domingo, 28 de agosto de 2011

Direção do Hotel Naoum confirma crime de Veja


Direção do Hotel Naoum confirma crime de VejaFoto: DIVULGAÇÃO

 

 

Não foi José Dirceu (esq.), mas sim o hotel que registrou B.O. contra o repórter que, pautado por Mario Sabino (dir.), tentou invadir um domicílio; infração pode dar pena de um a três meses




28 de Agosto de 2011 às 15:36
Leonardo Attuch_247 – Na edição do jornal O Globo deste domingo, sobre o caso José Dirceu/Revista Veja, há uma informação relevante, ainda que escondida na reportagem. A direção do hotel Naoum Plaza, em Brasília, confirmou ao Globo que houve tentativa de invasão de domicílio por parte do repórter Gustavo Ribeiro, que foi pautado pelo redator-chefe Mario Sabino – interino no comando, pois o diretor Eurípedes Alcântara está em férias – para seguir os passos do ex-ministro José Dirceu. O crime de invasão de domicílio está previsto no artigo 150 do Código Penal: “Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências”. O crime pode gerar pena de detenção de um a três meses.

Todas as informações prestadas pelo Naoum Plaza vêm sendo repassadas pela gerente Elisabeth Mendes (beth@naoumplaza.com.br). Num caso de invasão de domicílio num hotel, um boletim de ocorrência pode ser registrado tanto pelo hóspede quanto pela administração do empreendimento, que tem a obrigação de zelar pelo domicílio temporário de seus clientes. “As duas partes são vítimas”, disse ao 247 o criminalista José Roberto Batochio, um dos mais renomados do País. De acordo com Batochio, o crime pode ser ainda agravado. “É preciso ver com que intenção foi tentada uma invasão de domicílio”, diz ele. “Seria para suprimir documentos, computadores?” Neste caso, argumenta o advogado, as penas seriam ampliadas porque estariam configurados outros delitos.

O B.O. foi registrado pelo chefe da segurança do hotel na 5ª Delegacia de Polícia Civil do Distrito Federal. Fontes policiais e da Secretaria de Segurança Pública do GDF confirmaram que, nos próximos dias serão tomados vários depoimentos. A começar pela camareira que foi abordada pelo repórter Gustavo Ribeiro. Ele, que se hospedou num quarto próximo ao de José Dirceu, afirmou a ela que havia perdido as chaves e tentou entrar no quarto do ex-ministro, quando foi descoberto e saiu do hotel sem fazer check-out. Também serão ouvidos o próprio repórter e o jornalista Policarpo Júnior, chefe da sucursal da revista Veja em Brasília – há ainda a possibilidade de que seja convocado a depor o jornalista Mario Sabino, que, interinamente no comando de Veja, pautou a reportagem.

Confissão de culpa

Na Editora Abril, que a partir da próxima semana terá um novo presidente, o executivo Fábio Barbosa, sabe-se que o crime foi cometido. Mas a estratégia é de simplesmente ocultá-lo gritando mais alto, por meio de sua tropa de choque, liderada pelo blogueiro Reinaldo Azevedo.

Reinaldo tem escrito em seus posts que a direção do hotel foi instada a registrar o boletim de ocorrência. Ao contrário disso, o hotel confirma que registrou o B.O. por iniciativa própria porque também se sentiu vítima de uma crime cometido por outro hóspede, chamado Gustavo Ribeiro. Aliás, o hotel não tinha conhecimento de que se tratava de um jornalista de Veja. Poderia ser, simplesmente, um assaltante tentando entrar no quarto de um hóspede vizinho – e, por isso mesmo, a direção do hotel tomou a iniciativa de registrar a ocorrência.

Inversão de valores

Nessa tentativa de ganhar no grito, Reinaldo Azevedo tem argumentado que Veja estourou um aparelho clandestino, montado em plena democracia, para conspirar contra a democracia. Ele, que prega agora a demissão do presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, por ter se encontrado com José Dirceu, seu companheiro de partido, alega ainda que a reportagem de Veja deste fim de semana foi uma das mais importantes da era democrática. Isso porque teria havido a invasão do bunker do poderoso chefão – José Dirceu, nosso Kadafi – pela democracia.

Um quarto de hotel não é um aparelho.

Veja não tem poderes de polícia.

Veja não é a democracia.

É parte da democracia, quando age dentro da lei.

Conspira contra a democracia, quando infringe a lei.

Do contrário, seria lícito que pautássemos um de nossos repórteres para invadir a residência da família Azevedo para descobrir eventuais indícios de ligações com a Secretaria de Comunicação do governo de São Paulo – que sabemos inexistentes. Ou também que invadíssemos a residência da família Sabino para buscar registros de viagem recentes na Costa Amalfitana, durante o casamento de um próspero advogado criminalista.

Oportunidade rara

Neste domingo, o futuro presidente da Editora Abril, Fábio Barbosa, escreveu seu último artigo na Folha de S. Paulo, onde é colunista. Barbosa construiu a imagem de “executivo do bem”, com um discurso de sustentabilidade nas empresas por onde passou, como o Real e o Santander.

No artigo deste domingo, ele, mais uma vez, exerce esse papel de “bom moço corporativo”, apontando os valores da cidadania. “Ninguém vive sozinho, e nossas atitudes (boas e más) impactam o todo, que deve ser construído junto”. Termina ele seu texto argumentando que se deve empunhar a bandeira da cidadania e agir de forma coerente.

Barbosa terá plenos poderes na Abril, inclusive sobre a área editorial, a partir de setembro.
Sua coerência será colocada em xeque.

O bom moço corporativo será tolerante com um crime? (leia mais sobre a primeira decisão que ele poderá tomar na Abril)

Naoum aciona PF: Veja pode ter feito filme ilegal

                           

Naoum aciona PF: Veja pode ter feito filme ilegal
Foto: REPRODUÇÃO

 

 

Em entrevista ao 247, o gerente-geral do hotel, Rogério Tonatto, afirma que as imagens (acima) não se parecem com as do circuito interno do hotel; podem, portanto, ter sido filmadas por Veja; perícia irá apontar os responsáveis pelo crime, que já coloca Fabio Barbosa, novo presidente da Abril, diante de um dilema: iniciar ou não a faxina interna?




Leonardo Attuch_247 – O caso Veja/José Dirceu pode ser ainda mais grave do que parece. Há poucos minutos, recebemos uma ligação de Rogério Tonatto, gerente-geral do Naoum Plaza Hotel. Indignado com o vazamento de imagens do corredor de um dos andares do estabelecimento, onde o ex-ministro José Dirceu se hospeda com frequência, ele afirma que elas não se parecem com as do circuito interno do hotel. Ou seja: podem ser fruto de um grampo plantado pela equipe da revista Veja, que também se hospedou no hotel. “Já acionamos a polícia civil do Distrito Federal e vamos também acionar a Polícia Federal para que se apurem todas as responsabilidades”. Leia, abaixo, sua entrevista:

247 – Como foram obtidas aquelas imagens?

Rogério Tonatto – Ainda não sabemos, mas o que podemos dizer neste momento é que elas não se parecem com as do circuito interno de segurança do hotel. Todas as nossas câmeras são coloridas e não faria sentido que a reportagem da revista Veja apagasse a cor das imagens antes de publicá-las.
247 – Então está descartada a possibilidade de que as imagens tenham sido vazadas por algum funcionário do hotel?

Tonatto – Nada está descartado, mas as imagens, a princípio, não são nossas, mas sim de outras fontes.
247 – O grampo pode ter sido plantado pela revista Veja?

Tonatto – Tudo terá que ser apurado. Já registramos um boletim de ocorrência junto à polícia civil do Distrito Federal e pretendemos também acionar a Polícia Federal para que se apurem todas as responsabilidades. Vamos até o fim.

247 – Veja alega que o hotel foi instado pelo hóspede José Dirceu a registrar o boletim de ocorrência.
Tonatto – Ora, é evidente que a iniciativa foi nossa. O Naoum é um dos hotéis mais tradicionais de Brasília. Já hospedamos reis e rainhas em nossos 22 anos de existência. Temos a obrigação de zelar pelos nossos direitos e também pelos direitos de nossos hóspedes.

247 – O dano à imagem do hotel foi grande?

Tonatto – Admito que foi constrangedor ver imagens que dizem respeito à intimidade das pessoas que aqui se hospedam serem expostas daquela maneira.

247 – É verdade que o jornalista Gustavo Ribeiro saiu sem pagar sua conta?

Tonatto – A conta foi paga porque aqui no hotel todos que se hospedam deixam antes uma garantia, com um pré-pagamento no cartão de crédito.

247 – Mas ele saiu mesmo sem fazer o check-out.

Tonatto – Posso dizer que a conta foi paga.

Em reportagem anterior sobre o caso, já havíamos noticiado que o Hotel Naoum confirmava o crime cometido por Veja (leia mais). Na reportagem deste fim de semana, estão expostas imagens de José Dirceu, mas também de senadores, como Lindbergh Farias, Eduardo Braga e Delcídio Amaral, que se encontraram com ele, assim como de executivos, como José Sergio Gabrielli, presidente da Petrobras, e do ministro Fernando Pimentel. Note-se que foram filmados sem autorização judicial e sem que fizessem nada de anormal - apenas encontravam-se com uma pessoa conhecida, que participa da vida política do Brasil.
Recentemente, no maior escândalo da história da imprensa mundial, soube-se que o tablóide britânico News of the World grampeava ilegalmente os alvos de suas reportagens. Rupert Murdoch, dono do jornal, pediu desculpas publicamente na primeira página de todos os seus jornais e foi ainda obrigado a depor diante do parlamento britânico – quando quase foi alvejado por uma torta na cara.
Roberto Civita, dono do grupo Abril, certamente não pedirá desculpas.
Sua tropa de choque já foi escalada para desqualificar o crime de invasão de domicílio, que será investigado pela polícia civil do Distrito Federal e pela Polícia Federal, e para tratar a reportagem deste fim de semana (leia mais sobre ela) como um marco da democracia brasileira.
Mas Civita acaba de contratar como presidente o executivo Fabio Barbosa, que é um incansável pregador da ética corporativa.
Dentro de uma semana, Barbosa estará no comando da Abril, com poderes, inclusive, sobre a área editorial – o que inclui Veja.
E ele tem um prato cheio nas mãos: a oportunidade histórica de iniciar a “faxina” interna.
E isso sem maiores traumas, pois, aparentemente, houve um haraquiri no grupo Abril (leia mais).

Falácias, amnésia seletiva e má sociologia da RBS deseducam o “Rio Grande”

 

Eu quase não acreditei quando enxerguei a manchete do jornal Zero Hora deste domingo (28): “Gosto pelo confronto emperra o Rio Grande”. Ainda isso? Não é possível. Mas o grupo da RBS não desiste de sua tarefa de deseducar a população do Rio Grande do Sul: “Falta de consenso em temas importantes trava o desenvolvimento do Estado, que está ficando para trás em comparação com outras unidades da federação”. Não se trata apenas de uma incursão sociológica equivocada. É uma tese falsa que consegue a proeza de tirar conclusões sobre a situação econômica do Estado sem tratar de economia. Os problemas do “Rio Grande” seriam “uma cultura que valoriza o conflito, a polarização ideológica, a atmosfera de discórdia e a força do corporativismo”.

É verdade. A economia do Rio Grande do Sul vem perdendo terreno no cenário nacional, não acompanhando o crescimento médio registrado no país. Mas não é possível analisar esse problema sem levar em conta dados objetivos sobre a economia do Estado. Chega a ser constrangedor ter que afirmar isso. Até onde minha memória alcança, esse discurso foi inaugurado pela RBS no governo Olívio Dutra (PT) que, do início ao fim, foi caracterizado pelos veículos dessa empresa como um “governo do conflito”. Há um editorial inesquecível de Zero Hora, no dia seguinte à vitória de Germano Rigotto (PMDB), na eleição para o governo do Estado em novembro de 2002: o jornal comemora a derrota do “governo de conflito” e saúda a chegada do “governador pacificador”, que iria recolocar o “Rio Grande” nos trilhos.



Não recolocou. Rigotto fez um governo apático, sem grandes conflitos ou realizações. Há uma amnésia permanente nas matérias editorializadas da RBS sobre o “Rio Grande”. Uma amnésia que anda de mãos dadas com uma postura de tirar o corpo fora. Esses textos “esquecem” que a RBS tomou posições claras nas últimas décadas, defendeu propostas, projetos e determinados governos. Aliás, não só defendeu como participou ativamente dessas escolhas como ocorreu durante o processo de privatizações do governo Britto (PMDB), onde participou da compra da empresa telefônica do Estado. Na época, a RBS prometeu ao “Rio Grande” em seus editoriais que as privatizações, a vinda da GM, a guerra fiscal e a renegociação da dívida do Estado feita pelo governo Britto iriam colocar o Estado em um novo patamar de desenvolvimento. Não deu certo, assim como a pacificação de Rigotto e como o choque de gestão de Yeda Crusius (quando, aliás, um dos fiadores da pacificação de então era o coronel Mendes).

Naquele período, a tese da “mania do conflito” ainda não existia. Ela surgirá com o governo seguinte e, a partir daí, passará a ser afirmada e reafirmada até hoje. O Rio Grande do Sul teria perdido posições em relação a outros Estados por que aqui há um gosto pelo confronto, que teria suas origens na Revolução Farroupilha. A alternância de governos e de projetos é apontada como uma erva daninha, como se, em outros Estados da Federação não houvesse tal alternância. Em três páginas de matéria, não há uma única menção à manutenção de uma matriz produtiva que ignorou as mudanças na economia mundial. O sucateamento do setor calçadista, por exemplo, não tem nada a ver com o “gosto pelo confronto”, mas sim com a concorrência massacrante da indústria chinesa e de outros países asiáticos.

Entrevistei dias atrás, para o jornal Adverso, da Adufrgs Sindical (Sindicato dos Professores das Instituições Federais de Ensino Superior de Porto Alegre), o professor Luiz Augusto Estrella Faria, técnico da Fundação de Economia e Estatística (FEE) e professor associado da UFRGS nos cursos de pós-graduação em Economia e em Estudos Estratégicos Internacionais. Entre outras coisas, Faria fala sobre a decadência da economia gaúcha e aponta alguns elementos que não frequentam a má sociologia do grupo RBS:

O Rio Grande do Sul vive uma semi-estagnação desde nos anos 80. O Estado teve poucos momentos de crescimento neste período. É verdade que todo o Brasil viveu duas décadas perdidas em termos de crescimento, mas, mesmo assim, isso foi pior no Rio Grande do Sul, na média. Com exceção do início dos anos 2000, quando o Estado teve uma media de crescimento maior que a do Brasil, na década de 90 tinha sido pior e na segunda metade dos anos 2000 voltou a ser pior que a média nacional. Historicamente, o Estado sempre teve algo entre 7 e 8% do PIB brasileiro. Hoje estamos entre 5 e 6%.

A economia do RS não se modernizou neste período e ficou, em larga medida, vinculada a alguns setores tradicionais que passaram a crescer pouco por razões diversas. Durante boa parte desse período, os preços dos produtos agropecuários atravessaram uma fase ruim. Só foram melhorar na segunda metade dos anos 2000. Então, foram cerca de 15 anos com preços ruins para soja, milho, arroz e carne. Isso afetou um setor que, no RS, pesa mais do que a média nacional, que é a agropecuária. Além disso, a nossa indústria é, predominantemente, de pequeno e médio porte e vinculada a setores particularmente vulneráveis à competição da Ásia, principalmente.



O maior segmento da indústria gaúcha no início deste período era o calçadista. Hoje, ele praticamente sumiu do mapa, sufocado pela concorrência asiática, que produz o mesmo tipo de calçado, as mesmas grifes tradicionais, em condições de produção muito mais baratas, pois trabalha em uma escala gigantesca. Nós temos aqui pequenas empresas de calçado e lá tudo é mega. Há empresas com dezenas de milhares de trabalhadores fabricando calçado. Esse nível de escala dá um poder de competição gigantesco. Não dá para achar que podemos produzir com uma escala chinesa.

É pedir muito que, em uma matéria que pretende analisar a situação econômica do Estado, se utilize dados econômicos objetivos? Para os editores de ZH, aparentemente é. Mas isso não ocorre por acaso. A má sociologia é alimentada por uma postura arrogante que não reconhece os próprios erros e da “elite” econômica que esse grupo midiático representa. Uma “elite” que foi incapaz de ler as mudanças na conjuntura nacional e mundial e que sempre manteve um discurso hostil ao Estado, a não ser, é claro, na hora de pedir generosas isenções fiscais. A RBS se coloca do lado de fora do jogo, como se fosse um ente a-histórico a pairar sobre o “Rio Grande” e a explicar ao povo gaúcho o que ele deve ou não fazer. Suas escolhas políticas e econômicas permanecem sistematicamente dentro do armário. Isso é fundamental para que volta e meia Zero Hora venha nos alertar para os riscos da “mania de conflito” e do “gosto pelo confronto”. A RBS tem responsabilidade direta sobre várias das escolhas políticas e econômicas feitas no Rio Grande do Sul nas últimas décadas. E, sistematicamente, faz de conta que não tem nada a ver com isso. Talvez seja essa mistura de má fé, amnésia seletiva e má sociologia que esteja emperrando o “Rio Grande”.

Anaori traduz as palavras do Lider Libio Gaddafi

 





27/8/2011, tradução do árabe por Anaori,

publicado no blog “Soa Brasil


Enviado pelo pessoal da Vila Vudu



Aos meus compatriotas



Os assaltantes sionistas capitalistas que querem usurpar a terra de vocês, querem ver-me morto e já ofereceram um prêmio pela minha cabeça. Não sabem que minha cabeça, minha alma e o martírio pertencem a Alá, o grande Deus. Mostrei ao mundo onde está o ninho da maldade.



Pensam vocês meus irmãos, que o acontece ao meu país acontece por minha culpa? Não. Por isso lhes digo que defendam a liberdade de vocês. Ganhamos essa batalha e outras ganharemos. Deus é grande. Vocês têm casa, saúde e escola gratuitos.



Ajudei o Chifre da África e, aqui, nenhum imperialismo imperou. Mas não fiz o bastante. Agora, vocês sofrem. Lutei muito para que, agora, vocês percam tudo. Lutem, lutem, não descansem nem se acovardem.



Somos milhões no mundo que já vimos que as coisas são como eu sempre disse que eram: capitalismo=sionismo=escravidão.



Não nos submeteremos. Meu legado há de servir também a outras nações. Não estou morto, porque muitos ainda me querem vivo.



Estou com vocês nesses dias e nas noites escuras. Estamos com Alá.



Meus irmãos, levem a guerra a cada rincão da opulência, da vaidade, da vida lasciva. Não se deixem seduzir pelo dinheiro do sangue. Os líbios são seres luminosos. Tenham todos a certeza de que vocês estão do lado da grandeza. Deixem passar o tempo. Há forças no interior de vocês. Libertem-se dos demônios do mundo, vivam e deixem viver.



Todos sabem onde estou. Nos oásis mais belos de nosso país. Não destruam a Líbia. Já sobrevivemos a seis meses de martírio e dor. Mas essa é a terra de vocês. Não a vendam.



Minha alma está com vocês. Temos democracia participativa na Líbia. O povo, para o povo. E por que dizem que não? Porque eu estou aqui. Uma voz de revolução? Não. Nem pensam nisso. É tudo pelo petróleo.



O capitalismo está acabado. Irmãos da Revolução Verde, não caiam na mentira capitalista. Para que algum império sobreviva hoje, precisa de guerra eterna.



Vocês não veem que ainda estando eu vivo e combatendo essa batalha infernal, eles já brigam entre eles, disputando o butim da nossa Líbia amada?



Os dissidentes supõem que os colonialistas lhes darão o que eu lhes dei? Pois esperemos, para ver.



Minha família e eu estamos bem, lutando pela verdade. Sofro, apenas, por haver líbios matando líbios. Mas foi o que conseguiram os sediciosos. Eu nunca lutei luta que não fosse por meus princípios, ajudando o povo, o povo líbio e os povos africanos. E eles? O que têm a dizer? Nada! Todos os capitalistas racistas são iguais. São aves de rapina!



Eles e seus slogans de caridade: “Ajudem as crianças da África”. E que criança da África ganha deles alguma coisa? As doações vão para banqueiros e multinacionais e para as empresas que eles criam para lucro deles. Algum africano alguma vez foi beneficiado pelas empresas que eles criam? Não. O Chifre da África sofre o que sofre por causa do imperialismo.



Sou líder e tenho o poder nas mãos. Vivo porque meu povo vive. Por isso querem calar-me. Gaddafi aqui, hoje e sempre.



Povos do mundo levantem-se e façam fugir esses meios homens que querem escravizar vocês.



Agora estou em Sirte. Nasci aqui. Sou filho humilde desse deserto líbio que me viu nascer. Estou em Trípoli, em Benghazi e no mundo. E daqui, falo. E os ianques, onde estão? O que têm a dizer?



Acaso a civilização e a cultura ianque querem pendurar-me numa forca, como o líder do Iraque?



Pois se acontecer, que seja. O martírio honra quem mostra a verdade ao mundo.



Muammar El-Gaddafi

27 de agosto de 2011

Valeu, Steve

 

Ao se afastar da Apple, o maior visionário do século XXI deixa para trás um legado incomensurável. A humanidade agradece

Hélio Gomes

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“Sempre disse que, se um dia eu deixasse de corresponder às expectativas
como CEO, seria o primeiro a informá-los. Infelizmente, esse dia chegou”

Steve Jobs, em carta à equipe da Apple
Não dá para dizer que a notícia pegou o mundo de surpresa, mas a dureza dos fatos teve força semelhante à de um chute direto de Anderson Silva ao pé do ouvido. Na quarta-feira 24, Steven P. Jobs, 56 anos, renunciou ao cargo de diretor executivo da empresa que fundou na garagem de seus pais adotivos em 1976. A partir de agora, ele será presidente e membro do conselho, afastando-se do dia a dia da firma. Chega ao epílogo, portanto, o ciclo produtivo de um dos empreendedores mais odiados, copiados e endeusados da história.

Em seu comunicado de despedida, Jobs não citou seus já conhecidos problemas de saúde, mas é bem provável que aquilo que sua frágil aparência demonstra seja, infelizmente, verdade. Depois de enfrentar um câncer no pâncreas em 2003, o empresário fez um transplante de fígado em 2009. Desde então, encara curtos períodos de trabalho e licenças médicas cada vez mais longas. Sua última aparição pública – em junho, na apresentação do serviço iCloud – causou consternação.

Digerido o susto, tanto o mercado quanto os especialistas em tecnologia alternam momentos de especulação e reflexão. No dia seguinte ao anúncio da saída de Jobs, as ações da Apple – que há poucas semanas chegaram a ser as mais valiosas do mundo, superando as da petrolífera Exxon – caíram 5%. Pouca coisa quando se pensa que, há dez anos, cada papel que hoje vale US$ 376 era comprado por U$ 9.

Por sua vez, o mundo tech tenta prever como será a rotina da Apple na era pós-Jobs. A aposta que parece ser mais certeira é aquela que transforma o maior arquiteto digital do século XXI em uma espécie de guru ou mestre Jedi. Se não tem mais condições físicas de passar horas discutindo o desenho de um simples botão do próximo iPhone em uma reunião, ele pode empenhar seus preciosos minutos em debates filosóficos com seu chefe de design, por exemplo. Jobs montou um time que, assim como ele, aprende por osmose. Há quem diga que o staff atual da Apple é um dos maiores êxitos da carreira do empresário. E o sucesso do novo CEO Tim Cook, à frente do negócio nas últimas licenças médicas do chefe, é a prova irrefutável disso. Mais: sabe-se que muitos produtos e serviços desenvolvidos nos últimos tempos estão na fila para chegar ao mercado. É bem provável que o caminho para os próximos cinco anos já esteja cuidadosamente pavimentado.

Basta olhar para trás para saber que a promessa feita por Jobs em sua carta de despedida – “Os melhores e mais inovadores dias da Apple estão por vir” – não é balela. Como o quadro abaixo demonstra, os produtos lançados pela empresa, sobretudo na última década, redefiniram a comunicação, o entretenimento e a forma como a humanidade lida com o conhecimento. Um exemplo: o iPhone literalmente mudou o mundo ao fazer com que o telefone deixasse de ser um mero comunicador vocal para se transmutar em uma máquina praticamente sem limites.

Em um dos momentos mais marcantes de sua trajetória, o clássico discurso proferido aos formandos da Universidade de Stanford (EUA) em 2005, Steve Jobs resumiu os principais eventos de sua vida em 15 minutos. Sem receio, com a voz e o espírito firmes, falou sobre o momento em que decidiu largar a faculdade (Jobs nunca se formou), sobre a demissão da empresa que fundou e seu posterior retorno e, por fim, sobre sua primeira vitória na luta contra o câncer. “A única forma de realizar um grande trabalho é amar o que se faz. Como todos os assuntos do coração, você saberá quando encontrar esse amor. Continue procurando até achar”, disse o empresário, que acabara de completar 50 anos.

Lições como essa devem fazer parte da primeira biografia autorizada de Steve Jobs, que chega às lojas americanas em novembro. Escrita por Walter Isaacson – ex-editor da revista “Time”, ex-diretor executivo da rede CNN e biógrafo de gigantes como Albert Einstein e Benjamin Franklin –, a obra foi antecipada em alguns meses. A urgência tem suas razões.
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Colaborou André Julião
Assista ao vídeo com trechos do discurso de Steve Jobs na Universidade de Stanford, em 2005 :
Parte 01
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Parte 02
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Chantagem internacional

 

O Equador descobre uma fortuna em petróleo debaixo de uma das florestas mais ricas do planeta e faz proposta inusitada à comunidade internacional:se os países ricos pagarem, o oásis seguirá intocado

Larissa Veloso

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PARAÍSO
Turistas passeiam em canoa no Parque Nacional
Yasuní, um dos últimos biomas intocados pelo homem
Encontrar uma reserva de quase um bilhão de barris de petróleo é o sonho de qualquer nação. Mas, no caso do Equador, um campo descoberto em 2007 veio acompanhado de um grande obstáculo, uma vez que o recurso está debaixo de uma das florestas mais ricas em biodiversidade do mundo: o Parque Nacional Yasuní (leia quadro). Entre a decisão de explorar o campo Ishpingo Tambococha Tiputini (ITT), destruindo um dos últimos oásis ecológicos intocados pelo homem, ou perder US$ 7,2 bilhões em óleo cru, o país propõe uma terceira alternativa. E assim, pela primeira vez na história moderna, uma nação pode deixar de explorar um recurso natural altamente rentável em benefício da natureza. Mas só se a comunidade internacional pagar para isso.

Em 1989 o Parque Yasuní foi declarado pela Unesco como Reserva Mundial de Biosfera, uma região fundamental para a preservação do ecossistema terrestre. A proposta do Equador é manter a área intacta e ser recompensado por “abrir mão” da riqueza do petróleo em benefício da saúde do planeta. O preço dessa ação seria a metade do valor da reserva, ou US$ 3,6 bilhões, e o compromisso seria reafirmado a cada dois anos até 2024. Como primeiro passo, o país tenta, até o fim de dezembro, arrecadar US$ 100 milhões para viabilizar a iniciativa. Todo o recurso irá para um fundo que será gerido pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento).

Lançada em 2009, a proposta ganhou a simpatia de vários países, mas até o momento ainda faltam US$ 60 milhões. “Foram recebidas várias cartas de apoio da comunidade internacional, mas poucos deram suporte financeiro. A iniciativa vai ser lançada novamente no mês que vem na Assembleia das Nações Unidas e assim esperamos que mais recursos sejam obtidos”, revela a representante da Conservação Internacional no Equador, Veronica Arias. Para ela, a proposta é tão inovadora que muitos países estão esperando que surjam projetos semelhantes para então empenhar seu dinheiro.
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INTOCADOS
O parque Yasuní é o lar dos últimos grupos indígenas que
ainda vivem isolados, como os membros da tribo waorrani
Mas para um dos autores da proposta, o ex-ministro de Energia do Equador, Alberto Acosta, não há desculpas para a demora nas contribuições. “Quando se trata de proteger a vida, as respostas deveriam ser imediatas. Lamentavelmente, não é assim que as coisas acontecem hoje em dia. Os EUA e a Europa levantaram com uma velocidade incrível milhões de dólares e euros para salvar os banqueiros. Se não há a mesma agilidade para atender às demandas da pobreza e da fome, que dirá então para proteger o meio ambiente”, protesta.

Mesmo assim, ele não perde as esperanças. “De qualquer forma, a exploração do campo de ITT terá que ser aprovada pela Assembleia Nacional. E o órgão pode então convocar uma consulta popular. A população equatoriana ainda não se pronunciou sobre essa questão”, defende. O governo do país tem pouco mais de três meses para arrecadar o restante do dinheiro. Se conseguir, abrirá caminho para que outras nações sejam pagas para não explorar seus recursos. Se falhar, será mais uma prova de que o mundo ainda não está disposto a pagar o preço da sustentabilidade.
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Reforço na previdência



 

De olho na aposentadoria e na segurança dos filhos, os brasileiros aumentam as aplicações em planos privados

Adriana Nicacio

O desejo de aumentar a aposentadoria ou garantir uma gorda poupança para os filhos levou mais brasileiros a investir em opções de longo prazo. No primeiro semestre deste ano, o setor de previdência privada cresceu 25,6% e atingiu R$ 24,9 bilhões de novos depósitos, de acordo com a Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi). Dados da BrasilPrev, uma das líderes do setor, mostram que, em 2018, a indústria brasileira de previdência privada somará mais de R$ 1 trilhão em ativos. “As pessoas já começam a observar quanto é vital poupar”, diz Vinícius Brandi, professor de economia do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec). “Com o crescimento do endividamento, elas percebem a importância do planejamento financeiro.” O superintendente comercial da BrasilPrev, Mauro Guadagnoli diz que a previdência privada é uma boa alternativa para todos que querem investir por mais de dez anos. “Depois desse período, as vantagens tributárias são imbatíveis”, diz Guadagnoli. A escolha, porém, deve levar em consideração o perfil do investidor. O que não é um obstáculo, pois os grandes bancos dão esse tipo de consultoria. “Para tomar uma boa decisão, o cliente tem que entender o que precisa e o que quer para o futuro”, diz Gustavo Lendimuth, superintendente-executivo da HSBC Seguros.
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Antônio Barros de Castro o inconformista

 

O Brasil perde um de seus maiores economistas em acidente no Rio. Acadêmico consagrado, ele deixa um legado de independência e coragem

Octávio Costa

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DESENVOLVIMENTISTA
Barros de Castro pertencia à escola keynesiana e
considerava um perigo deixar o mercado atuar sozinho
Alguns homens são independentes, prezam a liberdade de pensamento e nadam contra a maré montante. Esse foi o caso do economista Antônio Barros de Castro. Avesso às ideias preestabelecidas, ele dedicou a vida ao estudo da economia brasileira, sempre com luz própria. “Escuto dizer que meu pai era um otimista. Não é verdade. Era um inconformista”, diz sua filha Lavínia, economista do BNDES e professora do Ibmec. De fato, o inconformismo marcou a trajetória de Castro. Nos anos 70, ele fez parte do corajoso grupo de acadêmicos que se opuseram às bases do milagre econômico do regime militar. Acusou as excessivas concentração de renda e dependência externa, mas divergiu de seus colegas ao apoiar a substituição de importações financiada pelo BNDES. Nas décadas seguintes, atacou com vigor o inchaço do setor financeiro e a submissão do País aos ditames ortodoxos do consenso de Washington. Viu, porém, com bons olhos a abertura da economia, como fator de inovação da indústria nacional. Reservado, atuou sempre no meio universitário, no qual conquistou admiração como poucos dos mestres de seu tempo. Ao morrer aos 73 anos no domingo 21, quando uma laje desabou em sua casa, na zona sul do Rio de Janeiro, Castro foi lembrado com as honras que fez por merecer. “O dinamismo do Brasil de hoje deve muito ao professor Antônio Barros de Castro”, disse em nota oficial o ministro da Fazenda, Guido Mantega. “Ele deixa para todos nós um legado de compromisso com o desenvolvimento do Brasil”, afirmou Luciano Coutinho, presidente do BNDES.

Professor emérito da UFRJ e presidente do BNDES de outubro de 1992 a março de 1993, durante o governo Itamar Franco, Castro sempre foi rotulado como um economista da corrente desenvolvimentista. O rótulo é curto para abrigar a imensa atividade intelectual de Castro. O economista Carlos Lessa, seu amigo desde os tempos de graduação – os dois se formaram em 1959 pela antiga Faculdade Nacional de Economia –, diz que Castro foi “um excepcional acadêmico e um seríssimo pensador de tudo o que se refere à economia política”. Lessa conta que, poucos anos depois de se formarem, ambos foram convidados pela ONU para trabalhar no escritório da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina) no Rio. Já inspirados nas lições de Celso Furtado e Ignácio Rangel, eles se entusiasmaram também com as ideias do argentino Raúl Prebisch, criador da Cepal, e tornaram-se defensores intransigentes do estruturalismo. Somando a essa teoria os ensinamentos de Lorde Keynes, John K. Galbraith e Joseph Schumpeter, os diletos amigos fizeram um livro clássico: “Introdução à Economia: Uma Abordagem Estruturalista” (1967). Na 47ª edição, já vendeu mais de 500 mil exemplares. Só perde para a obra “Formação Econômica do Brasil”, de Celso Furtado.

Antes do golpe militar de 1964, a dupla de jovens estruturalistas havia se transformado num trio com a adesão da portuguesa Maria da Conceição Tavares. Vieram, porém, os anos de chumbo e os três partiram para o exílio voluntário. Castro passou pelo Chile e depois seguiu para Cambridge, na Inglaterra. Conceição foi para o México; e Lessa, para a sede da Cepal, em Santiago do Chile. Só voltaram ao Brasil quando já não havia risco de serem presos. No início do governo João Figueiredo, nos anos 80, foi aberto um concurso para professor na faculdade de economia da UFRJ. Lessa e Conceição ocuparam as duas primeiras vagas. E Castro disputou a terceira cadeira com Pedro Malan, bem mais jovem. Lessa fazia parte da banca e o escolhido foi Castro. Dizem que Malan, anos depois líder de um grupo de professores da PUC-Rio que comandou a economia no governo tucano de Fernando Henrique Cardoso, nunca perdoou o fato de ter sido preterido para a UFRJ. A corrente da PUC, como se sabe, afastou-se radicalmente da linha estruturalista e aderiu ao PSDB e ao neoliberalismo hegemônico nos anos 90. Por isso mesmo, Conceição se disse traída pelos meninos da PUC, Malan à frente.

Enquanto Lessa filiou-se ao PMDB e Conceição ao PT, Antônio Barros de Castro man­teve sua postura de intelectual independente. Segundo sua filha Lavínia, ele tinha uma alma “estruturalista”, mas tinha muitas outras influências em seu pensamento. Leu e deu aulas sobre Marx. Mas também era profundamente keynesiano e considerava um perigo deixar o mercado atuar sozinho. Antônio Barros de Castro morreu enquanto estudava em seu gabinete na tarde chuvosa do domingo passado. Mas deixa a semente da independência e do inconformismo para centenas de economistas brasileiros.
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O MMA invade as academias

 

Aulas da modalidade, que mistura várias artes marciais, conquistam alunos e tornam-se sucesso na malhação

Rachel Costa

Assista ao vídeo e saiba como é possível aprender as técnicas dos grandes lutadores da modalidade:
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Era década de 70. No cinema, filmes do ator americano Bruce Lee chamavam a atenção para algo até então incipiente no Ocidente: a prática de artes marciais. Após ver “Operação Dragão” ou “O Voo do Dragão”, muita gente correu para o tatame para aprender os golpes vistos na telona. Se o cinema ditou moda naquela época, atualmente um campeonato televisionado é que tem feito a cabeça de muitos na hora de escolher a malhação. Trata-se do Ultimate Fighting Championship (UFC), competição de MMA – sigla de Mixed Martial Arts (artes marciais mistas). Sucesso no mundo, o MMA invadiu as academias. Em versões para quem não possui a pretensão de se tornar lutador, tem atraído quem antes era mero espectador da modalidade. É o caso da professora de educação física Carla Príncipe Nunes, 21 anos. “Vim por curiosidade, porque via na tevê, e estou adorando os treinos”, conta.

O formato mais light reproduz a característica básica do MMA, que é a combinação de técnicas de diferentes artes marciais. Nas aulas, porém, não há contato físico. “É um treino que trabalha o corpo inteiro”, disse à ­ISTOÉ Joel Gerson, da Revolution MMA, academia canadense com mais de mil alunos, especializada na luta.

O MMA exige completude. No boxe, por exemplo, o trabalho é mais focado nos braços. Já para o muay thai, o segredo está nos chutes. “No MMA esses movimentos se encontram”, explica Fernando Buffolo, coordenador da academia Needs, que oferece a modalidade em São Paulo. Além de força, é preciso agilidade e fôlego. Uma aula gasta em média 800 calorias por hora – o que a põe no rol das atividades com maior potencial de queima calórica. Por isso, o perfil dos alunos não tem nada a ver com o dos brutamontes da televisão. “Temos muitas mulheres que encontraram no MMA um jeito de emagrecer de uma forma menos monótona”, diz Eduardo Netto, diretor técnico da Bodytech, que tem aulas em São Paulo e no Rio de Janeiro.

A violência é banida dos treinos. Realizam-se os golpes, mas sem o combate corpo a corpo: usa-se o aparador (uma espécie de almofada retangular) na hora de treinar os movimentos com o colega. “É bem recreativo, não tem risco de se machucar”, diz o aluno Márcio Acoaviva, 30 anos.
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GOLPES
Carla e Márcio aderiram à nova febre de treino

O robô que corre como homem

 

Cientistas desenvolvem máquina capaz de correr sobre duas pernas. Será o começo de uma era em que os humanos serão substituídos por soldados cibernéticos?

André Julião

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DESENGONÇADO
Mabel corre sobre duas pernas, mas ainda não se mantém de pé sozinho
Os robôs já falam, pegam objetos, jogam futebol, fazem atividades domésticas e de escritório. Mas, até hoje, eles não tinham a capacidade de replicar uma das façanhas mais características dos seres humanos: correr sobre duas pernas. Essa dificuldade agora é parte do passado. Cientistas revelaram o robô sem rodas mais rápido já criado. Ele é dotado de pernas com joelhos e pode alcançar 11 quilômetros por hora. É uma velocidade equivalente apenas à de uma pessoa trotando, mas o feito abre caminho para a criação de máquinas-soldados ou para resgates capazes de chegar a qualquer lugar que um ser humano puder.

“Queremos máquinas que possam, por exemplo, ajudar bombeiros. Elas poderiam entrar numa sala em chamas, subir escadas e desviar de objetos caídos”, disse à ISTOÉ Jessy Grizzle, um dos responsáveis pelo invento. O projeto é financiado em parte pela Darpa, agência de pesquisa das Forças Armadas americanas. Então o objetivo é criar robôs para matar? Sim e não. “O interesse da Darpa é no desenvolvimento tecnológico”, responde Grizzle. “Basta lembrar que eles desenvolveram carros que não precisam de motorista e agora o Google está testando a mesma tecnologia para o dia a dia”, diz. Outra criação famosa da agência é nada menos que a internet.

O projeto, desenvolvido na Universidade de Michigan (EUA), foi batizado de Mabel, sigla em inglês para bípede antropomórfico com pernas elétricas. Mais do fazer soldados ou bombeiros cibernéticos, os pesquisadores querem usar robôs como plataformas científicas. “Estamos criando a ciência de locomoção sobre pernas em máquinas”, explica Grizzle. Outros usos podem ser exoesqueletos, capazes de fazer paraplégicos voltar a andar, ou dar a algumas pessoas habilidades super-humanas para correr e pular.
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"A parte mecânica dos robôs ficará pronta muito antes
de a inteligência artificial servir como um cérebro"

Jessy Grizzle, responsável pelo projeto
O Mabel foi construído em 2008, mas novos algoritmos de computador criados agora deram a ele as condições para imitar a corrida humana. O corpo pesado, aliado a pernas leves e flexíveis, o deixa no ar por 40% do tempo de cada passo. Robôs anteriores tinham os dois “pés” fora do chão por um tempo quatro vezes menor. A diferença pode parecer pequena, mas é o que separa um passo robótico do nosso. Muito, porém, ainda precisa ser melhorado.

O robô ainda tem de estar atrelado a um tipo de braço, preso a um eixo central, para se manter de pé. Isso porque ele só se movimenta para a frente e para trás. O equivalente ao quadril no robô não se move para os lados. Portanto, ele não pode jogar o peso para a direita ou a esquerda a fim de se equilibrar, como fazemos o tempo todo. Junto com o pesquisador Jonathan Hurst, da Oregon State University, a equipe da Universidade de Michigan está construindo uma nova máquina que supera essa deficiência. “Ela poderá correr, pular, andar rápido e fazer tudo o que Mabel faz, sem precisar se apoiar em nada”, diz Grizzle.

Recentemente, IBM, Darpa e universidades americanas revelaram a criação de um chip que pode aprender, imitando a cognição humana. Outras máquinas estão se aproximando dos humanos, com feições, sentidos e outros atributos (leia quadro). Mas ainda falta muito para convivermos com robôs que possam ser confundidos com pessoas. “Minha aposta é que a parte mecânica ficará pronta muito antes de a inteligência artificial poder servir como um cérebro e dar total autonomia a eles”, diz Grizzle. “Nesse meio-tempo, poderemos controlá-los remotamente.” É o que temos para agora.
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A PM que mata e a PM que protege juízes


 

Comprovação do envolvimento de policiais militares na morte de juíza carioca expõe a necessidade de o País mudar a forma de dar segurança a todos os cidadãos que lutam contra o crime organizado

Flávio Costa e Wilson Aquino
 

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ROTINA
O juiz Odilon de Oliveira, em casa, em Mato Grosso do Sul: há 13 anos com escolta da PF
Até a sexta-feira 26, a polícia do Rio de Janeiro havia identificado e prendido oito suspeitos, todos policiais militares do município de São Gonçalo (RJ), de participar do assassinato da juíza Patrícia Acioli, morta com 21 tiros, no dia 11 de agosto, na cidade. Isso ocorreu após o rastreamento de aparelhos celulares dos 91 policiais militares que respondem por crimes de homicídio na localidade. Foi constatado que alguns deles realizaram chamadas na noite do crime nas redondezas de onde a juíza foi assassinada. A notícia de que os algozes de Patrícia Acioli podem ser policiais militares não surpreende os magistrados brasileiros. “A maioria dos casos de execução ou planejamento de assassinato de juízes é realizada por PMs envolvidos com milícias. Esses policiais se consideram acima do Poder Judiciário”, diz a ministra Eliana Calmon, corregedora nacional da Justiça.

Os PMs sempre estiveram entre os principais suspeitos da morte da juíza, que condenou 60 deles nos últimos dez anos. Dos cartuchos apreendidos no local do crime, havia munição integrante do lote de 10 mil balas calibre 40, adquirido pela corporação. Metade desse lote foi justamente para o Batalhão de São Gonçalo. A polícia também refez os 35 quilômetros percorridos pela juíza, desde quando ela deixou o fórum da cidade até a chegada em casa. Imagens captadas por câmeras no trajeto, mostram dois homens de capacete e jaqueta em uma motocicleta preta de 125 cilindradas no encalço do carro da juíza. “As evidências indicam que ela foi morta pelo braço armado da sociedade com balas compradas com nosso dinheiro para proteger a sociedade”, afirma Técio Lins e Silva, advogado da família da vítima.

Este caso remete para a necessidade do País pensar uma forma de proteger os magistrados das varas criminais, promotores, testemunhas e todo o cidadão que luta contra o crime organizado. A segurança dessas pessoas nunca foi tratada com a seriedade que merece. Hoje, por exemplo, há 100 juízes ameaçados de morte e 42 trabalham com escolta permanente. Quem faz a segurança dos magistrados é a Polícia Federal, quando se trata de juízes federais, ou a própria PM, no caso de juízes estaduais, instituição que tem uma ativa banda podre.
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Uma resolução do ano passado do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) listou uma série de medidas a ser implementadas pelos tribunais para eliminar riscos para os juízes, além da criação de um Fundo Nacional de Segurança do Judiciário. Mas nada saiu do papel. “Não existe uma política nacional de proteção às autoridades da Justiça”, diz o desembargador Nelson Calandra, presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros. Após a morte de Patrícia Acioli, uma comissão foi criada no CNJ para que, finalmente, um plano seja criado, em até 90 dias, e cumprido por todos os tribunais. “Um batalhão de elite precisa ser criado na PM de cada Estado e treinado especificamente para proteção das autoridades”, defende a corregedora Eliana Calmon.

O preço da atuação de um juiz rigoroso é a eterna vigilância. “Sempre fui extrovertido, brincalhão, não sou mais. Não frequento mais os mesmos bares, restaurantes. Praia, local de muito movimento, não vou. Só relaxo mesmo no Exterior”, lamenta o juiz Alexandre Abrahão, da 1ª Vara Criminal de Bangu, incluído numa lista de 12 pessoas marcadas para morrer por grupos criminosos do Rio. Há 13 anos com escolta permanente da Polícia Federal, o juiz federal Odilon de Oliveira, de Mato Grosso do Sul, é o mais antigo magistrado brasileiro a viver vigiado. “É um quinto da minha vida”, diz ele. “É uma angústia muito grande.”

O juiz Carlos Eduardo Ribeiro Lemos, da 5ª Vara Criminal de Vitória, recebe periodicamente informes dos serviços policiais de inteligência sobre planos para executá-lo. Há nove anos, sua segurança está sob cuidados da PM capixaba. São 15 PMs que o protegem, a um custo mensal de cerca de R$ 40 mil. No início, a escolta de Ribeiro Lemos desconhecia as regras mais elementares de proteção. Ao acompanhar sua família, os PMs portavam ostensivamente as armas, chamando a atenção dos outros. “Procurei cursos junto a empresas de segurança particular para que eles fossem capacitados. Eu mesmo fiz um curso de defesa pessoal por conta própria”, diz Ribeiro Lemos. Qualquer pequeno ato do seu cotidiano tem que ser informado com antecedência à sua escolta. Os momentos de lazer são raros. Os filhos não vão às casas dos amigos da escola nem frequentam festas de aniversário. Diante da tensão diária, sua mulher chegou a dizer: “Tenho saudade do tempo que saía à rua com temor de ser assaltada”. É a vida sob o signo do medo.
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O recomeço de Cacciola

 

Ex-banqueiro condenado por lesar os cofres públicos ganha a liberdade, retoma a vida confortável e investe no setor de construção civil

Michel Alecrim

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DOLCE VITA
Cacciola sai da prisão na quinta-feira 25: de volta à boa rotina
Depois de quase quatro anos trancafiado na prisão, o ex-banqueiro Salvatore Cacciola, 67 anos, voltou para a vida confortável a que estava acostumado. Pivô do escândalo do Banco Marka, ocorrido em 1999, que gerou R$ 1,5 bilhão de prejuízo para o Banco Central, o ítalo-brasileiro recuperou seu DNA de bon vivant. Poderá usufruir novamente do espaçoso apartamento de 800 m² no conjunto Golden Green, na Barra da Tijuca, cujo condomínio é de R$ 12 mil, ou do igualmente sofisticado edifício de sua namorada, a advogada Mirela Hermes, que mora no mesmo bairro. O ex-presidiário ganhou liberdade condicional e deixou a penitenciária no Complexo de Bangu, na zona oeste do Rio de Janeiro, por volta das 17h30 da quinta-feira 25, vestindo jeans, camiseta branca e ostentando uma barriga mais protuberante do que quando entrou. Cacciola embarcou num Ford Fiesta e deixou para trás os milicianos com quem dividia a cela. Poderá praticar golfe em seu condomínio e fazer seu jogging matinal. Por incrível que pareça, tem condições até mesmo de trabalhar no Marka, que não é mais banco e se transformou em incorporadora.

O ex-banqueiro terá que se apresentar à Justiça durante quase cinco anos a cada três meses e não poderá deixar o Estado sem autorização da Vara de Execuções Penais (VEP). O Ministério Público Estadual foi contrário à condicional, mas a juíza Natascha Maculan Dazzi levou em consideração o bom comportamento de Cacciola na prisão e o fato de ele já ter cumprido um terço da pena, reduzida em julho deste ano pela mesma VEP. “A pena não poderia ter sido reduzida, pois ainda há recurso a ser julgado nos tribunais em Brasília”, argumentou o promotor Fabiano Rangel. O futuro do ex-banqueiro depende, ainda, da disposição do principado de Mônaco, onde ele foi preso pela Interpol em 2007. O governo do país reluta em estender a extradição para dois processos criminais em que ele é réu na Justiça Federal do Rio. Nada impede, no entanto, que o ítalo-brasileiro volte a desfilar de helicóptero ou de passear de barco em Angra dos Reis, como nos velhos tempos.

Cacciola foi condenado por causa de operações no mercado de câmbio que geraram prejuízo para o Banco Central, em valores atuais, calculados em R$ 3 bilhões. Apesar de estar impedido pelo BC de atuar em instituição financeira, ele já traça planos. Sua empresa mudou de atividade social, e ele poderá trabalhar na construção civil. O ex-banqueiro também é herdeiro de uma fábrica e rede de lojas de móveis de alto padrão no Rio. O Ministério Público Federal investiga a possibilidade de Cacciola ter enviado recursos para o Exterior antes de ter os bens bloqueados no País. Sinais de riqueza não faltaram no período em que viveu foragido na Itália, onde chegou até a alugar um castelo. “O apartamento dele está fechado, mas o condomínio está em dia”, comentou um morador do Golden Green, que não quis se identificar.
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Protegidos pela Lei Maria da Penha

 

Criada há cinco anos para coibir a violência doméstica e familiar contra as mulheres, a legislação também tem beneficiado homens em várias partes do Brasil

Solange Azevedo

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NA JUSTIÇA
Novais foi ameaçado pelo ex-companheiro e
conseguiu legalmente que ele se mantivesse distante
Celso Bordegatto, Clodover Mallmann, Edson Santos Novais e Valdecir Maier vivem em diferentes partes do País. Eles não se conhecem, têm idades e profissões variadas. Mas um passado em comum. Todos alegam ter sido severamente perseguidos depois de terminarem uma relação afetiva. Todos foram beneficiados, por decisão judicial, com medidas protetivas previstas pela Lei Maria da Penha. Uma lei criada há cinco anos com o objetivo de coibir a violência doméstica e familiar praticada, há séculos, por homens contra as mulheres. “Não me restava outra alternativa”, afirma o engenheiro agrônomo Bordegatto, 48 anos. “Minha ex me infernizou durante um ano. Eu só queria ter paz. Mas ela dava plantões na frente do prédio onde fui morar. Incomodava os porteiros perguntando se eu estava acompanhado. Danificou o meu carro. Me seguia. Mandava e-mails e mensagens para o meu celular. Telefonava. Me procurava no meu trabalho. Me ameaçou de morte.” A violência no relacionamento, segundo o engenheiro, primeiro foi verbal. Mais tarde, física: “Antes eram apenas discussões. Ela falava alto, se excedia e saía para a rua. Quando partiu para a agressão física, apagando um cigarro no meu peito, eu decidi terminar.”
O casal ficou junto durante dois anos. As rusgas se tornaram insuportáveis quando eles passaram a dividir o mesmo teto. Foram apenas dois meses. Dois meses difíceis. Bordegatto diz que a mulher tem três filhas de casamentos anteriores, que moravam com eles na capital mato-grossense, e que a convivência dela com as duas mais velhas era conturbada. “Nossas brigas eram sem motivo. Acho que ela descontava em mim os problemas com as meninas”, afirma o engenheiro. “Quando me separei e ela não parava de me incomodar, ainda tive de ouvir dos porteiros do meu prédio que ela estava me expondo ao ridículo e que, se eu fosse homem, teria socado ou tirado a vida dela.” O advogado de Bordegatto, Zoroastro Teixeira, acionou a Justiça sustentando que a legislação brasileira não possuía medidas tão eficazes para proteger seu cliente quanto as determinadas pela Lei Maria da Penha. “O juiz aplicou o princípio da isonomia, em que homens e mulheres são iguais perante a lei. E, por analogia, decidiu que a mulher deveria manter distância de, pelo menos, 500 metros do meu cliente. Também não poderia entrar em contato através de qualquer meio de comunicação”, relata Teixeira. Apesar disso, documentos anexados ao processo mostram que, por um bom tempo, ela descumpriu essa decisão e tentou se reaproximar. Só parou quando o advogado comunicou as transgressões à Justiça.

Um levantamento feito pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen) mostra que, em dezembro de 2010, havia 58 mulheres presas no Brasil enquadradas na Lei Maria da Penha. Como a lei foi concebida para proteger qualquer mulher em situação de violência doméstica – seja ela companheira, filha, mãe, avó, cunhada – e não existem informações sobre as vítimas dessas detentas no relatório do Depen, não é possível saber quantos e se há homens entre elas. Já as chamadas medidas protetivas de urgência, como as que favoreceram o engenheiro Bordegatto no Estado de Mato Grosso, foram aplicadas em benefício de outros homens em locais como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Minas Gerais. O gaúcho Edson Santos Novais, 40 anos, foi um dos que entraram na Justiça. Ele conseguiu se livrar da perseguição e das ameaças do ex-companheiro porque, em fevereiro de 2011, o juiz Osmar de Aguiar Pacheco determinou que o rapaz se mantivesse a, pelo menos, 100 metros de distância e não tentasse nenhum tipo de contato.
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AGRESSÃO
A ex-companheira de Bordegatto apagou um cigarro
no peito dele. Foi a gota d’água para a separação
Morador de Rio Pardo, município de 37 mil habitantes a 140 quilômetros de Porto Alegre, o operador de máquinas Novais afirma que o ex-companheiro tinha rompantes de agressividade. O afastamento compulsório foi ordenado pelo magistrado porque o acusado faltou à audiência de conciliação. “Moramos juntos durante dois anos e meio. Tivemos vários desentendimentos, geralmente por ciúme, e ele me agredia fisicamente. Chegou a cortar a minha mão com uma faca”, conta Novais. “Quando eu tentava terminar, ele chorava e falava que ia se matar. Nos separamos umas duas ou três vezes. Mas ele ligava e insistia para eu voltar. Poucas vezes eu reagi de forma violenta.” Ele lembra que, durante uma das brigas, o rapaz quebrou uma porção de objetos dentro da residência. O rompimento definitivo aconteceu quando Novais flagrou um torpedo apaixonado no celular do então companheiro. “Fui embora para a casa da minha mãe”, relata. “Começou o inferno. Ele escrevia mensagens no Orkut, telefonava. Tanto que excluí a minha conta no Orkut e troquei de celular. Ele ligava para o meu trabalho. Mandava recados. Até que um dia eu estava dentro do carro e ele me deu uma bofetada. Pedi para parar, porque eu estava com o meu sobrinho, e ele me deu outra bofetada e chutes na porta.”

Novais relata que, além da agressão pública, o ex-companheiro o ameaçou: “Vou te pegar, vou te matar. Vou matar a sua família.” “Ele ficou descontrolado quando eu disse que não tinha obrigação de atender as ligações dele”, afirma o operador de máquinas. “Foram três meses de perseguição. Comecei a ter uma certa fobia. Não saía na rua. Só ia de casa para o trabalho e do trabalho para casa.” Depois que o juiz determinou o afastamento, Novais e o ex-companheiro se encontraram casualmente algumas vezes na rua e em estabelecimentos comerciais. Mas sem animosidades. Apenas se cumprimentaram, a distância. A ex-desembargadora Maria Berenice Dias, presidente da Comissão da Diversidade Sexual do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, elogia a decisão do juiz Pacheco. “Foi uma solução factível, de extrema sensibilidade e coragem”, afirma Maria Berenice. “A Lei Maria da Penha não ficará maculada caso seja, eventualmente, aplicada para proteger homens.”

A opinião da ex-desembargadora, no entanto, encontra resistência de grupos feministas. “A Lei Maria da Penha foi criada para proteger as mulheres, historicamente discriminadas na nossa sociedade. Usá-la para beneficiar outros públicos significa desvirtuá-la”, defende a socióloga Wânia Pasinato, pesquisadora do Núcleo de Estudos de Gênero Pagu, da Unicamp, e do Núcleo de Estudos da Violência, da USP. “Apesar de isoladas, essas determinações têm de ser contestadas”, acredita a advogada Carmen Hein de Campos, coordenadora nacional do Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher. “Como os juízes têm de tomar decisões que envolvem a Lei Maria da Penha num prazo máximo de 48 horas, alguns advogados tentam dar celeridade aos processos forçando a barra.” Carmen lembra que o Código de Processo Civil já permitia que medidas cautelares fossem adotadas para qualquer pessoa. As alterações feitas no Código de Processo Penal, em vigor desde julho, também preveem restrições como as da Lei Maria da Penha.
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"A Lei Maria da Penha não ficará maculada nem será desvirtuada
caso seja, eventualmente, aplicada para proteger homens"

Maria Berenice Dias, ex-desembargadora, presidente da
Comissão da Diversidade Sexual do Conselho Federal da OAB
Não é incomum que, baseados na Lei Maria da Penha, juízes determinem medidas protetivas dos dois lados. Para o homem e para a mulher. Foi o que aconteceu com o catarinense Valdecir Maier. Morador de Dionísio Cerqueira, ele procurou o Ministério Público dizendo estar sendo perseguido pela ex-mulher. O promotor de Justiça Fabiano Francisco Medeiros, que atuou no caso, contou à ISTOÉ que, certa vez, a ex o encontrou num baile e partiu para cima de Maier e da atual namorada dele. “A moça ficou até com o olho roxo”, afirma Medeiros. “O rapaz estava numa situação de desequilíbrio porque a ex-mulher estava se valendo das medidas protetivas de afastamento, pois o acusava de agressão, para incomodá-lo. Ia à lanchonete onde ele trabalhava e ficava chamando pelo ‘garçom chifrudo’.”

O empresário Clodover Mallmann passou por situação semelhante. Ele vive em Crissiumal, a 500 quilômetros da capital gaúcha. As desavenças com a ex-mulher, que administrava alguns postos de gasolina da família, teriam começado quando Mallmann descobriu que havia um rombo de R$ 2 milhões nas contas da empresa. “Eram casados havia 20 anos”, afirma Dari Dressler, advogado de Mallmann. “Foi iniciado um processo de separação difícil. Ela pediu que ele fosse afastado do lar. Mas, no final, foi ela quem teve de sair de casa.” O juiz determinou que os dois se mantivessem a uma distância mínima de 50 metros e não tentassem nenhum contato. A história repercutiu rápido na cidade e Dressler ficou famoso por defender Mallmann. “Passei a ser chamado de Mário da Penha”, diz o advogado.
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Caçador de desaparecidos



Sozinho e sem usar equipamentos sofisticados, Oswaldo Amarante já encontrou duas mil pessoas sumidas

Wilson Aquino

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NA PISTA
Amarante na sede da Cruz Vermelha: trabalho minucioso
Os cabelos são raros, o simpático bigodinho é branco e uma saliente barriguinha se projeta. Aos 59 anos, o advogado Oswaldo Amarante Filho parece apenas mais um burocrata quando chega para trabalhar na sede da Cruz Vermelha, no centro do Rio de Janeiro. No entanto, é responsável por uma das tarefas humanitárias mais importantes da instituição no Brasil: localizar pessoas que perderam contato com parentes em função de guerras, violência generalizada, violações aos direitos humanos, calamidades, desastres naturais e miséria. Em pouco mais de 20 anos, Amarante localizou dois mil desaparecidos. “O segredo é ser observador e ter o coração aberto”, ensina. Para isso, não lança mão de novidades tecnológicas nem de um batalhão de investigadores. Trabalha sozinho.

O serviço foi criado durante a Primeira Guerra Mundial para localizar crianças perdidas. “No Brasil, a maior parte dos casos é de famílias que migraram do Nordeste para trabalhar no Sul e Sudeste e perderam os laços”, explica Amarante, que tem um cadastro de seis mil desaparecidos dentro e fora do País. Divorciado e sem filhos, ele é o chefe do Departamento de Busca de Paradeiro da organização que tem representantes em 186 países. É chefe de si mesmo e não ganha nada pelo trabalho. “Só peço dinheiro para imprimir os formulários padronizados e postar cartas”, conta. O serviço é feito de forma rudimentar. Instalado em uma modesta sala no prédio da Cruz Vermelha, ele mantém os arquivos dos procurados em pastas suspensas, organizadas em armários de ferro. Para localizar alguém, escreve à mão as cartas para clubes de diretores lojistas, consulados, institutos de identificação, tribunais eleitorais e organizações não governamentais, além de verificar as listas telefônicas de todos os municípios brasileiros.

Por vezes, encontra pessoas que nem sequer imaginavam ser procuradas, como o ucraniano Paulo Samsoniuk. Fugindo da Segunda Guerra, em 1943, Samsoniuk veio para o Brasil e pensava não ter parentes vivos. Foi encontrado a pedido de uma sobrinha e viajou para a Ucrânia, para conhecer a família. Protocolos internacionais defendem o direito de um procurado não querer ser localizado, o que o impede de acionar a polícia ou recorrer à mídia. “É preciso ter cautela para não criar conflito”, conta. Ele lembra do caso de um português, dono de um botequim, que implorou para não ter o paradeiro revelado. “Dizia que eles só queriam o seu dinheiro”, comenta. Nesse caso, mesmo o eficiente Amarante não tem o que fazer.
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Celular para dormir

 

Um terço das crianças e dos adolescentes leva o telefone para a cama. E isso faz mal, afirmam os especialistas

Michel Alecrim

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CONTROLE
Julia está proibida de passar mensagens ou jogar à noite.
O smartphone só pode ser usado como despertador
Levar os filhos para a cama na hora de dormir e dar-lhes o beijo de boa-noite não é mais garantia de que eles estejam sob controle. Mesmo depois de deitados sob as cobertas, crianças e adolescentes perdem horas de sono presos ao celular. O aparelho usado para facilitar a comunicação dentro e fora da família também cria dependência, a ponto de muitos ficarem conectados 24 horas por dia. Até mesmo nos momentos em que deveriam estar de olhos fechados. Uma pesquisa feita nos Estados Unidos com 289 pais mostrou que um terço dos meninos e meninas prefere teclar desenfreadamente em vez de contar carneirinhos. O problema foi parar nos consultórios de psicólogos e psiquiatras, que, em alguns casos, recomendam o confisco do telefone. “Esse comportamento também pode se tornar uma compulsão”, explica a professora do departamento de psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Maria Luíza Bustamante. “Os pais precisam impor um limite.”

Essa foi a atitude tomada pela professora carioca Rosana Aromatis, 45 anos, quando percebeu que a filha Júlia, de 12, estava exagerando no uso do seu smartphone. Ainda hoje, a menina vai para a cama com o aparelho, que serve como despertador, mas está proibida de passar mensagens ou jogar na hora de dormir. “Expliquei que ela não pode ficar passando mensagens a toda hora. O uso do telefone não deve virar uma doença”, diz a mãe. A perda do sono não é a única consequência do vício no celular. Quando crianças e adolescentes se prendem a ele durante as refeições, na hora dos estudos ou deixam de participar de recreação ao ar livre para ficar conversando ou teclando, é sinal de que alguma providência precisa ser tomada (leia quadro). “Os pais devem agir com gradação. Primeiro, é bom conversar. Depois, podem impor limites de horário. Só, em último caso, devem tomar o aparelho”, recomenda Maria Luíza.

Motivos para preocupação não faltam. Marcelo Botelho, diretor da Veus Technology, empresa de tecnologia da informação, alerta que os telefones se tornaram computadores de bolso, e que, ao contrário dos de mesa, têm poucos recursos de bloqueio. “É mais difícil bloquear acesso a jogos violentos ou sites pornográficos nos smartphones”, avalia Botelho. O psiquiatra Fábio Barbirato, especialista em infância e adolescência da Santa Casa de Misericórdia do Rio, explica que a excitação mental provocada por essas pequenas máquinas atrapalha o repouso noturno. “Em casos graves, os filhos apresentam comportamento semelhante ao de um viciado em drogas com abstinência”, afirma. A estudante carioca Cynthia Carvalho, 15 anos, reconhece que já perdeu o sono por causa do aparelho, mas não deixou de levá-lo para a cama. “Já acordo ligando para as minhas amigas para combinar de irmos para a escola juntas”, justifica. A mãe da adolescente, a cabeleireira Soraia Carvalho, 33 anos, está preocupada. “Se ela não fosse muito estudiosa, já teria proibido o celular”, conta. De qualquer forma, Soraia se mantém alerta. Ao que se vê, sua filha também.
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Luxo autêntico no Paraguai



Lojas que oferecem produtos originais a preços até três vezes mais baixos que no Brasil mudam o perfil de Ciudad del Este, conhecida como o paraíso dos sacoleiros


Paula Rocha, de Ciudad del Este

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COM GRIFE
Carine Dresch, de Cascavel, foi ao Paraguai para
comprar seu vestido de casamento de R$ 15 mil
Produtos de origem duvidosa, trânsito caótico, violência e sujeira. Há pelo menos vinte anos, Ciudad del Este, município paraguaio localizado na tríplice fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai, carrega a fama de ser um destino escolhido apenas por quem quer comprar mercadorias tão baratas que parecem mentira – e muitas vezes são. O local, que faz divisa com a cidade de Foz do Iguaçu, no Paraná, se tornou o paraíso dos sacoleiros tupiniquins por oferecer roupas, eletrônicos e toda sorte de bugigangas a preços bem abaixo dos praticados no País. Todos os dias cerca de 50 mil brasileiros cruzam a Ponte da Amizade para abarrotar as ruas manchadas com terra vermelha da cidade paraguaia, disputando espaço com vendedores ambulantes, carros e motocicletas. Longe da bagunça do comércio informal, porém, um oásis de luxo reluz em Ciudad del Este. No segundo piso do shopping King Fong, funciona desde 2009 a loja S.A.X. – sigla para “style, arts and extras” e uma clara alusão à mundialmente famosa rede americana Saks – reduto de marcas luxuosas como Versace, Dior, Giorgio Armani, Prada e muitas outras. Do outro lado da rua, funciona o shopping Del Este, primeiro centro de compras da cidade no modelo americano, também recheado de grifes estreladas.

Quem vê a fachada da loja S.A.X. perdida entre outdoors desbotados não imagina a suntuosidade do lugar. Em corredores limpos, bem arrumados e perfumados, mais de 100 marcas de luxo internacionais se dividem entre áreas destinadas à moda feminina, masculina, joalheria, perfumaria, decoração e bebidas e alimentos finos. Os cinco mil metros quadrados do empreendimento também contemplam bistrô, café, showroom de óculos com mais de 12 mil modelos e a única Ferrari Store da América Latina, onde são vendidos itens de vestuário e acessórios com a logomarca da escuderia italiana. O responsável por essa verdadeira casa do luxo é o libanês Armando Nasser, que chegou ao Paraguai aos 14 anos. Ainda jovem, o empresário montou uma pequena loja, onde vendia bebidas e cigarros importados. Aos poucos, juntou patrimônio suficiente para criar o Grupo Fenícia, que importa artigos finos para Paraguai e Brasil. A vontade de montar uma butique de luxo no Paraguai digna das melhores lojas de departamentos do mundo surgiu durante uma temporada em Nova York, quando ele conheceu a Saks Fifth Avenue – prova de que a semelhança entre Saks e S.A.X. não é mera coincidência. “Queria oferecer ao brasileiro e ao paraguaio a chance de poder comprar produtos de qualidade, em um ambiente sofisticado e sem preços exorbitantes como os de São Paulo”, diz. Hoje 60% dos clientes da loja são brasileiros, que gastam em média US$ 2 mil, cerca de R$ 3,2 mil, por compra.
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VANTAGEM
O casal Caetano e Valéria atravessa a fronteira para comprar seus artigos importados
Os preços paraguaios, mesmo os dos artigos mais caros, são realmente atraentes quando comparados com os praticados no Brasil. Um terno da grife Hugo Boss, por exemplo, custa no Brasil a partir de R$ 1,9 mil. Na S.A.X., ele sai por R$ 830, valor similar ao encontrado em Miami (leia quadro). A diferença entre o destino americano e o paraguaio fica no preço da passagem. Enquanto o trajeto São Paulo-Miami custa em média R$ 2,4 mil, a passagem aérea de São Paulo para Foz do Iguaçu sai por R$ 480. De ônibus, R$ 150. Para o casal de empresários Caetano Trentini e Valéria Costa, que mora em Foz, vale muito a pena. “Aqui, além dos preços serem excelentes, somos atendidos de forma atenciosa e podemos falar nossa própria língua”, diz Trentini. Os dois recorrem às lojas de luxo paraguaias sempre que precisam comprar um presente, uma roupa para uma festa ou mesmo um tênis. “Aqui tem tudo e é muito perto de Foz. A gente vem de carro com todo o conforto”, afirma Valéria. A proximidade e a variedade também motivaram a psicóloga Carine Dresch a sair de Cascavel, a 143 quilômetros de Ciudad del Este, para comprar seu vestido de noiva no Paraguai. Com casamento marcado para outubro, ela escolheu um modelo branco da Dior de R$ 15 mil. “Em Cascavel não há lojas vendendo essas marcas de luxo, então venho aqui com frequência”, diz.

Esse novo turista, que busca artigos de qualidade, variedade e preços melhores, mas sem abrir mão do conforto, está aos poucos mudando o perfil de Ciudad del Este. Em 2008 foi inaugurado o shopping Del Este, com lojas de marcas consagradas, como Nike e Pioneer, corredores amplos e iluminados. “Antes, os shoppings daqui eram apenas galerias escuras, voltadas para o consumidor de atacado”, conta Elva Figueredo, diretora administrativa do shopping Del Este. Atualmente, as 40 lojas e os dez quiosques do shopping recebem mais de 150 mil turistas por ano, 90% brasileiros que gastam entre US$ 300 (R$ 483) e US$ 500 (R$ 805) a cada visita. E o sucesso do empreendimento é tão grande que há uma lista de espera de lojistas interessados em alugar um espaço ali. “Já são 150 marcas querendo vir para cá”, conta Elva. Para atender à demanda, estão sendo construídos mais três shoppings na cidade. A S.A.X., por sua vez, planeja para 2012 a inauguração de mais sete andares, que totalizarão 17 mil metros quadrados de área. “Quando decidi abrir a primeira loja de departamentos de luxo no Paraguai, fui tachado de louco”, diz Nasser. Agora todos colhemos os frutos dessa evolução. Que o digam os felizes consumidores de luxo.
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Que baladeiro é você?



 

Estudo inédito identifica os tipos festeiros que povoam a noite e movimentam um mercado de bilhões de reais

Rodrigo Cardoso

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Não é difícil encontrar gente – jovens, em sua maioria – que chega ao trabalho na segunda-feira pela manhã já arquitetando a balada do próximo fim de semana. Os números em torno do setor são prova do quanto esse mercado está fervilhante. Somente na capital paulista, a noite movimenta anualmente R$ 2,4 bilhões e, estima-se, registra um evento a cada seis minutos (90 mil por ano). A cidade de São Paulo, por sinal, será palco em setembro da segunda edição da Expoparty, uma feira internacional voltada para profissionais de entretenimentos como festas, shows e casas noturnas. Esse tipo de consumidor, que acende cada vez mais luzes dessa lucrativa engrenagem, foi investigado, recentemente, por dois pesquisadores, Karlan Muniz e Wesley Vieira da Silva, do programa de doutorado em administração da Pontifícia Universidade Católica (PUC), do Paraná. A pesquisa, feita com 690 pessoas (81% entre 18 e 30 anos) que saem pelo menos uma vez por mês e será apresentada no Rio de Janeiro durante o 25º encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração, no mês que vem, quis saber o que o público procura quando vai para a balada. Dessa curiosidade nasceu a cereja do ainda inédito estudo: a identificação de perfis dos baladeiros (leia abaixo).

Das cinco categorias (boêmios, caçadores, notáveis, fugitivos e espectadores), a primeira é a que mais possui representantes (26,8% dos entrevistados). Pessoas desse grupo têm o hábito de sair para beber entre amigos e não estão atrás de um romance prioritariamente. São os menos fiéis à balada – só 33% repetem o local do evento – e os mais maduros – 75% têm mais de 25 anos. E é onde se encontra a maioria dos homens: 40,2%. Um retrato desse personagem poderia ser um homem maduro com uma bebida em punho que, tranquilo, observa a movimentação enquanto toma um drinque.

As mulheres baladeiras, por sua vez, encontram-se, em sua maioria, na categoria dos notáveis (29,8%). Para esse segmento, a festa é uma alternativa para mudar de ares e rotina. Caprichar no visual, dançar na pista e procurar um romance no meio da multidão são características marcantes dessa categoria. Resumindo, a notável tem roupa e maquiagem provocantes. Seus gestos são esfuziantes para que olhares e flashes sejam atraídos. “Os tipos encontrados refletem interesses diferentes dentro de uma mesma festa”, afirma o pesquisador Muniz. Trazendo a comparação para a realidade do estudo, podemos dizer que os boêmios podem ficar incomodados com uma festa que nitidamente está cheia de caçadores e notáveis, se a situação não for bem gerenciada.

Especialista em marketing pelo Instituto Superior de Administração e Economia da Fundação Getulio Vargas, Muniz também identificou quais itens (perfil da festa, agilidade do serviço, banheiros, animação do grupo, preço e conforto) têm impacto sobre a satisfação do consumidor desse tipo de lazer. Entre suas descobertas, os homens valorizam o barman e a agilidade do serviço. As mulheres, por sua vez, são capazes de deixar uma casa noturna se o banheiro não estiver limpo. Curioso, segundo o pesquisador, é o fato de que, apesar do impacto que as características específicas da festa geram na avaliação do consumidor, a animação dele e da turma à sua volta o deixa mais satisfeito do que o preço. Ou seja, o alto valor de um programa é aceitável dependendo do estado de espírito do baladeiro. “Uma discussão de casal antes de uma festa pode resultar na queda da satisfação, por exemplo. E é algo que, a princípio, uma casa noturna não tem como controlar”, afirma Muniz. Beber, paquerar e curtir a música costumam agitar o público. O rei da balada, porém, está dentro de cada um, já que questões de fundo emocional parecem ser também o energético da noitada.
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