terça-feira, 29 de abril de 2014

Você não vai lê isso na Folha, no Estadão, no o Globo, em Veja, Época e no PIG em geral. Aqui você ler.

Por Thietre - Rio de Janeiro
Niobio

AÇÃO BILIONÁRIA ENVOLVE AÉCIO E ANASTASIA NA EXPLORAÇÃO DE NIÓBIO EM ARAXÁ

reprodução

NIÓBIO ENTREGUE 


O Nióbio, riqueza que poderia significar a redenção da economia mineira e nacional, foi entregue, através de operação bilionária e ilegal, a empresa estatal japonesa, Japan Oil, Gas and Metals National Corporation, em parceria com um fundo de investimento coreano que representa os interesses da China. Este é o final de um ruidoso conflito instalado no centro do Poder de Minas Gerais que vem sendo, nos últimos dois anos, de maneira omissa e silenciosa, testemunhado pelo governador Antônio Anastásia. 

AÉCIO E A CODEMIG 


Desde 2002 o então governador e atual senador Aécio Neves entregou a condução das principais decisões e atividades econômicas do Estado de Minas a Oswaldo Borges da Costa, que assumiu a função estratégica de presidente da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (CODEMIG). Criou um governo paralelo, onde as principais decisões sobre obras e investimentos das estatais CEMIG, COPASA, DER/MG, DEOP e das autarquias de MG ficaram a cargo de “Oswaldinho”. 

PALÁCIO DA LIBERDADE E OS MILIONÁRIOS 


Para sede da CODEMIG, caminharam nos últimos 10 anos investidores internacionais que tinham interesse no Estado. O Palácio da Liberdade transformou-se apenas em cartão postal e símbolo de marketing publicitário de milionárias campanhas veiculadas na mídia. Por trás deste cenário artificial operou um esquema de corrupção, que contou com a cumplicidade até mesmo da Procuradoria Geral de Justiça, que impedia a atuação do Ministério Público Estadual. 

Em 2005, na CPI dos Correios, o publicitário Marcos Valério, operador do mensalão, fez uma ironia com a caixa-preta do nióbio. Ele declarou que o contrabando de nióbio é que sustentava partidos políticos. 


DISPUTA ENTRE FAMÍLIA NEVES FORTUNA DUVIDOSA

Foi necessária esta longa introdução, uma vez que à imprensa mineira jamais foi permitido tocar neste assunto para que se entenda o que agora, uma década depois, está ocorrendo.

Após a morte do banqueiro Gilberto Faria, casado em segunda núpcias com Inês Maria, mãe de Aécio, iniciou uma disputa entre a família Faria e a mãe de Aécio, sob a divisão do patrimônio deixado. Oswaldo Borges da Costa, casado com uma das herdeiras de Gilberto Faria, passou a comandar inclusive judicialmente esta disputa.

Diante deste quadro beligerante, as relações entre Aécio Neves e Oswaldo Borges da Costa acabaram, o que seria natural, pois Aécio fatalmente ficaria solidário com sua mãe. Mais entre Aécio Neves e Oswaldo Borges da Costa é público que existia muito mais, desta forma deu-se início a divisão do que avaliam ser uma fortuna incalculável.

ORIGEM DA FORTUNA…


No meio desta divisão estaria “a renda” conseguida e a conseguir através da diferença entre a venda subfaturada e o valor real no exterior do Nióbio. Peça chave neste esquema, a CBMM pertencente ao Grupo Moreira Salles, que sem qualquer licitação ou custo renovou o contrato de arrendamento para exploração da mina de Nióbio de Araxá pertencente ao Governo de Minas Gerais por mais 30 anos.

INVESTIDORES NÃO IDENTIFICÁVEIS?


Meses depois venderia parte de seu capital a um fundo Coreano, que representa investidores, não identificáveis.
Para se ter idéia do que significou, em matéria de ganho, a renovação para Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), que tem com atividade exclusiva a exploração da mina de Nióbio de Araxá – sem a mina cessa sua atividade – depois da renovação a empresa vendeu 15% de suas ações por R$ 2 bilhões, ou seja, levando em conta apenas o valor de suas ações a empresa valeria hoje R$ 28 bilhões, R$ 4 bilhões a menos que o Estado de Minas Gerais arrecada através de todos os impostos e taxas em um ano. Mas esta operação já havia causado desconfiança principalmente nas forças nacionalistas que acompanhavam de perto a movimentação.

Acrescentando: “Circula por aí versão segundo a qual só as jazidas de nióbio dos “Seis Lagos” valem em torno de 1 trilhão de dólares. Necessário esclarecer que por sua localização e facilidade de exploração a jazida de Araxá vale muito mais que a “Seis Lagos”.

RogerioCorreia

 CADE – MINISTÉRIO DA JUSTIÇA OMISSO, FAVORECE AS CLASSES INTERNACIONAIS


Evidente que o Ministério Público mineiro já está investigando esta renovação do arrendamento celebrado pela CODEMIG, porém, ela nada significa perto do crime praticado contra a soberania nacional que foi a venda de parte das ações da CBMM, dando poder de veto a uma empresa estatal japonesa. Foi uma operação cheia de irregularidades com a questionável participação de órgãos que deveriam fiscalizar este tipo de operação como o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), subordinado ao Ministério da Justiça.

A operação foi aprovada em prazo recorde e com base em um parecer de folha única, que desrespeitou toda legislação existente no País. A menor das irregularidades cometidas foi conceder “Confidencialidade” aos termos da operação aprovada. Foi desrespeitada a determinação legal para que não ocorra a cassação da autorização da sociedade estrangeira funcionar no País; esta deverá tornar público todos os seus dados econômicos, societários e administrativos, inclusive de suas sucursais (art. 1.140, CC).

SOCIEDADES ESTRANGEIRAS FUNCIONANDO NO TERRITÓRIO BRASILEIRO CONTRÁRIAS A ORDEM PÚBLICA DO BRASIL


E mais, conforme constante do artigo 1.134 do Código Civil, se faz necessária para que a sociedade estrangeira possa funcionar no território brasileiro prévio exame da legitimidade de sua constituição no exterior e a verificação de que suas atividades não sejam contrárias a ordem pública no Brasil.

O Poder Executivo poderá, ou não, conceder a autorização para uma sociedade estrangeira funcionar no Brasil, estabelecendo condições que considerar convenientes à defesa dos interesses nacionais (art. 1.135, CC). Segundo a assessoria de imprensa do CADE, na tramitação da analise foi-se observado o regimento, evidente que um regimento não pode se sobrepor a lei.

leia também:Por que Araxá é vital para os EUA ?(documentos secretos do Wikileaks)

PORQUE O CADE NÃO ANALISOU Á CRITÉRIO? 


Nada disto foi observado e agora, a exemplo da briga instaurada entre as famílias Faria e Neves, o divorcio entre Aécio Neves e Oswaldo Borges da Costa fatalmente se transformará num dos maiores escândalos da historia recente do País e poderá levar Minas Gerais a perder a propriedade sobre a jazida de Nióbio. 

Principalmente as Forças Armadas veem promovendo gestões para federalizar, a exemplo da Petrobras, a exploração de Nióbio. 

RELATÓRIOS COMPROVAM ESQUEMA CRIMINOSO DE SUBFATURAMENTO DO NIÓBIO 


Relatórios confidenciais da Abim e da área de inteligência do Exército demonstram como operou o esquema criminoso de subfaturamento montado pela CODEMIG/ CBMM, através da Cia de Pirocloro de Araxá. A assessoria de imprensa da CBMM, da CODEMIG e do senador Aécio Neves foram procuradas e não quiseram comentar o assunto.
O assunto “Nióbio” é amplo, não tendo como esgotá-lo em apenas uma matéria, desta forma Novojornal publicará uma série de reportagens ouvindo as diversas áreas envolvidas no tema. 

Nota da Redação (atualizado às 15:26 de 21/12/2012) 

O valor da venda de 15% da CBMM, ao contrário dos R$ 2 bilhões de reais, constante na matéria, foi de US$ 2 bilhões de dólares. Desta forma, 100% das ações da CBMM equivalem a US$ 28 bilhões de dólares, levando em conta que a arrecadação total anual do Estado de Minas Gerais é de R$ 32 bilhões de reais, o valor das ações da CBMM representa quase o dobro do arrecadado. 

(US$ 28 bilhões de dólares x R$ 2 reais = R$ 56 bilhões de reais).

Enquanto paciente se queixa de dor no peito médico joga paciencia





Não me causa nenhuma surpresa as imagens contidas nesse vídeo. Essa é a sociedade brasileira nua e crua. Via de regra. Há exceções claro, raríssimas, mas ainda há no andar debaixo porque o maior defeito do pobre nesse país de bandidos é ser honesto. Não há uma categoria que me dê mais asco do que a de médicos. São pedantes, petulantes, metidos a sabichões, tratam mal os pacientes, pensam que são deuses, além de tudo exercem a medicina não como sacerdotes mas como mercantilistas em busca do vil metal. Claro que nem todos, mas a maioria seguramente e gostam de pousar de vestais, falar de corrupção, apontar o dedo para o mal feito que de quando em vez aparece no governo federal, como se estivessem acima de nós mortais. Eles que estão por ai exercendo cargos na máquina pública, nas centenas de municípios, secretarias de saúde, nas câmaras de vereadores, nos parlamentos estaduais, nas câmaras alta e baixa, nos governos das capitais, nos dos estados, e suas atuações em nada melhoram a política e a vida pública e nem poderia, fazem parte dessa sociedade hipócrita e falso moralista da qual também integramos, embora imaginem que flanem sobre nós por serem uma entidade superior; em nada o são, senão nos maus exemplos que costumam dá, desde quando entram nas faculdades e vão comandar trotes criminosos em repúblicas ou nos campi para depois se tornarem esse tipo aí do vídeo.

Ticiana Villas Boas diz que lado bom de ser rica é não precisar fazer conta

  • Ticiana Villas Boas com o marido Joesley Batista, o dono da empresa Friboi
    Ticiana Villas Boas com o marido Joesley Batista, o dono da empresa Friboi
Ticiana Villas Boas reconhece como a vida ficou cheia de "frufrus", como ela mesma diz, após conhecer o empresário bilionário Joesley Batista - dono da maior empresa processadora de proteína animal do mundo - em 2011.
Em entrevista à revista "Veja" desta semana, a jornalista da Band admitiu que tem "medo de sair da realidade" ao mencionar as regalias que passou a desfrutar com seu casamento.
"Quando me dei conta, nem sabia mais o preço da gasolina. Pensei: sou jornalista e não sei quanto custa o combustível? Voltei eu mesma a encher o tanque", contou Ticiana, que segundo a reportagem, tem atualmente o terceiro maior salário do jornalismo da Band, atrás apenas de José Luiz Datena e Ricardo Boechat.
Ao elencar alguns de seus privilégios, citou: "Não fazer conta é bom, sair para jantar a hora que quiser no restaurante que quiser, poder reformar sempre a casa, ter funcionários na casa". 
Embora tenha direito a um cartão de crédito ilimitado, ela afirmou que procura manter os pés no chão. "Podia comprar uma bolsa toda hora, toda semana, mas não faço isso. Eu me coloco esse limite", assegurou.
Ao aceitar subir ao altar - vestida em um luxuoso modelito assinado pelo estilista Karl Lagerfeld avaliado em 180 mil euros -, Ticiana conquistou, entre outros privilégios, um imóvel em Nova York, uma casa em Angra dos Reis comprada do apresentador Luciano Huck e um jato Legacy avaliado em 25 milhões de dólares.
Apesar de todo luxo, ela afirmou à publicação que detesta ser chamada de "senhora Friboi". A âncora do "Jornal da Band" diz que veio de uma família tradicional de Salvador, e que já tinha estabilidade financeira antes de conhecer o presidente da holding J&F investimentos. 
http://celebridades.uol.com.br/noticias/redacao/2014/04/29/ticiana-villas-boas-diz-que-lado-bom-de-ser-rica-e-nao-precisar-fazer-conta.htm

Romário: “não bateria uma foto com banana para dizer que sou macaco”


POR MORRIS KACHANI
romário2Romário estava indignado na tarde de hoje, por conta da supressão de alguns artigos do projeto Proforte, justamente aqueles que comprometiam a CBF e as federações com uma série de obrigações. “Infelizmente alguns deputados como Vicente Cândido (PT) e Rodrigo Maia (DEM), da bancada da bola, não deixaram passar. A gente ainda vai presenciar muita coisa errada no Congresso, aqui o voto do mal predomina sobre o bem, e não só nos esportes”, desabafou o deputado, pré-candidato de seu partido, PSB, ao Senado.

Nesta entrevista, o ex-craque explicou sua visão sobre a Copa (“fora de campo já perdemos”), trazendo à tona alguns exemplos ilustrativos, como o cálculo do orçamento, que subiu de R$ 25 para R$ 30 bilhões. “No início o governo Lula dizia que 90% da verba seria privada, e o que aconteceu foi o contrário, 90% da verba é pública. Por isso as pessoas têm que se manifestar nas ruas, mesmo”.

Romário também falou sobre a reação de Daniel Alves, que comeu uma banana que foi atirada em sua direção durante jogo do Barcelona. “A reação dele foi dentro de um espírito esportivo, de provocação. Tenho certeza de que ele não quis dizer que era macaco. Macaco é macaco e gente é gente”.

“Eu não bateria uma foto com banana para dizer que sou macaco. Não vejo assim. Infelizmente a hipocrisia no Brasil corre solta”.
*
Como você vê o futebol brasileiro às vésperas da Copa?

Cara, eu posso te afirmar que o futebol brasileiro está em péssimas mãos. A CBF é uma entidade totalmente corrupta. Esse novo presidente que foi eleito (Marco Polo del Nero), demonstrou em pouco tempo que não está preocupado com um Brasil melhor.

Com Ricardo Teixeira era melhor?

Com certeza hoje está pior do que era com o Teixeira, que quando começou sua gestão ainda tinha um objetivo.

E a realização da Copa?

O Brasil perdeu a oportunidade de mostrar uma cara diferente. Não aconteceu nem vai acontecer. O planejamento foi mal feito e a organização pior ainda. A insatisfação do povo tem toda razão de ser. Fora de campo o Brasil já perdeu.

Quem são os culpados?

O governo é o principal culpado, além da CBF. O PT definitivamente não foi bom para os esportes no Brasil, tanto com o Lula quanto com a Dilma.

E as manifestações?

Tem que continuar. O político só é movido a isso. Após os protestos muitos projetos foram votados. Tanto a CBF como o COB (Comitê Olímpico Brasileiro) não são dignos de comandar o Brasil.

Agora que está finalizando seu primeiro mandato, qual sua percepção sobre a atividade política no Congresso?

Falta coragem e atitude para renovar o esporte. A CBF paga muito para que um deputado se manifeste a favor dela. E aqui, infelizmente, a parte financeira está acima de qualquer interesse.

Mas não estou decepcionado com o Congresso. Não é diferente do que eu imaginava e do que o povo já sabe.
Existe um clima de insatisfação?

Geral, em todos segmentos. Poderíamos ter deixado um legado positivo nas doze cidades-sede, principalmente em termos de mobilidade urbana. 80% dos projetos de mobilidade urbana foram retirados da matriz de responsabilidade. E dos 20% que sobraram, quase 60% não serão entregues a tempo do evento. Enquanto isso, o orçamento, que era de R$ 25 bilhões, subiu para R$ 30 bilhões.

O Brasil poderia muito bem ter aceitado organizar a Copa como aceitou. Mas era preciso fazer de outra forma. O governo Lula dizia que 90% dos investimentos seriam privados e o que a gente vê é o contrário, 90% é público.

E quem está lucrando com a Copa?

Cara, a CBF, a Fifa e alguns políticos corruptos. Só eles e mais ninguém. Ontem soube através do blog do Juca Kfouri que nunca a CBF lucrou tanto como no último ano.

É otimista?

Sempre fui otimista e pró-ativo. Especialmente neste ano, em que o povo tem a oportunidade de pelo menos melhorar seus governantes, com as eleições.

Qual será sua plataforma eleitoral?

Em qualquer posição política eu assumo principalmente a moralização da coisa. Seja no combate ao crack, no tratamento aos portadores de doenças raras, na educação.

Que tal trabalhar em uma casa presidida pelo senador Renan Calheiros?

O povo já se manifestou. E a razão está com o povo. A coisa aqui poderia ser diferente, infelizmente ainda lidamos com a mentalidade de políticos velhos.

Qual a relação do futebol com a política?

Cara, a corrupção que tinha na política passou para o futebol. Um exemplo é o Bom Senso, que foi criado pelos jogadores. Eles sabem melhor do que ninguém sobre o dia a dia, sobre a questão do calendário, e assim por diante. Sentaram com os mandatários da CBF e deu em nada.

Você acha que o Brasil leva a taça?

Dentro de campo temos bastante chance, especialmente depois do que vimos na Copa das Confederações. Felipão trouxe um futebol positivo, moderno. Mas não acho que o Brasil seja a melhor das 32 seleções. Acredito que Alemanha seja melhor dentro de campo, mas nem sempre ganha o melhor. Argentina e Espanha também são favoritas.

E o Neymar?

É a nossa grande esperança. Não está num momento muito bom, assim como o Paulinho e outros companheiros da seleção, que estão na descendente. Jogar futebol é isso, às vezes você cai de produção. Eu já participei de Copa. E na Copa, você tem que trocar o chip.

O ambiente é único, eles sabem que o povo está totalmente decepcionado com as falcatruas.

Que achou da reação do Daniel Alves, que comeu a banana que lhe foi atirada durante jogo do Barcelona?

Se você reparar, muitas dessas histórias de racismo têm acontecido com jogadores da seleção brasileira, na Europa. É que o Brasil é o time a ser batido. Pode haver alguma manipulação aí.
Mas racismo é coisa do passado, não era para estar acontecendo. Punições fortes são necessárias.

E essa história de “Somos todos macacos”?

Daniel Alves com certeza não quis dizer isso. Macaco é macaco e gente é gente. Eu não bateria uma foto com banana para dizer que sou macaco. Agora, cada um é um. Infelizmente a hipocrisia e o oportunismo correm soltos no nosso país.

http://blogdomorris.blogfolha.uol.com.br/2014/04/29/romario-nao-bateria-uma-foto-com-banana-para-dizer-que-sou-macaco/

Pastor pede dinheiro a fiéis para seguir na Band

  • Missionário e bispo R. R. Soares, pastor da igreja evangélica neopentecostal Igreja Internacional da Graça de Deus
    Missionário e bispo R. R. Soares, pastor da igreja evangélica neopentecostal Igreja Internacional da Graça de Deus
Todo ano é a mesma coisa. A renovação de contrato entre a Band e a Igreja Internacional da Graça, do pastor R.R. Soares, se torna um verdadeiro padecimento de Jó. Ano após ano, a emissora exige cada vez mais dinheiro do pastor, já que ele ocupa uma hora no horário nobre. É a única TV aberta que vende o "crème de la crème brûlée" de seu horário nobre. 
A Band ou a igreja nunca divulgaram valores, mas estima-se que o contrato esteja entre R$ 8 milhões e R$ 12 milhões mensais (há quem diga que não passa de R$ 2 milhões, mas isso significaria que a Band está vendendo cada minuto de sua grade por pouco mais de R$ 1000, o que é altamente improvável). 
Soares representaria, caso esse número esteja correto, até 15% do faturamento anual da Band (R$ 600 milhões). Como ocorre em todos sempre na época da "penitência de Jó", a TV da família Saad mais uma vez fez exigências para renovar o contrato da igreja em 2014. Por "novas exigências" entenda-se "aumento no cachê" recebido. 
Escaldado com anos e anos de ameaças de não renovação caso não aceitasse as, digamos, exigências, este ano o missionário Soares começou cedo uma campanha destinada a reforçar o caixa da igreja e garantir o espaço comprado na Band. A campanha tem sido exibida exaustivamente em seu programa, e na internet, no site da igreja e do missionário, que tem quase 1 milhão de seguidores no Facebook e no Twitter.
A campanha pede que o fiel ajude "a espalhar a boa nova" por todo o mundo. A Igreja de Soares, que é cunhado de Edir Macedo, está hoje em quase 100 países em todo o mundo, seja por meio de rádios ou TVs ou sites (www.ongrace.com).
Ele não cita nominalmente a Band, mas a campanha estourou bem no mês em que o contrato vence (abril).
Em suas pregações diárias, o pastor também sempre abre um espaço para pedir doações a uma conta que a igreja mantém em um banco. Comparativamente, ele pede menos dinheiro que os pastores da Igreja Universal, que nos últimos anos parece que transformaram as doações no assunto principal das pregações.
Doe! Ajude! Colabore! Pague! Os verbos são diferentes, mas o pedido é sempre o mesmo. 
Nos últimos dois anos a Igreja Internacional da Graça renovou contrato com a Band praticamente em cima da hora. Os contratos quase sempre têm validade de apenas um ano. Assim a emissora pode exigir aumentos de remessas de seu parceiro anualmente. 
Muitos executivos da Band já defenderam a saída de Romildo Soares e sua igreja, ou pelo menos que mudasse de horário. O problema é que o evangélico entra no ar exatamente depois do "Jornal da Band", no momento em que a emissora atinge um de seus picos de ibope em dias úteis (seis pontos, cada ponto vale por 65 mil casas sintonizadas na Grande São Paulo). Quando Soares começa a pregar, esse ibope cai quase que imediatamente para zero (traço).
Por isso, parte dos diretores da Band (especialmente os de núcleo artístico) gostariam que o pastor saísse do horário nobre. O problema maior é que, sem ele, o faturamento da casa cai e a Band prefere faturar e perder ibope a ganhar ibope e não faturar ou faturar bem menos com comerciais que conseguisse vender no horário.
http://celebridades.uol.com.br/ooops/ultimas-noticias/2014/04/29/pastor-pede-dinheiro-a-fieis-para-seguir-na-band.htm

Novas massas?




Classe média, consumismo e bases sociais da crítica à ordem capitalista

por GÖRAN THERBORN


Se quiserem fazer sentido político, as críticas ao capitalismo devem ter – ou arranjar – uma base social. Nos séculos XIX e XX, a crítica mais relevante ficou conhecida como “questão operária” – sua base mais representativa se ​​encontrava justamente na classe operária industrial em ascensão. Era um tema que interessava não só às organizações operárias emergentes e seus eventuais simpatizantes, de convicções liberais, mas também à opinião conservadora; até os fascistas, os inimigos mais violentos do movimento operário, se organizaram a partir desse exemplo. Os operários industriais mantiveram sua posição proeminente até a década de 1970, quando surgiu uma base social para a luta anticapitalista nos movimentos anticolonialistas, mobilizados pela libertação nacional das colônias e contra o “desenvolvimento dependente” imposto pelo imperialismo.

Contudo, nos últimos trinta anos assistimos a uma desindustrialização no Norte, que deteve e inverteu a marcha do operariado. Já a industrialização bem-sucedida de países líderes do Sul, durante esse mesmo período, resultou sobretudo na visão atual de que o desenvolvimento capitalista também é possível na Ásia, na África e na América Latina, ao contrário do que diziam as teorias da dependência, outrora influentes. Assim, será que existe hoje alguma força social que poderia assumir o papel da classe trabalhadora organizada ou dos movimentos anticolonialistas do século XX? No momento, não se veem as camadas de massas anticapitalistas – uma situação nova para o capitalismo, no contexto dos últimos 150 anos. Contudo, se não procurarmos movimentos anticapitalistas, mas sim formações que encerrem, potencialmente, uma posição crítica ao desenvolvimento capitalista contemporâneo, veremos que há forças sociais importantes se manifestando. Podemos distinguir quatro tipos diferentes.

A primeira força social potencialmente crítica consiste em populações pré-capitalistas que resistem às intrusões das grandes empresas. Os principais atores são os povos indígenas, que em tempos recentes alcançaram certo poder. Eles são politicamente significativos na América Andina e na Índia, mas também se encontram em grande parte do Sul e criaram redes de contatos internacionais. Eles não são numerosos o bastante, tampouco dispõem de recursos suficientes para exercer grande influência, a não ser em termos locais; suas lutas, porém, podem se articular com movimentos críticos de resistência mais amplos. Hoje representam considerável força na Bolívia, onde compõem com uma coalizão governamental turbulenta, e na Índia, onde centralizam uma insurgência em grande escala; em ambos os casos, os organizadores provêm da tradição do movimento operário – na Bolívia, mineiros socialistas demitidos, transformados em plantadores de coca; na Índia central, revolucionários profissionais maoistas. Estes últimos andaram sofrendo reveses, mas não foram derrotados nem destruídos. No México, os zapatistas ainda conservam a região de Lacandona, no estado de Chiapas. Essas mobilizações podem ser contraditórias: em Bengala Ocidental, de governo comunista, os camponeses que defendem suas terras contra projetos de desenvolvimento industrial impediram uma virada para o estilo chinês e empossaram um regime de extrema direita.

A segunda força crítica, em grande parte extracapitalista, é composta das centenas de milhões de camponeses sem-terra, trabalhadores informais e vendedores ambulantes que constituem as vastas populações das favelas em muitas partes da África, Ásia e América Latina. (Seu equivalente no Norte talvez seja o crescente número de jovens marginalizados, tanto nativos como imigrantes, excluídos da esfera do emprego.) Eles constituem, em potencial, um alentado fator de desestabilização para o capitalismo. A ira e a violência reprimidas dessas camadas já se mostraram muitas vezes explosivas, resultando em pogrons étnicos ou apenas em vandalismo descontrolado. No entanto, esses “miseráveis da terra” também já se envolveram em lutas contra despejos e pelo acesso a água e energia elétrica; tiveram papel significativo nas revoltas árabes de 2011 e nos protestos contra a austeridade econômica no litoral norte do Mediterrâneo e do Mar Negro – Grécia, Espanha, Bulgária, Romênia.

Em que condições essas forças poderiam se articular com alguma alternativa socioeconômica viável? Qualquer alternativa crítica precisaria falar diretamente a suas preocupações fundamentais – sua identidade existencial coletiva e seus meios de subsistência. Para atingir em profundidade esses estratos populares, seriam necessários meios de comunicação específicos e líderes carismáticos, com trânsito por todas as redes. Como a população urbana geralmente não é organizada, essa força com potencial crítico só entrará em ação se gerada por um acontecimento de natureza imprevisível.

A dialética cotidiana do trabalho assalariado capitalista segue atual, embora tenha se reconfigurado geograficamente. A classe operária industrial que subsiste no Norte continua fraca demais para representar algum desafio anticapitalista; a austeridade econômica e as ofensivas capitalistas, contudo, estão engendrando protestos de horizonte curto – inclusive na França, onde, em 2010, operários organizados ameaçaram interromper o fornecimento de gasolina, e, em 2012, metalúrgicos ocuparam fábricas. Os novos trabalhadores industriais na China, Bangladesh, Indonésia e outras partes do Sul podem ter mais cacife para fazer demandas anticapitalistas, mas sua posição fica debilitada pela vasta oferta de mão de obra. Além disso, esses trabalhadores já estão sendo ultrapassados por padrões de emprego mais fragmentados do setor de serviços. Repetidas tentativas de fundar partidos operários, da Nigéria à Indonésia, fracassaram; o único sucesso nos últimos trinta anos foi o PT no Brasil. Tanto na Coreia do Sul como na África do Sul há movimentos operários importantes, baseados nos sindicatos, mas lhes faltam articulações políticas fortes: os sindicatos sul-africanos são ofuscados pela natureza do governo do ANC (Congresso Nacional Africano), e na Coreia os sindicatos se veem prejudicados por um partidarismo mesquinho, que no final de 2012 conseguiu torpedear um projeto, já bem desenvolvido, de formação de um partido de esquerda unido.

Embora no Sul as lutas de classe tenham obtido aumentos salariais e, em certa medida, condições de trabalho menos horríveis, parece improvável que se transformem num desafio mais sistêmico. No leste da Ásia, em particular, o capitalismo industrial está conseguindo elevar os níveis de consumo de modo muito mais rápido que as economias europeias, de desenvolvimento mais lento. É verdade que os atuais governos do Partido Comunista na China e no Vietnã não descartam uma virada anticapitalista – que seria viável, caso fosse tentada. Para tanto, seria preciso que o crescimento apresentasse uma queda e também ocorresse uma mobilização eficaz dos trabalhadores contra a enorme desigualdade, que ameaça a “harmonia” ou coesão social do capitalismo comunista. Tal conjectura é imaginável, mas altamente improvável, pelo menos em médio prazo. Cenário mais promissor pode ser a articulação das lutas operárias com as lutas comunitárias por habitação, saúde, educação ou direitos civis.

Uma quarta força social potencialmente crítica pode estar surgindo no seio da dialética do capitalismo financeirizado. Camadas da classe média – incluindo, como fator decisivo, os estudantes – desempenharam papel fundamental nos movimentos de 2011 na Espanha, Grécia, Oriente Médio árabe, Chile, bem como nos protestos mais fracos do movimento Occupy nos Estados Unidos e na Europa – e na onda de manifestações na Turquia e no Brasil, em 2013. Essas irrupções levaram às ruas tanto jovens da classe média como das camadas populares contra sistemas capitalistas corruptos, exclusivistas, causadores de polarização social. Eles não conseguiram desestabilizar o poderio do capital, ainda que em 2011 dois governos tenham sido derrubados, Egito e Tunísia. No entanto, talvez venham a se revelar como ensaios gerais para dramas que estão por vir.

Os discursos sobre a nova classe média se multiplicaram nos últimos dez anos. Quando se originam na África, Ásia e América Latina, ou discorrem sobre essas regiões, predomina o tom triunfalista – embora mais cauteloso acerca da Europa Oriental –, que proclama a iminência de grandes mercados de consumidores solventes. Corretos ou não, discursos de classe são sempre significativos socialmente, de modo que o recrudescimento, a nível global, do discurso da classe média é um notável sintoma da década de 2010. Normalmente não aponta para nenhuma dialética social crítica; pelo contrário, em geral aplaude o triunfo do consumismo. A classe trabalhadora está desaparecendo dos documentos do Partido Comunista chinês e vietnamita, enquanto na Europa – Alemanha à frente – o ideal de uma “sociedade empresarial” substituiu a autoimagem de “sociedade assalariada” de meados do século XX. Comentaristas políticos costumam ver na classe média um alicerce promissor para economias “sólidas” e para a democracia liberal, embora economistas ponderados, particularmente no Brasil, já enfatizassem a fragilidade da noção de classe média e o risco sempre presente da pobreza a que muita gente está exposta. Já nos Estados Unidos predomina a preocupação com o declínio da classe média, em status econômico e peso social. A Europa Ocidental não seguiu exatamente o mesmo caminho: ali a noção de classe média sempre foi mais circunscrita do que nas Américas ou na Ásia – incluindo a China pós-maoista – devido à presença discursiva já bem estabelecida de uma classe trabalhadora. Fora da Europa, o novo conceito de classe média hoje engloba a vasta massa da população que fica entre os muito pobres e os ricos – com frequência a linha de pobreza é definida como uma receita ou despesa diária de 2, 4 ou 10 dólares, enquanto o limite superior exclui apenas os 5 ou 10% mais ricos.

Diferentemente da classe operária industrial, o composto heterogêneo conhecido como “classe média” não tem nenhuma relação específica com a produção, tampouco abriga tendências próprias de desenvolvimento, salvo o consumo ilimitado. No entanto, não importa como seja definida, a classe média – ou partes substanciais dela – já demonstrou ser capaz de atuar politicamente de modo significativo, e sua importância aumenta com o declínio ou a desorganização do proletariado industrial. A crescente classe média do Sul global merece particular atenção, pois pode ser crucial na definição das opções políticas.

Justamente por sua indeterminação social, a pressão da classe média pode ser aplicada em direções diferentes, e até opostas. No Chile, a classe média mobilizada atuou fortemente por trás do golpe de Pinochet, enquanto na Venezuela, em 2002, ela apoiou uma tentativa fracassada de desbancar Hugo Chávez; seis anos depois, os abastados “Camisas Amarelas” de Bangcoc derrubaram o governo da Tailândia. Como mostra a história da Europa do século XX, a classe média não é uma força intrinsecamente a favor da democracia. Mas também tem exercido pressão por mudanças democráticas, tendo atuado em Taiwan e na Coreia do Sul na década de 1980 – ao lado dos operários industriais – e na Europa Oriental em 1989. Foi uma força fundamental no Cairo e em Túnis em 2011, e defendeu os protestos populares de rua na Grécia, Espanha, Chile e Brasil em 2011–13. Sua volatilidade política é vividamente ilustrada pelas guinadas no Egito, desde a aclamação da democracia até a adulação aos militares e sua crescente repressão, aceitando, efetivamente, a restauração do ancien régime sem Mubarak.

Mas as intervenções críticas de forças da classe média também podem se manifestar nas urnas. Em 2012 a Cidade do México, com uma população igual à de um país europeu de tamanho médio, elegeu um prefeito de esquerda pelo quarto mandato consecutivo; o candidato, Miguel Ángel Mancera, abocanhou quase 64% dos votos, números que sugerem um bloco popular incontornável. Na Índia, a trajetória do AAP, o Aam Aadmi Party (Partido do Homem Comum), continua indefinida. O avanço espetacular do partido e de seu líder, Arvind Kejriwal, deveu-se a uma nova aliança que uniu manifestantes anticorrupção de classe média a um conjunto de propostas concretas sobre o acesso a água e outros serviços públicos, que podiam beneficiar camadas mais amplas. O novo partido venceu em Nova Delhi, bem como em nove dos doze distritos eleitorais das castas mais desfavorecidas, assumindo o governo da capital em fins de 2013 – e deixando o cargo depois de apenas 49 dias, quando seus esforços legislativos para coibir a corrupção se paralisaram por falta de aprovação do governo central. Na Indonésia, um candidato reformista, Jokovi, ganhou o governo de Jacarta em 2012, vencendo (com uma plataforma de ampliação dos serviços de educação e saúde e promoção do “urbanismo empresarial”) as forças locais do establishment, além de uma odiosa campanha sectário-religiosa (seu companheiro de chapa era um chinês cristão). Também aqui a força e a eficácia das alianças de classe – sua capacidade de oferecer melhorias tangíveis às massas populares – ainda estão por surgir.

O capitalismo – e sobretudo o capitalismo industrial – tem sido alvo de críticas culturais desde que o poeta William Blake denunciou seus “tenebrosos moinhos satânicos”. Durante muito tempo o sistema simplesmente passava direto por essas lamentações, mas o ano de 1968 pôs fim ao sossego. Os movimentos então simbolizados não fizeram muito progresso contra o capitalismo em si, mas exerceram impacto sobre as relações sociais: conseguiram erodir o patriarcado e a misoginia, deslegitimar o racismo institucional, reduzir a deferência e a hierarquia – em suma, promoveram a igualdade existencial, sobretudo na Europa e nos Estados Unidos. Contudo, boa parte dessas transformações culturais vem sendo absorvida pelo capitalismo avançado, com a informalidade das indústrias de alta tecnologia, a onda de mulheres em altos cargos executivos, a generalização dos direitos dos gays e do casamento homossexual, a figura social do bubo, o burguês boêmio com dinheiro e valores de esquerda, e assim por diante.

Os movimentos baseados numa crítica cultural da sociedade capitalista sempre clamaram pela limitação e a regulamentação do desenvolvimento capitalista; ou então apresentaram formas alternativas de vida. As próximas décadas podem vir a conhecer pelo menos quatro tipos de movimentos crítico-culturais significativos, tanto pela abordagem da “limitação” como pela proposta de“alternativas”. Historicamente, o argumento mais importante a favor da limitação apontou a ameaça que o capitalismo desenfreado representa para a coesão social. A questão ambiental é mais recente, com sua discussão sobre o risco que o ecossistema corre pelas consequências não intencionais da industrialização, cada vez mais fora de controle.

Entre as “alternativas”, a relevância dosocialismo anda suspensa, porém há outras visões claramente discerníveis, mais parecidas com o comunismo no sentido marxista original do que com o socialismo industrial do século XX. Hoje é possível identificar dois desses movimentos, pelo menos em embrião, ambos oferecendo a promessa de uma qualidade de vida superior à do capitalismo. A primeira, mais bem articulada na Alemanha, parte da experiência dos países desenvolvidos e tem uma ênfase “pós-crescimento”. A segunda apresenta uma alternativa geossocial, derivando sua força do Sul não capitalista.

Em primeiro lugar, a coesão social é muito menos vital para as elites de hoje do que era para as elites de séculos anteriores. Os exércitos com alistamento obrigatório foram em grande parte substituídos por forças mercenárias; os meios de comunicação têm ajudado a tornar as eleições internas “administráveis”; o consenso econômico predominante sustenta que a confiança dos investidores internacionais tem mais influência sobre o crescimento econômico do que a coesão do desenvolvimento. Para as elites do Norte, a coesão implica uma pressão sobre os imigrantes para se assimilarem melhor, em nome da “integração”. É verdade que existe uma preocupação oficial da União Europeia com a coesão social, mas na prática isso se manifesta sobretudo em termos geográficos, com o financiamento de programas de desenvolvimento nas regiões mais pobres. Durante a crise atual, que impôs uma dura austeridade econômica sobre as populações do sul da Europa, vê-se pouco interesse oficial pelo aumento da exclusão social. A coesão nacional já não é mais considerada a chave para o poder imperial – como foi nos séculos XIX e XX, quando a “revolução vinda de cima” da dinastia Meiji no Japão, e as tentativas menos bem-sucedidas de outros regimes, desde a China da dinastia Qing até o Império Otomano, a via como a base da moderna força geopolítica. Após a Segunda Guerra Mundial, o desenvolvimento capitalista nacional coeso era o objetivo dos governantes eleitos do Japão e também dos militares de Taiwan e da Coreia do Sul, o que reverteu em sociedades industriais cujos baixos níveis de desigualdade econômica só ficavam a dever, no mundo capitalista, aos Estados europeus do bem-estar social. Para os governantes da República Popular da China, a coesão social continua a ser um critério decisivo do desempenho político. A extraordinária desigualdade produzida pela China nos últimos 35 anos – tão diferente da trajetória igualitária, de crescimento rápido do Japão, Coreia do Sul e Taiwan – torna insustentável a autoimagem da China como uma “sociedade harmoniosa”. Isso também pode ocorrer em outras partes do Sul.

No entanto, a exclusão social, a desigualdade e o deslocamento continuam a ser uma possível base para as críticas vindas de baixo, como já mostraram os recorrentes movimentos de protesto dos últimos anos. A lógica de O Capital não dá conta das atuais sociedades capitalistas, que também incluem áreas não capitalistas, com seus espaços e serviços públicos. No momento, o capitalismo está decidido a invadir todas as esferas da vida social – restringindo, ainda que não abolindo necessariamente (por enquanto), tudo que é público. Essa disseminação cria correntes de resistência, de defesa do que é público ou não comoditizado. Recentemente tem havido uma proliferação global desse tipo de movimento de protesto: contra a privatização do ensino superior no Chile e em outras partes da América Latina; contra a comercialização dos espaços públicos em Istambul; e, na Suécia, um ressentimento, mais abafado porém amplo, contra a desestatização de escolas e serviços sociais.

A mercantilização das relações sociais e o enfraquecimento, promovido pelo neoliberalismo, de qualquer noção de interesse público ou senso de responsabilidade social têm proporcionado grandes oportunidades para a corrupção. Mesmo em países como a Suécia, antes regidos por uma ética de serviço público muito forte, embora agora vilipendiada, os negócios obscuros entre a esfera pública e a privada se tornaram endêmicos. No Sul, onde a corrupção maciça é sistêmica na maioria dos países – e também na China e no Vietnã –, as campanhas em prol das “mãos limpas” são comuns, porém têm pouco impacto. Vez por outra são efetivas, como aconteceu nas manifestações de Nova Delhi. Iniciados em 2011 por Anna Hazare após a roubalheira descarada propiciada pelos Jogos da Commonwealth de 2010, os protestos acabaram se transformando no Aam Aadmi Party. Os movimentos contra a corrupção e a exploração comercial de espaços e serviços públicos tendem a crescer, já que as provocações vão se multiplicar, e também porque hoje os cidadãos são menos deferentes à autoridade, mais bem informados e mais fáceis de mobilizar por meio das mídias sociais. Um caso exemplar foi o da Turquia em 2013. Contudo, se esses protestos não integrarem configurações sociopolíticas mais amplas, eles vão permanecer – juntamente com as manifestações contra o endividamento e os despejos – dentro dos limites do sistema capitalista.

Na década de 1980, ambientalistas críticos ao capitalismo se organizaram num movimento social que ainda tem considerável expressão. Pode-se dizer que os desafios ecológicos apresentados por alterações climáticas, poluição urbana, pilhagem de oceanos e esgotamento de reservas hídricas reiniciaram a dialética entre o caráter social das forças de produção e a natureza das relações de propriedade existentes – uma dialética que a desindustrialização e o triunfo do capitalismo financeiro no Norte haviam suspendido. O impacto dessa crítica provavelmente vai depender de sua capacidade de desenvolver uma responsabilidade regulatória coletiva e ao mesmo tempo não exigir sacrifícios como o não crescimento. Uma questão crucial é a desastrosa poluição das cidades chinesas – inclusive, espetacularmente, Pequim – e de outros centros urbanos da Ásia. Na China, a poluição também está destruindo grandes áreas de solo arável. Ao exigir a regulamentação pública, o ambientalismo poderia se articular com as críticas ao capitalismo financeiro desenfreado. As escassas alianças desse tipo ressaltam a fraqueza da esquerda no Atlântico Norte – para não mencionar a obsessão chinesa, ainda praticamente incontestada, de recuperar o atraso econômico.

Uma crítica ao consumismo poderia assumir uma nova forma geracional. “1968” foi um movimento jovem – “Não confie em ninguém com mais de 30 anos” –, ao passo que nos protestos de 2011 no Mediterrâneo e no Chile, ou no Brasil em junho de 2013, muitos manifestantes estavam acompanhados dos pais. A crise devastadora do neoliberalismo na Argentina no alvorecer do século xxi acarretou vigorosos protestos de rua de aposentados, em defesa de suas pensões. Um movimento crítico poderia emergir das populações idosas da Europa e do Japão, em especial entre os mais velhos da geração de 1968. Poderiam ser protestos por qualidade de vida – serenidade, segurança, estética – em detrimento da expansão econômica e acumulação de capital. É pouco provável que ganhem muito impulso fora da Europa ou Japão, exceto, talvez, na região do rio da Prata e entre as minorias das “primeiras nações” indígenas. O consumismo parece persistir como a principal dinâmica cultural.

Articulada pelo movimento do Fórum Social Mundial, a crítica feita pelo Sul global ao capitalismo do Atlântico Norte foi levada mais adiante pelo estudioso português Boaventura de Sousa Santos em sua obra Epistemologias do Sul. Sua análise provavelmente exercerá uma influência cada vez maior devido às mudanças geopolíticas do poder planetário; mas também é provável que encontre resistência arraigada, e não apenas das elites do Norte. O consumismo está seduzindo novas e vastas camadas do Sul, que acorrem, em adoração, aos shopping centers que brotam como cogumelos. Boaventura e outros estudiosos abrem um espaçocrítico que deveria abalar a arrogância cultural do Norte. O problema deles é que se dirigem sobretudo àqueles que têm mais a perder com a sua mensagem: os modernos do Norte. No entanto, o espelho do Sul que o movimento do Fórum Social Mundial mostrou ao capitalismo do Atlântico provavelmente será incorporado ao pensamento crítico do Norte – tal como deveria ser.

Em resumo: as populações pré-capitalistas, lutando para conservar seu território e seus meios de subsistência; as massas “excedentes”, excluídas do emprego formal nos circuitos da produção capitalista; os trabalhadores fabris explorados em todas as zonas ex-industriais decadentes e outras zonas empobrecidas; novas e antigas classes médias, cada vez mais oneradas com o pagamento de dívidas às corporações financeiras – estas constituem as possíveis bases sociais para as críticas contemporâneas à ordem capitalista dominante. O avanço exigirá, quase com certeza, alianças entre essas bases e, portanto, a articulação de seus interesses. Para qual caminho, ou quais caminhos, vai pender a nova classe média na África, Ásia e América Latina? Esse será um fator determinante e vital.


Se a classe média em ascensão representou a vanguarda do desenvolvimento capitalista na Euro-América do século XIX, hoje sua função não é mais essa. O capital financeiro e as empresas multinacionais há muito tempo usurparam esse papel. Em vez disso, a classe média precisa tomar partido em sociedades fortemente polarizadas, seja ao lado dos oligarcas contra os pobres, seja com o povo contra os oligarcas. Qualquer crítica viável ao capitalismo do século xxi terá que recrutar grande parte da classe média, abordando algumas de suas preocupações e procurando articulá-las numa direção crítica, igualitária. Isso implicaria respeitar os valores clássicos da classe média de trabalho duro, autossuficiência, racionalidade e justiça. Será preciso articular a compatibilidade desses interesses com as demandas populares de inclusão e igualdade, e a sua incompatibilidade com as práticas insensatas das elites financeiras, os capitalistas de compadrio e os regimes corruptos ou autoritários. A classe média, em especial os assalariados e profissionais liberais, também está potencialmente aberta a críticas culturais feitas ao capitalismo, em especial quanto a questões ambientais e de qualidade de vida. Contudo, dada a inconstância política da classe média, qualquer virada progressista vai exigir a mobilização de considerável força popular entre as duas primeiras correntes sociais já mencionadas: as populações pré-capitalistas invadidas ou marginalizadas, e os trabalhadores que procuram se defender na esfera da produção.

http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-91/tribuna-livre-da-luta-de-classes/novas-massas

O que o DCM contou e o que ainda vai contar sobre a apreensão de coca no helicóptero dos Perrellas

A série de reportagens sobre a apreensão de 445 quilos de pasta base de cocaína no helicóptero da família Perrella trouxa à tona uma série de revelações.
Elas são fruto do nosso segundo projeto de crowdfunding, bancado inteiramente pelos leitores.
Eis onze dos pontos mais importantes levantados até agora pelo repórter Joaquim de Carvalho:
  1. A Polícia Federal conduziu um inquérito sobre o qual o Ministério Público Federal vê indícios de farsa. O procurador Fernando Amorim Lavieri preferiu enxergar indícios de grampo, não de tráfico. O processo que poderia ser mortal para os acusados – os cinco conhecidos e outros que poderiam ser apontados – já nasceu com um antídoto. O juiz decidiu libertar os réus sem ouvi-los.
  2. Na investigação, a polícia não informa quem financiou a operação – que custou pelo menos R$ 6 milhões –, mas isentou rapidamente a família Perrella do rol dos suspeitos. Entre os servidores da Justiça Federal, a ação foi apelidada de “Helicoca”. O nome de Zezé Perrella aparece na transcrição de uma troca de mensagens entre um dos pilotos, Rogério Almeida Antunes, e um primo dele chamado Éder, de Minas Gerais. “Man, eu quase derrubei a máquina do Zezé”, escreveu ele em seu Iphone, usando o Whatsapp.
  3. Há outros envolvidos no transporte da cocaína, além dos cinco denunciados, que não foram ouvidos pela Polícia Federal.
  4. A droga, importada do Paraguai, ficou guardada num hotel fazenda em Jarinu, interior do estado de São Paulo, mas a polícia não aprofundou a investigação que poderia levar aos financiadores do tráfico.
  5. O local exato de onde o helicóptero da família Perrella trouxe cerca de meia tonelada de pasta base de cocaína é Pedro Juan Caballero, no Paraguai. O pouso ocorreu por volta das 9 horas do dia 22 de novembro. Dois homens, um deles brasileiro, ajudaram a colocar a carga preciosa no bagageiro e nos bancos do helicóptero.
  6. A rota do “Helicoca” foi a seguinte: São Paulo-Avaré-Porecatu (Paraná)-Pedro Juan Caballero-Porecatu-Avaré-Jarinu-SãoPaulo-Jarinu-Divinópolis-Afonso Cláudio (Espírito Santo).
  7. Os traficantes ficaram apenas três meses e meio na cadeia e foram soltos no dia em que prestariam depoimento à Justiça.
  8. Um juiz federal estuda anular o processo por uso de provas ilícitas e o helicóptero pode ser devolvido à família Perrella.
  9. O piloto Alexandre José de Oliveira Júnior, que foi libertado, contou como foi o voo da coca. Alexandre afirmou que foi “usado por pessoas poderosas” e que agora teme morrer.
    Alexandre no Campo de Marte
    Alexandre no Campo de Marte
  10. Há dois envolvidos no caso que têm relações com o futebol: Robson Ferreira Dias, vulgo Vovô, qualificado no inquérito como comerciante em Araruama (RJ), e o empresário Élio Rodrigues, do Espírito Santo. Em 2013, os dois se associaram num negócio: levaram do Rio para Vitória um jogador chamado David. O atleta ficou hospedado numa quitinete de Élio enquanto treinava no Desportiva, time capixaba.
  11. A origem da investigação que levou à prisão no Espírito Santo é São Paulo, mas a polícia não diz onde e como soube que o helicóptero dos Perrellas pousaria em Afonso Cláudio com quase meia tonelada de cocaína.

Há grandes perguntas: Quem financiou a operação? Para onde ia a droga?
A apuração continua e, nas próximas semanas, teremos mais informações. Fique ligado.

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/o-que-o-dcm-contou-e-o-que-ainda-vai-contar-sobre-a-apreensao-de-coca-no-helicoptero-dos-perrellas/

Nada de bananas nem macacos, por favor!



Por Douglas Belchior, em seu blog

A foto da esquerda todo mundo viu. É o craque Neymar com seu filho no colo e duas bananas, em apoio a Daniel Alves e em repulsa ao racismo no mundo do futebol.

Já a foto à direita, é do pigmeu Ota Benga, que ficou em exibição junto a macacos no zoológico do Bronx, Nova York, em 1906. Ota foi levado do Congo para Nova York e sua exibição em um zoológico americano serviu como um exemplo do que os cientistas da época proclamaram ser uma raça evolucionária inferior ao ser humano. A história de Ota serviu para inflamar crenças sobre a supremacia racial ariana defendida por Hitler. Sua história é contada no documentário “The Human Zoo”.

A comparação entre negros e macacos é racista em sua essência. No entanto muitos não compreendem a gravidade da utilização da figura do macaco como uma ofensa, um insulto aos negros.

Encontrei essa forte história num artigo sensacional que li dia desses, e que também trazia reflexões de James Bradley, professor de História da Medicina na Universidade de Melbourne, na Austrália. Ele escreveu um texto com o título “O macaco como insulto: uma curta história de uma ideia racista”. Termina o artigo dizendo que “O sistema educacional não faz o suficiente para nos educar sobre a ciência ou a história do ser humano, porque se o fizesse, nós viveríamos o desaparecimento do uso do macaco como insulto.”

Não, querido Neymar. Não somos todos macacos. Ao menos não para efeito de fazer uso dessa expressão ou ideia como ferramenta de combate ao racismo.

Mas é bom separar: Uma coisa é a reação de Daniel Alves ao comer a banana jogada ao campo, num evidente e corriqueiro ato racista por parte da torcida; outra coisa é a campanha de apoio a Daniel e de denúncia ao racismo, promovida por Neymar.

No Brasil, a maioria dos jogadores de futebol advém de camadas mais pobres. Embora isso esteja mudando – porque o futebol mudou, ainda é assim. Dentre esses, a maioria dos que atingem grande sucesso são negros. Por buscarem o sonho de vencer na carreira desde cedo, pouco estudam. Os “fora de série” são descobertos cada vez mais cedo e depois de alçados à condição de estrelas vivem um mundo à parte, numa bolha. Poucos foram ou são aqueles que conseguem combinar genialidade esportiva e alguma coisa na cabeça. E quando o assunto é racismo, a tendência é piorar.

E Daniel comeu a banana! Ironia? Forma de protesto? Inteligência? Ora, ele mesmo respondeu na entrevista seguida ao jogo:

“Tem que ser assim! Não vamos mudar. Há 11 anos convivo com a mesma coisa na Espanha. Temos que rir desses retardados.”

É uma postura. Não há o que interpretar. Ele elaborou uma reação objetiva ao racismo: Vamos ignorar e rir!

Há um provérbio africano que diz: “Cada um vê o sol do meio dia a partir da janela de sua casa”. Do lugar de onde Daniel fala, do estrelato esportivo, dos ganhos milionários, da vida feita na Europa, da titularidade na seleção brasileira de futebol, para ele, isso é o melhor – e mais confortável, a se fazer: ignorar e rir. Vamos fazer piada! Vamos olhar para esses idiotas racistas e dizer: sou rico, seu babaca! Sou famoso! Tenho 5 Ferraris, idiota! Pode jogar bananas à vontade!

O racismo os incomoda. E os atinge. Mas de que maneira? Afinal, são ricos! E há quem diga que “enriqueceu, tá resolvido” ou que “problema é de classe”! O elemento econômico suaviza o efeito do racismo, mas não o anula. Nesse sentido, os racistas e as bananas prestam um serviço: Lembram a esses meninos que eles são negros e que o dinheiro e a fama não os tornam brancos!

Daniel Alves, Neymar, Dante, Balotelli e outros tantos jogadores de alto nível e salários pouca chance terão de ser confundidos com um assaltante e de ficar presos alguns dias como no caso do ator Vinícius; pouco provavelmente serão desaparecidos, depois de torturados e mortos, como foi Amarildo; nada indica que possam ter seus corpos arrastados por um carro da polícia como foi Cláudia ou ainda, não terão que correr da polícia e acabar sem vida com seus corpos jogados em uma creche qualquer. Apesar das bananas, dificilmente serão tratados como animais, ao buscarem vida digna como refugiados em algum país cordial, de franca democracia racial, assim como as centenas de Haitianos o fazem no Acre e em São Paulo.

O racismo não os atinge dessa maneira. Mas os atinge. E sua reação é proporcional. Cabe a nós dizer que sua reação não nos serve! Não será possível para nós, negras e negros brasileiros e de todo o mundo, que não tivemos o talento (ou sorte?) para o  estrelato, comer a banana de dinamite, ou chupar as balas dos fuzis, ou descascar a bainha das facas. Cabe a nós parafrasear Daniel, na invertida: “Não tem que ser assim! Nós precisamos mudar! Convivemos há 500 anos com a mesma coisa no Brasil. Temos que acabar com esses racistas retardados, especialmente os de farda e gravata”.

Quanto a Neymar, ele é bom de bola. E como quase todo gênio da bola, superacumula inteligência na ponta dos pés. Pousa com seu filho louro, sem saber que por ser louro, mesmo que se pendure num cacho de bananas, jamais será chamado de macaco. A ofensa, nesse caso, não fará sentido. Mas pensemos: sua maneira de rechaçar o racismo foi uma jogada de marketing ou apenas boa vontade? Seja o que for, não nos serve.

Sou negro, nascido em um país onde a violência e a pobreza são pressupostos para a vida da maior parte da população, que é negra. Querido Neymar – mas não: Luciano Hulk, Angélica, Reinaldo Azevedo, Aécio Neves, Dilma Rousseff, artistas e a imprensa que, de maneira geral, exaltou o “devorar da banana” e agora compartilham fotos empunhando a saborosa fruta, neste país, assim como em todo o mundo, a comparação de uma pessoa negra a um macaco é algo culturalmente ofensivo.

Eu como negro, não admito. Banana não é arma e tampouco serve como símbolo de luta contra o racismo. Ao contrário, o reafirma na medida em que relaciona o alvo a um macaco e principalmente na medida em que simplifica, desqualifica e pior, humoriza o debate sobre racismo no Brasil e no mundo.

O racismo é algo muito sério. Vivemos no Brasil uma escalada assombrosa da violência racista. Esse tipo de postura e reação despolitizadas e alienantes de esportistas, artistas, formadores de opinião e governantes tem um objetivo certo: escamotear seu real significado do racismo que gera desde bananas em campo de futebol até o genocídio negro que continua em todo o mundo.

Eu adoro banana. Aqui em casa nunca falta. E acho os macacos bichos incríveis, inteligentes e fortes. Adoro o filme Planeta dos Macacos e sempre que assisto, especialmente o primeiro, imagino o quanto os seres humanos merecem castigo parecido. Viemos deles e a história da evolução da espécie é linda. Mas se é para associar a origens, por que não dizer que #SomosTodosNegros ? Porque não dizer #SomosTodosDeÁfrica ? Porque não lembrar que é de África que viemos, todos e de todas as cores? E que por isso o racismo, em todas as suas formas, é uma estupidez incompatível com a própria evolução humana? E, se somos, por que nos tratamos assim?

Mas não. E seguem vocês, “olhando pra cá, curiosos, é lógico. Não, não é não, não é o zoológico”.

Portanto, nada de bananas, nada de macacos, por favor!

http://www.rodrigovianna.com.br/plenos-poderes/nada-de-bananas-nem-macacos-por-favor.html

Elias Candido: Macaco?! Uma banana! Não somos macacos, não!





Elias Candido, no Facebook 

Macaco, uma banana!!!

Daniel Alves é um excelente jogador desse tempo. O Barcelona é um grande time de futebol, e o seria em vários tempos. O preconceito sempre existiu, enquanto o racismo, do ponto de vista histórico, é mais recente. Nesse tempo atual, Daniel, preconceito, racismo, futebol e Barcelona se encontraram. E não foi a primeira vez. A atitude do jogador brasileiro , ao comer uma banana que lhe havia sido atirada com objetivos ofensivos foi pensadamente espontânea.

Uma resposta dada em segundos para uma agressão que dura séculos. Agressão, essa, que se manifesta em objetos atirados contra pessoas, em abordagens policiais injustas e com desfechos dos mais diversos, em esforços para manter pessoas em subempregos, sem escolas, sem saúde, sem teto, sem terra, sem cidadania; mas que se manifesta, mas comumente, em forma de impropérios, xingamentos racistas feitos de uma distância segura, mas que cumprem sua função de diminuir quem já está oprimido por um esquema racialista planejado.

Proeminentes colegas de profissão de Daniel , jornalistas, apresentadores de programas, políticos entre outros, alguns bem intencionados, outros não, se apressaram em lançar a campanha: “somos todos macacos”.

Essa é uma campanha a qual eu não poderia aderir por vários motivos, mas o simples deles é: Não sou macaco. Sou uma pessoa. Um torcedor fascista , frustrado e criminoso do outro lado do mundo não tem condições de me convencer do contrário. Preconceito e racismo se combatem com Políticas de inclusão, leis punitivas realmente duras e de fácil aplicação, e com muita educação, em todos os aspectos que esse conceito tem. Campanhas tontas e algo cínicas só atrapalham o combate a esse complicado problema humano.

Não sei de quem partiu essa ideia idiota, de animalizar a todos baseada em atos de psicopatas em estádios de futebol (o que tem muito, hoje em dia). Mas o fato é que ela servirá aos mais diversos interesses, nenhum deles bom.

Vejo pessoas que têm empresas e /ou programas de televisão que poderiam empregar ao menos um negro em um cargo importante aderirem à campanha. Vejo jornalistas que combatem duramente o programa de cotas ou qualquer ação afirmativa aderirem também.

E por quê? Tirando os companheiros de profissão de Alves, cuja única perspectiva que eu alimento em relação a eles é uma boa atuação na Copa, e foram orientados por uma agência de propaganda que disse que a melhor forma de se combater preconceito é acabar com a palavra, seja lá o que isso signifique, quem são os demais?

Nunca havia visto a prontidão de certos setores em apoiar uma ação antirracista sem contemporizar ou pedir calma aos ditos “radicais”. Mas eu sei, sim, o porquê. Ouvi um cantor sertanejo dizer, enquanto comia bananas em apoio à causa, que essas ações, tanto a do jogador quanto a campanha, eram perfeitas porque seguiam os preceitos de Ghandi, de apanhar sem reagir. A apresentadora concordou com um discurso vazio enquanto um humorista, também comendo dessa fruta, fazia sinal de aprovação. A plateia aplaudia, enquanto recebia unidades do mesmo alimento.

Ao longo do dia, todo tipo de pessoas, insisto, todo tipo, se apresentava para a batalha contra o mal com a única arma exigida: uma foto postada em redes sociais comendo banana. Não, não somos macacos. Pensamos e raciocinamos.

A elite nacional e os pobres de espírito querem nos convencer de que somos todos iguais, todos “macacos” , que somos um povo unido e a questão do racismo se resume em falta de cortesia de torcedores em terras estrangeiras. Basta portanto , ignorar ou devolver a ofensa, de preferência, de forma bem humorada.

Não , não somos macacos. Somos inteligentes. Sabemos quais as causas , históricas e atuais que fizeram com que uma das únicas maneiras de ascenção do negro fosse através do futebol. Se dependesse da turma dessa campanha, nem essa o seria. Porque foram e são contra todas as políticas que visem diminuir a desigualdade racial nesse país. Mas sejamos justos, também são contra diminuir a desigualdade social, de gênero, regional, ou qualquer fator que emancipe pobres, principalmente se esses forem negros.

Não, não somos macacos. Temos bom senso. Sabemos que muitos que aderiram o fizeram de boa fé. Mas sabemos que as estrelas que aparecem nesse momento não têm em seus corpos de assessoria nenhum negro. Pesquisem. O único nordestino em que votaram foi Fernando Collor. Pesquisem. Acham que não são racistas porque têm motoristas e seguranças negros. Perguntem a eles , se puderem. Eles mesmo dirão isso. Não , não somos macacos. Gente é o que somos. Nenhum racista vai nos convencer do contrário.

ELIAS CANDIDO é professor, militante da Igualdade Racial e presidente do Diretório Zonal do PT em V. Matilde. 

http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/elias-candido-nao-somos-macacos-nao.html