conclusão em tão pouco tempo, na mesma manhã dos atentados, isso a polícia não explicou. Breivik mantinha estoques de explosivos em sua fazenda, mas a imprensa (a polícia?) não divulga sua dimensão ou quantidade. A Scotland Yard descobriu ligações entre Breivik e a extrema-direita britânica, mas as operações vêm sendo feitas “sob sigilo”, conforme se divulga.

Após as explosões no centro, Breivik chegou rapidamente à ilha em que matou mais de 70 jovens do partido do governo. A polícia, avisada por aflitos telefonemas de celulares, levou 60 minutos para chegar. Também não há explicações, além de uma vaga afirmação de “helicóptero quebrado”. As políticas dos EUA de “guerra ao terror” implicam a militarização das polícias, que se armam e se reorientam para enfrentar os “terroristas”.

Ou o governo norueguês, membro da OTAN com tropas presentes no Afeganistão, não segue as recomendações de Washington, ou sua polícia abriga membros suspeitos de colaboração com seus alvos. Ou os dois, já que a fictícia “guerra ao terror” não merece mais crédito.

Resta o que se vê: bombardeios de civis no Afeganistão, Paquistão, Yêmen e Somália; destruição da infra-estrutura civil de vida na Líbia; apoio aos sucessores de ditaduras no Egito e adjacências; alinhamento suicida com a genocida Israel; atentados terroristas, que só prometem aumentar, dentro do coração da Europa.

Não há dúvida entre os círculos de analistas de que os atentados terroristas partidos de forças internas estarão inscritos no futuro da Europa. Até que mesmo governos tergiversantes, como o do patético Sarkozy, sejam jogados em terra, sucedidos por novos pequenos ditadores que cortarão mais impostos dos ricos, agravarão as precárias condições de vida das camadas que trabalham e mantêm o Estado.

Em suma, uma Europa cada vez mais igual aos EUA. Futuros comuns. Com certeza, indesejáveis.


Publicado em 29/07/2011 por Chico Villela
Extraído do sítio NovaEra