sexta-feira, 22 de maio de 2015

Apoio incondicional jamais



Nas circunstâncias atuais em que o governo da presidenta Dilma abraçou a mais iníqua ortodoxia econômica, depois de ter assegurado em campanha que não tomaria nenhuma medida de ajuste que mexesse em direitos consagrados dos trabalhadores, conquistas de renhidas batalhas travadas ao longo de décadas, recepcionadas pelo constituinte de 88, a pretexto de buscar o reequilíbrio das finanças públicas para retomar um suposto crescimento que não virá seguramente por meio dessas políticas anticíclicas, por aqui já implementadas em outros governos, máxime o do sociólogo FHC que praticou o mais nefasto desmonte do Estado nacional e cujos resultados foram traduzidos em recessão, desemprego, baixo investimento, privatizações, socorro a bancos privados, taxas de juros estratosféricas, dentre outras medidas que por fim trouxeram o PT ao poder, onde permanece sob cerrado fogo cruzado da mídia e seus colunistas amestrados que não se conformam com as sucessivas derrotas eleitorais impostas pelo voto soberano da maioria do povo que resistiu a todos os ataques e deu mais um voto de confiança a presidenta e a esse projeto em curso para agora ser negativamente surpreendido pelo duro ajuste fiscal que está sendo imposto, contrariando todas expectativas de quem votou pela continuidade, crente de que as necessárias mudanças que seriam feitas não afetariam nem os direitos trabalhistas e tampouco os programas sociais, um tapa na cara do eleitor que se sente ludibriado por uma demagogia barata que não deixa nada a dever ao mais inescrupuloso oligarca da velha política, mesmo intuindo que se fosse com Aécio o ajuste seria ainda mais radical, não tem como, nas circunstâncias atuais, ficar defendendo esse governo que se cercou de um séquito de incompetentes que não consegue retomar a hegemonia do discurso, com uma sucessão de erros primários que vão da imensa falha de comunicação ao vácuo de poder ocupado pelos presidentes da câmara e do senado que são hoje os governantes do país, enquanto o isolamento da presidenta demonstra sua incapacidade de trazer para discussão uma agenda positiva que retome a confiança de seu eleitorado e dos investidores que necessitam de um ambiente de tranquilidade institucional para continuar fazendo os investimentos de que necessitamos para retomada do crescimento.

 


Nem em seu próprio partido a presidenta consegue a unanimidade. Aliás até Lula se mostra perplexo com a falta de traquejo de sua pupila que ocupa um cargo político e abdica de fazer política se dedicando aquilo que supostamente é seu ponto forte, a gestão de governo duramente questionada pelas ações propostas em duas medidas provisórias objeto de grandes controvérsias no congresso e nas discussões dos movimentos sociais que não aceitam e nem abrem mãos dos direitos trabalhistas assegurados na constituição. 

Nesse imbróglio resta a discussão moral que envolve a corrupção sistêmica que esconde o pano de fundo de uma crise que se acelera com notória contribuição dos justiceiros do judiciário e ministério público que avançam num cinismo repulsivo contando com o falso moralismo de uma sociedade que finge que corrupção é coisa de terceiros e que ela própria está isenta como um ente à parte, etérea, acima de qualquer suspeita. 

Uma desfaçatez que se retroalimenta pela cara dura, pela audácia de se discutir um tema sem contextualizá-lo historicamente e sem assumir as devidas responsabilidades de um povo que é caracterizado pelo lado negativo do "jeitinho", um modo de vida entranhado na cultura nacional que explode em hipocrisia quando se revela quão extensa é a corrupção e como o país sangra com essa prática que faz parte do cotidiano do brasileiro, esse ser especial que tem a lei de Gerson como guia.

Diante do atual quadro desalentador, só resta o pensamento crítico, a recusa do apoio incondicional, a resistência como forma de pressão para que a presidenta recue e cumpra o prometido em campanha. Fora disso, não há como apoiar esse governo.