quarta-feira, 17 de julho de 2013

Os outros nomes da UDN




Mais uma vez os golpistas se reúnem. Quando um governo começa a distribuir renda, como no sistema escandinavo, a fim de sustentar um tímido “welfare state”, como faz Lula com o Bolsa-Família, contra ele se reúnem bacharéis e banqueiros, políticos, jornalistas e inocentes úteis.


BRASÍLIA - Sexta-feira (21), em Diamantina, o governador Aécio Neves fez o elogio de Juscelino, ao transferir para aquela cidade as solenidades comemorativas de 21 de abril. Para que ficasse bem nítida a intenção, Aécio convidou a filha de Juscelino, Maristela Kubitschek Lopes, para ser a Oradora Oficial da cerimônia. Esse elogio a Juscelino seria impensável, durante os últimos anos de sua vida. Oficialmente, Juscelino era um “morto civil”. Durante o seu governo, no qual rompera os cânones do imobilismo, o presidente fora acusado de corrupção e de ofender a família brasileira com seus amores, reais ou fictícios. O político mineiro, ao candidatar-se para suceder Vargas, e eleger-se em 3 de outubro de 1955 e a empossar–se em 31 de janeiro do ano seguinte – herdara todo o ódio que a União Democrática Nacional endereçara a Vargas. O partido constituía o velho resíduo do bacharelismo nacional, de origem oligárquica, que perdera sua posição hegemônica na sociedade, a partir da Revolução de 30.

A política deixara de ser assunto restrito (ou quase restrito) aos advogados. Novas forças surgiam, em conseqüência da ação modernizadora de Vargas, e a UDN não podia admiti-las. O último grande ato de poder dos udenistas fora a Constituição de 1946, na qual, a pretexto de salvaguardar a ordem jurídica, os advogados exageraram em suas idéias “soi-disant” liberais, mas mantiveram para a classe dominante as posições angulares do poder. E como não podiam deixar de fazer, inscreveram na Lei Fundamental seus próprios privilégios corporativos.

O médico Juscelino, que fora telegrafista e oficial da Força Pública de Minas, provinha da “low middle class”, filho de uma professora e de um caixeiro-viajante morto aos 33 anos. Não pertencia, pela atividade, nem pela formação, ao setor da sociedade tradicionalmente ligado à velha aristocracia remanescente do Império. No governo, fora o preenchimento de cargos que exigiam conhecimento jurídico, Juscelino buscou realizadores, preferindo a presença de engenheiros e pragmáticos. Isso exacerbou o ódio da UDN. Seus líderes eram quase todos bacharéis – com a notória exceção do jornalista Carlos Lacerda. O temor de perder seu poder na sociedade nacional se expressava no ódio contra a coligação PSD-PTB, aliança das classes médias urbanas com os trabalhadores e os empresários nacionalistas – a chamada burguesia nacional. Tratava-se de um movimento de forças modernizadoras. O bacharelismo delirante desses líderes mereceu de Afonso Arinos filho, então jovem diplomata - que rompera com Lacerda - a ferina observação de que “a UDN pensa que o povo come hábeas corpus”. A UDN, que não podia confessar que combatia Juscelino por estar rompendo o poder das oligarquias, acusava, pela imprensa, o presidente de ser o “Pé de Valsa”, o corrupto e corruptor, o irresponsável construtor de Brasília, o esbanjador dos recursos públicos.

Quando, enfim, os bacharéis mais reacionários ocuparam o poder com os militares, coube-lhes encontrar as fórmulas jurídicas para defender o estupro do Estado de Direito. Totalitários por sua natureza, Carlos Medeiros da Silva e Francisco Campos, antigo fundador da corporação fascista “Legião de Outubro”, e redator solitário da Constituição de 1937, redigiram o Ato Institucional, em que se valiam do argumento absoluto da força. Em sua visão do Direito, a Revolução (na verdade apenas um golpe militar clássico) se legitimava por si mesma, ou seja, pela sua vitória sem combate. Outros juristas, como Gama e Silva e Alfredo Buzaid dariam seu aval à Ditadura. Esses fatos servem para realçar a corajosa resistência democrática de tantos outros grandes advogados, alguns até mesmo de origem oligárquica, como Victor Nunes Leal e Evandro Lins e Silva, perseguidos sistematicamente pelo Poder. A partir de certo momento, os advogados, em sua maioria, decidiram partir para a resistência. A bomba contra a OAB atesta essa bravura.

O “corrupto” Juscelino sofreu todas as perseguições conhecidas. Foi humilhado por um interrogatório movido por oficiais inferiores. Reproduzia-se, de alguma forma, o que pretenderam os golpistas contra Getúlio, ao instaurar Inquérito Policial Militar em uma dependência da Força Aérea: a fim de o interrogar, julgar e condenar o Presidente - também sob o pretexto da corrupção – com o aplauso da UDN dos bacharéis. Getúlio os venceu, ao denunciá-los em sua Carta Testamento e na corajosa decisão de deixar a vida. E tanto os venceu que seu sucessor, Juscelino, retomou seu Projeto Nacional.

Hoje, o cerco é contra o presidente Lula. A imprensa, de modo geral, se soma aos bacharéis da velha UDN, que trocou de nome, mas não de alma. O desvario da chamada “opinião publicada” chega aos limites da insânia: o Procurador Geral da República entrou no clima geral. Na realidade – e se trata também de um crime, que deve ser combatido – houve o uso de recursos do chamado Caixa Dois. Esse é um velho mal do sistema político brasileiro e de outros sistemas (o caso norte-americano é exemplar). Se formos andar para trás, chegaremos a Mauá e ao financiamento que sempre fez aos candidatos da Monarquia, da qual – não obstante seus conhecidos méritos – foi sócio privilegiado.

A oposição tem várias faces, e uma muito nítida, a de Tartufo. Se seus líderes, que dominam a maioria do Parlamento, estivessem interessados em moralizar o processo eleitoral, teriam proibido taxativamente o uso de caixa-dois e das doações clandestinas às campanhas e teria imposto um teto às doações registradas. Como no velho exemplo de Lampedusa, mudou-se tudo, para tudo continuar no mesmo. E para confirmar essa postura, o Senador Artur Virgílio reconhece ( uma vez que os tucanos foram apanhados com o bico na gamela) que o uso do caixa-dois é corriqueiro nas campanhas eleitorais.

Mais uma vez – e vale voltar à Carta-Testamento de Vargas -, os golpistas se reúnem. Eles só admitem crescimento econômico para o próprio desfrute. Quando um governo começa a distribuir renda, como no sistema escandinavo, a fim de sustentar um tímido “welfare state”, como faz Lula com o Bolsa-Família, contra ele se reúnem bacharéis e banqueiros, políticos, jornalistas e inocentes úteis.

 

A diferença é que, desta vez, não podem contar com os quartéis. Os militares se encontram vacinados contra a interferência no processo político, e se preocupam muito mais com a defesa da soberania nacional sobre o território brasileiro. Dessa forma, podem esquecer o apelo ao golpe, seja parlamentar, com o pretendido impeachment, seja por outros meios, como a infiltração de agentes provocadores nos movimentos populares, como já está ocorrendo.

O DESABAMENTO
O Sr. Geraldo Alckmin está sem sorte. Como se não bastassem os seus recentes percalços, sabe-se agora que a Nossa Caixa acolhera, em sua direção, “consultores” acusados de cometer atos ilícitos na administração financeira federal, durante o governo do Sr. Fernando Henrique Cardoso. A explicação da direção do banco estadual é mais grave do que a denúncia: tais consultores eram “informais”, e nada recebiam da Caixa. De duas, duas: recebiam seu dinheiro de terceiros e usurpavam função pública, desde que a Caixa é uma autarquia do governo de São Paulo.

Mauro Santayana é colunista político do Jornal do Brasil, diário de que foi correspondente na Europa (1968 a 1973). Foi redator-secretário da Ultima Hora (1959), e trabalhou nos principais jornais brasileiros, entre eles, a Folha de S. Paulo (1976-82), de que foi colunista político e correspondente na Península Ibérica e na África do Norte.

http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=3048

As bombas de Miguel, o carioca que revelou o processo contra a Globo na Receita


Quem é, o que faz e o que toma o autor do blog O Cafezinho.

Ele


Miguel do Rosário, autor do blog O Cafezinho, acha que a Globo deveria lhe pagar. Para ser seu ombdusman. “Eu gosto de escrever sobre os editoriais do Globo. Todo parágrafo tem uma quantidade enorme de distorções, mentiras e manipulações”, diz ele.

Miguel e eu fazíamos parte de uma bancada virtual numa entrevista para a TVT. O programa, chamado Clique Ligue, trazia um debate sobre o jornalismo digital e o impacto das novas mídias. Seu microfone não funcionava direito. A voz desaparecia. Mas ele não precisa de microfone. Miguel tem uma voz na Internet. Com a decisão do Ministério Público do Distrito Federal de abrir uma investigação sobre a sonegação de que a Globo é acusada, isso ficou claro.

Miguel foi quem primeiro publicou cópias do processo da Receita que cobrava a hoje notória dívida de 600 milhões de reais. Como ele as conseguiu? No caso desse escândalo, segundo ele, o imbroglio é cinematográfico e surreal.

Resumindo: existe uma quadrilha especializada em subtrair esses processos. A funcionária Cristina Maris Meinick Ribeiro faria parte desse grupo. Eles teriam pedido 15 milhões de reais para passar o resultado do furto a um “cliente”. Houve um encontro, que acabou mal sucedido. Os papéis teriam ido parar nas mãos do motorista do bando. Dele para uma outra pessoa, que os ofereceu a Miguel.

“O cara me conhecia pelo Cafezinho e fez o contato. Ele pensou em dar para uma revista ou jornal, mas achava, com razão, que a coisa seria abafada por causa do pacto de silêncio da mídia. Se tivesse publicado ali, não teria o mesmo efeito. A imprensa denuncia o governo o tempo inteiro. Mas a imprensa não denuncia a imprensa”.

Na sequencia do furo, o advogado Edu Goldenberg encontrou a ação que pedia a prisão de Cristina Maris. De acordo com Miguel, ela é casada e mora em Copacabana com a mãe. “O marido achou que eles iam ganha uma grana com isso. Cristina é mequetrefe no esquema. Tem cara de que é coisa bem maior”, afirma. “Minha fonte sabia que eu fazia parte de uma rede, que não estava sozinho. Tenho a blogosfera do meu lado”.

O nome do blog não é à toa. Miguel é especialista na, como diria um crítico gastronômico entojado, infusão rubiácea. Seu pai, José Barbosa do Rosário trabalhou na Globo por 15 anos nessa área. Montou uma revista e, depois, uma newsletter sobre o assunto. Os negócios iam bem até que, ironicamente, a Internet surgiu com milhares de páginas dedicadas a café. O velho morreu em 2001 e Miguel deu continuidade por um tempo. “Até que cansei de rever aquelas caras de sempre desse mercado. Mantive o nome, mas resolvei escrever sobre política”.

Aos 38 anos, ele não militou na mídia tradicional. Já tinha visto o que chama de “proletarização” da profissão. Mora na Lapa com a mulher. Afirma que tem mais “bombas” nas mãos (acabou de publicar um post segundo o qual Joaquim Barbosa teria recebido 700 mil reais da UERJ sem trabalhar). “Eu não sou fixado em denúncias. As coisas chegam até mim. Hoje essa matéria da Globo é de domínio público e está sendo acompanhada por jornalistas mais experientes do que eu”.

Um aviso importante: “Compre sempre o café mais suave no supermercado. A torração é mais leve e as qualidades são preservadas. O melhor lugar pra tomar, aqui no Rio, é o Armazem do Café, em Ipanema”.

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/as-bombas-de-miguel-o-carioca-que-revelou-o-processo-contra-a-globo-na-receita/