terça-feira, 26 de agosto de 2014

“Aqui entre nós” na VEJA.com


Por Reinaldo Azevedo

A fantástica fábrica de manchetes do Dr. Frias

por : 
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O ministério da Saúde adverte: esta pesquisa pode comprometer a saúde de todo mundo
Pesquisa eleitoral deveria vir com um anúncio bem grande, igual ao dos maços de cigarro:
O ministério da Saúde adverte: esta pesquisa pode comprometer a saúde de todo mundo.
As pesquisas, como os remédios, tem contraindicações e efeitos colaterais.
Não devem ser ingeridas sem recomendação profissional. A concentração e posologia têm que ser respeitadas.
Uma amiga – grande conhecedora de matemática financeira e estatística – me alerta para a pesquisa Datafolha, feita no dia seguinte ao acidente que matou Eduardo Campos.
Aquela em que Marina faz Aécio aterrizar em Cláudio.
Enquanto as manchetes da Folha alardeavam aos quatro ventos que Marina havia dobrado a intenção de votos no PSB de uma dia para o outro, os dados escondidos no final da pesquisa colocavam essa certeza em dúvida:
“Na pesquisa espontânea, sem a apresentação de nenhum nome aos eleitores, 24% apontam Dilma como nome para a Presidência, índice similar ao registrado em pesquisa realizada nos dias 15 e 16 de julho, quando 22% citavam a petista. As menções a Aécio também tiveram oscilação positiva no período, de 9% para 11%. O nome de Marina foi apontado por (5%), e metade do eleitorado (49%) não mencionou nenhum nome espontaneamente.”
Assim como aqueles anúncios que apresentam uma oferta incrível, seguida de uma nota de rodapé em letras miúdas que contradizem todas as vantagens anunciadas.
Ou seja, se as eleições fossem hoje – como devem esclarecer as pesquisas – o candidato eleito poderia ser qualquer um, por que a maioria iria decidir na cabine de votação.
Um resultado que dispensa qualquer pesquisa.
Pesquisa espontânea é aquela em que o entrevistado diz em quem vai votar sem olhar uma lista de opções. As pesquisas estimuladas partem do princípio que o eleitor escolhia seu candidato entre os nomes contidos nas antigas cédulas de votação.
A partir da introdução das urnas eletrônicas, todo voto passou a ser espontâneo, e não estimulado.
Além do ministério da Saúde e da justiça eleitoral, as pesquisas precisam ser fiscalizadas também pelo Conselho de Autoregulamentação Publicitária.
Mas o melhor fiscal continua sendo você.
Já que elas não são acompanhadas de uma bula aprovada pela Anvisa, o remédio é você produzir a sua.
Medicamentos e pesquisas de opinião não são feitos por leigos e não deveriam ser utilizados por leigos, exatamente pelos perigos que isso representa.
As pesquisas de opinião surgiram para orientar especialistas que sabem como elas são feitas e como utiliza-las.
Elas são um elemento para se avaliar opiniões, e não defini-las ou influencia-las.
Mas foram transformadas numa máquina de produzir manchetes que só existe no Brasil.
Quem inventou essa máquina é um notório usuário dela.
Nos anos 80, quando era editorialista da confiança de Otávio Frias na Folha, o eterno candidato a presidente José Serra sugeriu a criação do Datafolha e indicou o sociólogo Vilmar Farias – professor da FGV de São Paulo, seu amigo e assessor de confiança de FHC – como consultor.
Vilmar foi o autor das pesquisas que viriam a constituir as bases do programa Bolsa Escola no governo FHC. Hoje, Bolsa Família.
Frias aprovou o projeto e a Folha ganhou a sua fantástica máquina de manchetes, que até o ex-concorrente Estadão foi obrigado a copiar e citar como fonte.
A Folha é – até hoje e mais do que nunca – um caso inusitado de jornal que produz notícias.
Não conheço outro exemplo no mundo. Nem nos EUA, a pátria das campanhas de relações públicas e publicidade.
O New York Times nunca teve essa idéia, e nem poderia. Nem o Pravda, o Granma e nem mesmo Rupert Murdoch.
Recentemente perdemos o professor Marcus Figueiredo que dedicou a vida tanto às pesquisas de opinião quanto à redação de suas bulas.
Figueiredo foi professor do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro – o Iuperj – e do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Uerj – o Iesp.
No Iesp, criou um laboratório de pesquisas em comunicação política opinião pública – o Doxa, ou “opinião” em grego.
O Doxa produz o Manchetômetro – que se dedica a analisar exatamente as manchetes que as fábricas de manchetes produzem.
O Manchetômetro permite perceber claramente quem é o candidato de cada jornal, mesmo que eles não declarem ou mesmo escondam.
A partir do trágico desaparecimento de Eduardo Campos em 13 de agosto, o Manchetômetro foi obrigado a criar o Marinômetro, só para medir o comportamento da grande imprensa em relação a sua vice, Marina Silva. A confusão foi tal que até a metodologia de pesquisa foi alterada, com a substituição dos critérios de valor das opiniões veiculadas por matéria pelo das tendências de cada jornal em relação à nova candidata.
Marcos Coimbra – outro sociólogo, presidente do Instituto Vox Populi e colunista de Carta Capital – também se dedica às pesquisas e às bulas.
Diz ele em sua última coluna na revista:
‘Recordar é viver. Muitos se esqueceram, outros nem souberam, mas a realidade é que a “grande imprensa” formulou com clareza um projeto de intervenção na vida política nacional.
Não é teoria conspiratória. Quem disse que os “meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste País, já que a oposição está profundamente fragilizada”, foi a Associação Nacional de Jornais, por meio de sua presidenta, uma das principais executivas do Grupo Folha. Enunciada em 2010, a frase nunca foi tão verdadeira quanto de 2012 para cá.”
E conclui:
É assim que a população brasileira tem sido servida de informações desde quando começou o ano eleitoral. É isso que faz a mídia para exercer o papel autoassumido de ser a “oposição de fato”.
O pior é que a influência dessas empresas ultrapassa o noticiário. Elas contratam as pesquisas eleitorais que desejam e as divulgam quando e como querem. E organizam os debates entre candidatos.
“Está mais que na hora de discutir a interferência dessa mídia no processo eleitoral e, por extensão, na democracia brasileira.”
Enquanto essa droga não for proibida ou controlada, só há um remédio: prestar atenção nas bulas e evitar a automedicação.
Vamos começar a ler as bulas?
Sobre o Autor
Jura Passos é jornalista. Formou-se na Escola de Comunicações e Artes da USP e fez especialização em comunicação e políticas públicas no Hubert H. Humphrey Institute of Public Affairs da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos. É um eterno aprendiz de capoeira, samba e maracatu e adora viajar de bicicleta por ai, menos em São Paulo.
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/a-fantastica-fabrica-de-manchetes-do-dr-frias/

Nove pontos sobre aquele avião…


O PSB promete para hoje uma “explicação” para a história do avião que servia à campanha do partido, no qual Marina Silva também viajou muitas vezes. Vamos pôr um pouco de objetividade nessa história.
1: Marina fazia parte da chapa registrada no TSE: era vice de Eduardo Campos. A coligação tem, perante a Justiça Eleitoral, a mesma responsabilidade que teria um partido político — responsabilidade esta compartilhada pelos candidatos, Marina inclusive: como vice antes, como titular agora.
2: Há o dever legal de declarar todas as despesas realizadas. Como esquecer que o simples pagamento, não declarado, a gráficas que imprimiram santinhos resultou na perda de mandato  de pessoas eleitas e já diplomadas? O Ministério Público Eleitoral denuncia, o processo pode demorar, mas a punição vem. Estamos falando de migalhas diante dos gastos de um jatinho de última geração.
3: Avião sempre deixa rastro, a cada decolagem e pouso, como provou o famoso “Morcego Negro”, de PC Farias (quem ainda se lembra daqueles tempos ingênuos?). A aeronave é abastecida com emissão, suponho (ou não?) de notas fiscais. Nesse caso, saiu com CPF ou CNPJ de quem?
4: A cada pouso e decolagem, deve haver registro do tempo em que o avião devidamente identificado ficou em terra, da hora em que pousou e depois decolou. A aeronave tem prefixo, identificação, e tudo fica vinculado a essa identificação. O serviço costuma ser pago. Quem pagou, ou para quem foi faturado?
5: Quando a aeronave está em terra, para que seja liberada para voo, é preciso informar o destino à torre de comando do aeroporto e os nomes dos passageiros a bordo. A torre autoriza o plano de voo. Tudo fica registrado. De quantos voos participou Marina, por exemplo?
6: É obvio que, no caso desse avião e suas despesas (combustível, hangares, pilotos), há uma enorme confusão a ser acertada com a Justiça Eleitoral. E não vai ser fácil. Marina é responsável porque era da coligação e compunha a chapa registrada no TSE. Ela está aí e tem de explicar de forma convincente, o que, sinceramente, duvido que vá conseguir.
7: A atual chapa do PSB só existe porque substitui a primeira, devidamente registrada, da qual Marina fazia parte. E, reitere-se, ela foi usuária do avião.
8: Pertencesse o avião ao próprio Eduardo Campos, fosse alugado, fosse emprestado, tudo tem de ser informado à Justiça Eleitoral, apontando a origem dos recursos empregados. Talvez essa demora do PSB se deva à necessidade de construir uma história que, começando pelo fim, tem de inventar um começo. Acreditem: sempre sobrará uma lacuna.
9: Marina, que se comporta às vezes como a corregedora-geral do mundo, tem o dever legal e moral de dar explicações. Vai que seja eleita e tenha depois o seu mandato cassado por crime eleitoral.
Por Reinaldo Azevedo

http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/nove-pontos-sobre-aquele-aviao/

Anúncio de pesquisa e debate, terça feira gorda

Na terça-feira gorda, as explicações do PSB para seu voo cego, os números do Ibope e o debate entre os presidenciáveis. Ou: Que venha a clareza!

Hoje é um dia cheio. E como! A Band realiza o primeiro debate entre os presidenciáveis. O Jornal Nacional divulgará os números da pesquisa Ibope. Se o que se cochicha por aí se cumprir, Marina Silva, da Rede, mas aboletada no PSB, deve aparecer em segundo lugar, mais próxima da petista Dilma Rousseff do que jamais esteve, com a possibilidade de estar à frente no segundo turno, fora da margem de erro. Só isso? Não! O PSB também promete para hoje uma explicação para o grande mistério da chamada “nova política” que Marina encarna: afinal de contas, de quem era aquele avião que se espatifou no chão, matou Eduardo Campos e outros seis e pode ter aberto para a ex-senadora petista a possibilidade de se eleger mesmo não tendo um partido?
O governo petista está de tal sorte desgastado que o mercado, nesta segunda, reagiu com euforia ao simples boato de que Marina pode vencer Dilma nas urnas. É o que já vinha acontecendo quando essa possibilidade apontava para Aécio. Ainda que a líder da Rede esteja mais para incógnita do que para resposta, conta o fato de que ela, afinal, não é… Dilma. De resto, os cardeais da papisa, como Maria Alice Setubal e Eduardo Giannetti, já deixaram claro que o setor financeiro não tem o que temer. Uma promessa de independência do Banco Central já rende adesões… “Mas e a história de que Marina defende o Decreto 8.243 e quer criar os tais conselhos populares?” Convenham: não é uma causa que sensibilize tanto assim os mercados, né? Se democracia lhes fosse uma condição inegociável, cairiam fora da China… Sigamos.
Como vão se comportar Dilma Rousseff e Aécio Neves? Comenta-se que ambos tendem a evitar o embate direto com Marina. Será mesmo que é uma boa saída? A ser assim, a tendência, então, é que se dê o confronto entre os nomes do PT e do PSDB, que é tudo o que quer a candidata do PSB, que se apresenta como uma suposta terceira via, insistindo na tecla de que o país já está cansado daquele velho confronto.
Reconheça-se, no entanto, que Marina chega ao debate ainda ungida por certa esfera de santidade. O embate com ela pode render desgaste, sim, tanto a Aécio como a Dilma, a menos que consigam evidenciar o que podem considerar seu despreparo, suas eventuais contradições ou sei lá o quê.
Vamos ver: os números do Ibope serão divulgados antes do debate. Os três já os conhecerão. Se a distância que separa Marina de Aécio for muito grande, não resta ao tucano, acho eu, outra saída que não questionar firmemente a oponente que pode lhe tomar o segundo lugar. Se houver evidências na pesquisa de que Dilma caminha para uma derrota no segundo turno, preservar a candidata do PSB também não será uma atitude prudente da petista.
O que eu acho que tem de ser feito? Olhem aqui: esse embate eleitoral se tornou de tal sorte contaminado por mitologias e misticismos que, se me fosse dado sugerir alguma coisa, recomendaria nada além da clareza absoluta. Os três principais candidatos que estarão no debate já propuseram — e realizaram — coisas para o Brasil. Os três fariam um bem ao país se forçassem o debate para que os outros dois pudessem ser confrontados com suas palavras e com suas obras.
Texto publicado originalmente às 5h20
Por Reinaldo Azevedo

http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/na-terca-feira-gorda-as-explicacoes-do-psb-para-seu-voo-cego-os-numeros-do-ibope-e-o-debate-entre-os-presidenciaveis-ou-que-venha-a-clareza/

Não entro na conversa de que o inimigo do meu inimigo é meu amigo.



Marina tentou explicar a fábula do avião sem dono. Para não variar, deu mais uma de suas declarações incompreensíveis sobre o nada. Ou: Não entro na conversa de que o inimigo do meu inimigo é meu amigo. Isso é ruim até como exercício de guerra

Não me peçam para aderir a ondas de opinião com base no que pensam este ou aquele, especialmente gente que detesto ou execro. Imaginem se justamente pessoas que desprezo iriam determinar os rumos das minhas escolhas. Seria um contrassenso. Alguém me viu aqui a tratar delinquentes que saíam quebrando tudo por aí como aliados objetivos só porque a popularidade de Dilma caía? Quem passou a mão na cabeça deles foi Gilberto Carvalho, não eu. Dá-se o mesmo agora com a “onda Marina”, que pode, reconheço, virar tsunami e devastar nosso futuro: “Ah, entre a Dilma e a Marina, tudo contra o statu quo…”. Não é assim que eu penso. Não é assim que eu opero. O voto nulo, numa democracia, é um direito. Se necessário, eu o usarei.
Imbecis dizem por aí: “Claro! Reinaldo é simpático ao PSDB!”. Sou? Perguntem aos tucanos para ver se eles acham isso. Mas vamos ao que mais interessa: hoje é dia 26. Já se passaram 13 dias desde o acidente que matou Eduardo Campos e outras seis pessoas. Até agora, o PSB não conseguiu dizer a quem pertencia o jatinho. Pior: tanto Marina Silva como Beto Albuquerque, candidato a vice, tiram ares de ofendidos e ainda tentam cutucar a Polícia Federal, cobrando dela um esclarecimento. Até parece que havia alguma conspiração possível, cuja investigação coubesse à PF. De resto, tivesse havido, a única beneficiária seria Marina, não é? Ou terei perdido alguma coisa? Adiante.
Nesta segunda, a candidata do PSB à Presidência falou a respeito. Foi a primeira vez que resolveu pedir para a procissão parar o andor para que ela se dirigisse aos fiéis. E se saiu com estas palavras, prestem bem atenção: 

“Queremos que sejam dadas as explicações de acordo com a materialidade dos fatos, e, para termos a materialidade dos fatos, é preciso que haja tempo necessário para que essas explicações tenham as devidas bases legais”.
Você não tem culpa nenhuma se não entendeu patavina. Eu também não entendi nada. Marina não entendeu nada. Beto Albuquerque não entendeu nada. Os demais leitores não entenderam nada. Os outros jornalistas não entenderam nada. E é fácil explicar por que é assim: Marina não falou para ser entendida. A isso se chama técnica do despiste. Ela já é dona, no mais das vezes, de uma retórica incompreensível porque faz questão de deixar claro que não habita este mundo em que mortais arrastam suas vidas terrenas. Ela desfila sua figura e seu olhar etéreos como quem se comunica com dimensões que nos escapam, daí falar uma língua que quase sempre sugere, mas nunca explica.
Desta feita, ela exagerou. Vamos quebrar em pedaços o que ela disse: “Queremos que sejam dadas as explicações de acordo com a materialidade dos fatos”. Como? Que sejam dadas por quem? Eu não voei naquele avião. Você não voou naquele avião. Ela sim! Quem é o agente da passiva de sua sintaxe? Marina quer que as explicações sejam dadas por quem? Aí a candidata diz que é preciso tempo para que as “explicações tenham as devidas bases legais”. Como assim? Com um pouco de severidade, é possível inferir que está a nos dizer: “Olhem aqui: nós estamos tentando arrumar alguma desculpa legal para dar; quem sabe a gente consiga até amanhã”.
Dilma resolveu tirar uma casquinha na entrevista coletiva concedida nesta segunda quando indagada sobre o avião: “Eu não estou acompanhando isso, porque, você vai me desculpar, mas não é objeto do meu profundo interesse. Agora, acredito que nós, que somos candidatos, inexoravelmente temos de dar explicação de tudo. (…) Candidato a qualquer cargo eletivo, principalmente a presidente da República, está sujeito a ser perguntado sobre qualquer questão e deve responder, se puder, né?”.
Dilma sabe bem do que fala porque deixou e deixa de responder a muita coisa. Querem um exemplo: até agora, a pergunta que lhe dirigiu William Bonner no “Jornal Nacional” segue sem resposta. Ele quis saber se o PT não fez mal em tratar corruptos condenados como heróis do povo brasileiro. A candidata Dilma afirmou, então, que, como presidente, não se pronunciava sobre julgamento do Supremo. Ora: era uma questão dirigida à candidata, não à presidente, e dizia respeito ao PT, não ao Supremo. Como diria a petista, candidatos devem responder a qualquer questão — se puderem… Ela, por exemplo, não pôde.
Mas volto a Marina. Hoje, dia 26, 13 dias depois do acidente, vamos ver a desculpa que o PSB arrumou para a fábula do avião sem dono…
Encerro
Para encerrar: não me peçam para brincar daquela historinha de que “o inimigo do meu inimigo é meu amigo…”. Isso é ruim até como exercício de guerra, como não cansa de provar a realidade. De resto, em política, existem adversários, não inimigos a serem destruídos. Mais: não faço política — e, portanto, nessa área, nem adversários eu tenho. No máximo, há ideias e valores que não me servem. E é sobre eles que falo.
Marina não terá o meu voto enquanto falar uma língua que, segundo entendo, avilta a razão e enquanto defender propostas que violam os fundamentos da democracia representativa. E ponto.
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/marina-tentou-explicar-a-fabula-do-aviao-sem-dono-para-nao-variar-deu-mais-uma-de-suas-declaracoes-incompreensiveis-sobre-o-nada-ou-nao-entro-na-conversa-de-que-o-inimigo-do-meu-inimigo-e-meu-amig/

NEM TUDO QUE NÃO É PSDB ME SERVE.




Vou fazer aqui uma revelação desnecessária mas forçosa tendo em vista o momento político atual. Desagradarei alguns e surpreenderei outros. Fazer escolhas implica contrariar interesses, como não sou de ficar em cima do muro e a opção do voto nulo não está em meus horizontes, porque acho que para ter o direito de criticar eu tenho que participar, não sou daqueles que não votam ou votam branco ou nulo e ainda assim se sentem no direito de falar mal do sistema político e dos políticos sem fazer valer seu direito de escolher um candidato para depois ficar criticando. Não deveriam e nem poderiam criticar, já que não fizeram a escolha de votar em um candidato não importando o partido.

Pois bem, dito isso faço as ressalvas de que NÃO SOU FILIADO AO PARTIDO DOS TRABALHADORES E JAMAIS VOTEI EM UM CANDIDATO DO PSDB. Já votei em vários candidatos que não são do PT. Nunca votei num candidato do PSDB. Nos últimos 12 anos tenho combatido as ideias conservadoras da velha mídia e de seus colunistas, especialmente as ideias de Reinaldo Azevedo e seus acólitos, recusando a me convencer da validade dos argumentos que são usados para interromper os governos trabalhistas do PT. Especialmente a argumentação seletiva no campo moral, terreno fértil, exaustivamente explorado para atingir a imagem das principais lideranças do PT. Não há o mesmo tratamento para com os governos do PSDB, não por falta de escândalos mas por pura má vontade, por uma desfaçatez que beira ao cinismo.

Essa narrativa construída não passa pelo imperativo categórico de mudarem os governos do PSDB em São Paulo ou em Minas Gerais. O que serve para o PT no plano federal não serve para o PSDB nesses estados embora o PT esteja há menos tempo no governo do que eles em SP e MG. O desejo de mudanças captados em pesquisas de opinião só servem para o governo federal do PT. Nos estados onde o PSDB governa está tudo indo muito bem, portanto vota bem quem votar para eleger os tucanos nessas unidades federativas. No Brasil governado pelo PT nada presta. Serviços públicos, economia, política externa tudo é um caos. Menos nos estados governados pelo PSDB, onde as coisas funcionam as mil maravilhas e não há nada de errado. Até a formação de um cartel é encarada como coisa normal no dizer do candidato ao senado José Serra, intimado pela PF para prestar esclarecimentos sobre o famigerado trensalão.

O PT tem sobrevivido politicamente ao constante bombardeio midiático não sem amargar os efeitos colaterais dessa campanha de desconstrução do partido, sentidos de uma forma muito dura em Junho de 2013 quando as ruas do país foram tomadas por uma histeria coletiva, um despertar das "mazelas" trazidas pelos governos do PT para sociedade e durante os preparativos da Copa quando se criou um consenso negativo de que o evento seria um desastre para imagem do Brasil perante o mundo. Uma onda pessimista percorreu todo país gerando um sentimento negativista e de impotência, abalando seriamente o comportamento individual do brasileiro com sérios reflexos para economia, com previsões catastróficas sendo feitas em cima de uma escalada inflacionária até agora não vista.

Tudo isso somado as eleições de 2014 foram tomadas por um clima de desconfiança. A candidata da situação estacionada na casa dos 36 a 38% das intenções dos votos. Os candidatos da oposição um pouco além disso, próximo um ponto ou dois acima da margem de erro. Aí o imponderável acontece. Um dos candidatos falece em plena campanha e é substituído pela sua vice. Não uma vice qualquer, mas uma que já está na cena política há exatos 30 anos mas que se apresenta como o novo, a redentora, mesmo tendo feito parte desse projeto político em curso, mesmo estando no governo petista, no epicentro do escândalo do "mensalão", mesmo tendo sido ministra do meio ambiente durante cinco anos, mesmo não conseguindo diminuir o desmatamento na Amazônia, meta alcançada somente pelo seu substituto, o ambientalista, Carlos Minc.

Volto para as razões que me fizeram escrever esse texto dizendo que jamais pensei em concordar com Reinaldo Azevedo como estou concordando agora, fazendo um trocadilho de suas palavras quando ele afirma "que nem tudo que é PT lhe serve" para dizer que NEM TUDO QUE É PSDB ME SERVE. Marina Silva não me serve. A hipótese de um segundo turno entre Marina Silva e Aécio Neves não existe, mas se fosse factível, se se tornasse realidade, repito: NEM TUDO QUE NÃO É PSDB ME SERVE. Marina Silva não me serve.

Nessa hipótese absurda, mantendo exatamente o mesmo pensamento que tenho a respeito dos tucanos, votaria em Aécio Neves. O faria não tomado pelo ódio, pelo sentimento de despeito, tão somente porque não acredito em salvadores da pátria e não acho que a pátria precisa ser salva. Estamos muito bem obrigado. Temos muito o que melhorar, mas ainda não estamos numa situação de caos político, social e econômico de modo que precisemos de uma candidata messiânica.

Ademais se é pra votar no software pirata prefiro o original. Marina Silva se faz acompanhar de uma herdeira de um banco que está na mira da receita federal cobrado por uma dívida fiscal de 18 bilhões de reais prometendo a independência legal do BC, limitando as ações do governo na definição da política econômica, crucialmente em momentos de crises nos quais a liderança de um governo forte se faz sentir para impedir que interesses privados, do capital financeiro se sobreponha sobre os interesses nacionais. 

Importou André Lara Resende, o cabeça de planilha que orientou Fernando Collor de Mello a fazer o confisco da poupança durante seu governo para integrar sua eventual equipe econômica. Seu principal guru defende medidas econômicas baseadas no arrocho fiscal, na contenção do consumo, no freio da criação de empregos, no aumento das taxas de juros e na redução dos programas sociais. Uma ousadia que nem Aécio teve coragem de defender abertamente.

Diz que se eleita chamará Lula e FHC para uma concertação. Não fala isso diretamente, terceiriza seu pensamento, permitindo que prepostos sinalizem com tal proposta, uma contradição que põe por água abaixo seu discurso de nova política. Não há nada de mais mentiroso do que esse discurso de nova política que abre espaço para que Lula e FHC estejam em um governo que propõe mudar os costumes políticos, que se nega negociar com os partidos políticos, mas aceita que as duas mais felpudas raposas da política tradicional em atividade estejam em um governo que trás simbolicamente o estandarte do novo para mudar tudo que está aí.

Marina não acredita na política mas está usando o sistema político para conseguir um cargo político. Não tem base de sustentação política para formar um governo. É uma sucedânea de Jânio Quadros e de Collor de Mello que mergulharam esse país em duas grandes crises institucionais. 

Pior do que isso é o pensamento conservador que está por trás de seu programa de governo, utilizando da imagem da candidata que ficou associada as mudanças que setores que foram as ruas clamam, prestes a conseguirem restabelecer uma ordem econômica já superada, tantas vezes tentada com os candidatos do PSDB fragorosamente derrotados, mas agora excitados porque encontraram uma estafeta eleitoralmente viável que esteve sempre à sombra do poder, coonestando todos os atos políticos do partido do qual saiu mas é uma de suas fundadoras, embora sem sofrer os desgastes das escolhas políticas impostas pela governabilidade desse presidencialismo de coalizão, o que lhe dá a condição de ser o receptáculo, o ancoradouro do voto dos politicamente desiludidos, que não participam da luta política, que vivem à margem do processo, andando pelas suas franjas, tomados por uma insatisfação que não encontra base factual na realidade, enxergando só as árvores e despercebendo a imensa floresta que está escondida de seu campo de visão.

Não nem tudo que não é PSDB me serve.