sábado, 30 de agosto de 2014

O JEITO É ( AÉCIO ) SE CONFORMAR



POR RIBAMAR FONSECA
As comparações que a presidenta Dilma Rousseff fez entre os governos do PSDB e do PT, durante o debate na Band, quando afirmou que o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso havia "quebrado" três vezes o Brasil, parece que doeram muito no candidato tucano Aécio Neves, no seu "ministro" Arminio Fraga e no próprio FHC. Respondendo na oportunidade à Presidenta, Aécio disse que ela governava olhando o passado pelo retrovisor, sem preocupação com o presente e sem projetos para o futuro. Sem dúvida uma frase de efeito, bem construída, mas sem conteúdo e nenhuma praticidade.
Justamente por não ter a malícia de raposas políticas como o senador tucano, com apurada retórica em seus discursos, Dilma, que se caracteriza por sua capacidade em tomar decisões e colocá-las em prática, não replicou no mesmo diapasão. Ela poderia ter lembrado a Aécio, por exemplo, que quem dirige sem olhar o retrovisor pode provocar acidentes. E mais: é corrigindo os erros do passado que se melhora o futuro. Ninguém, governante ou não, pode ignorar o passado, como, aliás, o próprio tucano, que costuma repetir à exaustão que se deve a estabilidade econômica do país ao governo de FHC, responsável, segundo ele, pela implantação do Plano Real.
A afirmação, na verdade, é uma grande mentira, pois o Plano Real e, consequentemente, a estabilidade econômica, são frutos do governo de Itamar Franco. Alguém pode argumentar: mas Fernando Henrique era o ministro da Fazenda. Certo, mas quem manda no governo é o presidente, a quem são creditadas todas as decisões. Por isso os planos econômicos sempre tiveram o nome dos presidentes: plano Collor, plano Sarney, etc. Ministro é auxiliar e pode fazer o melhor plano do mundo que, se não for aprovado pelo presidente, terá como destino o cesto de lixo. Além disso, por que só no governo FHC as ações foram creditadas a ele e não ao seu ministro da Fazenda? Ao que parece eles apostam na ideia de que o povo tem memória curta e, também, na máxima de Confúcio, segundo a qual "uma mentira dita mil vezes vira verdade".
O próprio ex-presidente FHC, aliás, sem poder afirmar o que sabe não ser verdade, disse, em recente artigo intitulado "Dilma entende pouco de economia", que "desde quando assumi o ministério da Fazenda, no governo Itamar, começamos a refazer a credibilidade do país". E acrescentou: "Fizemos em 1994 o Plano Real, sem apoio do FMI, e erguemos a economia". Não é difícil perceber a sua indisfarçável pretensão quando insinua que foi ele, quando "assumiu o Ministério da Fazenda", que começou a mudar tudo. De onde se conclui que sem ele o governo Itamar seria um fiasco. Pelo menos não teve a cara-de-pau, como seus correligionários, de afirmar ter sido ele o autor do Plano Real.
O ex-presidente tucano inicia o seu artigo, em resposta às afirmações da Presidenta, dizendo: "Agora vejo o motivo pelo qual a presidente Dilma Rousseff não conseguiu obter grau de pós-graduação na Unicamp: ela entende pouco de economia". E o sociólogo por acaso entende? Foi ele quem elaborou o Plano Real ou foram os economistas que integravam a equipe de assessores do governo Itamar Franco?
Depois de tentar justificar as dificuldades financeiras enfrentadas durante o seu governo, em razão de crises externas, o ex-presidente admitiu que em 2002 a situação esteve muito difícil como consequência do que ele chamou de "efeito Lula". O "ministro" de Aécio, Arminio Fraga, foi mais claro, também em artigo, ao dizer que "em 2002, o Brasil quase quebrou, sim, em função do medo do que faria o PT no poder". Ele só se esqueceu de dizer que quem criou esse clima de terror no país, sob o argumento de que a eleição de Lula provocaria o caos, foi o próprio PSDB ao veicular, na propaganda eleitoral do horário gratuito, um vídeo em que a atriz Regina Duarte, fazendo cara de pavor, dizia: "Tenho medo!".
Mas agora isso não importa muito porque nos 12 anos do governo petista o Brasil cresceu e, entre outras coisas, pagou a dívida com o FMI, melhorou consideravelmente a vida do seu povo, tirou mais de 40 milhões de brasileiros da linha de pobreza e se tornou uma das maiores economias do mundo, respeitado ainda por sua posição de independência no concerto das nações. Os aspirantes oposicionistas ao Palácio do Planalto obviamente não podem dizer isso, mas ao invés da busca de votos com um discurso negativo certamente teriam mais êxito apresentando suas propostas para consertar o que consideram errado no país. Exatamente por conta desse discurso ultrapassado é que o candidato tucano Aécio Neves, ainda patinando no segundo lugar, viu Marina Silva passar por ele como um furacão na corrida sucessória. E hoje já parece conformado em assistir um segundo turno com duas mulheres, uma do PT e a outra oriunda do mesmo partido.
http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/151780/O-jeito-%C3%A9-se-conformar.htm

MARINA NÃO DEVE GANHAR A ELEIÇÃO



POR LULA MIRANDA
Apesar do messianismo, da precipitação, do exagero e do voluntarismo que impera hoje nas discussões em torno da candidatura de Marina Silva, a ex-senadora (e ex-petista) não deverá se eleger presidente da República. Aprendi, desde muito jovem, desde os meus tempos de surfista, que toda onda surge, cresce, pode até se desenvolver e agigantar, mas sempre arrebenta – por vezes num paredão de arrecifes. Depois, só o que se distingue no mar é muita espuma, areia revolvida na água, uma prancha quebrada e, eventualmente, algum surfista "prego" um tanto assustado e sufocado por ter levado um tremendo de um caldo.
Porém, é prudente ressalvar, entre tantos "surfistas" Marina não é nenhum "prego". Tampouco deve ser considerada e combatida com se fosse uma "inimiga". Deve ser considerada, no presente momento, uma adversária política, apenas isso.
Outra ressalva importante: recomendo atenção ao caráter polissêmico do título desse texto e à diversidade (e sustentabilidade) da nossa "fauna" na política. Na "nova" e na velha.
Combater a candidatura Marina, de forma virulenta e lançando mão de preconceitos odientos, não é digno de progressistas. Não é próprio à dignidade de esquerdistas ou de humanistas. O ódio e a intolerância são armas do povo "do lado de lá", à direita – não nos esqueçamos disso. Cada surfista na sua onda.
Faço essa advertência porque alguns dos epítetos que estão sendo lançados contra a candidata depõem contra essas próprias pessoas, que têm o despudor de postar esses tipos de comentários infames na web, peçonhas reveladoras de sentimentos medonhos e preconceitos de classe – e até de cor. Quem se utiliza desses argumentos ignominiosos está, sem saber, ajudando a candidata que pretendia atacar, pois só reforça/fortalece a essência do seu discurso voluntarista e estéril, mas encantatório.
Portanto, se você é favorável à candidatura de Dilma Rousseff – ou mesmo, a essa altura do sismo e/ou da cisma, do tucano Aécio Neves –, procure criticar a outra candidata com polidez, urbanidade e bons argumentos. Se ainda está indeciso, convém prestar bastante atenção.
O problema, para os órfãos da centro-direita, é que o candidato tucano já pode ser considerado carta fora do baralho. Este, inclusive, já começa a ser "cristianizado" pelos seus próprios correligionários e aliados de ocasião. Disseram-me que José Serra está que é "todo sorrisos", pois acaba de escapar de uma "barca furada" que soçobrou sinistrada por uma onda gigante, verdadeiro tsunami causado por um terremoto provocado pelo impacto devastador de um avião "Kamikaze" que caiu em Santos, pondo um trágico ponto final na carreira de um político promissor e colocando providenciais reticências na carreira da sua então vice. Eduardo morreu para que Marina pudesse vencer?! Não seria esse um preço demasiado alto e injusto a se pagar?
José Serra, baluarte da "nova" política, passado o vento da desgraça e a comoção oportuna, está com uma vaga no Senado numa das mãos e, na outra, ainda voando, um (ou dois) ministérios assegurados num futuro governo Marina Silva. Ou seja, terá onde abrigar toda a sua corriola. E assim plantar as sementes para quando 2018 chegar. A candidata já acenou e deu a senha: "não concorrerá a reeleição". Serra está atento, para variar. E não desiste nunca – também ele.
Mas, por outro lado, se você não é tucano, "sonhático" nem petista fanático, prepare-se para uma eleição emocionante, pois teremos um segundo turno ESPETACULAR (!) disputado entre Dilma Rousseff e Marina Silva. Sim, olhando e escutando o noticiário pode até não parecer, decerto, mas teremos um segundo turno. A menos que os adversários políticos da "sonhática", indivíduos que, por ofício e a princípio, têm a obrigação de viver com os pés plantados no mundo real, ainda não estejam despertos ante o estridente alerta de tsunami que grita por todo o país, e se afoguem todos, já na primeira onda.
Cada vez que se fala em Marina na mídia, aqui inclusive e por toda a blogosfera, é mais um sopro providencial para a sua onda prosseguir avançando rumo à praia, e se robustecer ainda mais. Afinal, nunca é demasiado lembrar, Marina tem um tempo exíguo no horário eleitoral. Marina não tem mais nada – além do mito e da mistificação personificados na sua fantasia mascarada. Para sobreviver, e eventualmente ganhar, necessita muito do sopro providencial da grande mídia – que, aliás, já lhe é, desde sempre, amplamente favorável.
A boa notícia, ao que nos sugere o verniz das aparências, é que a elite conservadora e reacionária brasileira terá malogrado, mais uma vez, quer se eleja Dilma quer se eleja Marina. Mas... "As aparências enganam/ aos que odeiam e aos que amam/porque o amor e o ódio se irmanam/no outono das paixões(...)". Era o que cantávamos, fazendo coro com a magistral Elis Regina, na década de 1980. Mas... o tempo passa e vamos ficando velhos – só para citar canções de uma época peculiar.
Política é paixão. Mas o exercício da política requer racionalidade, equilíbrio, equidistância.
Honestamente, sou mais simpático à candidatura de Dilma Rousseff – e certamente nela votarei. Sou veemente opositor da candidatura Aécio Neves, pois sou contra o retrocesso que representaria a volta dos tucanos ao poder central. Esse seria, indubitavelmente, o pior cenário para o país. E dele estamos enfim libertos. Essa é a minha opinião. E, nunca é demais lembrar aos mais distraídos, esta é uma coluna de opinião.
Mas, com relação à candidatura Marina, apesar de achar, e desejar, com serenidade, que ela não seja a vencedora no pleito deste ano; apesar de achar que ela não tem o devido preparo para o cargo; que ela e seu novo partido de aluguel não tem a inserção necessária na sociedade nem equipe suficientemente robusta e competente para exercer a Presidência, me sinto bastante confortável e tranquilo diante da hipótese de Marina Silva vir a ser o segundo indivíduo oriundo das classes desfavorecidas a ser convocado/escalado por parte das elites brasileiras para exercer a Presidência da República e tentar, a seu modo, suavizar/amenizar, tal qual um pelego, as imensas injustiças sociais e iniquidades que ainda grassam nesse país embriagado pela hipocrisia e pelo falso moralismo mais conservador e reacionário.
Quem (ou o que) será mais forte nessa eleição: Dilma ou Marina? A ação ou a reação?
Em outros textos, mais adiante, tratarei, mais amiúde, das duas candidatas – seus supostos pecados e virtudes.
http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/151765/Marina-n%C3%A3o-deve-ganhar-a-elei%C3%A7%C3%A3o.htm

MARINA É O JÂNIO DE SAIA - A “SONHÁTICA” DO PESADELO


POR DAVIS SENA FILHO
Vamos aos fatos. Chega-se à conclusão que nada mais importa a certos grupos da sociedade brasileira. A questão primordial para os setores conservadores é derrotar, sobremaneira, os trabalhistas do PT, cujos líderes venceram três eleições e realizaram uma revolução social e econômica silenciosa.
Uma revolução pacífica, de caráter reformista e muito aquém do desejado para segmentos importantes da esquerda brasileira. A esquerda que não foi cooptada, pois não pulou a cerca, que está no poder, a partir de 2003. A esquerda que quer, desde sempre, que os presidentes Lula e Dilma Rousseff contrariem, com mais tenacidade e voluntariedade, os interesses de oligopólios controlados por apenas seis famílias midiáticas, bem como das famílias brasileiras donas de bancos, além de combater os latifúndios rurais e urbanos também pertencentes a ramos familiares, que apostam, principalmente, na especulação imobiliária.
Como se observa, o Brasil, País que é a sétima economia do mundo, com uma população de 210 milhões de habitantes, que tem um parque industrial gigantesco e cidades que atraem turistas de todo o planeta, ainda continua com uma característica abominável, proveniente do Brasil Colônia e do Brasil Império. Trata-se da subserviência e da subalternidade de importantes e influentes segmentos sociais, que se submetem a crenças, valores e princípios de uma classe dominante riquíssima, de caráter alienígena, aliada e cúmplice do establishment internacional e totalmente divorciada dos interesses do Brasil e do seu povo.
Sabedores dessas questões e realidades, a Casa Grande — morada política e ideológica da burguesia apoiada pelos pequenos burgueses (classe média) — aposta em qualquer candidato para derrotar os trabalhistas, consequentemente, tirá-los do poder. Como anteriormente afirmado, não importa à direita quem vai ser o candidato a ser apoiado por ela. O que vale para os conservadores é que o PT e seus aliados sejam derrotados e a direita brasileira possa, enfim, retomar os princípios neoliberais, que se baseiam no estado mínimo, ou seja, na ausência do estado, bem como na meritocracia, que significa "cada um por si e Deus contra todos".
Meritocracia é igual individualidade, que é igual à lei da selva, que favorece a Casa Grande — o lar dos beneficiados e privilegiados da sociedade. É o fim da picada, porque a espécie humana desde seus primórdios até hoje sobreviveu e não sucumbiu como espécie por causa da solidariedade, da responsabilidade entre os entes humanos e dos cuidados para que todos os indivíduos não fossem derrotados pelas intempéries que se apresentam ao longo da vida.
É muito fácil para gente como o tucano Aécio Neves e sua trupe, bem como para os seus eleitores ricos e de classe média defenderem a meritocracia quando, na verdade, a maioria das pessoas que conheço, além das que não tenho contato, mas leio suas mensagens e ouço suas vozes nas mídias sociais, tiveram todas as oportunidades e condições sociais, econômicas e de logística em toda vida estudantil, com o apoio dos pais, parentes e do estado (universidades públicas), de forma que pudessem se formar, para logo após conquistar os melhores postos de trabalho, seja nos setores públicos ou privados. É de se lamentar, profundamente, que tenhamos no Brasil uma das piores e mais perversas classes ricas e médias do mundo. Ponto!
Marina Silva representa tudo isto que está posto. Ela optou, e, como evangélica com pinceladas messiânicas, não se furta a fazer assertivas completamente mirabolantes, porque, sem ideologia e despida de programa de governo e projeto de País, poderá se tornar, institucionalmente, um Jânio Quadros de saia, igualmente com linguajar empolado e retórico, hospedeira de um partido que não é seu — ela não conseguiu assinaturas para legalizar a Rede Sustentabilidade —, ideologicamente confusa e frágil, além de ser irresponsavelmente useira e vezeira em negar a política e os partidos políticos, base, insofismável, de qualquer democracia no mundo, seja ela representativa (democracia burguesa) ou direta (democracia popular).
Não sei qual é o problema de Marina Silva, mas sei que ela lembra e repete o fracasso político, administrativo e governamental do ex-presidente Jânio Quadros, raro político popular à direita, que foi em sua época, como Marina Silva o é nos dias de hoje, abraçado pela imprensa de mercado, bem como apoiado efetivamente pelo maior partido de direita daqueles tempos, a famigerada União Democrática Nacional, do (corvo) Carlos Lacerda. A golpista UDN, covil de empresários, militares e políticos reacionários e entreguistas, que, inclusive, traidores da Pátria que são, aliaram-se a forças estrangeiras (EUA) para derrubar João Goulart do poder, presidente trabalhista do antigo PTB, eleito legitimamente pelo povo brasileiro.
Jânio Quadros, além de todas essas questões, não contava com um ministério coeso e muito menos com uma base parlamentar que lhe desse tranquilidade para aprovar os projetos do Governo. Igual à Marina Silva, Jânio também pertencia a um partido pequeno, o PDC. Marina Silva vai pelo mesmo caminho. Pertence a um partido que se tornou aventureiro ao romper uma aliança com o PT que perdurava desde 1989. Seu presidente, o ex-governador Eduardo Campos, não governaria Pernambuco com tantos bons resultados se não fossem os investimentos pesados, em todas as áreas de atividade econômica e social, repassados pelos governos de Lula e Dilma. Depois do Rio de Janeiro, Pernambuco é o Estado que mais recebeu atenção e dinheiro do Governo Federal, nos últimos 12 anos.
Eduardo Campos não governou com grandes dificuldades, pois surfou nas ondas do Governo Federal para concretizar seus programas e projetos em Pernambuco. A ingratidão foi o seu norte; e o destino, infelizmente, e digo de forma sincera, encerrou sua carreira política. Enquanto isso, Marina, no que diz respeito à economia, alia-se ao que tem de pior em termos de macroeconomia, da qual depende o sucesso da microeconomia, ou seja, do povo. As pequenas e médias empresas são as que mais empregam, de acordo com os números do IBGE e do Ministério da Fazenda.
O Governo do PT financiou os pequenos empresários e abriu as portas da CEF e do BNDES a quem desejava ser empreendedor ou melhorar as condições de sua empresa. Essas instituições financeiras de fomento até então eram serviçais dos inquilinos da Casa Grande e o Governo Trabalhista acabou com essa vergonha recheada de privilégios e tida como primazia a bilionários e milionários que socorriam suas empresas e até mesmo suas incompetências com a garantia de empréstimos a juros bem mais baixos do que os praticados no mercado.
Esses são os lúgubres, macabros e pavorosos tempos dos governos entreguistas e vazios de empregos de FHC — o Neoliberal I —, aquele sociólogo que não entende nada de povo e que foi ao FMI três vezes, de joelhos, humilhado e com o pires nas mãos, porque quebrou o Brasil três vezes. Quando bancos estatais passam a servir ao povo, a burguesia e, pasmem(!), a classe média tradicional estrilam, ululam, em um bramido feroz e voraz, que deixam suas vozes roucas de tanto ódio e preconceitos.
Dessa forma passam para a incontinência verbal e resmungam através das mídias empresariais, pelos cantos das cidades e babam a cólera dos que se acham preteridos, porque para essa gente tacanha e sem discernimento compreender que melhorar as condições de vida dos brasileiros é bom para todos é um exercício terrível e doloroso de sensatez e sobriedade. E sabe por quê? Porque essa gente se considera "escolhida" por Deus ou pelo destino que lhe acalenta e apetece. Por isto e por causa disto, tais grupos entendem ser um direito "divino" se dar bem a vida toda e o restante da população que se dane e aguente o rojão, a vida dura, que as classes médias tradicionais e os ricos jamais vão experimentar para ver o que é bom para a tosse.
A realidade de o País vivenciar doze anos de governos populares e democráticos dói e revolta os rentistas, os que fazem dos juros e do câmbio as ferramentas primordiais de suas vidas inúteis, abundantes, faustosas e opulentas, como as dos nababos e paxás. É o mercado a vir com força para eleger seus prediletos, pois que conspiram e se comprometem com a volta do neoliberalismo, doutrina que não deu certo e que afundou os países da Europa Ocidental, além dos Estados Unidos, que há quase sete anos enfrentam uma crise interminável, que causou desemprego em massa, levou à falência estados nacionais e empresas, bem muitas pessoas desesperadas optaram pelo suicídio.
É uma lástima, além de um processo draconiano e vampiresco o pensamento econômico, em que o mercado de capitais se transforma em Deus, efetivado por gente apenas acostumada a frequentar os salões da plutocracia brasileira e internacional. Eles querem e lutam por um governo para os ricos. Esse pessoal não entende nada de gente, de povo. Em seus vocabulários e dicionários a palavra "social" inexiste.
Afinal, "não há almoço grátis". Frase preferida dos coxinhas da alta sociedade e que pensam que a vida é uma eterna diversão e passar bem. O almoço só pode ser grátis para a Casa Grande, quando há a necessidade de pedir empréstimos a juros baixos e a perder de vista, bem como fazer do estado nacional a extensão de suas casas, porque se tem uma coisa que a classe dominante é e nunca vai deixar de sê-lo é ser patrimonialista. Ponto!
O resto é balela e conversa para boi dormir. Os economistas, administradores e financistas do PSDB e do mercado defendido com dentes e unhas pelo oligopólio midiático de apenas seis famílias sabem o que querem. E eles querem um Brasil para poucos, VIP, com mão de obra barata, pouco emprego para demitir e contratar rápido, porque sendo assim os salários não aumentam e o trabalhador que vai ocupar o posto do demitido vai aceitar qualquer salário, inclusive ser humilhado, porque vai perder a força para reivindicar até mesmo melhores condições de trabalho.
Medidas amargas e duras já foram anunciadas por Armínio Fraga, do tucano neoliberal Aécio Neves, e por Eduardo Gianetti, da "sonhática" (ela não tem ideologia e nem programa de governo) Marina Silva. Fraga disse o que tinha de dizer. Neoliberalismo na veia. Estado mínimo e bancos e megaempresas máximos. Já Gianetti também está a dizer para o quê Marina Silva veio; e não há espaço para ser "sonhático", porque suas propostas são verdadeiros pesadelos e similares às do PSDB, a observar: "A oposição vai corrigir os equívocos do atual governo, com a volta do tripé macroeconômico, com um movimento inevitável de correção e ajustes aos desequilíbrios" — disse o neoliberal. "A hipotética vitória da oposição será de ajustes duros que restabeleçam confiança" — concluiu o elitista.
A confiança de quem, cara pálida? Só se for a dos banqueiros nacionais e internacionais e dos governos dos países desenvolvidos, a exemplo da Inglaterra, que hoje só tem bancos, da França, da Alemanha, do Japão, da Espanha e dos Estados Unidos, além de outros países ricos, mas com menor visibilidade. Gianetti e Fraga são absurdamente ligados ao establishment e os considero, juntamente com Marina Silva e Aécio Neves, perigosos para o desenvolvimento do povo brasileiro, porque, indubitavelmente, são contrários aos interesses do Brasil, Esses caras, tal quarteto, são o fim da picada.
Só uma besta quadrada ou indivíduos que são ideologicamente conservadores e detestam a efetivação de simples programas de proteção social a pessoas que tem dificuldades até para conseguir se alimentar, no dia a dia, poderiam considerar "inteligentes, sensatas e humanas" as propostas econômicas fracassadas e derrotadas há sete anos pela crise internacional. Como apoiar e acreditar em economistas sem quaisquer compromissos com a sociedade, a população — o povo? Como?
Esses caras são os fundamentalistas do mercado. Eles são mais perniciosos e venenosos do que os fanáticos religiosos, porque podem administrar o dinheiro público, e, por sua vez, suprimir, tirar e confiscar o direito de o cidadão viver em paz, exemplificado no direito a estudar, a se empregar, a se qualificar e a ter melhores condições de vida. O Estado é, sim, o indutor da macroeconomia em qualquer País, inclusive nos Estados Unidos, cujos governantes socorrem e socorreram com trilhões de dólares a economia estadunidense quando os empresários irresponsáveis e corruptos, com a cumplicidade de agentes públicos de alto escalão se tornaram os principais autores da crise internacional de 2008.
Não se engane o brasileiro quanto às intenções de Marina Silva e Aécio Neves. Marina traiu o PT, o Lula, a sua história e vai trair a quem ela tiver de trair. Marina é o Jânio de saia. Quem sabe um pouco de história percebe a imensa coincidência entre os dois políticos, tanto no que concerne ao linguajar, aos partidos pequenos, ao "abraço" da burguesia e da mídia alienígena às suas candidaturas, à ausência de ideologia, à base política desajustada, à troca de partidos e, principalmente, à ausência de projeto de País e programa de Governo. Marina simplesmente não os tem. Se a "Sonhática" vencer as eleições, quem viver verá. A direita aposta hoje em qualquer um para derrotar o PT. Marina é o Jânio de saia. A "Sonhática" do pesadelo. Prepara-se! É isso aí.
http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/151543/Marina-%C3%A9-o-J%C3%A2nio-de-saia---A-%E2%80%9CSonh%C3%A1tica%E2%80%9D-do-pesadelo.htm

AS NUVENS SE MOVEM (QUANTO MAIS AS INTENÇÕES DE VOTO)


Por MICHEL ZAIDAN
Como era de se esperar, a primeira pesquisa de intenções de voto, depois da morte do ex-governador Eduardo Campos e do ato político-eleitoral que a seguiu, juntamente com a exploração da mídia, mostrou os efeitos conjunturais da tragédia no comportamento eleitoral dos votantes. Já se sabia, há muito tempo, que o potencial político de uma eventual candidatura de Marina Silva era muito maior do que a de Áecio Neves, que convenhamos, não se constitui propriamente numa novidade para o eleitor brasileiro: representa a volta da agenda gerencial e privatista do governo do FHC, sem o brilho acadêmico deste último. A candidata pentecostal - vinculada à Assembléia de Deus - esta sim, poderia encarnar o espírito (e a carne) da novidade, ao esconder com uma retórica ambiental o conservadorismo de base de sua candidatura. Agradaria a gregos e troianos: aos religiosos fundamentalistas e aos verdes. Pousaria de defensora da família cristã unida e de protetora do meio-ambiente, como crítica das injunções entrópicas do chamado "desenvolvimentismo" de Dilma e, paradoxalmente, de Eduardo Campos.
Mas o que faz da candidata evangélica um cometa eleitoral é a marca "anti-Dilma" que ela carrega consigo depois da eleição passada. Apresentando-se como uma vestal no cenário sórdido da campanha política, Marina pode alegar que saiu do governo petista porque ele trocou o meio-ambiente pelos imperativos do crescimento econômico a qualquer custo, partiu o IBAMA em dois pedaços, acelerou a concessão de licenças ambientais, fez a opção pelo agronegócio, abandonou a reforma agrária etc. etc. etc. Ela não, ainda tem as mãos limpas, é uma bem intencionada, acredita em sonhos, e esse discurso tanto pode arrebanhar votos da juventude, como da classe média urbana descontente com as denúncias de corrupção no governo petista, e ainda a extensa base religiosa das várias igrejas pentecostais e neo-pentecostais. Acrescente-se a isso a postura defensiva de Dilma Rousseff nos debates eletorais, a sua insegurança, a sua tensão.
No entanto, há algo de curioso nesse fenômeno eleitoral "postmortem" eduardiano. Há algo de curioso e inquietante no engajamento de pessoas da classe média na exaltação político-eleitoral do PSB, nos bairros nobres da cidade. O que leva este extrato da população recifense, a vestir a camisa de uma candidata pobre, doente, negra e pentecostal - que fez toda carreira política e sindical no PT e no governo LULA - como se fosse a "virgem do contestado" que viria redimir a política brasileira de seu vícios de deformações seculares. Será que tudo isso é obra e graça da mera espetacularização do velório e funeral do esquife do ex-governador? O que há por atrás disso tudo? - As artimanhas da família e dos marqueteiros do PSB?
É isso que tem de ser investigado com profundidade e isenção. O que alimenta o dinamismo da conjuntura e as mudanças de intenção de voto pode ser uma vontade de renovação - sobretudo de setores médios e da juventude - numa disputa sem novidades políticas e eleitorais. Vontade capturada pela candidatura de Marina Silva (como terceiro elemento). Mas não é de se desprezar o investimento emocional e material da oligarquia de Pernambuco, que naturalmente não deseja perder o controle da sucessão estadual e nacional.
Vamos nos preparar para o embate entre o candidato de retrocesso, a candidata obscurantista (embora travestida de pós-moderna) e "mais do mesmo". O Brasil merece mais do que isso!
http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/151525/As-nuvens-se-movem-(quanto-mais-as-inten%C3%A7%C3%B5es-de-voto).htm

RADIOGRAFIA POLÍTICA DE UMA CANDIDATURA APOLÍTICA




Por Marcelo Zero
Uma candidatura é uma construção coletiva. Por maior carisma pessoal que tenha o titular, o seu caráter político é definido pelo conjunto de forças sociais que lhe dão apoio.
Assim sendo, considerações sobre a biografia do candidato e suas idiossincrasias pessoais não são substancialmente relevantes para a análise racional do significado social e político das candidaturas. É muito mais importante saber o que seus seguidores querem, sentem e pensam. O realmente relevante é saber a quais interesses uma candidatura serve.
No caso da candidatura de Marina Silva, parece cada vez mais claro que ela serve a interesses fundamentalmente conservadores.
No campo social e da afirmação de direitos, a sua sabida vinculação a setores evangélicos conservadores a leva a tomar posições no mínimo questionáveis, como a referente ao aborto e à união homoafetiva.
Na área ambiental, há uma ambiguidade que torna as posições da candidatura Marina mais consentâneas às teses neomalthusianas do Clube de Roma, o qual apregoava e apregoa a redução do crescimento como forma de enfrentar os grandes desafios do planeta, que ao conceito progressista do desenvolvimento sustentável, criado pelos países em desenvolvimento, com o Brasil à frente, justamente para defender seu direito de crescer e aumentar o bem-estar de suas populações.
Em política externa, a sua conhecida afirmação beligerante sobre o “chavismo” revela total desconhecimento sobre o processo político de alguns de nossos vizinhos ou, pior ainda, subalternidade ideológica e política aos interesses da grande potência mundial.
Na área da economia, seus gurus, Eduardo Gianetti e André Lara Rezende, são velhos e bem conhecidos representantes da ortodoxia econômica no Brasil. Completa a trinca Neca Setúbal, herdeira do Banco Itaú, que ficou encarregada de declarar que uma das medidas principais da candidatura seria a implantação da autonomia do Banco Central, velha e marota reivindicação do setor financeiro. Desse modo, as raposas poderão tomar conta do galinheiro, assegurando o atendimento aos interesses do rentismo, em detrimento do interesse público. A medida foi anunciada por quem dela se beneficiaria, sem nenhum conflito ético.
Também já foram aventadas algumas medidas menos importantes, como a criação de um conselho para monitorar a responsabilidade fiscal, a redução do número de ministérios e a extinção de cargos comissionados. São medidas demagógicas, que não têm impacto financeiro algum, mas que denotam a ênfase conservadora na redução de gastos, na “austeridade”, na ampliação do superávit primário e no aumento das taxas de juros, como forma de combater a inflação e “ajustar” a economia, no cenário de crise mundial.
Trata-se, na realidade, das mesmas “medidas impopulares” prometidas pela candidatura Aécio. Como ele, a candidatura Marina pretende restituir a sua antiga glória a ortodoxia econômica que submergiu o mundo na pior crise desde 1929.
Com efeito, não creio que haja dúvidas que, se vitoriosa, a candidatura Marina implantará, no Brasil, as mesmas políticas econômicas pró-cíclicas que vêm sendo implantadas nos países desenvolvidos, revertendo as políticas anticíclicas do governo Dilma.
Graças a essas políticas anticíclicas, o povo brasileiro vem sendo poupado do desemprego, do arrocho salarial, da extinção de direitos e do enfraquecimento do Estado de Bem-Estar que assolam muitas economias avançadas. Com o abandono dessas políticas e a adoção das políticas pró-cíclicas e simpáticas ao “mercado”, essa ubíqua e enganadora reificação, regrediremos ao nosso passado, no qual o peso maior dos “ajustes” recaia inexoravelmente sobre trabalhadores, funcionários públicos e pobres em geral.
E tais políticas também solaparão o modelo de desenvolvimento socialmente inclusivo implantado, a duras penas, pelos governos do PT.
Goste-se ou não desses governos, o fato concreto, facilmente aferível por quaisquer estatísticas, é que houve, nesse período político, um intenso e célere processo de eliminação da pobreza, combinado com uma forte redução das nossas históricas desigualdades e com políticas voltadas à ampliação de oportunidades para todos os brasileiros. Ao mesmo tempo, restaurou-se a capacidade do Estado de investir e de conduzir a atividade econômica, conforme o interesse público.
Esse é o grande fato politicamente novo da história recente do Brasil.
Tal modelo de desenvolvimento inclusivo ou de neodesenvolvimento social, como queiram, representou uma ruptura ao menos parcial com o modelo neoliberal que predominou no Brasil até o início deste século. Passamos de um modelo intrinsecamente concentrador, cujos motores eram a venda de patrimônio público e o afluxo de capitais externos, inclusive, e principalmente, os especulativos, para um modelo intrinsecamente inclusivo, cujos motores principais são o mercado interno e o investimento, público e privado, em infraestrutura e logística.
São processos históricos bastante distintos, com resultados muito diferentes.
São também modelos em disputa política, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo.
Quando eclodiu, em 2008, a grande crise mundial, criou-se, inicialmente, a expectativa de uma nova reforma heterodoxa do mundo capitalista, centrada no controle do sistema financeiro internacional desregulado. Contudo, passados os primeiros e tímidos esforços anticíclicos, regrediu-se ao status quo ante. Adotaram-se as mesmas políticas que haviam ocasionado a crise e o controle efetivo do sistema financeiro desregulado, centro da crise, foi abandonado. Agora, populações de nações inteiras, como a da Grécia, estão sendo imoladas no leito de Procusto da ortodoxia restaurada.
Pois bem, a crise econômica e a restauração, em sua glória plena, da ortodoxia paleoliberal estão no cerne de outra crise mundial: a crise política da democracia representativa.
Essa crise se revela, principalmente no continente europeu, em fenômenos evidentes, como o baixo índice de comparecimento às urnas, a degradação da imagem pública da política e dos políticos, o crescimento dos votos de protestos, o surgimento de partidos e candidatos de propõem soluções “simples” e autoritárias para todos os problemas, o crescimento de forças e partidos ultranacionalistas e francamente nazistas e, por último, e mais importante, a propagação de uma descrença na democracia e suas instituições como instâncias capazes de resolver os problemas da população.
Dela surgiram também os movimentos dos “indignados” europeus, do Occupy Wall Street e de tantos outros que questionam fortemente as atuais instituições democráticas.
Obviamente, essa crise da democracia representativa tem relação estreita com a crise do capitalismo. Não me refiro somente à recessão, mas à crise de legitimidade do capitalismo hiperconcentrador. Não é toa que o livro de Picketty venha causando tanto alvoroço. Nos países avançados, o capital voltou a exibir níveis de concentração de riqueza, renda e poder que tendem a comprometer o funcionamento das democracias.
A crise econômica apenas aguçou essa percepção de incompatibilidade última entre a hiperconcentração do capitalismo desregulado e os sistemas democráticos. A incapacidade dos sistemas políticos instituídos de darem resposta às questões prementes do desemprego, da redução de salários e de benefícios sociais e da falta de perspectivas, principalmente para os jovens, alimenta, de um lado, o niilismo político perigoso e, de outro, as propostas esperançosas de democracias diretas.
Assim sendo, nos países avançados, as propostas de mudança do sistema de representação, ou de sua simples abolição, estão indissoluvelmente ligadas e se antepõem às consequências perversas de um ciclo econômico de viés concentrador e excludente, capitaneado pelo sistema financeiro desregulado e potenciado por “bancos centrais independentes”.
Nesses países, a “nova política” visa, em essência, combater um processo econômico concentrador e excludente que esgarça o tecido social e solapa as instituições democráticas.
Ora, esse não é o caso do Brasil. Como bem assinalou Perry Anderson, o Brasil permaneceu à frente do contrafluxo a essa tendência mundial conservadora, mantendo suas políticas anticíclicas e inclusivas, mesmo em meio ao recente agravamento da crise.
Isso significa dizer que, em nosso contexto interno, a “nova política” proposta pela candidatura Marina tem sinais políticos inversos: ela visa restaurar a ortodoxia econômica e a desregulamentação financeira que tendem a concentrar e a excluir e, por consequência, a limitar e comprometer a democracia e suas instituições. Por conseguinte, trata-se uma “nova política” que erode o sistema de representação sem colocar nada no lugar.
Claro está que o nosso sistema de representação tem graves limitações e defeitos, mas eles serão inexoravelmente intensificados com a volta de um modelo econômico que será invariavelmente concentrador e excludente.
A candidatura Marina não parece entender essas fortes correlações entre economia, sociedade e política, e o contexto mundial em que elas se apresentam. Ela escolheu como “inimigo principal” o PMDB, com o intuito, acredito, de combater o que o filósofo Marcos Nobre chama de “pemedebismo”, definido como uma cultura política adesista a qualquer governo que distorce a vontade popular e a representação. Por isso, Eduardo Gianetti já declarou que FHC e Lula poderiam e deveriam apoiar um eventual governo Marina.
Ora, em primeiro lugar, o “pemedebismo” é mera antonomásia. Ele transcende o PMDB, podendo existir perfeitamente sem o partido que lhe deu nome. Em segundo lugar, o “pemedebismo”, mais que um conceito, é, na realidade, uma prática que resulta de um sistema partidário fragmentado e de uma representação distorcida que força a formação de amplas e diversificadas maiorias parlamentares para assegurar a governabilidade. Portanto, o “pemedebismo” é muito mais consequência que causa das distorções da nossa representação política.
O inimigo principal não é o PMDB ou o “pemedebismo”, o inimigo principal é, em sempre foi, a excessiva influência do poder econômico no sistema de representação, que reproduz ativamente as suas práticas distorcidas.
Essas distorções só poderão ser efetivamente enfrentadas com uma profunda Reforma Política com participação popular, como a presidenta Dilma vem propondo. Isolar partidos específicos e propor a união das “pessoas de bem” chega a ser risível.
Mas ao propor a adesão de Lula e FHC a um eventual governo Marina, expõe-se a principal característica conservadora da candidatura Marina: a negação e a supressão dos conflitos.
Com efeito, a candidatura Marina parece querer pairar sobre uma disputa política que envolve o mundo todo e promover a conciliação de modelos opostos e irreconciliáveis. Não é necessário fazer escolhas difíceis e pragmáticas, todos são bem-vindos, desde que sejam “homens de bem”. Independentemente da inserção social e dos interesses representados, todos poderão encontrar a redenção numa espécie de “florestania” cósmica, que conciliará todas as classes sociais na busca comum do equilíbrio planetário. Todos são igualmente importantes. Todos são elite. Dos donos de bancos aos ianomâmis.
Evidentemente, essa epifania política coletiva oculta, em sua aparente não-escolha, em seu aparente “apoliticismo”, uma escolha política definitiva já realizada: a escolha pela volta de um modelo concentrador e excludente, a escolha pelo retrocesso. Não se trata de terceira via, trata-se da via do passado. Não se trata de nova política, mas da mesma política que já nos infelicitou.
A candidatura Marina é, como diria Brecht, o velho com nova roupagem.
Não há nada mais conservador que aquele político que se apresenta como não-político. Não há nada mais à direita que aquele político que se apresenta como não sendo nem de direita e nem de esquerda. Não há nada mais velhaco politicamente que partidos políticos que não se reconhecem como tal. E não há nada mais velho, em política, de que o discurso da nova política que aparentemente se insurge, de forma voluntarista e oportunista, contra os desmandos da velha política. É assim desde os tempos da Marienplatz dos anos 1920. Foi assim com Jânio Quadros, foi assim com Collor.
O que a “nova política” da candidatura Marina efetivamente propõe é a velha despolitização e deseducação da sociedade. O que ela efetivamente quer é ocultar que, por trás de sua falsa conciliação, há uma disputa política entre dois projetos absolutamente conflitantes. A candidatura Marina procura cometer o crime perfeito: matar a política fingindo que não faz política.
Obviamente, não há nada de errado em se buscar consensos, principalmente em tempos de crise. Isso se constrói, em geral, com os chamados pactos. Contudo, os pactos não são construídos pela negação dos conflitos, mas sim por sua negociação aberta e democrática. Por causa disso, eles exigem a adesão a planos concretos e ao cumprimento de metas específicas aferíveis por todos os seus atores.
No entanto, a candidatura Marina não propõe nada de concreto, para além da extraordinária e inédita proposta de se fazer o bem. Por tal razão, seu discurso é cuidadosamente vago e dúbio.
Trata-se de um discurso que não é “falseável”, no sentido que Karl Popper dava ao termo. Isto é, não é um discurso que tenha enunciados testáveis. É um discurso que está além da argumentação racional. É um discurso que não comporta um debate democrático e, por isso mesmo, um discurso profundamente autoritário.
Nesse sentido, pode-se afirmar que a candidatura Marina não tem um cérebro. Porém, se não tem um cérebro, tem um “enorme coração” que quer incluir a todos os brasileiros que desejem dela participar.
Esse “coração” é a grande força dessa candidatura. O seu apelo é fundamentalmente emocional.
No Brasil, martelou-se, durante longos anos, com a ajuda do grande partido de oposição do país, contra os políticos e a política, com o intuito indisfarçável de se atingir o PT e seus partidos aliados. O resultado é que a atividade política é vista hoje, por uma parcela considerável de nossa população, como uma atividade criminosa. Há um ódio disseminado à política e, mais especificamente, ao PT, que foi veiculado por um neoudenismo tardio de matiz claramente conservador. Ademais, nos dois últimos anos, o mesmo grande partido de oposição encarregou-se de propagar a imagem de um país sempre à beira do abismo e em permanente crise. Isso gerou pessimismo e insegurança em expressivas parcelas da sociedade.
Pois bem, esse “coração” da candidatura Marina oferece uma resposta emocional ao ódio, ao pessimismo e à insegurança. Ao ódio, a resposta é a enganadora “nova política” livre de políticos, composta por “homens de bem” que se agrupam numa virtuosa “rede”, e não num “viciado” partido. Ao pessimismo e à insegurança oferece-se uma espécie de bonapartismo messiânico que conduziria um país sem conflitos, sem “apartações”, inserido na luta por um planeta equilibrado e feliz.
Tudo muito lindo e sedutor, é claro. Compreende-se, assim, o forte apelo emocional dessa candidatura. O problema é que uma candidatura que oculta a que veio e que busca um consenso meramente emocional tem tudo para transformar-se num gigantesco estelionato eleitoral.
Há ainda outros aspectos que preocupam, na candidatura Marina.
O primeiro deles tange à inserção internacional do país e à questão do Estado-Nação.
Um país como o Brasil, vasto, complexo, assimétrico e de industrialização tardia (e de desindustrialização recente), jamais poderá desenvolver-se sem um projeto autônomo construído pelo Estado-Nação, a partir de interesses endógenos. Nesse sentido, a inserção relativamente autônoma do país no cenário mundial é fundamental para qualquer projeto de desenvolvimento. Por isso, os governos do PT procuraram desenvolver uma política externa que, ao diversificar parcerias estratégicas e dar ênfase à integração regional e à cooperação Sul-Sul, afirmou a independência, a soberania e o protagonismo internacional do Brasil.
Assim como no plano interno há conflitos e luta de classes, no plano externo há vastas assimetrias e relações de dominação e poder, as quais o país terá de enfrentar, se quiser se desenvolver. Desconhecer essa realidade é indesculpável. Ingenuidade, mesmo nesse contexto de humanismo planetário, tem limites.
Entretanto, a candidatura Marina parece exibir, disfarçada num difuso internacionalismo ambiental e na busca da defesa dos anseios da “humanidade”, uma inquietante subalternidade ideológica à única superpotência mundial e às demais potências tradicionais. A sua ligação com ONGs internacionais não é tranquilizadora, nesse aspecto. A sua aparente adesão à defesa seletiva dos direitos humanos, tampouco.
Portanto, a combinação, no plano interno, de políticas ortodoxas, “desreguladoras” e concentradoras, e, no plano externo, de um ambientalismo neomalthusinao e conservador, que busca o equilíbrio do planeta em provável detrimento do crescimento nacional, poderá ser mortal para as pretensões do Brasil de se transformar num país plenamente desenvolvido, soberano e justo.
Outro ponto preocupante tange à questão da democracia direta.
Evidentemente, a democracia direta não é nenhuma novidade histórica. A democracia nasceu direta na Atenas das ágoras. Ela tornou-se fundamentalmente representativa muito tempo depois, já na era moderna. Contudo, numa sociedade vasta, complexa e diversificada, como brasileira, a representação política é necessária, pois a democracia estritamente direta numa sociedade desse tipo muito provavelmente não seria funcional. Mesmo com os novos meios digitais, é difícil imaginar ágoras com 120 milhões de eleitores.
O próprio Manuel Castells adverte que a questão da democracia direta e participativa só é corretamente colocada no contexto do que ele chama de “democracia da informação”. Num ambiente de controle da informação por parte de grandes empresas e dos meios de comunicação não há como se investir muito na democracia direta. Será que a candidatura Marina pretende enfrentar a questão do oligopólio da mídia? E possível que Marina venha a enfrentar, como propõe Castells, a questão do oligopólio da propriedade intelectual? Dada as suas companhias, é muito duvidoso.
Assim sendo, a estratégia correta não é desfazer-se do sistema de representação e das instituições democráticas, mas sim transformá-las e fortalecê-las, inclusive com o auxilio de mecanismos de democracia direta, como Dilma vem propondo.
Por último, cabe aqui um comentário rápido sobre a questão da sociedade em redes.
Ao contrário do que a candidatura Marina deixa transparecer, as redes não são objetivos em si. Não são missões a serem cumpridas. As redes, que sempre existiram na história da humanidade, e que agora se expandiram com as tecnologias digitais, são apenas dados da realidade, pontos de partida para quaisquer projetos humanos. E esses projetos não são definidos pelas redes, mas por sociedades, grupos e indivíduos, de acordo com suas necessidades específicas.
Por isso, escreveu Castells que:
Assim, a questão não é como chegar à sociedade em rede, um autoproclamado estágio superior do desenvolvimento humano. A questão é reconhecer os contornos do nosso novo terreno histórico, ou seja, o mundo em que vivemos.
A sociedade em rede não é o futuro que devemos alcançar como o próximo estágio do progresso humano, ao adotarmos o paradigma das novas tecnologias. É a nossa sociedade, em diferentes graus, e com diferentes formas dependendo dos países e das culturas.
Qualquer política, estratégia, projeto humano, tem que partir desta base. Não é o nosso destino, mas o nosso ponto de partida para qualquer que seja o «nosso» caminho, seja o céu, o inferno ou, apenas, uma casa remodelada.
No caso da candidatura Marina, acho que podemos descartar o céu e a casa remodelada.
(*) Marcelo Zero é formado em Ciências Sociais pela Unb e assessor parlamentar do PT
http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/151811/Radiografia-pol%C3%ADtica-de-uma-candidatura-apol%C3%ADtica.htm

AS HIENAS EXULTAM



Por VALTER POMAR

Como já foi dito noutro lugar, para a oposição de direita, a morte de Eduardo Campos foi uma grande oportunidade.
 
Com a morte de Eduardo Campos e a escolha de Marina, a direita percebeu a possibilidade de resolver uma contradição expressa nas pesquisas até 13 de agosto:por um lado, um eleitorado desejoso de mudanças; por outro lado, a vitória de Dilma no primeiro turno.
 
Claro que não faltou a mão amiga do oligopólio da mídia, que manipulou eleitoralmente a cobertura do desastre aéreo e do velório de Eduardo Campos.
 
As pesquisas publicadas no dia 26 de agosto deixaram exultantes as hienas. 
 
Segundo tais pesquisas, Marina teria ultrapassado Aécio Neves e inclusive venceria Dilma no segundo turno.
 
Desde 2012 já estava claro, para quem analisasse com seriedade (ou seja, observando as classes sociais) o quadro político-eleitoral do Brasil, que as eleições de 2014 tendiam a ser disputadas no segundo turno (como 2002, 2006 e 2010); que este segundo turno seria mais "fácil" caso disputado contra o PSDB; e que seria mais "difícil" caso disputado por uma candidatura de "terceira via".
 
Vale dizer: "terceira via" entre muitas aspas. Pois não se deve confundir a polarização entre PT e PSDB, com a polarização entre projetos de país e blocos de classe.
 
Como está mais do que claro, Marina Silva é porta-voz de um projeto de país equivalente ao de Aécio Neves. Neste sentido, que é o que de fato interessa, ela não é terceira via. 
 
Marina Silva converteu-se ao neoliberalismo (apoio ao "tripé" e à independência do Banco Central) e converteu-se à política externa subalterna (vide a crítica que fez ao "chavismo do PT"). 
 
Aliás, quem prestar atenção às críticas que ela faz ao agronegócio, perceberá que sua ênfase hoje está em pedir "aumento da produtividade". Uma linguagem verde dólar.

Fosse apenas pelo conteúdo programático, Marina seria tão "fácil" de enfrentar quanto o PSDB. 
 
Acontece que sua candidatura não expressa, como Aécio, os setores que fizeram oposição desde 2003. A candidatura Marina foi produto de setores que em algum momento fizeram parte ou apoiaram os governos Lula e Dilma. 
 
Esta origem permite enganar os setores do eleitorado que não apoiam os tucanos, mas são críticos ao petismo. Que antigos militantes de esquerda, como o presidente do PSB Roberto Amaral, se prestem de escada para isto não muda a natureza dos fatos.
 
Além disso, Marina disputa com vantagem o eleitorado evangélico e, num aparente paradoxo, também o eleitorado crítico à política tradicional. O aparente paradoxo deve-se ao fato de que a crítica à "política tradicional", hoje e sempre, não vem apenas da esquerda.
 
Em resumo, as pesquisas divulgadas dia 26 de agosto apenas confirmam o que já se sabia possível e, também, confirmam o êxito da operação político-midiática iniciada dia 13 de agosto.
 
Portanto, se nada mudar, se o plano da oposição de direita tiver êxito, vai ter segundo turno e será contra Marina. 
 
O que seria o cenário eleitoralmente mais "difícil" para o PT, Lula e Dilma. E um desastre imenso para o PSDB aecista, que terá que fazer um grande esforço para desconstruir Marina.
 
O cenário eleitoral tornou-se, portanto, mais difícil do que aquele habitado por "anões" e por "vitórias no primeiro turno".
 
Mais difícil, mas nada surpreendente. Aliás, em 2006 e em 2010 também houve quem acreditasse que a eleição presidencial seria decidida no primeiro turno. Nos dois casos, a ficha destes crédulos só caiu durante a apuração. Desta vez, portanto, estamos com sorte: a ficha está caindo várias semanas antes.
 
Frente a possibilidade de segundo turno e frente a possibilidade de um segundo turno contra Marina, a solução é mais programa, mais disputa política, mais polarização, mais mobilização de nossa base social.
 
Um pequeno exemplo disto: a presidenta Dilma foi a única que, no debate realizado na TV Bandeirantes dia 26 de agosto, fez referência ao cenário internacional, à crise e aos Brics. Este é um bom caminho: politizar, ou seja, mostrar os grandes conflitos do nosso tempo e apontar por onde passa a defesa dos interesses da classe trabalhadora.
 
É preciso falar do passado e do presente, mas colocá-los em função do futuro. Deixar claro que mudanças vamos fazer, no segundo mandato. Falar do passado contra Aécio é muito importante, falar do passado contra Marina é arma secundária.
 
A ênfase no futuro, embora tenha sido oficialmente aceita, ainda não se traduziu adequadamente nas diretrizes programáticas, nos materiais de campanha, nem mesmo nos principais pronunciamentos da presidenta Dilma Rousseff.
 
Por isto, insistimos:
 
*no papel positivo e indispensável dos movimentos e das lutas sociais, para nossas vitórias eleitorais e principalmente para o êxito dos nossos governos;
 
*é preciso encampar urgente e efetivamente a “pauta da classe trabalhadora”, tal como apresentada pela CUT, inclusive o fim do fator previdenciário e a jornada de 40 horas;
 
*coerente com o que pensa e reafirmou no debate realizado na TV Bandeirantes dia 26 de agosto, a presidenta Dilma Rousseff deve convidar a população a votar no Plebiscito Popular. Aliás, a este respeito, é incrível que Dilma tenha sido a única a corajosamente defender o plebiscito como um dos instrumentos para a reforma;
 
*é preciso tomar medidas imediatas no sentido da democratização da comunicação e dar destaque a isto no programa de governo 2015-2018. Falar de "regulação econômica" não basta, nem impede os ataques da direita;
 
*é preciso abandonar o discurso equivocado que insiste em chamar de "classe média" os setores da classe trabalhadora que, graças às nossas políticas, ampliaram sua capacidade de consumo;
 
*é preciso enfatizar a defesa das reformas estruturais. Temas como a reforma política e e tributária devem ser ainda mais destacados.
 
Por fim: não devemos cair na esparrela de tentar carimbar a Marina como uma "incógnita" ou como "inexperiente".
 
Ela não é incógnita. Ela é, hoje, uma forte alternativa para o grande capital, especialmente financeiro.
 
Ela não é inexperiente. Ela se preparou habilmente para ser instrumento da direita neste momento, contra o PT. Aliás, seu giro à direita não começou em 2010, começou quando era senadora e ministra.
 
Por decorrência, devemos recusar o raciocínio extremamente perigoso dos que acreditam que o grande capital vai recusar a "imprevisibilidade" de Marina.
 
Quem acredita nesta fantasia, vai acabar caindo na armadilha de tentar derrotar Marina com argumentos de "direita". Entre outros, o de que nós seríamos mais "confiáveis", capazes por exemplo de fazer um ajuste fiscal em 2015 e coisas do gênero.
 
Adotar esta linha seria o caminho certo para uma tripla derrota: eleitoral, política e ideológica. 
 
O caminho para nossa vitória, contra Aécio & Marina, é outro: mobilização, militância, política, programa de esquerda, apontando para um segundo mandato superior, ou seja, que amplie a democracia, o bem-estar, a soberania, a integração e o desenvolvimento, em benefício da ampla maioria da população brasileira, que é trabalhadora. 

Agindo assim, derrotaremos mais uma vez o "espírito animal" das hienas.

http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/151813/As-hienas-exultam.htm