terça-feira, 2 de setembro de 2014

Entendendo o desgaste de Dilma com os empresários


Converso com duas lideranças empresariais, uma da indústria outro do agronegócio, ambas inclinadas a apoiar Marina Silva.
O da indústria sustenta que o tripé que ameaça o setor são  juros altos,  câmbio baixo e  carga fiscal elevada.
O modelo econômico proposto pelos economistas de Marina é claro: independência do Banco Central para fixar a taxa de juros que julgar adequada, como única forma de combater a inflação; e ajuste fiscal severo para dar espaço para a conta juros.
Dentro dessa lógica, eleita Marina Silva, acaba a era dos subsídios do Tesouro ao BNDES para financiamento à indústria. Em pouco tempo haverá a elevação da TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo) para equipará-la à Selic, reduzindo o subsídio implícito. Haverá redução drástica no volume de financiamentos. Não haverá essa política escandalosa de privilegiar os "campeões nacionais", é verdade. Mas não haverá mais oferta abundante de financiamento para os demais.
Além disso, a política industrial do pré-sal será interrompida. Em pouco tempo, não haverá mais a política de conteúdo local na construção de plataformas, já que não faz parte das prioridades de Marina..
Não são hipóteses terroristas, são conclusões óbvias a partir das declarações de Marina, de seus economistas e do plano de governo.
Mesmo assim, o líder industrial manifesta entusiasmo com sua candidatura.
Entende-se seu desconforto com a situação atual e com o câmbio. A vida média do maquinário da indústria é de 16 anos. São literalmente carroças. Apesar do BNDES, do financiamento subsidiado, não houve renovação do parque por falta de previsibilidade na política econômica de Dilma e do câmbio, tirando o mercado da indústria.
Que a política econômica de Dilma exige ajustes, não se discute. Esses ajustes dependem exclusivamente da própria Presidente, de sua capacidade de superar o estilo centralizador.
Do lado de Marina, o fim das políticas industriais e do apoio à indústria estão no centro do pensamento de seus economistas.
Você que teme juros altos: não o assusta a proposta de independência do Banco Central, indago? Se soltar o câmbio, reajustar as tarifas e tentar segurar o aumento de preços exclusivamente com juros e aperto fiscal, se terá um mundo complicado, com aumento do custo financeiro em uma ponta, e redução da demanda na outra.
Ele não acha.
Na sua opinião em pouco tempo haverá melhoria no ambiente econômico, previsibilidade, políticas horizontais de redução da carga fiscal, devolvendo a vitalidade à economia.
Indago se conhece o temperamento de Marina, sua capacidade de decisão. Duvidavam de Lula também, argumenta ele, e no entanto deu certo.
É uma ilusão evidente. Mas mostra até onde foi levado o desencanto com a incapacidade de Dilma de apontar o futuro - que está sendo construído.
O caso do agronegócios
Do lado do líder do agronegócio, o quadro é similar.
Em relação ao etanol nenhuma discussão: Dilma provocou um desastre no setor contendo as tarifas de energia. 
Mas a conversa sobre os demais aspectos do agronegócio é curiosa. Seu maior problema é o custo da infraestrutura. Nada foi feito para melhorar, me diz ele.
Pergunto do Plano Nacional Agrícola, elogiado até por Delfim Netto. Ah é, o PNA é bom, aumentou os recursos para armazenagem, crédito agrícola. Pelo menos algo se salva, penso eu.
E os portos, qual a razão das filas enormes no ano passado e nenhuma fila este ano? Bem, no ano passado a safra foi maior. Mas este ano, de fato, as obras do PAC deram certo e permitiram melhoria nos portos. Pelo menos duas coisas se salvam.
E quanto à infraestrutura, as obras ferroviárias que deveriam interligar o país? Nada foi entregue, uma desgraça. Aliás, há um novo porto no Pará que facilitou bastante o escoamento da safra, mas é investimento privado. Penso eu: é óbvio. Mas e a ferrovia norte-sul? Quando entregue, resolverá um grande problema da agricultura do centro-oeste, mas nada foi entregue até agora, me responde. E, na sua previsão, quando ficará pronta? Não ficará antes de dezembro. Quer dizer que a partir de dezembro um grande problema logístico estará resolvido? Sim.  E a leste-oeste? Também está para ser entregue.
Recentemente, Delfim Netto publicou um artigo mostrando os avanços ocorridos nas políticas para o setor e o mínimo que se necessitava para conseguir o apoio da classe. Muito mais gestos políticos do que ampliação de recursos.
Nada foi feito. Hoje em dia, o principal apoio do governo Lula no setor - o ex-Ministro Roberto Rodrigues - é um crítico intransigente do governo Dilma.
Tudo isso demonstra algumas coisas:
O grau de exacerbação que toma conta de toda campanha eleitoral.
O desgaste produzido por políticas de gabinete, mesmo entre os beneficiados por elas.

http://jornalggn.com.br/noticia/entendendo-o-desgaste-de-dilma-com-os-empresarios

Ataque ao pré-sal pode desarticular integração do continente à brasileira



O velho slogan ganha atualidade

por Luiz Carlos Azenha

2007. Estados Unidos. Assessores de Barack Obama chegam a flertar com os progressistas da América Latina. Chávez, Evo, Correa, Lula. No programa do candidato a candidato do Partido Democrata, a sugestão de que a distribuição de renda poderia estabilizar a região. Eu morava em Washington, então. 2008. Setembro. Desmorona a Lehman Brothers. Tem início a maior crise econômica internacional desde 1929. George W. Bush transfere o poder a Obama já compromissado com uma trilionária injeção de dinheiro público para salvar os bancos. Mundo louco, o nosso: a direita norte-americana delira quanto o “socialista” Obama salva a General Motors à base do intervencionismo estatal.

Na origem da crise estavam papéis podres, títulos sem lastro, dissociados de riqueza real. Especulação pura e simples. Coisa tão maluca que era possível fazer fortuna apostando na quebra de uma empresa, com a consequente perda de milhares de empregos. CapEtalismo, como brinca um de nossos leitores. Cada transação destas rendia uma fração do dinheiro envolvido aos bancos. Famosas taxas de administração, que resultavam em gordas comissões aos facilitadores.

Detentores da moeda de troca universal, os EUA enfrentaram a crise exportando parte dela através do QE, o chamado Quantitative Easing. Trocando em miúdos, imprimindo dinheiro à vontade e injetando na economia. Foi isso, nada mais do que isso, que sustentou Wall Street. Bolsa em alta, povo em baixa. Desemprego. Cozinhas de emergência. Recorde na distribuição dos food stamps, os cupons para compra em supermercados que equivalem ao Bolsa Família brasileiro. Concentração de renda.

Na Europa, onde a Alemanha representa um terço do PIB total, o cassino estava montado como se fosse uma fila de dominós. Na ponta, irlandeses, espanhóis, portugueses e gregos, que haviam aproveitado o dinheiro barato do tempo das vacas gordas para fazer investimentos imobiliários. A casa. A casa de campo. O apartamento na praia. Os emprestadores eram bancos espanhóis, conectados aos italianos, por sua vez ligados aos franceses, conectados aos britânicos e assim sucessivamente, até chegar a Berlim. Angela Merkel, atendendo à opinião pública alemã, que vê os mediterrâneos como gastadores irresponsáveis, pendurou a conta na periferia. A penúria atual dos gregos, o desemprego recorde dos jovens espanhóis, a nova onde de imigração de irlandeses, os profissionais portugueses que redescobrem o Brasil — isso tudo é apenas consequência.

As versões japonesa e europeia do QE dos Estados Unidos deram resultados igualmente pífios. O PIB da Alemanha teve uma retração de 0,2% no segundo trimestre de 2014, assim como o da Itália, com a França registrando dois trimestres consecutivos de crescimento zero. Para complicar ainda mais, a desastrosa intervenção externa dos Estados Unidos na Ucrânia vai provocar um retração de 10 a 15% em uma economia relativamente importante do Leste, exigindo um resgate não inferior a U$ 50 bilhões.

A possibilidade de uma recessão global está no horizonte, escreve Jack Rasmus no Counterpunch. Rasmus, aliás, acredita que vivemos o prelúdio de uma depressão global.

A China, que com sua fome de matérias primas sustentou economias exportadoras, cresce a um ritmo bem inferior ao do passado, apesar de ter adotado suas próprias medidas de estímulo. O cobertor anda curto na economia globalizada.

O fato concreto é que nunca houve, de fato, uma contabilidade honesta de 2008. A papelada sem lastro continuou voando por aí, às custas de uma imensa transferência de riqueza dos 99% para o 1% — a classe que administra e controla o sistema financeiro. Mas o rombo é tão gigantesco que talvez exija uma guerra para “estimular” a economia. John Pilger, por exemplo, acha que os EUA caçam guerra no entorno da Rússia.

Não seria a primeira, obviamente. Uma das saídas para lastrear as operações financeiras a descoberto em riqueza palpável, material — como o minério de ferro de Carajás, o cobre do Chile ou o coltan do leste do Congo — é a recolonização.

Vimos isso mais recentemente no Iraque, no Sudão e na Líbia.

A invenção do Sudão do Sul assim, de forma improvisada, foi um jeito de tirar da China o controle de reservas de petróleo estrategicamente situadas, desenvolvidas com o dinheiro de Beijing.

Na Líbia, a operação conjunta Estados Unidos-OTAN nada mais foi que a desestatização na marra do petróleo, cuja renda o ditador Kadafi utilizava para financiar projetos de autonomia africana.

Autonomia é algo que não combina muito bem com o capitalismo em crise, pois ela se sustenta na exploração soberana de recursos naturais disponíveis em determinado espaço geográfico.

Na América do Sul, desde o início dos anos 2000, surfando no apetite gigantesco dos chineses por matéria prima, o governo Lula jogou um papel decisivo. O continente em geral e o Brasil em particular atingiram um nível de autonomia política que jamais tinham vivido anteriormente, ainda que sob a sombra permanente do Tio Sam.

Washington deixou claro quais seriam os limites geográficos da “ousadia” que estava disposta a aturar quando despachou o governo de Honduras em 2009. Era avançar demais sobre o quintal alheio.

A arquitetura anti-hegemônica brasileira, costurada inicialmente pelo ministro Celso Amorim, incluiu a diversificação de mercados, a independência em relação ao FMI, a ampliação e o fortalecimento do Mercosul, a criação da Unasul, a ‘ultrapassagem’ da OEA e o fortalecimento das relações entre os BRICs, para citar apenas alguns passos.

Embora as campanhas eleitorais sempre priorizem as questões domésticas, não podemos deixar de considerar esta arquitetura também estará em jogo nas eleições de outubro deste ano: o desmanche, o realinhamento ou o fortalecimento do projeto de inserção do Brasil na economia global adotado há mais de dez anos.

Isso, num quadro de crise econômica duradoura, em que as finanças miram, acima de tudo, as grandes riquezas ainda disponíveis na América do Sul.

O filé mignon é o megalastro energético que, aos poucos, vai se transformando no pilar central do desenvolvimento integrado do continente.

A saber: o pré-sal brasileiro, as reservas de gás da Bolívia e as maiores reservas de petróleo pesado do mundo, na faixa do Orinoco, na Venezuela. De certa forma, estas reservas começam a se tornar interdependentes, embora de forma ainda incipiente.

Aqui, somos nós, os sulamericanos, que estamos diante de nossa própria sequência de dominós. A queda de um coloca em risco todos os outros.

Talvez seja apenas retórica de campanha, para agradar usineiros; ou uma satisfação aos que sonham com a era pós-petróleo. Se Marina Silva, de fato, não considera prioritário o desenvolvimento do pré-sal, pode estar colocando em risco toda a arquitetura da integração continental à brasileira que herdamos do governo Lula — e isso, para além da ideologia, se traduz em emprego e renda.

http://www.viomundo.com.br/opiniao-do-blog/quando-o-ataque-ao-pre-sal-desarticula-integracao-continente-brasileira.html

BOFF: “FATOS FALAM POR SI. DILMA É A MELHOR OPÇÃO PARA O POVO BRASILEIRO”


Aos 75 anos, Leonardo Boff possui a biografia rara de líder religioso, intelectual respeitado e militante das causas do povo. Em 1959, aos 24 anos, ingressou na Ordem dos Frades Menores, franciscanos. Diplomado em Teologia e Filosofia pela Universidade de Munique, na Alemanha, foi um dos pioneiros na formulação da Teoria da Libertação, que procurava combinar a indignação diante da miséria e da exclusão na América Latina com a fé cristã. Em 1985, quando o Vaticano encontrava-se sob domínio de ideias conservadores, Boff foi condenado a um ano de “silêncio obsequioso” pela Sagrada Congregação para a Defesa da Fé, sucessora do Santo Ofício, que na saída da Idade Média, organizava os tribunais da Inquisição.
Embora tenha conseguido retomar algumas de suas atividades, auxiliado pelo apoio de uma formidável pressão, quando foi ameaçado de nova punição, em 1992, Boff decidiu se auto promover ao estado leigo. No ano seguinte, foi aprovado, por concurso, para a cadeira de Filosofia da Religião, Ética e Ecologia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, UERJ. Autor de mais de 60 livros sobre Teologia, Antropologia, Espiritualidade e Mística, entre outros assuntos, até hoje Boff também realiza palestras para estudantes, para o Movimento Sem-Terra e as comunidades da Igreja. Na semana passada, Leonardo Boff deu a seguinte entrevista ao Brasil 247:
PERGUNTA – O senhor tem contatos com pessoas mais diversas do povo brasileiro. Eu gostaria que contasse como estes cidadãos estão vendo a eleição de 2014. Há grandes mudanças em relação a 2010, 2006, 2002?
RESPOSTA – Há um mal estar generalizado no mundo como Freud constatava nos anos 30 do século passado. Todos têm a sensação de que assim como o mundo está não pode continuar. Tem que haver mudanças. É o efeito da crise de nossa civilização que não dispõe mais de recursos próprios para dar conta de sua própria crise interna. Bem dizia Einstein: “o pensamento que criou a crise não pode ser o mesmo que nos tira dela”. Devemos pensar diferente e agir diferente. No Brasil as manifestações de junho de 2013 no fundo queriam dizer: “não queremos mais um Brasil dos negócios e das negociatas. Queremos um Brasil de cidadãos que participam”. Há ainda um fator novo: as políticas públicas do PT que tiraram 36 milhões da pobreza foram incorporadas como coisa natural, um direito do cidadão. Ora, o cidadão não tem apenas fome de pão, de casa, de luz elétrica. Tem outras fomes: de ensino, de cultura, de transporte minimamente digno, de saúde razoável e de lazer. A falta de tais coisas suscita uma insatisfação generalizada que faz com que esta eleição de 2014 seja diferente de todas as anteriores e a mais difícil para o PT. Precisamos de mudança. Mas dentre os partidos que podem fazer mudanças na linha do povo, apenas vejo o PT, desde que consolide o que fez e avance e aprofunde as mudanças novas atendendo as demandas da rua. Dilma é ainda a melhor para o povo brasileiro.
PERGUNTA — Por que?
RESPOSTA — Os fatos falam por si. Até hoje nenhum governo fez políticas públicas cuja centralidade era o povo marginalizado, os invisíveis, considerados óleo gasto e zeros econômicos. Lula e Dilma introduziram políticas republicanas, vale dizer, que têm as grandes maiorias em seu foco. Importa consolidar estes avanços: Bolsa Família, Luz para todos, Minha casa minha vida, crédito consignado, mais escolas técnicas e mais universidades e correção do salário em 70% da inflação diminuindo em 17% a desigualdade social. Quem fez isso com sucesso deve poder continuar a fazê-lo e de forma mais profunda e abrangente. Dilma é ainda a melhor opção para esta tarefa messiânica.
PERGUNTA — O senhor conheceu Marina Silva no Acre, onde ela foi sua aluna. Também tem acompanhado sua campanha em 2014, como candidata a presidente pelo PSB. O que mudou?
RESPOSTA — Primeiro ela mudou de religião. De um cristianismo de libertação, ligado aos povos da floresta e aos pobres, passou para um cristianismo pietista e fundamentalista que tira o vigor do engajamento e se basta com orações e leituras literalistas da Bíblia. Isso transformou a Marina numa fundamentalista com a mentalidade de alguns líderes muçulmanos: ler a vontade de Deus não na história e no povo, mas nas páginas da Bíblia de 3-4 mil anos atrás. Isso enrijece a mente e a torna ingênua face à realidade política. Agora como candidata pelo PSB representa uma volta ao velho e ao atrasado da política, ligada aos bancos e ao sistema financeiro. Seu discurso de sustentabilidade se tornou apenas retórico. Ela não encontrou aquilo que é a essência da verdadeira ecologia: uma nova relação para com a Terra e a natureza: respeitando seus direitos e organizando um modo de produção que respeita os ritmos naturais. Para mim é uma espécie de Jânio de saia.
PERGUNTA – Marina participou da luta popular contra empresários e fazendeiros que tentavam destruir a Amazônia. Também esteve ao lado de Chico Mendes até seu assassinato, em 1988. Como entender que, hoje, ela possa dizer que Chico Mendes fez parte da mesma elite a que pertence, por exemplo, uma das herdeiras do maior banco privado do país?
RESPOSTA — Esta visão de Marina mostra o quanto é fraca teoricamente e revela a contaminação que já sofreu de seus aliados e conselheiros, todos neoliberais e submissos à lógica do mercado que não é nada cooperativo, mas estritamente competitivo. Ela não está construindo no canteiro do povo, dos pobres e marginalizados, mas levando tijolo, cimento e água para o canteiro das elites opulentas e conservadoras de nosso país.
PERGUNTA — De que forma essa visão dogmática, fundamentalista, da religião, pode afetar a postura de uma pessoa que pretende governar um país onde vive uma sociedade complexa e plural, como a brasileira?
RESPOSTA — As consequências são ruins. Ela viverá permanentemente em crise de consciência entre a lógica da realidade e a lógica religiosa, fundada numa leitura velhista, errônea e anti-histórica da Bíblia. A Bíblia não é um fetiche de soluções, mas uma fonte de inspiração para que nós achemos as soluções adequadas para o tempo presente. Um fundamentalista não serve para governar, pois cria continuamente conflitos. O governante deve ser alguém de síntese, que saiba dos conflitos e das diferentes posições e tenha a habilidade de conduzir para uma certa convergência no ganha-ganha. Marina não possui esta habilidade. Se vencer, oxalá não tenha o mesmo destino político que teve Collor de Mello.

PERGUNTA — No último debate presidencial, Marina recusou-se a revelar quem paga palestras que lhe rendem mais de R$ 50 000 por mês. Disse que era uma exigência dos clientes. Como analisar isso?
RESPOSTA — Acho que como cidadã e militante da causa ecológica ela pode e deve aceitar palestras sobre temas de ecologia, pois o analfabetismo ecológico é grande, especialmente, entre os empresários. Achei que a pergunta a ela não foi pertinente, porque invade a esfera do privado de forma indevida. Outra coisa seria se ela como candidata cobrasse por suas falas. Aí poderia surgir um compromisso tácito entre a empresa que a convidou, criando um problema político, pois a empresa pode se valer deste fato para conseguir vantagens ilegítimas.
PERGUNTA — No Brasil de hoje, o desemprego está baixo. Os salários crescem mais do que a inflação. Mesmo assim, há um grande pessimismo. Por que?
RESPOSTA — Grande parte do pessimismo é induzido por aqueles que querem a todo custo e por todos os meios tirar o PT do poder. Aqui se trata de uma luta de classe selvagem. Nossas elites que Darcy Riberiro considerava as mais reacionárias do mundo e Antônio Ermirio de Morais dizia com frequência: “as elites só pensam nelas mesmas” junto com a grande mídia promoveram esse pessimismo. Mas o povo lá em baixo sabe que sua vida melhorou tem esperança de melhorar ainda mais. Vê no PT a comprovação de que pode realizar esse sonho viável. No fundo as elites de distintas ordens pensam: aquele lugar lá no Planalto é nosso e não de um trabalhador. Lula pode estar no Planalto mas como serviçal e faxineiro. Ocorre que se realizou a maior revolução pacífica e democrática de nossa história: um outro sujeito de poder, alguém, sobrevivente da grande tribulação, chegou lá e deu outra direção ao país rumo ao povo e sua inclusão social: Luiz Inácio Lula da Silva, continuado pela Dilma Rousseff.
PERGUNTA — Uma explicação comum para as dificuldades de Aécio Neves é o fracasso histórico do PSDB em oferecer uma perspectiva de melhoria para a maioria da população. Por essa razão, seu candidato parece caminhar para a quarta derrota em quatro eleições presidenciais. O senhor concorda?
RESPOSTA — O PSDB não possui base popular nem está ligado organicamente aos movimentos sociais. Ele nasceu com a mentalidade da socialdemocracia européia, feita em grande parte pela classe média. Aqui o problema é como resolver os problemas atávicos do povo, de sua fome, de sua falta de escolas, de saúde e moradia. O PSDB não colocou isso no centro de sua agenda, mas o desenvolvimento econômico, alinhando-se ao curso da macroeconomia capitalista, especulativa e feroz. Por isso há uma afinidade natural entre este partido e os que “estão bem na sociedade”. Ocorre que o desafio é atender aqueles que “estão mal”. Isso eles fizeram muito pouco. Nem sabe fazê-lo, pois se exige uma pedagogia tipo Paulo Freire na qual o pobre entra como sujeito da superação de sua pobreza.
PERGUNTA — Como o senhor avalia o papel da mídia em 2014?
RESPOSTA — Eu creio que a grande mídia seja de jornais, rádios ou televisão mostrou seu caráter nitidamente de classe. Muitos desses meios foram concedidos (esquecemos que não são donos, mas concessionados) a algumas famílias opulentas. Usam seu poder para fazer a cabeça do brasileiro. A TV Globo faz mais a cabeça dos brasileiros na linha do sistema vigente capitalista e consumista mais que todas as escolas e universidades juntas. Isso é anti-democrático e no nível de outros países mais civilizados, uma vergonha. Com que direito a família Marinho pode assumir esta pretensão? Na verdade, hoje, com a oposição fraca, eles se constituíram a grande oposição ao governo do PT. Erro do PT foi não ter construído uma mídia alternativa para tensionar as opiniões e oferecer uma alternativa ao povo na leitura da realidade. A mais manipuladora e até mentirosa revista de opinião deste país é sem dúvida a revista VEJA.
http://paulomoreiraleite.com/2014/09/02/boff-fatos-falam-por-si-dilma-e-melhor-opcao-para-o-povo-brasileiro/

SLOGAN DE MARINA COPIA CAMPANHA DE GUSHIKEN


gushiken marina 13
Pelo visto, a nova política não foi capaz de criar um novo slogan.
Até hoje não se sabe quem inventou a frase “Não vamos desistir do Brasil.” Ela foi pronunciada por Eduardo Campos em seus comícios e agora foi incorporada à campanha, como o principal slogan da “nova politica” de Marina Silva.
Nova?
Há 11 anos, a mesma ideia com outras palavras, esteve no centro de uma campanha do governo Lula: “Eu sou brasileiro e não desisto nunca.”

Na frase de 2003, o sujeito é “o brasileiro.” Ele não desiste. Está resolvido.
Na versão de 2014, alguém precisa, apelar para que o povo não desista. A ideia é muito parecida mas aparece uma novidade: é preciso arrumar um lugar para um líder ou melhor, uma candidatura. É quem puxa o coro que vai reafirmar um traço ameaçado do caráter nacional.
Em 2003, a campanha “sou brasileiro e não desisto nunca foi uma ideia de Luiz Gushiken,” o primeiro titular da Secom.

A autoria da frase chegou a ser atribuída aos craques da Copa de 2002, que a teriam para virar o placar de um jogo em que o Brasil ficara em desvantagem. E também a Lula. Na minha lembrança, algo parecido fazia parte dos versos de um musical estrelado por Bibi Ferreira…
Não sou fanático dos direitos autorais da propaganda política. Os grandes textos e expressões deste universo são obras anônimas da luta popular. Não ganharam importância porque foram criadas por um autor supostamente genial, mas porque expressavam a vontade da população em determinado momento.

“Mataram um estudante, podia ser seu filho” ajudou a levantar a classe média contra a ditadura, em 1968.

“Greve geral, derruba o general,” foi uma grande palavra de ordem num 1 de maio da Vila Euclides, dominando pelos metalúrgicos do ABC.
Quando Lindomar Castilho matou Eliane de Grammont, o movimento de mulheres reagiu: “Bolero de machão se canta na prisão.”
A verdade é que há 12 anos, o Brasil vivia num ambiente de pessimismo real.
Não era a euforia do Real. Era o seu fracasso. O país mal havia esquecido a emigração em massa de brasileiros ao exterior. Depois de 1998, o país quebrou e o governo Fernando Henrique Cardoso foi obrigado a bater às portas do FMI para pedir um empréstimo. Mas a credibilidade do governo era tão frágil que foi preciso obter aval dos candidatos de oposição para o dinheiro sair. Havia outro problema, porém. Fazendo corpo mole para liberar os recursos, que dependiam de sua assinatura, o secretário do Tesouro dos EUA, Paul O’Neill, fez chegar aos jornais o receio de que o dinheiro pudesse “acabar numa conta na Suíça.” (Sabe o que se investigava nos EUA, na época? Alston, Siemens e outras e outras empresas envolvidas no pagamento de propinas pelo mundo afora — até no metrô paulista, como fomos informados duas décadas mais tarde.)
Na campanha de 2002, como se fossem potentados coloniais, banqueiros como George Soros davam ultimatos ao país. Os juros chegaram a 24,90% no final daquele ano. Mas a crise era tão grave que depois da posse de Lula foram elevados para 26,27%, numa medida de emergência para conter a herança inflacionária, que enfim foi debelada no final do ano.
Falando no lançamento da campanha de 2003, Lula disse: “Eu acho que tem valores que temos de resgatar: valores religiosos, familiares, do círculo de amizade.” O presidente acrescentou: “tanta gente de fora acredita tanto no brasileiro e nós, às vezes, não acreditamos”.
Em 2014, fala-se em perda de controle da inflação quando ela se encontra em tendência de queda, fechou em torno de zero há quatro meses — e na média de quatro anos, encontra-se num patamar mais baixo do que FHC e mesmo Lula. O crescimento econômico é fraco, mas, mesmo em condições difíceis, tem sido possível evitar o desemprego e o arrocho nos salários.
O slogan da campanha de Marina procura se transformar numa profecia que se auto realiza. É o pessimismo induzido. Busca criar um ambiente de medo, incerteza, dizendo que tem gente capaz de “desistir” — mas ela não vai deixar.
Entendeu?
http://paulomoreiraleite.com/2014/09/02/slogan-de-marina-copia-campanha-de-gushiken/

Decifra-me ou te devoro

deciframeDebater é uma arte mapeada. Lembra o jogo de xadrez. Para cada abertura, há uma defesa correspondente que leva a fase das variantes, o jogo intermediário, a etapa imediatamente anterior às finais.
Bons debatedores se preparam a vida inteira para o improviso. Na hora H, puxam a arma certa do arsenal acumulado ao longo dos anos. Há também os debatedores com dom natural. Nesta categoria dotada instinto repentista, o santo baixa mais facilmente.
Atualmente, nenhum candidato à Presidência do Brasil deu provas de ser debatedor nato. Falta o carisma que não é compensado com os remendos e aditivos artificiais da marquetagem.
Aliás, como é ruim este time de personal treinners pago com salários de boleiros renomados. Captaram algum sinal emitido pelos manifestantes em 2013? O desempenho da clientela aponta para a negativa.
Dilma Rousseff foi programada para depenar tucano. Seu aplicativo não funciona contra Marina Silva. E a cintura de automata que Lula ou o conselheiro de plantão dá corda, mostra-se muito dura para inverter o movimento. Imagine trocar de estratégia que exige raciocínio em lapso curto de tempo.
Embora tenha o programa de governo mais redondo, o bom moço mineiro Aécio Neves vive em um eterno dilema: bato ou não bato, vou ou não vou? Quando decide, não sabe bem como modular o ataque. Muito ou pouco? O resultado é quase sempre fraco.
Marina com a firmeza de quem já enfrentou desarmada jagunço no mato, não tem medo de “Vossa Excelência”. Sabe onde dói e é ali, mesmo que machuca sem piedade ou complexo. Quando atacada, esquiva na evasiva. Ninguém sabe bem o que diz, mas Marina não deixa dúvidas de onde quer chegar.
A acreana será uma boa presidente? Há dúvidas muito bem embasadas. Contudo, não se alcançou está etapa ainda. Por vezes, ela parece nem existir. A disputa por enquanto, resume-se a ganhar a eleição. A ex-senadora vai levando fácil como uma esfinge desafiadora: “Decifra-me ou te devoro.”
http://veja.abril.com.br/blog/de-paris/brasil/decifra-me-ou-te-devoro/

Movimentos sutis: Marina gera dúvidas

http://www.revistaforum.com.br/rodrigovianna/plenos-poderes/movimentos-sutis-marina-gera-duvidas.html




por Rodrigo Vianna

Marina (como escrevi aqui) surfou sozinha – durante 15 dias – na onda do “novo”. Surfou, entre outras coisas, porque a campanha de Dilma não se mexeu: seguiu a priorizar os programas de TV – como se não estivéssemos no mundo das redes sociais.

Acontece que algo se moveu no último fim-de-semana. Parece um movimento ainda incipiente. Explico: ao mesmo tempo em que Marina Silva atingia 34%, empatando com Dilma no primeiro turno (DataFolha de sexta – 28/agosto), a candidata do PSB virou vitrine pela primeira vez. Não foi o PT quem reagiu (esse continua dormindo em sonho esplêndido). Não. Foram setores da sociedade que começaram a questionar a candidata, por suas escolhas e posições contraditórias e opacas.

O movimento desastrado de Marina em relação ao mundo LGBT, cedendo à pressão do pastor Malafaia e mudando de posição em menos de 24 horas, provocou algo realmente “novo” para a candidata do “novo”: pela primeira vez, Marina sofreu um bombardeio nas redes sociais. As citações negativas à candidata passaram de 80% no fim-de-semana. Número assombroso. A posição corajosa de Jean Willys lançou – no mínimo – dúvidas fortes em relação ao verdadeiro compromisso de Marina com o “novo”. Disse ele: “Marina, você mentiu e não merece a confiança do povo brasileiro.”

Dilma/PT e Aécio/PSDB também seguem com preponderância de citações negativas nas redes. Geralmente, políticos mais apanham do que são elogiados nas redes; com Marina, acontecia o contrário até agora. A maré mudou. E o nível de questionamentos a Marina foi muito acima do “normal” no fim-de-semana. Quem acompanha as redes de perto compara o que aconteceu com ela a certos movimentos que atingiram Russomano na campanha de 2012 em São Paulo.

Isso não significa que Marina “despencou”. Longe disso. Marina tem o apoio mais multifacetado possível: ambientalistas/progressistas, religiosos/conservadores, anti-PT, anti-política. Tudo isso se mistura num caldo difícil de entender. O ataque contra ela no fim-de-semana (motivado não por Aécio, nem por Dilma) parece ter minado a primeira fatia de eleitores (mais progressistas). E também gerou a impressão de que ela é capaz de falar qualquer coisa, sem muita consistência. 

Começa a surgir um movimento de retirada de apoio a Marina em meios intelectuais. Algo que não pode ser medido em votos. Mas significa que a candidata – submetida a um escrutínio mais duro – não é uma rainha previamente escolhida por deus.

A reportagem da “Folha” nesta segunda, mostrando que Marina tomaria decisões com base numa bizarra “roleta bíblica” (ela escolheria aleatoriamente versículos da Bíblia, e assim conseguiria sair de impasses decisórios) indica a face obscura de uma candidata, faceta que pode assustar o eleitorado tradicional de clase média, e também os jovens da chamada classe “C”.

Fora isso, levantamentos internos de campanhas mostram que Marina parou de crescer. Um desses levantamentos mostraria Dilma no mesmo patamar do DataFolha (cerca de 35%, que parece ser o piso da petista), enquanto Marina encontra-se alguns pontos abaixo – teria recuado levemente, mas segue com o dobro das intenções de voto do PSDB.

Nos bastidores, aposta-se que Aécio Neves não desistiu. E que pode sim encurtar um pouco a distância para Marina nas próximas duas semanas. Se isso acontecer, aumentaria a pressão sobre os grupos de mídia, para que ajudassem a desconstruir a candidata do PSB na reta final do primeiro turno.

No meio do caminho, no entanto, há uma nova pesquisa DataFolha, que deve ser divulgada na próxima quinta. Ela provavelmente mostrará Marina ainda muito à frente de Aécio – o que cria uma dificuldade para que ele amarre fidelidades e cobre reação, mesmo entre os grupos de mídia mais comprometidos com o tucanato (aliás, fica claro nessa campanha que os grupos de comunicação – sediados em São Paulo, com exceção da Globo – não devotam a Aécio a mesma fidelidade que demonstram em relação a Serra). 

Marina é favorita a essa altura para virar presidente. Mas o movimento do fim-de-semana mostra que há espaço para atuar. E que essa atuação nada tem a ver com programas milionários no horário de TV.

De resto, a ideia de que a elite conservadora já se bandeou para Marina é em parte falsa. Os empresários, a turma realmente da grana, não gosta do PT, mas está longe – muito longe – de confiar em Marina. Nesse ponto, ela é um fenômeno ainda mais obscuro do que Collor (que, ao menos tinha pontes lançadas na direção do grande capital e da Globo). E isso gera ruídos e contradições.

Nem a favor nem contra: o ‘marinês’ no Jornal da Globo


Questionada sobre temas espinhosos para a sua campanha em entrevista na bancada do programa, candidata do PSB à Presidência deu respostas evasivas

Marina Silva em entrevista ao Jornal da Globo
Marina Silva não assumiu posições em entrevista ao Jornal da Globo (Reprodução/TV Globo/VEJA)
"A senhora é a favor ou contra o casamento gay?"

"Vai reajustar a gasolina?"

"As termelétricas salvaram o Brasil neste ano. Pretende desligá-las se for eleita?"

Marina Silva, candidata do PSB à Presidência da República, mais uma vez abusou do "marinês" na madrugada desta terça-feira – a entrevista foi gravada horas antes nos estúdios da TV Globo – e, falando em rodeios, sem assumir posições assertivas, esquivou-se de perguntas sobre temas espinhosos para sua campanha no Jornal da Globo. Marina abriu a série de entrevistas de 25 minutos com os presidenciáveis – Dilma foi a única que se recusou a participar.
Gays – Logo de cara, os entrevistadores fizeram quatro perguntas para Marina sobre o recuo de sua campanha, que modificou um trecho do programa de governo favorável ao casamento entre homossexuais no final de semana, um dia depois do texto ter sido divulgado. Após o lançamento da cartilha de governo, Marina foi pressionada por pastores evangélicos. A saída foi alterar o documento e atribuir a mudança a um "erro de processo" – os coordenadores, segundo ela, incluíram a proposta "sem mediação". Hoje, não foi diferente: "Foi incluído o documento enviado pelo movimento LGBT tal qual enviaram". Em seguida, o entrevistador questionou a candidata se ela concordava com uma manchete dizendo: "Marina é a favor do casamento gay". Ela não concordou nem discordou. O entrevistador insistiu. E com esta manchete: "Marina é contra o casamento gay". Marina não concordou nem discordou. E terminou dizendo que era a favor da união civil entre pessoas do mesmo sexo, conforme a legislação do país reconhece. "O que a lei assegura é a união civil."

Em seguida, questionada se consultava a Bíblia antes de tomar suas decisões, deu nova volta, afirmou que seus críticos tentam colar nela a pecha de fundamentalista, mas lançou frases direcionadas ao eleitorado evangélico, como "uma pessoa que crê" e "a Bíblia é uma fonte de inspiração".

Marina ainda repisou posições que têm martelado no dia a dia da campanha, como a defesa do tripé econômico – câmbio flutuante, meta de inflação e responsabilidade fiscal – com independência total do Banco Central, críticas à atual condução econômica – "Há uma visão tacanha de se governar pensando nas eleições" – e seu compromisso em acabar com a reeleição, se for eleita.

Já nos minutos finais, os apresentadores do Jornal da Globo questionaram a ambientalista, que carrega a bandeira da energia limpa, se pretende desativar as termelétricas, que salvaram o país neste ano. A pergunta foi direta: sim ou não? Marina começou a resposta: "Falando desse jeito há uma simplificação..." E deixou escapar um breve sorriso. Era o "marinês" mais uma vez em ação. 
http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/nem-a-favor-nem-contra-o-marines-na-bancada-do-jornal-da-globo

Alertei para o aspecto de rede em 2010



Por Silvio B Campello

Quando muitos do blog batiam sem pudor na candidatura Marina em 2010, acusando-a de apêndice de Serra e analisava sua performance como mera consequência de apoio midiático, expus por aqui minha experiência com a campanha. Pouca ou nenhuma repercussão, me pareceu. Relatei esse caráter rizomático e a qualidade da imagem projetada por Marina, especialmente entre os jovens com os quais tenho oportunidade de conviver há mais de 20 anos, diariamente.

A campanha de 2010 se calcou basicamente nessa estrutura faça você mesmo que é da mesma natureza da que vivi aqui em Recife no#ocupeestelita. Minha casa virou um comitê popular e recebia pela rede informações variadas. Uma das mais interessantes era uma ferramenta que localizava num mapa os comitês populares em torno do meu. Maravilha. Dava para ter uma ideia do avanço da candidatura apenas por isso. Além disso era possível baixar material de campanha para imprimir na minha impressora caseira e até moldes vazados para pintar camisas era possível. De quebra, montaram um banco de dados para divulgar os movimentos de Marina através de mala direta. Depois de um tempo solicitei minha exclusão.

A natureza emergente das redes sociais é algo assombroso. No #ocupeestelita, ao acamparem no terreno e detonarem o maior movimento de resistência ao caos urbano recente (apontei aqui a organização que se formava em torno do Estelita em 2012), convoquei meus alunos e ex-alunos pelo facebook para darmos nosso apoio como designers. A resposta foi imediata, chegando a uma centena de membros de um grupo em poucos dias. Porém, o mais surpreendente foi como a organização se montou de maneira espontânea, com alguns tomando a frente sem voz de comando e se substituindo à medida que a demanda surgia, numa espécie de revezamento 100 x 4. Eu, professor universitário, Mestre e Doutor, responsável por convocá-los, sequer contribuí, não deu. Estava com grandes dificuldades de rede e quando conseguia acesso descobria que o grupo vivia muito bem sem mim, em muitos sentidos, até melhor, pois apesar de sempre ter estado à frente da onda digital na minha área (comecei com illustrator, word, pagemaker em 1988), não há como aos 52 anos ser mais competente no uso das ferramentas do que meus alunos de 20-30 anos. É um fenômeno estudado seriamente na Academia, o da emergência. A Rede intensificou fortemente essa qualidade.

Hoje, depois de avaliar o nível e a capacidade da reação conservadora no Brasil, por mais insatisfeito que estou com os rumos do PT e do Governo Federal, com a sua tibieza, com sua estupidez em acreditar que basta o acesso a melhor distribuição de riqueza e condições materiais, seu desprezo pelo embate ideológico, etc. concluí que tenho que ter paciência. Apesar de todo o abandono a que o PT relegou a formação política de sua base social, estou em campanha para Dilma Roussef. A nível estadual, no entanto, desprezo o PT de Pernambuco pelo extremo desserviço à causa de um país mais justo e uma política mais ética e responsável. O candidato ao Senado e ex-prefeito João Paulo, que comportou-se como um reizinho mimado em seu segundo mandato, nunca mais receberá meu voto. Armando Monteiro, oponente do candidato de Eduardo Campos, talvez o receba nesta eleição, pois diferente dos menos informados conheço muito bem a 'nova política' do PSB pernambucano.

http://jornalggn.com.br/noticia/a-eleicao-de-marina-e-um-risco-sua-candidatura-um-avanco#comment-420616