segunda-feira, 1 de agosto de 2011

'Fantástico' distorceu depoimento de Macarrão, diz advogado

 

Wasley Vasconcelos pediu uma cópia sem cortes da gravação para anexar ao processo e disse que a edição do programa dá margem a interpretações diferentes do que o réu afirmou

Do Portal Terra

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O advogado Wasley Vasconcelos, que defende Luiz Henrique Romão, o Macarrão, um dos acusados pelo desaparecimento e morte de Eliza Samudio, entrou com um requerimento no Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG), nesta segunda-feira, pedindo uma cópia da entrevista exibida no domingo pelo programa Fantástico, da TV Globo. Segundo Vasconcelos, as declarações feitas por Macarrão ao programa foram distorcidas pela emissora.

De acordo com ele, o depoimento de Macarrão durou cerca de duas horas, mas a edição ocultou declarações importantes que seu cliente teria dito. Vasconcelos disse ainda que pediu uma cópia sem cortes para anexar ao processo. "O que eles (Globo) fizeram dá margem para novas interpretações da acusação, isso pode prejudicá-lo", disse.

O advogado afirmou também que, na entrevista, Macarrão teria dito que quando trouxe Eliza e o adolescente J. - primo do ex-goleiro Bruno - do Rio de Janeiro a Belo Horizonte (MG), eles teriam dado carona a um policial militar até a cidade de Juiz de Fora, no interior de Minas. "Se ele (Macarrão) tivesse que temer alguma coisa, porque ele daria carona para um policial?", indagou.

Segundo Vasconcelos, a edição do programa também prejudicou seu cliente ao fazer cortes em um trecho em que Macarrão fala de Bruno. "No que foi ao ar, a edição mostra o Luiz Henrique falando que ama o Bruno, mas corta o resto da frase, em que ele diz que não seria capaz de matar ninguém pela amizade", explicou.

Na entrevista que deu ao Fantástico, o amigo do goleiro afirmou que não tem envolvimento com o desaparecimento e morte de Eliza Samudio. Ele afirmou que entregou R$ 30 mil a Eliza, a deixou em um ponto de táxi e foi embora.

Macarrão já havia prestado depoimento à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem (MG), no dia 21 de julho deste ano. Na ocasião, o amigo de Bruno também negou as acusações.

O caso Bruno


Eliza desapareceu no dia 4 de junho de 2010 quando teria saído do Rio de Janeiro para Minas Gerais a convite de Bruno. No ano anterior, a estudante paranaense já havia procurado a polícia para dizer que estava grávida do goleiro e que ele a agrediu para que ela tomasse remédios abortivos. Após o nascimento da criança, Eliza acionou a Justiça para pedir o reconhecimento da paternidade de Bruno.


No dia 24 de junho, a polícia recebeu denúncias anônimas de que Eliza havia sido espancada por Bruno e dois amigos dele até a morte no sítio de propriedade do jogador, localizado em Esmeraldas, na Grande Belo Horizonte. Na noite do dia 25 de junho, a polícia foi ao local e recebeu a informação de que o bebê apontado como filho do atleta, então com 4 meses, estava lá. A mulher do goleiro, Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, negou a presença da criança na propriedade. No entanto, durante depoimento, um dos amigos de Bruno afirmou que havia entregado o menino na casa de uma adolescente no bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, onde foi encontrado.

Enquanto a polícia fazia buscas ao corpo de Eliza seguindo denúncias anônimas, em entrevista a uma rádio no dia 6 de julho, um motorista de ônibus disse que seu sobrinho participou do crime e contou em detalhes como Eliza foi assassinada. O menor citado pelo motorista foi apreendido na casa de Bruno no Rio. Ele é primo do goleiro e, em dois depoimentos, admitiu participação no crime. Segundo a polícia, o jovem de 17 anos relatou que a ex-amante de Bruno foi levada do Rio para Minas, mantida em cativeiro e executada pelo ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola ou Neném, que a estrangulou e esquartejou seu corpo. Ainda segundo o relato, o ex-policial jogou os restos mortais para seus cães.


No dia seguinte, a mulher de Bruno foi presa. Após serem considerados foragidos, o goleiro e seu amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão, acusado de participar do crime, se entregaram à polícia. Pouco depois, Flávio Caetano de Araújo, Wemerson Marques de Souza, o Coxinha Elenilson Vitor da Silva e Sérgio Rosa Sales, outro primo de Bruno, também foram presos por envolvimento no crime. Todos negam participação e se recusaram a prestar depoimento à polícia, decidindo falar apenas em juízo.


No dia 30 de julho, a Polícia de Minas Gerais indiciou todos pelo sequestro e morte de Eliza, sendo que Bruno foi apontado como mandante e executor do crime. Além dos oito que foram presos inicialmente, a investigação apontou a participação de uma namorada do goleiro, Fernanda Gomes Castro, que também foi indiciada e detida. O Ministério Público concordou com o relatório policial e ofereceu denúncia à Justiça, que aceitou e tornou réus todos os envolvidos. O jovem de 17 anos, embora tenha negado em depoimentos posteriores ter visto a morte de Eliza, foi condenado no dia 9 de agosto pela participação no crime e cumprirá medida socioeducativa de internação por prazo indeterminado.


No início de dezembro, Bruno e Macarrão foram condenados pelo sequestro e agressão a Eliza, em outubro de 2009, pela Justiça do Rio. O goleiro pegou quatro anos e seis meses de prisão por cárcere privado, lesão corporal e constrangimento ilegal, e seu amigo, três anos de reclusão por cárcere privado. Em 17 de dezembro, a Justiça mineira decidiu que Bruno, Macarrão, Sérgio e Bola serão levados a júri popular por homicídio triplamente qualificado, sendo que o último responderá também por ocultação de cadáver. Dayanne, Fernanda, Elenilson e Wemerson também irão a júri popular, mas por sequestro e cárcere privado. Além disso, a juíza decidiu pela revogação da prisão preventiva dos quatro. Flávio, que já havia sido libertado após ser excluído do pedido de MP para levar os réus a júri popular, foi absolvido. Além disso, nenhum deles responderá pelo crime de corrupção de menores.

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